-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

. . .

Três tempos de amor

Mário Rainho / António Chaínho
Repertório de Alice Pires

Encontrei teu olhar na madrugada
E logo o meu sorriso se acendeu
Dei-te cama de sonho, perfumada
Pois eras a alvorada que rompia no céu;
E foi assim que o nosso amor nasceu

Amanheci em ti de corpo inteiro
O amor acontecido amanheceu
Eras então o sol mais verdadeiro
O meu caso primeiro que alma conheceu;
E foi assim que o nosso amor cresceu

Mais tarde entardecemos no poente
O Outono da vida aconteceu
E a noite sobre nós inconsciente
Desceu perdidamente e tudo escureceu;
E foi assim que o nosso amor morreu

Quis brincar com o destino

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Rodrigo
Criação de Fernando Farinha com o título original 
*Brincadeiras do destino*  

Na mocidade pensamos q
ue o caminho
Que havemos de percorrer p'la vida fora
É todo amor e carinho
E que a vida é sempre aurora

Mas depois vemos que a vida n
ão é mais
Que uma estrada acidentada 
Onde aparecem caminhos transversais
A cortar nossa jornada

Já fui criança feliz e caprichosa
Fiz do destino u
m brinquedo sem valor
Era a vida cor-de-rosa
E o tempo comeu-lhe a cor


O tempo mudas as pessoas 
fácilmente
Faz de nós tudo o que quer
E depois de nos trair, r
i-se da gente
Por não sabermos viver

Quis brincar com o destino 
Convencido que era forte
E ele pregou-me a partida 
De ter que andar toda a vida
Ao desafio com a sorte

Iludido, não sabia 
Que a vida tem o seu perigo
E hoje triste, quem diria 
Já não brinco com o destino
Ele é que brinca comigo

Ando a matar saudades

Artur Ribeiro / Joaquim Campos *fado puxavante*
Repertório de Narciso Reis

Vocês devem perdoar-me
Umas certas liberdades
Eu bem sei que ando a matar-me
Mas ando a matar saudades

Quando a tristeza me oprime 
Eu intento libertar-me
Se beber demais é crime 
Vocês devem perdoar-me

Beber é nova promessa 
Para loucas ansiedades
Não há dor que não mereça 
Umas certas liberdades

Bebo muito p’ra esquecer 
A tristeza a rodear-me
E na febre de viver 
Eu bem sei que ando a matar-me

Perdoai que eu seja louco 
E vos diga estas verdades
Bebo e morro a pouco a pouco 
Mas ando a matar saudades

Menino de Alfama

José Grilo / Vital d'Assunção
Repertório de Artur Batalha

Lá vai o menino com seu ar gingão
É muito traquina (traquino) e até já rufião
Cantador de fado ali prás vielas
É enamorado das coisas mais belas

A velha Alfama
É bairro afamado
Por isso tem fama
O menino do fado

Quando sai da escola, o menino fadista
Vai jogar à bola co’a malta bairrista
E não satisfeito de tanta fadiga
Trauteia a seu jeito mais uma cantiga

Também é ardina, ajuda o irmão
E em cada esquina se ouve o seu pregão
E à noite há farra na tasca do fado
E ao som da guitarra ele canta este fado

Na gravação o intérprete pronuncia a palavra *traquino*

Os teus olhos

Mote de António Botto / DR /  Alberto Lopes *fado dois tons*
Repertório de Manuel de Almeida

Meus olhos que por alguém
Deram lágrimas sem fim
Já não choram por ninguém
Basta que chorem por mim

Mosto muito dos teus olhos 
Ainda mais gosto dos meus
Se não fossem os meus olhos 
Não podia ver os teus

E se o perdesse a luz 
Por ordem do próprio Deus
Ia pedir a Jesus 
Só a luz dos olhos teus

Arrependidos e olhando 
A vida como ela é
Meus olhos vão conquistando 
Mais fadiga e menos fé

Choram cheios d’amargura 
Mas se as coisas são assim
Chorar alguém, que loucura 
Basta que chorem por mim

Prendi a noite nos dedos

Fernando Campos de Castro / Jeans Seblichling
Repertório de Nina Simonet

Prendi a noite nos dedos
P’ra lhe contar os segredos
Desta tristeza sem fim
Senti que a noite ficava
E que aos poucos já chorava
Cheia de pena de mim

Falei-lhe da minha dor
E da razão deste amor 
Que deixou de ser razão
Disse-me a noite: é verdade
O que tu tens é saudade 
Dentro do teu coração

Falei-lhe do nosso amor
E da loucura maior 
Do corpo que partilhamos
E mais uma vez, precisa
A noite disse que a vida 
Não é sempre o que sonhamos

Depois a noite cansou-se
E a solidão instalou-se 
No meu quarto tão gelado
E soube nesse segundo
Que quando vimos ao mundo 
Cada um traz o seu fado

Não basta chamar irmão

Aníbal Nazaré / Popular *fado menor*
Repertório de Max

Não basta chamar irmão
Ao homem pobre que passa
As palavras soam bem
Mas pouco são p'rá desgraça

Não basta chamar irmão 
Dizer que somos iguais
Não basta estender a mão 
Ele precisa muito mais

Há quem estenda a mão num gesto 
De protesto ou simpatia
Mas é bem fraco o protesto 
Quando essa mão está vazia

As palavras de carinho 
São belas e sabem bem
Dão coragem p’ró caminho 
Mas não sustentam ninguém

Por isso, aos pobres que encontrem 
Não basta estender a mão
É pouco só dar palavras 
Quando eles precisam de pão

O Zé da Ti Rosa

Armando Costa / Frederico de Brito *fado cinco minutos* 
Repertório de Gil Costa

Ainda há pouco tempo 
Vi partir p'ró mar
O Zé da Ti Rosa
E a vela branquinha 
Como um véu de noiva
Ufana e vaidosa

Ainda há pouco tempo 
O vento era brando
E o mar era chão
Mas agora ruge 
De encontro à muralha
Como um furacão

Gaivotas voando 
Na paisagem baça
O mar quando grita 
Traz sempre a desgraça
E o sol que 'inda há pouco
Vestia o seu manto de seda vistosa
Pôs um véu de luto nas mãos da Ti Rosa

Ainda há pouco tempo 
O Zé ia ao leme
Já de vela erguida
Enquanto no monte 
A mãe acenava
Ao pé da ermida

Ainda há pouco tempo 
O vento era brando
E o mar era chão
Mas agora ruge 
De encontro à muralha
Como um furacão

Há lábios rezando
A dor esvoaça
O mar quando grita 
Traz sempre a desgraça
E o sol que 'inda há pouco
Estendia o seu manto na bruma rochosa
Pôs um véu de luto nas mãos da Ti Rosa

Camponês de cantigas

Mário Rainho / Popular *fado menor*
Repertório de Rodrigo

Sou camponês de cantigas
Neste campo de ervas bravas
Pesam-me tanto as fadigas
E a semente das palavras;
Sou camponês de cantigas
Escravo das minhas palavras

É ao sol do meio-dia 
Quando o calor é maior
Que rasgo o chão da poesia 
P’ra semear o amor
Esse amor que ainda um dia
Há-de acontecer em flor

Vou ao arado da esperança 
Com esta fé renovada
Esta fé que se não cansa 
Em cada nova alvorada
Levo sonhos de criança
Semeio sonhos, mais nada

O que é preciso é coragem 
De estar vivo e de cantar
Desbravar toda a paisagem 
Para o amor ter lugar
Sou camponês em romagem
Neste campo singular

Sou camponês do amor 
Neste chão onde caminhas
D’onde arranquei com suor 
Cardos e ervas daninhas
Foi Deus quem assim me fez
Simplesmente camponês

Dizer adeus

Frederico Valério / Aníbal Nazaré
Repertório de Helena Tavares

Dizer adeus custa tanto
Nem tu amor sabes quanto 
Se a gente gosta d’alguém
Nesta ansiedade 
Quem parte leva saudade
Mas na verdade 
Quem fica saudades tem

Dizer adeus, que tristeza
Meu coração chora e reza 
Mas não te peço piedade
Tu vais partir, fiquei triste
Meu coração não resiste  
Quero dizer-te a verdade
Podes partir sem tem dó
Porque eu amor não estou só 
Ficou comigo a saudade

Tu já lá vais p’lo mar fora
Se agora minh’alma chora
Mais hei-de sofrer depois
Sei que me adoras 
Mas tu és homem, não choras
Se te demoras 
Deixa-me chorar p’los dois

E olhando as ondas do mar
Eu fico inquieta a rezar 
Ao Deus em que tu não crês
Ao Deus do céu, verdadeiro
E peço ao mar traiçoeiro 
Que emende o mal que me fez
Meu amor não desespera
Meu coração fica à espera 
Que o mar te traga outra vez

Fado da consagração

Guilherme Pereira da Rosa / Frederico Valério
Repertório de Fernanda Maria
Também gravado com o título *O fado*

O fado
Fado nascido em Lisboa
É voz de pena que soa
Mágoa que do peito vem
O fado 
É bairro velho que chora
Alfama que se enamora
E conta o amor que tem

O fado é canto de feiticeiro
É Alfredo Marceneiro 
É um dom, uma expressão
E é fado, guitarra que nos murmura
Tudo aquilo que perdura 
Bem dentro do coração
Ao fado Lisboa diz o que sente
Vai nela a alma da gente 
Pois é ele o seu condão

O fado
Fado que invade a cidade
É nostalgia, saudade
Mal e bem, sorte e azar
O fado
É rumo de caravelas
E somos nós e são elas 
Que andamos a namorar

O fado, é moda da nossa gente
O passado e o presente 
O porvir, esse também
Pois fado é este jeito, esta briga
De chorar numa cantiga 
Um amor, tudo e ninguém
E é fado, aquele encanto profundo
Que vai daqui pelo mundo 
E que ao mundo soa bem

Fado nosso

Carlos Conde / Popular *fado mouraria*
Repertório de Alfredo Duarte Júnior

Deixar de cantar não posso
O fado, com altivez
Porque o fado é muito nosso
Porque é muito português
Canto com amor profundo 
Com afeto sem igual
E mostro orgulhoso ao mundo 
A canção de Portugal
Eu bem sei que há mais canções 
De sentimento e valor
Mas os nossos corações 
Sentem o fado melhor
Por isso o fado que brilha
Nesta alma portuguesa
Tem não sei, que maravilha 
E tem não sei, de riqueza
Sempre o fado há-de existir 
Enquanto houver ao luar
Uma alma p'ra sentir 
E um coração para amar
Digo por forma altruísta 
A quem do fado maldiz
Sou cantador e fadista 
Para honrar o meu país
Portugal, ó meu tesoiro 
Chamam-te pequeno e pobre
Vale mais de que o teu oiro 
A tradição que te move

Estas mãos que te dou

Fernando Campos de Castro / Alfredo Duarte *menor-versículo*
Repertório de Filomeno Silva *ao vivo*

Vê as mãos que aqui te dou, brancas e nuas
Tão cansadas e tão frias, quão distantes
Mas que sonham agarrar ainda as tuas
Com a mesma lucidez que tinham antes

Estas mãos que já respiram despedida
Tão marcadas em delírios sobre a pele
São farrapos das estrelas duma vida
Que ficou de ti em mim, tão fria e breve

Mãos que acendem cada dia de lonjura
P’ra poder guardá-lo em mim uma só vez
Nesta doce solidão quase loucura
Que a tua eterna ausência de mim fez

Vê as mãos que aqui te dou como desvelos
Que se quebram com acenos d’ansiedade
Estas mãos com que desprendo os teus cabelos
E o teu corpo de mil sedes e saudade

Quadras gordas

José Luís Gordo / Arménio de Melo *fado constança*
Repertório de João Vaz

Fiz do teu corpo, um navio
Fiz do teu mar, o meu chão
Fiz dos meus olhos, um rio
Fiz desse rio, solidão

Toodos os olhos me seguem 
Todas as bocas me gritam
Já quase todos me negam 
Já quase todos me agridem

Do amor mais nada resta 
Que esta saudade incontida
Nosso amor foi uma festa 
Nossa entrada proibida

Amor louco, amor de mim 
Amor que foi de repente
O nosso amor foi assim 
Amargou dentro da gente

Meu amor, a primavera 
Acabou, já não há verde
Meu amor, na longa espera 
Morre o meu corpo de sede

Menina Lisboa

Francisco Radamanto / Martinho d’Assunção *fado faia*
Repertório de Anita Guerreiro

Lisboa é certa menina
Que tem por sina uma canção
Trabalha, canta, mas sofre
E faz seu cofre no coração

De manhã lá vai à vida 
Toda garrida como é seu lema
Deixando p’lo seu caminho 
Um bom cheirinho a alfazema

Vem d'Alfama, desce a Graça
E onde ela passa, passa a alegria
Que esta vida é uma cantiga
De rapariga da Mouraria
P'rás suas pernas ligeiras
Não há canseiras, tudo é um salto
Lá vem menina Lisboa
Da Madragoa, do Bairro Alto

E à noite, no bailarico
Há sempre um Chico todo garboso
Que se um beijinho lhe apanha
Que coisa estranha, fica baboso

Menina Lisboa adora 
Por alta hora, bailar, cantar
Mas mal desponta a manhã 
Fresca e louçã vai trabalhar

Vós todos por minha fé
Sabeis quem é esta menina
Que tem cravos à janela 
E é tão bela como ladina

Há milhentas iguaizinhas 
São alfacinhas sorrindo (?) à toa
Há uma em cada recanto 
Supremo encanto desta Lisboa

Um fado apenas por mim

Fernando Peres / Casimiro Ramos *fado oliveira*
Repertório de Fernanda Maria

Um fado apenas por mim
Saudade feita de mágoa
Alma de noites cerradas
É sina sofrer assim
Sempre d’olhos rasos d’água
Remorsos de madrugadas

O mal que a saudade faz 
Se o amor morre num beijo
É sonho sempre desfeito
Promessa que o vento trás 
Na alma doutro desejo
Que já não cabe no peito

Não peço mais nada à vida 
Ilusão, sonho perdido
Começo que não tem fim
Encontro em noite perdida 
O ciúme arrependido
Dum fado apenas por mim

Foi em Lisboa

Letra e música de António Mestre
Repertório de Tony de Matos

Passei por ti talvez mil vezes
Na paraia, na rua, ou num café
Na Carioca em Ipanema
Ou talvez fosse em São Paulo, na Sé

Mas foi em Lisboa que te encontrei
Sem saber como me apaixonei
Foi no Machado, cantando o fado
Que num trinado me declarei

Beijei-te os olhos… Fado menor
Beijei-te a boca… Fado maior
Louco perdido… Fado corrido
E foi assim que descobri o amor

Trica trica mexerico

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda

Disse-me a minha vizinha 
Que a prima da tia dela
Que é amiga da sobrinha 
Que tem um genro na Estrela
Não tem juízo na pinha 
Passa os dias à janela

Mexerico mexilhão 
Mexe, mexe, sem sentido
Deixa tudo remexido 
Remexendo a confusão
Mexerico manjerico 
Palavra que voa, voa
Dizendo coisas à toa 
Quando ninguém tem razão
Trica, trica, triquetraque 
Porque torna e porque deixa
Mexerico disparate 
Onde a boca se desleixa
Mexerico mexilhão 
Mexe, mexe, sem sentido
Deixa tudo remexido
Remexendo a confusão

Sabias que a locutora 
Que está na televisão
Já tem outro?... sim senhora 
Ou é António ou João
Se é maricas?... ora, ora
Já se não sabe quais são

Dizem que o gordo que foi 
Às festas de Santo Isidro
Tem a testa que lhe dói 
Quem tem telhados de vidro
É que sabe como dói 
Vê lá tu se faz sentido

Quanto mais olho p’ra ti

Castro Infante / Fontes Rocha *fado Isabel*
Repertório de Francisco Martinho

Quanto mais olho para ti
Meu amor, mais de ti gosto
Que coisas eu descobri
Esta noite no teu rosto

Olhos negros pele morena 
Que é a mais bonita cor
Boca rosada pequena 
A lembrar beijos de amor

Esses olhos de veludo 
Nessa cara descarada
Quantas vezes dizem tudo 
Sem que a boca diga nada

Que coisas eu descobri 
Esta noite no teu rosto
Quanto mais olho para ti 
Meu amor, mais de ti gosto

Gotas de fado

Letra e músia de Custódio Castelo
Repertório de Tereza Carvalho

Que gotas são estas, meu bem
Que em meu desgosto se aguçam
São mágoas e choros de alguém
Que gritam sonhos de ninguém
E que em minh’alma se cruzam

Serão olhares perdidos
Nos olhos de um ser diferente
Ou serão sonhos vencidos
Num ser que já não sente

Desejo ter um navio
Que atravesse o mar e o frio
E me cale a solidão
Que gela o meu coração