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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Olha a mala

Letra e música de Manuel Casimiro de Almeida
Repertório de Celeste Rodrigues

Caiu um hidroavião 
Eu não sei donde é que ele é
Não trazia ninguém dentro 
Foi parar à Nazaré

Olha a mala… olha a mala
Olha a malinha de mão
Não é tua… nem é minha
E do nosso hidroavião

O nosso hidroavião 
É de madeira mais fina
Foi cair à Nazaré 
Por falta de gasolina

Eu um dia fui à praia 
De manhã, de manhãzinha
Não vi pescadores nem peixe 
Eu só vi uma malinha

De quem é esta malinha 
Que um dia deu à costa
Que ela veio aqui parar 
Se cá vem é porque gosta

Fala do homem nascido

António Gedeão / José Nisa
Repertório de António Palma


Venho da terra assombrada
Do ventre de minha mãe
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido 
Por me trazerem aqui
Que eu nem sequer fui ouvido 
No acto de que nasci

Trago boca para comer 
E olhos para desejar
Tenho pressa de viver 
Que a vida é água a correr

Tenho pressa de viver 
Que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo 
Não tenho tempo a perder

Minha barca aparelhada 
Solta o pano, rumo ao norte
Meu desejo é passaporte 
Para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem 
Mem marés que não convenham
Nem forças que me molestem 
Correntes que me detenham

Quero eu e a natureza 
Que a natureza sou eu
E as forças da natureza 
Nunca ninguém as venceu

Com licença, com licença 
Que a barca se fez ao mar
Não há poder que me vença 
Mesmo morto hei-de passar

Não há poder que me vença 
Mesmo morto hei-de passar
Com licença, com licença 
Rumo à estrela polar

Meu amor

Letra e música de Pedro Fernandes Martins
Repertório do autor

Meu amor é peregrino
É romeiro sem guarida
Vai andando sem destino
A ver no que dá a vida

Meu amor é onda breve
Desfeita na praia triste
Onde o vento, ao de leve
De cantar nunca desiste

Meu amor, perdoa esta distância
Esta sede de quem não tem mais nada
A memória da nossa inconstância
A tristeza da estrada terminada

Oh meu amor, não deixes de guardar
Os recantos de todas as lembranças
Meu amor, por amor, não vou deixar
De lembrar as nossas mortas esperanças

Sol de pouca dura

Américo Patela / Rocha de Oliveira
Repertório de Celeste Rodrigues

Se o seu viver não tem graça
Venha para a minha beira
Verá que tudo se passa
No tempo da brincadeira

Venha daí, dê-me o braço
E vamos cantar prá rua
Fazendo o mesmo que eu faço
A minha alegria é sua

Quem quiser da vida tirar bom proveito
Não sinta no peito
Qualquer amargura
Faça como eu e não se apoquente
Porque o sol da gente
É de pouca dura

Quem vive do meu pensar
Vive num mar de alegria
Vive a rir e a cantar
Em maré de romaria

Que a tristeza não merece
Mais de quanto lhe nasceu
E quem a tristeza esquece
Faz tal e qual como eu

À porta desta casa

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Fado Quim João*
Repertório do autor

À porta desta casa já fechada
Aqui onde o amor aconteceu
Deixei a minha vida destroçada
À espera dum destino que morreu

À porta desta casa onde morámos
Ficou um triste cheiro a solidão
Ficaram os tormentos que passámos
Cravados como espinhos de aflição

Voltei a abrir a porta desta casa
Deserta e tão fria a encontrei
Senti dentro de mim minh'alma rasa
Despida das saudades que abracei

À porta desta casa já não estava
A vida destroçada que vivi
Senti, então, que a vida que eu levava
Morreu como eu morri dentro de ti

Praia de outono

David Mourão Ferreira / Nóbrega e Sousa
Repertório de Celeste Rodrigues

Praia de outono desfigurada
Pela mordaça das marés vivas
Praia de outono transfigurada
Pela ameaça de alguém que partiu

Aquele amor sob o furor do mar
Já começou a declinar
Tenho medo
Nem eu sei de quê
A noite vem tão cedo
Praia de outono ninguém nos vê

Em ti a bruma, em mim ciúme
Vão-nos levando a nós como as marés
Não se vislumbra esperança nenhuma
De alguém saber quem sou nem quem tu és

Ouve, meu anjo

António Botto / António Palma
Repertório de António Palma

Ouve, meu anjo;
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é um mel?

Quis afastar-se, mostrando
Um sorriso desdenhoso
Mas ai!... a carne do assassino
É como a do virtuoso

Numa attitude elegante
Misteriosa, gentil
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febríl

Ele apertou-me, cerrando
Os olhos para sonhar
E eu, lentamente, morria
Como um perfume no ar

Agora tenho saudade

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Corrido do Alcaide*
Repertório do autor

À varanda do meu peito
Num vaso de liberdade
Já tive um amor-perfeito
Agora tenho saudade


No meu peito dei guarida 
À mais bela flor que tive
A memória sobrevive 
Mas a flor já não tem vida
Minha vida foi florida 
Por um belo amor-perfeito
Que no tempo foi desfeito 
E que não mais vai voltar
A sorrir a quem passar 

À varanda do meu peito

Essa flor, qual aguarela 
Tinha o sol todo pra si
Como ela nunca vi 
Colorida e singela
Ficava ainda mais bela 
Ao raiar da claridade
Da janela da verdade 
Via sempre a sua cor
Brotando em raios de amor 

Num vaso de liberdade

Mas a vida foi severa 
E o tempo foi tão fatal
Foi um forte vendaval 
Que matou a Primavera
Que levou tudo o que eu era 
E deixou tudo desfeito
Na varanda do meu peito 
Já não tenho mais carinho
Onde agora estou sozinho 

Já tive um amor-perfeito

Não sei se a esperança morreu 
Ou se o vento a levou
Já nem sei se sei quem sou 
Quem é quem e quem sou eu
O que é que, por fim, é meu
Para além desta ansiedade
O que resta na verdade 
É um travo de amargura
E, onde já tive ternura 

Agora tenho saudade

Fonte verde

Silva Ferreira / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Marina Mota

Quis beber um beijo verde
Nos olhos de minha mãe
E bebi só por ter sede
O vinagre que se bebe
Quando nada sabe bem

Quis infinitos de nada 
Onde tudo era finito
Quando rasguei a alvorada 
Em navalhadas de grito
Da minha raiva afiada

Quis afogar uma estrela 
Nos rios que vou criando
Se a tive, sei lá dela
No céu há sempre uma estrela 
Nos olhos de mãe chorando

Quis brindar à vida nova 
Que meus sonhos prometiam
Fiz contas, tirei a prova
E vi aos pés uma cova 
Que meus próprios pés abriam

Fonte verde, fonte verde 
Ó minha mãe de ninguém
Quem te teve, quem te perde
Quem te beija, quem te bebe 
Quando nada sabe bem

Fiz quase nada

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Fado Baltar*
Repertório do autor

Dum cravo fiz uma rosa
Dum beijo fiz um desgosto
Dum verso fiz uma prosa
E duma noite invernosa
Fiz o sol do mês de Agosto

Do silêncio fiz um grito 
Dum soldado fiz a guerra
De poeira fiz granito
E do Espaço infinito 
Fiz um pouco mais de terra

De Deus fiz um peregrino
Da terra firme fiz mar
Da morte fiz um destino
E dum canto pequenino 
Fiz uma forma de amar

Dum rio fiz uma estrada 
Da foz fiz uma nascente
De tudo fiz quase nada
E duma porta fechada 
Fiz a força de ir em frente

Canto do mar

Letra e música de Elsa Laboreiro
Repertório da autora

Aqui onde o mar
É só o mar a perder de vista
É que os meus olhos 
Bebem outras margens
Que fazem viagens de conquista

Aqui onde o mar é só o mar
A perder de vista
É que os meus dedos tecem fantasias
Que fazem magias inebriantes 
De azuis marinhos

E a lua, dos amantes feiticeira
Envolve num olhar a terra inteira
E a terra gira, gira, sem parar
Começa e recomeça neste recanto do mar

Aqui onde o céu é mais o céu
Abraçado ao mar
É que o azul de veste de outras cores
E pinta amores em qualquer lugar

Aqui onde o céu é mais o céu
Pátria de gaivotas
A linha do horizonte é o teu sorriso
E o que eu preciso 
P’ra navegar em todas as rotas

Sete despedidas

Letra e música de Pedro Fernandes Martins 
Repertório do autor

Sete setas disparadas
Contra sete despedidas
Sete lágrimas choradas
Sete sopros, sete vidas

Sete cravos, sete rosas
Sete ramos de alecrim
Sete vozes, sete prosas
Sete começos sem fim

Sete poemas rimados
Com sete versos de amor
Sete poemas armados
Com sete lanças de dor

Sete floretes em punho 
Mais sete palmos de estrada
Sete papéis de rascunho
Sete receitas de nada

Sete tragos de bom vinho
Sete passos inseguros
Sete léguas de caminho
Sete fossos, sete muros

Sete sinos a rebate
Sete dias sem dormir
Sete guerras sem combate
Sete povos por cumprir

Sete corpos feitos lume
Sete rugas de expressão
Sete navalhas sem gume
Sete culpas sem perdão

Sete danças no terreiro 
Das sete casas que ergui
Mais sete flores sem canteiro
Sete amoras que comi

Sete monges sem mosteiros
Sete deuses sem altar
Sete mares sem marinheiros
Sete ventos já sem ar

Sete lágrimas choradas
Sete sopros, sete vidas
Sete setas disparadas
Contra sete despedidas

Fumar é matar saudades

Ary dos Santos / Popular *fado menor*
Repertório de Esmeralda Amoedo

Fumando, a gente se encontra
Connosco, mesmo outra vez
Ninguém sabe quando conta
Um cigarro português

Quem nunca foi emigrante 
Sofrendo por seu país
Mal sabe quanto é bastante 
O que um cigarro nos diz

É no filtro da lembrança 
Lume aceso da saudade
Que um homem feito criança 
Fuma a própria mocidade

E fumando é que se encontra 
Consigo próprio, outra
Ninguém sabe quando conta 
Um cigarro português

Em busca do meu choro

Pedro Fernandes Martins *Fado Rosa Maria*
Repertório o autor

Andei aqui sozinho à beira-mar
Em busca do meu choro nestas águas
Deixei tudo pra trás pra encontrar
O sal que se soltou das minhas mágoas

Cansado dos meus olhos de tristeza
Perdido de viver tão triste assim
Meu choro fez-se ao mar com tal certeza
que achei que ele não queria ser de mim

Na noite, enfim, choveu a bem chover
Torrente de revolta, sabe Deus,
E dei por mim, então, a querer beber
A chuva que molhava os lábios meus

Senti o gosto triste do meu pranto
Mas nem sinal do sal que nele havia
Achei na chuva o choro que quis tanto
E quero, pois, chorar, mas de alegria

Zé soldado, soldadinho

Guilherme José de Melo / Fontes Rocha
Repertório de Amália Rodrigues

Cai largado nevoeiro, boa sorte
Ai ligeiro mar salgado, espumeirinho
Deus teu norte, teu roteiro, teu caminho
Zé soldado, Zé soldado, soldadinho

Longe, longe, na lonjura
Alva casa, sol brancura
Longe, longe, bater d’asa
Desenhado de mansinho;
Longe, longe, Zé soldado
Zé soldado, soldadinho

Arma ao peito, chuva e lama, sentinela
Quem te chama, corpo afeito, negro pinho
Luz da vela, Deus louvado, vem Zézinho
Zé soldado, Zé soldado, soldadinho

Ai um dia voltarás
Sol doirado, romaria
Festa e vinho, Deus, teu norte
Teu roteiro, teu caminho;
Menineiro, Zé soldado
Zé soldado, soldadinho

Falando de amor

Domingos Gonçalves da Costa / Popular *fado mouraria*
Repertório de Alice Maria

No amor, eu não m’iludo
Lembra-me a flor delicada
Nasce por nada e por tudo
Morre por tudo e por nada

Nasce às vezes dum queixume 
Da simples troca do olhar
O amor, estranho raiar 
Da quimera e do ciúme

Põe nas almas, gelo ou lume 
Paz ou sina malfadada
Mel que uma abelha doirada 
Põe nos lábios de veludo
No amor, eu não m’iludo
Lembra-me a flor delicada

Não sei quem teve a ventura 
De o fazer cruel assim
Se foi Deus, fez, quanto a mim 
A mais sublime tortura

Amor é sonho é loucura 
É luz de meiga alvorada
A flor imaculada 
Que exposta ao destino mudo
Nasce por nada e por tudo
Morre por tudo e por nada

Corpo entorpecido

Letra e música de Pedro F. Martins *Alexandrino da Figueira*
Repertório do autor

Um céu sem fim cinzento, um corpo entorpecido
Ramo despido ao vento em busca de sentido
Um copo meio-cheio, vazio p'la metade
Um corpo sem esteio, sofrendo de saudade

Um céu que vai girando em nuvens cinza-frio
Um vale que vai chegando ao fundo do seu rio
De vez em quando espreita, por entre a tarde parda
Uma estrela desfeita que insiste em estar de guarda

Folhas mortas e cruas, rasgadas no jardim
São só saudades tuas que não saem de mim
Do corpo entorpecido que se deixa ficar
Em busca de sentido, verdade, sorte e azar

De braço dado com a vida

Carlos Heitor Fonseca / Armando Machado *fado mortalhas*
Repertório de Conceição Ribeiro

Cantar fado é um encanto
Um dom que Deus me deu
Momentos de amor e pranto
São alguns fados que canto
De um mundo que é o meu

Não tenho medo do escuro 
Da incerteza, da imensidão
Do meu passado mais duro 
Aprendi, para o futuro
Seguir a minha razão

Afastei as más memórias 
A que estive condenada
E longe dessas escórias 
Vivo novas histórias
Numa vida renovada

Caminho rumo à vida 
E à essência do meu ser
Com atitude garrida 
Somente estou decidida
Em ser feliz e viver

Mouraria, Mouraria

Armando da Costa Santos / Júlio Proença
Repertório de Miguel Xavier

Mouraria, Mouraria
Onde está o teu passado
Quando de noite e de dia
Se ouvia, cantar o fado

Mouraria, Mouraria
Onde está a tradição
Que em sonhos de amor trazia
Mesmo até a fidalguia
À rua do Capelão

Velhas guitarras
Trinando, vibrando
À luz duma candeia
Velhos fadistas 
Chorando, cantando
O fado, à lua cheia
Suas janelas 
Modestas, singelas
Tão cheias de alegria
Hoje tristezas e fado 
Só nos falam de saudade
Onde estás tu Mouraria?

Já não há pelas vielas
Fadistas e cantadeiras
E florindo p’las janelas
Tão belas, as sardinheiras

É raro ouvir uma prece
À Senhora da Saúde
Ó meu Deus, até parece
Que a Mouraria se esquece
De ter fé e ter virtude

Meu amor

Florbela Espanca / Samuel Lopes
Repertório de Cristina de Sousa

De ti somente um nome sei, amor
É pouco, é muito pouco e é bastante
Para que esta paixão doida e constante
Dia após dia cresça com vigor

Como de um sonho vago e sem fervor
Nasce assim uma paixão tão inquietante
Meu doido coração triste e amante
Como tu buscas o ideal na dor

Isto era só quimera, fantasia
Mágoa de sonho que se esvai num dia
Perfume leve dum rosal do céu

Paixão ardente, louca isto é agora
Vulcão que vai crescendo hora por hora
Ó meu amor, que imenso amor o meu

A Mariquinhas velhinha

Letra e música Pedro Fernandes Martins *Fado Marcelino*
Repertório do autor

A Mariquinhas velhinha
Vai pedindo por sustento
Mendigando, coitadinha
Sem ter casa e testamento


Ninguém sabe onde ela mora 
Diz-se que dorme no chão
Em cima de um papelão 
Até ao romper da aurora
Anda pela rua fora 
Repetindo a ladainha
Ajudem a pobrezinha 
Que já tem pouca saúde
E há sempre quem ajude
A Mariquinhas velhinha

Tem sempre a mesma rotina 
De não ter nada a perder
De só desejar morrer 
Por viver tão triste sina
Como já não é menina 
Poucos lhe dão alimento
E por dormir ao relento 
Não lhe resta quase nada
Vai vivendo desgraçada
Vai pedindo por sustento

A quem passa estica a mão 
Pede à porta do mercado
E quando este está fechado 
Vai prá porta da estação
Com as esmolas compra pão 
Mais uma sopa quentinha
E quando cai a noitinha 
Deita-se no papelão
Vive nessa condição
Mendigando, coitadinha

Pouco resta do passado 
Ficou, talvez, a saudade
Que não traz felicidade 
Porque tudo está mudado
Pobre mulher, mas que fado 
Anda à mercê do tormento
Ao sol, à chuva, ao vento 
Vive com essa má sorte
À espera da sua morte
Sem ter casa e testamento

Choro

Ermelinda Xavier / Custódio Castelo
Repertório de Cristina Branco

Ai barco que me levasse
A um rio que me engolisse
Donde eu não mais regressasse
P’ra que mais ninguém me visse

Ai barco que me levasse
Sem velas, remos, nem leme
P’ra dentro de todo o ouvido
Onde não se ama nem teme

Ai onde que me levasse
Bem dentro de um vendaval
Barco berço, barco esquife
Onde tudo fosse igual

Ai barco que me levasse
Aos tesouros conquistados
Por entre esquinas de perigos
Dos mil caminhos trilhados

Ai barco que me levasse
Toda estendida em seu fundo
Nesga de céu a bastar-me
Toda a saudade do mundo

Quadras soltas com versículo

Pedro Fernandes Martins *Fado Rosarinho*
Repertório do autor

Esta vida são dois dias / sem fulgor
Dia sim e dia não / simplesmente
Dizer sim ao coração / com ardor
Não nos traz sempre alegrias / certamente

O silêncio é quase tudo / é dourado
É a voz que não se cala / sem gritar
Mesmo sendo sempre mudo / tão calado
É quem mais me escuta e fala / sem falar

Tanto rio vai ser mar / de imensidão
Quando ao mar se for render / despojado
Tanta estrada por pisar / tanto chão
Tanto tempo por viver / triste fado

No mar alto desta vida / fugidia
Há dois ventos por jornada / frente a frente
A amargura da partida / que agonia
E o desejo da chegada / tão ardente

O amor é coisa incerta / apressada
Mas que nos pode acertar / e seduzir
É a porta sempre aberta / escancarada
Que o destino há-de fechar / ou reabrir

Flor de romaria

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha

Quando vais à romaria, Maria
Vais tão linda e delicada
Que quem olha para ti, sorri
Ao ver-te tão engraçada

No teu vestido comprido, garrido
Tens uma rosa viçosa
Mas teu encanto e frescura
Não te enfeita a formusura
Tu é que enfeitas a rosa

Maria… 
Na tua aldeia encantada
Teus olhos andam na berra
São duas fogueiras vivas
Maria… 
És a flor mais perfumada
Nascida na mesma terra
Que dia a da cultivas

Ao chegares à romaria, Maria
São tantos, tantos olhares
Os olhos que te estremecem, parecem
Abrir alas p’ra dançares

E enquanto tu vais dançando
Mostrando o teu saiote de folhos
Os meus olhos, coitadinhos
Andam a dançar sozinhos
À procura dos teus olhos

Sete rosas

José Luís Gordo / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Andreia Alferes

O meu amor diz que tem
Sete rosas p’ra me dar
Mas nunca disse a ninguém
Aonde as foi apanhar

Foi ao jardim da saudade 
Tem sete fontes de prata
Foi lá matar a saudade 
E a saudade não se mata

Tem olhos da cor do vento 
Sorrisos da cor do mar
Tem na boca o movimento 
De quem ‘stá sempre a sonhar

Traz nas mãos tanta ternura 
E carinhos p’ra me dar
Sete rosas de saudade 
Que teimam sempre em ficar

Lá está ela

Mário Rainho / Paulo Jorge de Freitas
Repertório de Marina Mota

Lá está ela olhando rio 
Lá está ela olhando o mar
A ver partir um navio 
Com saudades de voltar

Lá está ela olhando rio 
Lá está ela olhando o mar
Só não chora quem não viu 
Os seus olhos a chorar

Lisboa 
Chora sempre ao fim da tarde
Num soluço sem alarde
Ao fim dum dia cansado
Lisboa 
Quando anoitece, em saudade
Chora outro tempo, outra idade
Nos versos de qualquer fado

Lisboa
Tem olhos cheios de mar
Quando os põe a navegar
No mar dum sonho profundo
Lisboa 
Chora sempre que é preciso
Mas também tem o sorriso
Mais bonito deste mundo

Lá está ela olhando o rio 
Como um barco sem ter rota
O mar é um desafio 
Prós seus olhos de gaivota

Lá está ela olhando o rio 
Lá está ela olhando o mar
Tanto sonho fugidio 
Tem Lisboa num olhar

Eu já não sei de nada

Letra e música de Pedro Fernandes Martins (Alexandrino de Buarcos)
Repertório do autor

Eu já não sei de ti, perdi-te sem querer
Nas ruas sem saída que a noite me mostrou
Eu já não sei de ti, nem sei se vou saber
Eu já não sei da vida, eu já não sei quem sou

Eu já não sei de mim, perdi-me não sei quando
Talvez naquele dia em que quis encontrar-me
Eu já não sei de mim e assim cá vou andando
Distante da alegria e sem saber amar-me

Eu já não sei de nós e nem sei se sofri
Não sei quando é o fim, nem se tem fim a estrada
Eu já não sei de nós, eu já não sei de ti
Eu já não sei de mim, eu já não sei de nada