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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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O sol à procura

Elsa Laboreiro / José António Sabrosa
Repertório de Yola Dinis 

Onde estás que te não vejo
Minha fonte de água pura
Minha vontade de ser
Sem ti não amo nem beijo
Sou como o sol à procura
De uma manhã pra nascer

Em cada noite, o luar
Abraça a minha janela 
Numa ternura sem fim
E diz-me que o teu olhar
É ao longe aquela estrela 
Que brilha só para mim

E a brisa da madrugada
Num sopro suave e lento 
Beija o meu rosto cansado
E eu beijo então a alvorada
Dou asas ao pensamento  
E dou-te, amor, o meu fado

Não podes dizer que não

Ary dos Santos / César d’Oliveira / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Teus olhos são azeitonas 
São tempero do meu pão
Do alto da oliveira 
Não podes dizer que não

Do alto da romãzeira 
Não podes dizer que não
Pois se a romã é janeira 
O amor não tem estação
Do alto da romãzeira 
Não podes dizer que não

Passaste por mim há pouco 
Cheirando a murta e limão
Do alto do limoeiro 
Não podes dizer que não

Desfolhamos a saudade 
À sombra duma roseira
O amor é uma rosa 
Que cheira ao que a rosa cheira;
Do alto da solidão 
Não queiras dizer que não

De laranjas vendedeira
Não vendi o coração
São tudo aquilo que eu queira
Cantando de mão em mão
Do alto da laranjeira
Não querias dizer que não
Do alto da solidão
Não queiras dizer que não

Sofrer de amor

João de Freitas / Popular *fado mouraria*
Repertório de Manuel de Almeida 

É triste andar a penar
É triste vivermos sós
Mas o mais triste é gostar
De quem não gosta de nós

Se alguma vez me deixares 
Meu amor, por caridade
Entre as coisas que levares
Leva também a saudade

Há os que vivem a sorrir 
Porque guardam ilusões
Levam a vida a mentir 
Aos seus próprios corações

E se a tristeza anda a par 
Com a dor que não se cansa
De que nos serve gostar 
D’alguém que não nos dá esp’rança

E todos devem saber 
Quanto deve ser atroz
Nós andarmos a sofrer 
Por quem não gosta de nós

Cerejas e Jasmins

Letra e música de Yola Dinis
Repertório da autora 

Folhas áridas no solo
Adejam com a brisa
Neste bosque as sombras sussurram
É um labirinto de surpresas

O som do vento nos ramos
Arrepia almas de amor
Enternece minh’alma apaixonada
É lá que mora o meu amor

Lá, os lagos são de prata
Ai… meu amor
As cerejas doces são rubis
E as flores de jasmim afrodisiam a hora

Varinas

Carlos Simões Neves / Casimiro Ramos
Repertório de Fernando Farinha 

Esbeltas, frescas, ladinas
Mal se estende a luz do céu
Vozes frescas, cristalinas
Descalças, pernas ao léu
Eis o rancho das varinas

Tranças negras ou doiradas 
Por baixo das canastrinhas
Por sobre as faces rosadas 
Lindos lenços de pintinhas
Aos beijos nas madrugadas

Belezas que vão saudar 
A brisa das marés cheias
Ao vê-las chego a pensar 
Que as encantadas sereias
Andam fugidas do mar

Quando ouvem o pregão 
Que alegre no espaço alastra
Como a dar-lhes atenção 
Espreita o peixe da canastra
Pasmado de admiração

Se ao piropo alguma atende 
P'las ruas, pelas esquinas       
Aviso a quem as pretende 
Que entre o rancho das varinas
Só o peixe é que se vende

Não julgues

Clemente Pereira / Francisco Viana *fado vianinha
Repertório de Cidália Moreira 

Não julgues que fiquei presa
À tua falsa afeição
Coração que o meu despreza
Não pode sentir paixão

Não julgues que vou chorar 
Porque te foste embora
Quem aprendeu a cantar 
Já não sabe quando chora

Não julgues que estou à espera 
De quem foi e não voltou
Já deixei de ser quem era
P'ra ser agora quem sou

Não julgues que fecho, não 
Minha porta, podes crer
Com o bater do coração 
Posso não te ouvir bater

Noivas de Santo António

Carlos Rocha / Artur Ribeiro
Repertório de Maria da Fé 

Vão casar no mesmo dia 
Pois Lisboa assim o quis
Cada qual a mais formosa 
Cada qual a mais feliz

Nenhuma acreditaria 
Há pouco tempo, talvez
Que o seu dia cor-de-rosa 
Fosse a 13 deste mês

São noivas de Santo António 
Passando ao sol da manhã
De véus brancos a acenar 
Na mesma alegria sã
São noivas de Santo António 
Unidas na mesma fé
E casadas no altar 
De Santo António da Sé

Estou a vê-las, uma a uma 
A ajoelhar com fervor
A sorrir enternecidas 
Agradecendo ao Senhor

Que sem esquecer nenhuma 
E em troca da sua mão
Vai unir as suas vidas 
Ao bem do seu coração

Sombra negra

António Vasco Morais / Alberto Costa *fado dois tons*
Repertório de António Vasco Morais

Sombra negra no meu peito
Não te quero, vai-te embora
Não serves, não te aproveito
No passado nem agora
              
Alastras dentro de mim 
A escuridão que enegrece
Não quero parecer assim 
Não gosto como parece

Trazes noite à minha vida 
E nas trevas já não vejo
Vou sorrir-te à despedida 
De onde hei-de mandar-te um beijo

De noite foste o lamento 
Que hoje já não me seduz
Acabou-se o sofrimento 
Vejo finalmente a luz

Paixão

Urbano Tavares Rodrigues / António Vitorino d’Almeida
Repertório de Carlos do Carmo 

Ai coração de Lisboa
Sangrando por tantas feridas
Dizem; que excesso de amor
Tantas rosas comovidas

Arde a paixão no teu rosto
E as ondas altas do mar
Rolam no fervor do ar
A tempestade de Agosto

Com um beijo me prendeste 
À tua blusa dourada
Com outro beijo me deste 
Os mirtos da madrugada

Maria filha da luz 
Ancoraste em meus abraços
E a espuma do sol reluz 
No segredo dos teus braços

O teu olhar

Fernando Farinha / Carlos Ramos
Repertório de Maria Amélia Proença 

Se o meu olhar não te encontrasse
Eu não seria tão diferente como sou
Apenas cinza que ficou
Talvez eu fosse o mesmo lume
A mesma chama radiosa que deu luz
E o teu desprezo apagou

Quis transformar 
Um simples sonho em realidade
Semeei rosas 
E em vez de amor, colhi maldade
Triste surpresa 
Que eu recebi da natureza

Feliz de quem um dia gostou d’alguém
E em troca do seu amor
Amor igual recebeu  
Pobre de mim 
Que gostei d’alguém assim
Com tanto amor e no fim
Em troca nada me deu

Pra dentro do meu ser

Tiago Torres da Silva / Armandinho *fado alexandrino*
Repertório de Cristina Nóbrega 

Quem diz não ter saudade de tudo o que perdeu
Ou não fala verdade, ou fala e não viveu
Às vezes, por orgulho, também fingi esquecer
Que o fado é um mergulho pra dentro do meu ser

Mas quando a voz se agarra ao saudoso lamento
Das cordas da guitarra, já nada é fingimento
Então, o meu futuro dá as mãos ao passado
Trazendo o que procuro e tudo o mais é fado

O resto é o caminho que os meus pés vão pisando
Hei-de ir devagarinho, hei-de ir, mas são sei quando
Então a tua vida vem deitar-se a meu lado
E eu peço-lhe guarida, pois tudo o mais é fado

Disfarce

Motes de Carlos Conde e Marco Oliveira / Glosas de Marco Oliveira
3a estrofe Fernando Farinha / Filipe Pinto *fado meia noite*
Repertório de Marco Oliveira com António Rocha 

Eu já não sei o que sinto 
Cada vez que falam dela
É um ódio que eu consinto 
Que venha esperar por ela

Falam d’amor e desminto 
Quase tudo foi em vão
Mas se volta a solidão 
Eu já não sei o que sinto

Às vezes é um disfarce 
O ódio que a gente sente
É a saudade a lembrar-se 
De quem se esquece da gente

Há quem queira mascarar-se 
Com risos de felicidade
O riso não tem verdade 
Às vezes é um disfarce

Já chorei e foi por ela 
Que tão cedo m’esqueceu
E digo; pra mim morreu 
Cada vez que falam dela

Quem me vê, sabe que minto 
Se eu disser que não estou triste
Mas aquilo que persiste 
É um ódio que eu consinto

Quando o amor se mostra ardente
Não julgues ter mais valor
Às vezes tem mais amor 
O ódio que a gente sente

Às vezes, o criticar-se 
Alguém a quem se quis bem
Não é ódio nem desdém 
É a saudade a lembrar-se

Há sempre alguém que vê nela 
Tristeza como a ninguém
Há-de sentir o desdém 
Que venha esperar por ela

Tudo é simples e aparente 
Mas a maior crueldade
É nós sentirmos saudade 
De quem se esquece da gente

Tenho a certeza que voltas

Jorge Rosa / José Marques do Amaral
Repertório de Maria Amélia Proença 

Depois das tuas revoltas
Acaba em mim a razão
Tenho a certeza que voltas
Mesmo que digas que não

Sabes que sei perdoar 
Todas as tuas ofensas
Este meu fraco é gostar 
Gostar mais do que tu pensas

Virás, eu sei que virás 
Tarde sim, mas confiante
Como sei que mandarás 
Teu coração adiante

Como o meu queres ‘stá seguro 
Do muito amor que me tens
Eu afirmo, aposto e juro 
Tenho a certeza que vens

Fado Tereza Tarouca

Tiago Torres da Silva / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Rui Neiva Correia 

Se alguma voz pudesse em si conter
Toda a dor que há neste mundo novo
Ah… essa voz seria uma mulher
E essa mulher seria toda um povo

A seu lado vêm reis e vêm pobres
Os pobres trazer dores que alguém sentira
E estendem a sua capa aos nobres
Pra que ela pouse aos pés e não se fira

Há rainha, afinal temos rainha
Que o fado é rei daquilo que se sente
Mulher que não é tua nem é minha
É nossa, sim, mas é de toda a gente

Tem na alma uma voz que nos agarra
E em nós vence o bem e vence o mal
A voz que transforma uma guitarra
Numa dor… nesta dor que é Portugal

No lado esquerdo do peito

José Carlos Vasconcelos / António Vitorino d’Almeida
Repertório de Carlos do Carmo 

No lado esquerdo do peito
Tens uma rosa de lume
E na cama que me deito
Sinto sempre o seu perfume;
E ao seu perfume me ajeito
Como se fora um costume
Sem que não posso passar

No lado esquerdo do peito
Tens uma rosa de lume
No lado esquerdo do peito
Tens uma rosa de mar

E tens também no direito
Como se fora um só lado
E assim te tenho no peito
Assim no peito te trago;
Como um vendaval desfeito
Como um barquinho no lago
Como uma princesa sem jeito
Num reino despassarado;
Como um fado sem queixume
Que ando sempre a cantar

Quando se ama loucamente

Letra e música de Manuel Cruz
Repertório de Aldina Duarte

Quando se ama loucamente
Nada existe doutra forma
Tudo no seu peso incerto
Todo o rasgo de um motivo
De olhos num sorriso aberto
Dando o corpo ao esquecimento
Como um tronco na corrente

Quando o sangue corre à frente
Não há corações ao alto
Vivos numa nuvem de éter
Rebolando pela estrada
Embalados no cansaço
Poros desse espaço aberto
De quem ama loucamente

Mesmo que o desejo abrande
Nunca se vai apagar
Nunca lhe ganhaste o jogo
Em todo este tempo
Não percas mais tempo a tentar

Teu lindo nome

Letra e música de José Niza
Repertório de Joana Amendoeira 

Teu lindo nome é Lisboa
Flor de Liz, céu de Lisboa
Onde a saudade esvoaça
Numa gaivota que voa
Há todo o tempo que passa
Entre Camões e Pessoa

Posso chamar-te saudade 
Miragem de um barco ao longe
Como a tristeza que foge 
Das marés do coração

Podes ter nome de estrela 
Ou de amor, ou de ilusão
De um sonho a que não se chega 
Por mais que se estenda a mão

Posso chamar-te alegria 
Do pão, do vinho e canções
Pão-nosso de cada dia 
Com fermento de ilusões

Há um apelo do mar 
E no Tejo uma algazarra
Há sempre um barco a partir 
Das cordas de uma guitarra

Lisboa, de noite e dia 
Finge tão completamente
Que chega a ser alegria 
A dor que deveras sente

Fora do mundo

Aldina Duarte / Miguel Ramos *fado calixto*
Repertório de Aldina Duarte

De manhã, quanto te oiço
Mais depressa me levanto
Atravesso o corredor
Que aproxima o nosso amor
Como o sol em cada canto

Tardes inteiras contigo 
Sinto-me fora do mundo
Tu e eu… é fogo posto
A queimar todo o desgosto 
No desejo mais profundo

Mil e uma noites sem ti 
Tantas vidas por viver
É tão falsa a despedida
Como a alça descaída 
Que endireitas sem querer

Nada disto tem retorno 
Dizes tu, sem aflição
Somos dois na mesma dança
Enlaçados na lembrança 
Perdidos no coração

No amor do teu nome

Aldina Duarte / Martinho d’Assunção *fado alexandrino*
Repertório de Aldina Duarte


Em nome da alegria, as rosas não morreram
No muro arruinado à beira da estação
São elas, neste dia, as vozes que trouxeram
O nosso amor deitado aos pés do coração

À luz da nossa infância contámos as estrelas
Na serra onde o luar aquece a flor-de-lis
Resistem na distância as histórias mais belas
Ninguém há-de apagar um amor que foi feliz

Na árvore dos segredos, os versos desfolhados
No princípio do fim, o som da despedida
Fantasmas e enredos pelos bosques cercados
No teu nome rompi as margens do passado

A ilha

Tiago Torres da Silva / Miguel Ramos *fado Alberto*
Repertório de Teresa Tarouca 
Esta foi a primeira letra do autor a ser cantada. 
Mais tarde, Tereza Tarouca incluiu-a na revista 
*Preço Único* Teatro ABC, Lisboa, 1997

Eu vim aqui morrer e não sabia
Mas foi isso, para isso que aqui vim
Ah, e se eu pudesse, morreria
Que eu vim aqui morrer e não morri

Este mar, este mar onde me afundo
É o mar onde à morte eu tinha sido
O que ela tem por trás, o céu, o mundo
Vim morrer e talvez tenha morrido
                   
Ai não, eu não morri, não fui capaz
Mas este foi o sítio que escolhi
Para morrer… para morrer em paz
Voltei cá uma vez e não morri

Ficaria feliz meu corpo morto
Porque aqui tudo é o que antes era
Porque atrás do mar, dum qualquer porto
Existe alguém sentado à minha espera

Ah amor… não me esperes nesse cais
Que eu não sei quem tu és, mas sei de ti
E eu queria ficar, não posso mais
Que eu vim aqui morrer e não morri