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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Loucura de amor

Henrique Rego / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Carlos Anjos

Chamaste-me louco um dia
E mal, então, eu sabia
Como o amor nos sorri
Foi feita a tua vontade
Hoje sou louco, é verdade
Mas louco apenas por ti

Não é loucura de louco
Esta loucura que há pouco 
Roubou-me a voz da razão
Mas é loucura maior
Eu ando louco de amor 
Sou louco do coração

Vivendo assim sem ter cura
Esta amorosa loucura 
Que te acabo de contar
Só te peço, minha vida
Que não me negues guarida
No louco do teu olhar

Sou andorinha ferida

António Carvalho da Costa / Casimiro Ramos *fado freira*
Repertório de Fernanda Meireles

Sou andorinha ferida
Ave com asa partida
Que não pode mais voar
Minhas penas são a vida
São a esperança já perdida
Que ainda me venhas a amar

O meu ninho de beiral
Feito de lama e de sal 
De paz, amor e ventura
Não há remédio ideal
Para a cura deste mal 
Deste mal que não tem cura

As penas perdem beleza
São negras, mas de tristeza 
De viver penosa espera
Nesta dor, nesta incerteza
De já não seres com certeza 
Para mim, a primavera

Os velhinhos

Henrique Rego / Alfredo Duarte *lembro-me de ti*
Repertório de Alfredo Marceneiro

Sentados nos degraus musgosos duma ermida
Dois velhos aldeões mortinhos de saudade
Com palavras de amor cândidas como as rosas
Lembravam com ternura a morta mocidade

Nos olhos do velhinho e com doce lembrança
Transparecia o amor do tempo já passado
E da velhinha, a voz, imersa em confiança
Lembrava um par gentil em dia de noivado

Eu tenho uma ambição, um grande e vasto sonho
Diz o velhinho em voz de estática doçura
Já que Deus nos uniu neste mesmo lar risonho
Só peço que nos dê a mesma sepultura

A festa do fado

Letra e música de Alice Pimenta
Repertório da autora

Eu sonhei em tempos idos
E aspirei ser feliz
Ninguém matou meus sentidos
E eu tenho aquilo que quis

Fiz um tapete d’esperança
Que de mansinho pisei
Já deixei de ser criança
Mas p’ra mim o sonho é rei

Versos ao fado, eu canto
P’ra não sofrer de amor
Com este encanto a vida é melhor
P’ra não ter dissabores
Pois por enquanto meu mal é d’amores

Vou cantando uma cantiga
E ao vento que passa, digo
O teu conforto me abriga
Quero ir passando contigo

Ao sol belo e majestoso
Peço que deixe brilhar
Aquele ser já idoso
Que teima em se enamorar

Mocidade perdida

Henrique Rego / última estrofe de Linhares Barbosa / Popular *fado menor*
Dueto de Alfredo Marceneiro e Alfredo Duarte Jnr

Amar demais é doidice
Amar de menos maldade
Rosto enrugado é velhice
Cabelo branco é saudade

Saudades são pombas mansas 
A quem nós damos guarida
Paraíso de lembranças 
Da mocidade perdida

Se a neve cai ao de leve 
Sem mesmo haver tempestade
O cabelo cor da neve 
Às vezes não é da idade
       
Pior que o tempo em nos pôr 
A cabeça encanecida
São as loucuras de amor 
São os desgostos da vida

Para o passado não olhes 
Quando chegares a velhinho
Porque é tarde, já não podes 
Voltar atrás ao caminho

É como a lenha queimada 
Dos velhos, o coração
As cinzas são as saudades 
Dos tempos que já lá vão

Linhares Barbosa
É tão bom ser pequenino 
Ter pai, ter mãe, ter avós
Ter esperança no destino 
E ter quem goste de nós

Passei ao lado

Letra e música de João Fernando
Repertório de Afonso Oliveira

Quando olho para trás
Sinto a dor de quem trabalha
Sem nada poder escolher
Nem mesmo a voz que o comanda;
O sentido da palavra
O mal de ter ou não ter

Passei ao lado 
Da canção que não cantava
Dos fados que me ensinaram
E por amor estou aqui
Passei ao lado 
Das coisas que eu sonhava
Quando ninguém me afirmava
Deves seguir por aí
Nasci num porto 
Que me deu a aventura
E consentiu a ternura
Dum novo amanhecer
E eu falava 
Com a margem do meu Tejo
Pedindo que desse um beijo
À força do meu querer

Olho a luz que me rodeia
No acender da candeia
Que me faz continuar;
Então agora é verdade,
Aquilo que se semeia
Pode ser o meu cantar

Rua do penedo

Carlos Leitão / Frederico de Brito *fado dos sonhos*
Repertório de Mara Pedro

Fiquei atrás da janela
Sem saber olhar por ela
À espera de te encontrar
Ainda pensei que talvez
Me sorrisses outra vez
Quando te visse passar

Mas a manhã demorou
E quando a tarde chegou 
Tu não vieste com ela
Pode ter sido ilusão
Mas juro que a minha mão 
Já não fechou a janela

As horas passam por mim
O dia já está no fim 
Quando te vejo sorrir
O tempo guarda a vontade
De amanhã ter mais saudade 
Quando voltares a partir

Já não há fora de portas

Henrique Rego / Popular *fado corrido*
Repertório de Alfredo Duarte Jnr.

Desapareceram as hortas
Retiros de patuscadas
Já não há fora de portas
Nem saudosas guitarradas

Foram-se as festas pacatas 
De fado a horas mortas
Findaram as serenatas 
Desapareceram as hortas

Boémios afidalgados 
Das estúrdias e touradas
Frequentavam afamados 
Retiros de patuscadas

O imortal corridinho 
Que tu, guitarra, transportas
Perdeu o brilho e o carinho 
Já não há fora de portas

Perdeu-se o nosso passado 
De cantos e desgarradas
Já não há esperas de gado 
Nem saudosas guitarradas

As fontes da minha aldeia

Henrique Rego / Alfredo Duarte 
Repertório de Alfredo Marceneiro

As fontes da minha aldeia
Murmuram, gemem em coro
E as águas que vão correndo
Levam consigo o meu choro

Era perto dessas fontes 
Que em transportes de poeta
Amei pastora dileta 
Como o sol adora os montes
Era linda e tinha as frontes 
Orladas de tranças d’ouro  
Mas a parca, por desdouro 
Veio ceifar-lhe a sua vida;
E as fontes, com dor sentida
Murmuram, gemem em coro                       

Ao ver as linfas serenas 
Gemerem queixas e mágoas
Mergulhei em suas águas 
O meu rosário de penas
Assim foram mil verbenas 
Por entre as pedras nascendo
E o musgo que vai crescendo 
Enlaça-as com singeleza;
Conservando-lhe a beleza
As águas que vão correndo

É fado a nossa vida

Vitor de Deus / Arménio de Melo
Repertório de Mónica Pinto

É fado a nossa vida e sem maldade
Os sonhos vão crescendo
Cresce a esperança
Venturas, desventuras e de criança
Tudo fica na mente com saudade

Eu vivo assim
Porque já tenho a meu lado
Uma dor sem fim
Que me deu meu triste fado
Talvez um dia
Para ficar sossegada
A nostalgia vá viver
P’ra outro lado

A dor que me destrói é o tormento
Da vida que me embala há muitas luas
Desespero cruel, mas sem lamento
Carrego as minhas mágoas e as tuas

Amor campestre

Henrique Rego / Popular *fado mouraria*
Mariana Silva e Alfredo Marceneiro

Ela
São duas amoras pretas 
Teus olhos enfeitiçados
Ai quem me dera colhê-los 
P’ra acabarem meus cuidados

Ele  
P’ra acabarem meus cuidados 
P’ra acabar minha paixão
Dou-te os meus olhos e tu 
Dá-me em troca o coração

Ela
Dá-me em troca o coração 
Quando o sol bater na eira
Terra que o sol não aqueça 
Não dá boa sementeira

Ele
Não dá boa sementeira 
Nem dão frutos os pomares
Não há sol que abrase mais 
Do que o sol de dois olhares

Ela
Do que o sol de dois olhares 
P’ra alumiar os amantes
Quando cantam rouxinóis 
Pelas quebradas distantes

Ele
Ontem à tarde na fonte 
Meu amor foi desprezado
Ou falavas com as águas 
Ou tens outro conversado

Ela   
Ou tens outro conversado 
Não me digas tal loucura
Ele  
Tua boca é um pão alvo 
Que a minha boca procura

Cabelo branco

Mote de José Ferreira / Glosa de Henrique Rego / Popular *fado mouraria*
Repertório de Alfredo Marceneiro
Este poema (com algumas alterações) também foi gravado 
por Manuel Dias com música de Amadeu Ramim

Mais uma noite perdida
Mais uma noite de fado
É mais um dia de vida
A recordar o passado

Amar demais é doidice 
Amar de menos maldade
Rosto enrugado é velhice 
Cabelo branco é saudade

Saudades são pombas mansas 
A quem nós damos guarida
Paraíso de lembranças 
Da mocidade perdida

Se a neve cai ao de leve 
Sem mesmo haver tempestade
O cabelo cor da neve 
Às vezes não é da idade
       
Pior que o tempo em nos pôr 
A cabeça encanecida
São as loucuras d’amor 
São os desgostos da vida

Para o passado não olhes 
Quando chegares a velhinho
Porque é tarde, já não podes 
Voltar atrás ao caminho

Esta estrofe não foi gravada
É como a lenha queimada 
Dos velhos o coração
As cinzas são as saudades 
Dos tempos que já lá vão

Teu vestido azul

Henrique Rego / Alfredo Duarte *fado maria marques c/versículo*
Repertório de Carlos Duarte

O azul é a cor do meu sonho / encantador
Que me vive no sentido / e nesse véu
Em tudo, em tudo suponho / a mesma cor
Ver o azul do teu vestido / cor do céu

Tem o azul com que encantas / tais encantos
O que será que essa cor tem / que me inebria
De azul trajam as santas / com seus mantos
E vestes de azul também / e és Maria

Sobressai tua beleza / e perfeição
No teu vestido envolvido / nessa cor
De mulher e portuguesa / coração
Que bem sabe amar na vida / com amor

Que segredo mora aí / nesse teu seio
Cofre de paixões infindas / misteriosas
Tua boca é um rubi / partido ao meio
E os teus dentes pérolas lindas / preciosas

Que importa, pois, outra cor / ou outros laços
Se de outra não sei gostar / toma sentido
Deus proteja o meu amor / nesses teus passos
Enquanto eu vivo a sonhar / com teu vestido

Última porta

Letra e música de Frederico de Brito
Repertório de Rodrigo

Abandonou-se ao desespero
Foi como náufrago sem rumo
Nunca na vida foi sincero
Por fim perdeu todo o aprumo

Falto d’amparo andou fugido
Não viu na vida um mau pronúncio
Até que ao fim, desiludido
Pôs nos jornais mais este anúncio

Resto d’esperança, perdeu-se
Do largo da ilusão 
À rua do esquecimento
Tem manchas de ingratidão
E sinais de sofrimento

Quem a achou, se não se importa
Entregue-a mesmo à saída
Do beco do fim da vida
Última porta

Vida que eu sei que anda ao acaso
Que não se inveja nem se gaba
Uma licença a curto prazo
Que ninguém sabe quando acaba

Não a ganhou, era uma herança
Foi dissipada aí a rodos
Como perdeu também a esperança
Vem amanhã nos jornais todos

Meu querido, meu velho, meu amigo

Erasmo Carlos / Roberto Carlos
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Esses seus cabelos brancos, bonitos
Esse olhar cansado, profundo
Me dizendo coisas num grito
Me ensinando tanto do mundo

Esses passos lentos de agora
Caminhando sempre comigo
Já correram tanto na vida
Meu querido, meu velho, meu amigo

Sua vida cheia de histórias
E essas rugas marcadas pelo tempo
Lembranças de antigas vitórias
Ou lágrimas choradas ao vento

Sua voz macia me acalma
E me diz muito mais do que eu digo
Me calando fundo na alma
Meu querido, meu velho, meu amigo

Seu passado vive presente
Nas experiências contidas
Nesse coração consciente
Da beleza das coisas da vida

Seu sorriso franco me anima
Seu conselho certo me ensina
Beijo suas mãos e lhe digo
Meu querido, meu velho, meu amigo

Eu já lhe falei de tudo
Mas tudo isso é pouco 
Diante do que sinto
Olhando seus cabelos tão bonitos
Beijo suas mãos e digo
Meu querido, meu velho, meu amigo

Ser antigo

Diogo Clemente / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Miguel Ramos

Lembrei-me ainda há pouco do que fomos
Algum de nós deixou de ser antigo
A vida deu-me os laços e levou-mos
Há tão levado tempo por castigo

Quisera eu dar de mim e ter saudades
Deixar este lugar que não tem nome
E encher este vazio de outras verdades
Que não a do vazio que me consome

Antigo fora o meu amor em rendas
Pendido nos teus ombros e hoje digo
Que a vida já não faz com que me prendas
Algum de nós deixou de ser antigo

Gosto do vento

António Tavares Teles / Tozé Brito
Repertório de Tony de Matos 

Gosto do vento
Aqui sentado à lareira
Um cigarro, um pensamento
A crepitar na fogueira

Gosto do vento
Desta dor a hora morta
Deste fumo em movimento
Para além daquela porta

Verso imenso que um Deus escreveu
Vendaval, ternura no céu
E se alguém o souber escutar
Saberá o que é o amor
E se um dia tu quiseres voltar
Diz ao vento para não parar
Vento é dor mas também perdão
Vem p'la sua mão

Gosto do vento
Mágoa voando lá fora
Que nasceu nesse momento
Em que tu te foste embora

Gosto do vento
Gosto dessa liberdade
Gosto desse sentimento
Mesmo feito de saudade

A lama que nos separa

José Gonçalez / Frederico de Brito *fado Britinho*
Repertório de Miguel Ramos

Se um dia me encontrares
Por aí e não gostares
De me veres assim agora
Sou o resto que ficou
Dum coração que parou
Desde que te foste embora

Não estranhes a minha dor
Quando sabes que o amor 
É ferida que nunca sara
E por mais anos que passem
Há sempre sonhos que nascem
a lama que nos separa

Talvez possa a solidão
Encontrar na tua mão 
Algum carinho depois
Encosta ao teu coração
Esses restos da paixão 
Que já foi de nós os dois

Mas não digas a ninguém
Com esse ar de desdém 
Que ainda gostas de mim
Dizes o que te convém
São mentiras, sabes bem 
Que o nosso amor teve fim

A rua do desencontro

Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa
Repertório de Estela Alves 

Alguém me encontrou
Alguém me perdeu
Na rua do desencontro
Nem eu me encontro 
Já não sou eu

Perdida por ti
Perdida de ti
Sou isto que sou agora
Deitem-me fora, vou por aí

Meu rasto no chão 
Traz sonhos perdidos
Nos braços caídos
Não há sequer uma ilusão

Alguém me encontrou
Alguém me perdeu
No mundo do desengano
O teu engano também foi meu

Amada por ti
Beijada por ti
Sou isto que sou agora
Não houve aurora quando nasci

Só tenho de meu os restos de nada
Na boca rasgada 
Nem o sabor dum beijo teu
Pois quem me encontrou
Também me perdeu

A verdade

Diogo Clemente / Lino Bernardo Teixeira *fado ginguinha*
Repertório de Miguel Ramos

Percorro antigas avenidas da cidade
Como um mendigo sem sentido nem guarida
Tantos caminhos percorri na minha vida
Para acabar na velha rua da saudade

Já estive aqui, na ingratidão desta incerteza
Deixando à sorte a ilusão de liberdade
Quando se está, como eu, perdido na cidade
Não há viela que nos tire da tristeza

Se por acaso me encontrares na tua rua
Não penses nada que me faça má presença
Nem sequer penses que seria culpa tua
Se o meu destino decidisse tal sentença

É nessa rua a minha casa, na verdade
Sentes na cama o vazio onde pertenço
Porém, enquanto não te entregas ao bom senso
Termino assim, só e perdido na cidade