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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Chegaste tarde

António Frazão / Edgar Nogueira
Repertório de Deolinda Maria

Chegaste tarde
Já o sol ia tão alto
Já brilhava no asfalto
Resto do tempo passado
Chegaste tarde
Raiava já nova aurora
Não viste a noite ir embora
Chegaste muito atrasado

Chegaste tarde 
Ao lugar que querias ter
Não viste o alvorecer
Pela tua sombra lenta
Chegaste tarde
Trazias a alma fechada
Cheia de sombras de nada
Em madrugada cinzenta

Chegaste tarde
Escondias um segredo
Na tua capa de medo
Da cor dos teus ideais
Chegaste tarde 
P'ra saberes o meu passado
Para entenderes o meu fado
Chegaste tarde demais

Canção dela

Manuel Carvalho / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de  Alberto Alves

Tenho uma luz que me guia
Toda a hora, noite e dia
Sem ela não sou ninguém
É meu sol a minha luz
E o farol que me conduz
São os olhos que ela tem

Tenho a voz que me inebria
Numa doce melodia 
Que de ouvi-la me faz bem
Quando ela diz que me ama
É um fado que me chama 
Na linda a voz que ela tem

Tenho o doce que mais gosto
Que sabe a mel e a mosto 
Tão fresca como a manhã
Sabe tão bem seu sabor
São beijos feitos d’amor 
Os beijos que ela me dá

Tenho uma luz que me guia
Tenho um som que me inebria 
Tenho beijos com doçura
Foi uma prenda do céu
A filha que Deus me deu 
E é toda a minha ternura

O pregão da Rosalina

António Vilar da Costa / Martinho d'Assunção
Repertório de Tristão da Silva

De manhã cedo
Quando à minha rua passa
Acho-lhe graça 
já estou à sua espera
Risonho e ledo
Seu pregão tem a magia
Do trinar da cotovia 
Em manhã em primavera

A Rosalina
A vendedeira mais nova
Faz do pregão uma trova
Que já todo o bairro nota
Voz cristalina
Que me rasga o coração
Quando me mostra na mão
Os figos de capa rota


De brincadeira
Sem que ela nunca se ofenda
Traz-me a merenda 
E a sorrir, sempre lhe digo
Ai feiticeira
Não me lances tais olhares
Pois se não te acautelares 
Um dia chamo-te um figo

Ela sorri
Sempre picante no trato
Com um sorriso gaiato
Que deixa minh'alma louca
Pois sempre ouvi
Que nesta vida de perigos
Há uns que comem os figos
E a outros, rebenta a boca

Tudo bem

Manuel Carvalho / Jaime Santos
Repertório de José Ferreira

Finjo que está tudo bem
Quando me vens perguntar
Porque a aparência convém
A quem sofre por amar
Tanta coisa por dizer
E apontar erros também
Com medo de te ofender
Digo sempre: está tudo bem!

Sei que vives a sofrer
Não queres dizer, sei muito bem
Também dizes por dizer
Quando perguntas: vai tudo bem?
Teu gostar não e igual
Ao meu gostar que te quer bem
Mas meu amor por meu mal
Digo sempre: está tudo bem!

Meu amor vai tudo bem
Sigo na vida teus passos
Para mim, está tudo bem
Quando estás nos meus braços
Talvez um dia porem
Tu vejas bem para onde vais
E então nada vai bem
Porque será tarde de mais

Ando à procura de mim

Carlos Rocha / Aníbal Nazaré
Repertório de Tristão da Silva

Ando à procura de mim
Que eu sou outro, bem o sei
Fui ao fim dum sonho e vim
E nem assim me encontrei

Percorri sítios antigos 
Por onde me perdi já
Encontrei velhos amigos 
E só eu não estava lá

Fui passar àquela rua 
Onde era nosso costume
Alta noite à luz da lua 
Trocarmos beijos de lume

Procurei por toda a parte 
Só então vi, que talvez
Só conseguindo encontrar-te 
Me encontrarei outra vez

Menina dos olhos meigos

Manuel Carvalho / Armando Machado *fado súplica*
Reprtório de Joaquim Brandão

Chamei-lhe menina dos olhos meigos
Ao seu olhar não pude resistir
Adivinhava o sabor dos seus beijos
Pelo doce raiar do seu sorrir

Seu andar ondulante de varina
Sei que fascinava a um qualquer
Olhar aquele corpo de menina
Metido assim num corpo de mulher

Um dia não me pude mais conter
E segredei-lhe toda a sorte minha
Passava lá na rua só p’ra ver
Os lindos olhos meigos que ela tinha

E hoje a menina dos olhos meigos
Ilumina no lar nossos destinos
Satisfaz meus caprichos meus desejos
E deu-me uns olhos meigos pequeninos

Rosa cantadeira

João de Freitas / Alfredo Correeiro *marcha do correeiro*
Repertório de Júlio Peres

A Rosa cantava o fado
Mas o fado afadistado
O que nasceu na viela
E um fidalgo de samarra
Tocava a sua guitarra
Muita vez, em casa dela

Sua voz era o lamento
Nascida no sofrimento 
Da sua grande paixão
Pois ela quando cantava 
Parecia até que rezava 
Em fervorosa oração

Todos gostavam da Rosa 
Por ser crente e ser bondosa 
Como fada benfazeja
E na rua onde morava 
Assim que ela passava 
Diziam: bendita seja

Um dia a Rosa partiu 
Há quem diga que fugiu 
Com o fidalgo afadistado
Desde então nessa viela 
Nunca mais souberam dela
Nem se cantou mais o fado

Tu não te importas

Fernando Correia / Casimiro Ramos
Repertório de Tony de Matos

Tu não te importas
Que eu viva nesta agonia
Ande de noite e de dia
A seguir os passos teus
Tu não te importas
Que eu leve a vida a chorar
Cansado de suplicar
Que voltes aos braços meus

Tu não te importas
Que eu passe as noites sem sono
Nesta dor, neste abandono
A que tu me condenaste
Tu não te importas
Nem sequer tens piedade
De vir matar a saudade
Que no meu peito deixaste

Tu não te importas
Desta alma que foi tua
Antes queres, de rua em rua
Ir
matando os sonhos teus
Tu não te importas
Em andares perdida e louca
Espalhando de boca em boca
Os
beijos que eram só meus

Tu não te importas
Que recorde o teu perfume
Que enlouqueça de ciúme
Ao pensar que te perdi
Tu não te importas
Que um dia eu seja diferente
E ria p'ra toda a gente
Só p'ra não chorar por ti

Fado ciúme

Manuel Carvalho / Adriano Roriz Batista *fado macau*
Repertório de Margarida Lima

Sei que olhas para ela
Quando vais comigo ao fado
Não tenho ciúmes dela
Mas não saias do meu lado

Vai p’ra todos o meu canto 
Mas p’ra ti vai meu amor
Nunca olhes para o canto 
Ela está lá sem pudor

Tu olha só para mim 
Eu amo-te tanto, tanto
Por amor eu sou assim 
Choro por ti quando canto

Não tenho ciúmes dela 
Ela nem sabe cantar
Mas não olhes para ela 
Não me ponhas a chorar

Razão mais forte

José Correia / Ferrer Trindade
Repertório de Tony de Matos

Depois que fiquei sem ti 
A tua ausência sofri
Sentindo lume 
No olhar febril de ciúme

Só fala assim quem amou
E por amar, odiou

Se parece bem ou mal 
Não me importa assim falar
Pois trago em mim, afinal 
O ciúme a queimar

Razão mais forte que eu
Da minha ideia não te posso afastar
E nos teus lábios eu desejo apagar
Todo este fogo que em meu peito nasceu
Razão tão forte, que eu
Ergui a taça do fracasso e bebi
Por esse amor que desejei
Quando vencido me odiei
De não poder viver sem ti


Não quero adivinhar 
A causa deste penar
A quanto abriga 
Aquele amor que castiga

Se a nós os dois nos doeu
Sei que o mais forte sou eu

Tenho a vida p'ra esperar 
E os minutos contarei
Custe lá o que custar 
A meus pés te verei

Um rio de vida

Manuel Carvalho / Georgino de Sousa
Repertório de Sílvia Raquel

Eu sou um rio de vida
Correndo a toda a brida
Em busca de ver o mar
Na margem deixo ao relento
Muitos sonhos com o vento
Segredos por desvendar

Desbravei montes e frestas
Li muitos, muitos poetas 
Em busca de ver o mar
Vou com o vento à deriva
Sem ter medo da partida 
Na esperança de te encontrar

Na calma desta corrente
Sou igual a toda a gente 
Nesta viagem murmuro
Que a busca da felicidade
Só no amor tem verdade 
Tu és o mar que eu procuro

A noite do nosso fado

Fernando Peres / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Tiago Simões

Vivi horas de pecado
Minutos de desespero
Na noite do nosso fado
Que sabe quanto eu te quero

A noite veste o meu peito 
Doce mistério em saudade
Resto
dum sonho desfeito 
Desejo de outra verdade

O beijo que te quis dar 
Era fogo de desejo
Era todo o verbo amar 
Alma inteira num beijo

A noite do nosso fado 
Veste de sonhos a rua
Vive no nosso passado 
Na minha vida e na tua

Noite fria

Manuel Carvalho / João Blak *fado porto*
Repertório de Eduardo Alípio

Nessa noite tinha sido
Um poema prometido
Com uma rima perfeita
A manhã veio tão fria
Só em nós calor havia
Dentro da cama desfeita

O bom dia que me deste
Foi um beijo que trouxeste 
Já com sabor a saudade
A noite tinha acabado
Foi cada um p’ra seu lado 
Para chorar à vontade

Na hora da despedida
Sentimos na nossa vida 
Tudo ia ser diferente
Um ao outro nos demos
E o amor que fizemos 
Ficou marcado p’ra sempre

Bendita seja essa hora
Onde o frio foi açoite 
Que em nossas mãos morreu
Havia frio lá fora
Mas nosso amor nessa hora 
Até o mundo esqueceu

Sinto-me louco

Fernando Campos de Castro / Victor José
Repertório de Joaquim Campos

Fiquei louco varrido 
Sem vontade ou querer
Ao ter conhecido 
Aquela mulher

Pois logo que a vejo 
Perco todo o meu jeito
E acendo o desejo 
Que trago no peito

Eu sinto-me louco
Desde que te vi
Sou o louco mais louco
Sou louco por ti

Ando louco p’ra saber 
Quanto tempo é que dura
A razão de ser 
De tanta loucura

Se diz que tem pressa 
E me nega o seu braço
Perco logo a cabeça 
E não sei o que faço

Namoro pequeno burguês

Letra e musica de Vitorino
Repertório de Tony de Matos

Mentira, que já te não quero
Mentira, se digo que esqueço
Mentira na minha indiferença se passo por ti
Inquieto às horas do dia
Na espera da noite que chega
E a noite não traz o pulsar do teu caminhar

Ficaram esquecidas na mesa dum café
As cartas que te escrevi
Ao sabor duma ginginha
Mas se acaso passo no beco dos teus afetos
Logo o meu coração bate
Na vã esperança de te ver

Maldigo essa janela sempre fechada
E que outrora foi moldura
Deste amor triste e modesto

O meu chorar

Manuel Carvalho / José António Sabrosa
Repertório de Joaquim Duarte

Com os teus dedos limpaste
Uma lágrima em meu rosto
Mas lembro que até choraste
Emanada em meu desgosto

É feio se um homem chora 
Dizem para aí sem razão
Eu penso que só não chora 
Quem não tiver coração

No sentir e na garganta 
Há um modo de cantar
Há muita gente que canta
Com vontade de chorar

Sei que choro mas não sei 
Se foi dor o que senti
Tantos desgostos te dei 
E ainda choro por ti

Rua da maldade

Agostinho Mendes / Manuel dos Santos *fado pérola*
Repertório de Augusto Guedes

A rua tem o nome de maldade
Há muito que o amor já lá não mora
Comigo só lá ficou a saudade
A dor que lá morou, já foi embora

Agora vive ali também, o fado
Que è o irmão gémeo da tristeza
E anda acompanhado lado a lado
Chorando a triste sorte da pobreza

Já ali viveu também o vil ciúme
Reverso do amor, è na verdade
O fogo que nos queima sem ter lume
A dor que nos magoa por maldade

Saíu de lá também, todo o carinho
A ternura fugiu, jamais voltou
Comigo e com as pedras do caminho
Apenas só a saudade ficou

O dia em que vi Maria

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Tony de Matos

No dia em que vi Maria 
E que Maria me viu
Até o sol lá no céu 
Minhas palavras ouviu

No dia em que aconteceu 
Minha maior alegria
Foi dia que Deus me deu 
O dia em que vi Maria

Eu sonhei com felicidade 
Sonhei com tudo o que havia
Oh Meu Deus como foi bom 
O dia em que vi Maria

Tudo passou a ter cor 
Até a noite foi dia
Acreditei no amor 
No dia em que vi Maria

Hoje sou outra pessoa 
Não sou mais o que existia
E o mundo também mudou 
No dia em que vi Maria

Sentir do fado

Manuel Carvalho / Armando Machado *fado licas*
Repertório de António Passos

O fado não se aprende, não se ensina
É algo que já vem dentro de nós
É nosso destino, é a sina
Trazer o coração perto da voz

Mal a guitarra trina, o peito sente
Uma leve sensação que faz vibrar
E cresce o fado então dentro da gente
Que alguém que tanto amamos faz lembrar

Depois vem na voz com que se canta
A raça do meu povo em qualquer lado
Surge a alma inteira na garganta
E o sangue nas veias vira fado

Canta-se o amor e a saudade
Que magoa a gente tanta vez
Quando a nostalgia nos invade
Sentimos que o fado é bem português 

Fado Tristão

António Mestre / M. Lago
Repertório de Tristão da Silva

Ao pôr os olhos no mundo 
Fiz tão tristonha expressão
Que meu pai disse, profundo 
Achei-lhe o nome Tristão

Sou Tristão porque sou triste 
Desde o dia em que te vi
Mas tinha que nascer triste 
Nasci p'ra gostar de ti

Tristeza, passa de largo
Meu viver è tão amargo
Que nem podes conhecer
Se te chegas, concerteza
Embora sejas tristeza
De tristeza vais morrer


Sou Tristão porque sou triste 
Sou triste por ser Tristão
Tristeza amiga, desiste 
Mais tristeza p'ra mim, não

Minha mãe disse, coitada 
Quando um dia me surpreendeu
A rir duma brincadeira; 
Porque choras filho meu?

Anda o amor nas pedras da calçada

Neca Rafael / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Aurélia Adelaide

Anda o amor nas pedras da calçada
Anda de boca em boca sem sabor
O gostar é gostar, isso è nada
O gostar è diferente do amor

O amor traz ciúmes, traz a dor
A dor que nos devora docemente
P'lo amor de Deus, não chames amor
Ao amor que se trai constantemente

Ai... quando existe amor, mas de verdade
E quando se ama até sem ser amada
Sofre-se desse amor, tal crueldade
Mas è ele, só ele, e o resto è nada

È tão bom provocar o azedume
È chama que se apaga e que se acende
Porque o amor sem ponta de ciúme 
Não tem sabor algum, não se comprende

Pelos olhos da noite

Letra e música de Paulo de Carvalho
Repertório de Tony de Matos

Foi pelos olhos da noite 
Que descobri os meus pares
Que vi a cara das coisas 
Nas cicatrizes dos bares

Foi pelos olhos da noite 
Que achei a minha verdade
Enquanto a noite fugia 
Lado a lado com a saudade

Sonhei sonhos de ternura 
Até o dia chegar
Depois parti à procura 
De mais amor para amar

Meu amor... 
Esta noite vens comigo
Meu amor... 
Mais do que amor, ès amigo

Foi pelos olhos da noite 
Que eu um dia descobri
Mulheres, Marias de todos 
Das noites que já vivi

Foi pelos olhos da noite 
Que esqueci a minha idade
E dei mil beijos de fogo 
Nas bocas desta cidade

E disse adeus à tristeza 
Até o dia chegar
Senti-me com ele à mesa 
À espera de te encontrar

Quem foi ?

Manuel Carvalho / Alfredo Mendes *fado das juras*
Repertório de José Ferreira

Quem mandou a abelha fazer mel 
Quem ensinou a aranha a tecer?
Quem disse à Maria que era o Manel
Que o seu coração ia escolher?

Quem disse à planta p’ra crescer?
Quem ensinou a ave a fazer ninho?
Quem às águas do rio foi dizer
Que era por ali o seu caminho?

Quem deu à flor o seu perfume?
Quem ensinou os pombos arrulhar?
Quem disse à mulher p’ra ter ciúme
E ensinou à gente o verbo amar?

Quem é que á noite manda vir a lua?
Quem manda o sol embora ao fim da tarde?
Quem é que diz que a vida continua
Mesmo depois da morte ser verdade?

Quem fez o céu a terra o mar imenso?
Quem fez a dor a fome o riso o pranto?
Quem fez todo este povo a quem pertenço
E deu-me a mim o fado que hoje canto?

Quem nos dá a força p’ra não faltar
Na nossa mesa o pão e o carinho?
Foi quem me deu a voz p’ra eu cantar
E é dono e senhor do meu destino!

Fado toureiro

Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa
Repertório de Tristão da Silva

Um homem deve ser valente
Mostrar seja onde for que tem valor
Pegar sem mais nem quê, de frente
A vida que Deus põe ao seu dispor

Viver é como ser toureiro
Saber correr a mão na lide
Com passes naturais
Nem menos, nem demais
Que os homens 
Quando nascem são iguais

Ajustar a razão ao sentimento
Dominar e compor bem a figura
Receber ovação ou sofrimento
Co'a calma bravura de que tem razão

A sorte não se faz à sorte
Viver ao Deus-dará, não è viver
De nada vale ser mais forte
Só vale o que tiver razão de ser

Amo o meu Porto

Manuel Carvalho / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Cristina Gonçalves

Eu hei-de fazer-te um fado
Com o mais lindo poema
E a melodia mais bela
Todo em ti inspirado
Tendo o amor como tema
E um cheirinho a viela
               
Ponho no cantar semente
De cravos de rubra cor 
P’ra mostrar a quem não sabe
Que esta cidade esta gente  
Tem fado feito de dor 
Por amar a liberdade

De Campanhã a Aldoar
Há um poema perfeito 
Por esta cidade inteira
A madrugada a cantar
Acorda o Douro com jeito 
No pregão duma peixeira
              
E ao som deste trinado
De tão doce suavidade 
Eu juro que sou feliz
Pois aqui também há fado
Amo o Porto esta cidade 
Que deu nome ao meu país 

As facas

Manuel Alegre / Alain Oulman
Repertório de Amália

Quatro letras nos matam, quatro facas
Que no corpo me gravam o teu nome
Quatro facas, meu amor, com que me matas
Sem que eu mate esta sede e esta fome

Este amor é guerra de arma branca
Amando ataco, amando contra-atacas
Este amor é de sangue que não estanca
Quatro letras nos matam, quatro facas

Armada estou de amor e desarmada
Morro assaltando, morro se me assaltas
E em cada assalto sou assassinada

Ninguém sabe porquê, nem como foi
E as facas ferem mais quando me faltas
Quatro letras nos matam, quatro facas
Quatro facas, meu amor, com que me matas

No beiral do meu telhado

Manuel Carvalho / Carlos Gonçalves
Repertório de Aida Arménia

Fez o ninho uma andorinha
No beiral do meu telhado
Agora chego à noitinha
E canto p’ra ela o fado

Talvez seja aquele encanto 
Que ao fado a nós nos prende
Eu sinto que quando canto 
Aquela andorinha entende

E quando a folha caiu 
Tinha chegado setembro
A andorinha lá partiu 
Ia triste bem me lembro

Mal chegou a primavera 
Voltou a negra andorinha
Pousou na minha janela 
Cantei-lhe o fado à noitinha

Fogueira do tempo

Manuel Carvalho / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Nicolau Rocha

É na fogueira do tempo
Que meu tempo se consome
Na raiva de não ter tempo
E morrer com essa fome

A chama que a vida tem 
Vai ardendo hora a hora
A minha esp’rança também 
Vai morrendo vida fora

Foge-me o tempo então 
Como areia entre os dedos
Só não foge esta impressão 
Que tenho de tantos medos

Quando acabar o meu tempo 
Acabará p’ra mim também
Este lutar contra o tempo 
De querer ser na vida alguém

Se um dia alguém tiver tempo 
De lembrar que eu existi
Que não seja por lamento 
De algum tempo que perdi

Mãe Natal

Silva Ferreira / Jorge Atayde
Repertório de Ademar Farinha

Ao recordar os invernos 
Oh minha mãe, Mãe Natal
Dos natais que não tivemos 
Vejo o teu sorriso triste;
Quando o teu filho afinal 
Sonhava o que não existe

Naquela lareira fria 
Punha os meus pobres chanatos
P'ra ver se ao romper do dia 
O Pai Natal ou alguém
Mos trocara por sapatos 
Para tos dar, minha mãe

Ó minha virgem morena 
Prometo que hei-de oferecer-te
Se voltares a Portugal  
Os sapatos que em pequena
Quiseste
e nunca tiveste 
Ó minha mãe, Mãe Natal

Modo de amar

Manuel Carvalho / Franklim Godinho
Repertório de José Ferreira

Se tanto nos desejamos
Para quê contrariarmos
Nossa vontade de amar
É preconceito que existe
E o medo que lhe assiste
Que os outros posam pensar

No mundo em que vivemos
Meu amor nós não podemos 
Viver a nossa aventura
Um dia vai acabar
Esta maneira de amar 
Nossa vida è uma loucura

Tudo aquilo que pensamos
Um do outro o que gostamos 
É só nosso, esse segredo
É um amor feito miragem
Por não termos a coragem 
De enfrentá-lo sem ter medo

Gratidão

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Tony de Matos

Quem dera ter
Nas mãos que em tuas mãos entrelacei
Momentos que me deste e eu te dei
Amor, quem dera ter
Quem dera ter
Na paz anunciada do futuro
Lugar para guardar amor tão puro
Meu amor, quem dera ter


Foste a jangada 
Do mar inquieto em que eu andei
Foste o sereno 
Das noites tormentosas que agitei
Foste o orvalho 
Da folha ressequida e sequiosa
Foste a aventura 
Que era a ave receosa

Poema amarrotado

Manuel Carvalho / Carlos da Maia
Repertório de Julieta Ribeiro

Não quero que ninguém veja
Se eu tiver que chorar
Por aí em qualquer lado
E proíbo quem quer que seja
Que me vá considerar
Um poema amarrotado

Claro que ás vezes sinto
A saudade do passado 
Que não sai da minha frente
Mas como ao fado não minto
Quero cantar este fado 
E ser feliz no presente

Vou guardar dentro do peito
O amor que eu mais queria 
Para rimar a meu lado
Perdoem este meu jeito
Mas é que eu já não podia 
Guardar p’ra mim este fado

Lá vai ela

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Tristão da Silva

Lá vai ela, lá vai ela 
Lá vai a descer a rua
Roubou-me o meu coração 
Leva a minh'alma na sua

Desde que a vida um dia 
Fiquei perdido d'amor
Lá vai ela e eu aqui 
A sofrer toda esta dor

Lá vai ela sorridente
Feliz, contente, 
Parecendo cantar
Lá vai ela, lá vai indo
E eu sorrindo 
P'ra não chorar

Lá vai ela, lá vai ela
Lá vai ela sem pensar
Que esta minha vida agora 
É um tormento sem par

Roubou-me o meu coração 
E em seguida quis mo dar
Mas esta paixão que eu sinto 
Não mo deixou aceitar

Trevo da minha sorte

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de  Sílvia Raquel

Meu coração não resiste
Tento manter aparência
Por ti amor ando triste
A chorar a tua ausência

És minha sorte, meu trevo 
Meu amor e meu pecado
Meu poema onde m’atrevo 
A dizer que és o meu fado

Quero mandar-te num beijo 
Meu lamento, meu recado
Dizer-te o quanto desejo 
Viver na vida a teu lado

E nesta minha ansiedade 
Nesta sorte sem escolhas
Faço rimar a saudade 
Com trevos de quatro folhas

Meu amor guia teus passos 
Para mim que sou teu norte
Volta amor para meus braços 
És trevo da minha sorte