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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Bom dia, bom dia

Rogério Bracinha / Ferrer Trindade
Repertório de Fernanda Batista


Nasce o sol em cada dia
Numa alegria que é sempre nova
Sobe no céu a alvorada
E a passarada solta uma trova

Passa o rico igual ao pobre
Pois somos povo do mesmo manto
Foi o sol quem fez a vida
Mais a cor garrida
O seu maior encanto

Surge o sol numa alegria
Dizendo p’rá gente: bom dia, bom dia
Logo o passarinho pia
Alegre e contente: bom dia, bom dia;
Toda a rua é uma orgia
De luz que anuncia ser dia de festa
Que o sol se conserve com luz como esta
É bem certo ser milagre


Torna verdes as campinas
Lindas meninas, noivas do Tejo
Põe nas faces das moçoilas
Belas papoilas, cor de desejo

Enche as praias com crianças
Risos e esperanças, traz mocidade
Mais para a tarde é sol-poente
Logo toda a gente pensa na saudade

O meu sonho de criança

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ouvi meus pais em criança
Nas canções do meu encanto
Nesta mais querida lembrança
A razão deste meu canto

No norte de Portugal
Eu nasci e fui criado
Ouvi fado e por tal
Trago o destino marcado

Canto o fado que mais sinto
A verdade que vos dou
Por ser fadista não minto
A cantar sei quem eu sou

Ser fadista foi p’ra mim
Ter asas para voar
De sonhos ter um jardim
Dia a dia a despertar

Brincadeira

Inês de Vasconcellos / Fernando Pinto do Amaral / Ricardo Cruz
Repertório de Inês de Vasconcellos

Brinca comigo à procura
De uma estrela noutro céu
Brinca e lava a noite escura
Com os sonhos que Deus te deu

Começa devagarinho
Por favor, não tenhas medo
Que o meu coração fez ninho
Dentro do teu em segredo

Acorda os anjos que dormem
Com a luz do teu sorriso
Faz com que não se conformem
E saiam do paraíso

Deixa-os entrar de repente
No teu quarto, a esta hora
Em que a verdade mais quente
É o sono que te devora

Brinca comigo às escuras
Ensina-me o que não sei
Onde estás? Porque procuras
O coração que te dei?

Afã de Lisboa

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias


Se queres sentir o afã de Lisboa
Levanta bem cedinho e vem comigo
Mas não vagueies por aí à toa
Vem até aos lugares que te digo

Verás gente a correr, sair dum cacilheiro
E cada um quer ser primeiro
Vai ao Cais do Sodré, ao Rossio também
Calçada de carriche e Sacavém;
Passa em Santa Apolónia, espreita marginal
E até na ponte o apego é sempre igual


À tarde vem de novo a confusão
É o regresso a casa à desfilada
E então há outros que entram em função
São os que vão fazer sua noitada

Começam p’la sardinha num bairro popular
Ou em qualquer tasquinha a petiscar
Depois vem o cinema, o teatro de revista
E há quem vá para as docas p’rá conquista;
Discotecas e bares, amor em qualquer lado
Mas a noitada no acaba sem ter fado

Fado de salto alto

Leonel Moura / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Leonel Moura

Sonhei com a Mouraria
Aonde o fado vivia
Na rua do Capelão
Onde um fadista com garra
Cantava um fado à guitarra
P'ra manter a tradição

Depois fui pela Moirama
E às vielas de Alfama
Aos retiros do passado
Fui ouvir uma guitarra
E uma voz que desgarra
A nostalgia de um fado

Depois subi ao Castelo
Imponente e sempre belo
Essa figura que invejo
Vi o Cristo-Rei abraçar
Os barcos a navegar
E as gaivotas do Tejo

E para a noite acabar
E o sonho terminar
Fui saber da realeza
Fui parar ao Bairro Alto
Onde o fado de salto alto
Tem mais encanto e beleza

Meus olhos cheios de ti

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meus olhos cheios de ti
Que perdi quando te vi
Pois não vêem nada mais
Devem ser desconfiados
Pois por mal dos meus pecados
Só vão aonde tu vais

Tem cuidado meu amor
Não tentes seja o que for
Que nos possa separar
Recalca tais devaneios
Que os meus olhos de ti cheios
Nem por mim podem chorar

Meus olhos cheios de ti
A quem nunca conheci
Outra razão de viver
Até mesmo no altar
Quando por nós vou rezar
Nunca deixam de te ver

Bergantim

Eduardo Olímpio / Paco Bandeira
Repertório de Maria Dilar


Fui à cidade p’ra ver o mar
Trago um recado p’ra lhe contar
Que a minha terra é de gente boa
Sonha Lisboa
Chora Lisboa;
Que a minha terra é toda o mundo
Eu trago um rumo alto e profundo

Ai Lisboa, Lisboa, Lisboa
Voa gaivota, gaivota voa
Ai Lisboa, Lisboa, Lisboa
Mulher na proa, numa canoa


Nasci dum povo de trovadores
Canto cidades, encanto amores
Desci o Tejo e não sabia
Que no teu leito me descobria;
Desci o Tejo num bergantim
Lancei as redes que havia em mim

A tua história, quem me contou
Disse que Ulisses aqui chegou
Aqui chegaram as caravelas
Quem vinha nelas? 
Quem vinha nelas?
Daqui partiram as caravelas
Que é feito delas? 
Que é feito delas?

Tive saudades tuas

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Eu tive saudades tuas
Tive saudades sem fim
E fui chamar pelas ruas
A ver se tu continuas
A ter saudades de mim

Eu tive saudades minhas
Quando a teu lado morei
Falei às tuas vizinhas
Revi as coisas que tinhas
Mas contigo não falei

Quando olho o teu retrato
E não oiço a tua voz
Fico farto do meu quarto
E não sei como não parto
P’ró quarto que era de nós

Se queres voltar ao passado
Vê se deixas os porquês
Vê se voltas ao meu lado
Vê se voltas ao meu fado
Vê se voltas duma vez

Balelas

Cuca, Pedro Silva Martins / Pedro Silva Martins
Repertório de Cuca Roseta


Ando feita ao bife com este xerife
Armado em patife com seu ar naïf
Conversa para cá e conversa para lá
Vai passando graxa, conversa de chacha

Agora é que são
É que vão ser elas
Balelas, balelas, balelas
Balelas, balelas, balelas


Ora vira o disco ora toca o mesmo
Já não corro risco, já não corro a esmo
Já são muitos anos, virei muitos frangos
Chega-me a mostarda e não baixo a guarda

Tira o cavalinho da chuva e olha
Quem com fogo brinca um dia ‘inda se molha
Acabou-se a trela se queres ter abébia
Toma lá cautela junta água e bebe-a

Isto tudo são
Balelas, balelas, balelas
Isto tudo são
Balelas, balelas, balelas
Palavras em vão
Balelas, balelas, balelas
Mas comigo não

Hoje canto p’ra vocês

Leonel Moura / Pedro Rodrigues
Repertório de Leonel Moura


A gente do meu país 
Tem mais beleza e encanto
Gente de casta raiz
É o povo que assim diz
Desta terra que hoje canto;
Gente de casta raiz
A gente do meu país
Tem mais beleza e encanto

Esta terra portuguesa 
Onde o sol veio morar
É bela pois concerteza
Cheia de rara beleza 
De um jardim à beira-mar;
É bela pois com certeza
Esta terra portuguesa
Onde o sol veio morar

Há fado toiros e vinho 
Neste cantinho do céu
Tem paz amor e carinho
Tem um cheiro a rosmaninho
E a graça que Deus lhe deu;
Tem paz amor e carinho
Há fado toiros e vinho 
Neste cantinho do céu

E a luz do sol a brilhar 
No doirado do seu pão
E os rouxinóis a cantar
Em tudo fazem lembrar 
O cante do coração;
E os rouxinóis a cantar
E a luz do sol a brilhar 
No doirado do seu pão

Hoje canto p’ra vocês 
Este fado e sou feliz
Porque sou bom português
Tenho orgulho e altivez 
No fado do meu país;
Porque sou bom português
Hoje canto p’ra vocês 
O fado do me país

Balada de novembro

Tiago Correia / Florêncio de Carvalho
Repertório de Tiago Correia


Entre sombras fugidias vejo a lua
Minha amante de segredos nesta vida
É novembro, noite fria, nua a rua
Quando a folha do outono cai perdida

Há um esvoaçar de sonhos p’lo caminho
Ao ouvir em cada casa uma criança
Dando cor à madrugada, que, sozinho

Me desperta no olhar, a doce esperança
Navego pelas ruas da cidade
Na noite em que o silêncio me procura
E o fado tão vestido de saudade
Entrega-se em meus braços com loucura

E em cada pensamento, fantasia
E em cada rima escrita, ilusão
Em novembro, a própria dor é alegria
E a tristeza é mais feliz no coração

Não chores mais, cantador

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não chores mais cantador
Adormece o teu tormento
Porque a morte dum amor
Não merece tal lamento

Vejo o teu vulto sozinho
A sombra vaga e sem cor
Ébrio, afogado em vinho
Não chores mais cantador

Não te mates de paixão
Só porque um amor morreu
Faz morrer no coração
Essa paixão que ele viveu

A um canto da taberna
Atascado em carrascão
À fosca luz da lanterna
Afogaste essa paixão

Faz sentir a voz bizarra
Que enrouqueceste na dor
Faz carpir essa guitarra
Não chores mais cantador

Bate a chuva na janela

Letra e música de Carlos Faria de Jesus
Repertório de Pedro Lisboa


Bate a chuva na janela
Nas grades da minha cela
Feitas de amor e saudade
Bate a chuva na vidraça
E a noite que não passa
Atiça a minha ansiedade

Bate em mim esta paixão
No silêncio da solidão
Bate a chuva na janela
E neste compasso triste
Meu coração não resiste
E bate louco por ela

Bate a chuva num lamento
Despertando sentimentos
Que eu quero tanto esquecer
Bate, bate, gota a gota
Numa toada tão louca
Não me deixa adormecer

O vento passa e sussurra
Que vá levar esta chuva
Vá cair onde ela mora
Que lhe bata na janela
E lhe diga que é por ela
Que o meu coração chora

Fadista antigo

Jorge Rosa / Jaime Santos
Repertório de Natércia Maria


Por acaso ouvi falar
Duma canção portuguesa
Toda feita de chorar
Toda feita de tristeza

Encontrei no meu caminho
Um cantador do passado
E pedi-lhe com carinho
Que me falasse do fado

Aconchegou junto ao peito, com jeito
A guitarra, docemente
E dedilhou guitarradas, baladas
Toadas de antigamente
Cantou-me lindas cantigas, antigas
Canções tristes do passado
Fez-me sentir a magia que havia
Na melodia do fado


Vi bailarem os seus dedos
P’la guitarra com ternura
Ouvi contar seus segredos
De amorosa desventura

Senti toda a nostalgia
Duma sentida saudade
E sentindo o que sentia
De cantar senti vontade

Aconcheguei junto ao peito, com jeito
A guitarra, docemente
E dedilhei guitarradas, baladas
Toadas de antigamente
Cantei também as cantigas, antigas
Dum cantador do passado
Fez-me sentir a magia que havia
E agora no coração, desde então
Trago a magia do fado

Lisboa é uma guitarra

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Lisboa
É uma guitarra feliz
Que no seu trinado diz
Coisas da sua alegria
Lisboa
É uma guitarra que embala
Nas suas cordas a fala
Que aprendeu na Mouraria

Lisboa
É uma guitarra que sonha
Mas sua vida risonha
Quanta vez não é verdade
Lisboa
Também sofre, também chora
Quando o amor se demora
É guitarra de saudade

Quando acontece

Rogério Ferreira / Frederico de Brito *fado dos sonhos*
Repertório de Eliana Castro


Estou sempre a ver a maneira
De chegar à tua beira
Ai de mim se não consigo
Desde que te conheci
Fiquei carente de ti
Só sonho sonhar contigo

Quando o amor acontece
A nossa alma estremece
E há perfumes no ar
De nada temos receio
0 nosso rio vai cheio
Que importa se transbordar

Nos abraços somos laços
Danças, desenhos e traços
Somos um só, Santo Deus
Todos os beijos são poucos
Todos são doces e loucos
Desde que sejam os teus

Morrer de saudades

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quando partires voltarei
A cantar o nosso fado
Longe de ti ficarei
No nosso mundo encantado

Viverá no nosso fado
As horas que nos uniram
Caminhos que, lado a lado
Os nossos passos seguiram

Lado a lado, longe e triste
Sempre comigo vivi
E o amor que em nós existe
Podes crer, bem o mereci

E sinto tantas saudades
Das saudades que vou ter
Que quero ter mais saudades
P’ra de saudades morrer

A verdade dos sonhos

Leonel Moura / Carlos da Maia
Repertório de Leonel Moura


Os sonhos que nós sonhamos
E depois quando acordamos
Voltamos à realidade
Às vezes nos nossos sonhos
Vivem-se mundos risonhos
Coisas que não são verdade

Nesta vida de quimeras
Não sei quantas Primaveras
Nascem no peito da gente
Os desejos e paixões
Tristezas, desilusões
Tudo se vai de repente

Verdadeiros ou ditosos
Risonhos ou mentirosos
Sonham-se da mesma maneira
Se os sonhos são ilusões
As suas recordações
Perduram pela vida inteira

Nesta vida de encantar
Os sonhos fazem lembrar
Tudo o que se vive em vão
A gente vive a sonhar
Que um dia pode alcançar
Os sonhos do coração

Algemas de vidro

António José / Ferrer Trindade
Repertório de Fernanda Maria

Já não importa que tu me jures mentiras
Que batas a outra porta
Já sei que não me pertences
Não sou cobarde, eu aceito o que quiseres
Mas não escondas a verdade
A mentir não me convences

Disseste um dia, numa data já esquecida
Que nos prendia este amor por toda a vida
Porquê? velhas palavras, quem as disse não sentiu
Eram algemas de vidro que a vida agora partiu

Ganhaste um jeito de ficar sempre à distância
E no teu peito, amar tem pouca importância
Não é segredo, tens-me ensinado
Fazes de mim um brinquedo
De que não gostas e pões de lado;
A todas essas que tu preferes
Prendes algemas de vidro
Que vais quebrando quando quiseres

Bendita a hora

Rosa Lobato Faria / Mário Pacheco
Repertório de Paulo Bragança


Tu… a quem eu minto tantas vezes
E tenho modos descorteses
Se me descuido de te amar;
Tu… que por mais tarde que eu chegue
Que por mais sustos que eu te pregue
Não tens censuras no olhar;
Tu… entendes tudo e nada dizes
E dás-me dias tão felizes
E enches as noites de luar

Bendita a hora em que te vi
E o filho meu, florindo em ti
Bendito seja o fruto do teu ventre
Eu sou ateu, não sei rezar
Mas dou comigo a suplicar
Que Deus me dê o teu amor para sempre


Eu… que desarrumo a casa inteira
Deixo a toalha na banheira
E a roupa suja pelo chão;
Eu… que às vezes sou autoritário
E esqueço o teu aniversário
E até me zango sem razão;
Eu… que sou mordaz e cabeçudo
Encontro sempre um beijo mudo
No teu sorriso brincalhão

Eu… que sou egoísta e desatento
Que às vezes mudo como o vento
E ainda teimo em ser assim;
Eu… quando chego em desespero
Nem sequer gabo o teu tempero
Nem o teu corpo de cetim;
Tu… sem reparar no que eu não faço
Prendes-me todo num abraço
Dizes que é bom gostar de mim

Cantigas de atirar

Desgarrada de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

(Ele)
Minha linda cantadeira
Boquinha de amor perfeito
No meu peito que é lareira
Vem aquecer o teu peito

(Ela)
Falinhas de bem dizer
Meu coração não suporta
Deixa-me em paz, vai bater
Ao ferrolho doutra porta

(Ele)
Nunca bati ao ferrolho
Duma porta, minha amiga
Sem trazer “debaixo de olho”
A mulher que lá se abriga

(Ela)
Com cantigas não me embalas
Nem te dou essa ventura
Para mim as tuas falas
São cheques sem cobertura

(Ele)
Tens a língua bem comprida
Mas a pimenta, meu bem
Não se põe só na comida
Põe-se na língua também

(Ela)
Cantador da minha estima
Tu és como o caracol
Quando o sol lhe bate em cima
Põe os “pauzinhos” ao sol

(Ele)
Minha papoila vermelha
As respostas que me dás
São ferroadas de abelha
P’ra quem é tão bom rapaz

(Ela)
Nossa Senhora te valha
Senhor Deus te dê juízo
Só te falta uma mortalha
Para entrares no paraíso

(Ele)
Hei-de tirar-te os espinhos
Meu figuinho de piteira
Com abraços e beijinhos
Dados de certa maneira

(Ela)
Beijinhos, só de meus pais
Acredita e ouve bem
’Inda sou nova de mais
P’ra ter sogra em vez de mãe

(Ele)
Ser-se novo nada prova
Meu coração lindo e moço
Quando uma azeitona é nova
Até lhe trinco o caroço

(Ela)
Vou fazer contigo as pazes
Porque o ditado nos diz
Quem se mete com rapazes
Deve apertar o nariz

A vida que não te dei

Fernando Peres / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Madalena Ferraz

É quase sombra perdida
A promessa arrependida
Que a tua boca não deu
O meu coração resiste
Na certeza de ser triste
Mais triste porque sofreu

Saudades duma saudade
Saudades doutra verdade
Feita da mesma ilusão
Do fogo que não aquece
Duma verdade que esquece
E morre no coração

Os beijos que não se deram
Braços que não se estenderam
Lágrimas que eu não chorei
Nas horas da tua ausência
Ando a pedir clemência
À vida que te não dei

Boca encarnada

*Joaquina*
Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves
Repertório de Gonçalo Salgueiro

Amarelo é ouro e branca é a prata
Encarnada a boca de quem me mata
Amarelo é ouro e branca é a prata
Encarnada a boca de quem me mata

Ai Joaqulna
Dás um lindo amor perfeito
Cintura fina, e a blusadinha no peito
Ai Joaquina
Levas os olhos no chão
Vê se me encontras
No chão o meu coração

Quem fora negro
Quem fora negro gatinho
E na janela
Na tua janela entrasse
E a ti te desse, e a ti te desse um beijinho
E a tua mãe
E a tua mãe arranhasse

Quando te vejo
Quando te vejo Joaquina
Meu coração, meu coração a saltar
Diz-me que linda
Diz-me que linda pedrinha
Para eu poder
Para eu poder tropeçar

Amarelo é ouro, branca é a platina
Encarnada a boca da minha Joaquina

Vagabundo

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Nessas ruelas bizarras
Onde trinavam guitarras
Conheci há muitos anos
Um boémio, um vagabundo
Que na vida, a correr mundo
Espalhava seus desenganos

Tinha um ar afidalgado
Que naquele rosto enrugado
Se expressava debilmente
Olhar vago de saudade
Contido pela infelicidade
Sempre a sorrir tristemente

Tinha a história bem comprida
Dessa experiência vivida
De quem vive a correr mundo
Passeava a horas mortas
Pelas toscas ruas tortas
Era assim o vagabundo

A boneca

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Pelo Natal fui pedir
A Jesus para me dar
Uma boneca a sorrir
Dessas que sabem falar

Em seguida me deitei
Na cama, entusiasmada
E toda a noite sonhei
Com a boneca engraçada

Toda vestida, a preceito
A seda azul, vinha já
Eu dava-lhe um certo jeito
la dizia «Papá»

Quando com ela a brincar
Minha mãe sorria mais
Eu cheguei a desejar
Um ano com mais Natais

Baila Lisboa

Letra e música de Verónica
Repertório de Ada de Castro

Estou a ver nosso Senhor
Por esta janela aberta
Mais além um rouxinol
Canta a Lisboa liberta

Canto um hino ao amor
E canto um hino à paz
Canto ao meu dia de sol
De chorar não sou capaz

Baila Lisboa
Com o povo que te ama
Teu nome com ele voa
Desde a Sé até Alfama
Deixa Lisboa
Que te adorem dia a dia
Já conheceste a vitória
Dá-nos a tua alegria

Com o Tejo a rebrilhar
Sob um céu de mil estrelas
Segue Lisboa cantando
Melodias das mais belas

Com o pé a saltitar
Vês moçoilas a sorrir
Só a ti estão louvando
Agora não vão partir

Depois da tua ausência

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Só depois da tua ausência
É que fiquei a saber
Que sem ti o meu viver
É feito de negros dias
Sem ti a minha existência
Não tem a menor razão
E as minhas noites são
Acordadas e sombrias

Só quando saíste a porta
É que notei a diferença
E vi que a tua presença
Não pode ser afastada
Vi que nada mais importa
Neste mundo além de ti
E até tu voltares aqui
A vida ficou parada

Tentei ver-me noutro sonho
Tendo alguém no teu lugar
Alguém que me venha dar
Outra razão de viver
Meu olhar ficou tristonho
A olhar a casa nossa
E vi que não há quem possa
O teu lugar preencher

Fado das ruas sem sol

José Régio / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Eliana Castro


Naquela rua, à tardinha
Já quase nada se via
Parece que o sol fugia
Daquela rua mesquinha

Mas tinha prédios imensos
Entrechocando telhados
Tão altos, como suspensos
De lá dos céus afastados

Por isso, logo à tardinha
Parece que o sol fugia
Daquela rua sombria
Onde a vida que se tinha

Nem vivia, e todavia
Mãe vida, que força a tua
Pululava e refervia
Das próprias pedras da rua

E até na meia cantiga
Que por sobre esses telhados
Numa voz de oiro sem liga
Lançava aos céus afastados;
Lançava aos céus afastados
Um sonho de rapariga

Guitarra fiel amiga

Leonel Moura / Alberto Correia *fado solene*
Repertório de Leonel Moura


Num retiro à moda antiga
Onde o fado vem dar brado
Guitarra fiel amiga
Vamos cantar mais um fado

Nas horas de pranto e dor
Quando a voz é mais dolente
Cantamos versos de amor
Que vem do peito da gente

Se aos fadistas dás abrigo
Nas horas de solidão
Passa esta noite comigo
Amiga do coração

E um dia quando eu deixar
As nossas noites de farra
A trinar hás-de chorar
Oh minha velha guitarra

Ah não

Vasco Graça Moura / Carlos Paredes
Repertório de Mísia

Meu amor, meu amor
Foste-me sonho e pão
Foste febre e fervor
Razão e sem razão

E sede e sabor das manhãs de verão
Mas minha prisão, ah não
E em tanto calor nada foi em vão
Mas minha prisão, ah não

Meu amor, meu amor
Não te peço perdão
Não te peço favor
Não te peço aversão

Não te peço dor, nem a contrição
Nem o coração, ah não
Agora ao sol-pôr meus olhos se vão
E não voltarão, ah não

Beijo procura-se

Alberto Aguabrava / Manuel da Graça Pereira
Repertório de Catarina Rocha


Passo o meu dia à procura
De ti, criatura
Do teu beijo
Ao dobrar de cada esquina
Na rua de cima
Não te vejo

Becos, pracetas
Jardins nos quais adormeço
Noite na qual prometemos
Amar-nos até do avesso

Vou andar por onde calhe
Mesmo que me espalhe
No pó do caminho
Eu não quero o meu amor
Só porque eu demore
A ficar sozinho


Já com a cristã quebrada
A língua cansada
E com sono
Vejo surgir duma sombra
Tua boca redonda
Não sei como

Grito bem alto:
Meu bem, por onde é que andaste?
Calma! talvez não te lembres
Fiquei onde tu me beijaste

Mercado da Ribeira

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


É na faina da Ribeira
Que esta Lisboa velhinha
Ali com o Tejo à beira
É a mais bela alfacinha

Entre canastras e chitas
Andam risos aos montões
Entre cantigas bonitas
Andam pragas e pregões

E é tal o encanto seu
Para ver quem grita mais
Gritam gaivotas no céu
Gritam varinas no cais

Entre a folia de cor
Das fragatas em quermesse
Cada riso é uma prece
E cada vela parece
Branco círio de um andor

Abre a tua janela

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Hermínia Silva


Abre a tua janela e vê Lisboa
Tão bela e tão boa, tão bela e tão boa
E vê o Tejo a passar
Levando um adeus ao mar;
Abre a tua janela e vê Lisboa
Mas não à toa, mas não à toa

Abre a tua janela
E vê por ela esta Lisboa
Vê a graça da Graça
E como há raça na Madragoa
Vê as velhas trapeiras
Com sardinheiras na Mouraria
Vê como tudo canta
Canta e encanta da Sé à Guia

Quando vem a noite e o céu estrelado
Ouve-se o fado, ouve-se o fado
E a lua sempre a brilhar
Faz poeta o próprio ar;
E quando está triste esta cidade
É a saudade, é a saudade

Rua sombria

Manuel de Andrade / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Carlos Zel


Tenho saudades da rua
Sombria, tristonha e nua
Onde o nosso amor morou
Pobre dessa rua esguia
Pobre rua, não sabia
Que afinal tudo acabou

Ali juntos ao luar
Corriam sem se notar
Horas e horas seguidas
E só a rua escutava
O rumor que mal escapava
Das nossas frases mentidas

Pobre dessa rua esguia
Não sabia que mentia
Ao falar pelas nossas bocas
Essa rua nos juntou
Triste rua, apadrinhou
As nossas promessas loucas

Cana verde do mar

Popular
Repertório de Amália


Caninha verde, ó minha verde caninha
Ó minha caninha verde, ó minha verde caninha
Anda, não anda, ai minha verde caninha
Salpicadinha d’amores, de amores salpicadinha
Ó cana verde, de amores salpicadinha

Verde no mar, anda à volta do vapor
A cana verde no mar anda à volta do vapor
Anda, não anda, anda à volta do vapor
Ainda está para nascer quem há-de ser meu amor
Ai cana verde, quem há-de ser meu amor

Caninha verde à porta do escondidinho
Ó minha caninha verde, à porta do escondidinho
Anda, não anda, à porta do escondidinho
Uma rola que a viu e não a quis fazer-lhe o ninho
Ó cana verde, não a quis fazer-lhe o ninho

Colher cerejas para andar de cano em cano
Ó cana, ó verde cana, para andar de cano em cano
Anda, não anda, para andar de cano em cano
Eu hei-de ir à tua porta fazer sombra todo ano
Ai cana verde, fazer sombra todo ano

Nem um adeus me disseste

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Ao longe o teu vulto agreste
Para sempre se perdia
Nem um adeus me disseste
Nunca vi mais triste dia

Não foram saudades tuas
Que me fizeram cantar
Foi o silêncio das ruas
Que não posso suportar

Que sina desventurada
Me criou só para a dor
Cada ventura sonhada
É desventura maior

Acerquei-me duma cruz
Meu olhar foi oração
Não reza quem sabe orar
Reza quem tem coração

Ali em Alfama

Carlos Conde / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Raúl Pereira


O Chico Estivador, homem de fama
Por render culto ao fado e à profissão
Mora no bairro típico de Alfama
E trabalha no Cais da Fundição

Namora com a Rosa * a cotovia*
Cachopa de olhar vivo, encantador
Com lugar de hortaliça e peixaria
Mesmo em frente do Chico Estivador

Como a Rosa por vezes também canta
Aos domingos de tarde vão ao fado
E fazem desfiar pela garganta
As rimas dum poeta consagrado

Casam já no domingo, ali na Sé
E p’ra casa do Chico vão morar
Ele tem o trabalho mesmo ao pé
E a Rosa fica em frente do lugar

Boatos

Letra e música de Jorge Cruz
Repertóri0o de Cristina Branco


Dizem por aí desde o dia em que apareci
Que não há um lar seguro na cidade
Muito patuá se ouve no salão de chá
Sobre o que esta sabe e a outra ouviu dizer

É o senhor doutor, é o juiz, é o prior
O que não falta é suspeitos das andanças
Tudo o que é marido pelos vistos, eu persigo
Até me chamam menina das alianças

Mas são boatos, são só boatos
Ninguém sabe quem eu sou
O que eu faço, de onde vim
São boatos, são só boatos
Todos falam 
Mas ninguém conhece os factos
Não passam de boatos


Dizem que conheço 
Camas grandes de mansões
Apesar de ter um pobre apartamento
Na Rua de São Brás, 27 - 5º- trás
Onde o escândalo vem a acontecer

Homens bem casados
Diz que esbanjam ordenados
Em floristas, joias, prendas e jantares
Agem sem alarde, mesmo 
Quando chegam tarde
Têm sempre um álibi para escapar

Qual a verdade? o que é que importa
Se fico só quando chega o amanhecer
Resta-me o pouco que me bate à porta
E se alguém me perguntar
Ainda tenho de dizer

Teorias, fantasias, aparatos
Devaneios, mexericos, desacatos
Todos falam
Mas ninguém conhece os factos
Não passam de boatos

Carnaval

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Pelas horas matutinas
O céu vermelho raiou
E do carnaval ficou
Um montão de serpentinas

Pelos salões, o folguedo
Pouco a pouco se esvaiu
E a noite guardou segredo
Daquilo que consentiu;
Amanhã serão lembrados
Romances de namorados
De rostos que ninguém viu

Naquela alegre tipóia
Corremos de lado a lado
E essa noite de rambóia
Terminou ao som do fado

E corridas as cortinas
Essa tipóia abalou
E do carnaval ficou
Um montão de serpentinas

A voz da poesia

Kátia Guerreiro / Rui Veloso
Repertório de Kátia Guerreiro


Eu dei a minha voz à poesia
E ao fado asas para eu voar
Encontrei no teu amor a alegria
Que me dá esta coragem para cantar

Tens sonho, tens cor e liberdade
Tens tudo o que eu queria p’ra viver
És ternura e conforto, és verdade
Sou mais forte e segura, mais mulher

Veio a vida ensinar-me que o destino
É traçado em cada passo que eu der
E que o fado não é mais do que um caminho
Que os poetas traçam ao escrever


No meu fado sinto todo o nosso amor
P’ra ti canto e solto a minha voz
Sou gaivota, mas contigo sou maior
No poema, somos mais, nós somos nós

Beija-me e foge

Maria de Lourdes Carvalho / Franklim Godinho
Repertório de Dina do Carmo


É vontade de te ver
Fogo da minha ternura
Luz dos meus olhos cansados
É medo de te perder
O pranto desta loucura
Meus sorrisos desmaiados

Sei que já não me pertences
Que vives com outro alguém
Que teu amor me roubou
Teu sorriso não me ofereces
Tua boca, eu sei bem
Meu sabor nela secou

Se sentes algum carinho
Peço-te, por caridade
Traz-me esse tempo já longe
E junto a mim, de mansinho
Num minuto de saudade
Vem amor, beija-me e foge

Santo oleiro

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não deixes que o teu amor
A brincar te quebre a bilha
Qu’isso do Santo a compor
É conversa, minha filha

Tanta vez o pucarinho
Vai à fonte, minha filha
Deixa lá! Santo Antoninho
Dá um jeito e arranja a bilha

Santo António vê se deixas
As cantarinhas em paz
E atende também às queixas
Do pobre oleiro que as faz

Não critiques o acerto
Dos gatos que eu pus na bilha
Viu Santo António o concerto
E disse: que maravilha

Canção de embalar o amor

Tiago Salazari / Vitorino
Repertório de Carlos Leitão


Vem ver onde nasce o deserto
Vem ver onde é a foz do luar
Dunas e estrelas são o tecto
Anjos cintilam no seu lugar

Vem ver onde fica o oceano
Vem ver o canto do nosso mar
Onde és um amor sem engano
És minha canção de embalar

Porque antes de ti nada era
Porque depois de ti tudo foi
Porque a vida é valsa cantada
Porque o amor é o tempo dos dois;
Porque a vida é valsa cantada
Porque o amor é o tempo dos dois

A minha terra é Viana

Pedro Homem de Mello / Alain Oulman
Repertório de Amália Rodrigues


A minha terra é Viana
Sou do monte e sou do mar
Só dou o nome de terra
Onde o da minha chegar;
Ó minha terra vestida
Da cor da folha da rosa
Ó brancos saios de Perre
Vermelhinhos de Areosa

Virei costas à Galiza 
Voltei-me antes para o mar
Santa Marta, saias negras 
Tem vidrilhos de luar

Dancei a Gota em Carreço
O Verde Gaio em Afife
Dancei-o devagarinho
Como a lei manda bailar;
Como a lei manda bailar
Dancei em Vila a Tirana
E dancei em todo o Minho
E quem diz Minho diz Viana

Virei costas à Galiza 
Voltei-me então para o sul
Santa Marta, saias verdes 
Deram-lhe o nome de azul

A minha terra é Viana
São estas ruas estreitas
São os navios que partem
São as pedras que ficam;
É este sol que me abrasa
Este amor que não engana
Estas sombras que me assustam
A minha terra é Viana

Virei costas à Galiza 
Pus-me a remar contra o vento
Santa Marta, saias rubras 
Da cor do meu pensamento

Restos de penas e dores

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Faço aquilo que mais quero
Quero lá saber de mim
Ser da vida é desespero
O que quero não tem fim

As tuas mãos são senhoras
De sonhos, de fantasias
Das saudades criadoras
Que sentes todos os dias

Trazem pedras, trazem flores
Conchas do rio e do mar
Restos de penas e dores
E beleza a transbordar

Ai Lisboa

José Galhardo / Frederico Valério
Repertório de Amália


Eu nasci
Numa cidade que em verso
Escreveu alguém, que foi berço
Dos caminhantes do mar
Eu vivi
Entre pardais e andorinhas
E gaivotas ribeirinhas
Que andam no céu a cantar

Ai Lisboa
Terra bem nobre e leal
És o castelo da proa
Da velha nau Portugal
Ai Lisboa
Cheiram a sal os teus ares
Deus pôs-te as onda aos pés
Porque és, tu a rainha dos mares


Foi ali
Que para brincar com o demónio
Veio até nós Santo António
Que ainda na sé tem solar
E eu abri
Nos varandins dum eirado
Uma voz gritando (?) fado
Nesta canção popular

Acabar não fica mal

José Teles da Silva / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Mercês da Cunha Rego


Acabar não fica mal
Quando gostar, afinal
É uma simples ilusão
Mas a ilusão passou
E apenas ali ficou
Um pouco de compaixão

E a compaixão que nasceu
Foi vida que já morreu
Nos meus olhos muito tristes
E agora tudo mudou
E entre nós tudo acabou
Pois já nem penso que existes

Mas não julgues que eu esqueci
Aquilo que fiz por ti
Quando tudo era ilusão
E hoje já não o fazia
Pois com certeza sabia
Que tu não tens coração

Promessa de liberdade

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


São juras de fé perdida
As asas de dar à vida
Quando a vida entristece
Num destino de viagem
O pranto será coragem
Para o sol que arrefece

Uma jura em cada mão
E um desgosto de traição
Nasceram no meu amor
Senti a vida fugir
E com ela quis partir
Sem saudades e sem dor

Mas de longe pombos brancos
Vieram e foram tantos
A segredar a verdade
Que das juras fiz um beijo
Jura de puro desejo
Promessa de liberdade

Ai quisesses Deus

Cancioneiro tradicional
Repertório de Amália


Não sei, ó amigo de quem padecesse
Mágoas que padeço e que não morresse

Senão eu, coitada
Antes não nascesse
Já que não vos vejo
Como merecia
Ah, quisesse Deus
Que eu vos esquecesse
Amigo, que vi
Em tão triste dia

Não sei, ó amigo ,de outra que penasse
Penas como eu peno e as sepultasse

E que não morresse
Ou desesperasse
Já que não vos vejo
Como merecia!
Ah, quisesse Deus
Que eu vos não lembrasse
Amigo, que vi
Em tão triste dia

Não se, ó amigo de quem tal sentisse
E que assim sentindo, o sol encobrisse

Senão eu, coitada,
A quem Deus maldisse
Já que não vos vejo
Como merecia
Ah, quisesse Deus
Que nunca eu vos visse
Amigo que vi
Em tão triste dia

Flor de rosa

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Neste só teu Alentejo
Sem serras, sem sete fontes
De ceifeira eu te vejo
Flor da Rosa, pedras, montes

Arde o azinho, o sobreiro
A tua imaginação
No fado meu companheiro
Que me canta a solidão

A raposa que fugiu
O vento frio que esqueci
O Natal que a dor não viu
Primeiro que me esqueci

Depois do frio nevoeiro
Que existe em mim e em ti
Seja o que for verdadeiro
Foi contigo que vivi

Amor doentio

Leandro Belo / Francisco J. Marques *fado zé negro*
Repertório de Leandro Belo


Já corri montes e vales
Ruas e becos sem fim
Na esperança de te ver
À espera que tu me fales
Daquilo que sinto em mim
E dar fim ao meu sofrer

Amar é dor permanente
Faz-nos sentir tanto mal
E leva-nos à loucura
Quero sentir como gente
O porquê da razão qual
Andar à tua procura

Após a tua partida
Fiquei só sem guarida
Neste mundo de escolhos
Ausência que sinto agora
Ao olhar a linda aurora
Na lucidez dos meus olhos

Amor que tanto quero
E sinto no meu peito
Será doença ou paixão
É por ti amor que espero
Seja de qualquer jeito
P’ra descansar meu coração

Agora é que vai ser

Catarina Rocha / Manuel Graça Pereira
Repertório de Catarina Rocha


Hoje acordei a pensar
Que volta devia dar
A esta minha vida
Senti que a estrada onde entrei
Era apenas afinal
Uma estrada sem saída

Quero tentar renovar
A forma de pensar
E de ver as situações
Pois meu foco eram problemas
E tornei um dos meus lemas
Procurar as soluções

Agora é que eu vou cantar
E até já decidi ser maís feliz
Agora nem vou mais ligar
Ao que dizem, ao que pensam
E a quem nada me diz


Não vivo mais do passado
Já pus isso de lado
Porque não me faz sorrir
Desta vontade flamejante
Percebi que o importante
É o que ainda está p’ra vir

Vou-me deixar de ilusões
Mudar as atenções
Há muito que fazer
Sei daquilo que consigo
Pois a força está comigo
E agora é que vai ser

Amor traído

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Oiço as queixas dos amigos
Que esperam por emigrar
Oiço as queixas e os castigos
Que este país lhes quis dar

Oiço as queixas dos amigos
Oiço as queixas dum irmão
Vão p’ra longe, eu não consigo
Ter outra terra, outro chão

Tudo o mais é só desejo
De tanto te recordar
Além mundo não te vejo
És somente no pensar

Boa-noite, dou-te um beijo
Penso em ti quando acordar
Oiço sinos, oiço vozes
Que de ti vêm falar

Ai o amor

Letra e música de Hélder Moutinho
Repertório de Cuca Roseta

Ai o amor
Coração na minha alma
Que umas vezes se acalma
Outras perde a razão
Ai o amor
Desespero infinito
Umas vezes maldito
Outras vezes paixão

Ai o amor
Uma praia deserta
E o luar que desperta
Entre sonho e a esperança
Ai o amor
Uma rosa a secar
À janela do olhar
De uma eterna criança

Ai o amor
Se a verdade é incerta
Há uma rua deserta
Ao redor do pecado
Ai do amor
Se o desejo nos mata
A saudade é ingrata
Do mistério do fado

Ai do amor
Lucidez imperfeita
Quando a gente se deita
Ao cair da ternura
Ai o amor
Desespero infinito
Umas vezes maldito
Outras vezes loucura

Um fado a ninguém

Artur Ribeiro / Franklim Godinho
Repertório de Francisco Pedro


Eu canto um fado a ninguém
Ninguém é como quem diz
Um fado p’ra toda a gente
E só eu conheço bem
A razão por que não quis
Cantá-lo p’ra ti somente

Eu canto um fado sem tema
Não fala de mim agora
Nem fala do meu passado
Não vem pôr qualquer dilema
Não fala de nós nem chora
O nosso amor fracassado

Eu canto um fado a ninguém
Para deixar bem vincado
Que tudo chegou ao fim
Para que tu saibas bem
Que não entras no meu fado
E já não moras em mim

Ai, ai, ai, meu irmão

António Nássara / António Almeida
Repertório de Amália

Ai, ai, ai, meu irmão
Ai, ai, ai
A mulher deve casar, meu irmão
Mas o homem não


Quando eu era pequenino
O meu pai me avisou
Meu filho, tu não te cases
Que teu pai não se casou

E agora que já sou grande
Sou da mesma opinião
A mulher deve casar, meu irmão
Mas o homem não

A Maria desmanchou
Seu noivado com Manel
Pois eles vão se casar
Depois da lua-de-mel

Agora que já sou grande
Sou da mesma opinião
A mulher deve casar, meu irmão
Mas o homem não

Oito anos são passados

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Letra do arquivo de Luís Alberto Freitas Hilário, com a indicação de os versos 
se destinarem a ser cantados no dia 20/10/1963, 8.º aniversário de A Severa

Oito anos são passados
Que, no Bairro Alto, abriu
SEVERA, casa de fados
Que deu ao Fado mais brio

Fizeram esta conquista
Cheios de esperança e de fé
O Barros Evangelista
Mais a Maria José

Ela é uma simpatia
Ele, um belo companheiro
E os petiscos da Maria
Conhece-os o mundo inteiro

E por isso, quem vier
A “SEVERA” visitar
Dê lá as voltas que der
Tem que à “SEVERA” voltar

Pois sente doçura infinda
E benfazeja alegria
Nesta casinha tão linda
Do Barros e da Maria

P’ra eles, mil felicidades
Eu rogo a Deus, neste fado
E p’ra vós, prosperidades
E a todos, muito obrigado

Foram tantos os meus passos

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Foram tantos os meus passos
Que o meu corpo, acontecia
Fica assim como a terra
Meia noite, meio dia;
Terra que tive entre os braços
Quando, ao nascer, eu morria

Foram tantos os meus passos
E nem minha Mãe sabia
Foram tantos, tantos, tantos
Que, ao nascer, já eu morria;
Foram tantos os meus passos
Ai, meu Pai, ninguém diria

E aqui estou, feito saudade
Da criança que matei
Rasgando o ventre do amor
Com os beijos que gritei;
Beijando tão sem maldade
Que choro fora da lei

Sodade meu bem, sodade

Tradicional / Arranjo de Zé do Norte
Repertório de Ricardo Ribeiro


Sodade, meu bem, sodade
Sodade do meu amor
Sodade, meu bem, sodade
Sodade do meu amor


Foi-se embora, não disse nada
Nem uma carta deixou
Foi-se embora, não disse nada
Nem uma carta deixou

E os olhos da cobra-verde
Hoje foi que reparei
Se eu reparasse há mais tempo
Não amava quem amei

Quem levou o meu amor
Deve ser o meu amigo
Levou pena, deixou glória
Levou trabalho consigo

E arrenego a quem diz
Que o nosso amor se acabou
Ele agora está mais firme
Do que quando começou

Às vezes parece fado

Artur Ribeiro / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de Hélder Cruz

Às vezes parece fado
Isto que trago comigo
Este sonho inacabado
Restos dum amor antigo
Às vezes parece fado

Os meus anseios dispersos
Só contados a mim mesmo
Às vezes parecem versos
Dum fado cantado a esmo
Os meus anseios dispersos

Este deixar que aconteça
Mesmo que seja o contrário
Muito embora não pareça
É de muitos o fadário
Este deixar que aconteça

Às vezes parece fado
Este nosso desencontro
Este morar a teu lado
Sabendo que não te encontro
Às vezes parece fado

O jeito de te cantar

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Aquela estrela
Sempre na minha frente
O teu olhar
Sempre no meu olhar
O meu fado
Em ti sempre diferente
O meu amor
O jeito de te cantar

Aquele teu xaile branco, nuvem branca
Aquele meu céu azul onde tu passas
Aquele grito que a vida nos arranca
De um triste carnaval e de caraças

Alvorada

Letra e música de Luís Severo
Repertório de Cristina Branco


Meu amor tão transparente
Meu reverso de loucura
Tens o dom de olhar em frente
Para além da desventura

Ancorei na voz que canta
Esse teu olhar profundo
Cada nó desta garganta
Plantou flores pelo mundo

Queria ficar mais um pouco
Mas chegou a alvorada
Quem dera que fosse
para sempre madrugada
E voltarmos a fazer tudo outra vez


Cada marca no meu corpo
Vejo eu que te não pesa
Cada dia é um dia novo
Cada beijo uma reza

Alvorada amor ardente
Soube bem velar-te o sono
Já esquecemos tanta gente
Ainda nem é o Outono

O amor fica diferente
Quando chega a alvorada
Mas já se reaprende
Quando for de madrugada
E voltarmos a fazer tudo outra vez

Alentejo céu do mundo

António Laranjeira / Susana Castro Santos
Repertório de António Laranjeira


Foi neste Alentejo céu do mundo
Que me descobri aberto à vida
Num segundo, apenas num segundo
Acendi em mim a luz perdida

Foi neste Alentejo quente e doce
Que vi a solidão ficar à espera
Neste chão moreno que me trouxe
Voltou a ser de novo primavera

Voltou a ser de novo claridade
Agora que te vejo quando canto
Até meu coração sente saudade
Meu Alentejo em flor, que quero tanto

Vou fazer contigo esta viagem
É para ti que falo quando digo
Minha seara acesa de coragem
Alentejo céu do mundo, meu amigo

Abana

Cancioneiro popular
Repertório de Amália


Abana casaca, abana
Abana sacode o pó
Eu tenho sete casacas
Todas elas de filó

Abana casaca, abana
Abana devagarinho
Eu tenho setes casacas
Todas elas de paninho

Abana casaca, abana
Abana, não tenhas dó
Eu tenho sete casacas
Do tempo da minha avó

Abana casaca, abana
Abana, torna a abanar
Quem tiver casaca abana
Quem a não tem, vai comprar

Abana a casaca, abana
Abana, torna a abanar
Eu tenho sete casacas
Todas elas por talhar

Abana a casaca, abana
Abana, sacode o pó
Eu tenho sete casacas
Dos tempos da minha avó

Gaivota do meu romance

Jorge Rosa / Alfredo Duarte *Marceneiro*
Repertório de Francisco Pedro


Gaivota do meu romance
Asas brancas cor da neve
Olhos verdes cor do mar
Não há braço que te alcance
Nem força que torne breve
O teu constante voar

Esse céu onde desenhas
Iluminuras de sonho
É distante do meu cais
Vivo na esperança que venhas
Mas andas longe e suponho
Que não voltas nunca mais

Gaivota das minhas histórias
Razão dos meus desenganos
Motivo do meu penar
Vivem na minha memória
Teus olhos cor de oceanos
Teu corpo cor do luar

Se um golpe de viração
Alertar os teus sentidos
Fizer eco dos meus ais
Muda a tua direção
Procura rumos perdidos
E vem pousar no meu cais

Até o sol te esquecer

Leandro Belo / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Leandro Belo

Se o sol se põe à tardinha
No doirado do teu rosto
Só para ver o sol posto
Eu daria a vida minha

Teus olhos amendoados
E tão verdes, volta e meia
Tão lindos, ajardinados
Lembram-me a lua cheia

Que importa a cor dos olhos
Se é tão grande o seu fulgor
Neste mundo de escolhos
Não vivo sem o teu amor

Serei eterno prisioneiro
Deste meu grande sofrer
Vivo agora o dia inteiro
Até o sol te esquecer

Escutai os sinos da Sé

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De manhã, ainda o sol
Entre as dobras do lençol
Estremunhado se espreguiça
Já na Sé se ouvem os sinos
Convidando em sons divinos
Os fiéis p’rá santa missa

Escutai os sinos da Sé
Escutai que os ouvis dizer
Alfama é aqui ao pé
Venham ver como é
Bonita a valer

Escutai os sinos da Sé
Que os ouvis dizer decerto
Alfama é um mar de fé
E cada maré
É um céu aberto


À tardinha ao fim do dia
Há sempre uma melodia
Na voz dos sinos também
Cantam preces, marcam horas
Sem ter pressas nem demoras
Tudo em paz, amor e bem

Não creias que me magoas

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Não creias que me magoas
Sem mais nada para dizer
Basta-me o céu de Lisboa
Mais forte que tu mulher

Podes partir e voltar
Para voltar e partir
Basta-me o gosto de mar
Que ficando vou sentir

Não me importam desenganos
Nas tuas mãos sem sentido
Bastam-me as horas os anos
Que ganhei por ter perdido

Basta-me o sol e o vento
Do monte basta-me a terra
Bastam-me no pensamento
Segredos que o teu encerra

Terras dum mar interior

Letra e música de Amélia Muge
Repertório de Ricardo Ribeiro


Eu estou na flor da amendoeira
E vou no vento, aonde ele quiser
E sou o cheiro a erva cidreira
E dou a sombra que o sobreiro tiver

Sinto-me fruto da oliveira
No travo amargo tão bom de trincar
A luz da vela, fagulha da fogueira
Cal na parede que sabe a casa limpar

No regresso a casa sou a Garça
Gaivota em grito aberto frente ao mar
Andorinha com seu negro golpe de asa
Sou da gente de partir e de voltar

Em mim o mel que há na videira
Bebo da taça de velhos faraós
Dou corda ao tempo à minha maneira
Laranja em gomo do sumo dos avós

Quem é que não tem tristezas

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quem é que não tem tristezas
Que me dê um bocadinho
Minha menina princesa
Meu rubro copo de vinho

A vida é esta agonia
Sabemos que vamos morrer
Viver não é alegria
Saudades de não esquecer

Nós passamos, pouco morre
Temos sorte em ficar
Nós somos todos a morte
Bem antes d’ela chegar

Versos tristes do meu fado

Artur Ribeiro / Popular *fado corrido*
Repertório de Manuel Dias

Se vives de mim perdida
Meu amor quero morrer
Viver sem ti não é vida
Que valha a pena viver

Eu não te quero perder
E se teimas em partir
Deixa que eu morra a seguir
Quando deixar de te ver

Temos todos uma cruz
Mas a minha é tão pesada
Que já a deixei cair
No começo da jornada

De braço dado comigo
A dona fatalidade
Anda a cumprir um castigo
Maior que a sua maldade

Fatalidade é desculpa
Dada a tudo o que é ruim
Mas olha amor não tem culpa
Que tu não gostes de mim

Teimo sempre em dar guarida
À dor no meu coração
Pois sem sofrer sinto a vida
Mais vazia e sem razão

Segredos da minha cama
Do meu travesseiro amigo
Que noite fora me chama
P’ra fazer versos comigo

Quando acontecem meus versos
Tenho a sensação estranha
De que só Deus me acompanha
Nos meus anseios dispersos

Temos mesmo é que amar

Leandro Belo / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Leandro Belo


Na linda estrada da vida
Amamos quem nos dá guarida
Se caminhamos à toa
É tão grande a incerteza
Que até sentimos tristeza
Por quem nos atraiçoa

Amigos tive-os aos centos
Não só em meus pensamentos
Que me fizeram tão feliz
Porém ao perder o norte
Até me abandonou a sorte
Porque o destino assim quis

Somos nós que procuramos
Nossos tão lindos ramos
Que nos ajudam a ver
Não vale a pena odiar
Temos mesmo é que amar
Porque o destino é morrer

Adeus ao fado

Guerreiro Bruno / Casal Ribeiro
Repertório de Fernanda Batista


Morreu o faia da tradição
Pobre Severa do Capelão

O fado é fino
Já não anda com a malta
Da viela, ganhando bem
Como a vida assim é bela

O velho fado do Marceneiro
Agora canta só por dinheiro

Adeus ó fado, gingão, castiço
Sofrer misérias, já não vai nisso
Exige o isco, perde a noite nas boîtes
Com uns modos esquisitos
Vejam lá que disparates
Adeus ó fado que estás mudado
Todo moderno e estilizado
Menino bem, com as manias de estrangeiro
Como isto mói, até parece um Tedy Boy


Deu volta ao mundo, muito importante
Falando caro com ar pedante

Até já foi
Todo chique a Hollywood
De avião, igual ao fado
Não há outro, isso não

Mesmo estafado, tem sempre bis
Em todo o lado mete o nariz

Tirai os olhos de mim

Gil Vicente / Alain Oulman
Repertório de Ricardo Ribeiro


Tirai os olhos de mim
Minha vida e meu descanso
Que me estais namorando
Tirai os olhos de mim

Os vossos olhos senhora
Senhora da formosura
Por cada momento da hora
Dão mil anos de tristura

Temo de não ter ventura
Vida, não me estais olhando
Que me estais namorando
Tirai os olhos de mim

Maria da Fé

Artur Ribeiro / Nóbrega e Sousa
Repertório de Artur Ribeiro

Maria da Fé bonita
Se acaso um dia dou fé
Que tens fé noutro qualquer
Por minha fé acredita
Nem que seja à falsa fé
Hás-de ser minha mulher

Maria da Fé
Por quem vais rezar só
zinha à igreja
Maria da Fé
Diz-me por quem é, seja por quem seja
Por que me castigas
E por que me obrigas a  sofrer assim
E se és Maria da Fé
Diz também porquê não tens fé em mim


Se podes de mim gostar
Faz-me a vontade Maria
Casa comigo na Sé
Que eu juro nunca te dar
Motivo para que um dia
Sejas Maria sem fé

Mouraria

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não sou mais nada, senão
A fadista que tu vês
Tenho a voz no coração
Destroçado e português

O meu destino, o meu fado
É feito de quase nada
De tristezas do passado
Duma sina desgraçada

Num soluço na garganta
Numa lágrima no olhar
Há tanta amargura. tanta
Como a água que há no mar

O meu xaile negro cai
Dos meus ombros para os teus
Como a ternura em que vai
Todo o perdão que há nos céus

Mas quando acabo a canção
Mais triste e desenganada
Vem a noite e a solidão
E vou sozinha na estrada

De fado em fado

Artur Ribeiro / Alfredo Duarte *fado mocita dos caracóis*
Repertório de Adelaide Rodrigues


Quando contigo a meu lado
Eu de fado me disfarço
E vestida de pecado
Eu ando de fado em fado
Pendurada no teu braço

De fado em fado lá vamos
Tu vais seguindo o meu canto
E quando menos esperamos (pensamos)
Em qualquer lado encontramos
Uma guitarra em quebranto

Guitarras (guitarra) que vai seguindo
À voltas dos fados meus
E ao vento vai repetindo
Este meu sonho tão lindo
De ficar nos olhos teus

E assim de fado vestida
Contigo de fado em fado
Na minha prece sentida
Rogo a Deus que toda a vida
Me deixe andar a teu lado

Ilusões perdidas

Leandro Belo / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Leandro Belo

Se alguém por ti quiser, gritar lá fora
A pensar que tem esse direito
De saber o porquê de me ir embora
Responde que só a nós diz respeito

Quando eu partir amor, e te perder
Deste mundo cruel e tão ruim
Vê se podes então cravos colher
E leva-os humildemente só para mim

Para quê mostrar, tanta felicidade
Nesta vida ingrata e de escolhos
Quando a triste e mera realidade
Está bem patente em nossos olhos

Ilusões perdidas, em nosso tempo
Apenas e só me fazem lembrar
Este meu triste e forte lamento
De te não poder continuar a amar

Essa mulher que eu amei

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Essa mulher que eu amei
Noutro nome que lhe dei
O amor levou consigo
Disse adeus e foi-se embora
E quando me vê agora
Ri da dor que anda comigo

No meu peito o coração
Fez desenhos de paixão
Viagens de caravela
Andei doido p’la cidade
Esqueci-me da saudade
Fui mais contente com ela

Na lembrança que ficou
D’amargura que deixou
Vou fingindo alegria
Mesmo nos fados que canto
Escondo a dor do desencanto
Sofrido naquele dia

Pedido

Fábia Rebordão / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Fábia Rebordão

Pedi para não te apaixonares
Vivermos bons momentos, por momentos
Pedi para não te deslumbrares
Só é traído quem tem sentimentos

Disse para andarmos lado a lado
Que fosse cada um pelo seu pé
Que fosses meu eterno namorado
Sem juras por um Deus de qualquer fé

Disse-te o segredo do qu’rer bem
De dar e receber sem duvidar
Se existe um modo de prender alguém
É deixar livre quem nos quer amar

Vira-voltas

Francisco Guimarães / Ricardo Ribeiro
Repertório de Ricardo Ribeiro

Oh menina dos meus olhos
Anda cá e dá-me um beijo
Que o meu beijo sai das rosas
Roda a saia que eu não te aleijo;
Oh menina dos meus olhos
Anda ter ao meu regaço
Que os meus olhos ficam cegos
Se não têm o teu abraço


Vens do norte até ao sul
Que te norteia o coração
Não me causes tal desnorte
Que eu sou forte e dou-te a mão

Guardo aqui a calma e vem comigo
É silêncio puro e meu amigo
É um chão maduro, meu centro
O Alentejo é voz que vem de dentro

E o sobreiro erguido em largo azul
Tem no seu corpo a cor que tem o sul
O suão balança no chão
E é branca a cor da solidão

E se o trigo aquece em sol dourado
Será minha a sombra no montado
E no teu canto o cante é fado

Os teus olhos

Artur Ribeiro / Armandinho *fado da adiça* 
Repertório de Adelaide Rodrigues

Os teus olhos são janelas
Onde me vou debruçar
A ver as coisas mais belas
Que possas imaginar

Vejo uma nesga de céus
E tenho sonhos infindos
Quando afundo os olhos meus
Nesses teus olhos tão lindos

Diviso mundos estranhos
Lindas noites de luar
Nuns olhos assim tamanhos
Ninguém se pode fiar

Fazem loucos desacatos
Ao carinho mais fiel
Esses teus olhos gaiatos
Têm a doçura do mel

Quando juntinhos dos meus
Aliam no mesmo olhar
Toda a bondade dos céus
E a falsidade do mar

Diz-me Lisboa

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Cansei-me de procurar
Por essas ruas à toa
Coisas de que ouvi falar
No cenário de Lisboa

Desapareceu das ruelas
O ferro-velho, o ardina
O cheiro a iscas com elas
E o pregão duma varina

Diz-me, Lisboa
Que é feito do velho fado
Da “Garrett” no Chiado
Do “Martinho” no Rossio
Diz-me, Lisboa
P’ra onde foram coitados
Os velhinhos “atrelados”
Mais as fragatas do rio

Diz-me, Lisboa
Por onde anda o Pirolito
A “Gazeta” e o “Mosquito”
E o “Borda” das sementeiras
O graxa a c’roa
E a dez tostões matinais
O “Século” e outros jornais
Com notícias verdadeiras


O carnaval na Avenida
A Feira na Palhavã
O Parque Mayer com vida
Até romper a manhã

A Amália a cantar no Luso
Os brinquedos no Camões
As ruas sem o abuso
De pragas e de pregões

Só contamos nós

Artur Ribeiro / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Eurico Pavia

Que importa que finde o dia
E o sol se esconda no mar
Se os teus olhos de magia
Trazem raios de luar
À minha casa sombria

Que importa que a noite venha
E o sol durma nas alturas
Se a terra do sol desdenha
Pois que se deite às escuras
E eu que teus olhos tenha

Que importa que o mundo esteja
Sedento de primavera
Se enquanto a gente se beija
O frio fica à espera
Por mais inverno que seja

Que importa nuvens no céu
Ou a chuva nos telhados
Sei lá se a noite é de breu
Para dois enamorados
Só contamos tu e eu

Poema para ti

Leandro Belo / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Leandro Belo


Nas ondas do mar errante
Silhuetas fazem lembrar
O teu rosto deslumbrante
Que eu adoro recordar

Quando o oceano se agita
Aumenta a minha ilusão
Sinto-te amor, acredita
Dentro do meu coração

Na penumbra dos meus olhos
Vejo teus lábios sorrir
Navegando em lindos sonhos
Volto então a dormir

E ao acordar lembrando
A felicidade sentida
Mesmo apenas divagando
Amar-te-ei toda a vida

Não me quiseste avisar

Letra e música de Luísa Sobral
Repertório de Fábia Rebordão

Não me quiseste avisar
Quando ias chegar
Entraste sorrateiro
Mas vieste p'ra ficar

Falaste dos planos
Que tinhas para nós
Que de então em diante
Não estaríamos mais sós

E eu bebi as tuas palavras
Sem saber que tinha sede
Abri-te a minha porta
Deitei-te na minha rede;
Fiz planos eternos
Sem nunca me lembrar
Que a vida também faz planos
Planeou-te levar


Não me quiseste avisar
Quando las chegar
Baralhaste a minha vida
E ela ficou no lugar

Sabias-me ao pormenor
Cada traço de cor
Hoje sei que sou metade
A outra morreu de saudade

Não me quiseste avisar 
Quando las partir

Mistério da vida

Leandro Belo / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Leandro Belo


A linda estrada da vida
Tal como outras estradas
Tem subidas e descidas
E muitas encruzilhadas

A vida é como um rio
Que desagua no mar
Para quem viveu sem brio
Não tem forma de voltar

A solidão triste da mente
Permanece dentro de nós
Quando o amor forte e dolente
Nos consome aquando sós

Quando partem os que amamos
Sem aparente razão
É aí que nos lembramos
Que somos um, na multidão

Estarmos, porém, inseridos
Nesta nossa rude lida
É sentirmo-nos perdidos
Neste mistério da vida

Alfama

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quem não acredita que Alfama é bonita
Por não ter a dita de nunca a ter visto
Que venha até cá ver o que bom há
E depois não vá a dizer mal disto

Quem ’inda duvida d’Alfama garrida
Cheiinha de vida pelo São João
Venha cá em Junho vê-la d’arco em punho
Será testemunho da minha razão

Ai Ai Ai
Que linda que Alfama vai
P'ró meu bairro não há pai
Diga o povo o que disser
Ai Ai Ai
Alfama, como vai linda
Quem ’inda a não viu, ainda
Está muito a tempo de a ver


Quem por má memória s'esqueceu da história
E jogou à glória, coisas do passado
Venha revivê-las cá nestas vielas
Pois à sombra delas muito foi contado

Quem não vê que nós somos porta-voz
De heróicos avós que a história nos deu
Venha até Alfama recordar a fama
Que nas naus do Gama mundos percorreu

Tu não tens culpa

Artur Ribeiro / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Adelaide Rodrigues

Tu não tens culpa não como insinua
Quem sabe o que entre nós aconteceu
Muito embora a traição seja só tua
O culpado de tudo fui só eu

Fui eu que te pintei dum modo estranho
Como nunca foste nem serás
Fui eu que ao teu amor dei um tamanho
Que tu nunca lhe deste nem darás

Fui eu que confiei dia após dia
E em ti acreditei tão cegamente
Que não acreditava no que via
Pois te pintei melhor que toda a gente

Quem pinta o que não vê sofre revezes
E arrisca-se ficar só e tristonho
Tu não tens culpa não de que eu às vezes
Pinte as minhas paixões tal como as sonho

Se me deixares

António Botto / Ricardo Ribeiro
Repertório de Ricardo Ribeiro


Se me deixares eu digo
O contrário a toda a gente
E neste mundo de enganos
Fala verdade quem mente

Tu dizes que a minha boca
Já não acorda desejos
Já não aquece outra boca
Já não acorda os teus beijos;
Mas tem cuidado comigo
Não procures ser ausente

Aqui na casa branca
A vida é feita de luz
Quando el Kiko avança
Ele a todos seduz

El Kiko é uma criança
Que a todos vai trazer esperança
Quando el Kiko avança
Ele a todos seduz

Lição

Letra e música de Fábia Rebordão
Repertório da autora


Se a dor não me souber mudar o coração
É porque eu não soube aprender a lição
A ferida cicatriza só a olho nu
Sempre que ameniza a dor, lá chegas tu

Eu não me sei ver sem ti
Eu não me sei ver sem ti


Se sabes que não vais ficar, p'ra quê chegar?
Eu sei que me queres bem e queres de mim cuidar
Não temas avançar, não temas o depois
Sabes que o meu amor chega p'ra nós os dois

Eu não me sei ver sem ti
Eu não me sei ver sem ti

Se o amor não te souber mudar o coração
É porque não soubeste aprender a lição
Tu sabes que uma ferida aberta em vida, dói
Aprende que o amor sem dois, não se constrói

Eu não me sei ver sem ti
Eu não me sei ver sem ti
Eu não sei viver assim

Não rias assim

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não rias, que esse rir só te faz mal,
Desfigurando as linhas do teu rosto.
Pois rir forçadamente, é mau sinal
E mostras esconder algum desgosto.

Porque não dás sonora gargalhada
Que seja verdadeira e não fingida?
Mas tu não és assim, sorris por nada,
P’ra mostrar que és feliz na tua vida.

Tu sorris ao passar à minha porta
E se me vês desvias teu olhar.
E eu, vendo o teu sorriso, não me importa,
Pois sei bem, quem desdenha quer comprar

Um fado ao acaso

Artur Ribeiro / Jorge Fontes
Repertório de António Severino

Eu andava só na rua
Olhos tristes alma nua
O coração magoado
Andava em busca de nada
E na triste madrugada
Fui ouvir cantar o fado

Um fado ao acaso
Numa sala escura
E à chama das velas
Vi o céu de estrelas
Que andava à procura

Um fado ao acaso
Numa voz sentida
Quando nos fitámos
Nunca mais andámos
Sozinhos na vida


Agora tempos passados
Vida fora, enamorados
Pensamos como seria
Se a voz que a tudo deu azo
Não cantasse por acaso
Esse fado nesse dia

Nem sempre acontece fado

Artur Ribeiro / João Maria dos Anjos
Repertório de João Cabral


Nem sempre acontece fado
No cantar estilizado
Que sai de cada garganta
E às vezes nada acontece
Porque quem canta s’esquece
De dar sentido ao que canta

Quem canta nem sempre tem
Razões para amar alguém
E às vezes nunca sofreu
E sem nunca ter sofrido
Como é que vai dar sentido
Ao que o poeta escreveu

Mas se acontece o contrário
E nós temos por fadário
Amar amar sem medida
Então acontece fado
E cada verso cantado
Fica transformado em vida

Eu sei

Letra e música de Pedro Campos
Repertório de Fábia Rebordão


Eu sei que pode ser um novo dia
Que tudo sempre acontecia
Sem forçar, sem sequer pensar se crescia

Eu sei que o tempo já não volta atrás
Eu sei que já não sou capaz
De ficar, de voltar, só para onde tu estás

E dói saber que foram tempos tão reais
E lembrar e sentir que não voltam mais
E dói saber que foi um tempo que passou
Esquecer e sentir que a vida acabou


Eu sei que foi um ponto sem ter volta
Que a nossa vida ficou solta
Vais tentar, vou tentar ter-nos de volta

Eu sei que o tempo já não volta atrás
Eu sei que já não sou capaz
De ficar, de voltar só para onde tu estás

Fado passado

Nuno Júdice / Franklin Godinho
Repertório de Ricardo Ribeiro


Queria dançar contigo
Levar-te à lua mais alta
Esquecer campa e jazigo
Não pensar que fazes falta

Via o fim à nossa volta
Mesas de grupos vencidos
Mas nós os dois em revolta
Falando de heróis traidos

Bebia p’la tua boca
Todo o vinho desta vida
Na noite mais funda e louca
Não te via já tão perdida

Acendias o cigarro
Que eu fumava até ao fim
E tudo a que me agarro
Não voltou a ser assim

Muda o tempo dia a dia
É uma sombra o teu fado
E a tua lembrança fria
Uma pedra no passado

O nosso lugar

Letra e música de Fábia Rebordão
Repertório da autora


Acordei de manhã
Já não estavas comigo aqui
Levantei-me da cama
Espreitei, mas não te vi;
Não dobraste o pijama
Saíste sem avisar
Daqui do nosso lugar

Eu pensei que era fácil
Se entre nós há amor demais
Porque é tão difícil
Concordarmos com coisas banais?
Se por vezes reclamo
Não ligues, eu sou mesmo assim
Assim, mas eu gosto de ti

O relógio da sala
Conta as horas tão devagar
Não levaste a mala
Reparei, estava no lugar;
0 meu peito em soluços
Descansou, não estava a contar
Que tu pudesses voltar

Eram cinco p'rás quatro
Quando a porta então bateu
Tu chegaste mansinho
Encostaste o teu rosto no meu
E disseste baixinho:
Não ligues, eu sou mesmo assim
Assim, mas eu gosto de ti"

Do silêncio saímos

Letra e música de Fernando Tordo
Repertório de Ricardo Ribeiro


Fala-me dos tempos que já foram
Fala-me daqueles que já não estão
Conta-me da pena que nos faz
Que só estejamos nós e outros não

Mas viva a vida esta que ainda temos
O riso, o amor, por dentro e por fora
O futuro que nunca aprendemos
Mas sendo sábios do que é sermos agora

Do silêncio saímos cheios de versos
E com versos fizemos as cantigas
Que nos lembram momentos tão dispersos
Que não há cantigas velhas, só cantigas


Conta-me dos passados recentes
Fala-me dos sonhos, se quiseres
Que eu digo-te das dívidas que temos
Do quanto nós devemos às mulheres

Diz-me das paisagens dos caminhos
Das montanhas dos desertos e das flores
Fala-me de não estarmos sózinhos
Conta-me a verdade dos amores