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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Um fado para Fred Astaire

Tiago Torres da Silva / Alfredo Duarte *menor-versículo*
Repertório de Cristina Nóbrega

No silêncio do meu quarto / de incerteza
Não vos sei dizer se morro / ou ressuscito
Faz-se noite quando parto / com tristeza
E talvez peça socorro / mas não grito

Quem diria que os teus pés / de bailarino
Entrariam para a história / da saudade
E que meio de viés / por teu destino
Brindarias à memória / que me invade

Quase toco a tua mão / presa ao ecrã
Mas tropeço nos meus passos / sem esperança
Não existe solidão / nem amanhã
Quando danço nos teus braços / de criança

Eu é que sou a menina / mas não quero
E não vou mudar de idade / e ai de mim
Se a memória só termina / e volta a zero
Quando acabar a saudade / que é sem fim

Semente viva

Flávio Gil / Mário Pacheco
Repertório de Carolina

Semeei a sombra da tua lembrança
Que agora me assombra 
Perdida de esperança
Semeei os sonhos que nós inventámos
Hoje são medonhos, como nós mudámos

O que aconteceu, o que se passou
Qual de nós morreu
Que eu não sei quem sou
Oh semente viva da minha amargura
Como queres que viva com esta loucura

Na cama vazia onde enfim, desmaio
Sou a gota fria da chuva de maio
Sou a terra ausente da semente triste
Do teu corpo quente sou a tua idade
Que ainda persiste na minha saudade

Essa chuva fria nos meus olhos baços
Chorando a agonia dos nossos cansaços
Somos dois pecados da mesma aventura
Os réus e culpados dum crime-loucura

Ai como demora o teu doce beijo
Veneno que outrora foi o meu desejo
Oh semente viva da minha tristeza
Como queres que viva 
Com esta incerteza

O que aconteceu, o que se passou
Qual de nós morreu 
Que eu não sei quem sou

Outro cansaço

Tiago Torres da Silva / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Cristina Nóbrega

Por trás do espelho não está
Quem fixe os olhos nos meus
Eu olho e vejo p’ra lá
Da imagem que não há
A não ser num breve adeus

Quem se deitou num caixão 
Convencido que era um berço
Ao escutar que alguém diz não
Enche a voz de compaixão 
E transforma o não, num verso

Tudo o que faço, não faço 
Porque não lhe apanho o jeito
Dou um passo e outro passo
Quase morta de cansaço 
Do que ficou por ser feito

O barquinho de papel

Tiago Torres da Silva / Pedro Jóia *marcha da bica*
Repertório de Cristina Nóbrega

Um barquinho de papel
Vai a entrar em Lisboa
Leva o anjo Gabriel... à proa
Foi feito por um menino
Que ninguém sabe quem é
O seu nome pequenino
Apagou-o a maré

Um barquinho de papel
Que qualquer Manel fabrica
Vem preso por um cordel... à Bica
Mas se a maré o arrasta
E a carrega adiante
Sabemos que o sonho basta
Para a alma de um marchante

Quando vê a Bica 
O barquinho fica parado no rio
Não quer ir em frente 
E ao ver essa gente sente-se um navio

Então a criança 
Faz uma aliança com cada alfacinha
E se o vir tristonho
Vai buscar um sonho à nau onde vinha

Um barquinho de papel
Traz desenhado com luz
O coração que o Manel... seduz
E se o Tejo é padrinho
Quando o amor se anuncia
Vai à proa do barquinho
O Manel e a Maria

Poesia dos dias

António Laranjeira / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Carolina

Tu és a luz que se acende
Tu és a paz que se estende
Ao mais profundo de mim
Meu coração é um veleiro
Onde tu és marinheiro
Numa viagem sem fim

Tens o encanto do mundo
Preenches cada segundo 
O mundo é quase perfeito
E quando chegas mais cedo
Meu coração em segredo 
Perde a razão no teu peito

Guardas a vida nos braços
A ternura nos abraços 
Onde me quero perder
Trazes na boca o desejo
Do nosso primeiro beijo 
Que não consigo esquecer

O nosso amor vem do mar
Da luz que tens no olhar 
E da poesia dos dias
Tem a ternura do tempo
A força que tem o vento 
Tristezas e alegrias

Por me ver sozinha assim

Tiago Torres da Silva / Filipe Pinto *fado meia noite*
Repertório de Cristina Nóbrega

O que dói na solidão
Não é o ficar sozinha
É não haver outra mão
Para se agarrar à minha

É não sentir um sorriso 
Nem o barulho de passos
É não ter, quando preciso 
O carinho de dois braços

O pior da solidão 
Sempre que a temos por sina
É saber que o coração 
Já só bate por rotina

É ver que a lua vai alta
Mas não saber do luar
É sentir a tua falta 
E já nem a lamentar

Mas quando perco a razão 
Por me ver sozinha assim
Descubro que a solidão 
É eu estar longe de mim

Balada dos desejos impossíveis

Fernando Pinto do Amaral / António Zambujo
Repertório de Carolina

Pudesse o nosso coração
Ser mais que o lume dos sentidos
Pudesse eu dar-te a minha mão
Quando estivéssemos perdidos
E ver nos gestos proibidos
Do corpo a única certeza
Até ficarmos confundidos
Já para além da natureza

Pudesse a noite mais escura 
Abrir na lenta madrugada
Uma promessa de aventura 
P'lo nosso sangue iluminada
E nessa febre desesperada 
Eu visse enfim, nascer o dia
Até que o nosso próprio nada 
Fosse matéria de alegria

Pudesse aquilo a que chamamos 
Amor, paixão, ou só desejo
Ser mais real quando roubamos 
À morte, o nosso último beijo
Talvez então a luz do Tejo 
Fosse outra luz reflectida
P'lo teu rosto que mal vejo 
E fosses tu a minha vida

Calçada à portuguesa

José Luís Tinoco / Ivan Lins e José Luís Tinoco
Repertório de Carlos do Carmo

Acendem-se os olhos do dia
Um sol feito de água e janelas
Nas ruas e praças, na cal e na pedras
N cais que abrigou caravelas

Do alto das tuas muralhas
É todo o teu corpo que eu vejo
Vestido de claro, de azul e gaivotas
E os olhos no espelho do Tejo

Ai céu que encandeia os meus olhos
Ai estrelas nos olhos do dia
Ai margens que nos contam histórias
Do mar que ninguém conhecia
Ais naus de aventura
Com anjos na proa
Nos portos da minha alegria

No chão feito de preto e branco
Da calçada à portuguesa
Demoro o olhar, escrevo o teu nome
De dona do mar e princesa

Ais naus de aventura
Com anjos na proa
É assim que te vejo, Lisboa

Toda a tristeza do mundo

Tiago Torres da Silva / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Cristina Nóbrega

Dizem que o mundo é tão grande
Que por mais que um homem ande
Não lhe pode ver o fim
O que importa, se no fundo
Tudo o que existe no mundo
Também há dentro de mim

Tenho florestas e mares
Onde as horas e os lugares 
Vêm em passo miúdo
E o mundo não tem tamanho
Porque dentro de mim, tenho 
A vontade de ter tudo

A dor dos outros é minha
E nunca sigo sozinha 
Porque dentro do meu peito
A alma torna-se rio
Que tem água e vai vazio 
Que corre mas não tem leito

Dizem que o mundo é imenso
Mas muitas vezes eu penso 
Que ele é maior e mais triste
Penso assim por ser fadista
Porque do fado se avista 
Toda a tristeza que existe

Marcha do Castelo

António José / Helena Moreira Viana
Repertório de Carolina

Vem ver o Castelo, aceita o convite
E vem vê-lo sem demora
Eu até tenho um palpite
Que já não te vais embora

Sobe essa escadinha
Desce essa calçada
Vê todo o encanto que ele tem
Pra sua rainha, nunca mudou nada
E até está mais novo, vejam bem

Vem ao Castelo
Tu que andas lá por fora
Não se perdoa que o não vejas agora
Pois na verdade todos sabe conquistar
E apesar da sua idade
Mais gosta de se enfeitar

Outros castelos mais bonitos não invejo
Que o de Lisboa 
Debruçada sobre o Tejo
Tem namorados, quantos mais não sei
E o que suspiram, coitados
Só o sabe o Cristo Rei

Vem cá ao Castelo
Abre bem os olhos
Pois ele talvez te prenda
Traz saia e blusa de folhos
Ou um vestido de renda

Podes ser modesta ou rica, talvez
Ao Castelo tudo fica bem
Anda sempre em festa
Vem daí que vês 
Como vai gostar de ti também

Para dentro do meu ser

Tiago Torres da Silva / Armandinho *fado alexandrino*
Repertório de Cristina Nóbrega

Quem diz não ter saudade de tudo o que perdeu
Ou não fala verdade, ou fala e não viveu
Às vezes, por orgulho, também fingi esquecer
Que o fado é um mergulho p’ra dentro do meu ser

Mas quando a voz se agarra ao saudoso lamento
Das cordas da guitarra, já nada é fingimento
Então o meu futuro dá as mãos ao passado
Trazendo o que procuro e tudo o mais é fado

O resto é o caminho que os meus pés vão pisando
Hei-de ir devagarinho, hei-de ir mas não sei quando
Então a tua vida vem deitar-se a meu lado
E eu peço-lhe guarida, pois tudo o mais é fado

Dança

Fernando Pinto do Amaral / Ricardo Cruz
Repertório de Carolina

Anda, vem dançar comigo
Vem dançar a noite inteira
Anda, escuta o que te digo
Nesta hora derradeira

Vem à chuva, ao frio, ao vento 
Dançar comigo na rua
Vê como arde a fogo lento 
A minha vida na tua

Vê como o luar nos diz 
Coisas tão cheias de luz
Vê como acorda feliz 
A estrela que nos seduz

Anda e dá-me a tua mão 
Vamos ficar enfim, sós
O meu sangue é uma canção 
A vibrar na tua voz

Deixa voar os teus passos 
Na cidade adormecida
Já são asas os meus braços 
Já é tua a minha vida

Depois não digas mais nada 
Fica toda a noite assim
À espera da madrugada 
Sempre mais perto de mim

O que sobrou de um queixume

Letra e musica de Frederico de Brito
Repertório de Carlos do Carmo c/Raquel Tavares
Este tema foi gravado por Carminho com o título *Fado é amor*

Se não sabes o que é fado
Sem ter sombra de pecado
Sem traições, corações aos baldões 
E paixões de vielas
Se não fazes uma ideia
Desta triste melopeia
Que nos alegra e por via de regra 
Chorámos com ela

Se não sabes como encanta
Quem o ouve e quem o canta
Quando se agarra a uma guitarra 
À luz do luar
Fado dum fado nascido
Um grito de espanto, um gemido
Vem ver Lisboa, como ela o entoa 
E o canta a chorar

Fado é amor
Que sobrou d’algum queixume
Que se agarrou ao ciúme
E se embrulhou no seu manto
Fado é a dor
É o meio termo da vida
Nem esperança perdida
Nem riso, nem pranto

Se não sabes que a tristeza
Que nos prende e fica presa
Não é mais que os sinais usuais 
D’alguns ais sem agrado
Se não sabes que a saudade
Que nos abre e nos invade
Só aparece quando não se esquece
Que também é fado

Se não sabes o que é esperança
Que não pára, que não cansa
E é concerteza, tal como a firmeza
Um rasto de fé
Sonho dum sonho desfeito
O gosto dum gosto perfeito
Que nos embala mas que não se iguala 
Ao que o fado é

Lágrima de prata

Mário Rainho / Carlos Dionísio
Repertório de Ana Marta

Uma lágrima de prata 
Como se fosse um desgosto
Que da lua se desata 
E vem poisar em meu rosto

Segue comigo pela noite 
Sinal de luar marcado
E toma sempre pernoite 
Na minha alma de fado

Assim eu vou
A chorar, como um Pierrot
Pela noite, a que me dou
Onde entorno meu cantar
Assim eu vou
De encontro a outros sentidos
Desprende a alma gemidos
Fados que canto a chorar

P'los recantos da cidade 
Meu canto é choro também
Fala de amor e saudade 
De uma dor que sabe bem

Tanto tarda o amanhecer 
De fado em fado caminho
E até o sol nascer 
O meu ser geme baixinho 

Verdes anos

José Luís Gordo / José Marques do Amaral
Repertório de Maria da Fé

Trago meu país primeiro
Por dentro da minha voz
Dou todo o meu corpo inteiro
Ao canto que não tem foz

O meu canto é sempre novo 
É um rio que se alimenta
De matar a sede ao povo 
No canto que ele próprio inventa

Ai fado, amor, meu destino 
Meu namoro de criança
Minha paixão, desatino 
Que só minha voz alcança

Ai, amor, tantos enganos 
Na minha entrega total
Dei-te tantos verdes anos 
Por amor a Portugal

Vem a noite

Vasco Lima Couto / Ferrer Trindade
Repertório de Fernanda Batista

Vem a noite
Com montras que já não sonham
A passagem distraída
E onde se morre a cantar
As impromessas da vida

Vem a hora
De atormentar o silêncio
Da palavra que se reza
Às luzes da meia altura
Que iluminam a voz presa

Porque a rua
Quando compra devagar
Insinua
Um Deus que tarda a chegar
Um Deus morto 
No amor que não se entrega
Que é o porto 
Da loucura quando é cega

Vem o sonho
Que estende um tapete frio
De sombras, à solidão
Para que a chuva dos olhos
Não teça riscos no chão

É o momento
Em que se analisa o vento
Como quem sai de uma gruta
E abre em nós o peito à espera
Do amanhã de outra luta

Lisboa e o Tejo

Mário Raínho / Fontes Rocha
Repertório de Maria Armanda

Lisboa também tem um namorado
E também tem ciúmes, como nós
Lisboa, quando sofre canta o fado
Com um soluço triste em sua voz

Lisboa é namorada delicada
Vaidosa e orgulhosa de assim ser
Lisboa fica às vezes amuada
Se o seu amor, amor não lhe oferecer

Chama-lhe marinheiro
Fala dele na rua
E sente ciúme 
Dos olhos da lua
Chama-lhe marinheiro 
Sem rumo nem rota
Sempre atrás das asas 
De alguma gaivota;
Ele numa onda
Atira-lhe um beijo
E assim namoram
Lisboa e o Tejo

Lisboa tem arrufos com o namoro
Se o vê fazer olhinhos às estrelas
E então vai mirá-lo ao Miradouro
Que não vá o diabo tecê-las

Lisboa, quando desce uma colina
P’ra namorar com ele toda se enfeita
Lisboa veste saia de varina
Para ouvir os piropos que ele deita

Estes meus olhos

Moita Girão / João Alberto
Repertório de Mariana Silva

Dizes que eu era linda flor do teu jardim
A mais sincera, de mais encanto e perfume
Se me beijavas numa ternura sem fim
Não te lembravas que no amor há ciúme

E por tão pouco acabou-se o teu amor
Acabou, morreu a flor
A flor dos teus ideais
Foi amor louco, foi um sonho que passou
Já lá vai, já se acabou
Acabou, não volta mais

Estes meus olhos, hoje não sabem chorar
São dois regatos que secaram no caminho
São pombas mansas esquecidas de voar
São andorinhas que se perderam do ninho

Estes meus olhos, cativos, sem liberdade
Presos no véu da saudade 
Deste amor em que os perdi
Andam sem luz, perdidos da luz dos teus
Andam ceguinhos, meu Deus
Ceguinhos de amor por ti

Não era a cidade fria

Fernando Campos de Castro / José Marques do Amaral
Repertório de Maria de Lourdes

Não era a cidade fria
Nem os soluços do vento
Era uma luz que acendia
Os sonhos no pensamento

Não era a voz da cidade 
Que povoava os ouvido
Era uma louca ansiedade 
Que nos prendia os sentidos

Não eram sombras incertas 
Nem essa noite era fria
Eram as ondas libertas 
Na noite que acontecia

Não era a lua gemendo 
Nem o murmúrio das casas
Eram dois corpos ardendo 
Mas que sonhavam ter asas 

Demos as mãos

Ary dos Santos / Martinho d’Assunção
Repertório de Maria Amélia Proença

Demos as mãos 
E tudo ficou diferente
A tristeza mais ausente
A amizade mais intensa
Demos as mãos 
E o futuro foi presente
Naquela ternura imensa
Que faz a gente ser gente

Demos as mãos 
E senti as tuas veias
Movediças como areias
Latejando no meu pulso
Demos as mãos 
E a carne ficou cativa
Naquele primeiro impulso
Que faz a gente estar viva

Demos as mãos 
E aconteceu a vida
Vida própria e desmedida
Vida à nossa dimensão
Demos as mãos 
E começou a subida
Do coração à cabeça
Da cabeça ao coração

Demos as mãos 
E morremos devagar
No amar e odiar
Dos amantes perseguidos
Demos as mãos 
E ficamos no lugar
Das rosas por despertar
No relógio dos sentidos

Quando nasce um homem

Ary dos Santos / Martinho d’Assunção *alexandrino*
Repertório de Maria da Fé

Eu não nasci aqui, o meu lugar é outro
É na terra de fogo onde as palavras ardem
É na ilha de sal onde os ventos me levam
Na estepe de silêncio onde os homens me ladram

É no falcão da noite que voa sobre as águas
No cavalo dos deuses que correm sobre o vento
No flanco da loucura, à direita do mundo
Na espora do silêncio, à direita do tempo

É no ir dos navios que demandam o rumo
Dum cabo de segredos que não podem dobrar
No galope do medo, na viagem do fumo
Nas terríveis passadas do destino a andar

Eu não nasci aqui, o meu lugar é outro
É onde for o sangue, o abismo, o espasmo, o pólen
É onde eu não chegar, é onde for o grito
Em que se rasga o mundo quando nasce um homem

As pedras que tu pisas

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Fernanda Maria

Não sei o que se passou com o meu coração
Que só sabe sentir esta grande paixão
Eu hoje só sei ver a luz do teu olhar
Só sei olhar p’ra ti, viver para te amar

Tenho ciúmes das pedras que tu pisas
Do ar que tu respiras
E até das próprias brisas
Tenho ciúmes do sol, da lua cheia
De tudo o que te toca
Da luz que te rodeia
Dos próprios sonhos que tu idealizas
Tenho ciúmes
Das pedras que tu pisas

Nã sei o que se passou desde que eu te vi
Só sei que o meu olhar, só sabe olhar p’ra ti
A minha vida é tua e o meu coração
Fugiu já do meu peito, está na tua mão

Outono ou primavera

António Campos / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Pedro Vilar

Nada tive na chegada
Nem um pouco ou quase nada
Nada tinham p’ra me dar
Não sei o que faço aqui
Pois nada, nada pedi
Nem conheço este lugar

Se uma brisa aqui passasse
Que de leve me tocasse 
E me dissesse o que eu sou
Quem sabe eu não fôra alguém
Que não sabe de onde vem 
Mas que um dia alguém amou

Se eu fosse vinho ou fermento
Ou mesmo um golpe de vento 
Pelo menos tinha um nome
Mas não sei nada de mim
Se sou princípio ou sou fim 
Nem o não ser que consome

Olho em volta e nada faço
Não sinto dor nem cansaço
 Não sou razão nem quimera
Tudo tudo é abandono
Não sei se nasci no outono 
Se morri na primavera

Morrer na Sé

Carlos Bessa / Alvaro Martins
Repertório de Alma Rosa

Quero aqui ficar sempre até morrer
Não quero mudar deste meu lugar
Que me viu nascer

Eu não quero não, bairro encaixotado
Feito de betão e de solidão
Por metro quadrado

Quero a casinha aqui aonde moro
Nesta Sé velhinha que eu tanto adoro

Oh Sé, oh Sé
Oh meu lindo Bairro da Sé
Tudo morre na cidade
Só tu é que estás de pé

De saudades chora quem a Sé deixar
E a qualquer hora, vêm sem demora
A Sé visitar

Eu contrariamente, vivo a cantar
Com a minha gente vivo alegremente
Por aqui estar

Antes de morrer quero ver na Sé
O entardecer que tão lindo é

A chegada dos navios

Ary dos Santos / Martinho d’Assunção
Repertório de Maria da Fé

Chegam heróis e jovens de mãos dadas
Chegam rapazes loiros como o estio
E partem as palavras censuradas
No penacho de fumo do navio

Chegam esperanças, medos e ciladas
Em que a aventura nos embosca o cio
E partem as angústias exiladas
No penacho de fumo do navio

Ao ritmo dos guindastes, estremecemos
Portos abertos ao que nos deslumbra
Somos apenas o que não sabemos
Barcos de sol rumados à penumbra

Piratas d'abordagem que trazemos
A latejar nas veias, que se cumpra
A palavra que nós nunca dissemos
Rosa de sangue a rebentar de sombra

Meu triste fado

Pedro Vilar / Jaime Martins
Repertório de Pedro Vilar

Meu amor, és meu sonho incompleto
Eu vivo num desesto
De incertezas que matam

Talvez eu me encontre um dia
E tenha essa alegria
Do que vejo e não sinto

Sentir teu peito junto ao meu
E sem saber se eu
Te perca e não te encontre

Meu amor, meu amor, que juras fizeste
Meu amor, meu amor, q nada me déste
Meu amor, meu amor, neu sonho acabado
Meu amor, meu amor, meu triste fado