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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Vento

Frederico de Brito / Acácio Gomes *fado bizarro*
Repertório de Celeste Rodrigues
A estrofe assinalada a verde nao foi gravada

Ouvi bater de leve à minha porta
Pensei de mim p’ra mim, nesse momento
Foi ele que bateu, pouco me importa
Mas fui abrir a porta… e era o vento

Mandou-me um encontrão, sem mais cautela
Naquela dura fúria com que entrou
Quebrou-me os quatro vidros da janela
E até o candeeiro se apagou
---
Rasgou-me de alto a baixo um cortinado
Rolaram duas jarras pelo chão
E o vento, num bailar desenfreado
Quebrava o que encontrava mais à mão

---
Até uma guitarra já velhinha
Caíu, quebrando as cordas num queixume
O vento nessa fúria que mantinha
Lembrava o meu rapaz com o ciúme

Deixando-me a um canto, muda, absorta
Naquele pobre quarto de devassado
Saíu a assobiar batendo a porta
Assim como ele faz se está zangado

Sentimento fadista

João Mário Grave / João do Carmo Noronha *fado pechincha*
Repertório de Mónica de Jesus

Dizem que o fado é saudade
Miséria sofrer e dor
Mas o fado é na verdade
O sentir do cantador

Em cada palavra sua 
Em cada verso cantado
O cantador insinua 
A tristeza do seu fado

Não canta por simpatia 
Nem canta para viver
É que cantando alivia  
Um pouco do seu sofrer

Tornando tão magoado 
O timbre da sua voz
Que o fado fica gravado 
Na alma de todos nós

Bucólica

Miguel Torga / Hermano da Camara
Repertório de Carlos Barra

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento
De searas onduladas pelo vento

De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais

De poeira, de sombra duma figueira
De ver esta maravilha;
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha

No dia em que tu partiste

Ricardo Maria Louro / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Mónica de Jesus
                                                                                              
No dia em que tu partiste
O meu corpo só e triste
Adormeceu na cama fria
No silêncio em solidão
Afoguei meu coração
Naquela casa vazia

No dia em que tu partiste
Dos meus olhos me fugiste
Vesti noites e cansaços
Fiz dos cravos o teu leito
Plantei rosas no meu peito
E adormeci no teu regaço

No dia em que tu partiste
Foste embora nem sentiste
Quanta dor ficou em mim
Quis a morte por caminho
Tive o fado por destino
Não te esqueço mesmo assim

Quem canta seu mal espanta

Augusto Leão / Alfredo Duarte *menor-versículo*
Repertório de Nano Vieira

Quem canta seu mal espanta / alegremente
Diz o povo e com razão / este ditado
Quando vibra na garganta / de quem sente
E transmite ao coração / um terno fado

Não me canso de dizer / nem cansarei
Tanta vez, eu sei lá quanta / estou ciente
Mas cá no meu entender / sempre direi
Quem canta seu mal espanta / alegremente

Em criança ouvi alguém / a murmurar
Com uma certa emoção / estou lembrado
Quanta vez canta uma mãe / p’ra não chorar
Diz o povo e com razão / este ditado

Também se canta ao luar / lendas tão belas
Poemas que nos encantam / simplesmente
Aos mistérios que há no mar / e às estrelas
Quando vibra na garganta / de quem sente

Todos cantam, bem ou mal / isso q’importa
Se em tudo isto há paixão / não é pecado
É um prazer sentimental / que nos conforta
E transmite ao coração / um terno fado

Escrevem os fados que canto

Varela Silva / Popular *fado menor*
Repertório de Celeste Rodrigues

Escrevem os fados que eu canto
Eu canto fados que são
D’outros, mas que no entanto
Saiem do meu coração

E se um dia eu falasse
Do meu fado mesmo assim
Talvez que eu nunca eu contasse
O fado que existe em mim

Quem me ouve tem um fado
Diferente ou igual ao meu
Que ainda não foi cantado
Que ainda ninguém escreveu

O que era teu

Tiago Torres da Silva / Alfredo Duarte *menor-versículo*
Repertório de Mónica de Jesus
                                                                         
Quem me dera ter pecado / nos teus braços
Se eu te tenho mais paixão / que outra qualquer
E depois de o ter quebrado / em mil pedaços
Já não tenho coração / p’ra te acolher

O meu corpo… dar-to-ia / sem pudor
Mas a ânsia de te amar / não me valeu
Pois se não me pertencia / o teu amor
Também não te pude dar / o que era teu

Guardo agora cada beijo / num sacrário
Beijos feitos de poeira / beijos de ar
E transformo o meu desejo / num calvário
Que eu percorro a vida inteira / sem parar

Mas são tantos os cansaços / tanto o Fado
Tanto mal que ele me fez / e no entanto
Quem me dera nos teus braços / ter pecado
P’ra pecar mais uma vez / sempre que o canto

Deixei-a

Neca Rafael / Miguel Costa
Repertório de Nano Vieira

Coisas há que a gente deixa
Deixa com tanta saudade
Deixa sem razão de queixa
P’ra manter uma vontade
Vontade que não existe
Mas que eu fiz vigorar
Oh… como a vida foi triste
Quando eu a deixei ficar

Deixei-a fazer tudo o que ela quis
Deixei-a p’ra ser feliz
Deixei-a à sua vontade
Nem amor podia dar-lhe
Mas não podia roubar-lhe
A sua felicidade

Eu teria de a deixar
Que a deixar, mas não por mal
E Deus a deixe arranjar
Companheiro ideal
Que não seja como eu
Eu, que ela só soube amar
Todo o seu ser era meu
E eu deixei-a ficar

Finalmente

Rui Eduardo Rocha / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Mónica de Jesus

E tu que me fizeste tanto bem
Galgaste o nosso amor que desmaiava
Sabias, foi ardente, mas porem
Já lentamente a chama se apagava

Trocavas as palavras hora a hora
Desculpas inventadas sem pensar
Voltavas e partias sem demora
Dizias: “hoje não posso ficar”

Se a noite cada vez mais nos fugia
A madrugada era solidão
Esperando via então nascer o dia
E o Sol não me aquecia o coração

Enchi o peito de ar e de coragem
Soprei e apaguei o que restava
Do amor o que ficou, foi a imagem
E final
mente a chama se apagava

Chapéu preto

Letra e música de Arlindo de Carvalho
Repertório de Celeste Rodrigues

A azeitona já está preta
Já se pode armar aos tordos
Diz-me lá, ó cara linda
Como vais de amores novos;
Já se pode armar aos tordos

É mentira, é mentira
É mentira sim senhor
Eu nunca roubei um beijo
Quem mo deu foi meu amor

Quem me dera ser colete
Quem me dera ser botão
Para andar agrarradinha
Juntinha ao teu coração;
Quem me dera ser botão

Ai que lindo chapéu preto
Naquela cabeça vai
Ai que lindo rapazinho
Para genro do meu pai;
Naquela cabeça vai

Covers

Duarte / João do Carmo Noronha *fado pechincha*
Repertório de Duarte

Toda a saudade é fingida
A tristeza disfarçada
Parecem já não ter vida
De Fado não têm nada

Já não são fados são covers 
Imitações desalmadas
Reproduções do destino 
Tantas vezes tão cantadas

Esses que tentam viver 
Aquilo que outros viveram
Acabam por se perder 
No tanto que não fizeram

Vampiragem pós-moderna 
Da Lisboa dos turistas
Falam da velha taberna 
Mas querem ser futuristas

Noite de inverno

Frederico de Brito / Alfredo Duarte Marceneiro
Repertório de Celeste Rodrigues
  
Olhou p’ra mim e sorriu
Mas o sorriso indicava
O desprezo mais atroz
Pôs o chapéu e saíu
Foi só quando eu vi que estava
Tudo acabado entre nós

Fui ‘inda a correr à escada
Perguntei-lhe a que horas vinha 
Falei-lhe dum modo terno
Depois da porta fechada
Fiquei para ali sozinha
Naquela noite de inverno

Senti a casa mais fria
Pois no meu quarto faltava 
Amor, carinho e abrigo
Lá fora, a chuva caía
E até parecia que ‘stava
O céu a chorar comigo

P’lo amor com que m’iludo
Pelo mal que ele me fez 
Pelo seu desprezo eterno
Era capaz de dar tudo
Só p’ra viver outra vez 
Aquela noite de inverno

Quadras soltas

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Fado cego*
Repertório do autor

É loucura desabrida
Viver preso à solidão
E viver sem ter guarida
Mesmo se nos dão a mão

As saudades são velinhas 
Que eu acendo à Virgem Mãe
Se tiveres saudades minhas 
Pede a Deus por mim também

A dor tem os pés no chão 
Sabe bem o que é sofrer
O amor tem a ilusão 
De que nunca vai morrer

Ficar - é dor que não morre 
Partir - é fé que não há
Ficar - é tempo que corre 
Partir - é ver no que dá

Sonhei que a vida sorria 
Ao ver a morte chegar
Porque a vida não sabia 
Que a morte a ia levar

Resto de Mouraria

Carlos Conde / Martinho d'Assunção
Repertório de Celeste Rodrigues

Daquela viela antiga 
Dum bairro mal afamado
Vinha um resto de cantiga 
Nos versos dum triste fado

Maia além junto à esquina 
Uma imagem de Jesus
E a luz de lamparina 
E uma sombra aos pés da cruz

O fado era a saudade, era uma reza
E a voz o precipício da tristeza
Era a saudade a cantar
Era a voz da nostalgia
A chorar p'la Mouraria

Banco de pinho a um lado 
Onde o fado se sentava
E um Cristo crucificado 
Que uma fé iluminava

Por isso, agora canto 
Tudo quanto ali havia
Naquele velho recanto 
Dum beco da Mouraria

De saudades vou morrendo

António Botto / António Palma
Repertório de António Palma


De saudades vou morrendo
E na morte vou pensando
Meu amor, porque partiste
Sem me dizer até quando?

Na minha boca tão triste
Ó alegrias cantai
Mas quem se lembra de um louco
Enchei-vos de água, meus olhos;
Mas quem se lembra de um louco
Enchei-vos de água, chorai

Olha a mala

Letra e música de Manuel Casimiro de Almeida
Repertório de Celeste Rodrigues

Caiu um hidroavião 
Eu não sei donde é que ele é
Não trazia ninguém dentro 
Foi parar à Nazaré

Olha a mala… olha a mala
Olha a malinha de mão
Não é tua… nem é minha
E do nosso hidroavião

O nosso hidroavião 
É de madeira mais fina
Foi cair à Nazaré 
Por falta de gasolina

Eu um dia fui à praia 
De manhã, de manhãzinha
Não vi pescadores nem peixe 
Eu só vi uma malinha

De quem é esta malinha 
Que um dia deu à costa
Que ela veio aqui parar 
Se cá vem é porque gosta

Fala do homem nascido

António Gedeão / José Nisa
Repertório de António Palma


Venho da terra assombrada
Do ventre de minha mãe
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido 
Por me trazerem aqui
Que eu nem sequer fui ouvido 
No acto de que nasci

Trago boca para comer 
E olhos para desejar
Tenho pressa de viver 
Que a vida é água a correr

Tenho pressa de viver 
Que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo 
Não tenho tempo a perder

Minha barca aparelhada 
Solta o pano, rumo ao norte
Meu desejo é passaporte 
Para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem 
Mem marés que não convenham
Nem forças que me molestem 
Correntes que me detenham

Quero eu e a natureza 
Que a natureza sou eu
E as forças da natureza 
Nunca ninguém as venceu

Com licença, com licença 
Que a barca se fez ao mar
Não há poder que me vença 
Mesmo morto hei-de passar

Não há poder que me vença 
Mesmo morto hei-de passar
Com licença, com licença 
Rumo à estrela polar

Meu amor

Letra e música de Pedro Fernandes Martins
Repertório do autor

Meu amor é peregrino
É romeiro sem guarida
Vai andando sem destino
A ver no que dá a vida

Meu amor é onda breve
Desfeita na praia triste
Onde o vento, ao de leve
De cantar nunca desiste

Meu amor, perdoa esta distância
Esta sede de quem não tem mais nada
A memória da nossa inconstância
A tristeza da estrada terminada

Oh meu amor, não deixes de guardar
Os recantos de todas as lembranças
Meu amor, por amor, não vou deixar
De lembrar as nossas mortas esperanças

Sol de pouca dura

Américo Patela / Rocha de Oliveira
Repertório de Celeste Rodrigues

Se o seu viver não tem graça
Venha para a minha beira
Verá que tudo se passa
No tempo da brincadeira

Venha daí, dê-me o braço
E vamos cantar prá rua
Fazendo o mesmo que eu faço
A minha alegria é sua

Quem quiser da vida tirar bom proveito
Não sinta no peito
Qualquer amargura
Faça como eu e não se apoquente
Porque o sol da gente
É de pouca dura

Quem vive do meu pensar
Vive num mar de alegria
Vive a rir e a cantar
Em maré de romaria

Que a tristeza não merece
Mais de quanto lhe nasceu
E quem a tristeza esquece
Faz tal e qual como eu

À porta desta casa

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Fado Quim João*
Repertório do autor

À porta desta casa já fechada
Aqui onde o amor aconteceu
Deixei a minha vida destroçada
À espera dum destino que morreu

À porta desta casa onde morámos
Ficou um triste cheiro a solidão
Ficaram os tormentos que passámos
Cravados como espinhos de aflição

Voltei a abrir a porta desta casa
Deserta e tão fria a encontrei
Senti dentro de mim minh'alma rasa
Despida das saudades que abracei

À porta desta casa já não estava
A vida destroçada que vivi
Senti, então, que a vida que eu levava
Morreu como eu morri dentro de ti

Praia de outono

David Mourão Ferreira / Nóbrega e Sousa
Repertório de Celeste Rodrigues

Praia de outono desfigurada
Pela mordaça das marés vivas
Praia de outono transfigurada
Pela ameaça de alguém que partiu

Aquele amor sob o furor do mar
Já começou a declinar
Tenho medo
Nem eu sei de quê
A noite vem tão cedo
Praia de outono ninguém nos vê

Em ti a bruma, em mim ciúme
Vão-nos levando a nós como as marés
Não se vislumbra esperança nenhuma
De alguém saber quem sou nem quem tu és

Ouve, meu anjo

António Botto / António Palma
Repertório de António Palma

Ouve, meu anjo;
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é um mel?

Quis afastar-se, mostrando
Um sorriso desdenhoso
Mas ai!... a carne do assassino
É como a do virtuoso

Numa attitude elegante
Misteriosa, gentil
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febríl

Ele apertou-me, cerrando
Os olhos para sonhar
E eu, lentamente, morria
Como um perfume no ar

Agora tenho saudade

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Corrido do Alcaide*
Repertório do autor

À varanda do meu peito
Num vaso de liberdade
Já tive um amor-perfeito
Agora tenho saudade


No meu peito dei guarida 
À mais bela flor que tive
A memória sobrevive 
Mas a flor já não tem vida
Minha vida foi florida 
Por um belo amor-perfeito
Que no tempo foi desfeito 
E que não mais vai voltar
A sorrir a quem passar 

À varanda do meu peito

Essa flor, qual aguarela 
Tinha o sol todo pra si
Como ela nunca vi 
Colorida e singela
Ficava ainda mais bela 
Ao raiar da claridade
Da janela da verdade 
Via sempre a sua cor
Brotando em raios de amor 

Num vaso de liberdade

Mas a vida foi severa 
E o tempo foi tão fatal
Foi um forte vendaval 
Que matou a Primavera
Que levou tudo o que eu era 
E deixou tudo desfeito
Na varanda do meu peito 
Já não tenho mais carinho
Onde agora estou sozinho 

Já tive um amor-perfeito

Não sei se a esperança morreu 
Ou se o vento a levou
Já nem sei se sei quem sou 
Quem é quem e quem sou eu
O que é que, por fim, é meu
Para além desta ansiedade
O que resta na verdade 
É um travo de amargura
E, onde já tive ternura 

Agora tenho saudade

Fonte verde

Silva Ferreira / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Marina Mota

Quis beber um beijo verde
Nos olhos de minha mãe
E bebi só por ter sede
O vinagre que se bebe
Quando nada sabe bem

Quis infinitos de nada 
Onde tudo era finito
Quando rasguei a alvorada 
Em navalhadas de grito
Da minha raiva afiada

Quis afogar uma estrela 
Nos rios que vou criando
Se a tive, sei lá dela
No céu há sempre uma estrela 
Nos olhos de mãe chorando

Quis brindar à vida nova 
Que meus sonhos prometiam
Fiz contas, tirei a prova
E vi aos pés uma cova 
Que meus próprios pés abriam

Fonte verde, fonte verde 
Ó minha mãe de ninguém
Quem te teve, quem te perde
Quem te beija, quem te bebe 
Quando nada sabe bem

Fiz quase nada

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Fado Baltar*
Repertório do autor

Dum cravo fiz uma rosa
Dum beijo fiz um desgosto
Dum verso fiz uma prosa
E duma noite invernosa
Fiz o sol do mês de Agosto

Do silêncio fiz um grito 
Dum soldado fiz a guerra
De poeira fiz granito
E do Espaço infinito 
Fiz um pouco mais de terra

De Deus fiz um peregrino
Da terra firme fiz mar
Da morte fiz um destino
E dum canto pequenino 
Fiz uma forma de amar

Dum rio fiz uma estrada 
Da foz fiz uma nascente
De tudo fiz quase nada
E duma porta fechada 
Fiz a força de ir em frente

Canto do mar

Letra e música de Elsa Laboreiro
Repertório da autora

Aqui onde o mar
É só o mar a perder de vista
É que os meus olhos 
Bebem outras margens
Que fazem viagens de conquista

Aqui onde o mar é só o mar
A perder de vista
É que os meus dedos tecem fantasias
Que fazem magias inebriantes 
De azuis marinhos

E a lua, dos amantes feiticeira
Envolve num olhar a terra inteira
E a terra gira, gira, sem parar
Começa e recomeça neste recanto do mar

Aqui onde o céu é mais o céu
Abraçado ao mar
É que o azul de veste de outras cores
E pinta amores em qualquer lugar

Aqui onde o céu é mais o céu
Pátria de gaivotas
A linha do horizonte é o teu sorriso
E o que eu preciso 
P’ra navegar em todas as rotas

Sete despedidas

Letra e música de Pedro Fernandes Martins 
Repertório do autor

Sete setas disparadas
Contra sete despedidas
Sete lágrimas choradas
Sete sopros, sete vidas

Sete cravos, sete rosas
Sete ramos de alecrim
Sete vozes, sete prosas
Sete começos sem fim

Sete poemas rimados
Com sete versos de amor
Sete poemas armados
Com sete lanças de dor

Sete floretes em punho 
Mais sete palmos de estrada
Sete papéis de rascunho
Sete receitas de nada

Sete tragos de bom vinho
Sete passos inseguros
Sete léguas de caminho
Sete fossos, sete muros

Sete sinos a rebate
Sete dias sem dormir
Sete guerras sem combate
Sete povos por cumprir

Sete corpos feitos lume
Sete rugas de expressão
Sete navalhas sem gume
Sete culpas sem perdão

Sete danças no terreiro 
Das sete casas que ergui
Mais sete flores sem canteiro
Sete amoras que comi

Sete monges sem mosteiros
Sete deuses sem altar
Sete mares sem marinheiros
Sete ventos já sem ar

Sete lágrimas choradas
Sete sopros, sete vidas
Sete setas disparadas
Contra sete despedidas

Fumar é matar saudades

Ary dos Santos / Popular *fado menor*
Repertório de Esmeralda Amoedo

Fumando, a gente se encontra
Connosco, mesmo outra vez
Ninguém sabe quando conta
Um cigarro português

Quem nunca foi emigrante 
Sofrendo por seu país
Mal sabe quanto é bastante 
O que um cigarro nos diz

É no filtro da lembrança 
Lume aceso da saudade
Que um homem feito criança 
Fuma a própria mocidade

E fumando é que se encontra 
Consigo próprio, outra
Ninguém sabe quando conta 
Um cigarro português