-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

. . .

Ai fadinho

Letra e música de Carlos Paião
Repertório de José da Câmara

Ai fadinho… 
Andamos sempre a refilar, fadinho
Todos nos querem enganar, fadinho
Cuidadinho, tu vê lá
Ai fadinho… 
Põe a cabeça no lugar, fadinho
Que isso da gente arrepiar caminho
Ai fadinho… já não dá

Não dá pra ir agora aprender línguas
Pensar em esforços 
Com um sol deste tamanho
Se o colega não se esmera
Concerteza que não espera
Que eu sozinho 
Tenha a arte e o engenho

E depois, sabemos como é no estrangeiro
Lugar divino, onde enfim, tudo melhora
Assim sendo está previsto
Nem perder tempo com isto
Já que nunca vai ser bom como lá fora

E nem que desse e nem que fosse 
O que está a dar
O que está a dar nunca dá nada
Sabes bem
Mas podes crer que é altamente
Andar aí por entre a gente
Acreditando ser melhor do que ninguém

Fazer projectos muito, muito, opcionais
E ter ideias lindamente originais
Criticando as conjunturas
E a falta de estruturas
São desculpas 
Porque sonhamos demais

Fado triste, triste fado

João Ferreira Rosa / Michel Legrand (sinfonia concertante de Mozart) J.Braga
Repertório de João Braga

Fado triste, triste fado
Vida assim não sei viver
Mesmo sem voz, o pecado
Espera o perdão pra morrer

Fado triste, triste sina 
Mais valia não te ver
Teus lindos olhos, menina 
A razão de me perder

Portugal, país distante 
Em qualquer lado do mar
Meu amor e minha amante 
Branca bandeira sem par

Morre o soldado na guerra 
Morre o fadista a cantar
De novo regresso à terra 
Onde aprendi a brincar

Cantei cantigas antigas 
Quantas formas de te amar
Cantei quantas raparigas 
Nos meus sonhos de encantar;
Fado triste, triste fado 
Bem mais pior que chorar
Bem mais pior que chora

A vida que há na saudade

Tiago Torres da Silva / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Cristina Nóbrega 

Quando o silêncio me diz
Que a vida está por um triz
E eu sei que fala verdade
Vou pra trás duma guitarra
E a minha voz agarra
A vida que há na saudade

Vem um fado e outro fado
E o coração cansado 
Diz que não quer sofrer tanto
Porque já sabe de cor
O que lhe faz o menor 
De cada vez que o canto

Mas o guitarrista toca
Uma guitarra que evoca 
Outra guitarra mais triste
Está guardada no meu peito
E toca um fado que é feito
Da dor mais forte que existe

Ao escutá-la no meu sangue
O meu coração exangue 
Volta a bater com vontade
E é nas cordas da viola
Que a minha vida se enrola 
Na vida que há na saudade

Senhora não vás ao rio

Manuel Alegre / João Mário Veiga, João Braga
Repertório de João Braga

Senhora, não vás ao rio
Não vás ao rio
Não deixes que te dispa o vento frio
E te mordam negros peixes
Senhora não vás ao rio

Senhora não vás à praia
Não vás, não vás
As marés e o vento, levam-te a saia
As algas prendem-te os pés
Senhora não vás à praia

Senhora não vás ao bosque 
Não queiras que de repente
Um fulano venha e se enrosque 
Dentro de ti, para sempre
Senhora não vás ao bosque

Não murches senhora, em casa 
A casa tem suas teias
Deixa entrar o golpe de asa 
Rompe rendas e cadeias
Não murches senhora, em casa

A vida não é castigo 
Solta os cabelos e a saia
Deixa-me ir voar contigo 
Sobre o rio, sobre a praia
Senhora, não é castigo

Refúgio

Aldina Duarte / José Ferreira
Repertório de Aldina Duarte

Passa-se o tempo a correr
Enquanto a vida deixar
Esperaremos como sempre
Que alguém nos venha salvar

Numa casa abandonada
Ronda a morte sem chorar
Do que foi não ficou nada
Pra quem parte e quer ficar

Não há ninguém 
Na solidão dos meus passos
E pouco a pouco, os abraços
São a cruz do dia escuro
Virá alguém 
Matar de vez estas mágoas
Caminhando sobre as águas
Sem passado e sem futuro

Que o mar da nossa incerteza
Seja a força que nos cega
Quando a terra nos despreza
E o céu nega a nossa entrega

No embalo da canoa
Adormecem desvalidos
No som das ondas à toa
A voz dos corpos vencidos

Fado às voltas

Tiago Torres da Silva / Alberto Costa *fado dois tons*
Repertório de Cristina Nóbrega 

Volta e meia estou de volta
Volta e meia já não estou
Quem me quis à rédea solta
Foi quem comigo ficou

Quem, em troca de carinho 
Quis prender-me o coração
Ficou a falar sozinho 
Nas voltinhas do Marão

Quantas voltas dá o mundo 
P'ra ensinar que a verdade
É que a vida é um segundo 
Aos olhos da eternidade?

Vamos lá: é volta e meia 
Cada qual escolhe o seu par
Que eu posso mudar de ideia 
Antes da noite acabar

Rua dos correeiros

Manuel Alegre / João Braga
Repertório de João Braga

Na Rua dos Correeiros 
Lisboa discreta e estreita
Tem por detrás dos letreiros
Outra Lisboa que espreita

Lisboa que nos aperta 
Com seu coração antigo
Onde o meu amor desperta 
Para me levar consigo

Lisboa que passa esguia
A lembrar amores primeiros
E a secreta poesia
Da Rua dos Correeiros
Rua que vai para o Tejo
Sem nunca o Tejo se ver
Rua onde passo e só vejo
O que ela finge esconder

Tudo sabe a intimidade 
A eternidade e os instantes
O futuro em outra idade 
O agora dentro do antes

Ao longe, um vapor apita 
E há o bater dos calceteiros
Que deixam Lisboa escrita 
Na Rua dos Correeiros

Terra prometida

Aldina Duarte / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Aldina Duarte

Porque enganas a tristeza
Quando a idade te pesa
E a culpa reaparece
No teu olhar transparente
A verdade é indiferente
Ao teu corpo que envelhece

Recusamos a mudança
Ao contrário da criança 
Que insiste na descoberta
Somos filhos do segredo
Criados para ter medo 
De viver a vida incerta

Na suprema servidão
Negaremos a paixão 
E o amor é sacrifício
Quem nos vale à nossa beira
Para encontrar a maneira 
De voltar tudo ao início

No silêncio há mais vida
Que na terra prometida 
A quem parece ter sorte
Há memórias que se apagam
E outras que se alimentam 
No esquecimento da morte

Lisboa manda recado

Mário Martins / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de José da Câmara

Lisboa manda recado 
Como que faz um apelo
O rio perdeu a fragata 
Que lhe alisava o cabelo

Nunca mais a asa branca 
Da vela que o vento enchia
Desenhou no Mar da Palha
Uma sombra fugidia

Lisboa está pensativa
Lisboa, não há maneira
Perdeu-se a varina esquiva
Dona do Cais da Ribeira;
E o rio não pode com ela
Fragata sem vela que hoje é batelão
Lisboa à beira do Tejo
Afoga num beijo o mar solidão

Não há gaivotas que cheguem 
Desdobradas a acenar
Pra repor vida nos olhos 
Duma cidade a teimar

A teimar que não tem força 
P'ra de novo se enfeitar
Com sardinhas-lantejoulas 
Que o sol sabe apregoar

Tributo a Tio Alfredo

João Ferreira Rosa / Alfredo Duarte *fado bailarico*
Repertório de João Braga 

Tio Alfredo Marceneiro
Rei do fado por condão
Não conhece o Limoeiro
Teve sempre profissão

Senhor de Santa Isabel 
Menino de cada rua
Nas cegadas, voz de mel 
Prateada pela lua

És o fado que cantais
o sentir do coração
Lisboa dos arraiais 
Do São Luís é que não

Sem tua voz, menos fado 
Nas guitarras a trinar
Nem a Marcha nem o Cravo 
Eu teria de cantar

Senhora dos meus passos

Aldina Duarte / Alberto Correia *fado vanda - sem razão*
Repertório de Aldina Duarte 

Quem me dera ser aquilo que não vejo
Donde nascem as palavras prometidas
E ver um anjo caído
Por ter esquecido vidas vencidas
Rasgo o manto das certezas
Entre as coisas proibidas

Caminho pela estrada fora
Sem rumo nem perdição
Apenas num instante
O meu amor errante
Traçado na tua mão

Eu aceito a minha dor, a que não quer
Sangrar um coração em morte lenta
Eu poderia mentir
E até fingir quem se lamenta
Na procura da verdade
Só o destino me atormenta

Caminho pela estrada fora
Sem rumo nem perdição
Apenas quero ser
Um corpo sem querer
Feliz sem ter razão

A volta prometida

Carlos Leitão / Custódio Castelo
Repertório de Carlos Leitão

Há mel nesses teus olhos desenhados
Pelas mãos de um criador que eu inventei
Escondido nos trejeitos mais ousados
Sou eu a querer ser Deus porque não sei

Dói tanto esta saudade anunciada
Agora que de ti só fico eu
A história de nós dois, imaginada
Será o que partiu mas não morreu

Sou eu na lezíria já despida
Na presunção errada de te ver
À espera de um regresso feito vida
Para que eu possa ficar sem te perder

E agora, meu amor, enquanto espero
A volta prometida que inventei
O mel do teu olhar é o desespero
Sempre que Deus me esconde o que não sei

És livre

Letra e música de Alves Coelho Filho
Repertório de Francisco José 

Esperei por ti, não vieste
Breve esqueceste que por ti espero
De ideias faço um conjunto
E a mim pergunto porque te quero
Olho na rua quem passa
Mas por desgraça não vejo o céu
Perdeste a hora mais querida
Da curta vida que Deus te deu

És livre… já nada te prende a mim
És livre… tanto te quis e vê bem
És livre… e por saber que és assim
O meu amor quis ter fim
Pra dar lugar ao desdém
Sorris… podes sorrir dos meus ais
Mas não encontras jamais
Quem te queira como eu quis

Tenho força de vontade
Pra que a saudade não me atormente
Eu vou esquecer essa boca
Perdida, louca, que só me mente
Eu vou-me embora, descansa
Viver sem esperança dá pena e dó
Eu já vi que é impossível
E é preferível eu viver só

Outra noite

Tiago Torres da Silva / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Ana Margarida 
Letra vencedora do concurso *O Meu Fado* da Rádio Sim, 2017

Se a noite deixasse ao dia
O que eu tenho de alegria
Quando, ao ver a escuridão
Os meus olhos compreendem
Que aquilo que não entende
Só entende o coração

Quem dera que a madrugada
Deixasse a noite parada 
E nunca lhe desse fim
Que ao ver-te os olhos nos meus
Eu não escutasse o adeus 
Da noite que eu vejo em mim

Ah meu amor, se eu pudesse
Faria que o sol me desse 
O que a noite me roubou
Mas como não posso tanto
Fecho os meus olhos e canto 
A noite que eu mesma sou

Não quero saber se o dia
É só feito de alegria 
Ou de tristeza também
Não importa o que aprendi
Só quero saber de ti 
Sempre que outra noite vem

A noite fica-me bem

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Foi sempre tempo demais
À espera não sei do quê
Imaginando finais
Para aquilo que não se vê

Amor, não sei se haverá 
Nesta dolente agonia
Dizem alguns que será 
A noite a não querer ser dia

Que seja então como dizem 
A noite fica-me bem
Que as madrugadas são belas 
Quando não são de ninguém

E se a loucura ficar 
No lugar de quem não esqueço
É porque a sorte de amar 
Será sempre a que mereço

Uma graça antiga

Aldina Duarte / Fernando Freitas *fado das sardinheiras*
Repertório de Aldina Duarte

Aquela voz bem timbrada
Naquele olhar magoado
Podia não ser mais nada
Mas tudo aquilo era fado

Caminhava distraído 
Como quem anda no céu
E quando havia um sentido 
O seu destino era eu

Dançamos com as estrelas 
Andei descalça contigo
Cantamos pelas vielas 
As rimas dum fado antigo

A vida às vezes diz sim 
Aos sonhos de quem não espera
Aquele teu beijo sem fim 
Foi a minha primavera

Separação

Nuno Júdice / António Victorino de Almeida
Repertório de Carlos do Carmo

Não quero a cor vermelha de um sol-pôr
No dia a nascer, rosa que floresce
Quero a cor da manhã com seu fulgor
Na sombra que vem quando a tarde cresce

Não te quero dizer tudo o que digo
Num silêncio, num olhar, num segredo
O que penso é teu quando estou contigo
Podes levá-lo, lembrá-lo sem medo

E nesta noite em que não sei de ti
Nesse caminho em que andas perdida
Fica a saber que nunca te esqueci
Para onde foste foi a minha vida

Beco escuro, sem ninguém ao fundo
Praça deserta que o vento invade
Somos nós na solidão deste mundo
No amor que nos prende à liberdade

E ao chegares de longa viagem
Ombros nus, cabelo despenteado
Voltarei a ter na tua imagem
A mais bela mulher na voz de um fado

Bebendo a água do mar

Tiago Torres da Silva / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Cristiana Águas 

O fado vem à noitinha
Mas quando chega a meu lado
Se não me encontra sozinha
Diz que já não quer ser fado

Por isso te dou a mão 
Mas não te posso abraçar
Devo amar a solidão 
P'ra quando o fado chegar

Não sei se lhe dê abrigo 
Não sei o que o fado quer
Sei que faz amor comigo 
Mas não me chama mulher

Através de uma parede 
Ouço o meu peito a chorar
Como quem morre de sede 
Bebendo a água do mar