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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Meu mel de canela doce

António Silva Reis / José António Sabrosa *fado pintadinho*
Repertório de Tony Reis

Meu mel de canela doce
Meu requintado manjar
Quisera Deus que assim fosse
Viver só para te amar

Mimosa flor campestre
 Do arco-íris a cor
Tens a magia de mestre 
Que pinta telas d’amor

Meu riacho ribeirinho 
Que corres livre p'ró mar
Corre p’ra ti o carinho 
Que tenho para te dar

Meu mundo meu fado amigo 
Minha estrela cintilante
Meu porto meu cais de abrigo 
Meu amor todo o instante

Forcado valente

Maria de Lurdes Brás / Jaime Santos *fado sevilha*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Forcado também és gente
Daquela bem destemida
Tens audácia, és valente
Pegas um touro de frente
Pondo em risco a própria

Fita o touro com respeito
Confiante em sua fé
Se a pega lhe corre a jeito
Vibra o povo satisfeito
Toda a praça fica em pé

Quando tu entras na praça
Cheio de orgulho e altivez
Airoso cheio de graça
Defendendo aquela raça
Do forcado português

Se há dias de menos sorte
Tens o azar a teu lado
Rezas a Deus p’ra seres forte
Olhas com desdém a morte 
És valente, meu forcado

Criança negra

Letra e música de Jorge Atayde
Repertório de Maria Armanda

Exploraram o teu torrão
E prometeram-te amor
Tragaste o duro pão
Choraste de raiva e de dor

Andavas de pé descalço
Davas teu braço sem seres ninguém
A esperança já a perdias
Porque não crias no crer d'alguém

Criança negra 
Que não conheceste os pais
Tens pele de seda 
E sentir como as demais
Criança muda
Por ouvir e não falar
Queriam-te surda 
P'ra morreres a trabalhar

Venderam o teu manjar
E fomes te deram de troco
Calaram o teu pensar
Falaram-te ao murro e ao soco

Dormiste de fatigada de maltratada
No teu chão quente
Gritaste pró mundo ouvir
P'ra alguém sentir que eras gente

Este amor que me resta

António Silva Reis / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Tony Reis

O leito está mais vazio
O inverno agora é mais frio
Desde o dia em que partiste
Nem remorsos nem ciúmes
Nada ficou nem queixumes
Deste amor que tu traíste

Pisas agora outro chão
Repartes o coração 
Com outro alguém que te quer
Levaste tudo contigo
Fica a saudade comigo 
És agora outra mulher

Quero que sejas feliz
O destino assim o quis 
Que a vida fosse funesta
A esperança em mim já esta morta
Viver assim não me importa 
Com este amor que me resta

Meigo e doce

Maria de Lurdes Brás / Filipe Pinto *fado meia-noite*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

No teu olhar meigo e doce
Nasce uma nova aventura
A velha ferida fechou-se
Por me olhares com ternura

Vi bem fundo certa vez 
Bondade em teu coração
Ao posares com timidez 
O teu doce olhar no chão

A verdade, não intimida 
Quando é sincera e pura
A semente ganha vida 
Até na terra mais dura

Quando uma seta se crava 
No mais pobre coração
Mesmo na roseira brava 
Nasce uma flor em botão

Este amor proíbido

Lúcio Joaquim Campos / Carlos Macedo
Repertório de Joaquim Campos

Quando o dia acaba 
E a noite começa
Transtorna-me a mente 
E eu perco a cabeça
Sinto a falta dela
Ando amargurado
Sou barco sem vela 
Quase naufragado

O meu amor foi-se embora
E agora e agora?
O que è que eu hei-de fazer
P'rá ver, p'rá ver


Vivo sem sentido
Já não sinto a vida
Este amor proibido 
Não me dá guarida
Se para viver 
Tenho que esquecê-la
Sei que vou sofrer
Não quero perdê-la

Minha seara lavrada

António Silva Reis / Carlos da Maia
Repertório de Tony Reis

Meu campo verde lavrado
Minha seara crescida
És meu bem abençoado
E razão da minha vida

Meu pão doce e alimento 
Que a minha alma conforta
Raiz do meu pensamento 
Quero-te a cada momento
E o resto pouco me importa

Meu sol dourado na eira 
Que amadurece as espigas
Meu afã minha canseira 
Minha doce companheira
Minha noite de cantigas

Fazes-me falta ao deitar 
Faz-me falta o teu carinho
De manhã ao acordar 
Sinto o coração vibrar
Por deixar de estar sozinho

Mas falta-me a tua mão

António Silva Reis / Georgino de Sousa
Repertório de Tony Reis

Quero rasgar horizontes
Beber a água das fontes
E vencer a solidão
E prender-te num abraço
Pôr rosas no teu regaço
Mas falta-me a tua mão

E bem alto proclamar
Que jamais hão-de acabar 
As sementes da razão
Ser mais veloz que o vento
Guardar-te no pensamento 
Mas falta-me a tua mão

Amainar as tempestades
Enternecer as saudades 
Pisar bem firme no chão
Ser uma flor no deserto
Tornar o longe mais perto 
Mas falta-me a tua mão

Prender-me no teu enleio
Caminhar no teu passeio 
Ter um novo rumo então
Com a alegria que é tua
Quero atravessar a rua 
Contigo na minha mão

Esperar para quê

Linhares Barbosa / Carlos Rocha
Repertório de Tina Santos

Nosso amor foi como a espuma 
Como a espuma de sabão
Que a gente aperta na mão 
E fica em coisa nenhuma

O nosso amor assim foi 
Porque é que gente costuma
Fabricar balões de espuma 
Que o vento leva e destrói

Esperar para quê
Se a própria vida nunca espera
E sabemos demais
Que a nós não volta a primavera
Esperar para quê
Se doutros olhos te enamoras
Amanhã ou depois
Serão diferentes outras horas
Esperar para quê
Se eu vejo, amor, que te demoras


No entanto ainda espero 
Que Deus seja meu amigo
Que ele se zangue comigo
Por coisa nenhuma quero

Vivo d'ilusões, em suma 
Sou tal qual uma criança
Que põe toda a confiança 
Num balãozinho d'espuma

Serás sempre o nosso fado

Maria de Lurdes Brás / Georgino de Sousa
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Só tu és a minha vida
Tu és o ar que eu respiro
És o meu oxigénio
Sem ti eu ando perdida
E quando a ti me refiro
Falo de ti como um génio

Neste barco onde navego
Tu és o meu comandante 
Nesta tão curta viagem
Podes crer que não és cego
Nem vais por caminho errante 
Nem és apenas miragem

És a nave espacial
Pelo caminho do espaço 
Me envolves no além
És um amigo leal
Aqui tens o meu abraço 
Sou tua amiga também

Sem a guitarra a teu lado
Não és nada com certeza 
E até te sentes mal
Serás sempre o nosso fado
Tu és a mais portuguesa 
Das canções de Portugal 

Entre o coração e as cotovias

Ana Sofia Paiva / Armando Machado *fado aracélia*
Repertório de Cristina Andrade

Correste para mim, abri-te os braços
Mas mal disse amor, já me fugias
És todo um episódio de fracassos
Entre o meu coração e as cotovias

Voltei e todas tinham debandado
As aves com que que contas o que sentes
Os cantos que me entoam não são fado
Parecem madrigais que estão doentes

Por isso eu não entendo e não insisto
E deixo-as voar, escondo as balas
Näo sei caçar-te mais e enfim, desisto
Lamento, mas não vou mais procurá-las

Deixa as cotovias e canta agora
Num tom maior que eu possa acompanhar
Explica-me a cantar o que em ti chora 
Se è fado, eu compreendo e sei chorar

A cinza nunca está morta

Maria de Jesus Facco Viana / José Bacalhau *fado bacalhau*
Repertório de Vicente da Câmara

A cinza nunca está morta
Resta sempre uma centelha
Do lume que se apagou
Como a quem tudo suporta
Mesmo já depois de velha
Alguma vida ficou

Quantas vezes o ciúme
Surge tão forte e tão tarde 
Verdadeiro e apaixonado
Na cinza renasce o lume
Quem julga que ela não arde
É louco e fica queimado

Todo o mistério tem vida
Toda a morte é aparente 
E tudo a cinza retém
Cinza sagrada ungida
Na fronte de toda a gente 
Que aceita não ser ninguém

Nunca ninguém te cantou

António Silva Reis / José Marques do Amaral
Repertório de Tony Reis

Nunca ninguém te cantou
Nem te fizeram poemas
Tudo aquilo que eu te dou
Não são palavras apenas

Dou-te carinho e amor 
Muita ternura, amizade
Dou-te de mim o sabor 
Desta eterna felicidade

Não é sequer mais um fado 
Nem tão pouco fantasia
Eu dou-te tudo o que trago 
Dentro de mim dia a dia

Fica comigo p’ra sempre 
Meu amor não vás embora
Para te amar ternamente 
Sempre pela vida fora

Canto a saudade

Orlando Silva / Aníbal Nazaré
Repertório de Tristão da Silva 

Canto a saudade 
Que é a minha companheira
E à minha beira
Está comigo a toda a hora
Canto a saudade
A razão deste meu fado
Que não saiu do meu lado
Desde que te foste embora 

Saudade amiga
Que me trouxe esta ansiedade
Já deixou de ser cantiga
P'ra ser a voz da saudade
Que noite e dia 
Ela de mim não se afaste
Desde que tu me deixaste
Não quero outra companhia 

Numa tortura
Eu vivo nesta incerteza
O bem não dura
P'ra quem nasceu prá tristeza
Uma aventura 
Levou-te numa má hora
Se voltares faço uma jura 
Eu mando a saudade embora

Entre tanta linda rua

Tony Gomes / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Sandra Cristina

Entre tanta linda rua
Cada um gosta da sua
Seja rica ou pobrezinha
Não importa o luxo dela
Quanto mais pobre, mais bela
Eu também gosto da minha

Apesar de não ser rica
A minha rua não fica 
Muito atrás das outras ruas
É uma rua bairrista
E cem por cento fadista 
No sentir as mágoas suas

Ali não há desavenças 
São iguais as mesmas crenças
Dum povo humilde e honrado
Os pais não seguem maus trilhos
As mães embalam os filhos 
Ao som dolente do fado

Tenho lá uma casinha
Que apesar de pobrezinha 
É toda a minha riqueza
Não invejo a de ninguém
Pois nela existe também 
Graça, conforto e beleza

Engracei

Letra e musica de João Gil
Repertório de Tony de Matos

Parei na aragem do vento;
Nem sempre é má companhia
Sentir solidão cá dentro;
Há muito que não sentia

Buscar o olhar de alguém
Sabendo que é numa altura qualquer
Mesmo arriscando o desdém
Já não me faz estremecer

Mas logo com passo de largo
Tinha de me fazer frente
Alguém que desse um recado
Ao meu coração dormente

Riscasse do meu passado
Sabendo o que é que ensombra o presente
Alguém que desse um recado
Ao meu coração dormente

Engracei com o modo como sorria
Com a força com que sentia
Os desenhos da calçada
Engracei com outras coisas, não sei
E nem me perguntem se olhei
Que hei-de fazer ? Engracei


Contas à vida não faço 
Nem outras coisas não fiz
Se è para viver feliz 
Então não faço o recato

Das coisas que eu aprendi 
Sabendo que é 
P'ra enfrentar a paixão
P'ra levar a tentação 
A terras que um dia eu vi

Tem graça, que enquanto o sonho 
Demora tempo a passar
Também os anos demoram
A fazer-nos acordar

Também a aragem do vento
Que às vezes nos faz parar
Também os anos demoram 
A fazer-nos acordar

O velhinho

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Sandra Cristina

De palito ao canto da boca
O cabelo longo esbranquiçado
Um velhinho falou-me com voz rouca
Dele, de mim, da vida, e do fado

Cantas e encantas, digo-te eu
Que tenho muitos anos, fui artista
Com essa linda voz que Deus te deu
Tens graça e gajé p’ra seres fadista

Mas nunca te iludas com a fama
Sê sempre uma fadista verdadeira
Olha que depressa se cai na lama
Mas p’ra levantar leva a vida inteira

Deu-me um beijo e sai muito apressado
Trauteando o menor muito baixinho
Se Jesus também cantasse o fado
Seria tal e qual esse velhinho

A verdade

Ana Sofia Paiva / Cavalheiro Júnior *fado menor do porto*
Repertório de Cristina Andrade

A verdade è uma estrela
Que não consigo alcançar
Quanto mais desejo tê-la
Mais longe a vejo brilhar

As palavras com que juro 
São as que não sei dizer
A verdade è um dia escuro 
Perdoa se não sei ver

Procuro tanto e porém 
A verdade è uma mentira
Não se importa com ninguém 
Só nos dá o que nos tira

Ponho enfim, um ar de rosa 
Para te dizer quem sou
A verdade è assombrosa 
A mentira, é que me dou

És o meu sonho

Manuel Carvalho / Georgino de Sousa
Repertório de Helena Matos

Tu entraste no meu sonho
E eu amor não me oponho
Que assentes nele arraiais
Às vezes até suponho
Que de dentro do meu sonho
Tu nunca sais, nunca mais

Passas as noites comigo
Sussurrando em meu ouvido 
Palavras feitas doçura
Chego a sentir o teu beijo
Acender o meu desejo 
Que arde nesta loucura

Neste fado peço a Deus
Por amor dos olhos meus 
E do teu olhar risonho    
Que não sais do meu lado
Nesta vida, neste fado 
Que realize o meu sonho

Viver só

Letra e musica de Guy de Vale Flor
Repertório de Tina Santos

Viver só não é viver
Mete dó e faz sofrer

O existir assim
É uma vida sem rumo
São horas sem fim 
Não è viver, é fumo
Esperar por ti 
Para momentos te ver
É destroçar-me a mim
É de morrer

Não me lamentes p
elo que digo
Não me atormentes, não è preciso

Eu hei-de aprender 
Que no mundo há alguém
Que queira viver 
E que esteja só, também
E se esse alguém existe 
Não meterei mais dó
E tu verás que triste 
É viver só

Três joias

Manuel Carvalho / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Cátia Sofia

Eu guardo com avareza
Três jóias, três amores meus
São toda a minha riqueza
São a minha natureza
São uma prenda de Deus

De minha mãe e meu pai 
Guardo esse amor sem fim
È tanto que sobressai 
Do coração não me sai
Sou fruto desse jardim

Ainda trago em meu peito 
Outro amor abençoado
Minha avó amor-perfeito 
É dela que herdei o jeito
De vos cantar este fado

São três jóias três amores 
Que guardo com avareza                                 
Terei outros sem favores 
Mas estes três meus amores
São toda a minha riqueza

O meu fado

Domingos Gonçalves da Costa / Daniel Martins
Repertório de Tristão da Silva

Gostei dela, isso que tem
Cada um tem o seu fado
Gosta doutro, ainda bem
È mais outro desgraçado


Mentia com tal primor 
Que por cruel ironia
Quanto mais ela mentia 
Mais aumentava este amor
E seja lá p'lo que for 
Sinta-me embora culpado
Esse amor amargurado 
Não o oculto a ninguém
Gostei dela, isso que tem
Cada um tem o seu fado


Alguém me disse ainda há pouco 
Que tinha outro, deixá-lo
Não me zango, não me ralo 
Nem de ciúmes estou louco
A minha paixão sufoco 
Ao sentir-me desprezado
Mas do riso mascarado 
Respondi a esse alguém
Gosta doutro, ainda bem
È mais outro desgraçado

Fecho os olhos p’ra te ver

Manuel Carvalho / Alfredo Marceneiro
Repertório de Mélanie

Nem um adeus me disseste
Um beijo apenas me deste
Tão leve que o ar levou
Com a pressa que partiste
Em meus olhos tu não viste
A saudade que ficou

E no mar da tua ausência
Eu afogo esta carência 
Que sinto em te não ver
É virado p’ra distância
Que se mede a importância 
Que um grande amor pode ter

Fecho os olhos p’ra te ver
Vejo um poema crescer 
Neste fado que escrevi
Volta amor por caridade
Já não suporto a saudade 
Nem posso viver sem ti

Canção para ti

Joaquim Costa / Urias Macedo
Repertório de Urias Macedo

Uma palavra bastou  
Para tudo terminar
O que era bom acabou 
Só não deixei de te amar

Foste cruel, foste injusta 
Foste tudo e muito mais
Só Deus sabe quanto custa 
Amar-te e não te ter mais

É para ti que eu canto
Esta canção, com calor
É por ti este meu pranto
É tudo por ti, amor


Foste feliz, eu garanto 
Nos momentos de ternura
Prisioneira do encanto 
Deste amor que ainda dura

Se um dia quiseres voltar 
E eu pensar receber-te
Terás também de me amar
Só assim aceito ter-te

Tanto tempo que gastei

Manuel Carvalho / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Laura Santos

Gastei meu tempo à procura
Dum modo de ser feliz
Mas p’ra minha desventura
O meu destino não quis

Desgostos? tive que chegue 
Pelo tanto amor que dei
Dou até por mal empregue 
Todo o tempo que gastei

Perdoei tanta maldade 
E tantos sonhos desfiz
Que hoje tenho saudades 
De sonhar que era feliz

Ainda o maior tormento 
Que a mim mais me revolta
É saber que esse tempo 
Perdido, nunca mais volta

Marujinho

Manuel Rosa / Arlindo de Carvalho
Repertório de Deolinda Maria

Na praia pedi à areia
Que à maré cheia desse um recado
Me trouxesse um namorado 
Que me fizesse feliz
Na onda veio um marujo
E eu até fujo daquela ideia
Que eu tive em falar à areia 
E ao pedido que lhe fiz

Ai marujo, marujinho
Marinheiro de água doce
Peço à onda que te trouxe
O favor de te levar
Espero que troques primeiro
O teu veleiro por um navio
E a água doce do rio
P'la salgada que há no mar


Pode ser que qualquer dia
A água fria volte a aquecer
Esta paixão, que a meu ver 
Em má hora desejei
E o marujinho que veio
No doce enleio duma maré
Prove que a água não é 
Tão doce como pensei

Minha mãe e meu fado

Manuel Carvalho / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Cátia Sofia

Amor de mãe é sagrado
Eu canto aqui a preceito
Mas minha mãe e meu fado
Cabem os dois no meu peito

Eu arranjei um cantinho 
Bem dentro do coração
P’ra minha mãe, o carinho 
Para o fado, minha afeição

Canto assim de pequenina 
P'ró fado nasci talhada
Se o fado não se ensina 
Então nasci ensinada

Se foi Deus, ó minha mãe 
Que meu destino traçou
Então foi ele também
Que este fado me ensinou

Ela disse-me assim

Letra e musica de António Rodrigues
Repertório de Tristão da Silva

Ela disse-me assim
Tenha pena de mim
Vá embora
Vais-me prejudicar
Ele pode chegar
Está na hora

Eu não tinha motivo nenhum
Para me recusar
Mas aos beijos
Maí nos seus braços
E pedi p'ra ficar

Sabe o que se passou
Ele nos encontrou e agora

Ela sofre porque foi fazer
Somente o que eu quis
O remorso está-me torturando
Por fazer a loucura que fiz
Por um simples prazer 
Fui fazer meu amor, infeliz

A minha saia

Ana Sofia Paiva / Jaime Santos *fado sevilha*
Repertório de Cristina Andrade

A minha saia tem folhos
É negra como a magia
Não lhe deites muito os olhos
Não é alecrim aos molhos
São pecados de alquimia

A minha saia tem manha 
É uma raposa escarlate
Tem cuidado que ela estranha
Se desconfiar, arranha 
Pode até ser que te mate

A minha saia é sublime 
Bordei-a eu, a meu gosto
E se vesti-la for crime
Meu corpo não se redime 
Só p'ra te dar um desgosto

Vou sair co'a minha saia 
Não tenho religião
Comprida, por tão rodada
Esta saia é uma espada
Esta saia é uma oração

Minha biografia

Torre da Guia / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Joaquim Campos

Na aldeia de Salvador
Terra de Penamacor
Nasci eu, de cepa boa
Mas por obra do destino
Ainda muito menino
Fui crescer para Lisboa

Pela rádio seduzido
Com o fado no sentido 
Dei-me ao gosto de entoá-lo
E desde logo em critério
Entre
guitarras a sério 
Experimentei a cantá-lo

Fui cantando, fui ficando
Ganhei tarimba e sonhando 
A par dos grandes fadistas
Com repertório seguro
Mercê, rigor e apuro
 Comecei a dar nas vistas

Sobretudo com paixão
Esmerei a profissão 
E hoje constato, enfim
Tal e qual como eu sou
Que o fado aonde estou 
É o mesmo donde vim

Caminhamos sós

Hélio da Costa Ferreira / Manuel dos Santos
Repertório de Tony de Matos

Como dois amantes 
Caminhamos sós
Há gritos na noite
Há sombras que passam
Há beijos de fogo
Pedaços de nós
Como dois amantes 
Caminhamos sós

Nas ruas da vida
A nossa verdade
É viver assim
Corpos agarrados
Destinos marcados
Caminhos sem fim

Vamos lado a lado
Llonge muito longe
Viver devagar 
Onde o amor nasceu
O fado que é nosso 
E a vida nos deu

Ciúme louco

Manuel Carvalho / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de António Passos

Com o teu ciúme louco
Vais matando pouco a pouco
Nosso amor, nossa alegria
Com zangas nada lucramos
Afinal se nos amamos
Para quê tanta quezília    

Dizes ser eu o culpado
Só tenho tempo p'ró fado 
E que esqueço de ti
Não deves assim pensar
És a razão de eu cantar 
Por tanto gostar de ti

És a fonte onde me inspiro
É por ti que eu suspiro 
No meu fado, em meu cantar
Cabem os dois no meu peito
Perdoa amor este jeito 
Mas é meu modo de amar

E não posso conceber
Cantar o fado sem ter 
O teu amor como tema
Com zangas nada lucramos
Afinal se nos amamos 
Para quê este dilema

Gabriela da tristeza

Letra e musica de Armando Estrela
Repertório de Maria Armanda

Gabriela da tristeza
D'esquina em esquina de rua
Anda a brincar com a lua
E è mais pobre que a pobreza

Seu brinquedo de criança 
Foi andar a pedir esmola
Encher de pão a sacola 
Esvaziá-la d'esperança

Um rosto de malmequer 
Duas rosas nos seus seios
E os falsos devaneios 
Que ela vende a quem quiser

È indiferente a quem queira 
O seu bem ou o seu mal
Do seu mundo de rameira 
Fez um mundo todo igual

E até se sente princesa 
Em certas noites de farra
Quando há fartura na mesa 
E a encanta uma guitarra

Porém, chega a madrugada 
E a sua vida suspeita
Vai escondê-la em qualquer escada 
Pois o nundo não a aceita

E no seu jeito furtivo 
Espreita as crianças da escola
Relembra a sua sacola 
E a sina que anda consigo

Gabriela da tristeza 
Sua vida é uma viela
E pede a Deus quando reza 
Que ninguém inveje a dela