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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Sonhos de fado

Fernando Gomes dos Santos / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Liliana Martins

Em cada noite assombrada
Pelos passos do passado
A minha alma fechada
Abre-se em sonhos de fado

Vem o som de uma guitarra
E logo os medos se vão
Cada nota que me amarra
Liberta-me o coração

São essas horas felizes
Que me aliviam as dores
Dão-me a força que as raízes
Dão à mais frágil das flores

A madrugada vai alta
Quando regresso ao meu leito.
Se um pesadelo me assalta
Canto-lhe um fado perfeito

Fado de Arraiolos

Carlos Leitão / Henrique Leitão
Repertório de Carlos Leitão

Os olhos deslumbrados pela loucura
Ao verem as searas desmaiadas
Imploram entre lábios de doçura
A morte de tão tristes madrugadas

Arrasta-se um silêncio mal tratado
Urgente, nesta sede de esquecer
E fica mais de mim, abandonado
E caio à escassa fome de viver

Nos campos onde o corpo tem sentença
Hé gritos de dois braços junto ao céu
Suplicando o fim em recompensa
Por tudo o que quisera a se perdeu

Mereço a tua imagem pelo trigo
A lonjura do amor que já não vi
O choro, meu amor, é o meu castigo
Porque afinal, fui eu que te perdi

Nós somos a noite

Carlos Leitão / Guilherme Banza
Repertório de Carlos Leitão

Cheguei cedo
Com tempo e sem medo
Com flores e saudade
Abri as janelas
Às rosas mais belas
Da cor da cidade

Mora o teu cheiro
Que chega primeiro
Confunde-se em mim
É pena a demora
Mas p'la luz da hora 
Ainda bem que vim

Já não tenho idade
Tenho a liberdade 
De um dia feliz (estás a chegar)
Abraços e beijos
Amor e desejos 
Enquanto sorris

Agora que estás
Não olhes para trás
Fecha as portadas
Despe o passado
E deita-te ao lado 
De mil madrugadas

Meditando eu a vi

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de João Pedro e Raquel Tavares

Meditando eu a vi
Olhar preso no além
Olhos, misto de ternura e de fé
Lembrando a minha mãe

Conversamos sobre a cor
Do mar em tempestade
Foi então que ela sorriu e o amor
Fez-se flor nessa tarde

Tão pouco foi o nosso tempo
Para tão grande paixão
Perdoa amor, eu partir sem adeus
Tarde na vida
Encontrei o teu amor, a tua mão
Mas espero, amor
O teu perdão e o de Deus

Setembro ia caindo
E o mar se agigantava
E essa força que no tempo nos unia
Dia a dia aumentava

Mas o mar que tanto amara
Nos seus braços a levou
Sobre a areia que o mar 
Há pouco molhara
O recado deixou

Então soube que ela descobriu a cor
Do mar em tempestade

Toma conta de mim

Cátia Oliveira / Manuel Graça Pereira
Repertório de Lilana Martins

Vou pôr o coração ao largo
E num gesto meio vago
Despedir-me sem ofensa
E só ao longe o peito amargo
Que há tanto tempo trago
Pode ser maior que a crença

Que este amor tão desnorteado
Desavindo, inabitado
Tenha ainda como amar

Mas toma conta de mim
Que me dá tanto medo
Este meio lugar
Entre o final e a chegada
De uma nova balada
Dói ser, dói errar

Fado de um tempo incerto

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Deixa toda a razão em que te quis
Porque ela morrerá sem te encontrar
Mesmo que o tempo seja o que se diz
O dia vai passar, mas devagar

E eu que era triste, assim serei
Um dia que é de chuva sem o ser
E assim tu não quiseste o que te dei
E tudo se repete sem viver

Sem hora, sem resposta, sem saída
Suspira a solidão reinventada
Se o tempo vai esperar, eu digo à vida
Que só tu vais chegar, de madrugada

Se o tempo não esperar, eu digo à vida
Que já não há razões na madrugada
Em vez de nós os dois, a despedida
Será a porta aberta para a chegada;
Se o tempo não esperar, eu peço à vida
Mais tempo para esperar a madrugada

Vinha dizer adeus

Rosa Lobato Faria / Tó Zé Brito
Repertório de Vasco Rafael

Vinha dizer adeus, mas raparei
Que na faia do pátio era Setembro
Vinha dizer adeus, mas encontrei
Um livro na cadeira do alpendre

Vinha dizer adeus, mas as maçãs
Estavam no forno a assar e esse cheiro
Fez-me parar na porta das manhãs
A relembrar o nosso amor inteiro

Vinha dizer adeus, mas o teu cão
Veio lamber-me os dedos hesitantes
Vinha dizer adeus, mas vi no chão
A manta, ao pé do lume como dantes

Vinha dizer adeus, mas senti fome
Ao ver a mesa posta para dois
Dálias e o guardanapo com o meu nome
Sem ter havido antes nem depois

Vinha dizer adeus, mas que surpresa
À Passionata... o último andamento
Como se tu tivesses a certeza
Que eu ia chegar nesse momento

Vinha dizer adeus, mas nesse olhar
Vi tanta solidão, tantos abraços
Tantas amendoeiras ao luar
Que escondi, chorando nos teus braços
                                                                                 
Vinha dizer que já não estou contigo
Que este amor singular já não é nosso
Vinha dizer adeus, mas já não digo
Vinha dizer adeus, mas já não posso

Sereia

Tiago Torres da Silva / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Né Ladeiras

Beira-mar à beira areia
O azul do mar chamou-me
E na voz duma sereia
Ouvi dizer o teu nome

Beira-mar à beira amor
Perguntei-lhe, quem me me chama
Ela disse que era a dor
Que não pode amar, mas ama

Beira-mar à beira porto
Gritou: a minh’alma é tua
Mas quando olhei o seu corpo
Foi-se embora semi-nua

Beira a beirar solidão
Durante dias chamei-a
E no mar do coração
Ao longe escuto a sereia

Tempo da nossa vida

Elsa Laboreiro / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Lilana Martins

Passa o tempo, controverso
Tão calado, tão discreto
Que parece não passar
E eu, distraída, me esqueço
Que existe um rumo secreto
Com pressa de me encontrar

Nesta noite de luar
Oiço ao longe, a voz do mar
Que acorda em mim, a saudade
Saudade do que não sei
Do que ainda não sonhei
No tempo da minha idade

Pensativa, me disperso
Por rotas que não conheço
E que anseio desvendar
Comece eu, onde comece
Sei apenas que o Universo
Rima o teu, com o meu olhar

Meu amor, vamos depressa
Para que o tempo se não esqueça 
De nos deixar encontrar
O tempo da nossa vida
Tão feliz e desmedida 
Como a imensidão do mar

Fado quer dizer destino

Conde Sobral / Popular *fado das horas*
Repertório de Carlos Guedes de Amorim

Fado quer dizer destino
Sorte que a vida nos traz
Cantá-lo é puxar o sino
Que só toque nas horas más

Não há vida sem sem amor 
Nem força sem alimento
Não há desgosto sem dor
em fado sem sofrimento

Fado tem tanta tristeza
E uma tristeza sem par
Mais triste só a certeza 
De o não podermos cantar

Que o fado nasceu do povo 
Mas tem o mundo na mão
Pois há sempre um fado novo 
Onde houver um coração

Vem cá, amor

Fernando Gomes dos Santos / Valter Rolo
Repertório de Liliana Martins 

Meu amor, esta saudade
Dos meus olhos a espelharem-se nos teus
Dura já mais que uma eternidade
E só há pouco me disseste adeus

Meu amor, mata-me a fome
De te qu’rer ao pé de mim a toda a hora
Quando sais, entra a dor que me consome
Eu não sou eu, sempre que vais embora

Vem cá, amor, vem cá
Não fujas mais de mim
Nem sequer por um segundo
Amor, vem já
Sem ti, a vida é um sono profundo
Vem cá, amor, vem cá
Preciso de sentir
O teu corpo junto ao meu
Amor, vem já
Só tu me dás o que ninguém mais me deu

Meu amor, este desejo
De sentir a tua pele contra a minha
Vai crescendo enquanto não te vejo
Eu desespero se ficar sozinha

Por de Deus ter recebido

António Aleixo / Manuel dos Santos
Repertório de Alfredo Guedes

Por de Deus ter recebido
Tantas provas de bondade
Já lhe tenho até pedido
A morte por caridade

O homem sonha acordado
Sonhando, a vida percorre
E desse sonho doirado
Só acorda quando morre

Os nobres que se envaidecem
Plo muito que querem ser
São frutos bobs que apodrecem 
Mal começam a nascer

A vida é uma ribeira
Caí nela, infelizmente
Hoje vou, queira ou não queira
Aos trambolhões na corrente

O tempo e a vida

Fernando Gomes dos Santos / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Liliana Martins

A vida diz ao tempo que não corra
O tempo não a escuta e vai em frente
E enquanto ela o persegue até que morra
O tempo continua, indiferente

O tempo ordena à vida: não te atrases
A vida bem se esforça por prendê-lo
Se todos os instantes são fugazes
Há que os aproveitar sem desmazelo

Na infância, todo o tempo é infinito
Depois vai começando a escassear
Por fim, a vida aceita o veredicto
De que nada adianta em se atrasar

Mas por gastarmos tanta, tanta vida
Na pressa de agarrar cada momento
Quando queremos travar essa corrida
O tempo já passou, já não há tempo

O dia do casamento

Carlos Leitão / Mário Pacheco
Repertório de Carlos Leitão

Há uma janela enfeitada
Aberta de madrugada
Ao doce enleio do trigo
Há lírios roxos no chão
Em jeito de um coração
Que se apressa em estar contigo

Todos os dias são este
Na manhã que tu escolheste 
A branco e mel vestida
Deixa que o sol amanheça
Pôr grinaldas na cabeça 
E vem mostrá-las à vida

Sorri, que o povo saiu
À rua de onde partiu 
Quando não havia fim
Deixa que o vento te grite
Te despenteie e se agite 
E dancem juntos para mim

Que o choro seja alegria
Bordada de poesia 
Agora que vais chegar
Meu amor, hoje é diferente
Tanto sonho e tanta gente 
E tanto tempo para amar

Bem-vindo

Cátia Oliveira / Manuel Graça Pereira
Repertório de Liliana Martins 

Bendita, meu amor, bendita
Hora em que me perdi no Tejo
Bendita, meu amor, bendita
Lisboa que trouxe o teu beijo

Bendito, meu amor, bendito
O ronco desse cacilheiro
Bendito, meu amor, bendito
Que traz em ti o mundo inteiro

E não há mal que sempre dure nem desdita
Meu bom fado, meu bom fado
E até já o meu coração se acredita
Que é amado, meu bom fado

Bem-vinda, meu amor, bem-vinda
A força viva que me invade
Não sei se vem de ti, ainda
Ou se virá desta cidade

Bem-vindo, meu amor, bem-vindo
O amor que dentro mal me cabe
Não sei se vem de ti, é lindo
Se vem do Tejo, diz quem sabe

Arco de triunfo à liberdade

Bernardo Sá Nogueira / Armando Machado *fado súplica
Repertório de Bernardo Sá Nogueira

Às vezes de manhã, o sol nascente
Leva-me pelas ruas, sem destino
E a minha cidade, então silente
Abraça-me a alma de menino

E enquanto vai crescendo o seu calor
Sossegam, lá bem longe, as mansas corças
Ai de mim, porém, por teu amor
Eu vou perdendo a pouco as fracas forças

Já de manhã me enleias, me consomes
De tarde me arrebatas, já me elevas
De noite me abandonas, de mim somes
Mas deixas uma luz nas vagas trevas

Nada quero saber, pouco me importa
A tristeza profunda, a ansiedade
Se me move a certeza dessa porta
Desse arco de triunfo à liberdade

Aqui existo

Rosa Lobato Faria / Mário Pacheco
Repertório de Sandra Correia

Aqui existo
Solidão entre amarguras
Vagas serenas, loucuras
E alegrias desgarradas
Aqui me visto
Da cor que a noite me deu
Mais perto de ser mais eu
Quando oiço chorar guitarras

Aqui me ergo
Sem reservas, sem amarras
Venho do fundo das águas
Sem futuro, sem passado
Aqui me entrego
À magia de um segredo
Que atravessa o mundo a medo
E é sempre o grito de um fado

Sou portuguesa
Filha do sol que me beija
Do vento que me deseja
Da poesia que me enlaça
Sou portuguesa
Portuguesa concerteza
Ave livre e indefesa
Flor campestre que esvoaça

Sonhos meus

Teresinha Landeiro / Carlos da Maia 
Repertório de Teresinha Landeiro

Saudosos são os meus sonhos
Lembro os tristes e os risonhos
Já não sonho cor do mar
Num enleio de tormentos
Um navio de desalentos
Naufragou no meu cantar

Vi teu jeito de partida
E no mar li tua ida
Meu sorriso então esqueci
A névoa desvaneceu
O meu sonho entristeceu
Saudades de te ver senti

Se sonhar já não tem cor
Vou pedir-te, meu amor
Que voltes na calmaria
Quando o barco atracar
E o tormento se afundar
Sonharei até ser dia

Lisboa 77

António José / José Carlos Areias
Repertório de Maria Dilar

Santo António está à porta
Mas de festas nem sinal
Há gente que não se importa
Que haja ou não um arraial

Há sempre quem contradiga
Que cantar não é preciso
Que mal tem uma cantiga?
Que mal tem dar um sorriso?

Ai, ai, Lisboa
Os teus santos desolados
Andam tão abandonados
No teu figurino novo
Ai, ai, Lisboa
Vê lá bem, toma atenção
Só acaba a tradição
Quando acabar este povo

Mês de Junho, a festa é tua
Ó Lisboa vem cantar
Outra vez de rua em rua
Uma marcha popular

A verdade salta à vista
E o povo não te perdoa
Se deixas de ser bairrista
Se deixas de ser Lisboa

Fado fantasia

Letra e música de Edgar Nogueira *fado Edgar*
Repertório de Catarina Rosa
                                                                                     
Por ti eu sinto alegria
Neste amor de cada dia
Que docemente vais dando
Há no teu ser, fantasia
Envolvendo uma harmonia
Que vivendo vou amando

Se às vezes vou chorando
É só porque não sei quando
Gozo de plena vontade
O bem que me vais deixando
E dentro em mim vai gerando
E paz e a liberdade

Eu vivo a fantasia
Da grande alma que nos guia
Dum beijo absorvente
Beijando sob a magia
Da etérea sabedoria
Viveremos para sempre

Dizer adeus é tão triste

Branco Rodrigues / José da Câmara
Repertório de José da Câmara

Dizer adeus é tão triste
Como é triste a noite escura
É dor que dói e persiste
Em saudade e amargura

Quando alguém então nos deixa
Ai, dói tanto a despedida
O coração não se queixa
Mas perdem-se anos de vida

Um adeus dito à partida
Fica na alma a roer
E lembra por toda a vida
Quem se não pode esquecer

Adeus... palavra singela
Que é tão triste de verdade
Não há saudade sem ela
Nem adeus sem a saudade

Quem não ama não vive

António Botto/ Pedro Jóia
Repertório de Cláudia Leal

Já da minha alma se apagam
As alegrias que eu tive
Só quem ama tem tristezas
Mas quem não ama não vive

Andam pétalas e folhas 
Bailando no ar sombrio
E as lágrimas dos meus olhos 
Vão correndo ao desafio

Em tudo vejo saudades 
A terra parece morta
Ó vento que tudo levas 
Não venhas à minha porta

E as minhas rosas vermelhas 
As rosas do meu jardim
Parecem assim caídas 
Restos de um grande festim

Meu coração desgraçado 
Bebe ainda mais licor
Que importa morrer amando 
Que importa morrer d'amor

A vida por ti

Letra e música de Angelo Freire
Repertório de Sandra Correia 

A vida é como a escada em caracol
Que dá voltas e voltas e não cansa
A vida não é mais que um girassol
Que ao sol nega o olhar duma lembrança

Não sei como é viver sem teu viver
No limite do céu, o teu olhar
Me faz compreender o teu sofrer
E ter esta vontade de te amar

Palavras que ao mar eu entreguei
Palavras que dei pra te encontrar
Palavras que ao meu coração neguei
Deixando o meu silêncio ao acordar

Palavras que ao mar eu entreguei
Num porto distante ao acordar
Perdoa, meu amor, porque sonhei
O sonho de não querer mais acordar

Distância que me aperta o coração
Aperto que me afunda num vazio
Vazio que é apenas ilusão
Do amor que a pouco e pouco me é tardio

Confio a minha vida ao teu caminho
Nos caminhos traçados pela mão
Confia a tua vida ao meu carinho
O aperto que me afunda o coração