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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Maria d’Alfama

Jorge Rosa / Domingos Camarinha
Repertório de António Mourão

Maria d’Alfama
Vive entre tantas Marias
Mas é quem dá os bons dias
No bairro que a viu criar
Maria d’Alfama
Anda a entontecer rapazes
Mas nem todos são capazes
De lhe dizer a brincar

Maria d’Alfama
Cabeça de vento
Perdeste a razão
Ganhaste má fama 
Nesse catavento
Que é teu coração

Eu gosto, Maria 
Dessa ventania 
Que mal te difama
Dá-me, por castigo
Que eu case contigo
Maria d’Alfama

Maria d’Alfama
Um amor de rapariga
Não vai atrás da cantiga
De quantos dizem amar
Maria d’Alfama
Tem um amor verdadeiro
Um certo rapaz trigueiro
Que não lhe diz a brincar

Destino que me foi traçado

Fernando Campos de Castro / Popular *fado menor*
Repertório de Manuel Barbosa

Eu sei que nasci pró fado
Minha mãe, que hei-de fazer
Tive o destino marcado
Que tu me deste ao nascer

Não sei, mãe, o que me prende
Na sua alegria ou dor
Só sei que o corpo se rende
Como se rende a um grande amor

É neste fado que habitam
O meu tumulto e a calma
Nele é que partem ou ficam
Os sonhos da minha alma

Minha mãe, eu sou do fado
Como sempre fui de ti
Destino que foi traçado
Desde a hora em que nasci

A chave esquecida

António José / Manuel Viegas
Repertório de Ada de Castro 

Quantas vezes já de madrugada
E cansada das horas contar
Eu ouvia os teus passos na escada
Logo corria pra te abraçar

Meus tormentos calavas com beijos
Nesse tempo ainda era tua
Mas agora tens mais uma chave
De outra porta que há na mesma rua

A minha chave 
Que tens esquecida num bolso qualquer
Vai deitar fora
Que entre as outras chaves só faz confusão
É muito fácil mudar de novo a fechadura
Nem a chave que tens 
Abre a porta do meu coração

Eu não quero perder o costume
De morar onde sempre morei
E fingir que não tive ciúme
Nas poucas vezes que os encontrei

E sorri ao ver-te embaraçado
Com surpresa também vi depois
O remorso a bailar nos teus olhos
Por vingança sorri para os dois

Anda daí

Jorge Rosa / Domingos Camarinha
Repertório de António Mourão 

Hoje apetece-me farra
Anda guitarra, p’la minha mão
Vem ouvir esta cigarra
Que eu trago no coração;
Acompanha-lhe cantigas
Anda, não digas, não digas não

Anda daí dar um giro
Cada retiro é um encanto
Cantando o fado, deliro
Deliro se o fado canto;
Que o fado triste da vida
Assim vivida, não custa tanto

Não queiras não, que se diga
Que ninguém liga ao velho fado
Anda daí minha amiga
Anda daí a meu lado;
O fado espera por nós
P’la minha voz, p’lo teu trinado

Anda daí à toa
Anda correr Lisboa
Anda daí de lado em lado
Olha que o tempo voa
A vida não perdoa
Anda daí cantar o fado

Assim é que é

José Galhardo / João Nobre
Repertório de Ada de Castro 

Oiço dizer mal do fado
Mas quem nos faz o remoque
São os pipis do Chiado
As rachas ao lado
Do twist e do rock

Deixai falar, não ligamos
Pois também nós, com razão
Do que eles gostam não vamos
Dizer que gostamos
Lá isso é que não

Dizem que o fado é maldito
Bonito, bonito, bonito não é
Que o Bairro Alto é esquisito
Bonito, bonito, bonito não é
Que ir lá comer peixe frito
Bonito, bonito, bonito não é
Mas p'ra ser fado, está escrito
E eu digo e repito
Assim é que é

Dizem que é feia a vila
É… mas que graça que tem
Os paus de roupa à janela
E as cordas com ela
E a cor num vai-vém

Dizem que é mau ser fadista
Ser Teddy-boy é que é mau
Mas o pior, salta à vista
Que é ‘star noutra lista
Ser pumba e báu báu

Hora bendita

António Mourão / Popular *fado menor*
Repertório de António Mourão 

Encontrei-te meu amor
Naquela tão linda rua
Bendita hora, bendita
Que a minha vida foi tua

Que importa que o mundo fale
Criticando com rancor
A minha vida contigo
Falando do nosso amor

Nada me pode deter
Pois o amor é profundo
Que importa que o mundo fale
Quero ouvir falar o mundo

Vivendo a minha loucura
A minha vida é a tua
Bendita hora, bendita
Que te vi naquela rua

Algum dia

Jorge Palma / Fontes Rocha *fado dos sentidos*
Repertório de Mísia 

Trazes pressa no olhar
Trazes rugas junto à lua
Promessas de não faltar
Naquela esquina da rua

És um homem perseguido 
P'lo medo que te apavora
Hora a hora mais contido 
No amor que te devora

Aprendi a amar-te assim 
És meu fado hoje e sempre
Querido à beira do fim 
Quase a tempo atentamente

E damos voltas no chão 
Até que a luz fica fria
De não em sim, de sim em não 
Hás-de ser meu algum dia

Barulho no bairro

Letra e música de Frederico de Brito
Repertório de Deolinda Maria 

A minha rua de casinhas mal caiadas
Não tem mais que três braçadas 
Que dão bem pra eu passar
A minha rua vê-se bem a cada passo
Que se envolve num só braço 
No abraço do luar

Na minha rua 
Eu conheço uma andorinha
Por sinal, minha vizinha 
E que mora um beiral
Pois tem por baixo 
Cravos rubros nas janelas
Que parecem sentinelas 
Num palácio oriental

Não há rua tão gaiteira… 
Nem tão boa
É a mais zaragateira… 
De Lisboa
Eu não sei que rua é esta
Tem festa todo o dia
Mas se há música na festa
Tem que haver pancadaria

A minha rua 
Tem seu quê de presumida
É vistosa e é garrida
É boémia e anda ao léu
Uma elegante 
Que há ali pró Bairro Alto
Com sapatos de basalto 
E estrelinhas no chapéu

A minha rua
Que eu pisei ainda criança
Foi a luz da minha esperança
A razão da minha fé
A minha rua 
Será feia, muito embora
Mas apenas quem lá mora 
É que sabe o que ela é

Noites de Alfama

Frederico de Brito / Armandinho *alexandrino antigo*
Repertório de Manuel Dias

Eu fui p’la noite fora até à velha Alfama
A própria luz da lua acompanhou meus passos
As sombras do Castelo, orgulho da Moirama
Estendiam para mim os seus enormes braços

Em baixo, o velho Tejo, um lago de ilusão
Mostrava aos seus batéis o negro carregado
A voz não sei de quem falou-me ao coração
Então, não sei porquê, pus-me a cantar o fado

Passei à velha Sé, corri Alfama inteira
E ali, de rua em rua, andei sempre a cantar
Até que fui parar à Rua da Regueira
Que à noite, as ruas são regueiras de luar

Minha pobre guitarra andava como louca
Talvez por se encontrar no bairro de mais fama
Enquanto a minha voz, assim cansada e rouca
Ia arrastando o fado ali na velha Alfama

O fado da Bia

Letra e música de Fernando Tordo
Repertório de Hélder Moutinho 

Pediram-me para cantar o fado da Bia
O fado da Bia 
É aquele que tem alma e tem corpo
O fado da Bia é um grito
Que o tempo tem deixado escrito
O fado da Bia 
É um barco que anda sem porto

Pediram-me que dissesse só a verdade
O fado da Bia 
É a voz que tem a tempestade
O fado da Bia 
É incerto, sózinho no meio do deserto
O fado da Bia 
É o querer e não querer a saudade

Pediram-me para cantar o fado da Bia
O fado da Bia é mulher
É um tudo ou nada
É filho de um poeta louco 
E de uma melodia 
Nasceu em toda a Lisboa
Era de madrugada

Só soube escrever saudade

Letra e música de Alves Coelho
Repertório de Francisco José

Revolvi uma gaveta
De uma velha escrevaninha
E encontrei uma caneta
Que escreveu prosa tão minha

Foi com ela que escrevi
As cartas p’ra te encantar
Com ele me despedi
Quando julguei não te amar

E hoje
De cabeça esbranquiçada
Com a mão já enrugada
Fui escrever-te, que ansiedade
Tentei
Mas a sina é caprichosa
Velha, a caneta teimosa
Só soube escrever saudade

Porto à noite

José Guimarães / Rezende Dias
Repertório de Natércia Maria 

Quando anoitece
O Porto tal graça encerra
Que mais parece 
O céu a morar na terra
E sendo assim
A noite é suavidade
Tem graça sem fim
Olhar a cidade

Meu Porto tão risonho, a tua luz
É tal e qual o sonho, que seduz
É jóia a cintilar, em canto infindo
Que até nos faz sonhar um sonho lindo

Pelas janelas
As luzes que dão encanto
São quais estrelas 
Forrando o vistoso manto
E à luz do luar
Porto, meu bem-amado
Parece um altar 
Todo iluminado

Novos passos

José Fernandes Castro / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Manuel Barbosa

Encontrei-me assim perdido
Sofrido / e arrependido
Dos passos que dei outrora
Foram passos transviados
Mal dados / desencontrados
Passos que não dou agora 


Agora penso melhor
No dissabor / do amor

Sentimento doce e raro
Agora, por precaução
Tenho a razão / sempre à mão

E dela não me separo 

Encontrei-me e agora sou
Quem andou / por onde andou
Sem conhecer rumo certo
Encontrei-me e ainda bem
Que ninguém / me viu além
A vaguear no deserto 


No deserto já não estou
Nem lá vou /porque não dou
Mais passos inutilmente
Encontrei o meu caminho
No carinho / deste ninho
Onde o fado está presente

Marcha do Porto

Norberto Barroca / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de José da Câmara

Erguida sobre o granito
No altar de São João              
Se o seu corpo tem dureza
O rio dá-lhe a beleza
Faz-lhe de ouro o coração

Das pedras, nascem as flores
Numa teimosa batalha
E nas ruas e vielas
Abrem-se a rir as janelas
P’rá cidade que trabalha

O Porto, que do trabalho é cidade
Altivo, tem no trabalho vaidade
Bairrista, tem na boca o coração
Ninguém faz calar sua razão;
Tripeiro, por tudo faz escarcéu
Com seu corpo de granito
Abre o coração num grito
A defender o que é seu

Vai à Sé, vai à Ribeira
E reza pelas Alminhas
Faz ouvir a sua voz
Desde Miragaia à Foz
Do Bolhão às Fontainhas

P’ra defender o que é seu
Corre por toda a cidade
Luta p’lo seu património
Entre Deus e o demónio
Da Cedofeita à Trindade

A Rosa e o Chico

Letra e música de Joaquim Pimentel
Repertório de Tezesinha Alves

Ali naquela janela
Daquele primeiro andar
Lá está a Rosa atrás dela
P’ra ver o Chico passar

O Chico, que sabe disso
Numa atitude engraçada
Atira um ar de derriço
Que deixa a Rosa corada

E lá na Lapa, a ninguém escapa 
Aquele namorico
O bairro deseja levar à igreja
A Rosa e o Chico
E vê-los depois, unidos os dois 
Em amor e graças
Naquela janela, naquela janela 
Da rua da Praças

Não mais atrás da vidraça
A Rosa vem p'rá janela
Porque o Chico quando passa
Não passa, fica ao pé dela

E no meu canto isolado
Fico de longe a olhar
Aquele amor sem pecado
Que tanto dá que falar

Um amor alegre

José Fernandes Castro / Júlio Proença *fado laiva*
Repertório de Manuel Barbosa

Uma cantiga 
Descrevendo amor sincero
Faz com que a vida 
Vá correndo como quero
E se a poesia 
Me tocar, logo depois
Ponho a alegria
A falar de nós os dois

Basta-me um fado
Para que minh’alma cante
E naturalmente espante
As forças que o mal me traz
Basta-me um fado
Misturado num sorriso
P’ra sentir o paraíso
No amor que tu me dás

Em cada beijo 
Vou sentindo fogo preso
E o meu desejo 
Vai surgindo mais aceso
É nesse instante 
Que me dou inteiramente
Porque o amante que hoje sou 
Sabe ser gente

Despi-me de ti

Pedro Martins / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de Filomeno Silva

Despi-me dos teus braços na hora em que partiste
Não mais te procurei desde esse amargo dia
Eu não segui teus passos e a noite foi mais triste
Mais só então fiquei, vestido de agonia

Despi o teu carinho e a seda dos teus beijos
Ficou no chão, caída e foi por mim pisada
Seguiste o teu caminho sonhando com desejos
De teres outra vida vestida de alvorada

Despi-me dos meus medos, dos quais era refém
Já não sinto agonia, respiro liberdade
Esqueci teus segredos e agora estou bem
Talvez te encontre um dia vestida de saudade

Orgulho

José Guimarães / Manuel Reis
Repertório de Filomeno Silva

Quero ver o teu amor doutra maneira
Quero ver o meu olhar, olhar p'ra ti
Não te peço por favor p'ra que me queiras
Nem desisto de encontrar o que perdi

Vês além aquela estrela e o seu fulgor
Quero assim nosso viver a cintilar
Vamos enfeitar com ela o nosso amo
Vamos tentar esquecer, voltar a amar

Os meus dias são viver a recordar
Nos meus dias há sentir que a ninguém digo
Peço a noite p'ra esquecer e não lembrar
Vem a noite, vou dormir, sonho contigo

Não pretendo conquistar causas perdidas
Anda lá, vamos pôr fim à nossa dor
E não vamos destroçar as nossas vidas
Por orgulho em dizer sim ao nosso amor

Senhor d'Além

Letra e música de Filomeno Silva
Repertório do autor

Senhor de além
Quem vai do Porto a passar
Não pode deixar de olhar
A tua ermida velhinha
Senhor de além
Quando em ti um olhar se espraia
Tens orgulho em ser de Gaia
E tens o Douro à beirinha
Que é o espelho
Dessa cascata cinzenta
Que tanta ternura inventa
Nas noites de São João
E refletes
A ponte de Dom Luiz
Que é referência feliz
De tempos que já lá vão

Quando passavam 
Os barquinhos cintilantes
E as Toninhas gigantes
Rio acima em desatino
A poesia 
De tão belos movimentos
Despertava os sentimentos
Dos meus tempos de menino

Mudou o tempo
Mudaram os sentimentos
Dizem que é fruto dos tempos
Talvez seja essa a verdade
Mas para mim 
Continua como dantes
Tu continuas a ser
O Senhor dos Navegantes