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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.350' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Varina de olhar gaiato

Manuel de Almeida / Popular c/arranjos de Manuel de Almeida
Repertório de Manuel de Almeida 
Este tema também foi gravado com o título *varina de Lisboa"
A última estrofe não foi gravada

Varina de olhar gaiato
Insinuante varina
Tu és o vivo retrato
Dessa Lisboa traquina

Dessa gente humilde e sã 
Do meu bairro sonhador
Tu és o despertador 
Ao despertar da manhã;
Risonha, alegre e louçã 
Sempre picante no trato
Há lá viela ou recato 
Que o teu pregão não aqueça;
Que esse olhar não endoideça
Varina de olhar gaiato

Quem é, quem é, que adivinha 
Quantos segredos de amor
Tu ocultas com fervor 
Dentro dessa canastrinha;
Lamento, por sorte minha 
Ser tão pobre por má sina
Senão, dava-te, ladina 
Se possuísse, um tesoiro;
Uma canastrinha d’oiro
Insinuante varina

Falte embora a luz da Lua 
Deixe o sol de brilhar
Mas não deixes de passar 
Um só dia à minha rua;
Pois somente a graça tua 
Mais do que o sol ilumina
Minha rua pequenina 
Onde levas a voz fresca
Toda a graça pitoresca
Desta Lisboa traquina

Se à espera duma traineira 
Tu apareces na lota
Lembras alegre gaivota 
A voejar na Ribeira
Não olhes dessa maneira 
Que apesar de eu ser sensato
Fazes-me perder o tato 
E um dia não sei que faça
Dos mil encantos da raça
Tu és o vivo retrato

Uma canção para Maria

António Sousa Freitas / Nóbrega e Sousa
Repertório de Tony de Matos 

Maria morreu, Maria morreu
E naquele dia não amanheceu 
No olhar de Maria
Não amanheceu, nem mais luz havia
Nem mais luz havia n
os olhos de céu
Azuis, de Maria

Maria morreu 
Na tarde chovia
E em paz ascendeu 
A Deus, nesse dia

Amou e sofreu de amor, a Maria
Mas não se perdeu
Mas não se perdeu na hora sombria
E agora só eu sinto a nostalgia
Dos olhos de céu que tinha a Maria
Que tinha a Maria

Maria morreu, que bonita ia
Um anjo desceu, um anjo desceu
Levou a Maria
Maria morreu !

Serenata do adeus

Letra e música de Vinicíus de Moraes
Repertório de Ricardo Ribeiro 

Ai, a lua que no céu surgiu
Não é a mesma que te viu
Nascer nos braços meus
Cai a noite sobre o nosso amor
E agora só restou do amor
Uma palavra: adeus

Ai, a vontade de ficar 
Mas tendo que ir embora
Ai, que amar é ir morrendo p’la vida afora
É refletir na lágrima um momento breve
De uma estrela pura cuja luz morreu

Ah mulher, estrela a refulgir
Parte, mas antes de partir
Rasga o meu coração
Crava as garras no meu peito em dor
Esvai em sangue todo o amor
Toda a desilusão

Ai, a vontade de ficar 
Mas tendo que ir embora
Ai, amar é ir morrendo p’la vida afora
É refletir na lágrima momento breve
De uma estrela pura cuja luz morreu
Duma noite escura triste como eu

Sombras

Francisco Lomuto e José Maria Contursi / Adap: António Lampreia
Repertório de Tony de Matos

Quisera um dia findar meus tormentos
Longe de tudo que é mau e atroz
Para poder te demonstrar
Como eu te sei amar
Num mundo feito só p'ra nós

E nos teus olhos azuis de mistério
Azul que existe no céu e no mar
Mas não reparas nunca mais
Nem vês que estou aqui
Com outro te vais encontrar

Sombras nada mais 
Terei só no meu caminho
Sombras nada mais 
E nada mais ficará

Eu não sou feliz
Pois ando em vida morrendo
Entre lágrimas vivendo
Mas se há sol que é p’ra todos
Para mim nunca virá


Sombras nada mais 
Na minha vida e na tua
Sombras nada mais 
No teu amor, meu amor

Não sei

Letra e musica de António Marques de Carvalho
Repertório de Tristão da Silva 

Não sei porque razão me mentiste
Se tudo o que me pediste
Eu tudo, tudo, te dei
Mas sei duma razão somente
Meu coração que não mente
E sente quanto te amei

Ai amor, vê que não sofres sozinha
Ai amor, mas a loucura é só minha
Deves sentir todo o sofrer de alguém
Que no sorrir, o sofrimento tem;
Ai amor, embora amor já não sintas
Eu gosto mesmo que mintas
Gosto de ti, meu amor

Não sei porque me abrasa a paixão
Se o teu amor não tem lume
Se tu não tens coração
Mas sei que me atormenta a dor
Que me enlouquece o ciúme
Mas que é mais forte o amor

Rondel do Alentejo

Almada Negreiros / Fernando Bagulho Guerra
Repertório de Ricardo Ribeiro 

Em minarete, mate, bate leve
Verde neve, minuete de luar

Meia-noite do segredo
No penedo duma noite de luar
Olhos caros de Morgada
Enfeitada com preparos de luar

Rompem fogo
Pandeiretas morenitas
Bailam tetas e bonitas
Bailam chitas e jaquetas são as fitas
Desafogo de luar

Voa o xaile, andorinha pelo baile
E a vida doentinha 
E a ermida ao luar
Laçarote escarlate de cocote
Alegria de Maria 
La-ri-rate em folia de luar

Giram pés, giram passos, girassóis
E os bonés, os braços
Estes dois giram laços o luar
O colete desta virgem endoidece
Como o S do foguete 
Em vertigem de luar  

Maria trapeira

Letra e musica de João Maria Azevedo
Repertório de Tony de Matos 

Lá vai Maria apanhar 
Aquilo que ninguém quer
E os destroços vai juntar 
Para depois ir vender

Como há trastes de valor 
Quem sabe se têm valia
Os trastes do meu amor
ou avisar a Maria

Maria trapeira 
Apanha do chão
Pedaços de vida 
Do meu coração

E se a Maria quiser 
Os restos do que vivi
Escusa de os ir vender 
Fica com eles p'ra si

Talvez que sirva p'ra ela 
O que a outra não servia
Quando a vir vou atrás dela 
E vou dizer à Maria

Há muita gente que pisa 
Pelo prazer de pisar
Mas quem hoje não precisa 
Pode amanhã precisar

Por isso Deus fez a lua 
Fez a noite e a nostalgia
E fez as pedras da rua 
P'ra eu dizer à Maria

Soneto de mal amar

Ary dos Santos / João Paulo Esteves da Silva
Repertório de Ricardo Ribeiro

Invento-te, recordo-te, distorço 
A tua imagem mal e bem amada
Sou apenas a forja em que me forço
A fazer das palavras tudo ou nada

A palavra desejo incendiada
Lambendo a trave mestra do teu corpo
A palavra ciume atormentada
A provar-me que ainda não estou morto

E as coisas que eu não disse, que não digo:
Meu terraço de ausência, meu castigo
Meu pântano de rosas afogadas

Por ti me reconheço e contradigo
Chão das palavras, mágoa joio e trigo 
Apenas por ternura levedadas

Menina tenha cuidado

Abílio de Mesquita / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de António Mourão 

Menina, tenha cuidado
Não ande muito na roda
O mundo faz o pecado
A seu jeito e à sua moda

A bailar, olhei p'ra ti 
A bailar, falei d'amor
A bailar, quando te vi 
Julguei ser o teu senhor

Numa volta do bailado 
Virei-me quando te vi
Desde então ficou-me o jeito 
De me virar para ti

Há no teu peito, menina 
Uma eterna romaria
Fogueira que não se apaga 
Quer de noite, quer de dia

Os homens perdem o tino 
Quando estão à tua beira
A lenha tem o destino 
De se queimar na fogueira

Maria Clara

Carlos Zamara / Jaime Tiago dos Santos
Repertório de Tristão da Silva 

Maria Clara
Um amor de rapariga
Num lindo palmo de cara
Foi na cantiga
Duma paixão insensata
Amando alguém que trazia 
A sua fotografia
Na cigarreira de prata

Não rias Maria Clara
Que pode tornar-se escura
alegria do teu rumo
E toda a tua ventura
Amanhã pode ser fumo

Maria Clara
Cigarreiras atraentes 
São virtudes aparentes
Onde há cigarros baratos
Ou sentimentos bizarros
Maria Clara
Não sonhes a vida inteira
Porque há muita cigarreira
Que varia de retratos 
Quando muda de cigarros

Maria Clara
Uma jóia de pequena
Num lindo palmo de cara
Hoje condena
Vê que o amor duma hora 
Foi um sonho que passou
Cigarro que se fumou 
E a ponta se deitou fora

Não chores, Maria Clara
Teu destino amargo e duro
Pode haver um coração 
Pobre de amor, como o teu
Que apanhe a ponta do chão

Fui eu

Guilherme Pereira da  Rosa / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Manuel de Almeida 

Tanta gente anda a dizer
Que andas feliz a seu lado
Que esqueço até meu sofrer
E chego a sentir prazer
De me sentir malfadado

Não sei que tem, que lhe fez 
Não te dá o mesmo amor
Por muito amor que lhe dês
Um dia verás, talvez 
Que mudaste p'ra pior

Mas não penses que é despeito 
Que me faz falar assim
Não há ódio no meu peito
Não sou feliz deste jeito 
Mas não há despeito em mim

somente uma saudade 
A saudade dos meus ais
Anda com ele à vontade
Que 'inda hás-de ver, na verdade 
Que fui eu quem te quis mais

Menina feia

Aníbal Nazaré / António Mestre
Repertório de Tony de Matos 

Conheci-te e acredita 
Logo vi que conhecia
A menina mais bonita 
Que neste mundo existia

E depois, p'la vida fora 
Quando o meu olhar te fita
Estás cada vez mais senhora 
E cada vez mais bonita

Mas tua sina fez-te diferente de ti
Não és a mesma menina
Bonita, que eu conheci
Tudo te irrita, se o ciúme te incendeia
Vê lá menina bonita
Se queres ser menina fei
a

Por seres bonita e menina 
Entreguei-te o coração
Que hoje está, por minha sina 
Fechado na tua mão

Mas tenho na minha ideia 
Que por milagre, talvez
Um dia, menina feia 
Serás bonita outra vez

Malaventurado

Bernardim Ribeiro / Alain Oulman
Repertório de Ricardo Ribeiro

Mudei terra, mudei vida 
Mudei paixão em paixão
Vi a alma de mim partida
Nunca de meu coração 
Vi minha dor despedida

E eu, mal-aventurado
Morro-me andando assim
Entre cuidado e cuidado

Eu morrera e acabara 
E meu mal fora acabado
Não vira tal perdição 
De mim e de tanta coisa
Perdido tudo em vão
Porque a paixão não repousa 
Em outra maior paixão

Oh! quem bem aventurado
Fora já se me matara
Minha dor e meu cuidado

Meu amor de longe

Letra e musica de Jorge Cruz
Repertório de Raquel Tavares 

No Largo da Graça 
Já nasceu o dia
Oiço um passarrinho
Vou roubar-lhe a melodia;
Meu amor de longe ligou
Abençoada alegria

Junto ao miradouro
Pombos e estrangeiros
Vão a cirandar
Como fazem dia inteiro;
Meu amor de longe já vem
Pôs carta no correio

Barcos e gaivotas do Tejo
Vejam o que eu vejo
É o sol que vai brilhar
Meu amor de longe 
Está prestes a chegar

Talhado para mim
Mal o conheci 
Eu achei-o desse modo
Logo pude perceber 
O fado que ia ter
Por ver nele o fado todo

Chega de tragédias e desgraças
Tudo a tempo passa
No há nada a perder
Meu amor de longe voltou 
Só para me ver

Fiz um rol de planos 
Só para recebê-lo
Fui pintar as unhas
Pôr tranças no cabelo;
Meu amor de longe há-de vir 
Beijar-me no Castelo

Eu a procurá-lo
Ele a vir afoito
Carro dos Prazeres
Número vinte e oito;
Meu amor de longe saltou
Iluminou a noite

Vamos celebrar ao Bairro Alto
Madrugada, baile no Cais do Sodré
Meu amor de longe 
Sabe bem como é que é 

Canção das águas claras

Joaquim Pedro Gonçalves / Ricardo Ribeiro
Repertório de Ricardo Ribeiro

Águas claras, águas claras
Que dos rochedos caíam
Morreram as águas claras
Onde os meus sonhos bebiam

Era o sol, era a lua 
Era a flor que aparecia
A solidão da rua 
Também toda lá bebia

Agora a mágoa me acena 
Das minhas mãos agitadas
Quem dera fossem penas 
Os rochedos de águas claras

Dessa paisagem não sei 
Nem a saudade precisa
Coração, eu não parei 
Tira-me a hora indecisa

Do tempo que era quimera 
Não quero que tenha fim
Porque é que o tempo não espera 
Nem nunca esperou por mim 

Diz-me porquê, mentirosa

António Rocha / José Marques *fado rigoroso*
Repertório de Bruno Igrejas 

Gostava de saber porque me evitas
Quando cruzo contigo em qualquer lado
Porque será que em mim não acreditas
Quando te digo estar apaixonado

Não compreendo tal comportamento
Esse teu proceder não faz sentido
Contaste a uma amiga um sentimento
E um projeto onde eu estou incluído

Se a tua amiga me falou verdade
Deixa-te de rodeios, por favor
Não resistas, encara a realidade
Entrega-te nos braços do amor

Mas se apenas pretendes rir de mim
Toma cuidado, vê por onde vais
Pois quase sempre quem se ri no fim
Ri-se muito melhor e muito mais

Marcha dos marinheiros

Matos Sequeira, Pereira Coelho / C.Caldero
Repertório de Tonicha

Os marinheiros aventureiros 
São sempre os primeiros 
Na terra ou no mar 
Ao ver as belas pelas janelas
Soltam logo as velas 
Para as conquistar

Ao navegar 
Sobre as ondas desde Goa
Nós viemos a pensar
Nas meninas de Lisboa
Desembarcados
Mesmo assim, os marinheiros
Vamos ficar ancorados
A uns olhos traiçoeiros

Salgadas pelo mar 
As nossas bocas vêm
Vêm procurar o mel 
Que os beijos têm
Que é tão bom para as adoçar

Largamos vela 
Da ribeira de Panjim
A pensar numa janela
Enfeitada de alecrim
Entrando a barra
Mal a nau chega a Belém
O marujo deita amarra
À mulher que lhe convém

A marinhagem 
Ao saltar dos escaleres
Quando chega da viagem
Põe-se à pesca das mulheres
Deita o arpão 
Sem saber se é linda ou feia
Vem às vezes um peixão
Outras vezes vem baleia

Fadinho alentejano

Letra e musica de Paulo de Carvalho
Repertório de Ricardo Ribeiro

Linda cara que tu tens... já sei
Quando chegas noite fora
À espera à porta da casa
Está o teu pai que te adora

Lindos olhos tem o mocho... piu
Quando a noite vem chegando
P’ra deixar passar a noite
Uma moda eu vou cantando

Muda a água às azeitonas 
Rega bem os teus tomates
Tem lá cuidado co'a horta
O cravo já está no vaso 
Sim senhora, por acaso

Abalaste p’ra Lisboa... pois
Deixaste-me ao pé da porta
Tu seguiste o teu caminho
A minha alma ficou torta

Quando cheguei ao Barreiro... já fui
Lisboa estava fechada
Voltei p’ra casa a cantar
Uma vida abençoada

Peguei ao colo a saudade

Mário Raínho / Alfredo Duarte *menor-versículo*
Repertório de Paulo Jorge Ferreira

Peguei ao colo a saudade / acontecida
E com ela fui prá rua / em abandono
Ainda mal era a cidade / adormecida
Olhos de sono e de lua / sem ter sono

Peguei ao colo a saudade / e caminhei
A solidão, passo a passo / como ontem
Diga-te a noite, em verdade / o que chorei
E as estrelas meu cansaço / que te contem

Rompe o dia em claridade / que loucura
Meu olhar, vela a luzir / de fraca chama
Peguei ao colo a saudade / e com ternura 

Puz a saudade, a dormir / na minha cama

Nos gestos, nos sentidos

Vital d’Assunção / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Ricardo Ribeiro

Nos gestos, nos sentidos que nós somos
Pensamos coisas loucas de prazer
Andamos pelo mundo e insistimos
Na fúria de amar e de de viver

Olhar p’ra ti na noite dos desejos
Sentir o teu corpo em tempestade
Calar a tua boca com mil beijos
Num tempo de sonho e realidade

Cantar-te a madrugada em pensamento
Dizer-te um adeus de regressar
Na vida que nós somos, não há tempo
De sermos um do outro e de ficar

Nos dias de hoje

Letra e musica de Tozé Brito
Repertório de Ricardo Ribeiro 

Nos dias de hoje 
Ninguém sabe a quantas anda
Manda quem pode
Pode quem manda
Nos dias de hoje 
Não sentimos confiança
Salva-se a musica e siga a dança

Nos dias de hoje 
Ninguém sabe o que o espera
Se é inverno ou primavera
Indiferença ou compaixão
Nos dias de hoje 
A justiça não impera
A igualdade desespera
É confusa a confusão

Salva-se o amor
Salva-se a esperança
Salvam-se os olhos duma criança
Salva-se a honra
Salva-se a paz
Salvam-se os beijos que tu me dás

Nos dias de hoje 
Ninguém sabe o amanhã
E fazer planos é coisa vã
Nos dias de hoje 
Já não há motivação
P’ra dar às balas o coração

Nos dias de hoje 
Ninguém sabe o que o espera
Se é um sonho ou uma quimera 
Ter saudades do futuro
Nos dias de hoje 
Ninguém põe as mãos no fogo
Por um amanhã mais novo
Por um amanhã mais puro

Escuta coração

Artur Ribeiro / Maximiano de Sousa
Repertório de Max 

Anda cá meu coração
Vamos falar sem rodeios
Tu andas a dar razão 
Para troçar
De quem ri dos teus anseios

Anda cá meu coração
Vamos falar de nós dois
Vê as figuras que faço
E não me armes em palhaço
Para não chorares depois

Tu não insistas coração
Tu não insistas
É melhor que desistas
Coração
Tu não insistas 
Por caminhos errados
Nem dês passos mal dados
Sem razão

Não tens saída
Tens que seguir na vida
Sem correr na descida 
Contra a mão
Vê não batas a destempo
Foi-se a hora das conquistas
Contra o tempo não insistas
Coração

Queres namorar?

Letra e música José da Câmara e Daniel Gouveia
Repertório de José da Câmara 

Quando crianças
Entre um berlinde e um pião
Eis que bate o coração
Em contra-danças
Saltando à corda
Acorda o primeiro amor
Pintado a lápis de cor
Cor de esperanças;

Num dó, ré, mi
Sai na vozinha insegura
Aquela frase tão pura
Gosto de ti

Sendo a paixão 
Uma coisa que mata
E que maltrata, e que maltrata
Há o cuidado de nos defender
P’ra não sofrer, p’ra não sofrer
Nunca esquecendo 
Que o melhor segredo
É não ter medo, é não ter medo
Olhos nos olhos, vou perguntar
Queres namorar 
Queres namorar?

Mais crescidinhos
Calam-se as bocas coladas
Falam as mãos apressadas 
Noutros caminhos
Os anos correm
Fazem-se planos futuros
Sem capital mas com juros
Já casadinhos

E o que era a dois
Faz que apareça mais gente
Que deita nova semente
Tempos depois

Sorrindo aos netos 
Com a manta nos joelhos
Eis que chegaram a velhos
Velhos afetos
Dois anciãos
Mas as mãos já engelhadas
Continuam enlaçadas
Cheias de nós;

Como eram lindos 
Com o seu ar namoradeiro
Um caso de amor inteiro
Os meus avós

Estranho sofrer

Augusto José Leão / Alfredo Duarte *fado laranjeira*
Repertório de Filomeno Silva 

Vives dentro de mim e minh’alma devoras
Como te quero bem se até me dás prazer
Algumas vezes ris, mas outras também choras
Mas não sei o que tens, não sei o que fazer

Com essa languidez, a meditar eu fico
Se estás doente, diz, ou dá quaisquer sinais
P’ra desespero meu, por ti, me mortifico
Só p’ra ver feliz enfrento vendavais

Alinda-te p’ra mim, sai dessa letargia
Levanta o teu astral e em mim terás guarida
E num som magistral ou por qualqer magia
Derrama a tua dor, mas dá sinais de vida

Porque sofres assim, que estranho proceder
Liberta o coração que junto ao meu se’agarra
E num esforço atroz começa a reviver
Os teus sons divinais, minha amada guitarra

Casa roubada

Daniel Gouveia / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de José da Câmara

Sinto esta mágoa que corta
Por me negares a entrada
Puseste trancas à porta
Já tens a casa roubada

Se acabou tua paixão 
A minha não ficou morta
Por não pisar o teu chão 
Sinto esta mágoa que corta

Do amor extinguiu-se o lume 
E, ao subir a tua escada
Fico doido de ciúme 
Por me negares a entrada

Fiz-te feliz, dei-te um teto 
Foste ingrata, foste torta
Em paga do meu afeto 
Puseste trancas à porta

Se anda outro na procura 
De estrear essa morada
Mesmo que abra a fechadura 
Já tens a casa roubada