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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Janela escancarada

Ana Moura, Pedro Máfama, Kalaf Epalanga, Toty Sa’mette / Alberto Janes
Repertório de Ana Moura

Trago este fado de viver intensamente
No peito a chama que há-de sempre arder
Gaivota em terra, tempestade iminente
De cruz ao peito, não há nada que temer

Bordei palavras e signos na pele
E deixei lágrimas à mercê da sorte
Os meus segredos não rimam no papel
E até rendida eu não me dou à morte

Tenho uma janela aberta
No meu peito, escancarada
De ferro forjado, não te piques a entrar
Eu vou esconder-me por trás
Da renda branca, bordada
E pelo rio dos meus olhos navegar

Ó Santo António, ensina-me os limites
Desta vivência eterna num segundo
Para os meus olhos não brilharem sempre tristes
E o coração não andar tão moribundo

Pois neste fado dispenso normalidades
E vivo o instante como se não houvesse fim
Eu me apaixono por pessoas e cidades
E hei-de morrer deste amor que nasce em mim

Dama da noite

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Dama da noite à janela
Para quando eu respirar
Cada saudade, uma estrela
Água da fonte do mar

Dama da noite singela
Só de noite tens perfume
Dama da noite à janela
Da saudade e do ciúme

Tristezas e abandonos
Tudo se passa a cantar
Dama da noite dos sonhos
De que não quero acordar

Não demores

Letra e música de Carolina Deslandes
Repertório de Cuca Roseta


Há um passarinho
Que vem à minha janela
Avisar-me de que tu estás a chegar
E eu, bem apressada
Corro p'rá minha capela
E peço aos anjos que te cuidem ao volta

Vou comprar as flores
E até os manjericos
Na janela fico à espera de te ver
Não oiço as notícias
Nem tão pouco os mexericos
Que o meu coração não pára de bater

Não demores meu amor
Corre logo bem cedinho
Que até o sol dança, no meio da praça
E ouve-se o cantar dos passarinhos
Não demores meu amor
Corre logo até mim
O jantar está na mesa e a rua toda em festa
À espera de te ver chegar por fim


Há um passarinho
Que vem pousar no meu ombro
Pr’avisar-me de que tu estás a chegar
E o meu coração, dispara como louco
E saio pela casa a cantar
Arranjo o cabelo, ponho a fita cor-de-rosa
Num suspiro vejo a cama tão vazia
É hoje o meu amor, e eu estou tão ansiosa
Que o relógio se falasse até se ria

Quem me dera ser o vento

Artur Ribeiro / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Norberto Martinho
Repertório de Manuel Dias na música do fado Pedro Rodrigues

Há pedaços de Lisboa
Na canção que o vento entoa
De forma triste e magoada
Quem me dera ser o vento
P’ra cantar sem sofrimento
E chorar sem sentir nada

Num beco da velha Alfama
O vento passa e derrama
O som de notas plangentes
Quero ser louco varrido
Como tu vento fingido
E mentir como tu mentes

Chora alguém na Mouraria
E o vento durante o dia
Parece uma alma penada
Quando eu choro a minha sorte
O vento soprando forte
Ri de mim à gargalhada

Há pedaços de Lisboa
Na canção que o vento entoa
Sobre os telhados sem fim
Vento corta-me em pedaços
E leva-me nos teus braços
Para bem longe de mim

Tema da noite

Artur Ribeiro / Alfredo Duarte *eu lembro-me de ti*
Repertório de Maria Valejo


Eu sou tema da noite em versos transformado
Sou canto de viela que teima em ser de esp’rança
Às vezes sou açoite de vento transviado
Umas vezes procela outras vezes bonança

Sou a quadra sentida que vai de boca em boca
História recontada que sempre faz chorar
Sou a corda partida duma guitarra louca
Que sempre que é pisada quer outra vez cantar

Eu sou tema da noite perdido na cidade
Sou grito de desejo em noite de luar
Meus olhos cor da noite molhados de saudade
Sabem que não te vejo quanto a noite findar

Fui fazer festa de vento

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Fui fazer festa de vento
À praia de vento antigo
Em cada vento que invento
Há outro vento comigo

Muitas dunas algum mar
E o sul a vir do norte
O sol todo por lembrar
Quase vida quase morte

Incensos por existir
Arderam a hora toda
O silêncio de não rir
Andou sempre à roda à roda

A hora ficou na asa
Do abutre que passou
Hora a hora feito brasa
Em toda a hora que sou

Amor de domingo

Letra e música de Cuca Roseta
Repertório da autora


Eu quero um amor de domingo
Que às vezes me deixe sozinho
Que me saiba esperar
Sem ter pressa de amar
Que me saiba querer quando há lugar

Eu quero um amor de domingo
Que se sente tão devagarinho
Que conversa à lareira
O sossego e uma ideia
Sabe a paz e a pão quente da aldeia

Eu quero um amor de domingo
Que vai e que volta ao ninho
Que vem e que vai
E que vai e que vem
Ao domingo que sabe tão be
m

Eu quero um amor de domingo
A janela da chuva e do vinho
De horas cheias de nada
Melhor nada da vida
Só e mais nada
Tu e eu e a almofada

Eu quero um amor de domingo
No silêncio que não está sozinho
De cabelo mal atado
Maquilhagem de lado
De aconchego infinito deitado

Soltas

João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


É na paz que vive a liberdade
É na dor que vive a solidão
É no amor que vive a felicidade
É no povo que vive esta canção

É na saudade que tudo está distante
É na alegria que vive o amor
É na esperança que morre o instante
É na paz que se afugenta a dor

Meu amor, a liberdade
Tem sempre a cor da razão
Ter-se amor, não tem idade
Ser-se livre, também não

Canto um fado à despedida
Do sol e da madrugada
Do dia-a-dia da vida
De cada hora passada

(in Fado – É No Povo Que Vive Esta Canção)

Onde estás?

Artur Ribeiro / José Maria Antunes
1a versão / Repertório de Augusta Ermida 
2a versão / Repertório de Carlos Ramos

Versão Augusta Ermida

Aonde estás, o que farás, quem sai contigo
Chego a tentar adivinhar mas não consigo
Quem amarás, quem beijarás com ansiedade
Quero saber, para correr com a saudade

Onde estás, como tens passado
És feliz tal como adivinho
Como estás, sem mim a teu lado
Deus o quis, segue o teu caminho


Aonde vais sempre que sais tão de fugida
A quem vais dar o meu lugar na tua vida
Quem te dirá pela manhã; muito bom dia
Quem roga a Deus p’los passos teus, como eu fazia
- - -
- -
-
Versão Carlos Ramos


Aonde estás, o que farás, quem sai contigo
Quero tentar adivinhar mas não consigo
Quem amarás, quem beijarás com ansiedade
Quero saber, para correr com a saudade

Onde estás, como tens passado
És feliz, tal como adivinho
Onde estás, sem mim a teu lado
Deus o quis, segue o teu caminho


Aonde vais sempre que sais tão de fugida
A quem vais dar o meu lugar na tua vida
Quem te dirá pela manhã; muito bom dia
Quem roga a Deus p’los passos teus, como eu fazia

Manhã perdida

Artur Ribeiro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Jorge Barradas

Perdi toda a manhã e não achei
Motivo para mais uma canção
Dei voltas ao papel, improvisei
Mas nada achei em mim, foi tudo em vão

Lembrei os olhos teus, fiz o teu nome
Senti a tua voz nos meus ouvidos
Lembrei o teu andar e senti fome
Senti fome de ti nos meus sentidos

Lembrei-me do sabor dum beijo nosso
O nosso estranho amor surgiu também
Mas são coisas tão nossas que não posso
Dizê-las nos meus fados a ninguém

Depois lembrei a dor que mata a gente
A nossa vida imposta e separada
Mas se entrasses a porta num repente
Dava a manhã perdida por achada

De cabelo solto ao vento

Jorge Rosa / Popular *fado menor*
Repertório de Celeste Rodrigues


De cabelo solto ao vento
Corro e não sei onde vou
Da lembrança que ficou
Trago o meu corpo sedento

Seca-me a boca sem esperança
Dos beijos que tu me davas
Trago nos olhos lembrança
Dos futuros que embalavas

Trago ainda no ouvido
Ecos das tuas canções
E presas ao meu sentido
Ai, quantas recordações

E neste meu desalento
Trago vida e sei que morro
Não sei onde vou, mas corro
De cabelo solto ao vento

Ingratidão

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Publicada no jornal Canção do Sul, número 193, de 20 de Dezembro de 1937


É tão feia a ingratidão
Que causa tanto desgosto
Fere mais um coração
A bofetada sem mão
Do que a estampada no rosto

Acontece tanta vez
Trabalharmos toda a vida
E aparecer a malvadez
A ferir a nossa honradez
Que fica comprometida

Vêm-se tantas fingirem
Amizade figurada
E os nossos corpos servirem
De degraus para subirem
Aquel’s que não valem nada

Muitas vezes é preciso
Sofrer a desilusão
Para tomarmos juízo
E acabarmos com o riso
Dessa feia ingratidão

A servir de trepadeira
Andamos nesta quezília
Desprezando a vida inteira
A amizade verdadeira
Da nossa querida família

Nunca mais

Artur Ribeiro / José Duarte *fado seixal*
Repertório de Fernanda Maria


Eu não quero nunca mais
Entre nós dois despedidas
Ficar distantes jamais
Não quero lonjuras tais
Entre as nossas duas vidas

Nunca mais ir ao correio
As tuas cartas buscar
Nunca mais o louco anseio
Duma carta que não veio
Perdida em qualquer lugar

Amor nunca mais terás
De andar sem mim por aí
Nas horas boas e más
Eu irei onde tu vás
Não quero ficar sem ti

Nunca mais fazer de conta
Que vivo enquanto não vens
Nem sentir a mente tonta
Sem saber a quanto monta
A saudade que tu tens

O mundo é ela

Artur Ribeiro / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de Artur Batalha


Vejo o mundo da janela
No seu mais vasto horizonte
Para mim o mundo é ela
E ela mora defronte


Desde manhã ao sol-pôr
Na sua expressão mais bela
Quando vejo o meu amor
Vejo o mundo da janela

Vejo a terra vejo o mar
A brisa a correr no monte
Vejo tudo num olhar
No seu mais vasto horizonte

E quando da boca sua
Sai uma frase singela
Vejo o mundo ali na rua
Para mim o mundo é ela

Cá no meu quarto alugado
Modesto como uma fonte
Vejo Deus do outro lado
E ela mora defronte

Lei do fado, do amor e da vida

José Fernandes Castro / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Catarina Dionísio *ao vivo*


Perguntei ao fado amigo
Porque lhe chamam antigo
Mais antigo que a saudade
O fado disse: sou jovem
E os sonhos que então me movem
São todos da minha idade

Antigo é não ter noção
De que a voz do coração
É um hino intemporal
Lei do fado é lei cumprida
Lei do amor é lei da vida
Lei do tempo é transversal

Antigo nunca serei
Pois sempre caminharei
À frente do meu destino
Quem quer estar a meu lado
Tem de se manter ligado
Ao sonho mais genuíno

Fado mágoas

Silva Tavares / Popular *fado menor*
Repertório de Fernanda Maria


Preto pode ser vaidade
Não traduz luto nem dor
Sentida dor é a saudade
E a saudade não tem cor

Saudades não as merece
Toda a gente que as inspira
Ter saudade de quem esquece
É ter crença na mentira

Vai tão longe a mocidade
Sinto tão perto o meu fim
Que às vezes tenho vontade
De deitar luto por mim

Linda rosa

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Publicada no jornal Canção do Sul, número 206, de 1 de Julho de 1938


Por ser de tez tão rosada
Quando ela foi baptizada
Deram-lhe o nome de Rosa
Pois seu rosto encantador
Parecia mesmo uma flor
Uma flor linda e viçosa

Criada com mil carinhos
Numa roseira sem espinhos
Sua vida foi ditosa
Sendo diferente das mais
Era o enlevo dos pais
Essa pequenina Rosa

Foi crescendo entre roseiras
Sonhando com as mais fagueiras
Esperanças belas, infindas
Rendendo ao seu nome preito
Trazia sempre no peito
Uma das rosas mais lindas

E depois contou-me alguém
Que ela casou e foi mãe
Tornando-se mais formosa
Pois o céu fez-lhe a vontade
De dar-lhe a felicidade
Num lindo botão de rosa

Despe-me

Letra e música de Tó Zé Brito
Repertório de Fábia Rebordão


Despe-me o medo, a saudade sem pressa
Despe-me as dúvidas bem devagar
Despe-me toda a ansiedade num beijo
Despe-me agora a vontade de me entregar

Despe-me o frio, o cansaço sem pressa
Despe-me a roupa, e bem lentamente
Pousa o teu corpo no meu
Sente o meu peito no teu
E somos um, assim de repente

Somos o mar a bater
Já não há nada a fazer
Somos as ondas no mar
Que vão e vêm sem parar
Já não há nada a fazer
Já não temos solução
Despe-me agora
O meu coração

Menina do olhar travesso

Jorge Rosa / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Francisco Pedro


Menina de olhar travesso
Onde travessas meninas
Andam a brincar ladinas
C’o preço do meu apreço

Se tento a sua atenção
No seu modo desatento
Fugidias como o vento
Buscam outra direcão

Se me finjo distraído
Pressinto que elas me seguem
E que os meus olhos perseguem
Seguindo o mesmo sentido

Vê lá tu se as aconselhas
Diz-lhes que tenham maneiras
E acabem as brincadeiras
Antes que cheguem a velhas

Menina de olhar travesso
Diga às travessas meninas
Que não se armem em finas
É amor que eu lhes ofereço

Cada dia que passa

*Mais um dia sem vida*
Artur Ribeiro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Florinda Maria

Cada dia que passa sem te ver
Sem nada ter contigo de comum
São vinte e quatro horas a sofrer
Resta saber se para cada um

Cada dia que passa é mais um dia
Que não quero somar aos dias meus
São vinte e quatro horas de agonia
Resta saber como passas os teus

Cada dia que passa sem lograr
Saber quando esta ausência terá fim
São vinte e quatro horas a rezar
Resta saber se tu rezas por mim

Todo o intento arrefece

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Todo o intento arrefece
Em dedos de dizer não
Houvera quem me trouxesse
Uma brasa em cada mão


Nem a morte nem a morte
Dum olhar que não viesse
Nem a morte só a morte
Todo intento arrefece

Eu subo à fraga mais alta
Até perder a razão
Só o medo não me falta
Em dedos de dizer não

Fora eu quem não quisesse
Abriria o coração
E diria a quem morresse
Não morreste sem perdão;
Houvera quem me trouxesse
Uma brasa em cada mão

A pobres não prometas

Artur Ribeiro / Franklim Godinho
Repertório de Lena Silva


Teus olhos que se intrometem
No que falamos os dois
E ficam no meu olhar
A meu ver, eles prometem
Tais coisas que tu depois
Nunca poderás pagar

Por isso toma cuidado
Que esses olhos inquietos
Andam a troçar do p’rigo
Não os deixes no meu fado
Diz-lhes que fiquem quietos
Quando conversas comigo

Teus olhos intrometidos
Sem que os vejas tomar parte
De tudo quanto desejo
Passeiam nos meus sentidos
Eu não sei se devo amar-te
Ou fingir que não os vejo

Alguém que não conheço

Artur Ribeiro / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Januário Trindade


Alguém que Deus não pôs no meu caminho
Alguém que não passou à minha porta
Alguém a quem não dei o meu carinho
Alguém que por acaso nem me importa

Alguém que deve ter forma de gente
Mas a quem mal ou bem eu não conheço
Alguém que gritará constantemente
Palavras que decerto não mereço

Há-de p’ra além de nós cantar a esmo
Os versos que te fiz hora após hora
Canções que são pedaços de mim mesmo
E hão-de falar de ti p’lo tempo fora

Simplesmente ser

Letra e música de Rita Viana
Repertório de Carminho


Vem contar-me
O que andaste a fazer
Em quem tropeçaste
No que te tornaste
Sem prever

Como transformaste
Tanta certeza no contraste
Só p’ra amadurecer

Quando sobraste
Como te multiplicaste
Sem perder

Estou a tentar
Simplesmente ser

Ter saudade

Jorge Rosa / Pedro Rodrigues
Repertório de Armando Morais


Saudade é palavra nossa
Tão nossa tão portuguesa
Que não há outra não há
Que melhor traduzir possa
A verdade, a tristeza
Que a triste ausência nos dá

Palavra má que se uniu
À rima dum fado triste
Todo feito p’ra chorar
P’ra dizer a quem partiu
Finda o teu sonho, resiste
Está na hora de voltar

Pobre de quem algum dia
Sentiu a alma a sangrar
De saudosa desventura
Vive a mais longa agonia
Sofre o mais duro penar
Padece a maior tortura

Saudades finos punhais
Que eu sinto com crueldade
Na minha alma a doer
Meu amor escuta os meus ais
E vem matar a saudade
Que aos poucos me faz morrer

Meu estilo

Jorge Rosa / João de Vasconcelos
Repertório de Ada de Castro


Há tantas maneiras tantas
De o fadinho se cantar
Eu canto assim e tu cantas
Como melhor te agradar

Cada qual canta o seu fado
Como bem lhe apetecer
Seja d’hoje, do passado
Ou de quando Deus quiser

Quem canta o fado é fadista
E é o que eu sou
Quem lhe dá estilo é estilista
E é o que eu dou
Não quero tê-lo, nem espero
Vê-lo mudado
Não espero vê-lo, nem quero
Ter outro fado


Há quem por isto ou aquilo
Ou p’lo gosto de mudar
Deixe o estilo do seu estilo
P’ra novo estilo arranjar

Não louvo o gosto a quem teima
Em fazer do fado um jogo
E é sabido que se queima
Quem muito brinca c’o fogo

Saudades minhas

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Tenho um barco junto à fonte
P’ra melhor ouvir cantar
A água que vem do monte
A caminho para o mar

Passa no tanque da horta
Parte dela vai regar
Cai em espuma na ribeira
Na pedra negra a brilhar

Passa, azenhas velhinhas
As pontes por restaurar
Murmura, saudades minhas
Sempre, sempre, sem parar

Alfama

Letra de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado Letra
Publicada no jornal Ecos de Portugal em 1953


Minha Alfama das vielas
Aonde o labor se abriga
És um alvo de aguarelas
Da nossa Lisboa antiga


Tuas ruas sinuosas
São, numa paz desmedida
Colmeias laboriosas
A latejarem de vida;
Os teus becos, sem saída
Com pitorescas janelas
São incomparáveis telas
Dum passado que se encobre;
És velhinha, honesta e pobre
Minha Alfama das vielas

Como outrora os cavaleiros
Defendiam sua dama
Serei sempre um dos primeiros
A defender minha Alfama;
Neste bairro brilha a chama
Que, sempre, sempre, me obriga
E, talvez, nunca consiga
A ser mais do que devoto;
Por este bairro remoto
Aonde o labor se abriga

Santa Luzia proteja
Este burgo envelhecido
Que a toda a hora lhe beija
A orla do seu vestido;
Eu, que tenho percorrido
De Alfama as pobres ruelas
Digo, pondo os olhos nelas
E o meu pensar a distância;
Alfama da minha infância
És um alvo de aguarelas

A desfiar seus desgostos
Há longos anos a vejo
Enlevada, de olhos postos
Nas verdes águas do Tejo;
Nesta vida o que desejo
Dum olhar de rapariga
Era pôr numa cantiga
Toda a gratidão que devo;
A este bairro de enlevo
Da nossa Lisboa antiga

Chico da Guia

Jorge Rosa / António Chaínho
Repertório de Fernando de Sousa
*também gravado por Aurélio Perry com música de Jorge Fontes


Com a banza a tiracolo
E o boné de pala ao lado
A cantarolar um fado
Lá vai o Chico da Guia

Ao vê-lo até me consolo
Por desmentir quem já disse
Há muito que a fadistice
Se afastou da Mouraria

Não há navalhas, pois não
Não há rufias, p’ra já
Cenas canalhas no Capelão
Também já não há
Não há Severas, bem sei
Nem Marialvas, tão-pouco
Mas fado sim
Pois passou por mim
Ainda há bem pouco


Dois copos no Zé da esquina
A alma põem-lhe em fogo
E um fado aparece logo
À sua boca colado

Há quem lhe lamente a sina
Mas gosto de o ver bebido
Pois com vinho é já sabido
Que o Chico todo ele é fado

Não peças ao meu olhar

Jorge Rosa / Alberto Costa *fado dois tons*
Repertório de Maria Amélia


Não me peças p’ra guardar
Segredo do nosso amor
Eu sei bem que o meu olhar
Não te faz esse favor

Pode ser que a minha fala
A perguntas não responda
Mas meu olhar não se cala
Não há segredo que esconda

Se uma paixão me sacode
E o amor me rouba a calma
Sei que o meu olhar não pode
Esconder segredos da alma

Pede ao calor que arrefeça
E ao frio que dê calor
Mas ao meu olhar não peças
Silêncio p’ró nosso amor

Um estranho silêncio

Jorge Rosa / Popular *fado corrido*
Repertório de Eurico Pavia


Um estranho silêncio mora
Na minh’alma de poeta
Nenhuma musa indiscreta
Me vem visitar agora

Tive uma, mandei-a embora
Esqueci-me dos meus versos
Andam no vento, dispersos
Perdi-os, deitei-os fora

Mal que partiste, partiu
A força do meu talento
Que a força do desalento
Os meus olhos destruiu

Mal me deixaste, deixou-me
O mundo de inspiração
O mel do meu coração
Azedou-se e azedou-me

Nenhuma musa indiscreta
Me vem visitar agora
Um estranho silêncio mora
Na minh’alma de poeta

A razão dos meus pecados

Artur Ribeiro / João Maria dos Anjos
Repertório de Maria Valejo


A razão dos meus pecados
Vai nos versos dos meus fados
P’ra quem os saiba entender
Pecados que em mim mantenho
Mas resta saber se tenho
Razão de pecados ter

Estes pecados tão feios
Que nascem nos meus anseios
E morrem nos braços teus
São tão grandes e sem lei
Que quando morrer nem sei
Como contá-los a Deus

A razão dos meus pecados
São teus olhos espantados
A transbordar de paixão
E essa boca bonita
Que quando me beija incita
A pecar meu coração

Eu disse que não

Artur Ribeiro / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de João Cabral


Eu disse que não à vida
Quando fui duro contigo
A vida ficou sentida
Deixou de me dar guarida
Deixou de contar comigo

Eu disse que não à sorte
Quando te deixei por nada
Agora sigo sem norte
E sem que nada me importe
Até ao fim da jornada

Eu disse que não ao sol
Que nos teus olhos trazias
Apagou-se o meu farol
E a vida pôs-me no rol
No rol das coisas vazias

Eu disse que não ao sonho
Quando parti do teu lado
E foi um não tão medonho
Que deixou assim tristonho
Este arremedo de fado

Pedra solta

António Campos / Carminho
Repertório de Carminho

Não vás à fonte sozinho
Que os rouxinóis do Mondego
Ao ver-te tão coradinho
Ficam em desassossego


Não andes assim descalço
Sendo lindo como és
Há sempre uma pedra em falso
A querer beijar os teus pés

Não tragas tal sol, tal vento
O teu cabelo doirado
Que o vento a todo o momento
Dá-lhe um beijo malcriado

Não passes mais sem olhar
Não passes sempre a correr
Se passas sem me falar
Eu não passo sem te ver

Forcado

Letra de Isidro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De calção e meia branca
Com jaqueta de ramagem
Vais ver se um toiro se arranca
Com uma arrancada franca
Levas contigo a coragem

É assim que entras na praça
Bravo moço de forcado
Orgulho da minha raça
Pegas com alma e com graça
É p’ra ti este meu fado

Fazes arte por amor
Não procuras um tesoiro
Forcado que és amador
Com alegria e valor
Bates as palmas ao toiro

Quando surge uma arrancada
Tu não te furtas ao perigo
Levando o corpo e mais nada
A cabeça é abraçada
Como se fosse um amigo

Então o toiro arrancado
Com fúria feroz e cega
Tem na cabeça o forcado
E por fim é dominado
Assim se faz uma pega

Domingo e cafuné

Letra e música de Carolina Deslandes
Repertório de Fábia Rebordão


De todas as coisas que conheço
És a única que sei de cor
Meu lugar onde adormeço
Meu único lugar de amor

Eu vim do outro lado
De um mundo triste de solidão
Onde o todo é um bocado
Um bocado amargo, sem solução

Debaixo da correnteza
Na raiva da maresia
Vim parar à tua mesa
Quem diria
Que debaixo da lama
Na fúria da maré
Vim parar à tua cama
De domingo e cafuné


De todas as coisas que pergunto
És a única que sei responder
Meu único assunto
Meu bem querer

Vim de onde não há calma
A correr para lugar nenhum
De sítios sem cor e sem alma
No vazio do grito e do zum-zum

Meu viver

Jorge Rosa / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de António Mourão


Não avalia ninguém
O peso da minha dor
Amar-te calando bem
Dentro de mim este amor

A adorar-te a vida inteira
Condenei meu coração
Agora não há maneira
De o livrar dessa prisão

Não duvides do meu querer
Para tal não tens motivo
É p’ra ti o meu viver
E é do teu amor que eu vivo

Mais louco que tu, sou eu
Que vivo a tua loucura
P’ra este errar teu e meu
Não há remédio nem cura

Trama

Vânia Duarte / André Dias e Vânia Duarte
Repertório de Vânia Duarte

Parto a loiça
Parto os pratos, largo a raiva, faço a trama
Que ideia, não me invento
Não comento, é vazio o meu tormento

Estrago a mala, que importa
Tranco a porta de uma vez
Faço como ele fez
Já não há duas sem três

É preguiça ou altivez
A razão, o coração
Canta só o teu refrão
Faz de ti um rei Leão


É de noite
Alguém canta qualquer tom de saudade
Melodias de verdade
São as portas da loucura, liberdade

Vida dura
Rebuliço ou confusão
Faço como ele fez
Já não há duas sem três

Tu és o Deus do meu fado

Letra de João Ferreira Rosa
Repertório de Teresa Tarouca
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O tempo dantes corria
Que parecia não ter fim
Agora não passa um dia
Sem passar um ano em mim

Disse-te adeus sem saber
Se a minh’alma, à despedida
Fica comigo a sofrer
Ou se vai à tua unida

E ao abrir os olhos meus
Quando triste canto o fado
Olho p’ra ti, vejo Deus
Pois és o Deus do meu fado

Diz-me

Letra e música de Jorge Cruz
Repertório de Fábia Rebordão


Diz-me inquieto, diz-me sem escudo
Diz-me ao perto, diz-me tudo
Diz-me em perigo, diz-me inocente
Diz-me renascido quase o mesmo, mas diferente

Diz-me como um anjo agora
Frágil, gentil comigo
Diz-me que te vais embora
Diz aquilo que eu não digo

Diz que imploras, que te arrependes
Pensaste bem e afinal me compreendes
Lança um incêndio em que eu arda de ternura
Diz inebriado que um amor assim tem cura

Traz um sopro de alegria
Salva-me com um sorriso
Diz-me tudo o que eu queria
Diz aquilo que é preciso

Diz-me sem rodeios, diz intensamente
Certo, sem receios, possa tudo ser diferente
Diz-me em modos brandos ou cego de revolta
Não fiques imóvel à porta


Diz tolice, faz qualquer coisa
Perde o juízo, dá um berro, parte a loiça
Diz que amanhã não será só mais um dia
Agarra-me os braços, adivinha o que eu diria

Prova o bem que me conheces
Sabes o que ninguém sabe
Mesmo longe não me esqueces
Vá, inventa uma verdade

Não sei se morro se vivo

Jorge Rosa / Alfredo dos Santos Correeiro
Repertório de Artur Batalha

Mais que viver, revivi
Cada minuto por ti
Em quantas horas te dei
Perdi da vida o motivo
Não sei se morro, se vivo
Sem ti, já nem de mim sei

Grito o teu nome onde passo
E sinto que me desgraço
Agarrado a uma lembrança
Persegue-me a tua imagem
E sigo atrás da miragem
Que o meu braço não alcança

Se alguém não tivesse ainda
Inventado essa tão linda
Palavra que diz: Saudade
Era eu, quase apostava
Que essa palavra inventava
Na tristeza que me invade

Andorinhas

Pedro Má Fama / Ana Moura
Repertório de Ana Moura


Passo os meus dias em longas filas
Em aldeias, vilas e cidades
As andorinhas é que são rainhas
A voar as linhas da liberdade

Eu quero tirar os pés do chão
Quero voar daqui p'ra fora
Ir me embora de avião
E só voltar um dia
Vou pôr a mala no porão
Saborear a Primavera
Não me esperem na estação
Um dia disse uma andorinha


Filha, o mundo gira
Usa a brisa a teu favor
A vida diz mentiras
Mas o sol avisa antes de se pôr

Eu quero tirar os pés do chão
Quero voar daqui p'ra fora
Ir me embora de avião
E só voltar um dia
Vou pôr a mala no porão
Saborear a Primavera
Não me esperem na estação
Já a minha mãe dizia


Solta as asas, volta as costas
Sê forte, avança para o mar
Sobe encostas, az apostas
Na sorte, não no azar

O candeeiro

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


A minha rua é estreitinha
Tem um candeeiro ao fim
Que abre os olhos à noitinha
E fica a olhar p’ra mim

Quando a rua está deserta
Quando a madrugada vem
Está o candeeiro alerta
P’ra ver se lá vem alguém

E por demais é sabido
Que eu não posso dar um passo
Sem que aquele atrevido
Não veja sempre o que eu faço

Está sempre de pé atrás
Se vou à porta ou janela
O candeeiro é capaz
De se pôr de sentinela

A porta sei que se cala
A janela é de bons modos
Mas se o candeeiro fala
Ando na boca de todos

Fado verdade

Fernando João / André Teixeira *decassílabo da Leonor*
Repertório de Leonor Santos


A vida é mensageira da saudade
O tempo traz o fim da solidão
A força do amor está na verdade
Oue faz bater mais forte o coração

O remorso vem sempre após o erro
O perdão muitas vezes chega tarde
Se o errar é humano e eu também erro
É porque sou humano e sou verdade

O tempo concedido p'ra viver
Caminha mão na mão com o passado
Se a ambição deitar tudo a perder
A humildade fará sombra ao pecado

Neste mundo que está por descobrir
Desejo que o bom senso prevaleça
E vou passar o tempo a sorrir
A quem uma afeição minha, mereça

Chaga de sol

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Despi teu corpo, deixei-o
Ser campo ao sul e ser mar
Ser caule de seiva cheio
E noite quase a chegar

E foste quase ternura
Vinho claro, amanhecer
Mãos de fogo em água pura
E verdade até morrer

E foste quase gaivota
No espaço que nos faltou
Asas da nossa derrota
E do frio que ficou

Agora, de ti, nem o espanto
Nem a raiva, nem a dor
Teu corpo, chaga de sol
É meu frio… e foste amor

Contos e ditos

Fábia Rebordão / Pedro Rodrigues dos Santos
Repertório de Fábia Rebordão


Tu e ela não falavam
Mas ainda namoravam
Coisas de contos e ditos
Disseram-te que ela lá estava
E que de outro gostava
Chegou-te logo aos ouvidos

O café da rua ao lado
Nem era mal frequentado
Todos diziam que não
Diziam que quando lá ia
Só ia durante o dia
P’ra se encontrar com o João

Tu temias o pior
Porque lhe tinhas amor
Não querias acreditar
No que ela se tinha tornado
Tu ficaste incomodado
Custou-te muito a aceitar

Um dia foste atrás dela
Espreitaste pela janela
No café, estava o João
Vestiste o teu melhor fato
Viste-a entrar com recato
Apenas p'ra comprar pão

Sonho sereno

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Naquela noite o luar
O silêncio, o murmurar
Tudo me fala de ti
Sopro ou brisa, vento ameno
Foi esse sonho sereno
Que nessa noite vivi

Quando as roseiras florirem
E os malmequeres cobrirem
A campina toda em flor
Iremos pelas estradas
Seguiremos de mãos dadas
O trilho do nosso amor

Aos poetas dos meus fados

*Nós somos culpados*
Artur Ribeiro / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Zélia Lopes

Eu choro de vez em quando
E rio quando há razão
Nos fados que vou cantando
Eu vou rindo e vou chorando
Conforme te vejo ou não

Se canto o fado mais triste
E tu entras de surpresa
Minh’ alma ao riso resiste
E no meu peito (a) persiste
O mesmo ar de tristeza

Mas se canto o Mouraria
E sais sem dizer adeus
Embora seja alegria
O que o meu rosto irradia
Há pranto nos olhos meus

Aos poetas dos meus fados
Perdão por nós vou pedir
Pois só nós somos culpados
De andarem desencontrados
Seus versos (b) do meu sentir

a) No poema original lê-se rosto e não peito
b) No poema original lê-se fados e não versos

Amor sem trono

Fernando João / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de Leonor Santos


Noite escura, noite triste
Noite chorando a pureza
Do dia que não vivi
No silencio que persiste
Sou poema sem beleza
Só porque vivo sem ti

Noite que vem longa e calma
Marcando com desespero
A fronteira do meu sonho
A dor que me vai na alma
Faz-me sentir que não quero
O dia que vem tristonho

Vou ficar ao abandono
Nesta noite em que o amor
Passa sem olhar p'ra mim
Meu amor é rei sem trono
E o sal do meu calor
É uma paixão sem fim

Domingo na Mouraria

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


No quase nada que resta
Da velhinha Mouraria
Há um Domingo de festa
Tão puro e sem fantasia

É quando Nossa Senhora
Sai a dar o seu passeio
Por entre o povo que a adora
E faz da fé seu recreio

Alfazema e rosmaninho
Perfumam o ar e o chão
Reza-se o fado baixinho
Canta-se alto uma oração

E pelos recantos sujos
Da Moirama, da Severa
Há mais tropa, mais marujos
E Maio é mais Primavera

Classe

Conan Osíris / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Ana Moura

Que eu caia de uma cadeira
Da escada, d' uma ladeira
Se eu me esqueci de estudar
Cada palavra certeira
Cada gestinho e maneira
Que usas p’ra me arreliar

E que eu morra aqui viúva
Seca que nem passa d’uva
Se alguma vez revelei
No teste que fiz à chuva
Calçaram como uma luva
Os lábios que ali beijei

Toda a flor em ti floresce
Toda a raça, toda a prece
O regaço laça o enlace
Ai se a tua avó soubesse
O sabor dessa benesse
De passar a quarta classe

As flores podem murchar
A minha terra rachar
Do Algarve até ao Minho
Eu hei-de sempre cantar
Nunca havia de chumbar
Na classe do teu beijinho

À partida

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Estava a cidade despida
Estavam meus braços caídos
Estava negra, negra a vida
Mais negros os meus sentidos

Perdido na multidão
Teu lenço branco acenava
E o meu pobre coração
Branco, mais branco, ficava

Teu riso, quase chorava
Teus olhos, esses não li
Teu olhar tão longe estava
Tão longe que nem o vi

À partida como à morte
Tudo se torna diferente
Já não há tempo que importe
Importa partir, somente

Contrato

Letra e música de Fábia Rebordão
Repertório da autora

Controvérsias e conversas
Estamos sempre às avessas
Não vou por ali
Tu dizes: "tens de ir”
Se pequeno ou grande
Se eu disser que "até depende”
Se o que quero ou não quero
És tu a decidir

Sempre, só desculpas
Subtilmente pões-me as culpas
E ocultas a verdade p'ra me confundir
Dizes que a razão está ao teu lado
Pois então pontuas a conversa "ponto"
Sem sequer me ouvir

E assim segue o desfecho sempre igual
Da história que sem história é o teu papel
Sem ter qualquer definição moral
Que o preço a pagar é tão cruel


Mas este contrato não tem termos vitalícios
E acredita que os indícios dão em rescisão
A cláusula três dizia que
De quando em vez devias pensar nos porquês
Porque nem sempre tens razão

A rua onde ninguém mora

Artur Ribeiro / Cavalheiro Júnior *fado porto*
Repertório de Renato Mota


A rua onde ninguém mora
Duma cidade perdida
Num país por descobrir
É o que me lembra agora
Este arremedo de vida
Que tu deixaste ao partir

Este ficar acordado
No meu quarto de ti cheio
A ver o tempo passar
Este arremedo de fado
Que num murmúrio, eu trauteio
Mas nunca chego a cantar

E enquanto a minha razão
Grita razões que eu aprovo
Para não ver-te jamais
Este doido coração
Tanto quer ver-te de novo
Como não quer ver-te mais

Maldita dor

José Fernandes Castro / André Teixeira *fado guilherme*
Repertório de Leonor Santos


Oh maldita dor que marcas presença
Trazendo a amargura violentamente
Causadora-mor da dor mais intensa
Que deixas escura a alma da gente


Sabemos que tens a vil crueldade
Usada a destempo de forma mordaz
E sempre que vens roubar felicidade
Trazes o tormento que tanto mal faz

Oh maldita dor, vai-te lá embora
E deixa comigo a minha verdade
Eu quero supor que a alma só chora
Porque tem consigo a luz da saudade

O fado que nos encanta

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

O Fado que nos encanta
Tem por lema este ditado
Tão fadista é o que canta
Como o que aprecia o Fado

O Fado que nos encanta
A mais linda das canções
Quando sai duma garganta
Entra em nossos corações

E na saudade que encerra
Tem por lema este ditado
Quanto mais longe da Terra
Mais se torna desejado

E se uma voz se levanta
Num verdadeiro ambiente
Tão fadista é o que canta
Como quem o ouve e sente

Porque às vezes – notem bem
O cantador mais louvado
Não sabe sentir tão bem
Como o que aprecia o Fado

Sozinha lá fora

Letra e música de Ana Moura
Repertório da autora


Se deixar o coração de fadista falar
Vou pedir-te que venhas agora
Mas tarde, lembro que pode matar
E eu não quero ficar mais sozinha lá fora

Não quero ficar sozinha lá fora
Mas lanço-me e apresso a hora
Não quero ficar sozinha lá fora
Quero acalmar este peito que chora


Quem vem salvar-me quando me deito
No pranto que agoniza o meu canto
Talvez seja Pedro e entretanto
As mãos em cruz sobre o peito
Das mãos de Deus tudo aceito

Talvez que eu morra lá fora
Talvez que eu morra entretanto
Não quero ficar sozinha lá fora
Quero-me na luz do meu canto

Talvez que eu morra lá fora
Talvez que eu morra entretanto
Não quero ficar sozinha lá fora
Vem que é já hora e eu canto

Tenho um encontro marcado

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Tenho um encontro marcado
Com o sol do fim do dia
Mais um dia, mais um fado
P’ra me fazer companhia

Céu azul, branco e dourado
De beleza e fantasia
O Tejo iluminado
Resplendor da agonia

Vejo Sintra, vejo os montes
Vejo Lisboa encantado
Recordo o cantar das fontes
Quando estavas a meu lado

Arco-íris deslumbrante
Tão vivo eu nunca vi
E nesse preciso instante
Tive saudades de ti

Ai isso era saberes demais

Rui Rocha / Miguel Rebelo
Repertório de Fábia Rebordão


Ai isso era saberes demais
Nem pouco te hei-de eu contar
Não vou falar nem dissimular bem
Isso era saberes demais
Não revelar nem te segredar bem
Isso era saberes demais


Contam-me histórias sem verdades
Queres saber?
De quem só sofre de saudades
Sem sofrer
Da velha feira das vaidades
Que irá ter
Mil bancas cheias de ansiedades

Contam-me enredos de novelas
Sem guião
E das meninas às janelas
Na canção
Que o fado escorre nas vielas
Por condão
E já fumegam as tigelas

Já sei que o homem descartou
O que aprendeu
E a tristeza até chorou
Quando nasceu
Que o tempo esquece que parou
Porque correu
E nem ele próprio reparou

Já sei que queres que eu te diga
Finalmente
A vida é breve na intriga
Simplesmente
Que a sorte existe e nos obriga
Estando ausente
A ser assim como a formiga

Não me apoquento nem te sobressalto
Bendito seja o domingo
E o passeio costumeiro
Não me perguntes sem que eu te responda
Entre ti e o final
Esta história acaba mal
Não queiras saber demais

Denunciar nem me declarar bem
Isso era saberes demais
Manifestar nem te conjurar bem
Isso era saberes demais
Me desviar nem me lastimar bem
Isso era saberes demais

Desabafos

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Publicada no jornal Guitarra de Portugal, de Setembro de 1945
com dedicatória ao prezado amigo Óscar Silva Tavares.

Conta só à minha mãe
Coração, o teu amor
Não contes a mais ninguém
Podem rir da minha dor


Se não podes mais, desata
O nó que a apertar-te vem
E o martírio que te mata
Conta só à minha mãe

Tens um segredo guardado
E passas horas de horror
Se é sem esperança, desgraçado
Coração, o teu amor

Sufoco os ais na garganta
E aconselho-te, meu bem
Se contares àquela santa
Não contes a mais ninguém

Das más línguas tenho medo
Coração, mostra valor
Se não guardas teu segredo
Podem rir da minha dor

Palma

David Mourão-Ferreira / Carminho
Repertório de Carminho


Lisas, as costas da mão
Cerrada, rugosa, a palma
Teu corpo deixou-me a alma
Na sombra da confusão

Lisas, as costas da mão
Mas por dentro, mas por dentro
Que labirinto sangrento
As unhas encontrarão

Ai… quando a palma se alcança
Ai… quando a alma se acalma
Na superfície da palma
Que sorrisos de criança

Ai… quando a palma se alcança
Logo no dorso da mão
Veias, nervos, mostrarão
Inquietação, desesperança

Velho Bairro Alto

Fernanda de Castro / Daniel Gouveia
Repertório de Daniel Gouveia

Bairro Alto… até a lua
Já sabe cantar o Fado
Cada pedra, cada rua
Tem o seu nome gravado

Janelas do Bairro Alto
Canários e sardinheiras
Roupa branca a esvoaçar
Como pombas ou bandeiras

Ó meu bairro, Bairro Alto
Dos garotos dos jornais
Dos fadistas, das guitarras
Dos pregões e dos pardais;
Bairro Alto sempre novo
Dos fidalgos e do povo


As casas do Bairro Alto
Mesmo as feias, são bonitas
Pois todas parecem feitas
De retalhinhos de chita

E as janelas e postigos
Com seus vestidos de cassa (a)
Parecem dizer adeus
A toda a gente que passa

(a) tecido transparente de linho ou algodão

No fim

*Mentir por nós é amor*
Diogo Clemente 
Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas
Júlio Proença *fado proença*
Repertório de Sara Correia

Não penses que não te vejo
Ou tão pouco és indiferente
Fico e suspendo o desejo
Imagino a dor e o beijo
Mesmo aqui à minha frente

Muitas vezes sem que visses
Eu cantava p’la cortina
Nas horas em que passavas
Talvez se um dia ouvisses
Ia ver-te ao fim da esquina
Rua abaixo onde moravas

Por muito que me afastasse
O destino é de quem ama
Rasga-me a alma, perder
Nunca pedi que te amasse
O amor é que me chama
Sempre que quero esquecer

É a vez de nos olharmos
Aqui me tens para ti
Mentirei se nos beijarmos
Acredito que ao jurarmos
Rompi o medo e menti

Saltei contigo à fogueira

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravida
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Saltei contigo à fogueira
Na noite de São João
Numa ingénua brincadeira
Queimei o meu coração


No nosso beco enfeitado
Deu-se um dia um bailarico
Onde o cheiro a manjerico
Andava por todo o lado
Para ser mais animado
O baile, encheu-se um balão
No meio dessa animação
Eu, alegre e prazenteira
Saltei contigo à fogueira
Na noite de São João


Aquilo é que foi dançar
Até ao romper do dia
Eu nem sequer compreendia
Que te começava a amar
Depois do baile acabar
É que eu voltei à razão
E vi que, nessa função
Sem saber de que maneira
Numa ingénua brincadeira
Queimei o meu coração

O fado é eterno

Fernando João / Franklim Godinho
Repertório de Leonor Santos


Não me venham cá dizer
Que esta prece morrerá
O fado não vai morrer
Enquanto eu andar por cá

O fado, canção dolente
Não se pode ignorar
É a voz de toda a gente
Que diz a vida a cantar

Não canto só fado antigo
Mas também o atual
Os dois eu trago comigo
Pois ambos são Portugal

Por isso esta verdade
Direi hoje e amanhã
O fado não tem idade
Portanto não morrerá

Voltei à vida

José Fernandes Castro / Júlio de Sousa *fado loucura*
Repertório de Lúcio Bamond


Estou aqui
Votei à vida
Voltei p’ra continuar
A ser o que quero ser
Estou aqui
De voz erguida
Se nasci para cantar
A cantar quero viver

Venci o medo que me trazia amarrado
E me dizia que o fado
Que era meu, ia ter fim
Venci as dores da alma que Deus me deu
Agora olho p’ró céu
Porque o céu olha por mim


Estou aqui
De corpo inteiro
O meu tempo derradeiro
Tem o destino p’la frente
Estou aqui
Na minha praia
Sou onda que não desmaia
Nem se perde na corrente

Sorri Alfama

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório de Vânia Duarte


Fechei a porta, deitei fora a chave antiga
Fiz-me ao caminho, p’ra ver Lisboa daqui
Senti que Alfama não me dava só guarida
Dava-me à luz, como o sol se dá aqui

Não há pregões nem há canoas por cantar
É outra coisa, menos dor, mais alegria
Se eu quis Alfama p’ra sorrir e para amar
É- porque Alfama canta o fado todo o dia

Sorri Alfama e vem brincar
Que os meus dois putos querem ser a tua rua
Sorri, Alfama, que o sol nasceu
E quer ser teu como a saudade é sempre tua
Sorri, Alfama se a noite acaba
E a fadistice já tem horas p’ra dormir
Sorri, Alfama, queres acordar
Trago os bons dias p’ra te dar sempre a sorrir

Se amanhã eu me despir

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se amanhã eu me despir
De encontro ao frio da cidade
E alguém me descobrir
Aonde dói a verdade;
És tu, amor, a vestir
O meu corpo de saudade

Se amanhã me ouvires gritar
À janela de te ver
É que a vontade de amar
Me faz ter medo de ser;
Como quem vai a afogar
Mesmo antes de nascer

Se amanhã vier descalço
P’los caminhos do amor
É porque perdi os sonhos
A sorrir à minha dor;
Se amanhã vier descalço
Não me deixes, por favor

Meu Fado de hoje e de sempre

Letra de José Fernandes Castro e Mónica Costa
Música de Raúl Portela *fado magala*

Com a voz que Deus me deu
Eu canto de olhar fechado
Guitarras são o meu céu
Sopro profundo do fado

Enquanto o meu xaile dança
Minha alma esquece tudo
Eu pareço uma criança
De coração tão desnudo

Canto e choro de contente
Enquanto o xaile bailar
Dou-me toda inteiramente
O meu é destino cantar

Fado de ontem, fado de hoje
Redenção, alento e puro
Enquanto o tempo não foge
Faço valer o futuro

Com a voz que Deus me deu
Eu canto de olhar cerrado
Ao dar aquilo que é meu
Sinto bem que sou do fado

Que da voz te nasçam pombas

Letra e música de Pedro Abrunhosa
Repertório de Sara Correia


Dizem que o meu fado é triste
Mão vazia desencontrada
Triste adeus este que existe
No beijo que não pediste
Tua voz amortalhada

Coração parou de espanto
Por outrem despedaçado
Foi no cais onde me viste
Contra o chão de peito em riste
Dizem que é triste o meu fado
Dizem que é triste o meu fado

Que da voz te nasçam pombas
Cresça luz onde houver sombras
Pode ser alegre ou triste
O teu fado em mim resiste
Que da voz te nasçam pombas


Dizem que é triste o meu fado
Na distância do teu beijo
Na dor de um quarto fechado
Um quarto ainda lembrado
Do teu corpo que não vejo

Barco que levas meus ais
Num balanço de ternura
Olhos que não voltam mais
Meu fado para onde vais
Deixa em mim esta loucura
Deixa em mim esta loucura

Meu coração

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fad
o

Ansiedade vivida
Em busca dum grande amor
Eu sigo à toa na vida
Entre a tristeza e a dor

Vontade de Deus, que quero
Guardar no meu coração
É da sua mão que espero
Receber a salvação

Meu coração, sem que eu queira
Andas de amor à procura
Andas sem eira nem beira
E já ninguém te segura

Não mando em ti, coração
Que mudas constantemente
Vais de paixão em paixão
Julgas ser independente

Independente não és
Não és tu, nem é ninguém
Entre ventos e marés
Nós dependemos de alguém

Onde vais, sempre a fazer
Teus erros, pecados meus
Pára, deixa de bater
Deixa que eu parta p’ra Deus

Marcha de Alcântara de 1969

José da Silva Nunes / Jorge d’Ávila
Repertório de Carminho


Meu par gingão é refilão judeu
Mas no amor é o melhor
Que Alcântara tem de seu
Alcântara vê o Tejo aos pés
Que vem ao mar e anda a bailar
No vaivém das marés

Cantar e rir, não há melhor p'ra mim
E notem bem, feliz de quem
Sabe viver assim
Venham ver para depois contar
Como eu cá sou feliz
Com o meu par

Alcântara vai com a cantiga que apregoa
Na melhor marcha que tem Lisboa
Deixem passar, sim
Porque Alcântara quando passa
Traz na alma doce e calma
E o valor da nossa raça

Parai, olhai, que Alcântara vai cantar
Lindas canções
Com mil balões para atirar ao ar
Venham cá ver o bairro audaz
Que nos seduz e encheu de luz
O balão que hoje traz

Alcântara vem, se queres viver e amar
Não digas não que ao coração
Sabe-lhe bem cantar
Venham ver a marcha popular
Que traz meu coração a palpitar

Tenho uma pedra encarnada

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Tenho uma pedra encarnada
Que me deram em menino
Que é a prova mais provada
Do amor do meu destino

Melhor que as rocas de prata
P’ra calar o meu chorar
Quando no berço gritava
E me não queria calar

Ao colo de minha mãe
Aquela pedra encarnada
É verdade lembro bem
Como com ela brincava

Estava na mão de meu pai
Que minha mãe enlaçava
De pequeno, sei também
Como ela me encantava

A Marcelina

Raquel Tavares e Vânia Duarte / Raquel Tavares *fado primeiro*
Repertório de Vânia Leal

Na esquina da minha rua
Já morou a Marcelina
Vivia histórias de amor
Emprestadas à menina

Ao destino deu a vida
No pecado quis ficar
Pudesse ela escolher
Outra história p’ra contar

Ficou só ela e o fado
E a vontade de o cantar
P’la janela trauteava
Recados que qu’ria dar

A menina foi mulher
Deu à dor o coração
Só nos seus versos vivia
As horas de solidão

Disse adeus à Marcelina
E ao nada que era seu
Deixou saudades à rua
E à menina que era eu

Desde que tu partiste

Carminho / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de Teresa Siqueira


Desde que tu partiste eu não voltei à casa
Aonde eu fui criança, aonde fui feliz
Desde que tu partiste, trago a memoria baça
Regresso com a lembrança do que alguém me diz

Dizem-me cores transparentes duma lareira acesa
Contam ser das amoras, o cheiro desses meses
Memórias são sementes, promessa de algo inteiro
Mas são esperas e horas que morrem muitas vezes

Não recordo a saudade, porque a distância destrói
A casa onde viveste, eu já não lembro por fim.
Mas p’ra dizer a verdade, aquilo que mais me dói
Desde que tu partiste, é não me lembrar de mim

Amor mudo

Mote popular / Glosa de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Mote popular
Não fales, faz-me sinais
Por causa da minha mãe
Os mudos também não falam
E entendem-se muito bem


Nós namoramos, é certo
Sem licença dos meus pais
Quando houver alguém por perto
Não fales, faz-me sinais

Sei que há outras raparigas
Que gostam de ti, também
Comigo não quero intrigas
Por causa da minha mãe

Se nos virem a falar
As más línguas não se calam
Quando estão a namorar
Os mudos também não falam

Calamos a nossa voz
Se perto estiver alguém
Os olhos falam por nós
E entendem-se muito bem

A mesma canção

Letra e música de Fábia Rebordão
Repertório da autora


Se eu viver p'ra ti
Como tu vives p'ra mim
Quem dança a mesma canção
É feliz até ao fim


Para quê ferir amores
Quando o laço é tão mais forte
Partilhámos tantas dores
Juntos demos com o Norte

Das palavras que dissemos
Boca fora sem querer
Não é dito o que sentimos
É só dito por dizer

Quando o amor é amor louco
E por mal de amor se morre
Se outro amor não nos socorre
Por amor se morre um pouco

Só quero viver de ti
Para ti, e por ti ser
Alma gémea, flor aberta
Que renasce e quer viver

Só nos resta a vida inteira

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

É o Tejo quem me chama
O pôr-do-sol, o luar
O amor que não m’engana
E não deixo de cantar

A tua vida sofrida
Sem prisão, és prisioneira
A verdade foi traída
Só nos resta a vida inteira

Não quero sofrer sequer
Quero um quarto p’ra dormir
Pensar e adormecer
Acordar e não fugir

Levo o meu barco no mar

Letra e música de Marcelo Camelo
Repertório de Carminho


Nos fios das flores que caem
Na linha das águas na areia
No brilho castanho dos olhos
Na força da lua cheia

No vento que move a montanha
No verde-escuro da mata
Nas curvas do rio de prata
Encontro um caminho p’ra ir

Levo o meu barco no mar

No cheiro de terra molhada
No jogo feliz do menino
No barro que cobre a estrada
Na curva que faz o destino

No canto escuro da noite
No seio dessa madrugada
Só esta canção e mais nada
Encontro um caminho p’ra ir

A hora mais triste

Fernando João / João Martins
Repertório de Leonor Santos


Esta é a hora mais triste
Das horas que já vivi
Na saudade que persiste
Sinto saudades de ti

Não sei se de ti preciso
Se de ti preciso tanto
Sem ti não há paraíso
E a vida não tem encanto

O sonho que não me assiste
Confirma que te perdi
Já nada de bom existe
Desde que não estás aqui

Bebo paixão de saudades
Do amor que então senti
Neste cantar de verdade
Sinto saudades de ti

Tempos passados

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal, número 360, de 10 de Março de 1939
com a indicação de ser cantada na música do Fado das toiradas

Nesses tempos tão saudosos, já passados
Os fidalgos e toureiros
Cantavam os nossos fados
Quais fadistas verdadeiros

E a fadistagem antiga
Tão cheia de valimento
Entre aquela gente amiga
Cantava a sua cantiga
Com orgulho e sentimento

E nas tipóias engalanadas
Iam pinóias para as touradas
No meio da festa e com agrado
Uma canção se ouvia
E a multidão sentia o nosso Fado


Falando na tradição das patuscadas
Que eu gostava ter vivido
Entre alegres desgarradas
E tão lindas guitarradas
Que parecem ter morrido

Foi o tempo das Severas
Do Marialva, das hortas
Daquelas festas sinceras
Dadas depois das esperas
E sempre fora de portas

Marcha da perdição

Letra e música de Joana Espadinha
Repertório de Sara Correia


A minha canção esmorece
Porque tardas em chegar
Não sei se o peito me arrefece
Ou se te espera p’ra jantar

O relógio está parado
A vizinha já espreitou
Dizem que o amor espera sentado
Mandei-te um recado
Mas nunca voltou

Pobre de quem te deseja
Partes corações sem dó
Nunca tenho a cama feita
E assim não me sinto só;
Um dia cais em desgraça
Só então vais descobrir
O que sente quem te dá o seu amor
Só para te ver fugir


Diz-me quantas faces tem a lua
P’ra saber o que esperar
A tua perdição é a rua
E eu teimo em perdoar

Será que anda zangado
O santo que nos juntou
Acho que esperava outro fado
O amor é sagrado
Mas não te bastou

Hostel da Mariquinhas

Capicua (Ana Matos Fernandes) / Alberto Janes
Repertório de Gisela João


Foi num site de turismo que encontrei
A foto da Casa da Mariquinhas
Está toda recuperada
A fachada está pintada
E a entrada decorada a andorinhas

Da receção ao terraço
P’ró turista modernaço
A senha da internet é alfacinha
Tuga, só um empregado atarefado
A servir a caipirinha

Sentei-me, pedi a lista do bistrô
E era tudo tão gourmet, que as sardinhas
Vinham em pão integral
Sem glúten e sem sal
Montadas na vertical e com ervinhas

Souvenir Bordalo Pinheiro 
A custar tanto dinheiro
Que só mesmo p’ra quem tem libras esterlinas
E não se esqueça de pôr like lá no site
Do Hostel da Mariquinhas

Tuk-Tuk estacionado na entrada
E o barulho de uma mala de rodinhas
Arrastada p’la calçada 
Pela "bifa acalorada
Que não sabe que Lisboa tem colinas

Não coube no 28 onde o espaço é muito pouco
E da baixa até á Graça vai à pinha
Carteiristas e turistas corpo-a-corpo
Tipo lata de sardinha

É bonito ver a casa restaurada
E há emprego p’ró menino e p'rá menina
Só é pena o português não ganhar para o T3
E ter que mudar p'ra lá da Conchinchina

Mas, talvez se eu emigrar
Possa um dia regressar
Com reforma que me pague as mordomias
E o serviço cinco estrelas, mini-bar
Do Hostel da Mariquinhas;
Serviço de cinco estrelas, mini-bar
Do Hostel da Mariquinhas

Madrugou

Letra e música de Mia Doras
Repertório de Sara Correia


Já raiou, madrugou o sol aqui
E a cidade despe o teu olhar
Hoje quero a lua no regaço
E um barco nos meus passos para ir

Despertei, fiz as tranças e benzi
O teu atalho, o som do teu andar
Hoje quero a lua no regaço
E um barco nos meus passos para ir

Que o amor te ilumine os passos
Que as rosas que te dei
Perfumem os teus braços
Foste acaso, foste rei
Por ti rasguei ribeiros
Foi por ti que amei inteira
Tanta água, tanta vez


Caminhei, brumas densas
Atraquei num mar suspenso, terno, fico aqui
Tenho a lua cheia no meu colo
E nos braços, as rosas que te dei

Em lençois de linho

Fernando Campos de Castro / Manuel Reis
Repertório de Francisco Moreira


Enchi toda a casa de rosas para a receber
Abri depois as janelas e sem perceber
A casa pareceu-me diferente
Maior com mais e luz e mais quente
De coisas que a gente pressente
E não sabe entender

Na mesa uma vela luzia num cheiro d’incenso
E todo o silêncio da casa me pareceu imenso
Senti os seus passos na rua
Mais leves que os passos da lua
E o desejo que o corpo insinua
Tornou-se mais denso

Depois de falarmos da vida
Trocamos conselhos
Que quem nos ouvisse julgava
Que somos já velhos
Ardendo de sede e loucura
Bebemos a noite mais pura
E pus o meu xaile em ternura
Sobre os seus joelhos


Ouvimos o fado que é nosso e por breves instantes
Mordemos as bocas num beijo de tudo distantes
Na cama os lençóis que lhe pus
São água que queima e seduz
Aqueles de linho e de luz
Que só são dos amantes

Não sei ler-te o coração

Jorge Fernando / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Vânia Duarte


Nasceu frio o dia triste
Como a névoa que persiste
A ensombrar-me o coração
Sombrias vozes na rua
Quebram o silêncio que a lua
Deixou preso à escuridão

Há qualquer coisa de vago
Na beleza de um afago
A mão a roçar p’la mão
Mas não deve ser amor
Ou então, cega p’la dor
Não sei ler-te o coração

P’la janela escurecida
Os lentos sinais de vida
Erguem-se pé ante pé
Vozes que mal acordadas
Deixam frases descuidadas
Ditas sem saber porquê

Há qualquer coisa em relevo
Nos teus olhos quase um medo
Uma estranha hesitação
Mas não deve ser amor
Ou então cega pela dor
Não sei ler-te o coração

Corridinha

Pedro Silva Martins / Luís José Martins
Repertório de Ana Moura

Eu já tenho o que fazer, quarta-feira
Recomeço a correr, quinta-feira
Desta vez é que vai ser, sexta-feira

É pena, sexta não dá
Sábado à noite há cachupa
E domingo, pois, lá está
A família toda junta
Feijoada, Deus me acuda
Vou correr vou, na segunda


Dou o tiro de partida, terça-feira
Compro os ténis de corrida, quarta-feira
Vai-me saber pela vida, quinta-feira

Vou rezar que o tempo mude, quarta-feira
É preciso é atitude, quinta-feira
Cuidar da minha saúde, sexta-feira

Vão ver

De loucura em loucura

Letra e música de Angelo Freire *marcha pinto coelho*
Repertório do autor


Não consigo entender
0 amor que por ti sinto
E o porquê da noite escura
Não o consigo esquecer
Pois na verdade, não minto
Por andar nesta loucura

0 meu mundo destruído
P’lo caminhar tão pesado
Das palavras no meu peito
É o coração distraído
Que esconde dentro dum fado
A carícia do teu jeito

Quando estamos lado a lado
Evitamos a verdade
Mais do que a própria mentira
E num olhar descuidado
A sombra da felicidade
Sinto-a de novo perdida

Não consigo entender
Nos versos da noite escura
A paixão desses amantes
Mas posso, por em ti crer
Que tudo nesta loucura
Volte a ser como era dantes

Minha mãe

Ana Moura / Popular *fado menor*
Repertório de Ana Moura
Interlúdio do álbum *Casa Guilhermina*

Minha mãe, dona das cores
Não tenhas pena que eu canto
Minha mãe, dona das cores
Não tenhas pena que eu canto

Deusa em coroa de flores
Enfeita meus olhos de espanto
Deusa em coroa de flores
Enfeita meus olhos de espanto

Nesse teu jeito de olhar

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Nesse teu jeito de olhar
Com timidez e pudor
Tu pretendes disfarçar
Uma promessa d’amor
Todo um desejo de amar

Por tanto te desejar
O desejo é mesmo assim
Eu fico sempre a pensar
Que tu olhas só p’ra mim
Nesse teu jeito de olhar

Eu de mim era senhor
Há muito deixei de o ser
Eu nunca pude supor
Que me pudesses prender
Com timidez e pudor

Quando procuro encontrar
Os olhos que Deus te deu
Ao desviares teu olhar
P’ra não encontrar o meu
Tu pretendes disfarçar

Pode ser enganador
O que em teus olhos eu vi
Mas seja lá como for
Eu sinto que existe em ti
Uma promessa d’amor

Mas um dia há-de chegar
Que seja em breve, eu desejo
Em que me hás-de mostrar
Com a ternura d’um beijo
Todo um desejo de amar

Poema triste

Mário Rainho / Angelo Freire *fado triste*
Repertório de Angelo Freire
Gravado originalmente por António Rocha com o título 
*Triste poema*

Ando tão triste, tão triste
E calculem que a tristeza
Que a toda a hora me assiste
Senta-se comigo à mesa

E deita-se no meu leito
Dorme na minha almofada
Aconchega-se em meu peito
Calada, sem dizer nada

Apenas me faz chorar
Dá-me quebranto, vazio
inventa no meu olhar
A corrente que há num rio

Ando tão triste, tão triste
Mais triste que a minha idade
E à tristeza que me assiste
Dizem todos que é saudade

Caminhada

Letra e música de Custódio Castelo
Repertório de Vânia Duarte


Já não estou sozinha
Já sonho acordada
Já tenho uma estrada
E uma luz divina
Que é quem me ilumina
Nesta caminhada
Eu não estou sozinha
Não temo mais nada


Levo a minha mãe
A saber quem sou
A saber também
Por onde não vou;
Se vou embalada
Chegar mais além
Diz-me a minha mãe
Se estarei errada

Levo a tua mão
P'ra me proteger
E o teu coração
Bem perto a bater;
Mas que mal fazia
Podermos trocar
A noite p’lo dia
E o ir p’lo chegar

Intenso

José Fernandes Castro / Armandinho *alexandrino*
Repertório de João Robalinho


Amar-te pode ser acordar em sorriso
Ter o mundo ao dispor e dele desfrutar
Amar-te pode ser chegar ao paraiso
Numa nuvem d'amor e nele pernoitar

Amar-te pode ser o princípio de tudo
Na hora da partida e também da chegada
Amor que teimas ser o meu grito tão mudo
Amar-te pode ser a noite e madrugada

Amar-te pode ser alcançar o futuro
No instante maior da nossa liberdade
Amar-te é perceber o código mais puro
Duma troca d'amor em pura felicidade

Foste à mesa onde eu estava

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Foste à mesa onde eu estava
Com tanta, com tanta gente
Pedir-me se eu te cantava
Os fados de antigamente

Levantei-me e fui cantar
Recordando o nosso amor
Falei de campo e de mar
E de estrelas sem fulgor

Recordei aquele dia
Que p’ra nós foi tão diferente
Perto do céu não havia
Nem resto de sol poente

A tremer cantei a hora
Do adeus que nos dissemos
Essa dor de ir embora
No abraço que nos demos

Quando acabei de cantar
E cerraste os olhos teus
Também eu por te olhar
A chorar fechei os meus

Era o adeus

Letra e música de Diogo Clemente
Repertório de Sara Correia


Era a primeira vez de um corpo são
A chuva amargurada na cortina
Os versos derramados pelo chão
O olhar fundo e vazio de uma menina

Era a neblina morta da manhã
Que Deus não estava em coisa nenhuma
O corpo entregue numa noite vã
O mar a ser olhado como espuma

Era o adeus
A casa grande aonde ninguém espera
Era o adeus
O frio do olhar calado
Que dorme do meu lado
P’ra dizer que já não vens aqui


Eram mulheres queimadas na fogueira
E cada uma era uma canção
Rezavam todas à nossa maneira
E fomos um pecado em oração

Passaram-se outras coisas entre a gente
No instante de te ter nos olhos meus
Nós fomos isto tudo de repente
No gesto frio e seco de um adeus

Amor traído

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O amor que foi traído
Tal como o espelho quebrado
Pode não ser destruído
Mas fica sempre marcado

Tal como o espelho quebrado
Que continua a servir
O amor pode existir
Num coração desprezado
Como espelho recup’rado
Que tudo dá distorcido
Mostrando onde foi partido
Com uma longa fissura
Perde a sua imagem pura
O amor que foi traído

Pode não ser destruído
O amor pela traição
E viver-se com paixão
O mesmo amor renascido
Mas nunca fica esquecido
O sofrimento passado
O amor atraiçoado
Pode ser sinceridade
Pode trazer felicidade
Mas fica sempre marcado

Marcado pelo ciúme
A cinzas foi reduzido
Nas cinzas procura lume
O amor que foi traído

A festa é de Lisboa

Nuno Moniz Pereira / Mário Moniz Pereira
Repertório de Teresa Siqueira


Lisboa vem p’ra rua, vem esquecer
As tristezas que ela tem
Lisboa vem p’ra rua p’ra beber
Todo o vinho sabe bem
Lisboa vem p’ra rua vem comer
Sardinhas e tudo mais
Enquanto houver alegria
Tu daqui é que não sais

A festa é de Lisboa, é de Lisboa
A marcha é p’ra danças, é p’ra dançar
À frente a Mouraria, Bairro Alto e a Madragoa
Há cor e alegria nestas marchas de Lisboa

Primeiro o Santo António vem casar
As noivas que estão à espera
Depois o São João p’ra dançar
Toda a noite, ai quem me dera
Por fim vem o São Pedro, vão subir
Mais foguetes pelos ares
Anda tudo sem dormir
C’os foguetes populares

Sonhos

Diogo Clemente / Angelo Freire *fado da lembrança*
Repertório de Angelo Freire


Descobri pelos meus sonhos
Que me lembro de nós dois
Que ainda te sei de cor
Somam-se os dias tristonhos
Passa uma vida e depois
Sonham-se os tempos de amor

Sonham-se as bocas pedindo
0s teus segredos nos meus
E os meus braços de morada
Enquanto sonho, vou rindo
Que a vida antes do adeus
Ficou em nós ancorada

Nunca nos vimos depois
Fui para longe, parti
Fui-me doer noutro chão
P’las saudades de nós dois
Ainda me sei preso a ti
Ainda és do meu coração

E vem ver, faz-lhe morada
P'ra quê teimar em tardar
Basta de medo e de dor
Vou esperar de madrugada
À hora em que eu vi chegar
0s olhos do meu amor

Esqueceste-te de nós

Letra e música de Carminho *alexandrino carminho*
Repertório de Sara Correia

Esqueceste-te de nós e do quanto sonhamos
Uma cidade imensa, morada deste amor
Esqueceste-te de nós e ao que hoje chegamos
É uma ferida intensa que nos traz tanta dor

Onde estão as canções que por ti repetia
Despertavam olhares, todos de entendimento
Esqueceste as orações da fé que nos unia
E em despidos altares, nem sombra de talento

Na solidão atroz de quando estamos juntos
Não resta a amizade nem a paz desejada
Esqueceste-te de nós e hoje são dois defuntos
Meus olhos sem idade, sem sonho e alma apagada

Última canção

Angelo Freire / Angelo Freire e Pedro Soares
Repertório de Angelo Freire


Noite, céu que me alimenta a solidão
Noite, peço ao vento a voz do coração
Noite, quando a vida pesa em pensamento vãos
Entrega as tuas mãos e dá-me o teu perdão
Não sei se o tempo cura as feridas da ilusão

Não sei de mim p’ra te encontrar
Viajo em nós p’ra te mostrar
Que a noite em mim
Faz nosso amor ser mais verdade
Quero que saias lentamente
Para que eu não te sinta ausente
E te prender ao doce encanto da saudade


Sinto que a vida me deu amor
Tanto, que o meu céu ganhou mais cor
Espero p’la saudade intensa a cantar só p’ra nós
Para não estarmos sós, deixa-me ouvir-te a voz
Que o meu silêncio te embala o som da madrugada