-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

. . .

Quadras de Frederico de Brito

Transcritas do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Não me fales que eu não posso
Atender a tua dor
Estou rezando um Padre Nosso
Por alma do nosso amor

O ribeiro não corria 
Quando o teu lenço lavavas
Parou, a ver se aprendia 
As cantigas que cantavas

À fonte de São João 
Fui lavar penas e mágoas
As penas tão negras são 
Qu’enegreceram as águas

Já a água do regato 
Anda de noite a ralhar
Com teu coração ingrato 
Que tanto me faz penar

Que o amor nasce da chama
 Dum olhar, é ironia
Porque o cego também ama 
Sem ter visto a luz do dia

No céu faltam duas ‘strelas 
As de mais lindo fulgor
Pois Deus quis fazer com elas
Os olhos do meu amor

Negros ciúmes de amor 
Quem nunca os exp’rimentou
Não sabe a coisa pior 
Que Deus ao mundo deitou

Saudade é a flor mais linda 
Que dentro em noss’alma vive
Saudades tenho-as ainda 
Das saudades que já tive

As mais lindas bailarinas 
E as que bailam melhor
São essas lindas meninas 
Dos teus olhos, meu amor

Tu tens um ar apressado 
E passas por tudo a rir
Olha que um passo mal dado 
Pode fazer-te cair

Das tuas juras d’amor 
Quis na feira fazer venda
Mas de tanto comprador 
Nenhum gostou da fazenda

Para se poder cantar 
O Fado, quando se adora
Basta apenas atirar 
A alma p’la boca fora

Olhas pr’á Virgem e rezas 
E eu julgo ver, nessa hora
Mais duas velas acesas 
No altar de Nossa Senhora

Traz as palavras contadas 
Vê lá bem com quem te expandes
Pois é dos pequenos nadas 
Que nascem as coisas grandes

Para amar, tem sempre tento 
Nunca é bom amar demais
Porque os moinhos de vento 
Não moem com temporais

Vidas felizes, são raras 
Quantas vidas há perdidas
Que, depois de rir às claras 
Vão chorar às escondidas?

Mulher, fazes mal se casas 
Sem uma paixão ardente
Olha que o lume sem brasas 
Apaga-se facilmente

Quando tu fias o linho 
Até o linho sorri
E o fuso põe-se mansinho 
Bailando junto de ti

Cautela, ninguém se gabe 
De ter tudo o que lhe apraz
Quem não tem nada é que sabe 
A falta que tudo faz

Perdida no meio dum ermo 
A casinha onde nasci
Parece um velhinho enfermo 
Que nunca mais sai dali

Meu pequeno povoado 
À luz do luar mansinho
É um cacho sulfatado 
Beijando o pó do caminho

Planta de vários matizes 
É meu Portugal jucundo
Que soube criar raízes 
Nas cinco partes do mundo

Se o teu olhar visse um dia 
Como trago o peito aflito
Tua boca não dizia 
Metade do que tem dito

Tu disseste que eu partira 
De ti, cheio de saudade?!
Tens dito tanta mentira 
Mas desta vez foi verdade

Não há lábios como aqueles 
Nunca vi lábios assim
Quanto mais perto estou deles 
Mais longe ficam de mim

A água da fonte é louca 
Anda p’ra aí a dizer
Que já te beijou a boca 
Quando lá foste beber

Onde a saudade se deita

Letra e música de Ricardo Martins
Repertório de Filomena Sousa


Escrevemos um poema de vida
Com letras de ternura na palma da mão
Achamos a esperança perdida
Fizemos deste abraço a nossa canção

Cada momento que estamos a sós
É tempo de magia perfeita
Quando estamos distantes fazemos de nós
O leito onde a saudade se deita

Ai este amor
É canto, é silêncio
É grito, é libertação
Aí este amor
Centelha que ateia 
A fogueira de um coração
Que vive por amar


Fizemos da tormenta a bonança
Com beijos de sorrisos tocamos o céu
Num sonho que de sonhar se cansa
Seremos bem reais neste amor, tu é eu

Cada suspiro arrancado de nós
Encontra nos desejos guarida
Quando nos enlaçamos embarga-se a voz
Num fado de saudade perdida

Brinquedos de brincar

Letra de Linhares Barbosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se o teu filhinho sonhar
Com brinquedos do Natal
Não o acordes... faz mal
Um lindo sonho cortar

No pinheirinho pequeno
Põe brinquedos de brincar
Porque Jesus Nazareno
Outros não podia dar

Não lhe dês armas sangrentas
Que não são para estimar
Dá-lhe livros, ferramentas
Que não sejam de matar

Brinquedos, aos pequenitos
Nem todos se devem dar
Que nem todos os bonitos
São bonitos de brincar

O dom da vida

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se olhares para o teu futuro com um sorriso
Com um sorriso ingénuo de criança
Segue em frente, pois tens o que é preciso
P’ra ser feliz na vida, tens a esperança

Se ao lembrar o passado com saudade
O consegues fazer alegremente
Tu não perdeste a tua mocidade
Pois estás a vivê-la novamente

Se o bem tu souberes agradecer
Se sabes perdoar ao inimigo
Tens tudo o que é preciso p’ra viver
Tens o amor de Deus, tens Deus contigo

Se o que anseias a vida te não der
A vida continua a ser um bem
Feliz não é quem tem tudo o que quer
Mas quem gosta de tudo quanto tem

Praias desertas

Letra e música de Carminho
Repertório da autora

As praias desertas que eu vi nascer
São horas tão certas do meu crescer
Não julgues que o mar não te traz a mim
Se olhares bem no fundo, tu verás que sim

Estou nos cabelos, no vento que ao tê-los
Sussurram meu pranto, embalam meu canto
Se entoares bem alto com os pés no areal
E olhares bem em frente, ver-me-ás afinal

Oh meu amor eu nunca te esqueço
O meu amor e uma linha que meço
Sem tempo, nem guia, imagem nem chão
A praia deserta é a tua mão


O medo do azul que vês além
É a ilusão de não estar ninguém
as tu tens a fé, a praia nasceu
Venho co’a maré que sempre traz o que é seu

Onde morrem as saudades

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Onde morrem as saudades
E os olhos mudam de cor
São mais duras as verdades
Por serem todas de amor

Quando vens, o teu sorriso 
Tem a luz de mais um dia
Cai a noite e eu preciso 
Que tu venhas e sorrias

Saudades são más lembranças 
Dos olhos de quem não ri
As que trago são esperanças
Todas quantas sinto em ti

Pelo sol que trago enfim 
Nos meus olhos por te ver
Sei que tudo agora em mim 
Será teu até morrer

Que estranho mundo inventei
Para te ter a meu lado
Partiste mas eu fiquei
E mais um sonho acabado

Perdoa meu amor

Manuel Carvalho / Armandinho *alexandrino do Estoril*
Repertório de Filomena de Sousa

Perdoa meu amor, mas ando tão cansada
Das noites perdidas, sem ti a meu lado
Só vives pró fado, e é longa a madrugada
Os teus beijos amor, já rimam com passado

Perdoa meu amor, pode até ser intriga
Disseram-me há pouco, amas outra mulher
Só culpo o teu fado, e sei que não se obriga
O coração a gostar de quem ele não quer

Perdoa meu amor, digo-te neste fado
Não quero mais chorar, promessas esqueci
Talvez algum dia, teu coração gelado
Te lembre o meu amor e o quanto chorei por ti

Perdoa meu amor, agora também canto
Fica com teu fado, eu fico com o meu
Vou trocar teus beijos por lágrimas e pranto
E tentar ser feliz, com o que Deus me deu

Amor tão nosso

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de José Neves (ao vivo)


Quem fez o nosso amor soube o que fez
Ao dar-lhe o som dum fado que é só nosso
O nosso amor cantado em português
Mantém os corações em alvoroço

Quem fez o nosso amor deu-lhe o ciúme
Normal, como normal é a certeza
Que mesmo nos momentos de azedume
A chama da paixão mantém-se acesa

Quem fez o nosso amor também lhe deu
O brilho duma lágrima furtiva
A ligação do mar ao próprio céu
Mantém a natureza sempre ativa

Pensando bem melhor... o nosso amor
Que tem deixado as mágoas pra depois
É o jardim perfeito que deu flor
Pois quem fez o amor, fomos nós dois

Não duvides deste amor

Nair Silva / Manuel Reis
Repertório de Maria do Sameiro

Invadiste a minha vida
Como quem não quer entrar
Hesitaste e se seguida
Já só querias ficar

Deixaste a porta entreaberta
E eu não a quero fechar
Será livre a descoberta
Do prazer que te vou dar

Eu sei que o teu sorriso
Mais ateia o meu desejo
E encontro um paraíso
No ardor de cada beijo

Quero força no abraço
Ternura no teu olhar
Quero que ocupes o espaço
Que encontraste para amar

Não duvides deste amor
Liberta o teu coração
Vive como um sonhador
Ao sabor desta paixão

Foi amor

José Guimarães / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Filomena Sousa


Perdida de paixão na madrugada
Sonhei com este amor, durante o dia
De tarde passeamos de mão dada
À noite no teu ombro adormecia

Dos dois, a nossa vida fez-nos três
Por esta, luz ao céu agradeci
Mas desfizeste a conta que Deus fez
Com alguém... que se esquecerá de ti

E quando acordares deste teu sonho
Nas cinzas desse fogo sem verdade
O que sobra dessa noite, eu suponho
Teu pesadelo chamado realidade

Agora sem amor e sem vontade
Sozinha, só eu sei o que chorei
Nas lágrimas o sal sabe a saudade
Ninguém te vai amar, como eu te amei

Ai se eu pudesse

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Eu quero esquecer o dia 
E aquela hora fatal
De passageira alegria 
E a causa deste mal

Relembro as juras d’amor 
Origem do meu sofrer
E vivendo nesta dor 
É impossível viver

Ai se eu pudesse
Arrancar do coração
A mágoa desta ilusão
E da qual tu ‘inda ris
Ai se eu pudesse
Olvidar a minha sina
E esta dor que me domina
Talvez eu fosse feliz


Mas de que serve eu andar 
Pensando na felicidade
Se o meu destino é penar 
Sempre atrás duma saudade

Mas embora já sem esp’rança 
De findar o meu tormento
Talvez um dia a bonança 
Me traga o esquecimento

Minha filha, meu verso

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de Manuel Barbosa


Minha filha, meu verso tão amado
Minha razão de vida preenchida
Inspiração suprema do meu fado
Valor que valoriza a minha vida

Na paz do teu sorriso encantador
Eu sinto renascer um novo dia
No meu jardim és tu a linda flor
Exalando perfume de magia

O teu olhar de musa deslumbrada
Desperta o encantamento do amor
E a tua pequenez tão perfumada
É o meu maior poema de louvor

Em cada beijo teu, respiro vida
Por ti, serei poeta compensado
Minha razão de vida preenchida
Minha filha, meu verso tão amado

Eu sou do Fado

José Guimarães / José Luís Guimarães
Repertório de Filomena de Sousa


No fado há sentimento
Sempre que chora a saudade
Na tristeza do lamento
De quem ama de verdade

Mas quando voltas p’ra mim
No meu olhar abraçado
Baixinho digo-te assim
Eu sou de ti, eu sou do fado

Eu sou do fado da vida bairrista
Eu sou do fado e canto com garra
E no meu fado não há quem resista
À voz da fadista de xaile e guitarra


No fado há tanta ternura
Quando se canta o amor
A felicidade mais pura
Que tu trazes numa flor

A minha vida contigo
No meu corpo aconchegado
Quando és o meu abrigo
Eu sou de ti, eu sou do fado

Nasci na noite sem berço

Jorge Fernando / José António Sabrosa
Repertório de Artur Batalha


Nasci da noite sem berço
Num leito sem condição
Minha mãe rezando o terço
Morreu com o terço na mão

Dormindo só, em dispor
Da bênção de minha mãe
Cresci sedento de amor
Sem chamar mãe a ninguém

Foi por isso que aprendi
A rezar, não sei com quem
E a rezar sempre pedi
Que tu me guiasses, mãe

A tristeza que me toca
É saber que hoje aqui 'stou
Por ter vindo ao mundo em troca
No mundo que me gerou

Segue em frente

Letra de Isidro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não chores o passado, segue a vida
A felicidade perdida 
É morta, não tem valor
Não te agarres à saudade
Tu só terás felicidade 
Se encontrares um novo amor

Não queiras reviver o que morreu
Aquilo que se perdeu 
Nunca mais volta a viver
Do que foi um grande amor
Só resta traição e dor 
Que só te fará sofrer

Liberta a tua alma da saudade
Agora tem liberdade 
P’ra fazer o que quiseres
Olha p’ra vida e sorri
Há sempre quem espere por ti 
No meio de tantas mulheres

Amor não é saudade é sentimento
Logo cai no esquecimento 
Quando outro amor aparece
Se encontrares um novo amor
Vai-se a tristeza e a dor 
Tudo passa, tudo esquece

Fado desquitado

Torre da Guia / Lino Lobão
Repertório de Filomena Sousa


Nunca é bom retomar 
O que atrás já está errado
Ou sequer fazer mais fado 
Que não dá para cantar

Não adianta embalar 
Um berço que está vazio
Ou dar mais fio ao fio 
Que se está a ensarilhar

Não ponhas na minha boca
A trama que eu desconfio
Nem dês mais volta à roca
Que podes partir o fio
Tece-tece e entretece
Mas não me teças a mim
Porque o que demais aquece
Chega sempre frio ao fim


A louça quando se parte
Ou se perdem alguns cacos
Hoje em dia prós agrafos 
já não há engenho e arte

De resto de parte a parte 
Doa a dor o que doer
O melhor é desfazer 
Do que errares-me e eu errar-te

Não sou poeta

Letra de Artur Soares Pereira
Transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ao chamar-me poeta, trovador
Decerto formulou critério errado
Senhora: eu sou um simples amador
E apenas faço versos para o Fado

O chamar-me poeta é despertar
Em mim sonhos, quimeras, ilusões
Por me julgar capaz, já, de ombrear
Com o vate imortal que foi Camões

E tal como você, uma enfermeira
Que cumpre a sua sina redentora
Decerto considera brincadeira
Quando eu passo e a trato por Doutora

Entre nós, as distâncias são iguais
Pois tanto um como o outro está distante
E tinha de estudar mais, muito mais
Para atingir esse ponto culminante

Escute, pois, um conselho muito meu,
Que não tenho pretensões a ser profeta
Está tão longe de Doutora, como eu
Estou longe, também, de ser poeta

A uma enfermeira que passou a cumprimentar o autor com um 
«Bom dia, Sr. Poeta», depois de ouvir fados seus cantados num 
«Natal dos Hospitais» transmitido do Hospital de S. José, onde trabalhavam.
Confessando-se apenas letrista, o autor ainda tentou demover a colega
comprometendo-a com um «Bom dia, Sr.ª Doutora», mas a brincadeira 
só terminou quando lhe entregou estes versos.

Por causa do teu olhar

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Prendi-me no teu olhar
Mas nem vi que me prendi
Agora tenho que andar
Toda a vida presa a ti

O meu coração coitado 
Só merece compaixão
Faz lembrar um condenado 
Que se entregou à prisão

Os meus olhos deprimidos 
De terem chorado tanto
São dois náufragos perdidos 
No mar largo do meu pranto

Por ti meus lábios passaram
Por vendavais de desejos
Por causa disso ficaram
Encharcadinhos de beijos

Tem pena de mim por Deus
Olha p’ra o que eu já sofri
Não leves os olhos meus
Perdidos atrás de ti

O grito da terra

Domingos Silva / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Maria Amélia Proença

Que os campos tenham mais área
Mais cultivo, mais ação
Só com a reforma agrária
É que todos terão pão

Deixai o trigo nascer 
Nas terras bem amanhadas
Como é belo ver crescer
Lindas espigas doiradas

De flor (?) o loiro trigo 
Grito que a terra espalha
Tu és o melhor amigo 
De quem a terra trabalha

O pão que a gente consome 
Ganho com suor do rosto
É pão que nos mata a fome
Sem o travo do mau gosto

Não te dou meu coração

António Vilar da Costa / José Joaquim Rosa 
Repertório de Francisco Martinho

Eu não posso nem brincando
Ver teu rosto que esqueci
Não posso porque já ando
Ceguinho d’amor por ti

Meu juramento é sincero
O meu desprezo é profundo
Juro que já não te quero
Longe de mim um segundo

Não te dou meu coração
Nem posso dar-te uma esperança
Eu que sei amar tão bem
Também sei o que é vingança

Não fui eu que te enganei
Foste tu que me enganaste
Não te dou meu coração
Não te dou meu coração
Porque tu já mo roubaste


Eu não quero nem desejo
O calor da tua boca
Não quero nem mais um beijo
Porque um beijo é coisa pouca

Para que não me endoideças
Eu peço que nunca mais
Que nunca mais me apareças
Meu amor, tarde demais

Paixão ternurenta

José Fernandes Castro / Joaquim Pimentel *a rosa e o chico*
Repertório de Filomena Sousa

Subindo contigo à lua
Numa nuvem ternurenta
O teu olhar insinua 
Uma paixão violenta
Tão violenta, tão forte
Cheia de mel e feroz
Que chego a perder o norte 
No rumo da tua foz

Saltando barreiras
Passando fronteiras 
Que a vida apresenta
Vamos colorindo
Este sonho lindo 
De paixão violenta
De abraço em abraço
Ganhei um espaço 
No teu coração
E de beijo em beijo
Aumenta o desejo 
De amor em paixão

O elo que nos uniu 
Trouxe mais luz e mais cor
Decerto jamais se viu 
Um amor com tanto amor
Somos dois parecendo um 
Vivendo no mesmo fado
Amor igual a nenhum 
Com o destino marcado

Não sei viver sem o amor

Letra de Isidoro de Oliveira
Repertório de Ana Marina
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Coração se não cabes no meu peito
Só no amor tu podes descansar
Mas deixa de fazer o que tens feito
Fugindo do amor p’ra ir amar

P’ra que queres coração a liberdade
Se ao ser livre procuras um senhor
Porque andas em busca da verdade
Desprezando a verdade do amor

Quando és livre procuras a prisão
Levando o pobre corpo acorrentado
Pára a tua loucura, coração
Tem pena deste corpo já cansado

Eu sinto, coração, que és um traidor
Mas não posso fugir à minha sorte
Como não sei viver sem o amor
Hei-de ser tua escrava até à morte

Nem saudades do passado

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Nem saudades do passado
Nem versos de tradição
O Fado p’ra mim é Fado
É vida feita canção

Lembrar é mais que morrer
É parar deixar a vida
Ninguém me verá sofrer
Por uma esperança perdida

Os versos tristes que canto
São por alguém não por mim
Qualquer pranto tem encanto
Gosto de viver assim

Cesaltina

Letra de Artur Soares Pereira
Criação de Fernando de Oliveira

Desconheço se esta letra foi gravada
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Era a linda Cesaltina
Moça por quem me perdi
Dona de ternos olhares
A mais bonita varina
Das muitas que eu conheci
Na Rua Morais Soares

Trajava sempre a rigor 
Saia, blusa e chinela
E um lindo avental de folhos
Cesaltina era um amor 
E quem olhasse p’ra ela
Ficava preso aos seus olhos

Mas um dia, é natural
A Cesaltina deixou 
De dar conversa a qualquer
Aconteceu, foi fatal
Um, por quem se apaixonou 
Fez dela a sua mulher

Agora, por sorte sua
Tem futuro mais brilhante 
Porque nova vida abraça
Deixou de vender na rua
Virou em comerciante 
Tem uma banca na praça

Hoje, ao passar p’la esquina 
Da Cavaleiro d’Oliveira
Já não procuro os olhares
Da bonita Cesaltina
A mais formosa peixeira 
Da Rua Morais Soares

Há-de passar

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela 
Academia da Guitarra e do Fado

Há-de passar lentamente
A loucura de te amar
Passa tudo p’ra quem sente
A própria vida passar

Há lírios brancos nos montes
Lírio branco, rosa triste
Há água pura nas fontes
Só tu, meu amor, partiste

Há na terra e há no céu
Tanta estrela como havia
Só em mim escureceu
Tanto a noite como o dia

O roteiro do passado

José Fernandes Castro e Serafim Gesta / José Duarte *fado seixal*
Repertório de José Giesta


Vejam bem como é bonito
O fontenário de agora
Tem Santo António no meio
E no nicho do passeio
Tem também Nossa Senhora

Eu não me posso esquecer 
Num roteiro do passado
Os operários artistas 
Que por serem bons fadistas
Valorizaram o fado

O Cunha o José da Gama 
E o Avelino Gesta
Foram alguns dos cantores 
Poetas e trovadores
Todos de origem modesta

As castiças sardinheiras 
Soltavam pregões à toa
E a mente mais recatada 
Lembra Maria Parada
E também Linda Pinhoa

Este fado tão singelo 
Não fala de toda a gente
Porém fala da saudade 
Que ficou na mocidade
Mas que no peito se sente

Boémio poeta

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela 
Academia da Guitarra e do Fado

Boémio, poeta louco
Cantou arrastado e rouco
Com palavras mal rimadas
Esses teus versos sem brilho
São como passos sem trilho
Como rosas desfolhadas

Vagueias pelas tabernas 
A cantar quadras eterna
Cantar arrastado e rouco
Ó meu triste vagabundo 
Pelas ruelas do mundo
Boémio, poeta louco

Choras nas noites de farra 
Ante o trinar da guitarra
Mas não tens medo da fome
És famoso pelas tascas 
Pelas tabernas mais rascas
Mas ninguém sabe o teu nome

Guardas no teu coração 
A ébria recordação
Dum sorriso de mulher
E a cantar de improviso 
Enquadras esse sorriso
Numa outra cara qualquer

Não serve, fica-lhe mal 
Nunca houve outra igual
Dizes já chorando rouco
E mergulhado no tinto 
Tornas-te um vulto indistinto
Boémio, poeta louco

As coisas são o que são

Letra de Linhares Barbosa
Publicada no jornal “Guitarra de Portugal” em Maio de 1939
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Sabes lá quanta tristeza
Eu tenho em gostar assim
De ti e ter a certeza
Que tu não gostas de mim

Há grande desigualdade 
Entre nós, e não parece
Eu gosto por amizade 
Tu gostas por interesse

Afinal, tu tens razão 
Eu é que a não qu’ria ver
As coisas são o que são 
Não o que deviam ser

É justo que tu me queiras 
Somente por ambição
Temos muitas algibeiras 
E apenas um coração

É preciso saber porque se é triste

Manuel Alegre / Carminho
Repertório de Carminho


É preciso saber porque se é triste
É preciso dizer esta tristeza
Que nós calamos tantas vezes, mas existe
Tão inútil em nós, tão portuguesa

É preciso dizê-la é preciso despi-la
É preciso matá-la perguntando
Porquê esta tristeza como e quando
E porquê tão submissa tão tranquila

Esta tristeza que nos prende em sua teia
Esta tristeza aranha esta negra tristeza
Que não nos mata nem nos incendeia

Antes em nós semeia esta vileza
E envenena o nascer de qualquer ideia
É preciso matar esta tristeza

Ai Lisboa, Lisboa

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Por esta Lisboa fora
Alta noite em qualquer lado
Há sempre uma voz que chora
A cantar um triste fado

Porque o fado é a canção
Da mágoa e da tristeza
Que mais fala ao coração
Desta raça portuguesa

Nela engloba o sofrimento
Por ser canção fatalista
Expandindo o sentimento
Do verdadeiro fadista

E por isso a qualquer hora
Dia e noite, em tom magoado
Por esta Lisboa fora
Há sempre quem cante um fado

A tasca do Florindo

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


A tasca do Florindo
Na Rua do Sol a Chelas
É tasca com tradições
Entro lá, fico sorrindo
Sempre que remiro aquelas
Velhinhas recordações

Duas mulheres ao balcão
A Tia Inácia e a Maria 
Sempre prontas a atender
Com a maior prontidão
Toda aquela freguesia 
Que vai jogar e beber

Ao sábado, é já fatal
Há sempre uma almoçarada 
Menu farto e variado
A tasca vira arraial
Aonde a rapaziada 
Come, bebe e canta o fado

Depois de cantar e rir
Bem comidos, bem bebidos 
Gargantas limpas, sem pó
Uns vão p’ra casa curtir
Outros ficam entretidos 
A jogar o dominó

E quando a tasca fechar
O dia ninguém o sabe 
Porque ninguém adivinha
Quase que posso jurar
Vamos ter muita saudade 
Daquela tasca velhinha

Saudade

João de Freitas / Armando Machado
Repertório de Natividade Pereira
Publicada no jornal Canção do Sul, em Agosto de 1940


Num país muito distante aconteceu
Este caso original que eu vou contar
E por ter simplicidade comoveu
A quem o fora dado observar.

Numa festa muito chique e caridosa
Feita em honra das antigas legações
Desfraldadas numa sala grandiosa
Estavam todas as bandeiras das nações

De repente entre a assistência houve alarido
Que deixou nesse salão tudo surpreso
Fora a causa daquele grande ruído
Alguém que tinha roubado e fora preso

Era um pobre muito velho e corcovado
Que trazendo junto ao peito o que roubou
Encoberto p’lo casaco remendado
A chorar entre a assistência assim falou

Vou rogar a todos vós: por caridade
Não me tirem, p’lo bom Deus, o que roubei
Pois que vivo torturado p’la saudade
Dessa Pátria que jamais esquecerei

Perdoai-me, pois, que nunca fui ladrão
Eis a causa dum momento de fraqueza
E mostrou bem apertada ao coração
Uma velhinha bandeira portuguesa

Quadras de amor

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se estas quadras foram gravadas.
Publico-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

No coração de quem ama
Há sempre uma chama a arder
Ai de quem apaga a chama
Sem a tornar a acender

Deixarmo-nos eu e tu? 
Talvez ‘inda custe mais
Que partir um ovo cru
 Em duas partes iguais

O amor é um passarinho 
Que às vezes se esconde tanto
Que chega a fazer o ninho 
Em qualquer baga de pranto

Se é pecado a gente andar 
Buscando alheios amores
Este mundo deve estar 
Cheiinho de pecadores

Fado do Burro Malhado

Popular / Pedro Rodrigues
Repertório de Zé Miguel


Certo dia que lá vai
Passeava o filho e o pai
Num prado cheio de flores
Viram um burro malhado
Com o “coiso” pendurado
A pensar nos seus amores

Pergunta o miúdo e bem
Olhe o que o burro ali tem 
O que é aquilo paizinho?
E o pai muito atrapalhado
A gaguejar e corado; 
É ele que é doentinho

Passou-se um mês e também
Ia o menino co’a mãe 
Deu-se a mesma situação
Lá estava o burro à maneira
Com aquela parvoeira 
Que inté batia no chão

Mãe, olhe aquele burrinho
Que está muito doentinho 
E a senhora até corou
Concerteza vai morrer
Ele já está a sofrer 
Foi o pai que me ensinou

Ora, ora, diz a mãe
Teu pai não regula bem 
Nem é lição que se desse
Pobre do meu Joaquim
Pois uma doença assim 
Queria eu que ele tivesse

Igreja de Santo Estevão

Gabriel de Oliveira / Armando Machado *fado maria rita*
Versão de Torre da Guia
Curiosíssima e cheia de imaginação esta abordagem do poeta 
António Torre da Guia a um dos fados  mais emblemáticos.

Junto ao cruzeiro do adro
Houve em tempos guitarradas
Na igreja de Santo Estevão
Aquele soberbo quadro
Dessas noites bem passadas
Não há pincéis que descrevam

Reunia a fadistagem
No adro da santa igreja 
Mal que batiam trindades
Da velha camaradagem
Que já não há quem a veja 
Fadistas, quantas saudades

Desse recanto de Alfama
Faz o milagre sagrado 
Santo Estevão, padroeiro
Esses fadistas de fama
Que sabem cantar o fado

Quem escreveu esta história
Foi Gabriel de Oliveira 
Com emoção tão bonita
Tema do Fado Vitória
Que eu canto à minha maneira 
No Fado Maria Rita

Uma voz na cidade

Mário Rainho / Paulo Jorge de Freitas
Repertório de Alice Pires


D'olhares indiferentes e palavras nuas
Sorrisos ausentes e
 gestos descrentes
Meninos das ruas
Com fome de amor, sede de carinho
Cruzam a cidade, a
ves sem idade
Buscando o ninho

E quando anoitece
E a noite arrefece 
Seus corpos franzinos
A troco de pão
Não dizem que não 
A negros destinos
E ás portas da noite
O vento em açoite
Quase por maldade
Eleva no ar 
Para os recordar
Uma voz na cidade


As vozes caladas num silêncio mudo
Coragens fechadas e almas cansadas 
Alheias de tudo
Não sei quantas luas choram por desculpa
Meninos das ruas de palavras nuas 
Por nossa culpa

Novo menino fado

José Fernandes Castro / Jorge Fontes *fado pensando em ti*
Repertório de José Fernandes Castro


No ventre da noite calma
Lindo filho foi gerado
E a inspiração da alma
Chamou-lhe menino fado

Chamou-lhe menino fado
P'ra lhe não chamar destino
Hoje adulto e tão amado
Deixou já de ser menino

Menino Fado
Verso cantado pelo amor
Sonho divino
Sol cristalino, cheio de cor
Menino Fado
Filho adorado do meu país
Meu bom amigo
Conto contigo p'ra ser feliz

Deixou já de ser menino
O tempo lhe deu idade
Por sentimento divino
Casou com dona saudade

Casou com dona saudade
Num casamento feliz
Tem por filha, a felicidade
Por filho, tem um país

Mataste o meu coração

Linhares Barbosa / João Maria dos Anjos
Repertório de Fernanda Maria


Mataste o meu coração
E vi-te d’olhar enxuto
Olhando a sua agonia
Como ciscos de carvão
Muito negros, não de luto
Sorriam mais nesse dia

Vi que faziam esforços 
Por se tornarem tristonhos
Fingindo falsos afetos
Era o peso dos remorsos 
Remorsos que são tristonhos
Se caem nuns olhos pretos

Meu coração lá ficou 
Sobre a lança do teu peito
Sepultura fria e escura
Nem um beijo acompanhou 
Meu coração, que foi feito
Para te amar com loucura

Se um dia te vir chorar 
Esta desgraça de agora
Amor por quem me perdi
A todos vou afirmar 
Que é meu coração que chora
Ainda dentro de ti

Paixão de mel

Letra e musica de José Fernandes Castro
Repertório do autor 

Apesar de tudo nosso amor foi louco
Foi amor a medo, mas amor sincero
Um amor assim sabe sempre a pouco
No próximo encontro ainda mais te quero

Quero que me queiras com mais desespero
Quero que me dês o amor que mereço
Beberei o sumo do amor que venero
Gritarei ao mundo este amor sem preço

Pedirei ao sol calor de magia
Roubarei ás flores a cor e o condão
Rogarei à vida mais um louco dia
P’ra beber contigo o mel da paixão

O quarto

Carminho / Alfredo Duarte *fado págem*
Repertório de Carminho


Neste quarto tão pequeno
Que eu pensava ser só meu
Infiltra-se um tal veneno
Que é a solidão e eu

Juntos não somos um todo
É sufocante o vazio
E eu já nem sei de que modo
Foi invadido p’lo frio

Agora já somos três
Mas esses não fazem um
Nem ao entrares, tu me vês
Este quarto é de nenhum

Coração que se partiu
Que está sem nada p’ra dar
É este quarto vazio
Onde nem lá cabe o ar

Alcântara

João de Freitas / Raúl Portela
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal em Junho de 1939


Ó meu bairro sonhador
Onde nasci e passei minha mocidade
Tens alegria e frescor
E eu nunca esquecerei tua suavidade

Bairro de casas velhinhas
E de ardentes namorados
Onde até as andorinhas
Fazem ninhos p’los telhados

Alcântara tem a faina das oficinas
E até faz bem 
Ver-se os gangas p’las esquinas
Bairro de operários 
Com seus amores e quezílias
Que vivem dos seus salários
Dando a vida p’las famílias


Bairro nobre, mas modesto
De raparigas singelas e de tradições
Onde o viver é honesto
E há almas leais e belas sem ruins paixões

Bairro que é todo um poema
De acolhimento cortês
E que tem por seu dilema
O trabalho, a honradez

A companhia do fado

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Comecei a cantar fado de menino
Com o fado passei a mocidade
Com o fado vivi o meu destino
Tenho o fado comigo na saudade


Costumavam pedir-me p’ra cantar
Quando eu era ainda pequenino
Às vezes com vontade de brincar
Comecei a cantar fado de menino

Cantei fado na minha juventude
Cantei-o com mentira e com verdade
Cantei-o ao pecado e à virtude
Com o fado passei a mocidade

Quando o fardo da vida me pesava
Não perdia a coragem nem o tino
Tinha o apoio do fado que cantava
Com o fado vivi o meu destino

Mas peço que de mim não tenham dó
Por ser um homem já de muita idade
Eu tenho companhia, não ’stou só
Tenho o fado comigo na saudade

Despedida

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Ó gente, que és tão benquista
De sentimento sagrado
Recebam desta fadista
Os cumprimentos do fado

Com pena vos vou deixar
Com pena me vou embora
Pois gostava de cantar
P’ra vocês a toda a hora

Vou sentir muitas saudades
Por isso, neste meu fado
Desejo-lhes felicidades
E a todos, muito obrigado

Almas unidas

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor, as nossas vidas
Não se devem afastar
Pois duas almas unidas
Ocupam menos lugar

Ao mundo pouco lhe rala 
O que há p’ra aí de pecado
Mas toda a gente me fala 
Na vida que tens levado

Portanto, tu, faz de conta 
Que entre nós não há intrigas
Tristezas de pouca monta 
Passam com duas cantigas

Andei no mundo esquecida 
Cantei uma vida inteira
Cada qual, cá nesta vida 
Chora da sua maneira

A fabricanta de meias

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


És mulher mas não me enleias
Com a tua perna nua
És fabricanta de meias
E andas sem meias na rua


Passas por mim a sorrir 
E eu, ao ver-te passar
Medito, fico a pensar 
Sem saber o que sentir
Tens graça no teu vestir 
Os homens tu não receias
Com um sorriso os rodeias 
E a tua graça singela
Porém, a mim, minha bela
És mulher mas não me enleias

Dotado de encantos mil 
O teu corpo escultural
faz lembrar um roseiral  
Em manhã primaveril
E o teu rosto juvenil 
Dá mais graça à graça tua
Tu és mais linda que a lua 
Manda a verdade dizer
Mas muito mais, podes crer
Com a tua perna nua

Os teus ares provocadores 
Fazem-te ser mais notada
E por isso és adulada 
P’los teus admiradores
Com teus modos sedutores 
Muitas paixões tu ateias
E os corações incendeias 
A quem de ti pensa mal
Julgam-te rica... afinal
És fabricanta de meias

Não compreendo a razão 
Que, sendo tu fabricanta
Vistas por forma que encanta 
Com tal luxo e presunção
Se lutas pelo teu pão 
Se o teu rosto também sua
A verdade é muito crua 
Mas tenho que te dizer
Fazes meias p’ra viver
E andas sem meias na rua

Cheguei tarde, mas cheguei

José Fernandes Castro / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Júlia Cancela

Cheguei tarde, mas a tempo
De mostrar meu sentimento
Ao som dum verso maior
No meu peito aberto ao fado
Bailam sonhos dum passado
Lembrando o primeiro amor

Cheguei tarde, infelizmente
Mas trago um fado diferente
Com rimas de felicidade
Trago também um desejo
Quente como um longo beijo 
E triste como a saudade

Agora sou como o vento
Que sopra a qualquer momento 
Impondo-se como lei
Sou porta voz do amor
Cantando seja onde for 
Cheguei tarde... mas cheguei

Rústico

Letra de João de Freitas
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal em Junho de 1939


Vou-lhes pintar o cenário
Duma terra portuguesa
Um jardim, um campanário
E mais distante, a devesa

Uma dúzia de casinhas 
Todas de branco caiadas
Em redor, as andorinhas 
Alegres, enamoradas

Ao cimo, uma velha ermida 
Dominando esse lugar
E que serve de guarida 
A todos que vão rezar

Em baixo, a pequena fonte 
De água pura, cristalina
Que nasce perto do monte 
E tem a graça divina

É a gente que lá mora 
Um pouco rude, mas sã
Que se vê p’los campos fora 
Assim que rompe a manhã

É como um sonho fagueiro 
Mas enorme na beleza
Este quadro verdadeiro 
Duma aldeia portuguesa

A parelha da saudade

Letra de Isidoro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vivendo um sonho acordada
Fugindo às desilusões
À triste realidade
Parto, levando atrelada
Ao trem das recordações
A parelha da saudade

Num trote cadenciado 
Mal pousam as ferraduras
Nessa estrada florida
A estrada do meu passado 
Que desgraças e loucuras
Tiraram da minha vida

Ouço guizeiras tocar 
Suaves como quem beija
Seus guizos feitos de esperança
Julgo ouvir o repicar 
Dos sinos da velha igreja
Nos meus tempos de criança

E nesta doce miragem 
Sem ódios e sem paixões
Eu encontro felicidade
Deixem-me seguir viagem 
Nas minhas recordações
Levada pela saudade

O fasificador

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ao tribunal, um dia, foi chamado
Um falsificador, p’ra responder
Mas, certo que seria condenado
Pensou maneira de não comparecer

Procurou um Doutor muito interesseiro
E um atestado médico requer
Dizendo: se a questão for o dinheiro
Posso pagar aquilo que quiser

O Doutor, seduzido p’la ambição
O atestado médico passou
Após o receber, de o ter na mão
O outro em notas falsas lhe pagou

O Doutor, pelas notas logo viu
Que estas eram falsas e protesta
Deveras zangado, ele exigiu
Outro dinheiro dizendo: este não presta

O falsificador, sem vacilar
Sorrindo p’ró Doutor replicou
As minhas notas falsas vão pagar
O atestado falso que passou

Meu amor vamos ao fado

José Fernandes Castro / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Júlia Cancela


Meu amor vamos ao fado
Cantar, ouvir e sonhar
Levo a nostalgia ao lado
P’ra quando o choro chegar

Levo poemas d’amor 
E o teu sangue nas veias
Levo o perfume da flor 
E o soluçar das sereias

Levo o mar que é meu amigo 
Levo o sol e levo a lua
Levo a saudade comigo 
Na minh’alma semi-nua

Levo estrelas p’ra te dar 
Levo um cravo perfumado
Não me faças esperar 
Meu amor, vamos ao fado

Cerejas

Mote de Augusto Gil / Glosa de Henrique Rego
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal, em Junho de 1938


Cerejas frescas, vermelhas
Pendentes pelos caminhos
São brincos para as orelhas
Das filhas dos pobrezinhos


São lindos os cerejais 
Nas madrugadas frescosas
Quando Maio, o mês das rosas 
Desabrocha nos rosais
Pelos campos os zagais 
Desenvoltos, qual abelhas
Deixam as mansas ovelhas 
Bebendo pelos ribeiros
Enquanto colhem, ligeiros
Cerejas frescas, vermelhas

Frutos de polpa macia 
Que me entontecem de amor
Por serem da rubra cor 
Desses teus lábios, Maria
Por isso, ao romper do dia 
Mal se oiça cantar os ninhos
Vamos como dois pombinhos 
Colhê-los, com devoção
Dos débeis ramos que estão
Pendentes pelos caminhos

Hás-de vibrar de ventura 
Quando tua boca ardente
Mordiscar suavemente 
Esses rubis de doçura
Depois, farás com ternura 
Já que aos anjos te assemelhas
Desses frutos às parelhas 
Pingentes inimitáveis
Que as cerejas adoráveis
São brincos para as orelhas

Brincos próprios da inocência 
Simples jóias de crianças
Maravilhosas heranças 
Deixadas p’la indigência
Sem mostrardes a fulgência 
Dos vis minérios daninhos
Vão p’ra vós os meus carinhos 
Cerejas dos meus anelos
Por serdes brincos singelos
Das filhas dos pobrezinhos

Granito sem idade

José Fernandes Castro / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Júlia Cancela

Cinzenta como o granito
Azul como o infinito
E branca como a pureza
Assim vejo esta cidade
Que apesar de longa idade
Cada vez tem mais beleza

Airosa formosa e bela
Brilhante como a estrela 
Que baila no universo
Esta cidade cinzenta
É a rima que sustenta 
Este poema disperso

Meu Porto, meu pioneiro
Meu herói, meu companheiro 
Rima que ao amor imponho
É por ti que sou poesia
E foi por ti que a magia 
Me trouxe ao mundo do sonho

Se o amor fosse pintor
Pintaria com primor 
Este meu Porto adorado
Berço da minha ternura
Tens contigo a tal doçura 
Que põe aromas no fado

Falso amor

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O nome, a honra e os bens
Tudo te dei, tudo é teu
O próprio amor que me tens
É o que sobra do meu


Na carta que recebi 
Sou tratado com desdéns
Pois, mulher, por ti perdi 
O nome, a honra e os bens

Teu falso amor, depravada 
Não me admira, morreu
Pois, se hoje não tenho nada 
Tudo te dei, tudo é teu

Sei que não é verdadeiro 
O que há tempo a jurar vens
Pois eu comprei por dinheiro 
O próprio amor que me tens

‘Inda te hás-de arrepender 
Não seres franca como eu
E o amor que dizes ter 
É o que sobra do meu

Palavras

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de Júlia Cancela


Palavras valem só pelo que são
Não podem ser motivo de censura
P’la boca, sai a voz do coração
P’la alma, sai o sumo da ternura

Palavras são o sopro da vontade
E dão real valor ao que é perfeito
Quando trazem maior sinceridade
Merecem ser ouvidas com respeito

Palavras simbolizam pensamentos
E geram melodias sonhadoras
Simbolizam também, os tais momentos
Que não se dá, pelo passar das horas

Palavras são o fruto do desejo
Quando o desejo é fruto da vontade
Mais valor que as palavras, só um beijo
Que sirva p’ra medir a felicidade

Meu sentido

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Pressinto-me no caminho
Feito amor na voz do povo
Pois descobri-me sozinho
E meu chão é campo novo

Meu pensamento no mar 
Meu corpo rio à nascente
Aventura por acabar
Meus olhos de tanta gente

O vento não vem mentir 
Aos meus amores escondidos
Nem o medo há-de vir 
Derrubar os meus sentidos

Povo de sangue mais puro 
Meu caminho de alegria
Raio de sol sobre o muro 
Levantado ao fim do dia;
Na cidade em que perduro
Coração que em ti havia

Solidão de beijos

José Fernandes Castro / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Júlia Cancela

Na marcha real da vida
Não há certezas futuras
Na hora da despedida
A coragem da partida
Tem o sal das desventuras

Na marcha real do tempo 
Não há destinos iguais
A dor que gera tormento
Põe no nosso pensamento 
A força dos vendavais

Na marcha do amor perfeito 
O tempo não tem idade
Na solidez do meu peito
Há sopros que não rejeito 
Porque me dão felicidade

Na marcha do amor veloz 
São enormes os desejos
Amando, tal como nós
Os sonhos não estarão sós 
Nesta solidão de beijos

Com três pregos e uma cruz

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Com três pregos e uma cruz
E um pouco de coração
Fez Jesus Cristo no mundo
A maior revolução


A morte, em vida tornou 
E das trevas fez a luz
Que obra sublime criou 
Com três pregos e uma cruz

Trouxe a nós a felicidade 
Da suprema redenção
Em troca de fé, verdade 
E um pouco de coração

Que milagre pode haver 
Que milagre mais profundo
Do que aquele que ao morrer 
Fez Jesus Cristo no mundo?

Num mundo, cruel cenário 
De guerra e destruição
Ele fez do seu calvário 
A maior revolução

É aqui na Mouraria

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Do arquivo de Francisco Mendes


Olha lá: p’ra que te escondes?
Tu não ouves? não respondes?
Porque vais tão embuçado?
É aqui a Mouraria
Onde o Conde de Anadia
Muita vez cantou o fado

Tu vieste de samarra?
Tu trouxeste uma guitarra? 
Se é assim, pelo que esperas?
Tipóias, aqui, não há 
Também não encontras cá
Nem fadistas, nem severas

Vês a Moirama? coitada
Foi aberta e devassada 
No mais sombrio recanto
Já ninguém a toma a sério
Perdeu o ar de mistério 
Que era todo o seu encanto

O Fado, um velho pimpão
Pai duma linda canção 
Não sei porquê, foi-se embora
Eu não sei se foi por teima
Por capricho ou por toleima 
Sei é que já cá não mora

Se o vires práí galante
Feito senhor arrogante
A falar em fidalguia
Diz-lhe que tenha cuidado
Porque há-de ser sempre fado
E filho da Mouraria

Corre a tinta

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Corre a tinta atrás da pena
Dum poeta sonhador
Ao desenrolar a cena
Duma tragédia de amor


Tudo corre, nesta vida 
Sem um momento parar
Os rios correm para o mar 
P’ra lá morrer de seguida
E nessa veloz corrida 
Quanta ilusão nos acena
Não a ganhar, faz-nos pena 
Perdê-la, ninguém o quer
Corre o homem prá mulher
Corre a tinta atrás da pena

A quem corre por prazer 
Correr por gosto não cansa
Corre-se atrás duma esperança 
Ou duma coisa qualquer
E depois, quando Deus quer 
Nos dá força e dá vigor
Corre-se atrás de um amor 
Ou de uma desilusão
Tal como a inspiração
Dum poeta sonhador

Só é feliz quem atina 
Nessa corrida veloz
Pobre de qualquer de nós 
Se o seu passo desafina
Quando a corrida termina 
Não há ninguém que nos tema
E a pessoa mais serena 
Sabe que vai sucumbir
Mas já não pode fugir
Ao desenrolar da cena

Há contrastes sem razões 
Na corrida, quem diria
P’ra uns, é tudo alegria 
P’ra outros, desilusões
E pobres dos corações 
Que vão perdendo o calor
E já não têm vigor 
P’ra uma corrida normal
Lembram o ato final
Duma tragédia de amor

Fiz dum jornal uma bola

Letra de Linhares Barbosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Fiz dum jornal uma bola
E atirei-a a um 4º andar
Duma bela que se chama
Conceição e que é de Ovar

Diz-me ela, vindo à janela
Entrançando as tranças suas
Não me atires c'o Notícias
Mas sim com notícias tuas

Fiquem sabendo senhores
Que os rapazes dos jornais
Também possuem amores
São rapazes como os mais

Letra publicada no jornal “Guitarra de Portugal” em Junho de 1927
com indicação de que as quadras a seguir transcritas foram cantadas 
por Joaquim Campos e Júlio Proença,  num espetáculo levado a efeito 
no Coliseu dos Recreios, promovido pelo “Diário de Notícias”
em benefício da Caixa de Previdência dos Vendedores de Jornais.

Mulher

Poema de José Carlos Ary dos Santos
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


A mulher não é só casa
Mulher-loiça, mulher-cama
Ela é também mulher-asa
Mulher-força, mulher-chama

E é preciso dizer
Dessa antiga condição
A mulher soube trazer 
A cabeça e o coração

Trouxe a fábrica ao seu lar 
E ordenado à cozinha
E impôs a trabalhar 
A razão que sempre tinha

Trabalho não só de parto 
Mas também de construção
Para um filho crescer farto 
Para um filho crescer são

A posse vai-se acabar 
No tempo da liberdade
O que importa é saber estar 
Juntos em pé de igualdade

Desde que as coisas se tornem 
Naquilo que a gente quer
É igual dizer meu homem 
Ou dizer "minha mulher"

Penas

Linhares Barbosa / Popular *fado menor
Repertório de Fernanda Maria

Há nomes que são apenas
Termos errados, mesquinhos
Não devemos chamar penas
Às penas dos passarinhos

Penas, são as penas minhas 
Essas com que me envenenas
Às penas das andorinhas 
Não devemos chamar penas

Das grandes às mais pequenas 
As delas ficam-lhes bem
Ai de mim se tenho pena 
Ai delas quando as não têm

As delas são p'ra voar 
Em liberdade viver
As minhas são de matar 
As minhas são de morrer


LETRA ORIGINAL
transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Há nomes que são apenas
Termos errados, mesquinhos
Não se deve chamar penas
Às penas dos passarinhos

Penas são as penas minhas 
Essas com que me condenas
Às penas das andorinhas 
Não devemos chamar penas

Como fiozinhos de seda
As penas das aves são
As minhas são labaredas 
E queimam meu coração

As delas são para voar 
Em liberdade viver
As minhas são de matar 
As minhas são de morrer

Teu corpo em mim perdido

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Teu corpo em mim perdido
Em jeito de confissão
Teu corpo por mim despido
Por mim beijado e sofrido
Foi meu sol e meu perdão

Os lobos uivaram cedo 
Na orla do pinheiral
Teu corpo gelado e quedo 
Foi a raiva do segredo
Dos amores em Portugal

No frio do fim do dia 
A morte soube-me a vinho
E a virgindade que havia 
No teu corpo de alegria
Foi meu sol e meu caminho

Minha guitarra

Letra de João de Freitas
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Outubro de 1940

Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


As cantadeiras de outrora
Deixaram-me, por legado
Uma guitarra que chora
Comigo, se eu canto o fado

Seus acordes doloridos 
Entram na alma da gente
E até parecem gemidos 
Dum peito que sofre e sente

Acompanhou a Severa 
Júlia Mendes e Vitória
Cantadeiras doutra era 
Que deram ao fado a glória

Ela possui o condão 
Trinando com sentimento
De falar-me ao coração 
Em doce acompanhamento

Por isso eu lhe quero tanto 
Por ser velhinha e tão bela
E se chora quando canta 
Eu também choro com ela

O Chico do Cais Sodré

Letra de Artur Soares Pereira
Criação de Rogério Fernandes
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

O Chico do Cais Sodré
Era um rufia afamado
Foi nadar fora de pé
Estava a puxar a maré
Ia morrendo afogado

Teve sorte porque a Micas 
Quando o viu a esbracejar
Correu a chamar o Licas
Um tipo que era maricas 
E o conseguiu salvar

Salvo dessa aflição 
O Chico disse p’rá Micas
Mas que triste situação
Eu que sou um valentão 
Fui salvo por um maricas

E voltou-se a lamentar 
À Micas, mais uma vez
Eu tenho estado a pensar
Como é que lhe vou pagar 
O favor que ele me fez?

Logo a Micas, sem se opor 
Ao Chico responde assim
O Licas fez-te um favor
Podes pagar, meu amor 
Como me pagas a mim

Sonho de amor

Linhares Barbosa / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Fernando Farinha
Este tema (com ligeiras alterações na letra) também foi gravado 
por Manuel de Almeida na música do Fado Pedro Rodrigues 
com o título *Omnipotência* .

Fosse a lua toda minha
Só minha propriedade
Buscá-la iria às alturas
Para ta dar inteirinha
Embora que a humanidade
Ficasse toda às escuras

Se num rápido segundo
O sol fosse apenas meu 
Eu dava-te o sol também
Arrefeceria o mundo
Mas o sol seria teu 
Só teu e de mais ninguém

As estrelas, todas elas
Aquelas que vês brilhar 
Se fosse Deus, quero e posso
Iria arrancar estrelas
Delas fazia um colar 
Para te pôr ao pescoço

Se após isto, francamente
Depois de tanta grandeza 
Me não quisesses por fim
Transformava-te em serpente
Porque assim tinha a certeza 
Que te enleavas em mim