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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Lusitano vagabundo

Maria Manuel Cid / Alvaro Martins *fado pão de gestos*
Repertório de Carlos Zel

Lusitano vagabundo
Foi um pintor genial
Pintou no quadro no mundo
O rosto de Portugal

Marinheiro, aqui nasceu
Marinheiro quis navegar
Enquanto a pátria cresceu
Andava no alto mar

E do mar voltou um dia
Triste fim, sem o saber
Veio ao sabor da agonia
Só voltou para morrer

E na praia quis ficar
Para ali ao Deus-dará
Marinheiro olhando o mar
Que foi seu e não será

De costas voltadas

José Guimarães / Manuel Reis
Repertório de Filomeno Silva

De costas voltadas
A tudo que é mau, meu amor
Iremos mãos dadas
Em busca de um mundo melhor
Iremos em frente
Transpondo fronteiras fechadas
E quem ri da gente
Rirá certamente, de costas voltada

Ai, daquele que não sabe
Qual o caminho que pisa
Ai, daquele que a verdade
Procura não entender
Ai, daquele que pensar
Que dos outros não precisa
E desvia o seu olhar
Para a verdade não ver

Voltemos as costas a toda a maldade
Olhemos em frente, em frente à razão
Ai, daquele que insistir
Que desconhece a verdade
Ai, daquele que fingir
Que não sente o coração

Fado povo

António Rocha / Alvaro Martins *fado pão de gestos*
Repertório de António Rocha

Sê esquecido tempo antigo
Em que o povo era calado
Humilhado e perseguido
De pés e mãos amarrado

Luta agora sem demora
Impõe bem a tua raça
Mas não esqueças nesta hora
Quem te tirou a mordaça

Cravo ao peito nesse jeito
De quem sente felicidade
Por lhe ser dado o direito
À paz e à liberdade

Eu te louvo, país novo
Ó minha pátria imortal
Avante filhos do povo
Soldados de portugal

O som da guitarra

Letra e música de Ricardo Martins
Repertório de Filomeno Silva 

Está no som da guitarra
Que geme penas da vida
Na luta jamais vencida
No beijo que se desgarra

Está no sonho desfeito
Na incerteza na dor
E até ao falar de amor
Se faz presente no peito

É a voz do silêncio
Que canta, que chora
Que brinca na noite
Que dorme na aurora
Que faz um poema
E depois se aninha
Na alma dos sons
Na voz do silêncio 
Que fala ti, que fala de mim
Do amor que é de nós
A voz do silêncio
Que canta no fado 
Que há na minha voz

Está no tempo que corre
Na saudade, no sentir
No passado no porvir
Na esperança que morre

Está no riso, no pranto
Na mentira ou na verdade
E faz-se mais liberdade
Na minh’alma, quando canto

Maria do mar

José Guimarães / Alvaro Martins
Repertório de Fernando Gomes

À beira do mar nasceu 
Essa Maria do mar
Tinha um amor muito seu
Que era a luz do seu olhar

Unia-os tanta ventura
Mas o destino, depois
Acabou essa ternura 
E pôs o mar entre os dois

Um lenço acenando 
Num dia sombrio
Dois olhos chorando 
Uns lábios rezando
E um barco partiu;
Partiu e deixou 
Su’alma perdida
O mar o levou 
E ela ficou
Sozinha na vida

Olhos no céu em promessa
Perdida na sua dor
P’ra que o mar traga depressa
Para si, o seu amor

E esse mar que ela adora
Dessa paixão sabe bem
Pois quando a Maria chora,
Parece chorar também

Maria do Mar 
No mar confiava
E pode voltar 
De novo a beijar
Quem tanto adorava
Depois, certo dia 
Foram a casar
Levando a Maria 
Um véu que parecia
Espuma do mar

Longas noites, longos dias

A. Sousa Freitas / Alvaro Martins *fado pão de gestos*
Repertório de Carlos Barra

Longas noites, longos dias
Longos instantes tão vagos
Que são madrugadas frias
Onde há silêncios de lagos

Longas noites, longos dias
Longos sonhos sem segredos
Tenho as minhas mãos vazias
E os olhos cheios de medos

Longas noites, longos dias
Longas horas sem calor
Pelas vidas mais sombrias
Vou cantar, chorar d’amor

Longas noites, longos dias
Longas marés sem luar
Desesperos, agonias
E a vida sempre a passar

Teu peito é o meu lugar

Letra e música de Ricardo Martins
Repertório de Filomeno Silva 

Fui andarilho perdido
Por esses caminhos que a vida traçou
Barco sem porto seguro
Que um dia sem rumo quase naufragou

Fui a esperança perdida
Que embala a tristeza nos braços da dor
Fui o deserto sem vida
Onde um dia o destino plantou uma flor

Em teu amor, encontrei
Aquele paraíso a que chamamos céu
Esse lugar tão profundo
Tão longe do mundo e tão perto de Deus
Conjugação mais perfeita
De todas as formas, que há no verbo amar
Sabes aqui em meu peito é o teu lugar

Realidade, que nem o mais lindo dos sonhos
Consegue vencer
Anjo de luz, que por doce milagre
Em meu peito veio adormecer

Minha verdade, sentido da vida
Que a teu lado celebrarei
Supremo bem que me encanta
E que a cada instante eu mais amarei

Adeus não digas

César Morgado / Alvaro Martins
Repertório de César Morgado 

Nunca me digas
Um adeus à despedida
Mas se algum dia, na vida
Te sentires arrependida
Verás que assim
Nunca mais dizes adeus
E ficas junto de mim
P’ra sentires os beijos meus

Um adeus quer dizer separação
Dos lábios teus não quero não
Esquece o passado e pede a Deus
Que te conceda o perdão
De muitos pecados teus

Pois pensa bem
Já sabes o que é sofrer
E que na vida, também
Adeus, mais não queres dizer
O destino quis
Não te fies em intrigas
E se queres viver feliz
Um adeus nunca mais digas

Rua da nossa saudade

José Fernandes Castro / Sérgio Dâmaso *fado Sérgio*
Repertório de Cristina Batista 

A rua da saudade ainda tem
O cheiro que o poeta nos deixou
A rua da saudade tem também
Histórias que o poeta sublimou

A rua da saudade, embora triste
Não põe essa tristeza na janela
A marca do poeta ainda existe
A passear no céu como uma estrela

A rua da saudade é toda povo
E o povo que lá passa tem memória
Foi lá que o sonho teve fato novo
Foi lá que o fado teve nova glória

A rua da saudade, além do mais
Que tem... como qualquer rua da gente
Tem brisas e tem sonhos matinais
Tem versos p’ra cantar eternamente

Numa rua qualquer da cidade

José Guimarães / Alvaro Martins
Repertório de Amélia Maria 

Fiquei sem coração naquela rua
Fiquei sem coração para te amar
Embora no meu gosto seja tua
Não tenho coração para gostar;
Fiquei sem coração naquela rua
Tenho uma pedra agora em seu lugar

Se te deixar
Se me encontrares por aí
Podes crer, não sou mulher
P’ra te esconder a verdade
Vou procurar
Um coração que perdi
Que perdi numa rua qualquer
Numa rua qualquer da cidade

Foi pedra que agitou águas paradas
Aquele olhar, que a rir fitou o meu
Foi estrela que apagou a madrugada
Foi sol onde o meu frio se aqueceu;
Foi pedra que agitou águas paradas
Do charco tão sereno que era eu

A balada de João Saramago

Letra e música de Paco Bandeira
Repertório de Alfredo Guedes 

De lenço ao pescoço, chapéu dasabado
Samarra curtida de pele de borrego
Cansado da jeira, João Saramago
Risca a pederneira, acende um cigarro

Caminha por veredas a passo marcado
Um velho costume que tem de soldado
Pensa de maneira no país mudado
Que o tempo correndo, eu sempre parado

Já se vê ao longe o monte do guizo
João Saramago ensaia um sorriso
Entra na rotina, senta-se à lareira
No burro de azinho à espera da ceia

Deita-se com ela, não pode haver nada
Que o filho mais velho já ouve e já fala
Rompe a mdrugada, pega no machado
Que vida lixada, João Saramago

Fado das iscas

José de Oliveira Cosme / Jaime Mendes
Versão do repertório de José Freire
Criação do actor Álvaro Pereira na revista 
Coração Português no Teatro Variedades, 1928
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia 
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*

No tempo das patuscadas
Das guitarras e touradas 
Das hortas, do carrascão
Eram as iscas o prato
De mais consumo e barato 
Na vida dum cidadão

E ninguém se envergonhava
Toda a gente que passava 
Entrava nessas vielas
A gente sentia-se bem
Sendo simples era um vintém 
Trinta réis se eram com elas

Se ao longe vinha um parceiro
E o cheirinho lhes sentia
Até mesmo apetecia
Comê-las só p'lo cheiro
E a sua fama foi tal;
O povo então era vê-lo:
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal


Hoje tudo isso mudou
A taberninha acabou 
Desapareceram os becos
Os cocheiros são chauffeures
Vigaristas, soutneres 
E os casqueiros, papo-secos

Se os meninos odaliscas
Comessem um prato d'iscas 
Daquelas bem temperadas
Morriam de indigestão
Não bebendo um garrafão 
D'água das Pedras Salgadas
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Versão Original

No tempo das patuscadas 
Das guitarras e toiradas
Das hortas e carrascão
Eram as iscas o prato 
De mais consumo e barato
Na vida dum cidadão.

E ninguém se envergonhava
Toda a gente que passava 
Entrava nessas vielas
Sentia-se a gente bem
Sendo simples, um vintém 
Trinta réis se eram com elas!

Se ao longe vinha um parceiro
E o cheirinho lhes sentia
Até mesmo apetecia
Comê-las só pelo cheiro
A sua fama foi tal
Que o povo, então, era vê-lo
Travessa do Cotovelo
E Rua do Arsenal


Hoje tudo isso passou
A taberninha acabou 
Desapareceram os becos,
Os cocheiros são “chauffeurs”
Vigaristas, “souteneurs” 
E os “casqueiros”, “papo-secos”

Se os “meninos-odaliscas”
Comessem um prato de iscas 
Daquelas bem temperadas
Morriam de indigestão
Não bebendo um garrafão 
De água das “Pedras Salgadas”

Com a marcha do progresso
Chego a ter medo, confesso 
Do que me reserva a sorte
Almoça-se no Japão 
Vai-se jantar a Milão 
E cear ao Pólo Norte

Eu estou a ver os vizinhos 
Do “Manel dos Passarinhos”
Aparvalhados, imóveis
Ao ver os mortos, coitados
Ao passarem despachados 
Em “carretas-automóveis”

De novo o fado jocoso a animar os palcos da nossa revista, desta vez celebrando
o petisco que noutra letra de Lourenço Rodrigues (Ver pág. ????), no mesmo
espírito divertido e com o mesmo título, foi gravada por Hermínia Silva em 1957
Há ainda um Fadinho das Iscas, de Ary dos Santos e Martinho d’Assunção
gravado por Simone de Oliveira no seu único disco dedicado a fados.
A letra aqui apresentada foi gravada pelo seu criador, Álvaro Pereira e também
por José Freire.
Em ambos os casos, foi omissa a última estrofe, por motivos desconhecidos 
mas que devem prender-se com a extensão da peça
ou o gosto dos intérpretes.
Para as gerações mais novas, haverá a explicar que «com elas» significava com 
batatas a acompanhar; que souteneur é o termo francês para proxeneta; que
«casqueiro» era o termo de calão para o pão de um quilo; e «papo-seco» era
o pão mais pequeno, também chamado carcaça. 
De tudo isto, apenas se
mantêm o «com elas», não mais em relação às iscas, mas como opção
à ginjinha. E, ainda em pleno vigor, mantém-se a «água das Pedras» Salgadas.

Olhar e gostar de alguém

José Guimarães / Alvaro Martins
Repertório de Alma Rosa

Toma cuidado
Vê primeiro a quem te dás
Eu sei que não és capaz
De enganar o coração
Toma cuidado
Se uma razão te aparece
Que o amor nunca conhece
A verdadeira razão

Olhar e gostar d’alguém... acontece
Mas não te dês a ninguém
Porque ninguém te merece
Olha e verás no brilho do meu olhar
Que só eu serei capaz
Serei capaz de te amar

Toma cuidado
Com elogios de alguém
E acredita mais em quem
Diz aquilo que tu és
Toma cuidado
Olha bem em teu redor
Que hás-de encontrar o amor
Naquela em quem menos crês

Senhor mundo

Letra e música de Belo Marques
Repertório de Manuel Fernandes 

Senhor mundo dê licença  
Quero pedir-lhe um favor
Dê-me, se possível for 
Um lugar ao sol também
Então quem mais na vida  
Cabe num cantinho só
Num pedacito de pó  
Que não faz sombra a ninguém

Quem nasceu sem ter pedido 
Permissão para nascer
E vive cá sem saber 
A que lei anda sujeito
Creio que a ninguém ofende 
O pedir seja a quem for
Um pedacito de amor 
A que todos têm direito

Deixai viver num cantinho
A alma dum vagabundo
Que o pedacito 
Do espaço que habito
Não faz falta ao mundo
Oh vida errante que sigo
Sem finalidade alguma
Só para encontrar-te
Vivo em toda a parte
E em parte nenhuma 

Ninguém crê nem adivinha 
Como eu amo a minha dor
Não a dou seja a quem for 
Nem a troco por ninguém
Quero senti-la só minha
Porque existo e ela existe
A alegria de ser triste 
Faz doer, mas sabe bem

Fado Anita Guerreiro

Tributo de Fernando Campos de Castro 

Fui Teatro velho e novo
Com Nobreza fui do Povo 
De quem fiz a minha vida
Já fui Palco e fui Canção
Já fui Marcha e fui Balão 
A brilhar na Avenida

Sou Guerreiro e sou Anita
Sempre fui de pequenita 

E serei até ao fim
Porque sou Povo
Sou o Tejo e sou Canoa
Sou pedaço de Lisboa
Que mora dentro de mim

Já fui calma, e excedi-me 
Fui o Fado e já fui Filme
Sempre dei o que sabia
Fui Mulher e nesta voz 
Eu fui Eu e já fui Vós
Fui Tristeza e Alegria

Fado Beatriz da Conceição

Tributo de: Fernando Campos de Castro

DEI-TE UM NOME EM MINHA CAMA
E nunca mais esqueci 
O calor daquela chama
Que hora a hora inflama
A VIDA QUE SOFRO EM TI

Em PÃO DE GESTOS cantava
PRECISO DE TE OUVIR A VOZ
E em cada verso sonhava
Que no teu corpo ancorava
MEU CORPO rio sem foz


É um fado sobre fados que te canto
Meu amor, minha ansiedade desmedida
É um fado sobre os fados do meu pranto
Que te canto meu amor da minha vida

VOLTASTE agora à procura
Dos beijos que dei aos molhos
Com palavras de ternura
Já saudoso da loucura
D’AS MENINAS DOS MEUS OLHOS

Nas sombras que a NOITE inventa
DESTE-ME UM BEIJO E VIVI
Como estrela que alimenta
MINHA ALMA DE AMOR SEDENTA
Sedenta de amor por ti

No terreiro

Vasco de Lima Couto / Carlos Gonçalves
Repertório de Amália 

Eu vim do Pinhal com a terra toda 
Não trouxe Bragal para a minha boda 
Porque do Pinhal trouxe a terra toda

Depois no Terreiro dancei a Tirana 
E dei-me ao primeiro que me fez humana 
Porque no Terreiro senti-me tirana

Por muita fronteira joguei minha idade 
Com voz caminheira cantei a saudade 
Na linda maneira de não ter idade

Hoje dou-me ao vento da ponta do mar 
Neste violento modo de cantar 
Com o pensamento de te ver chorar

Um fado pelo Maurício

Mário Rainho / Frederico de Brito
Repertório de Fernando Jorge 

Becos, ruas e calçadas
Calcetámos tantas ‘stradas
Nessa rotina dos passos
Lisboa, de lés-a-lés
Já nos conhecia os pés
Fados a quatro compassos

Escutou-nos a gargalhar
Outras vezes a chorar
A mágoa igual, ou diferente
Ouviu-no
s em desgarradas 
Sem música, improvisadas
Sobre os passeios, contente

Os desabafos, por vezes 
Um chorrilho de revezes
Na partilha entristecida
Tal como foram contigo 
Irão um dia comigo
Para onde existe outra vida

Em amizade, senhores
Não há amigos maiores 
Diz o povo, sem razão
Pois foste e serás Maurício
O me vitalício 
Fado, do meu coração 

Canção do Ribatejo

José Fernandes Castro / João Chora e Bruno Mira
Repertório de João Chora

O Ribatejo cumpre o desejo
De roubar um beijo 
Duma boca em chama
Como o campino cumpre o destino
De ser peregrino na terra que ama

Lezíria nova que pões à prova
A mais linda trova dum peito marcado
Lezíria amiga, paixão antiga
És poema com sabor a fado

Tudo é diferente na nossa gente
Que no peito sente 
A força duma vida
Tudo tem cor, tudo tem calor
E o sol do amor, hora prometida

A natureza tem mais beleza
E tem a nobreza dum peito ancestral
Ai Ribatejo do meu desejo
Só em ti vejo o sol de Portugal  

Vamos lá a ter sucesso

Carlos Baleia / Daniel Gouveia
Repertório de Daniel Gouveia 

Que coisa bonita 
Ser gajo porreiro e ser bem-falante
Ter um ar catita
Gostar de dinheiro, ser insinuante

Vestir a preceito
Fazer-se entendido e estar na jogada
Mentir, só com jeito e ser atrevido
É coisa acertada

E com este trunfo 
Na tal jogatina que tanto o exalta
Está certo o triunfo 
Com o qual domina toda a outra malta

Nada de cansaços 
Pois muito suor não deixa pensar
Calcular os passos com muito rigor
Para bem enganar

É assim a história 
Do nobre sucesso dos espertalhões
Um “V” de vitória 
Na boca “o progresso”, no bolso, milhões

Quase logótipo 
Coisa radical com gelo nas veias
Quem fez este tipo, fê-lo muito mal
Que as coisas estão feias