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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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A noite e o dia

António Laranjeira / Mário Pacheco
Repertório de Carolina 

Lá vem a noite
Lá vem a noite a chorar
Por não querer continuar 
Presa na vida, às escuras
Lá vem a noite
Com ela vem a tristeza
E é da sua natureza 
Um rosário de amarguras

Lá vem o dia
Na pressa de me alcançar
Chamou o rio e
Eo mar com a sua claridade
Lá vem o dia 
E volta tudo a ser belo
Porque o dia é tão singelo
Mas nunca fala verdade

Lá vem a noite
Traz com ela a madrugada
E a noite que não acaba
Que se fecha como eu
Lá vem a noite 
Contornado os meus espaços
E arrancando dos meus braços 
Tudo o que nunca foi meu

Lá vem o dia
Chegou o dia recuando tarde fora
Num beijo que se demora
Onde mora uma ilusão
Lá vem o dia
Chegou o dia
Chamando a noite que vem
Chorar os sonhos de alguém 
Que não sente o coração

Verdes campos, verdes águas

Elsa Laboreiro / Arlindo de Carvalho *cantiga de oledo*
Repertório de Yola Diniz 

Verdes campos, verdes águas 
Aguarelas do meu país
Lavam dores e lavam mágoas
E a esperança é sua raiz

Do alto de cada serra 
Do cimo de cada monte
É tão linda a minha terra 
Desenhada no horizonte

E as searas são oceanos
De pão doirado, a germinar
Mão sagrada dos lusitanos
Heróis da terra e do mar;
E as gaivotas voam velozes
Desde o norte até ao sul
Levam longe as nossas vozes
Vestidas de oiro e azul

Negro bando de andorinhas 
Neste fado que Deus vos deu
Levem lá saudades minhas 
Para além do mar e do céu

Que eu cá fico à vossa espera 
Embalada neste meu canto
Até que outra primavera 
Encha meus olhos de espanto

Fado do amanhã

Vasco de Lima Couto / Alfredo Duarte *lembro-me de ti*
Repertório de João Braga 

Quando todos no cais, com lágrimas de sol
Acenarem os lenços como pombos esguios
E tu, ansiosamente, procurares os meus olhos
Hás-de encontrá-los secos, abismados e frios

Verás neles a hora duma escada vazia
Às cinco da manhã dum Outono qualquer
E verás os soluços que a varanda prendeu
E tudo o que fui eu para o tempo crescer

Vingarei o silêncio com o mesmo silêncio
Deixando a minha dor a um canto da amurada
Pois como tu, terei de começar de novo
A alegria que um dia partiu de madrugada

Cantiga de amigo

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Nem um poema
Nem um verso, nem um canto
Tudo é raso de ausência
Tudo liso de espanto
E nem Camões, Virgílio
Shelley, Dante
O meu amigo está longe
E a distância é bastante

Nem um som
Nem um grito, nem um ai
Tudo calado
Todos sem mãe nem pai
Ah não Camões, Virgílio
Shelley, Dante
O meu amigo está longe
E a tristeza é bastante

Nada a não ser 
Este silêncio tenso
Que faz do amor sozinho 
O amor imenso
Calai Camões, Virgílio
Shelley, Dante
O meu amigo está longe
E a saudade é bastante

Salada de Portugal

Letra e música de José da Câmara
Repertório do autor 

Sonho talvez que a sorte chegou
Quando nasci por aqui
Ter o prazer de olhar para o Douro
Quando o Alentejo sorri

E pra comer e beber
Basta pedir com jeitinho
O bacalhau vai cozer
Vamos abrir um bom vinho

E pra comer e beber
Basta pedir com paixão
As favas estão a ferver 
Para aquecer o coração

Se está a apanhar um bom sol… 
É Portugal
O povo que passa e sorri… 
É Portugal
Se vê belas praias e campos… 
É Portugal

Daqui deste canto, partimos
Zarpamos sem medo, sozinhos
Apenas com a esperança e com fé
Trouxemos o que descobrimos
Foi difícil, mas conseguimos
Pôr todo este mundo de pé

Passo p’lo Minho d
Descendo p’la Beira
Ribatejo é bestial
Em Trás-os-Montes 
Eu estou à maneira
Algarve é fundamental

Sopa, ensopado ou tripas
Uma feijoada brutal
As iscas venham bem fritas
Arroz doce sem igual

Quem provar bem o sabor 
Deste país divinal
Sente que é feito de amor 
E o tempero é Portugal

E neste quadro bem bonito
Não podia ficar esquecido
As mais belas ilhas da história
Açores e Madeira, são tal
Que fazem com que Portugal
Rume em direção à vitória

Naufrágio de nós dois

João Ferreira Rosa / João Braga e JFRosa
Repertório de João Braga 

Saber meu amor, que já não somos
Aquele sonho que eu tentei não acordar
Saber meu amor, que já não somos
Aquele tempo de te ouvir de te falar

Penso... e só contigo em pensamento
Neste naufrágio de nós dois não tem sentido
Perdido no som da água, perdido no som do vento
Qualquer de nós, meu amor, ficou perdido

Saber meu amor, que nos perdemos
E que longe morreremos sem nos ver
Saber meu amor que apenas temos
A lembrança da alegria de viver

Mulher-mágoa

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Ando na rua da noite 
Bebo vinho de saudade
Cada esquina é um açoite 
Fustigando a claridade
Vou de noite pela noite 
De uma vida sem idade
Não há corpo onde me acoite 
Não há casas na cidade

Vou de noite pelo ventre 
De ruas mal assombradas
Levo uma alma doente 
Nas minhas mãos desfasadas

Vou de noite pela noite 
De uma vida sem idade
No há corpo onde me acoite 
Não há casa na cidade
No rio vejo um navio 
Rumando rumo à infância
Tenho frio, tenho frio 
Morro do mal da distância

Corro as ruas da vida 
Sempre à procura de mim
Mas ela não tem piedade 
E nunca mais chego ao fim

Ando na rua da vida 
Bebo sumo de tristeza
Deitando contas à vida 
Sinto apenas a pobreza
Ando na rua da vida 
Bebo sumo de tristeza
Quem andar assim perdida 
Não se encontra concerteza

Vou de noite pelo ventre 
De ruas mal assombradas
Levo uma alma doente 
Nas minhas mãos desfasadas

Na cama só vejo lama 
Na rua só piso água
Quem me fala, quem me chama 
O nome de mulher-mágoa
Corro as ruas da cidade 
Sempre à procura de mim 
Mas ela não tem piedade 
E nunca mais chego ao fim

Como quem não quer a coisa

Letra e música de João Braga
Repertório do autor 

Passa por mim, esvoaçante
Seu olhar sobre o meu poisa
Fitamo-nos por um instante
Como quem não quer a coisa

E não há como esconder 
Porque a coisa é insistente
Mesmo que passe a correr 
O brilho do olhar não mente

Mudo o rumo, volto atrás 
Atrás dela, apresso o passo
Enquanto ela, fugaz 
Parece estender-me o braço

Não é sol de pouca dura 
Que nos seus cabelos poisa
Enlaço-a pela cintura 
Como quem não quer a coisa

Vou mudar a sorte

D’Almeida Gonçalves / José Lopes *fado Lopes*
Repertório de Diana Soares 

Vida sem rumo, sem norte
Vida vazia, esquecida
Vou ganhar a tua sorte
Com a minha vida perdida

Na tômbola do sofrer 
Vou juntar os dois destinos
Nada temos a perder 
Cruzando os nossos caminhos

Gira, gira, a minha sorte 
Jogo do amor e paixão
Isolamento bem forte 
Farrapos de solidão

Rolemos as nossas vidas 
As duas de uma só vez
Se a tômbola for de amor 
Dois corações farão três

Aquela velha mulher da Mouraria

João Ferreira Rosa / Casimiro Ramos *fado alberto*
Repertório de João Braga 
Este tema foi gravado pelo autor com o título *Fado Lisboa*

Aquela velha mulher da Mouraria
Que triste, pede esmola e canta o fado
Baixinho sem saber quanto me feria
Ouvi-la ter saudades do passado

É tão mais triste o fado dessa gente
Que a miséria da vida conheceu
Tratei-a por senhora, reverente
Em frente à dor do fado que é o seu

Estas visões das ruas de Lisboa
Que é tão bela, é tão pobre e foi tão nobre
Que tem uma canção que nos magoa
E toda uma saudade que não morre

É triste por te amar ter de sofrer
A tristeza que sinto por te olhar
Lisboa minha terra por esquecer
E que um dia, de novo, há-de acordar

Falar de amor

Carolina Deslandes / Diogo Clemente
Repertório de Carolina 

Não me venhas falar de amor
Quando já estás pra sair
Fazes pouco da minha dor
A um passo de desistir

Não te vou guardar rancor
Rezo pra não te ver cair
Mas não me fales de amor
Se não o estás a sentir

Não me venhas falar de amor
Já no fim, na despedida
A devolveres-me as flores
Pra partires da minha vida

Não te vou guardar rancor
Rezo para te ver sorrir
Mas não me fales de amor
Quando me estás a mentir

Acenderam-se as luzes 
Mostrou-se a imperfeição
E o peso das minhas cruzes 
Só te pesam o coração

Não resta nem perdão 
A paixão, o frenesim
Mas não me fales de amor 
Se não ficaste até ao fim
Se não é mais que o gostares de mim

Enfim, doutor

José Galhardo / Raúl Portela e Raúl Ferrão
Repertório de João Braga 

Senhoras… 
Sois encantadoras
Tanta simpatia 
Quero agradecer
Senhores… 
Se tiverem dores
Ou uma pneumonia
Trato-os com prazer

Lisboa já tem 
Agora em mim, um doutor
Além de sábio 
Também, um inventor
Cá estou para os ver
Para injetar, para abrir
Pra retalhar e coser 
Sempre a sorrir

A minha consagração
O meu valor e prosápia
Estão nesta invenção
A Alegroterápia
Curar a valer
Difícil é conseguir
E então
Morrer por morrer
Que seja a rir

Doentes… 
Cegos e aleijados
Vêm às cabazadas 
P'ra me consultar
Contentes… 
Vão daqui curados
Rindo às gargalhadas
Logo a ver e a andar

Gota d’água

Letra e música de Flávio Gil
Repertório de Carolina 

Ó gota d’água, gota de mágoa
Que escorre lenta pelo meu peito
Ó gota d’água, gota de mágoa
Quando te ausentas do nosso leito

Ó minha dor de água corrente
Ó meu amor que estás doente
Meu rio triste que sempre corre
Que sempre nasce, que sempre morre

Ó gota d’água, gota de mágoa
Que nunca pára em nuvem certa
Ó gota d’água, gota de mágoa
Que nunca sara, ferida aberta

Ó minha dor de água corrente
Ó meu amor que estás doente
Meu rio triste que sempre corre
Que sempre nasce, que sempre morre
Porque é que nasce
Porque é que morre

Morrer de ingratidão

Vasco Graça Moura / António Vitorino d’Almeida
Repertório de Carlos do Carmo 

Vou sempre a jogo quando me convidas
E apenas sei que perco sempre a mão
Há no baralho amor e solidão
E atraiçoa-me o tempo às escondidas

As coisas sendo assim são o que são
Com gaivotas de sombra repetidas
E as cartas já todas distribuídas
Eu apostei a alma e o coração

As ilusões passaram das medidas
E em noites tresloucadas de paixão
Trazes um cheiro a fado e a perdição
E dás cabo de mim e não duvidas

Nessas linhas que tens na tua mão
Há estrelas cadentes esquecidas
E é na sina febril das nossas vidas
Que eu vou morrer da tua ingratidão

Sonho

D’Almeida Gonçalves / Acácio Gomes *fado Acácio
Repertório de Diana Soares 

De tanto sonhar, sonhei
Que o tempo estava a findar
E eu já não tinha mais tempo
Olhei o céu e pensei
Onde foi que eu errei
Ou pequei em pensamento

Sonhei que o nosso mundo
Ainda tinha a luz d’outrora 
Magias d’amanhecer
Eu sonhei que era a sonhar
Mas por mim eu vou ficar 
A sonhar até morrer

Os sonhos são fantasias
Que às vezes fazem pensar 
Se serão realidade
São motivos tão singelos
Tão coloridos, tão belos 
Mais parecem ser verdade

Um sonho é sempre um sonho
Um pensamento profundo 
A dormir ou acordado
Sonhamos por um motivo
Mas a mim própria eu digo 
Nunca o sonho é acabado

Lembranças

António Vasco Moraes / Júlio Proença *fado esmeraldinha
Repertório de António Vasco Moraes 

Ao fim de tanto tempo de saudade
Caiu a noite escura de solidão
Amar desta maneira é, na verdade
Mais tortura que paz, pró coração

Fomos tão descuidados, como crianças
Passamos tantas horas tão felizes
E hoje apenas restam as lembranças
No peito só angustias e cicatrizes

As dores e as mágoas se disfarçam
Sorrindo e percorrendo nova estrada
Outras vidas na nossa se entrelaçam
Parecem não valer de quase nada

Quero agradecer agora o passado
Cantando-te este fado tão sentido
E sinto o meu caminho entrelaçado
Às vidas que sem ti tenho vivido

Saudades de mim

Carolina / Frederico de Brito *fado dos sonhos*
Repertório de Carolina 

Tenho saudades de mim
De tudo o que não vivi
Por me entregar em teus braços
Tenho vontade do tempo
Em que não havia tempo
Pra me deixares em pedaços

Ruas do meu coração
Onde entraste, e sem perdão 
Enganaste o meu sonhar
Cada dia era uma flor
Desfolhada em tom de amor 
Amor que não sei negar

Na minha cama vazia
Adormeço esta agonia 
Que me tortura em compasso
Apertado coração
Não vivas da ilusão 
E diz não àquele abraço

Se então não temos futuro
Meu amor mais inseguro 
Para quê viver assim
Deixa-me ficar sozinha
Que esta dor seja só minha 
Tenho saudades de mim

Cativeiro

D’Almeida Gonçalves / Raúl Portela *fado magala
Repertório de Diana Soares
       
Prisioneira do meu medo
Alma vã, adormecida
Correntes de dor-segredo
Por ti sou vida perdida

Entre as paredes do quarto 
Quero partir para o mundo
Penso fugir, mas não parto 
Neste silêncio me afundo
                                                                            
Sou asas em cativeiro 
Pedaços de solidão
Momentos de nevoeiro 
Queixumes de uma razão

Agonia em mim contida 
Qual sofrimento atroz
Sou alma nua despida 
O lamento desta voz