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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Moinhos de vento

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Nas serras altas, sozinhos
De velas brancas ligeiras
No seu bailado entretidas
Estão sempre assim os moinhos
A moer, vidas inteiras
P’ra dar vida a outras vidas

Velas brancas a bailar 
Sobre a montanha nevada
Mas que alegria me dão
É que um moinho ao luar 
Faz-me lembrar uma fada 
Com quatro estrelas na mão

Prendo-me de encantamento
Ao ver lá na serra alta 
Um moinho quando mói
As velas soltas ao vento
Lembram-me uma cruz de Malta 
Sobre o peito dum herói

Mas ai... se a brisa não passa
E sobre a serra que dorme 
Não passa uma aragem leve
Tem o moinho tal graça
Que parece um trevo enorme 
Numa montanha de neve

Quadras

Tiago Torres da Silva / Popular “fado corrido”
Repertório de Ana Sofia Varela
Do filme “Fados” de Carlos Saura


Talvez o fado me diga
O que ninguém quer dizer
E por isso eu o persiga
Para nele me entender

Meu amor tenho cantado
Sob um céu tão derradeiro
Que me entrego em cada fado
Como se fosse o primeiro

Talvez o fado não peça
Tudo aquilo que lhe dou
Por isso por mais que o esqueça
Ele não esquece o que eu sou

O azul do teu olhar

José Fernandes Castro / Raúl Portela *fado magala*
Repertório de Clotilde Pêssego

O azul do teu olhar
Não é um azul real
Porque tem sonhos p’ra dar
E há sonhos que fazem mal

O azul do teu olhar 
É comparável ao céu
Nele, podem cintilar 
Estrelas dum sonho meu

O azul do teu olhar 
Tem um brilho sensual
Não sei onde vais buscar 
Uma luz tão divinal

Tens a cor da sedução 
Tens versos por decifrar
Tens poemas de paixão 
No azul do teu olhar

Meu amor fugiu do ninho

Linhares Barbosa / Popular *fado corrido*
Repertório de Berta Cardoso


Meu amor fugiu do ninho
Anda agora à rédea solta
Deixou cá o pianinho
Tenho a certeza que volta


Por causa duma guitarra 
O que querem? Sou assim
Armei um grande chinfrim 
E uma tremenda algazarra
Fiz-lhe um rasgão na samarra 
E no xaile em que anda envolta
Mas depois desta revolta 
Deste enorme burburinho
Meu amor fugiu do ninho
Anda agora à rédea solta


A guitarra, essa, coitada
Fosse lá pelo que fosse
Jaz a um canto e quedou-se
Já não pia, não diz nada
Eu é que estou afinada 
Desde essa reviravolta
Que quase que meteu escolta 
Mas ele volta, adivinho
Deixou cá o pianinho
Tenho a certeza que volta


Torradinhas com manteiga
Por cima café, limão
Não há amor que não volte
Quando ama do coração

Aquele olhar

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Publicada no jornal Canção do Sul de 1 de Janeiro de 1941, com a indicação 
de pertencer ao repertório de Alberto Ribeiro

Enfeitiçou-me aquele olhar
Prendeu-me o seu estranho fulgor
Mau, que só depois de me roubar
Meu sossego, o meu bem estar
Me trocou por outro amor

Vivo sofrendo 
Sempre triste a meditar
Dentro do peito escondendo
Meu soluçar
Por mal profundo 
Só esqeecia esta paixão
Se eu pudesse andar no mundo 
Arrancando o coração
Comparo ao meu 
Esse amor sem ter ventura
De Julieta e Romeu 
Que findou na sepultura

Era a cigana mais formosa
De olhar brilhante, qual estrela
Linda como o sol, flor mimosa
Nos meus sonhos cor de rosa
Julguei sempre a mim prendê-la

Rosa vermelha

Nuno de Siqueira / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Eduardo Falcão

Certo dia tu me deste
P’ra guardar como penhor
Uma rosa que escolheste
Que criaste, que colheste
No jardim do teu amor

Com fervor eu a guardava 
Essa rosa sem defeito
Que de dia perfumava 
E vaidosa decorava  
Meu lado esquerdo do peito

Era essa rosa vermelha 
Cor de sangue e de paixão
Que de noite à cabeceira 
Fugida à sua roseira 
Afastava a solidão

E hoje guardo sem esperança 
Sem perfume e já sem cor
Negro fado que me alcança 
Essa rosa por lembrança 
Do que foi o nosso amor

Aquele amor que foi nosso

Mário Rainho / Alfredo Duarte *marceneiro*
Repertório de José Geadas

Aquele amor que foi nosso
E que só recordar posso
Porque já não vive em mim
Partiu como parte o cheiro
Duma rosa, num canteiro
Que morre em qualquer jardim

Se houvesse uma Primavera
Ficaria à tua espera 
Se soubesse que florias
E não mais seria um cravo
Tombado na haste, escravo 
Morrendo à sombra dos dias

Passe depressa este Outono
E o Inverno de abandono 
Onde todo me alvoroço
Com Primavera a chegar
Para a minha alma cantar 
Aquele amor que foi nosso

Alma perdida

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Corpo e alma me levaste
Entreguei-te a minha vida
No dia em que me deixaste
A alma ficou perdida

Entreguei-te a minha vida 
Entreguei-te o coração
Levada numa paixão 
Sem limite nem medida
Ia vivendo iludida 
No amor que me juraste
Com promessas me enganaste 
Prometeste terra e céu
Todo o meu ser era teu
Corpo e alma me levaste

No dia em que me deixaste 
Tive um desgosto profundo
P’ra mim foi o fim do mundo 
Que acabou quando faltaste
Tu em mim não mais pensaste  
Saíste da minha vida
Eu triste e desiludida 
Do lindo sonho acordei
O meu corpo ’inda encontrei
A alma ficou perdida

A alma ficou perdida
Nos pecados teus e meus
Só me resta, arrependida
Pedir o perdão de Deus

Saudade

Alexandre de Barros e Daniel Gouveia / João Nunes *fado muralha*
Repertório de João Nunes

No sentir musical da nossa terra
Tão vivo como uma banda sonora
Há paixão, nostalgia onde se encerra
Solidão, pena, amor, a toda a hora

Entre azulejos mil, azuis e brancos
Nas ruas e nos campos, sempre novo
No céu, na terra, um fundo sentimento
Que fala ao coração do nosso povo

São vibrações antigas que nos vêm
De além do horizonte enevoado
Quais vagas em mar fundo de emoções
Tangendo acordes musicais do Fado

Esquina

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Dei-te uma esquina de rua
Para melhor te cantar;
Duma rua que foi tua
Muito mais do que da lua
Mais tua que do luar

Dei-te uma esquina de céu
Para melhor veres o mar
Não sei o que aconteceu
Qualquer coisa em ti morreu
Pois começaste a chorar

Dei-te uma esquina de vento
Para melhor te ouvir
Deixaste passar o tempo
E agora o sofrimento
É do tempo que há-de vir

Amor inconfessado

Nuno de Siqueira / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de José Salazar Lebre

Vou dizer-te quanta dor
Trago presa neste amor
Que tu finges não saber
Este amor inconfessado
No meu peito tão cansado
Tão cansado de sofrer

Tanta mágoa nos meus olhos
Mais parecem negros escolhos 
No meu rosto naufragados
Quando seguem os olhos teus
Que fugindo vão dos meus 
Saltitantes, apressados

Vou dizendo tudo isto
Nos fados que não desisto 
De cantar, quase rezando
Na esp’rança que tu percebas
Que algum dia tu entendas 
Que é p’ra ti que eu vou cantando

Infância breve

Letra de João Dias
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela 
Academia da Guitarra e do Fado

Onde estás verde balão
Da minha infância mimada?
E tu rosa perfumada
Do meu jardim d’ilusão?

Que é feito do sol-calor 
Que a minha gente afagava
E que comigo brincava 
Jogando às prendas d’amor?

Onde pára a Dona Lua 
Dona de tantas esperanças
Que à noite na minha rua 
Bailava nas minhas tranças?

Só ficaram horas mortas 
Na noite imensa tristonha
Ninguém pensa, ninguém sonha 
Cerraram todas as portas

A rosa jaz desfolhada 
Profanaram o jardim
Até minh’alma coitada 
Chorando fugiu de mim

Nossos irmãos

Linhares Barbosa / Popular *fado menor*
Repertório de Natália dos Anjos

Um regimento passou
De soldados brasileiros
E um menino perguntou:
Minha mãe, são estrangeiros?

A mãe sorriu de maneira 
Que ao filho pareceu de troça
Minha mãe, é que a bandeira 
Que ali vai não é nossa

Nas cores não se assemelha 
Tem um céu muitas estrelas
A nossa é verde e vermelha 
Mas é linda qualquer delas

Aquela nobre bandeira 
Que volta altiva da guerra
É da nação brasileira 
Que é irmã da nossa terra

São nossos irmãos, bem vês 
São nossas as suas galas
E até falam português 
Tal qual eu falo e tu falas

Marcham ali perfilados 
Como se fossemos nós
Os avós desses soldados 
Foram os nossos avós

Regressam de batalhar 
P’lo direito, p’la verdade
E acabam de conquistar 
Nossa própria liberdade

NOTA: Esta letra alude ao desfile militar que ocorreu em Lisboa, no dia 3 de Setembro 
de 1946, no qual participaram soldados da FEB - Força Expedicionária Brasileira que
durante a 2.ª Guerra Mundial, combateu em Itália, ao lado dos Aliados. 
Terminada a guerra na Europa, um dos navios de transporte de tropas de Nápoles 
para o Rio de Janeiro – o Duque de Caxias – aportou a Lisboa e aqui teve lugar 
uma grande homenagem aos pracinhas, como eram conhecidos 
aqueles soldados brasileiros
Informação transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

O que é o fado?

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O que é? 
Donde vem?
A quem pertence?

Perguntam o que é o fado 
Como começou seus dias 
De quem é, a quem pertence
Nada é certo ou está provado 
Surgem muitas teorias 
Mas nenhuma me convence

Canta actos de heroísmo
Mas canta a traição também 
Canta a virtude, o pecado
Canta o ódio e o cinismo
Mas canta o amor de mãe 
No que tem de mais sagrado

N’alegria e na tristeza
O que vai no coração 
Tudo pode ser cantado
Toda a alma portuguesa
Cabe dentro da canção 
A que nós chamamos fado

Dizem uns que vem dos moiros
Outros que é dos trovadores 
Ou então das caravelas
Talvez da lide de toiros
Ou de secretos amores 
Que se escondem nas vielas

Indagar como apareceu 
O fado e seu sentimento 
É vã tarefa de loucos
Basta saber que nasceu 
Mas não teve um nascimento
Porque foi nascendo aos poucos

Vai ouvi-lo a burguesia
Do povo é leal amigo 
E companheiro na labuta
Diz que é seu a fidalguia
Mas canta o pobre mendigo 
O chulo e a prostituta

Canta o marujo no mar
Canta na guerra o soldado 
É do campo e da cidade
A juventude a cantar
Põe toda a esperança no fado 
Que p’ra velhice é saudade

Não tem regra, não tem lei
É o segredo talvez 
Do seu mistério encantado
Eu do fado pouco sei
Sei que o fado é português 
E sei que gosto de fado

Cerejas frescas

Mote de Augusto Gil / Glosa de Linhares Barbosa
Popular *fado menos c/versiculo*
Repertório de Filipe Duarte

Cerejas frescas, vermelhas / saborosas
Pendentes pelos caminhos / e pomares
São brincos para as orelhas / graciosas
Das filhas dos pobrezinhos / dos lugares


Aceita um punhado delas / eu te peço
Lembram p’la sua cor / botões de rosas
São uma prenda de Deus / pois não têm preço
Cerejas frescas, vermelhas / saborosas

Vinham umas atrás d’outras / como as lendas
Como os versos das cantigas / populares
São almoços, são banquetes / são merendas
Pendentes pelos caminhos / e pomares

O sol, o bom joalheiro / é que as criou
Não as usam as senhoras / luxuosas
Gotas de sangue e de luz / nelas te dou
São brincos para as orelhas / graciosas

Para ficares mais diferente / das senhoras
Enfeita o rosto com elas / faz colares
São as jóias dos zagais / e das pastoras
Das filhas dos pobrezinhos / dos lugares

Fado antigo

Letra de Gabriel de Oliveira
Publicada na edição Nº192 do Jornal GUITARRA de PORTUGAL
com a indicação de ser cantada por ALBERTO COSTA
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credivel


Velho fadista esquecido
Ao lembrar tempos distantes
Cantou o fado-corrido
Como se cantava dantes


Há dias ouvi o Fado 
Como a poucos tenho ouvido
Por um fadista do passado 
Velho fadista esquecido

A maneira de dizer 
Os trilos, as variantes
Só se podem descrever 
Ao lembrar tempos distantes

Cigarro ao canto da boca 
A tremer de comovido
Com voz avinhada e rouca 
Cantou o fado-corrido

Sem pretender dar nas vistas 
Mostrou aos principiantes
E aos nossos novos fadistas 
Como se cantava dantes

Não chores mais, coração

Nuno de Siqueira / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Margarida Soeiro

Não chores mais, coração
Que este mundo de ilusão
Não merece o teu sofrer
Se a sorte te foi ruim
Se o teu amor teve fim
Algum outro há-de nascer

Julgaste que os teus caminhos
Eram só rosas sem espinhos 
De ventura e de bonança
Cuidaste que a tempestade
Nunca pode ser verdade 
Quando da gente se alcança

Só quando o vento soprou
E o teu rosto fustigou 
Como um ramo sem defesa
Descobriste que, na vida
A alegria anda perdida
Lado a lado com a tristeza

Não chores mais, coração
Que, por estranha condição 
Com que o destino foi feito
A saudade dói mais fundo
Quando um soluço profundo 
Nasce dentro do teu peito

O castelo da tristeza

Letra de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Letra publicada no jornal Canção do Sul em 1930

Nas ruínas conhecidas
Por Castelo da Tristeza
Morreu, em eras perdidas
Uma formosa princesa

Dizem que um dia um guerreiro 
A fascinara de amor
E que fora traiçoeiro 
Como um vulgar sedutor

Pelo desgosto varada 
Cheia de amor padeceu
E a princesa desprezada 
Em poucos dias morreu

E muito tempo passado 
Um frade triste, velhinho
Do castelo abandonado 
Alguém viu a caminho

E ao chegar lá, o infeliz 
Dizem que disse a gemer
Onde morreu quem me quis 
Eu quero também morrer

Prenda rústica

Mote de Henrique Rego / Glosa de Linhares Barbosa 
Popular *fado corrido*
Repertório de Mário Rocha 
Mário Rocha apenas gravou o mote e as duas primeiras décimas

Toma lá colchetes d’ oiro
Aperta o teu coletinho
Coração que é de nós dois
Deve andar conchegadinho


Eu vi lá na romaria 
Lembranças tão delicadas
Chinelinhas, arrecadas 
Tudo tão lindo, Maria;
De todas que lá havia 
Palmitos d’ hera e de loiro
Cruzes, figas para o agoiro 
Só uma coisa escolhi;
E mais própria para ti
Toma lá colchetes d’ oiro

São cinco, cinco bocados 
De sonhos apetecidos
São os meus cinco sentidos 
Que andarão em ti pregados;
Que desvelos, que cuidados 
Que precaução, que carinho
Eles não terão p’lo ninho 
Dos teus seios, p’ra os guardar;
Há ladrões cá no lugar
Aperta o teu coletinho

Ficava mais satisfeito
P’ra saber os teus segredos
Se eles fossem os meus dedos
Que andassem perto ao teu peito
Prega-os com retrós, com jeito 
Veste o colete, e depois
Verás que são cinco sóis 
Miudinhos que em ti vão
Quero sentir na prisão
Coração que é de nós dois

Se acaso as tuas amigas 
Os cobiçarem, dirás
Que tos deu o teu rapaz 
Que eu não me importo que o digas
Sei que há muitas raparigas
Invejosas cá no Minho
Vão olhá-los com escarninho 
Porque são oiro de lei
E o amor que em ti guardei
Deve andar conchegadinho

Desterrado

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação 
credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Longe da Pátria e dos meus
Longe da vida e de Deus
Longe de tudo é verdade
Eu não estou só afinal
Pois ao deixar Portugal
Trouxe comigo a saudade

E quando essa companheira
Se me senta à cabeceira
Eu posso desabafar
Tenho os olhos rasos d’água
E é tal a minha mágoa 
Que ela começa a chorar

Podem dizer à vontade
Que esse pranto da saudade 
É um sonho com certeza
Mas tudo isto é real
E vejam que natural 
A saudade é portuguesa

O português ao partir
Pode ter a face a rir 
Mas tem sempre uma paixão
Não pode quebrar as peias
Leva Lisboa nas veias 
Portugal no coração

Perigo de morte

Linhares Barbosa / José Lopes *fado lopes*
Repertório de Fernanda Maria


Não fales, não digas nada
Tenho desgosto em te ouvir
Só assim, estando calado
Sei que não estás a mentir

Evita sempre de rires 
Quando alguém esmola te peça
Vê tu bem que o arco íris 
É grande e morre depressa

Que tu não gostas de mim 
Como eu de ti, juro, aposto
Gosto de ti mesmo assim 
Gosto de ti porque gosto

Na tua rua hei-de pôr 
Este letreiro gravado
Cuidado… perigo de amor 
Perigo de morte… cuidado

Ocaso da vida

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O céu enevoado está cinzento
Já toda a floresta está despida
À deriva levadas pelo vento
Esvoaçam folhas secas, já sem vida

O Outono prepara a natureza
Pró rigor do inverno que há-de vir
Virá chuva e neve com certeza
E só pode viver quem resistir

Depois a Primavera sorridente
Porá em cada ramo uma flor
Em tudo haverá vida novamente
E onde existe vida existe amor

Ao olhar a floresta triste e nua
Lembro-me dela, verde como era
A vida não acaba, continua
Mas não volta a ser minha a Primavera

Migalha de gente

Linhares Barbosa / Pedro Rodrigues
Repertório de Carlos Ramos


Lá vai com o seu jerico
O pequenino João
Ganhar a vida, coitado
Cada estrela é um salpico
De prata no almofadão
Do céu azul estrelado

Cinco horas da madrugada
A mãe fê-lo levantar 
Ele ergueu-se sonolento
Tão pequeno, um quase nada
E já tem de trabalhar 
Para ganhar o sustento

Jumentinho e pequenito
Lá vão pela rua fora 
O que este quadro traduz
Lembra a fuga para o Egipto
Não vai a Nossa Senhora 
Vai só o Menino Jesus

Lá vão os dois a caminho
Joãozinho, um quase nada
Vai dormindo descuidado
Que vale é que o jumentinho
É um grande camarada 
E sabe onde é o mercado

Ei-lo que volta contente
Abarrotam as cangalhas 
Ouve-se no ar um pregão
João, migalha de gente
Benditas estas migalhas 
Que juntinhas fazem pão

Bailador

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Abracei-me à tua imagem
Senti o corpo bailar
Senti no peito a viagem
Que uma rosa fez no ar

Irei p’ra longe contigo 
Suicida ou talvez mais
O bailar foi teu amigo 
Onde o céu tem luz demais

Do teu perfil tão antigo 
Fiz estátuas de granito
Cobri-as de musgo e trigo 
Fui silêncio no teu grito

Percorri-te o corpo todo 
Com gestos de bailador
O céu encheu-se de lodo 
E morreu o nosso amor

Quando esta guitarra chora

Miguel de Barros / Pedro Rodrigues
Repertório de João Braga


Quando esta guitarra chora
Sinto que é nela que mora
A alma que Deus me deu
Só pode chorar assim
Com tristeza e dor sem fim
Quem padece como eu

Minha querida companheira
Tu não és só de madeira 
Não és qualquer instrumento
És a minha infelicidade
Nasceste duma saudade 
És filha do sofrimento

És talvez inconfidente
Pois contas a toda a gente 
A minha grande paixão
Mas não é p’ra admirar
Pois tens lá dentro, a pulsar 
O meu próprio coração

Há quem procura saber
Qual é a mulher mais bela 
De formas esculturais
A mais formosa mulher
Para mim é sempre aquela 
De quem nós gostamos mais

Primavera

Mote de Linhares Barbosa / Glosa de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Publicada no jornal A Voz de Portugal em 1956


O sol, o rei dos pintores
Agarrou nos seus pincéis
E pôs-se a pintar as flores
Nos campos e nos vergéis


Sobre as asas da quimera 
Escoltado por condores
Veio beijar a Primavera 
O sol, o rei dos pintores

Saudando os deuses campestres 
Em seus tronos de donzéis
O divino rei dos mestres 
Agarrou nos seus pincéis

Numa gota aurifulgente 
De orvalho, compôs as cores
Sorriu inspiradamente 
E pôs-se a pintar as flores

Pintou-as, com tal carinho 
Que os plumosos menestréis
Preferem fazer o ninho 
Nos campos e nos vergéis

Onda de alma

Tiago Correia / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Tiago Correria


Se o meu fado é onda d’alma
Na corrente dos meus sonhos
Que dá vida ao meu viver
É porque a dor não tem calma
Nessas noites que transponho
Outras noites sem me ver

É nas vagas de canções 
Que percorro lés a lés
Versos movidos de esperança
Que não passam d’ilusões 
Que se formam em marés
Onde a rota não se alcança

Por isso, entrego ao fado 
Outro pedaço de mim
Que só vejo quando canto
Porque a sós, do outro lado 
A solidão não tem fim
Nem a vida o mesmo encanto

Gosto dela

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação 
credível
Letra anteriormente publicada, com ligeiras alterações
no jornal Canção do Sul de Outubro de 1940, com o título *Porquê?*

Eu gosto dela, porquê?
Não consigo responder
A esta pergunta atroz
Será porque ela crê
Que é causa deste sofrer
Tornando-se em meu algoz?

Porque gosto tanto dela
Se passo de noite e dia 
Nesta dúvida constante
A desejar sempre vê-la
Muito embora esta agonia 
Me torture a cada instante

Eu gosto dela, porquê?
Se nunca me teve amor 
Nem lhe importa a minha sorte?!
Pois se todo o mundo vê
Que eu vivendo nesta dor 
Vivo tão perto da morte

Porque gosto tanto dela
Se o meu tormento é profundo 
E aumenta a minha paixão
Só poderia esquecê-la
Se eu pudesse andar p’lo mundo 
Arrancando o coração

Que importa que o mundo ria
E que de mim faça pouco 
Por ter tanto amor por ela
Eu só sei que, noite e dia
Muito embora seja um louco 
Não deixo de gostar dela

As penas da minha vida

José da Câmara/ João do Carmo Noronha *fado pechincha*
Repertório de José da Câmara

As penas da minha vida
Apenas só eu as sinto
E se me ponho a cantar
Só aos outros é que minto

As penas da minha vida 
Apenas a mim me pesam
Quando canto lembram monjas 
Que tristes, sorrindo rezam

As penas da minha vida 
Apenas quero-as comigo
Deixarão de ser só minhas 
Se eu fosse cantar contigo

As penas da minha vida 
Apenas quando eu morrer
Irei cantá-las no céu 
Só Deus as há-de saber

Era ali ao virar do rio

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Era ali, ao virar do rio
Mesmo ali, ao voltar da esperança
Era amor e fez-se frio
Tudo em nós se despediu
Ai, amor que mal se alcança

Não sei que dor me invadiu
Não sei se frio se saudade
Sei da raiva que me feriu
E o meu corpo consentiu
Não sei que dor, que saudade

A Rosinha dos meus ais

Nuno de Siqueira/ Alves Coelho *fado maria vitória*
Repertório de Daniel Gouveia


Vende raminhos de rosas
A Rosinha dos meus ais
Quando me vende uma rosa
Seja branca ou cor de rosa
Olho os seus olhos fatais

Vende rosas à tardinha 
A quem quer que por lá passe
Quem me dera que à noitinha 
Após a venda, a Rosinha
Uma rosa me ofertasse

P'ra perfumar sua trança 
Traz uma rosa em botão
Ainda não perdi a esperança 
De ter um dia essa trança
Desfolhada em minha mão

Ó Rosinha põe-me ao peito 
Aquela rosa em botão
Em troca dou-te, com jeito 
Este meu amor-perfeito
Eu dou-te o meu coração

Uma praga

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Eu vou rogar-te uma praga
Vou ser cruel, bem o sei
Por causa do teu desdém
Já que me dás tão má paga
A tanto amor que te dei
Como não dei a ninguém

E a praga que há-de cair-te 
Que há-de ser o teu castigo
Que te pasma e que te assombra
Há-de sempre perseguir-te 
Há-de sempre andar contigo
Há-de ser a tua sombra

Deus permita que te vejas 
Mais pequena, mais rasteira
Que a própria relva do chão
E que tão pequena sejas 
Que possas caber inteira
Dentro do meu coração

A mulher solidão

Sandra Correia / Raúl Ferrão “fado carriche”
Repertório de Sandra Correia


Eu julgo saber de cor
Um amor que não conheço
Vivo em suspiros de dor
Numa dor que à voz confesso

Nas se minto ao coração 
Pedindo que bata lento
Sou a mulher solidão 
Amargando desalento

Eu julgo saber de cor 
Teu olhar, talvez me iluda
Tua voz aberta em flor 
Teu sorrir que me desnuda

Nas se minto ao coração 
Pedindo que bata forte
Sou a mulher oração 
Rezando p’la minha sorte

Anda conhecer Lisboa

Letra de Isidro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vem daí ouvir o fado
Onde a história ’inda ressoa
Ver presente e ver passado
Depressa que o tempo voa;
Ver presente e ver passado
Anda conhecer Lisboa

Vem andar pela cidade 
Vem ver seu rio encantado
Vem saber o que é saudade
Que o povo canta em tom magoado;
Vem saber o que é saudade 
Vem daí ouvir o fado

Vem ver na praia também 
Uma torre forte e boa
Velha Torre de Belém 
Viu partir as naus de Goa
Velha Torre de Belém 
Onde a história ’inda ressoa

As certezas e quimeras 
Aqui vivem lado a lado
Podes ver todas as eras 
Que a cidade tem encontrado;
Podes ver todas as eras
Ver presente e ver passado

Anda ouvir apregoar 
A gente da Madragoa
Anda pois hás-de gostar 
Da forma como apregoa;
Anda pois hás-de gostar 
Anda conhecer Lisboa

Marcha da A.F.Madeira

Letra e música de José Fernandes Castro
Gravado pelo autor no CD da Associação de Fado da Madeira

Madeira do encanto natural
Berço real da nossa mãe natureza
Madeira, namorada do amor
Que tem a cor da guitarra portuguesa

Madeira onde o luar da noite calma
Tem a forma feliz dum coração
Tem sonhos que alimentam nossa alma
Na alma da nossa Associação

Vamos sorrir / AFM
Vamos sonhar / AFM
Vamos contar histórias que o fado tem
Vamos sorrir / AFM
Vamos sonhar / AFM
Vamos viver felizes como ninguém

Afina a guitarra

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Afina a guitarra agora
Que eu quero cantar um fado
E tu, se te vais embora
Também hás-de ir afinado

Pôs-me o coração a arder 
Teu olhar, por meu desgosto
Hei-de mandá-lo prender 
Por crime de fogo posto

Se mais de mim de aproximas 
Vamos juntar, sem fervor
Quatro lábios, quatro rimas 
P’ra uma quadra d’amor

Cantigas do triste fado 
Não cantes ao pé de mim
Eu sempre as tenho chorado 
Gosto mais d’elas assim

Destino de mulher

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quando a noite se fechava
E outra noite nascia
Numa estrela sem fulgor
Nos seus olhos se me olhava
Lágrimas de terra fria
Falavam do meu amor

Em jeito de asa ferida 
Inventava um céu mais puro
Num perdão ao sol-poente
E assim feita minha vida 
Horizonte que procuro
Entristecia contente

Foi destino de mulher 
Quase mundo quase mar
Promessa de areal
Morreu num leito qualquer 
Sem mais nada p’ra sonhar
Mas morreu em Portugal

Coentros e rabanetes

Letra e música de Jorge Atayde
Repertório de Rodrigo


Coentros e rabenetes 
Não vão à mesa do rei
Alpercatas e coletes
São coisas reles, eu sei
Mas ele gostava de ter
Tralhas velhas a valer 
E outras coisas que eu usei

Se os ricos vivem à toa 
Não precisando de nós
A vida não é tão boa 
Quando é vivida a sós

O mundo precisa de ter 
Homens grandes a sofrer
Que apesar de terem tudo 
No fundo hão-de morrer

Se tudo o que eu quisesse 
Eu conseguisse alcançar
Não dava tanto valor 
À vontade de lutar

O mesmo acontece aos outros 
Que por vezes queriam ter
Momentos de vida, soltos 
P’ra saberem o que é viver

A vida é assim

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


A vida é cheia de espinhos
Para quem for infeliz
Pois quem não tiver carinhos
Nunca pode ser feliz

Todos maldizem a hora
Boa ou má em que nasceram
Mas há sempre alguém que chora
Os amores que se perderam

É sempre assim esta vida
Mesquinha e cheia de abrolhos
E a felicidade perdida
Vive a bailar em mil olhos

Pois se até as próprias flores
Quando murchas, sem valia
São comparadas às dores
Que sofremos dia a dia

A vida é assim

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Eu não sei por que razões
Sentimos em nossos peitos
Um peso enorme e profundo
São talvez os corações
Que pulsam insatisfeitos
Com as tristezas do mundo

Se vemos tanta amargura
Estampada nalguns rostos 
Onde existe a dor sentida
Também lemos a tortura
Dos que escondem os desgostos 
Desta malfadada vida

Mulheres, crianças e velhos
Pelas ruas da cidade 
Passam por nós a implorarem
Pelos Santos Evangelhos
Um pouco de caridade 
P’ra suas dores minorarem

Mais além sorrindo passa
Um ranchinho de donzelas 
Que findaram seus afãs
Mais longe vê-se a desgraça
Flores que já foram belas 
Com lábios cor de romãs

E entre muita incoerência
Duma negra ingratidão 
Desta vida de amargor
Sofre a nossa inteligência
E quem tiver coração 
Não resiste a tanta dor

Ai pobre dela

Letra e música de Luís Santos Silva
Repertório de Valdemar Vigário


Aquela
Aquela mulher que passa
Ai pobre dela
Já não tem a mesma graça
Aquela 
Que foi minha e eu fui seu
O nosso amor traiu
Não é minha nem sou dela

Aqui vem ela
Como uma rosa enjeitada
Aqui vem toda emproada
Como que eu pretenda vê-la
Vai-te embora mulher
Não quero ver-te de perto
Irei viver pró deserto p’ra não te ver


O fado 
Que ela anda a correr
Será o fado 
De quanto me fez sofrer
Agora 
Já não pode haver reparo
Terá que pagar quem caro
Tudo o que me fez outrora

Fado do Porto?

Manuel Alegre / João Braga
Repertório de João Braga
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Sujeito a confirmação // Alguém pode ajudar?
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No princípio de tudo era a cidade
Cinco letras de Douro e de Cristal
Um gosto de Ribeira e Liberdade
Aqui onde houve nome, Portugal

Cinco letras de pátria e de raiz
Sabem a vinho e pão quando as soletras
Cinco letras e o resto é um país
Onde o Porto de diz com cinco letras

E há Camilo a escrever perdidamente
A mão de Teresa acena por Simão
Amor de Perdição que é o que sente
Quem traz na alma o Porto e a paixão

E há um D. Pedro a passar com seu cavalo
Cinco letras de rio e de Rabelo
E quando alguém vier para cercá-lo
Verá chegar os Bravos do Mindelo

O primado das palavras

Letra de Joaquim Pessoa
Desconheço se esta letra foi gravada
Publico-a na esperança de obter informação credível

Este poema foi gravado por Carlos Mendes em 1978
com o título *NOTURNO*

Amor, não sei de coisa mais violenta
Que ficar de noite à tua espera
É triste como uma manhã cinzenta
Destruindo o coração da Primavera

E aqui como um pássaro deitado
Julgando ouvir na chuva a tua voz
A madrugada deita-se a meu lado
Fingindo que na terra estamos nós

Mas eu sinto chegar esta amargura
Que vem fechar-me os olhos e depois
Já nem sei se é um sono ou se é loucura
No quarto onde estou só, ficamos dois

E nada mais me importa, já não espero
Aquela que enche a noite de alegria
Então para dizer quanto te quero
Eu faço amor contigo até ser dia

Paixão em flor

José Fernandes Castro / Fontes Rocha *fado dos sentidos*
Repertório de 
Mélanie

Neste olhar apaixonado
Constante e enternecido
Bailam os versos dum fado
Que por amor, faz sentido

Bailam murmúrios secretos 
Do melhor que a vida tem
Os sonhos são mais concretos 
Quando se gosta d’alguém

Sonhando, vamos sentindo 
Os compassos da paixão
E lá vamos dividindo 
Os sopros do coração

Quando a luz da felicidade 
Faz do beijo, um bem maior
Devemos dar liberdade 
Aos desejos do amor

A Rosa da madrugada

Letra de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Publico-a na esperança de obter informação credí
vel
Letra transcrita do livro editado pela 
Academia da Guitarra e do Fado

A Rosa que há muito andava
Fazendo da noite dia
Numa vida desolada
No bairro onde morava
Toda a gente a conhecia
P’la Rosa da Madrugada

Uma noite em que as estrelas
No céu, a pátria da luz 
Lembravam gotas de mel
A rosa, pelas vielas
Arrastava a sua cruz 
Feita de pranto e de fel

Já exausta, então, parou
Junto ao portal, muito velho 
Duma taberna qualquer
E, embevecida, escutou
O mais salutar conselho 
P’ra vida duma mulher

Revestida de amargura
Com a sua carne viva 
Presa à sorte que a abastarda
Seguiu p’la viela escura
Cabisbaixa, pensativa 
Direita à sua mansarda

E ao surgir a luz da aurora
Jurou, por alma dos pais 
Tornar-se mulher honrada
Saiu do bairro p’ra fora
E nem sombra se viu mais 
Da Rosa da Madrugada

Letra publicada no jornal Alma de Marialvas
(órgão de Os Marialvas de S. Cristóvão), número único, Julho de 1957

Origem do Fado

Isidoro de Oliveira / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertóro de Inês Vila-Lobos
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Numa praia deserta a que foi dar
Agarrado aos destroços de um veleiro
Em fervorosa prece olhando o mar
Soluçava baixinho um marinheiro

Dessa prece nasceu uma canção
De tom triste, dolente e magoado
Que cantada parece uma oração
E a essa canção chamou-se o fado

Com destroços da pobre embarcação
E uns velhos arames que lhe amarra
Uma lira talhou em coração
E deu-lhe o triste nome de guitarra

No trinar da guitarra ainda é lembrado
O drama do naufrágio do veleiro
E na voz de quem hoje canta o fado
Ouve-se a oração do marinheiro

Portais da Mouraria

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quem for hoje à Mouraria
Já não vê rasto do fado
Perdeu-se p’la noite fria
Ou nas sombras do passado

Nunca mais noites de estúrdia 
Ao ruído das guizeiras
Nunca mais se ouve a balbúrdia 
Dos cafés de camareiras

Foi-se embora o fado triste 
Como triste o bairro era
Na Moirama não existe 
Nem vestígios da Severa

Nunca mais anda a boémia 
Com o fado à rédea solta
A Moirama é irmã gémea 
Dum passado que não volta

Foi-se o fado dos desejos 
Que das vielas surgia
E adormecia com beijos 
Nos portais da Mouraria

Estas quadras que vos deixo

António Aleixo / Helena Moreira Viana
Repertório de Maria do Rosário Bettencourt


Tu és fonte de água parda 
Que deixa ver a nascente
Porque me mostras na cara 
O que o teu coração sente

Se te censuram estás bem 
P'ra que a sorte te perdure
Mal de ti quando ninguém 
Te inveje, nem te censure

Diz que viver é sofrer
Concordo, mas não compreendo
Que a ninguém oiço dizer
Quanto se aprende sofrendo
Após um dia tristonho
De mágoas e agonias
Vem outro, alegre e risonho
São assim todos os dias


Está na mão de toda a gente 
A felicidade, vê lá
Que o homem só 'stá contente 
No lugar onde não está

O mundo só pode ser
Melhor do que até aqui
Quando consigas fazer 
Mais p’los outros que por ti

Secretismo

José Fernandes Castro / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Ana Margarida Leal

Guarda contigo o segredo
Do beijo, que quase a medo
Trocamos em boa hora
Só o amor compreende
Que a boca nunca se rende
Ao desejo que a devora

Não contes, nem mesmo ao vento
Que vivemos um momento 
De envergonhada ternura
O vento pode soprar
E ao soprar, divulgar 
Contornos dessa loucura

Esse beijo envergonhado
Que fez com que o nosso fado 
Tivesse novo clarão
Será sempre uma saudade
Cheia da cumplicidade 
Que tem de haver na paixão

Guarda na tua memória
O beijo que fez história 
Na história que a alma sente
Prometo, meu doce bem
Nunca contar a ninguém 
Que te beijei…. loucamente

Ramo de venturas

Letra de Henrique Rego dedicada a Jaques Rocha
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Transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Aquela pobre cigana
A quem deste, atentamente
Tua mão pequena e fina
Ganha o pão da caravana
Lendo a sina a muita gente
E não lendo a sua sina

Ela possui o condão
Nativo, de predizer 
Um futuro sempre certo
Pois lê nas linhas da mão 
Como nós podemos ler 
Num livro que esteja aberto

Profetizou-te, em voz doce 
Um amoroso porvir 
De ventura e de esplendor
Como se fosse possível
Este nosso amor fruir 
Mais ventura, mais amor

Nossos corações leais 
Aos laços de amor profundo
Em que há muito nos prendemos
Já são pequenos demais 
Para guardar neste mundo
As venturas que colhemos

Portanto, se és venturosa 
Tens o dever de implorar 
Nas tuas rezas futuras
P’ra na cigana inditosa
O Destino desfolhar 
O seu ramo de venturas

À procura do fado

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Lisboa, de lado a lado
Corri de noite e de dia
Fui à procura do Fado
Que fugiu da Mouraria

Bati às portas de Alfama 
Disseram-me com desgosto
Que se limpara da lama 
E saiu todo bem posto

Fui depois ao Bairro Alto 
Onde o Fado era benquisto
Pus o bairro em sobressalto 
Mas ninguém o tinha visto

Andei pela Madragoa 
Sem lá o ter encontrado
Em suma: Corri Lisboa 
E não encontrei o Fado

Já as esperanças perdi 
De o ver p’las tascas vizinhas
Se alguém o vir por aí 
Dê-lhe lá saudades minhas

Olho para ti Lisboa

Letra e música de Bruno Fonseca
Repertório de Ana Margarida Leal


Na colina ali plantada
Vejo a musa que é Lisboa
Coroada e enfeitada
Do alto do Castelo até à Madragoa

Vives plena de alegria
Por ver o rio correr para o mar
Na proa de uma canoa faço da poesia
Um lugar p’ra te imaginar

Olho para ti Lisboa
Coberta de luz e p’las águas do Tejo
Do outro lado do rio
Procuro p’lo bairro onde me revejo
Olho aqui desta janela
Serás tu Lisboa constante tentação
Lisboa, não sei quem amo
Pois trago a incerteza dentro do coração


Do outro lado da ponte
Ao cacilheiro vou perguntar
Trago fado no horizonte
Sempre que penso em regressar

Cidade de tradição
Foste tu a caravela que perdi
Vejo na canção a contradição
P’la cidade que escolhi

A fiandeira

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Moreninha feiticeira
Chamavam à fiandeira
Porque tinha luz no olhar
Quando na roca fiava
Cantigas d’amor cantava
Que até fazia chorar

Num serão, ao desafio
A fiar horas a afio 
O seu coração fiou
Com o fuso dos desejos
Fiou um fuso de beijos 
E já nunca mais cantou

Pôs-se a fiar amarguras
Conheceu as falsas juras 
Em que se tinha fiado
Sentiu a alegria presa
Adoeceu de tristeza 
E pôs a roca de lado

Quando a neve no caminho
Lembrava montes de linho 
E o inverno era tristonho
Lá morria a fiandeira
Que fiara a vida inteira 
Na roca branca d’um sonho

Passa e não passa

Flávio Gil / Adriano Batista *fado macau*
Repertório de Ana Margarida Leal


O tempo passa e não passa
E fico assim, neste impasse
Porque ele não se ultrapassa
E eu só quero que ele passe

O tempo passa, bem sei 
Pelo relógio acertado
Mas se esperamos alguém 
Mais parece estar parado

O tempo será um louco 
Em que, sem querer, eu tropeço
Mas ao vê-lo andar tão pouco 
Quase sou eu que enlouqueço

O tempo passa e não passa 
Na armadilha em que me tens
Passa no tempo que espaça 
Não passa porque não vens

Balões, ilusões ao vento

Letra de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
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Transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Dedicada a Júlio Duarte e publicada no jornal Guitarra de Portugal em 1937


Foi um pequeno balão
De papel, branco de neve
Que deitei, por minha mão
Em noite de S. João
Ao sabor do vento leve

Tranquilamente, no ar 
Sob estrelado dossel
Embebido de luar 
Era uma estrela a brilhar 
Esse balão de papel

Uma voz das mais eleitas 
Segredou-me ao coração
Porque é que ao espaço não deitas
As ilusões já desfeitas 
Como deitaste o balão?

A custo contive o pranto 
Que inundava os olhos meus
E contemplei com encanto
Na noite daquele santo 
O balão subindo aos céus

Ilusões, flores colhidas 
No jardim da mocidade
Que fenecem, ressequidas
Quando vemos nossas vidas 
Com os olhos da verdade

Roseira maior

Dinis Muacho / Filipe Pinto *fado meia noite*
Repertório de Ana Margarida Leal

Talvez para meu castigo
Sôbolos rastos da aurora
Amar, amei, sem abrigo
No corpo que me devora

Talvez até as crenças vãs 
Que bebi por sua taça
Me olhem todas as manhãs 
Em que sou algoz e sou caça

Sopro de loucuras vãs 
Dadas à noite tão doce
Gomos em sangue das romãs 
Beijos por dar, antes fosse

É de ocre, é de anil 
Em que desfaço o fulgor
Coração de verde abril 
Na casa breve do amor

Amor é entrega

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada.
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quando alguém nos ocupa o pensamento
Sentimos junto a nós, seja onde for
Temos dentro do peito um sentimento
E esse sentimento é o amor

O amor é ternura e é desejo
Desejo de beijar a quem amamos
E quando com ternura surge um beijo
Com ternura, outro beijo desejamos

Recusa da ternura dum só beijo
Decerto traz tristeza e sofrimento
Pois matando o amor feito desejo
Deixa vivo o amor que é sentimento

Mas quando nós amamos de verdade
Ao amor não pedimos, só nos damos
Na vida só sentimos felicidade
Se fizermos feliz a quem amamos

Não acredites, meu bem

Ana Margarida Leal / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Ana Margarida leal

Disse-te adeus com a boca
Até já com o coração
Agora minh’alma anda rouca
De chamar teu nome em vão

Não acredites, meu bem 
Se digo que te esqueci
Quero-te mais que a ninguém 
Sempre que o neguei, menti

Procurei teus olhos doces 
Só encontrei solidão
Quem dera que ainda fosses 
Dono do meu coração

Já não voltas, estou ciente 
O nosso amor terminou
Mas guardarei para sempre 
A paixão que nos juntou

Cantador de fado antigo

Mote de Conde Sobral / Desenvolvimento de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ao nascer trouxe comigo
Uma sina fatalista
A sorte de ser fadista
Cantador de fado antigo

Ao nascer trouxe comigo 
O meu destino marcado
De ter o fado por fado 
É esse o fado que sigo
Mas o fado é meu amigo 
E duma forma altruísta
Deu-me uma alma de artista 
Deu-me a sina de cantar
Mesmo que queira chorar
Uma sina fatalista

A sorte de ser fadista 
Nem sempre nos traz a sorte
E do berço até à morte 
Nunca tem quem lhe resista
E nesta vida de artista 
Que é do fadista o castigo
Vê-se no fado o amigo 
Que se canta com amor
Por isso sou cantador
Cantador de fado antigo

Por ironia

Ana Margarida Leal / Armando Machado *fado maria rita*
Repertório de Ana Margarida Leal


Por ironia, quem sabe
Quando em nós temos certezas
Que nos acalmam o peito
Algo surge que em nós cabe
E nos atiça as fraquezas
pondo o coração a jeito

Por acaso ou por destino
Tropecei na tua vida 
E caí no teu regaço
Procuro agora, sem tino
A razão então perdida 
Que me turva a cada passo

Só sei que sem ti não quero
Viver meus sonhos vazios 
Nem trilhar outros caminhos
És, para meu desespero
O sol nos meus dias frios 
E na solidão, o carinho

Por pensar que já sabia
Tudo o que havia a viver 
Andando assim iludida
Por pouco quase perdia
O acaso de te querer 
E te ter na minha vida

No altar do Deus Amor

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


No altar do Deus Amor
Até a dor é amena
Viver sem amar alguém
A meu ver, não vale a pena


Ter encantos, ter beleza 
No seu mais áureo fulgor
É ter uma vela acesa 
No altar do Deus Amor

O amor só tem dois extremos 
Ou nos quer ou nos condena
Se é por amor que sofremos 
Até a dor é amena

Enquanto a vida for nossa 
Vai-se um amor, outro vem
Eu também não sei quem possa 
Viver sem amar alguém

Sem ter num peito guarida 
E um olhar que nos acena
A vida, só por ser vida 
A meu ver, não vale a pena

Dilúvio

Ana Margarida Leal / João Black *fado menor do porto*
Repertório de Ana Margarida Leal


Corre-me dentro do peito
Um dilúvio de saudade
À noite quando me deito
Deixo que corra à vontade

Segue veloz e levando 
A poeira dos meus dias
Os sulcos que vai rasgando 
São fantasmas de alegrias

E no silêncio, a escutar 
Julgo saber a razão
Porque há tanto, o meu olhar 
Quase afoga o coração

Esta saudade sem fim 
Do que me falta viver
Só se acalma quando em mim 
Deixo os meus olhos chover

Fado malandro e vadio

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Manhã, noite perdida, junto ao rio
Com o cacau famoso da Ribeira
Diz-se, justificando a bebedeira
Tudo é culpa do fado, esse vadio

Malandro, conhecido cadastrado
Burlão, habilidoso, vigarista,
Diz, com um ar de queixa fatalista
A culpa é do malandro do meu fado

Por acolher com fome, sede e frio
A miséria que há na vadiagem
Por acolher por dó a malandragem
Dizem que o fado é malandro e é vadio

Mas em paga de tanta caridade
E por tanto se dar, o pobre fado
Acabou por ser de tudo despojado
E pouco mais lhe resta que a saudade

Há, porém, na saudade uma riqueza
Nela cabe o pecado e a virtude
Convive a velhice e a juventude
Na saudade está a alma portuguesa

Passaram-se uns poucos dias

Flávio Gil / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Ana Margarida Leal

Passaram-se uns poucos dias
Desde que te foste embora
Passaram-se as alegrias
Todas que não tenho agora

Passaram-se uns poucos dias 
Mas em mim, nada passou
E as coisas que me dizias 
O tempo não as levou

Eu não sei se já sabias 
Como corre o calendário
A conta que faço aos dias
Tem mais contas que um rosário

Pensar nisso ainda é pior 
Passaram-se uns poucos dias
Adiaste o nosso amor 
E as saudades não adias

A voz do mar

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Um dia fui-me sentar
À beira do mar salgado
Nisto, ouvi a voz do mar
Com a terra conversar
Sobre as coisas do passado

Que é das tuas caravelas 
Que há muito não tenho visto?
Como ‘inda me lembro delas 
Traziam sempre nas velas 
A bendita Cruz de Cristo

Parece que ainda as vejo 
Tão soberbas, tão galhardas
Saindo a barra do Tejo
Impondo um simples desejo
Pelas bocas das bombardas

Como elas iam então 
Todas nimbadas de luz
Desde o Brasil a Ceilão 
Da Terra-Nova ao Japão
E de Macau a Ormuz

Nisto o mar olhou a terra 
Estremeceu de surpresa
Altivo, como uma serra 
Passava um barco de guerra
Da Marinha Portuguesa

Tudo pode vir do nada

Agostinho da Silva / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Ana Margarida Leal


Tudo pode vir do nada
Várias tintas, várias telas
Esta vida em que vivemos
É apenas uma delas

Mil outras no mesmo espaço
Mil outras em hora igual
Rivalizam no sonhar
O que pensamos real

E podemos ir além
Neste quadro que vos trago
Tempo é tempo imaginado
Em que se imagina espaço

Alfama é sempre fado

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ao longo da encosta alcantilado
O povo a pouco e pouco construiu
Entre estreitas vielas sem passado
Um modesto mas belo casario
Que desce do Castelo até ao rio

Quando mercê do rei conquistador
Lisboa ficou livre da moirama
À sombra do castelo protetor
O velho casario já tinha fama
E era conhecido por Alfama

Do Tejo pelas rotas do Infante
Partem frotas abrindo as suas velas
Esse povo de Alfama mareante
Diz adeus aos seus becos e vielas
Embarca e faz-se ao mar nas caravelas

Na ausência há a mentira e a verdade
Há a virtude heróica e o pecado
Na virtude o amor é a saudade
Na mentira é ódio ao ser amado
Mas saudade ou ciúme, é sempre fado

Compasso imperfeito

Ana Margarida Leal / Alberto Simões Costa *fado dois tons*
Repertório de Ana Margarida Leal

Deste-me a mão e parti
Perdida à tua procura
Porém, nem sequer te vi
Tão cega a minha loucura

Deste-me um pouco de nada
Alimentando a quimera
Fazendo da madrugada 
O nascer da Primavera

Deste-me um beijo e prendeste 
Dentro de mim, a saudade
E o carinho que me deste 
Foi em mim felicidade

Neste compasso imperfeito 
De que é feita a nossa vida
Guardei teu amor no peito 
E perdi-o de seguida

Espelho

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Publicada no jornal Guitarra de Portugal, de Outubro de 1939
com a indicação de pertencer ao repertório de Filipe Pinto.

Quantas vezes os espelhos
A reflectir ansiedades
Não falam, mas seus conselhos
Fazem-nos ver as verdades

Quantas vezes os espelhos
Mostram o grande condão
De serem quase evangelhos
Falando a voz da razão

Neles vimos nossos rostos  
A refletir ansiedades
Alegrias e desgostos 
Cabelos brancos… saudades

Mas é dos feios aos velhos 
A quem mais fazem sofrer
Não falam, mas seus conselhos 
Nunca se podem esquecer

Se originam desesperos 
Não perdoando às idades
É porque, sendo sinceros 
Fazem-nos ver as verdades

Agora é que são elas

Tiago Torres da Silva / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Ruca Fernandes
Letra gentilmente enviada pelo intérprete

Não sei como pedir à Mouraria
Que escute a minha voz com atenção
Eu canto mas não sei se cantaria
Se o meu bairro não fosse uma canção

Até posso cantar p’lo estrangeiro
Os fados de que é feito o meu país
Levando a Mouraria ao mundo inteiro
Eu tenho a sensação de ser feliz

Mas é pisando o pó destas vielas
Que o fado se transforma em tradição
Oiço a guitarra - agora é que são elas
Alguém pede que eu cante... eu digo não

Depois... vem a saudade e por magia
As noites têm medo de estar sós
Então vão segredar à Mouraria
Que o fado quer morar na minha voz