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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Cena fadista

António Vilar da Costa / José Marques *fado triplicado*
Repertório de António Mourão

Um marinheiro de Alfama
Que tem fama na Moirama
De atrevido  e valentão
Beijou a Rosa varina
Em surdina, mesmo à esquina
Da Rua do Capelão

Mas nisto, o Chico da Guia 
Rufia da Mouraria
Com um sorriso canalha
Segundo o que se presume 
Por ciúme, aponta o gume
Traiçoeiro, da navalha

A nova correu a Graça 
Breve passa à populaça
Do famoso Bairro Alto
Logo chega à Madragoa 
Corre à toa, põe Lisboa
Quase toda em sobressalto

Depois
, silêncio sagrado 
Volta o fado a ser cantado
À esquina da Saúde
E aquele bairro de então 
Tão brigão e rufião
Parece que tem virtude

A correr

Manuela de Freitas / Alain Oulman *o pião*
Repertório de Camané

Corre a gente decidida 
P'ra ter a vida que quer
Sem repararmos que a vida 
Passa por nós, a correr

Às vezes até esquecemos 
Nessa louca correria
Porque motivo corremos 
E p'ra onde se corria

Buscando novos sabores 
Corre-se atrás de petiscos
Quem corre atrás de valores 
Corre sempre grandes riscos

E dá prazer escorraçado 
Correr de forma diferente
Há quem seja acorrentado 
Por correr contra a corrente

Num constante corrupio 
Já nem sequer nos ocorre
Que a correr até o rio 
Chegando ao mar, também morre

Ou atrás do prejuízo 
Ou à frente da ameaça
Corremos sem ser preciso
E a correr a vida passa

Percorrendo o seu caminho
Correndo atrás do sentido
Há quem dance o corridinho 
Eu canto o fado corrido

E o que me ocorre agora 
P'ra não correr qualquer p'rigo
É correr daqui p'ra fora 
Antes que corram comigo;
Vou correr daqui p'ra fora 
Antes que corram comigo

Mãe, obrigado

Mário Raínho / Paco Gonzalez
Repertório de Paulo Jorge Ferreira

Não sei se lembras bem, mãe de fadigas
Quando o teu colo era um berço-abraço
Baixinho, murmuravas-me cantigas
E eu sorria enleado em teu regaço

Os teus olhos, dois céus, a mim desciam
E agitavam-se os meus, de amor, à espera
Do jeito dos teus lábios que floriam
Qual rosa que anuncia a primavera

Ternuras d’outro tempo, amor primeiro
Essas gratas memórias são meus bens
de ti guardo o amor, a voz, o cheiro
Esse cheiro que só têm as mães

Não sei se lembras bem, mãe de fadigas
Mas ‘inda mal menino, começado
Te devolvi em fado essas cantigas
Eu sei que é pouco, mãe, mas obrigado

O sol do teu olhar

Letra e musica de Jorge Atayde
Repertório de Rodrigo

Ó meu amor, tudo aquilo que sonhaste
Já pode ser realidade
Ó meu amor, não lembres o tempo antigo
Esse inimigo, essa verdade

Ó meu amor, não fales mais em segredo
Não
tenhas medo, esquece o passado
Ó meu amor, vê que no campo da luta
A falsidade é astuta e o sentir anda calado

Ó meu amor, quantos minutos perdidos
Foram vencidos, sem se dormir
Ó meu amor, acorda e vê, não é mito
A cor do grito dum rosto a rir

Ó meu amor, como o sol do teu olhar
Já vem brilhar sem s'esconder
Ó meu amor, se a verdade é a razão
O falar do coração dá mais razão ao viver

O recado

*a suspeita*
Maria do Rosário Pedreira / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Aldina Duarte

Mete o nariz a vizinha
Aonde não é chamada
Com um pé dentro da cozinha
Dispara de uma rajada

Menina, tenha cuidado 
Co’ esse rapaz de quem gosta
Ele anda todo embeiçado 
E eu sei que há loura na costa

A maldita põe-o louco 
Se a visse a arrastar-lhe a asa
Mas ele também lhe dá troco 
E já a trouxe cá p’ra casa

Como as duas são amigas 
Custa-me vê-la enganada
Eu até nem sou de intrigas 
Mas fiquei tão revoltada

E agora, que tudo sabe 
Tome conta do que tem
P’ra evitar que se acabe 
Um amor que ia tão bem

E assim como veio foi 
Sem me deixar perguntar
Se tudo o que agora dói 
Vai algum dia passar

Canção do amor perdido

Letra e música de Tristão da Silva
Repertório de Tristão da Silva

O que eu sofri
Quando perdi o teu amor
Até de mim senti revolta
Senti rancor
Pois dentre tantas, tantas,
Que existem pr'aí
Louco fui eu em gostar tanto de ti

Agora eu sei
O quanto, quanto, mentias
Quando a sorrir me dizias
Sou tua, meu doce bem
Agora eu sei
Que vocês são sempre assim
Gostam muito, mas no fim
Não gostam è de ninguém


O nosso amor 
Perdeu a cor das madrugadas
Foram-se os beijos 
E os desejos de horas passadas
Hoje liberto, da tua falsa afeição
Voltei de novo p'ra mim
Voltei a ter coração

Murmúrio do mar

Maria de Lurdes Brás / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Ondas na rocha batendo
Em estranho murmurar
Parece que estão dizendo
Muito temos que contar

Canto ao sabor das marés 
Faço do vento um estribilho
E a lua de quando em vez 
Espalha nas águas seu brilho

Ondas desfeitas em espuma 
Morrendo na branca areia
Vão e vem, uma a uma 
Esvaziando a maré cheia

Esse murmúrio do mar 
Nos vem trazer à memória
Navegadores de além-mar 
Com muitos séculos de história

Um dia parti de mim

António Mourão / Mário Martins
Repertório de António Mourão

Um dia parti de mim 
À procura da saudade
Já o dia ia no fim 
Quando encontrei a verdade

Disse-me ela, sem rodeios 
A saudade não existe
È o nome que se dá 
Quando alguém se encontra triste

Pode a tristeza ser grande
Podes chorar à vontade
Só te acalma uma certeza
Quando vier a saudade
Vem a saudade e tu sentes 
Que a solidão não è nada
È uma alegria triste
Uma tristeza calada

Se reparares que vou triste 
Não me perguntes porquê
È a saudade que insiste 
Que magoa e não se vê

Se ainda vida me sobrar 
Quando um dia te perder
P'la saudade mandarei 
O que tinha p'ra dizer

Lugares-comuns

*o namoro*
Maria do Rosário Pedreira / Joaquim Campos Silva
Repertório de Aldina Duarte

Nas linhas da minha mão
Leu que era ele o meu fado
E embrulhou o coração
Num lenço de namorado

Veio esperar-me de fato 
Depois de mil telefonemas
E de mandar o retrato 
Numa carta com poemas

Trouxe bombons de licor 
Deu-me perfume francês
Escreveu a palavra amor 
Num tronco de árvore, em inglês

Nos lençóis da sua cama 
Bordou o meu pensamento
Com rosas veio um telegrama 
A pedir-me em casamento

P’ra dar um nó nesse laço 
Comprou o anel de noivado
E tatuou no seu braço 
Nossos nomes lado a lado

Ai que lindo é o amor 
Só quem não ama não sabe
Nunca vi nada melhor 
Tomara que não se acabe;
Nunca vi nada melhor 
Deus queira que não se acabe

Tudo acabou

*O nosso amor*
Moita Girão / Carlos da Maia
Repertório de Fernando Maurício 

O nosso amor acabou
Por muitas voltas que dês
E da mente não te saia
Foi aragem que passou
Nuvem que o vento desfez
Onda que morreu na praia

O nosso amor foi quimera
Amarga desilusão 
Que duas vidas tortura
Não conheceu primavera
Nunca passou de botão 
Nem viu o sol da ventura

Se jurei não dizer nada
Esse sonho, podes crer 
Não exalto nem lamento
Minha palavra está dada
Por mais que possa sofrer 
Não falto ao meu juramento

O nosso amor acabou
Disse-te mais de uma vez 
Por muito que nos atraia
Foi aragem que passou
Nuvem que o vento desfez 
Onda que morreu na praia

Labareda

*a raiva*
Maria do Rosário Pedreira / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Aldina Duarte

Eu nunca fui de chorar
Quanto mais triste, mais canto
Se ao baile te vir chegar
Com outra no meu lugar
Não hás-de ouvir o meu pranto

Dança com ela agarrado 
Se julgas que me incomoda
Eu canto sozinha um fado
Antes um fado bailado
Que pôr o pé nessa roda

Se pensas que vou chorar 
Escreve o que te vou dizer
Hás-de me vir procurar
E eu hei-de estar a cantar
P’ra outro homem qualquer

Para ti avozinha

Maria de Lurdes Brás/ Henrique Lourenço *fado cigana*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Avozinha quem me dera
Fosse sempre primavera
No teu lindo e meigo olhar
Eu fosse sempre, criança
Para ouvir, cheia de esperança
Tuas histórias de encantar

Foste avó, e foste mãe
Contigo aprendi também 
A dar os primeiros passos
Tuas histórias e canções
Foram duas das razões 
Para dormir em teus braços

Mas por vontade de Deus
Fechaste esses olhos teus 
Com que para mim olhavas
Recordando os teus carinhos
Contarei a meus netinhos 
As histórias que tu contavas

Toda esta felicidade
Eu recordo com saudade 
Quando estou triste e só
Fui tão feliz a teu lado
Por isso este meu fado 
É para ti, querida avó

Os pontos nos iis

 *o luto*
Maria do Rosário Pedreira / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Aldina Duarte

Ouvi dizer que à morte te rendias
Que num febrão teu corpo se apagava
Que essa mulher com quem então vivias
Incapaz de salvar-te, só chorava

Eu quis calar a voz que me trazia
Notícia assim cruel e tão fatal
Mas ainda ouvi, já ela não se ouvia
Chorar meu coração pelo teu mal

Se não medi o passo que então dei
E vens agradecê-lo, já curado
Ao menos ouve aquilo que calei
Quando pensei que a morte era o teu fado

Não foi por ti que eu fui, não há maneira
De perdoar o tanto que sofri
Foi na mulher chorando à cabeceira
Que, ao lamentar-te a sorte, eu me revi;
Essa mulher que tens p’rà vida inteira 
Foi por ela que eu fui, e não por ti

Amor abençoado

Maria de Lurdes Brás / António dos Santos
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Meus poemas são diversos
E nos meus humildes versos
Uma homenagem recai
Para esse amor profundo
Dos maiores amores do mundo
Que é o grande amor de pai

Ele é esperança, é amor
É o nosso criador 
Da nossa vida é semente
Com a benção do senhor
E o seu divino amor 
Aprendemos a ser gente

É ambição desmedida
Ver no espelho, reflectida 
A boa imagem dos filhos
Com saúde, educação
Muito amor no coração 
Vê-los fugir de maus trilhos

Esta a imagem que eu vejo
E em todos vós desejo 
Ver no rosto bem estampado
E não esqueçam jamais
Que o amor por nossos pais 
Deve ser abençoado

Fogo posto

*a traição*
Maria do Rosário Pedreira / Alfredo Duarte *Marceneiro*
Repertório de Aldina Duarte

Sei que foste ter com ela
Tantos foram os recados
Para se encontrarem os dois
Eu vi da minha janela
Trocarem beijos e fados
E o mais que veio depois

Dizem que ela tem a arte
De manter acesa a chama 
Até vir a madrugada
E eu nem quero imaginar-te
Deitado na sua cama 
E eu toda a noite acordada

Se voltares, não digas nada
Sobretudo o que não foi 
Que eu conheço o seu perfume
Hás-de encontrar-me calada
P’ra não gritar como dói 
A ferida do meu ciúme

Conta as lágrimas que correm
Como um rio pelo meu rosto 
Pousa nele a tua mão
Os grandes amores não morrem
E a traição é fogo posto 
A arder no meu coração

As tuas tranças

Moita Girão / Franklim Godinho
Repertório de Fernando Maurício

Não cortes a linda trança
Se a cortas, perdes dois bens
Deixarás de ser criança
Perdes a graça que tens

Com a trança és mais bonita 
Sou eu que o digo, repara
Tens mais encanto, acredita 
Porque a trança é coisa rara

Não é moda? não t'importes 
Se falam, deixa falar
Deixa falar, não a cortes 
Enquanto a queiras usar

Mas eu sei que chega a hora 
Em que a tesoura afiada
Sem reticência devora 
A tua trança dourada

E algum dia, noutra idade 
Num remover de lembranças
Hás-de ter muita saudade 
Das tuas bonitas tranças

Sem chão

 *a saudade*
Maria do Rosário Pedreira / Popular *fado menor*
Repertório de Aldina Duarte

No cais aguardam os barcos
Viagens que o mar lhes deve
Meus dias no mar são parcos
Pois não tenho quem me leve

Por muito que a tempestade
Tingisse as velas de perigo
Em terra só há saudade 
Do tempo em que ia contigo

Gemem os remos no lodo 
Chorosos de não partir
Meus dias sem mar são todos 
Pois não tenho com quem ir

Por muito que a maré alta 
Deitasse os cascos ao fundo
Em terra só sinto a falta 
De ir contigo ao fim do mundo

Meu amor se queres ficar

Vasco Lima Couto / Jaime Santos *fado alvito*
Repertório de Vasco Rafael

Molho as palavras no mar
Seco-as na espuma do vento
Neste longo desafio
Meu amor, se queres ficar
Dá-me o respirar violento
Que mata as fontes do frio

Como me perco a cantar
Ao pé das praias incertas 
Não tenho lençóis de linho
Meu amor, se queres ficar
Dá-me as vontades libertas 
Desse teu corpo a caminho

E no tempo de eu chegar
Àquele grito direito 
Que nos dá vida ao morrer
Meu amor, se queres ficar
Abre os montes do teu peito 
Para eu adormecer

Fada do lar

*a vida em comum*
Maria do Rosário Pedreira / Armando Freire *fado mayer*
Repertório de Aldina Duarte

Já fiz a sopa, passei a roupa
Varri o chão
Dobrei lençóis, estendi rissóis
Comprei o pão
Lavei os pratos 
E os teus sapatos estão a brilhar
Mudei a cama
Quero ter fama de fada do lar

Vá, já são horas; se demoras
Que vai ser do jantar?
E eu disse que sabia
Cuidar do meu rapaz
Vá lá, são horas
Nunca mais te vejo entrar
E logo hoje, que tanto queria
Mostrar do que sou capaz

Já pus a mesa e a vela acesa
Num castiçal
Fiz pataniscas, temperei as iscas 
Com alho e sal
Numa bandeja trouxe a cerveja
Vem lá brindar
Bem podes dizer que a tua mulher 
É a fada do lar

Desacertos

*dois ponteiros*
Maria do Rosário Pedreira / Frederico de Brito *fado britinho*
Repertório de Aldina Duarte

Andas tão outro estes dias
Que dou por mim a cismar
Que vivo ao lado de um estranho
Se chego a rir, desconfias
Mas, se me dá p'ra chorar
Nem queres saber o que tenho

Já não sei o que fazer
Se chego tarde, protestas 
Se venho cedo, não estás
Ai, quem me dera entender
Porque o que agora contestas 
Mais logo tanto te faz

Andas tão longe estes dias
Que ainda agora pensei 
Que fui eu que me perdi
Se não estou onde tu querias
Basta dizeres-me onde errei 
E volto a correr para ti

A mim não me pesa a culpa
Mas, se culpada me crês 
Eu confesso o que não fiz
E até te peço desculpa
Mesmo não tendo de quê 
Só p'ra te ver mais feliz

Portugal de marinheiros

Maria de Lurdes Brás / Casimiro Ramos *fado pinóia*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Nesta pátria, Portugal
Um país de marinheiros
Terra de homens sem igual
Com sangue de aventureiros

Olhos postos no infinito 
Navegando em mar profundo
Soltámos o nosso grito 
Demos Portugal ao mundo

Desbravamos oceanos 
Nesses mares sem Ter memória
E muito nos orgulhamos 
Termos feito a nossa história

Com olhos da cor do mar 
Meu filho, amor derradeiro
Para seu país honrar 
Fez-se bravo marinheiro

Nesses mares em que te enleias 
Ao navegar no convés
Certo estás que em tuas veias 
Corre sangue português

Cessar-fogo

*o recomeço*
Maria do Rosário Pedreira / Frederico de Brito *fado britinho*
Repertório de Aldina Duarte

Ai, que amargura tão grande
Foi vê-la ali, qual assombro
Essa amiga do passado
Que roubou o meu amante
E ainda levou o ombro
Em que eu queria ter chorado

Falou-me de peito aberto
Vinha pedir-me perdão 
Contar que o tinha deixado
Depois de ter descoberto
Sem ter havido traição 
Que ele nunca a tinha amado

Foram erros sobre enganos
Mas é a ti que ele quer 
Disse-me ela, arrependida
Se puderes esquecer os danos
Vai ter com ele, mulher 
Já esperou demais a vida

Amiga, estás perdoada
Respondi eu com carinho 
Mas, entre nós, ouve bem
Desse homem não quero nada
Deixá-lo ficar sozinho 
Quem tudo quer, nada tem

Enquanto souber cantar

Paco Bandeira / Lucio Vieira
Repertório de António Mourão

Eu canto aquela rua de vasos na janela
Os garotos que brincam, a gente descuidada
E canto a voz do rio nos barcos e nas velas
A murmurar ternura, mal finda a madrugada;
Eu canto a minha terra, porque a cantar eu digo
Que a terra è uma mulher na minha voz deitada

Cantar è descobrir
O mundo inteiro num sorriso
Cantar è construir
O mundo novo que è preciso
Cantar è um pregão
Que a gente entoa vida fora
Cantar è um gavião
Rasgando a aurora


Eu canto esta certeza de amanhecer o dia
E o homem acordar na terra fecundada
E canto a liberdade, o grito de alegria
Desta força a crescer no espaço à desfilada;
Eu canto a voz da gente a renascer do nada
Que a gente só está viva de voz alevantada

As noivas

*o casamento*
Maria do Rosário Pedreira / Adriano Batista *fado macau*
Repertório de Aldina Duarte

Mal passo o adro da igreja
Vejo essa loira fatal
Nenhuma noiva deseja
Casar-se ao pé da rival

Tento manter-me serena 
Enquanto subo ao altar
P’ra quê fazer uma cena 
Se sou eu que vou casar?

Durante a festa, bem o chamo 
Meu noivo, sem encontrá-lo
Mas, assim que atiro o ramo 
Vejo uma loira apanhá-lo

Aperta-o junto do peito 
Num gesto tão atrevido
Que lhe faça bom proveito 
E arranje logo um marido

Quando o sonho vale a pena

Gonçalves Preto / Pedro Vilar
Repertório de Pedro Vilar

Do cais duma amargura por contar
Vieste mastigando a solidão
Trazendo desencantos no olhar
E um sonho mutilado em cada mão

Mas o teu sonho pode, se quiseres
Crescer na madrugada mais serena
À luz da esperança viva que acenderes
Dar asas ao teu sonho, vale a pena

As tuas revoltas 

São gritos que soltas 
Num sonho qualquer
As tuas esperanças 
São gritos que lanças
Já vida a crescer
Um sonho esquecido 

Se for entendido 
Por quem o quiser

As duas graças

*o encontro*
Maria do Rosário Pedreira Alfredo Correeiro *marcha do correeiro*
Repertório de Aldina Duarte

Quando as duas raparigas
Cruzaram o seu caminho
Vinham perdidas de riso
Entre a graça das amigas
Ele, que vinha sozinho
Ficou bastante indeciso

Parou p’ra melhor as ver
E, nesse olhar reparando 
Pararam elas também
E, se uma era fogo a arder
Pois a outra, em lume brando 
Queimava como ninguém

Loira uma, outra morena
Uma acendia desejos 
Na outra havia mistério
E, enquanto da mais pequena
Queria abraços e beijos 
Com a alta o caso era sério

Ao pé delas tarde fora
Dessas duas raparigas 
Foi só uma que escolheu
E quem se riu chora agora
Pois entre invejas e brigas 
Quase tudo se perdeu;
E hoje chegou a hora
De vos contar as intrigas 
Porque a escolhida fui eu

Roseira linda roseira

Popular / Mário Martins c/arranjos de A. Chaínho
Repertório de António Mourão

Roseira linda roseira
Que dá rosas todo o ano
Não há amor, por mais forte
Que não nos dê desengano;
Que não nos dê desengano
Que não nos moa o juízo
Roseira linda roseira
Só de ti è que eu preciso

Só de ti é que eu preciso 
Só a ti eu quero ver
Não há amor de raiz 
Que nos não faça sofrer
Que nos não faça sofrer 
E não nos magoe a alma
Roseira linda roseira 
Dá rosas na tarde calma

Dá rosas na tarde calma 
À luz do entardecer
Só è feliz ao amor 
Quem o souber escolher
Quem o souber escolher 
Nem tarde nem muito cedo
O amor è como um cofre 
Que lá tem o seu segredo

Andorinha traz a primavera

Maria de Lurdes Brás/ Alfredo Duarte *mocita dos caracóis*
Reportório de Nuno de Aguiar

Junto da minha janela
Uma andorinha poisou
Trazia notícias dela
Ai, mas que saudade aquela
Foi-se embora, não voltou

Mas já não sei o que faça 
É um sonho ou foi quimera
A andorinha esvoaça
Vaidosa cheia de graça 
Anuncia a primavera

Vou ouvindo os seus trinados 
Com dedicado carinho
Ficam lindos os beirados
Pois nos beirais dos telhados 
Andorinha faz o ninho

Desapareceu a tristeza 
Como um sonho ou por magia
Primavera, é de certeza
Para mim, fogueira acesa 
Voltou a minha alegria

Amor em dó maior

*declaração de intenções*
Maria do Rosário Pedreira / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Aldina Duarte

Passa o tempo e não apaga
A memória que a semente
Guarda da mão que a plantou
Quem diz que o amor se acaba
Ou quer esconder o que sente
Ou nunca na vida amou

Eu tive um amor tão grande
Que quando o perdi, não nego 
Já não quis amar ninguém
E, por mais que a razão mande
Meu coração ficou cego 
Aos encantos de quem vem

Quem nunca esconde o que sente
Vai contar hoje essa história  
De um amor que não vingou
Passa o tempo, e a semente
Guarda consigo a memória 
Da mão que um dia a plantou;
Quem nunca esconde o que sente
Não pode esquecer a história 
Desse amor que não vingou

Meninas negras

Maria de Lurdes Brás / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Carlos Cruz

Encontrei duas meninas
Que sorriam para mim
Tão pequenas, tão ladinas
Tão formosas a traquinas
D’encanto que não tem fim

São para mim tão singelas 
Sua beleza é moldura
Parecem duas estrelas
Tão brilhantes e tão belas 
A dar luz à noite escura

Toda a minha rua é luz 
E a lua fica escondida
O seu brilho me seduz
Tornando leve esta cruz 
Que trago na minha vida

Tão negras como o carvão 
Enchem-me a vida de escolhos
Alegram meu coração
São toda a minha paixão 
As meninas dos teus olhos 

A maçã de Adão

*a despedida*
Maria do Rosário Pedreira / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de Aldina Duarte

Não são palavras vãs, a carta que te deixo
Dizendo que me vou, p’ra nunca mais voltar
Ao morderes a maçã, tu perdeste o meu beijo
Já abraços não dou, a carta há-de chegar

Nem vou esperar por ti, as malas estão à porta
Só me resta ir embora, a história chega ao fim
Se esqueceres que existi, não julgues que me importa
O homem que és agora, já não presta para mim

São tudo coisas minhas, aquelas que hoje levo
As mágoas e as penas não tas posso deixar
Entre as ervas daninhas, se encontrares o meu trevo
Tem três folhas apenas e só me deu azar