Não me fales que eu não posso
Atender a tua dor
Estou rezando um Padre Nosso
Por alma do nosso amor
O ribeiro não corria
Quando o teu lenço lavavas
Parou, a ver se aprendia
Parou, a ver se aprendia
As cantigas que cantavas
À fonte de São João
À fonte de São João
Fui lavar penas e mágoas
As penas tão negras são
As penas tão negras são
Qu’enegreceram as águas
Já a água do regato
Já a água do regato
Anda de noite a ralhar
Com teu coração ingrato
Com teu coração ingrato
Que tanto me faz penar
Que o amor nasce da chama
Que o amor nasce da chama
Dum olhar, é ironia
Porque o cego também ama
Porque o cego também ama
Sem ter visto a luz do dia
No céu faltam duas ‘strelas
No céu faltam duas ‘strelas
As de mais lindo fulgor
Pois Deus quis fazer com elas
Pois Deus quis fazer com elas
Os olhos do meu amor
Negros ciúmes de amor
Negros ciúmes de amor
Quem nunca os exp’rimentou
Não sabe a coisa pior
Não sabe a coisa pior
Que Deus ao mundo deitou
Saudade é a flor mais linda
Saudade é a flor mais linda
Que dentro em noss’alma vive
Saudades tenho-as ainda
Saudades tenho-as ainda
Das saudades que já tive
As mais lindas bailarinas
As mais lindas bailarinas
E as que bailam melhor
São essas lindas meninas
São essas lindas meninas
Dos teus olhos, meu amor
Tu tens um ar apressado
Tu tens um ar apressado
E passas por tudo a rir
Olha que um passo mal dado
Olha que um passo mal dado
Pode fazer-te cair
Das tuas juras d’amor
Das tuas juras d’amor
Quis na feira fazer venda
Mas de tanto comprador
Mas de tanto comprador
Nenhum gostou da fazenda
Para se poder cantar
Para se poder cantar
O Fado, quando se adora
Basta apenas atirar
Basta apenas atirar
A alma p’la boca fora
Olhas pr’á Virgem e rezas
Olhas pr’á Virgem e rezas
E eu julgo ver, nessa hora
Mais duas velas acesas
Mais duas velas acesas
No altar de Nossa Senhora
Traz as palavras contadas
Traz as palavras contadas
Vê lá bem com quem te expandes
Pois é dos pequenos nadas
Pois é dos pequenos nadas
Que nascem as coisas grandes
Para amar, tem sempre tento
Para amar, tem sempre tento
Nunca é bom amar demais
Porque os moinhos de vento
Porque os moinhos de vento
Não moem com temporais
Vidas felizes, são raras
Vidas felizes, são raras
Quantas vidas há perdidas
Que, depois de rir às claras
Que, depois de rir às claras
Vão chorar às escondidas?
Mulher, fazes mal se casas
Mulher, fazes mal se casas
Sem uma paixão ardente
Olha que o lume sem brasas
Olha que o lume sem brasas
Apaga-se facilmente
Quando tu fias o linho
Quando tu fias o linho
Até o linho sorri
E o fuso põe-se mansinho
E o fuso põe-se mansinho
Bailando junto de ti
Cautela, ninguém se gabe
Cautela, ninguém se gabe
De ter tudo o que lhe apraz
Quem não tem nada é que sabe
Quem não tem nada é que sabe
A falta que tudo faz
Perdida no meio dum ermo
Perdida no meio dum ermo
A casinha onde nasci
Parece um velhinho enfermo
Parece um velhinho enfermo
Que nunca mais sai dali
Meu pequeno povoado
Meu pequeno povoado
À luz do luar mansinho
É um cacho sulfatado
É um cacho sulfatado
Beijando o pó do caminho
Planta de vários matizes
Planta de vários matizes
É meu Portugal jucundo
Que soube criar raízes
Que soube criar raízes
Nas cinco partes do mundo
Se o teu olhar visse um dia
Se o teu olhar visse um dia
Como trago o peito aflito
Tua boca não dizia
Tua boca não dizia
Metade do que tem dito
Tu disseste que eu partira
Tu disseste que eu partira
De ti, cheio de saudade?!
Tens dito tanta mentira
Tens dito tanta mentira
Mas desta vez foi verdade
Não há lábios como aqueles
Não há lábios como aqueles
Nunca vi lábios assim
Quanto mais perto estou deles
Quanto mais perto estou deles
Mais longe ficam de mim
A água da fonte é louca
A água da fonte é louca
Anda p’ra aí a dizer
Que já te beijou a boca
Que já te beijou a boca
Quando lá foste beber