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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.330' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

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Meu amor

Letra e música de Telmo Pires
Repertório do autor


Se juntarmos todas as cores da cidade
O amarelo, o azul do Tejo sem idade
O cinzento desta noite e o encarnado
Vai tudo dar ao triste negro do meu fado

Vou andando pelas ruas tão queridas
Bem sabendo que tantas delas são proibidas
O cinzento desta noite pesa tanto
E eu sem saber p’ra onde ir neste meu pranto

Meu amor se eu não estou a teu lado
Sou um qualquer tom num qualquer fado
Corro a noite inteira só p’ra estar aqui


De repente, já cansado de tanto andar
À procura do teu olhar p’ra me deitar
Nascido dum poema que está à venda
Meu coração lá vai
Não há ninguém que o prenda

O sonho de João Moura

César Marinho / Vitor Rodrigues / Jaime Santos
Repertório de Manuel da Câmara *Fado Marialva*


A sonhar com as toiradas
Saltou do berço e montou
Como num conto de fadas
João Moura toureou

O sonho fez-se façanha
P’lo menino de Monforte
Venceu nas praças de Espanha
Desde o sul até ao norte

Os triunfos consagraram
Um toureiro genial
E com mestria honraram
O nome de Portugal

O Belmonte foi brilhante
O Sandokam, colossal
Majestoso o Importante
O Farrolho é imortal

E as mãos que embalaram
O seu berço tão ditoso
Foram as mãos que fadaram
Um João Moura famoso

Sou a chuva

Rodrigo Serrão / Pedro Pinhal
Repertório de Maja


Quando a chuva cai de mansinho
E ao ouvido diz, a cantar
Que a saudade de estar contigo
É uma vela sempre a brilhar

Que me leva de encontro ao sonho
Embalada p’la solidão
Sou a chiuva no seu caminho
E ele é pena na minha mão

Alma ausente, sorriso vago
Sou a chuva no seu cantar
Melodia do meu embalo
É a dele sempre a chorar
Pelos teus olhos abrigo manso
Onde acalmo o meu coração
Mas agora sem teu regaço
Só há chuva na minha mão

Quando a chuva cai de mansinho
E ao meu peito diz, a cantar
Cada encontro no caminho
É um desejo de te abraçar

Fomos sonho prometido
Um poema, uma canção
Agora só a chuva canta
É uma lágrima na minha mão

No sonho de passar além do sonho

Artur Ribeiro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Trio Odemira


No sonho de passar além do sonho
Transformei-me de tudo o que fui antes
Mas transformar alguém é tão medonho
Como o juntar de notas dissonantes

No sonho de passar além de tudo
Quis ver-me nos espelhos atuais
Mas vi-me tão disforme e absurdo
E a mim mesmo jurei não ver-me mais

Que cada se vista de outros fatos
Eu prefiro seguir dias após dia
Poeta por instinto, dos baratos
Poeta que não sabe como cria

Quase

Fernando Rodrigues / Raúl Ferrão *fado carriche
Repertório de Luís Manhita


Hoje minh’alma adormece
Sem dizer mais que um sofrer
Meu coração enlouquece
Sem nunca te responder

Ao acordar sempre sonha
Do teu olhar, um pouquinho
E espera um dia, quem sabe
Ouvir-te suspirar baixinho

Musa que em coração tocaste
Sem pedir licença sequer
Deixaste meu ser à tua porta
Meu Outono, fado, viver

Nem todo o oiro da terra

Artur Ribeiro / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Trio Odemira


Eu dou, em troca de nada
Estes anseios dispersos
A que o mundo chama veia
Pois acho uma coisa errada
A gente vender os versos
Que Deus nos pôs na ideia

Se Deus pôs por sua mão
O que a minha mente encerra 
Me dá a rima e o tema
Não vendo, faço questão
Pois não oiro da terra 
Que valha qualquer poema

Por isso dou a quem canta
Este cantar magoado 
Que Deus me deu quando vim
Dou a quem quer tiver garganta
E saiba cantar o fado 
E queira cantar por mim

A cor da alegria

João Veiga / José Lopes *fado lopes
Repertório de Salvador Taborda

Nunca pensei na vida
Vir um dia a encontrar
A minha vida escondida
Dentro do teu olhar

Teus olhos têm a cor 
A cor da minha alegria
São o meu sonho maior 
São a luz que me alumia

Eu que tanto procurei 
Por esta minha vida
Afinal encontrei-a 
Nos teus olhos escondida

O teu olhar é o sol 
Que aquece a noite calma
São de noite o meu farol 
Que ilumina a minha alma

Quando eu era pecador

Artur Ribeiro / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Trio Odemira


Eu, de joelhos roguei
A Deus, que puzesse fim
Aos pecados degradantes
Deus ouviu-me e eu mudei
Mas gostava mais de mim
Pecador como era dantes

Em cada paixão traída
No meu ir de mão em mão 
Bebendo p’la noite fora
Eu perdi anos de vida
Mas sentia o coração 
Coisa que não sinto agora

Agora não sei se vivo
No eterno *tanto faz*
 De quem vive sem amor
Lamento não ter motivo
P’ra voltar tempos atrás 
Quando era pecador

A minha noiva tristeza

Inês Filipa Rebelo do Carmo / Arménio de Melo
Repertório de Luís Caeiro

A tristeza casou comigo
Ao ver-me sofrer um dia
Por mais que lute não consigo
Transformá-la em alegria

Conheci-a num inverno 
Com chuva, com vento e frio
Um vendaval do inferno 
Com luta insana no rio

Bateu-me à porta a chorar 
Com uma rosa na mão
Talvez para me animar 
Ou vender-me uma ilusão

Mas a rosa perfumada 
Que ela me trouxera à porta
Estava tão triste, a coitada 
Quando o beijei estava morta

E eu mais triste do que sou 
Fiquei naquele desgosto
E uma lágrima deslizou 
Pela tristeza do meu rosto

E hoje vivo com a tristeza 
Pois sou casado com ela
E vejo nela beleza 
Que a vida triste é mais bela

Roleta do destino

Artur Ribeiro / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Trio Odemira


Há duas coisas que a vida
Não me consegue roubar
Esta tristeza incontida
E a morte, quando chegar

Como a provocar a sorte
Que traz consigo ao nascer
O homem tem medo à morte
E tudo faz p’ra morrer

Desde o princípio do homem
Até ao homem presente
Que gerações se consomem
Para destruír a gente

No jogo da nossa vida
A vida, por mais que queira
Nunca levou de vencida
A sua velha parceira

Deus criou essa partida
Onde não impera a sorte
E por algo, deu à vida
Menos trunfos do que à morte

Aqui tão perto de ti

Letra e música de Múcio de Sá
Repertório de Liliana Martins


Perdida nas janelas da alma
Olho as cidades sem tempo
Cenários de vidas imaginadas
Distante de trabalho intenso;
Mundos no tempo imaginado, só eu sei
Perdidos à entrada do labirinto

No meio da vastidão a poesia
De um dia a mais a viver
Janelas da alma, sol do meio-dia
Riquezas de quem não tem o que fazer;
Cenários de vidas imaginadas
Frestas de luz ao amanhecer

E se o amor bate as asas e voa sobre nós
Eu vou ser feliz, hoje, amanhã e depois
E se o amor bate as asas e voa sobre nós
Eu vou ser feliz aqui tão perto de ti

Não mais saber de mim

Artur Ribeiro / Santos Moreira *fado moreninha*
Repertório de Trio Odemira


Quando o meu coração quiser parar
Então é tempo de ficar dormindo
Então é tempo de ficar, ficar
No jeito de não ter acontecido

É tempo de fugir, fugir enfim
Ao inferno que trago p’ra castigo
É tempo de não mais saber de mim
Ou talvez de ficar por fim, comigo

Quando o meu coração quiser findar
Com este meu morrer assim, aos poucos
Que me dê tempo só para queimar
Que a ninguém deixo os meus poemas loucos

Amor, anda ver

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Nuno da Câmara Pereira


Vamos acordar amanhã cedinho
Beber devagar nas fontes do ar
Como fôra vinho
Os dois, estrada fora como se num só
Sem espaço nem hora e sem demora
Qual réstia de pó

Amor anda ver o sol a nascer 
Sobre o horizonte
Amor anda ver a água a correr 
Debaixo da ponte
Dar-te-ei a flor da mais linda cor 
Que por lá houver
E o sol como em sonho vestirá risonho 
A flor que prefere

Tu vais de certeza ficar seduzida
Com a natureza de sol à cabeça
Respirando vida
E no trono forte da árvore mais alta
Gravados em corte os nomes que à sorte
Nosso nome exalta

Tradição

Letra e música de Miguel Araújo
Repertório de Raquel Tavares


Rosa, roda a saia
O vento muda, empurra a moda
Nem que a Rosa caia
Nada nunca pára a roda

Vai Rosa cobaia, arredonda-a bem
Que essa tua saia já foi da tua mãe
Já a mãe dela girava essa saia a tempo
Contra o vento, contra o tempo
Que faz girar o mundo
Nem que em plena roda a a rosa caia

Vem Maria, canta
Aos teus amores as dores de outrora
Canta em agonia
Outra que não é de agora

Vai roda gigante, faz girar o mundo
Que a pedra que anda à roda
E contraria aquela pedra que parou
No peito de qualquer Maria
E a Rosa no seu posto ainda rodopia
E vai rodando a saia até qualquer dia

É melhor assim

António Rocha / Franklim Godinho *4as*
Repertório de Pedro Galveias


Foi bom enquanto durou
A paixão que houve em nós
Mas a paixão acabou
Hoje estamos melhor sós


Não foi amor de raíz 
A força que nos juntou
Por isso, como se diz 
Foi bom enquanto durou

Vivemos uma aventura 
Que se tornou um algoz
Pois foi sol de pouca dura 
A paixão que houve em nós

Foi triste a realidade 
Que o destino nos traçou
Sonhamos felicidade 
Mas a paixão acabou

Pode ficar a amizade 
Pesando contras e prós
Eu acho que na verdade 
Hoje estamos melhor sós

Rendas pretas

Fernando Tavares Rodrigues / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto


O que sinto por ti são rendas pretas
Recordações vagas, indiscretas
De um corpo que conheci
O que sinto por ti são rendas pretas
Volúpias de cetim, sedas secretas
Que tu despias para mim

Pedaços de fantasia 
Que vestias para estar nua
Restos de noite que a lua 
Na tua pele descobria

O que sinto por ti são rendas pretas
Essas rendas incompletas 
Que nos dedos descobri
Quando ao ver-te assim despida
Toda de negro vestida 
Me dei e te possuí

Dessas noturnas intrigas 
Que me calaram de espanto
Das meias finas, das ligas 
Das rendas que te ofereci;

Lembro ainda o doce encanto 
Das rendas pretas em ti
Do corpo que me ofereceste 
Quando entre as rendas te deste
E entre rendas me rendi
Tão transparentes macias 
As rendas que tu vestias
Hoje tão tristes, sem ti

Vai mais um dia

Pinto Jorge / Paulo de Carvalho
Repertório de Luísa Basto


Às seis o salto da cama 
E o puto a resmungar
São dez minutos prá mama 
E a bucha por arrumar
Sai tudo à rua na guita
Vai tudo a andar na ganga
No barco há um que arma fita
na volta ninguém se zanga

Um jeitinho no transporte 
E o puto fica na ama
Só nos faltava esta sorte
O metro ainda nos trama
Um beijo dado apressado
Adeus ao virar da esquina
Num fato mais que coçado
A mulher ‘inda menina

Vai mais um dia de trabalho
Em qualquer lado
Vai mais um dia de trabalho
Pelo pão
Mas qualquer dia no trabalho
Ao nosso lado
Há-de ser dia de acabar
O dia não
Sabemos que ainda um dia
Hão-de ver quem tem razão


Lá vão quinhentos pró passe 
Das viagens que fazemos
E não há ninguém que cace 
As paragens que perdemos
O puto vem a tossir 
Das friagens que apanhou
A mulher vai a dormir 
P’las vezes que hoje acordou

À volta é gente da volta 
Do trabalho que fizemos
E pensar que andam à solta 
Os males de que sofremos
Vai mais um dia passado
Se é que esse dia passou
Talvez eu ande enganada
O dia não acabou

Canto das descobertas

Michel Legrand / Marilyn Bergman / Alan Bergman
Versão de Mário Martins
Repertório de José da Câmara


Hoje, os sorrisos da cidade 
Trazem sol ao meu olhar
São as notas deste fado 
No meu tempo de o cantar
Há a história que se conta 
Dum povo à beira do mar
E dum sonho muito antigo 
E de vozes para o cantar;

Vozes fortes de muralha
Vozes molhadas de pranto
E vozes de praça forte 
P’ra defender nosso canto

Vozes que tinham na voz 
Mistérios a desvendar
E do tributo que nós 
Tão longe fomos pagar
Tantas vezes, tantas vezes 
A conceder-nos foral
Por fabuelas proezas 
Das gentes de Portugal;

Vozes claras, transparentes 
Como cristais de firmeza
Vozes gostosas do pão 
Que come connosco à mesa

Vozes de tanta ternura 
E tamanha dimensão
Com a medida do mundo 
Em dois palmos de canção
São as vozes de além Tejo
São as vozes de além dor
No coral da Epopeia 
Que dobrou o Bojador

São vozes de coro grego 
Vestido à moda do Minho
Vozes de nau viageira 
Que tem garganta de pinho
Tantas vezes, tantas vezes
De grandeza universal
Deste sonho desmedido 
Dum país no plural

Restos de nada

Maria Luísa Batista / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertótio de António Vasco Moraes


Ficou no calor da cama
Acesa como uma chama
A lembrança dos sentidos
Ficou o cheiro e o sabor
Daquela noite de amor
Nos nossos corpos doridos

Ficou paixão e carinho 
Dentro dos lençóis de linho
Revoltos, amarrotados
E num canto de memória 
Só eu guardo dessa história
Os sentimentos rasgados

Os lençóis ficaram frios 
Os sentimentos vazios
Afinal o que sobrou?
O amor envelheceu 
A paixão arrefeceu
Do nada nada restou

Não guardo rancor nem mágoa 
Sou como a corrente d’água
Que procura o mar salgado
Porque é de sal o meu pranto 
Porque é de paz o seu manto
Não lhe interessa o meu passado

Cantigas

Maria Manuel Cid / Popular
Repertório de António Vasco de Moraes


Não vejo, não vejo
Não vejo ninguém
Que tenha mais medo 
Que tem o meu bem
De contar segredos
Segredos contar
E tornar azedos 
Os beijos roubados

Tu ficas airosa se pões o teu lenço
É da cor da rosa e cheira a incenso
Não vejo, não vejo, não vejo ninguém
Que tenha mais medo que tem o meu bem

Não pintes a boca da cor do carmim
A nódoa da amora é coisa ruim
Se me dás um beijo assim a marcá-los
Quem tiver desejos já pode contá-los

Não vejo, não vejo
Não vejo ninguém
Que tenha mais medo 
Que tem o meu bem

Oh minha Rosinha eu hei-de te amar
De dia ao sol, de noite ao luar
De noite ao luar, de noite ao luar
Oh minha Rosinha eu hei-de te amar

Vê lá meu bem

Letra e música de Marcelo Camelo
Repertório de Maja


Vê lá bem meu bem, sinto te informar
Que arranjei alguém p’ra me confortar
Este alguém está quando tu sais
E eu só posso crer pois sem te ter
Nestes braços tais

Vê lá bem, amor, só te quero ver
Somos no papel mas não no viver
Viajares sem mim, me deixares assim
Tive que arranjar alguém p’ra passar
Os dias ruins 

Enquanto isso,
Navegando eu vou sem paz
Sem ter um porto, quase morta
Sem um cais
E eu nunca vou esquecer-te, amor
Mas a solidão 
Deixa o coração neste leva e traz

Vê lá bem, além destes factos vis
Sabes que as traições são bem mais subtis
Se eu te troquei não foi por maldade
Vê lá meu bem, arranjei alguém
Chamado *saudade*

Cantar perfeito

João Dias / Armando Macado *fado licas*
Repertório de Maria Armanda


Perfeita é a palavra quando verso
E a graça de cantar é já entrega
A malha em que se tece o universo
É força que nenhuma força nega

Perfeita é a razão de ser poeta
Amar a flor nascida em qualquer chão
Andar de corpo inteiro, alma liberta
Estender a mão aberta a qualquer mão

Perfeito é o lugar aonde estás
Tecendo o linho verde duma esperança
Perfeita é qualquer voz cantando paz
Perfeito é qualquer gesto de criança

Perfeito é o perfil do seio fecundo
Da mãe ganhando o filho de seu ventre
Perfeito movimento é o do mundo
A repartir o sol por toda a gente

Fado século XXI

*A vida é um milagre*
Letra e música de Edgar Nogueira
Repertório de Catarina Rosa


A vida é um milagre 
Amor é fogo que arde
Diz Virgílio, diz Camões
Não fôra Cristo a verdade
Que há-de cá voltar, pois há-de
Só havia interrogações

Porque amo a vida logo
A mim própria me interrogo
O que é o homem no tempo
Vela que acende com modo
Luz que se apaga mal acordo
Tão breve como um lamento

Na vida individual
O homem é temporal
E por isso me lamento
Sou uno sem ter igual
Mesmo assim, para meu mal
Só juntos temos assento

Eu gosto imenso da vida
Não gosto é da intriga
Amo somente a verdade
Uma estrela minha amiga
Deu-me luz bem definida
Pois a vida é um milagre

Marinheiro americano

Amadeu dos Santos / Sebastião Ferreira / Fernando dos Santos
Manuel Carvalho Jnr / Frederico Valério
Repertório de Hermínia Silva

Mim ter ouvido fada e não saber
Cantada por Alfreda Marceneira
Mas não perceber nada do que era
E só ter apanhado bebedeira

Alfredo ter cantado o Bacalhau
E tudo ter na boca posto um rolha
Mas mim fazer barulho no cançau
E levar um camóne aqui no ôlha

Ó fada yes allrigth
Lady Maria Aliça
Ter cantado quatro fadas… chatiça
Ó fada yes allrigth
Mister Cascais Manuel
No guitara, Armandinha, very well
Mim gostar muito de ouvir guitarradas
E ouvir cantigas desgraciadas
Ó fada yes allrigth
Mister Alberto Costa
No corrida choradinha… mim gosta


Lembro do bom Fialha ter cantada
O cantiga no fado corridinha
Todo o gente a chorar, ficar magoada
Mas mim, beber cerveja, beber vinha

Mim chamar o criada por ter sede
E logo um fadista dar chapada
Por não ter visto escrito no parede
Sailance… que se vai cantar o fada

João Cortes

Vitor Rodrigues / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Manuel da Câmara


Aquele rosto moreno
Onde sorri o passado
Sereno sem ser pequeno
Enorme por ser forcado

Enfrentou p’rigos e mortes 
Aos consagrados pertence
De seu nome João Cortes 
Um ilustre Estremocence

Na festa, triunfador 
Onde colheu faustos loiros
Distinto seu pundonor 
Destemido a pegar toiros

Por razões de gratidão 
Seu nome será lembrando
O Cortes é a lição 
Do culto do bom forcado

No simbolismo imponente 
Perdura ainda o valor
Do cabo nobre e valente 
Que sempre honrou Montemor

Canção de amor

Fernando Tavares Rodrigues
Repertório de António Pinto Basto


Amo-te muito
Como se já te amasse assim há muito
Amo-te tanto
Como se fosse apenas por enquanto
Amo-te como quem partiu
Sabendo, ao partir, que já chegou
Amo-te como amo aquilo que te dou

Amo-te como um vinho antigo
Um mosto doce
Amo-te como a Primavera 
Que te trouxe
Quero-te como se te amasse 
Por encanto
Só sei amar-te assim 
Como se fosse a mim

E quero amar-te
E quero dar-me sempre a ti 
Constantemente
A um tempo só
O futuro e o passado no presente
E a ternura, esse fogo
Que acendemos mão na mão
Seja sempre amor 
Sem deixar de ser paixão

Deixa aquela rua

José Nunes Pereira / Augusto Pinho
Repertório de João Pedro


Porque é que te ris com tanta vaidade
Se não é feliz, quem diz a verdade

Esconde que eu vejo a tua alegria
Aquele desejo que sonhaste um dia

Deixa aquela rua onde ergui a fé
Que foi minha e tua, agora não é
Fechou-se a janela da minha paixão
Vê lá, tem cautela, não a acordes não


Tu podes passar, passar não importa
Tens de respeitar esta paixão morta

Outra hora vivida não soubeste amar
Agora esquecida, não deve acordar

Segue o teu rumo

Ricardo Reis / Sueli Costa
Repertório de Carolina


Segue o teu destino
Rega as tuas plantas, ama as tuas rosas
O resto é sombra de árvores alheias

A realidade
Sempre é mais ou menos do que nós queremos
Só nós somos sempre iguais a nós próprios

Suave é viver só
Grande e nobre é sempre viver simplesmente
Deixa a dor nas aras como ex-voto aos deuses
Vê de longe a vida, nunca a interrogues
A resposta está além dos deuses

Mas serenamente imita o Olimpo
No teu coração
Os deuses são deuses porque não se pensam
Porque não se pensam

Creio amigo

Maria Manuel Cid / António Mourão
Repertório de António Mourão
Este poema foi também gravado por Carlos Timóteo 
com música de Custódio Castelo 

A vida é destino aberto
Duma lonjura tamanha
Quem percorrer o deserto
Tem abrigo na montanha

Só fica pelo caminho
Quem o caminho temeu
Só p’ra voarmos do ninho
Nas asas que Deus nos deu

Creio amigo que o silêncio é morte
Crei0 amigo que a vontade é lei
Creio amigo que daria a sorte
E no sonho nada encontrei


Vem daí, anda comigo
Não sei bem aonde vou
Se há coisas que te não digo
É que ninguém me ensinou

Vem comigo à descoberta
A vida é porta cerrada
Minha mão estende-se aberta
Sempre que tombes na estrada

Louca paixão

Maria Estela / Alfredo Correeiro
Repertório de Fernanda Maria


Roubei à vida um bocado
Para viver a teu lado
Fechada nos braços teus
Num momento de loucura
Roubei a febre e ternura
Que não podiam ser meus

Tivemos iguais desejos
Trocamos beijos por beijos 
Vivemos um só amor
Horas roubadas à vida
Qual ventura proibida 
Talvez por isso a melhor

Roubei mas fui condenada
Hoje expio encarcerada 
Culpa que foi tua e minha
Só louca, a minha paixão
Ficou no teu coração 
Aonde eu coube inteirinha

Não quero mais fado

Eugénio Pepe / Aníbal Nazaré
Repertório de José da Câmara

Naquela tasca afamada
Depois de ouvir fado a esmo
Sempre na mesma toada
E onde o motivo era o mesmo

Ouvi alguém que pedia
Como quem pede ao balcão
Mas com certa galhardia
E carradas de razão

Por favor, tragam-me um fado
Que não fale das esperas
Que não viva do passado
Nem à sombra das Severas
Não fale nas tascas mais rascas que havia
Nos becos de Alfama e da Mouraria
Não lembre toureiros, campinos, forcados
Se trazem só disso, não quero mais fados


Ouviu-se uma desgarrada
Coisa que é pouco fadista
Tudo a falar em bairrista
Um fado triste e mais nada

E ao recordar a cantiga
Que ao fado tudo se canta
Pedi à maneira antiga
Sem trinados na garganta

Onde Deus me possa ouvir

Letra e música de Vander Lee
Repertório de Cristina Maria


Sabe o que eu queria agora, meu bem?
Saír, chegar lá fora e encontrar alguém
Que não me dissesse nada
Não me perguntasse nada também
Que me oferecesse um colo ou um ombro
Onde eu desaguasse todo o desengano
Mas a vida anda louca
As pessoas andam tristes
Meus amigos são amigos de ninguém

Meu amor
Deixa eu chorar até me cansar
Me leve p’ra qualquer lugar
Onde Deus possa me ouvir
Minha dor
Eu não consigo compreender
Eu quero algo p’ra beber
Deixa-me aqui, pode saír


Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior
Entender porque se agridem
Se empurram pró abismo
Se debatem, se combatem sem saber

Fado do trapo

Pinto Jorge / João Fernando
Repertório de Luísa Basto

Já catou
Os caixotes da cidade sem achar
Os arredores da vida já buscou
Nas ruas desta idade, um só lar
Uma cama esquecida

No latão do lixo que deixámos 
No papel
Que deitámos à rua
Está o pão que nós já desprezamos
Está o fel
Da sopa que faz sua

Não toquem naquilo que é do Chico
Ninguém quer papel ou trapo
Ai mal de quem quer ficar mais rico
Por ter um caixote e um farrapo


Quem lhe dera
Ter um caixote cheio, mais cartão
Sem entrada na Mitra, ele espera
Poder achar um meio, um portão
Que vá dando guarida

Esta terra
Que vai sendo pesada, esta hora
Já lhe custou a passar, está na guerra
Desta coisa danada, já demora
A vez de descansar

Aicha Conticha

Manuel Alegre / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de João Braga


A armada deixa Arzíla sobre as naus
Brilham uma última vez 
As armas portuguesas
Quando os moiros chegarem, verão apenas
Uma mulher de negro pelas ruas
Não resta mais de Portugal, só esse luto
Na cidade deserta e abandonada

Os moiros lhe chamarão Aicha Conticha
Os moiros lhe chamarão Aicha Conticha 
E enquanto a armada se despede lentamente
Ela só, é senhora da cidade
De negro está vestida, ela só
Ela só na cidade abandonada
E nunca mais Arzíla será perdida
E nunca mais Arzíla será tomada


Talvez um amor antigo 
Ou um morto querido
Talvez a luz, o branco, o sul
Talvez o puro prazer de olhar
Outros amaram Arzília, mas não tanto
Que tivessem de ficar só por amor
Ela só quis Arzíla por Arzíla

As rosas não falam

Letra e música de Cartola
Repertório de Gisela João


Bate outra vez com esperanças, o meu coração
Pois já vai terminando o Verão… enfim
Volto ao jardim co’a certeza que devo chorar
Pois sei bem que não queres voltar para mim

Queixo-me às rosas
Mas que loucura
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubem de ti

Devias vir para ver os meus olhos tristonhos
E quem sabe, talvez nos meus sonhos, por fim

Louca paixão

José Patrício / Miguel Ramos*fado alberto*
Repertório de Fernando Jorge

Sentir perto de mim teu meigo olhar
É quanto a mim me basta p’ra riqueza
Meu Deus, como é que pudeste dar
Apenas a alguém, tanta beleza

Na chama desse amor fui-me embalar
No calor dos teus braços vou caír
Amor, se não me pedes p’ra ficar
Sou eu que digo: não quero partir

Ao navegar contigo em mil desejos
Em ondas de paixão por saciar
Alimentar meus lábios nos teus beijos
Nesta fome de amor por acalmar

Se na vida real eu não consigo
Teu corpo com carinho abraçar
Então quero dormir, sonhar contigo
E peço p’ra ninguém mais me acordar

Cantar da milésima segunda noite

Rodrigo Emílio / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto


Eu vi o sol em plena noite
Quando ninguém podia vê-lo
Eu vi o sol da meia noite
A raiar no teu cabelo

E houve mil e uma noites
De fulgor inapagável
Da boémia, a mais profunda
Houve mil e uma noites
Mas nenhuma comprarável
À milésima segunda


Quando ninguém podia vê-las
Vi tuas mãos de Dulcineia
Não sei se foi noite de estrelas
Mas sei que foi noite de estreia

E ouvi cantar, cantar em coro
Em cada artéria, em cada vela
O sol do sangue e o fulvo touro
Que te anuncia e me inceideia

Um fado à mercê da vida

José Fernandes Castro / Carlos Rocha
Repertório de Nelson Duarte
Música do fado *Sempre que Lisboa canta*

Eu sou um tempo perdido
Nas madrugadas da vida
Sou um fado acontecido
Numa noite florida

Sou um barco sem maré
Neste mar por navegar
Sou alma cheia de fé
Que passa a vida a cantar

Quando a saudade magoa
Minh’alma entoa e
sta canção
E o soluço se apregoa
Mesmo que doa n
o coração
Quando a saudade faz lei
As outras leis s
ão tempo errado
A saudade a que me dei
Tem as leis do 
próprio fado

Eu sou o sopro fugaz
Duma brisa matinal
Sou um poema de paz
Numa guerra triunfal

Sou um livro que se lê
Sou um verso que alguém quer
E assim ando à mercê
Do que a vida me trouxer

Fado menor

Fernando Teles / Popular *fado menor*
Repertório de Maria Alice
Letra extraída do livro *Poetas do Fado Tradicional* de
Daniel Gouveia e Francisco Mendes  

Por eu vender o meu corpo
Olham p’ra mim com desdém
As ricas também se vendem
E tudo lhes fica bem

Ninguém censure a mulher
Que p’ra dar aos filhos pão
Depois de tudo sofrer
Ponha seu corpo em leilão

Não há ninguém que suponha
Qual a cruz do meu penar
É ser mãe e ter vergonha
Dos meus filhitos beijar

À noite quando me deito

Letra e música de António Silva Reis
Repertório de Tony Reis

Sinto-me só 
Quando não 'stás a meu lado
Sinto-me só 
Quando não te canto um fado
Sinto-me só 
À noite quando me deito
E sinto dentro do peito 
A saudade de te ver
Sinto-me só 
E creio, p’ra meu castigo
Que sem ti eu não consigo
Alento para viver


Trago comigo
A mágoa que me devora
Mas que me obriga 
A pensar a toda a hora
Sei p’ra meu bem
Que contigo sou feliz
Porque o amor é também
O fruto d’uma raiz

O filho ceguinho

Amadeu do Vale / Ercília Costa
Repertório de Ercília Costa
Letra extraída do livro *Poetas do Fado Tradicional* 
de Daniel Gouveia e Francisco Mendes

P’ra dar vista ao meu filhinho
Que me nascera ceguinho
Fiz uma promessa a Deus
Que os dois olhos do meu filho
Se um dia tivessem brilho
Prometi cegar os meus

Tanta e tanta devoção
Eu pus na minha oração 
Que ela chegou a Jesus
E por milagre divino
Aos olhos do meu menino 
Chegou finalmente a luz

Muito alegre, fui depressa
P’ra cumprir minha promessa 
Caí aos pés do altar
Ergui meus olhos aos céus
E só por graça de Deus 
Eu não cheguei a cegar

Três degraus, uma cortina

Linhares Barbosa / Popular *fado menor
Repertório de António Rocha
A 2ª estrofe (que não foi gravada pelo António Rocha) 
foi extraída do CD de
Manuel Cardoso de Menezes que gravou esta letra na música do Fado Lopes

Três degraus, uma cortina
Uma imagem de Jesus
E a luz duma lamparina
Iluminando outra cruz


Viela triste e sombria 
Uma mulher de má sina
Um letreiro, hospedaria 
Três degraus, uma cortina

Uma cama improvisada 
Que só miséria traduz
Ao fundo, dependurada 
Uma imagem de Jesus

Sobre uma mesa de pinho 
Uma vela de estearina
Uma garrafa com vinho 
E a luz duma lamparina

Sempre que a mulher se vende 
E o freguês pede mais luz
A vela também se acende 
Iluminando outra cruz

A voz de Portugal

Fernando Teles / Guilherme Coração *fado sem pernas*
Repertório de Maria Alice
Letra extraída do livro *Poetas Populares do Fado Tradicional* 
de Daniel Gouveia e Francisco Mendes

Ter um fado igual ao meu
Ó Coimbra quem te dera
Na Mouraria nasceu
Teve por mãe a Severa

Fado lindo do Mondego 
Cantado por noite fora
À alma tira o sossego 
Que de tanto ouvi-lo chora

O de Lisboa é mais triste
É mais castiço, mais faia
A alma não lhe resiste 
Ouvindo-o logo desmaia

Por mim ou outro cantado 
Na Mouraria ou Choupal
São lindos todos os fados 
São a voz de Portugal

Homem da lezíria

Maria Manuel Cid / Francisco José Marques *fado zé negro
Repertório de Teresa Tarouca

Solta da cinta grosseira
Voava a camisa branca
Que o vento suão enxuga
E o salto de prateleira
Pisa o restolho que arranca
Da terra que a sede enruga

Uma melena teimosa 
Cobre-lhe a testa trigueira
Como mata de capim
E a vara fina e rugosa 
Batia forte a poeira
Da sua calça de brim

Os dentes brancos de neve 
Brilhavam como centelhas
Nos seus lábios sensuais
E mordiscava de leve 
Uma papoila vermelha
Colhida pelos trigais

Leva na bota o esporim 
Como lama de uma vala
Pinga o suor do seu rosto
Nesta lezíria sem fim 
Até o silêncio fala
Nas tardes do mês de Agosto

Os belos tempo d’outrora

Fernando Teles / Popular *fado corrido serrano*
Repertório de Maria Albertina

Letra extraída do livro *Poetas do Fado Tradicional* de
Daniel Gouveia e Francisco Mendes

Os belos tempos d'outrora
São relíquias do passado
Dois impagáveis tesoiros
A guitarra mais o fado


Era na Lisboa antiga 
Quinta-Feira d'Ascensão
Dia de consagração 
Porque era dia de espiga
Com farnéis e sem fadiga 
Assim que raiava a aurora
Toda a gente, campos fora 
Procurava a sombra amena
Ai que saudades, que pena
Dos belos tempos d'outrora

As noites tradicionais 
De todos os nossos santos
Eram motivos de tantos 
Ranchos, bailes, festivais
Os círios e os arraiais 
Rabicha, senhor roubado
Atalaia, sol doirado 
Como tudo isso era lindo
Estas coisas, tempo findo
São relíquias do passado

E nas vésperas de toirada 
Nos retiros, que alegria
Até a nobreza se via 
Pelas mesas abancada
Cantava-se à desgarrada 
Até à vinda dos toiros
Cobriram-se assim de loiros 
Entre a fadistagem vária
A Severa e a Cesária
Dois impagáveis tesoiros

Fidalgos, boémios, artistas 
E toureiros elegantes
Tinham por suas amantes
As cantadeiras bairristas
Nesse tempo de fadistas 
E do Colete Encarnado,
Só nos resta por sagrado 
Penhor bem nacional
Dois filhos de Portugal
A guitarra mais o fado

Destino

Sofia Ferreira / Pedro Marques
Repertório de Sofia Ferreira


Destino meu
Naquela noite em que o negrume te levou
Cravando um punhal
Em minha alma que se acabou

Que faço deste amor
Que a mim me rasga o coração
Que vida será vivida
Agora nesta solidão

Volta por favor
Mais uma vez, p’ra te dizer
Palavras que me fazem enlouquecer

Amor, grito de dor e tormento
Em lágrimas que se soltam pelo vento
Destino que a maré trouxe até mim
Destino que me faz morrer por ti

Rosas

Armando Neves /Armandinho *alexandrino do estoril*
Repertório de Ercília Costa

Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


Por sob o céu azul 
Do nosso Portugal
Céu que não tem igual 
Em todo o mundo inteiro
Vicejam roseirais
Uns da cor do coral
Outros branco ideal 
Esmalte verdadeiro

E assim as rosas são 
Neste jardim florido
Padrão bem alto erguido 
Às virtudes da raça
O branco simboliza 
O sentimento querido
A paz, amor sentido
Enchendo as almas de graça

O vermelho, esse então 
É sangue abençoado
É sangue derramado 
Em tanta e tanta vez
É Alcácer-Quibir
É Flandres, é Salado
É sangue de soldado
É sangue português

Dia de São Martinho

Isidoro de Oliveira / Manuel Maria Rodrigues
Repertório de *Fado Marialva*

É dia de São Martinho
Dia da prova do vinho
Dos safões e da samarra
E à noite, depois da ceia
À luz frouxa da candeia
Canta-se ao som da guitarra

Veste-se de festa o povo 
Tudo prova o vinho novo
É dia de São Martinho
O vinho a cabeça arrasa 
E à volta para casa
Já ninguém sabe o caminho

Eu falo, digo o que sinto 
Não há nada como o tinto
P’ra aquecer as almas frias
É dia de São Martinho 
Encha lá mais um copinho
Pois um dia não são dias

Atrás dum como outros vão 
E o tosco canjirão
Não pára de servir vinho
Até alta madrugada 
á vinho e castanha assada
É dia de São Martinho

Na minha infãncia

João da Mata / Alfredo Duarte *menor-versiículo*
Repertório de Ercília Costa

Também conhecido pelo título *saudades que matam*
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


No jardim da minha infância tão ditosa
Semeei doces quimeras de ansiedade
Plantei ilusões e sonhos cor-de-rosa
Para colher desenganos e saudades

Saudades sinto-as cá dentro do meu peito
Ligadas ao sofrimento verdadeiro
Saudades do lar feliz que foi desfeito
P’los vendavais do destino traiçoeiro

Como é triste a minha sorte como influi
Na certeza de cruéis fatalidades
Pois que eu vivendo saudosa do que fui
Tristemente vou morrendo de saudade

Toca p’rá unha

Maria Manuel Cid / Jaime Santos *fado da bica*
Repertório de Maria do Rosário Bettencourt


Céu dum azul infinito
Tarde linda, praça à cunha
O toiro é negro gravito
Cornetim toca prá unha

E salta lesto prá arena 
O forcado valentão
E pisa a terra morena 
Com altiva decisão

E, todo donaire e graça 
Petulante e atrevida
Citando de praça a praça 
Aguenta a investida

E o povo desvairado 
Com tamanha valentia
Vendo o toiro dominado 
Rompe em alta gritaria

E no brado de respeito 
Como carícia dum beijo
Sente o forcado no peito 
Todo o sol do Ribatejo

Nada a mim me dá cuidado

Conde Sobral / Adriano Batista *fado macau*
Repertório de Leonor Santos


A mim não me dá cuidado
A hora de me deitar
Perder a noite no fado
Não é perder é ganhar

Embora seja egoísta
Ou um caso liquidado
Ser boémia ou ser fadista
A mim não me dá cuidado

Eu quero apenas viver
A vida que me agradar
E não me importa saber
A hora de me deitar

Se preocupar alguém
O meu viver agitado
Perder a noite no fado
Venha comigo, também
- - - 
- - 
-
Versão Original
Informação de Daniel Gouveia e Francisco Mendes no livro
*Poetas do Fado Tradicional*
Tema também referenciado com os títulos
*Perder a noite no Fado /ou/ A mim não me dá cuidado*
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*

A mim não me dá cuidado
A hora de me deitar
Perder a noite no fado
Não é perder é ganhar


Mesmo que seja egoísta 
Ou um caso liquidado
Ser boémio, ou ser fadista
A mim não me dá cuidado

Eu quero apenas viver 
A vida que me agradar
E não me importa saber 
A hora de me deitar

Se preocupar alguém 
Este viver agitado
Venha comigo, também 
Perder a noite no fado

Dirá logo a quem se afoite 
Como ele a criticar
Perder assim uma noite 
Não é perder, é ganhar

Braços de cruz

Maria Manuel Cid / Popular *fado menor*
Repertório de António Mello Correia
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*

Seis lanternas apagadas
Mais duas deitando luz
Que deixam sombras traçadas
Como os braços duma cruz

Cá dentro a guitarra chora
P'la viola acompanhada
Enquanto a noite lá fora
Vai fugindo à madrugada

Saltam versos desgarrados
Do peito do cantador
Saltam versos, nascem fados
E mais promessas de amor

E quando as almas despertam
Ao romper das madrugadas
Já nem sombras se projectam
Das lanternas apagadas

Amora cantando

Maria de Lurdes Brás / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Maria de Lurdes Brás


Cá neste lado do rio
Também há fado a preceito
Canta-se o fado com brio
Há fado dentro do peito

Cá na Margem Sul do Tejo 
Há fadistas de valor
Cantar fado é o desejo 
De quem tem ao fado amor

Brilham estrelas no céu 
O sol brilha mais dourado
Navega no Rio Judeu 
A esperança de um novo fado

Como discreta magia
Anda o silêncio no ar
Há mistério e alegria 
Há grandeza no cantar

Cai a noite, amaina o vento 
Leve brisa sopra agora
Para se ouvir sem lamento 
Cantar este fado Amora

Meu amor

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Leonor Santos
Este tema também foi gravado por Flora Silva com o título 
*Vai, vai de vez* com autorias atribuídas a: 
Torre da Guia / Alvaro Martins

Meu amor, não quero mais
Ouvir-te mentir assim
Sei que vais de mim p’ra ela
E que vens dela p’ra mim

Meu amor não quero mais
Eu não quero mais tortura
Vai-te embora e leva tudo
Deixa ficar a amargura

Tu gostas dela, eu sei-o bem
Já és mais dela, eu sei também;
P’ra quê mentir, não mintas não
Trago a verdade no coração;
Vai, vai de vez, leva a saudade
Não quero dó nem piedade


Viver assim é um inferno
Em que eu não quero viver
Antes quero a solidão
P’ra me ajudar a esquecer

Vai-te embora por favor
E leva tudo o que é teu
Leva pois o meu amor
Porque ele já não é meu

Perdi-me no teu olhar

Mote: Olegário Mariano / Glosa: Conde Sobral / Alfredo Duarte *fado bailarico*
Repertório de Natália dos Anjos
Também aparece com os títulos *Os teus olhos são dos tais* ou *Teus Olhos
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


Os teus olhos são dos tais
Que só se encontra uma vez
Deus fez os teus, não fez mais
Por ver o perigo que fez


Perdido no teu olhar 
A minha vida mudou
E nunca mais encontrou 
Outro caminho a trilhar
Mas nada tenho a ganhar 
Pois sei bem que tu não lês
Na minha alma, nem crês 
Que, distintos dos demais
Os teus olhos são dos tais
Que só se encontra uma vez


Os olhos que Deus te deu 
São para mim tal tormento
Que o meu cruel sofrimento 
Foi conhecido no céu;
E a Santa Lei entendeu 
Tão injusto o meu revés
Que com divina altivez 
Quebrou os moldes fatais
Deus fez os teus, não fez mais
Por ver o perigo que fez

Coisas do coração

Domingos Gonçalves da Costa / Fontes Rocha
Repertório de Augusto Fernandes


O coração que em teu peito
Não palpita de afeição
É todo de gelo feito
E para amar não tem jeito
Nem chega a ser coração

Que nunca amaste ninguém
Afirmas seja a quem for
Cautela, que o dia vem
Em que hás-de gostar de alguém
E despreze o teu amor

Uma paixão 
Nasce dum simples olhar
Como a ilusão 
Nasce dum amor sem par
E nesse jeito
Surge uma falsa afeição
Que pode entrar no teu peito
Onde não há coração


A história do amor é vasta
E às vezes enganadora
Puro amor que se afasta
É muita vez quanto basta
P’rá gente morrer de amor

Não voltes pois a dizer
Que a ninguém tens afeição
Isto de amar e querer
A gente quer porque quer
São coisas do coração
- - -
- - 
-
VERSÃO ORIGINAL
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


O coração que em teu peito 
Não palpita de emoção
É todo de gelo feito
E para amar não tem jeito 
Nem chega a ser coração

Que nunca amaste ninguém 
Afirmas seja a quem for
Cautela, que o dia vem
Em que hás-de gostar de alguém 
Que despreze o teu amor

A história do amor é vasta 
E no mundo enganador
Um puro amor que se afasta
É muita vez quanto basta 
Prá gente morrer de amor

Não voltes pois a dizer 
Que a ninguém tens afeição
Que nisto de amar e querer
A gente quer porque quer 
São coisas do coração

Gôsto de engraçar

Clemente Pereira / Casimiro Ramos *fado fé*
Repertório de Natalindo Duarte

Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


Tanta graça ela irradia
Que sempre, quando ela passa
Eu digo, sem ironia
Você é Graça Maria
Uma Maria, com graça

Não julgue nisto um gracejo
Porque graça em mim não há
Mas tanta graça em si vejo
Que só lhe peço o sobejo
Da graça que a outros dá

A quem vive, como eu
Com o gosto de engraçar
A graça que Deus lhe deu
Nunca deve, creio eu
A sua graça negar

Mas se um dia, lado a lado
Lá na Graça, a gente passa
Alguém dirá com agrado
Mas que par tão engraçado
Passou agora na Graça

Quanto mais me foge a vida

João Dias / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Lúcio Bamond

Quanto mais me foge a vida
Mais eu gosto de viver
Mal uma esperança perdida
Outra acaba de nascer

Esperamos sempre um bem 
Que por bem nos aconteça
Pois o futuro de alguém 
Não há ninguém que o conheça

Esperança é fogo que arde 
Em fogueira tão teimosa
Que às vezes até um cardo 
Tem p’ra nós valor de rosa

A vida foge-me tanto 
Que às vezes nem sei dizer
Se este canto é o pranto 
Que o cisne canta ao morrer

Requiem por um morgado

João Dias / Popular *fado mouraria*
Repertório de João Casanova

É dono de muitas leiras
Senhor de muito povoado
Aluga braços nas feiras
Onde vai vender o gado

Monta cavalos e fêmeas 
Tem filhos que não conhece
Semeia fomes e sêmeas 
E come o que lhe apetece

Sobre a enorme barriga 
Cadeias de oiro maciço
Prendeu um corno e uma figa 
Para afastar o feitiço

Traz a mulher e a montada
Presas na mesma arreata
E na bota afiambrada 
Usa acicates de prata

Dizem à boca pequena 
Que assassinou um maltês
Por um braçado de lenha 
Deu-lhe dois tiros ou três

Engorda porcos e cães 
E guardas florestais
E outros filhos da mãe 
Que lhes guardam os trigais

Missas de corpo presente 
Pagou-as adiantado
Deus não fia a toda a gente 
E o céu está superlotado

Aqui ficou retratado 
Um morgado d’outros tempos
Que há pouco foi enterrado 
Com todos os sacramentos

Gaivotas em terra

Mascarenhas Barreto / António dos Santos
Repertório de António dos Santos


Gaivotas em terra, de asas fechadas
Marujos sem rumo num banco dum bar
Barcaças dormentes no cais ancoradas
Meninas morenas que sonham casar

Preciso é que voem e que batam as asas
Preciso é que deixem as altas janelas
Preciso é que saiam as portas das casas
Preciso é que soltem amarras e velas

Marujos sozinhos, pensando outro mundo
Meninos em casa, fiando desejo
Preciso é que cruzem seu olhar profundo
Preciso é que colem as bocas num beijo

Mãos de marinheiro não temem procelas
Se houver outras mãos, pr'além vendaval
Rezando por ele, tecendo outras velas
Mais brancas mais belas do seu enxoval

Na gravação de Marco Oliveira, a estrofe apresentada a seguir aparece
na 3ª posição e foi usada em vez da 4ª estrofe da versão original.

As asas são duas se acaso uma ave
Vier cortar céu, lançar-se no ar
A barca só voga se a brisa suave
Vier ternamente casá-la com o mar

Naquela noite

António Vilar da Costa / José Duarte *fado seixal*
Repertório de Joaquim Silveirinha

Na noite de São João
O Chico do Bairro Alto
Com o seu ar folião
E uma guitarra na mão
Pôs o bairro em sobressalto

Sob a janela da Rosa 
À luz argêntea da lua
Cantou com voz maviosa 
Uma quadrinha amorosa
E a Rosa veio prá rua

Traça o xaile de varina 
Responde às quadras singelas
Com a sua voz argentina 
Acompanhando em surdina
Ao compasso das chinelas

Já da fogueira apagada 
Resta um braseiro desfeito
Mas no fim da desgarrada 
Sentem, d’alma apaixonada
Uma fogueira no peito

Das janelas, com calor 
Foram muito aplaudidos
Nenhum levou a melhor 
Mas na luta do amor
Ficaram ambos vencidos

Hoje a Rosa, já casada 
Lembra aquele São João
Quando o Chico à desgarrada 
Na Travessa da Queimada
Lhe queimou o coração

Fado do pão

Artur Soares Pereira / Santos Moreira *fado moreninha*
Repertório de Daniel Gouveia

Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


O Necas, um pequeno garotinho
Correndo jovial um certo dia
Foi perguntar de manso ao seu paizinho
Como nascia o pão que ele comia

O pai, sempre pronto a responder
Às perguntas do seu filhinho amado
Desta vez começou por lhe dizer
O pão não nasce feito... é fabricado

É feito de farinha, nota bem
Extraída das espigas, meu amor
Criadas com carinho por alguém
A quem a gente chama *o lavrador*

Ele, de sol a sol cuida da terra
A terra para ele é um tesoiro
Pois é ela que dá, ela é que encerra
Essas espigas lindas, cor do oiro

Só depois de maduras, são colhidas
E depois de batidas, vão então
P’ra moinhos nos quais são reduzidas
À farinha da qual se faz o pão

Que o pão custava tanto, eu não sabia
Disse por fim, o Necas ao paizinho
Mas agora já sei, e de hoje em dia
Não estragarei sequer um bocadinho

Novembro

Ana Sofia Paiva / Marco Oliveira
Repertório de Marco Oliveira


Só… no vazio entardecer
Só… demorando até perder
A vontade ainda de salvar o sol
Que já não quer ficar

Só… singular desilusão
Dor diluída na canção
P’ra esquecer que o amor tem afinal
Um sopro final… e é só

Vem… chegou novembro, o dia clareou
Tanto amor que se gastou
Vem.. que até ao fim será preciso arder
De tanto amar hei-de morrer

Só… no vazio entardecer
Só… demorando até perder
Novembro hás-de esquecer
Sei que hei-de esquecer… tão só

Carta de soldado

José Galhardo / Raúl Ferrão
Repertório de Max

No livro *Poetas do Fado Cancão* de Daniel Gouveia e 
Francisco Mendes esta letra é atribuída a Frederico de Brito

Minha Maria
Vou-te à carta responder
Ai, que alegria 
Que tu me deste em me escrever

Sinto um engulho aqui
Por ser amado
E um grande orgulho 
Por estar longe e ser soldado

Andam-me em Guerra 
Três amores, sabes que mais?
P’la minha terra
P’lo meu bem e p’los meus pais

Quando fores p’ra rezar
Meu amor sem ter fim
Se te der p’ra lembrar
Pede à Virgem por mim
Meu dever tem-me aqui
Qu’ria ver-te outra vez
Mas não volto p’ra ti
Porque sou português


Adeus, Maria
Esta carta vou fechar
E até um dia 
Eu te abrace e volte ao lar

Fala dos teus também
Que p’lo meu lado
Eu estou bem graças a Deus
Muito obrigado

Adeus, cachopa
Meu end’reço é sempre igual
Manel da Tropa
Batalhões de Portugal
- - -
Versão Original
Carta do Soldado [carta soldado rocha]
Criação de Irene Isidro, travestida de soldado, na revista
*A Marcha de Lisboa* Estreia no Teatro Apolo, 1941


Minha Maria
Vou-te à carta arresponder
Ai, que alegria que me deste 
Em me escrever

Sinto um orgulho aqui
Por ser amado
E um grande orgulho 
Por ‘star longe e ser soldado

Andam-me em guerra 
Três amores, sabes que mais?
P’la minha terra, 
P’lo meu bem e p’los meus pais!

Quando fores a rezar
Meu amor sem ter fim
Se te der p’ra alembrar
Pede à Virgem por mim
Meu dever tem-me aqui
Qu’ria ver-te outra vez
Mas não volto p’ra ti
Porque sou português


Adeus, Maria
Que esta carta vou fechar
E até um dia 
Que eu te abrace e volte ao lar

Fala dos teus, da mãe
Que, p’lo meu lado
Graças a Deus, eu fico bem
Muito obrigado

Adeus, cachopa
Meu end’reço é sempre igual
Manel da Tropa
Batalhões de Portugal

Mais um fado patriótico, ao gosto da época, por isso muito datado e por isso caído em desuso.
Hoje não seria entendido como o êxito que foi. 
No entanto, à data da sua criação, estava-se em plena II Guerra Mundial, 1939-45. 
Portugal não entrou nela, mas em 1941 ainda não se sabia como as coisas iriam acabar. 
O Japão tinha invadido Timor-Leste, pelo que a neutralidade de Portugal poderia 
terminar a qualquer momento.

A minha sina é cantar

Manuel de Andrade / Eduardo Lemos
Repertório de Irene Oliveira


A minha sina é cantar 
O fado pelas vielas
E ver abrir as janelas 
À noite de par em par

Ser fadista é o meu fado 
Vaguear de porta em porta
Dedilhar a horas mortas 
A guitarra em tom magoado

Mas que posso mais fazer
Tenho o destino marcado
Ser fadista é o meu fado
E fadista hei-de morrer
Com a guitarra a meu lado
A trinar em tom plangente
Vivo assim, vivo contente
Ser fadista é o meu fado


Às vezes penso em mudar 
Em viver doutra maneira
Ao calor duma lareira 
Ou no sossego do lar

Não consigo, não atino 
Logo que oiço uma guitarra
Volto prá vida de farra 
Pois é este o meu destino
- - -

Esta estrofe não foi gravada
Informação extraída do livro *Poetas do Fado Tradicional*
De Daniel Gouveia e Francisco Mendes


Há quem diga com desdém
Que é tolice, que é loucura
Andar assim à procura
Do valor que o fado tem

Eu sou o fado

Paco Gonzalez / Raúl Ferrão *fado alcântara*
Repertório de Rosa de Jesus


Eu sou o fado
Não se riam, é verdade
Aqui não há falsidade, eu vou contar
Na Mouraria
Numa casinha perdida
Uma velhinha tão querida veio contar

Contou-me a dor 
De ter sido abandonada
E mais tarde desprezada, fugi dali
Amei sofri, beijos 
Senti, beijos sem sorte
E até mesmo a própria morte a Deus pedi

Se nos versos 
Que canto e que choro
Há lágrimas d’oiro de rara beleza
Também são
Para aqueles que riem
A todo o momento, da minha tristeza
Se eu tivesse 
Nascido impostora
Sem fé sem amor, seria adorada
Mas eu cá já nasci fatalista
Eu sou o fado, eu não sou fadista


Eu sou o fado
Esse boémio que chora
E que anda p’la noite fora com a saudade
A voz que grita 
A dor do seu povo amante
Sem esquecer um instante, sua cidade

Sou o poeta das verdades mais amargas
E quem em mil noites de farra
Nunca esqueceu
A Mouraria dessa casinha perdida
Uma velhinha tão querida 
Que já morreu

Moeda de troca

Tiago Torres da Silva / Manuel Graça Pereira
Repertório de Catarina Rocha


Nunca tive moeda de troca
Para o que recebi da saudade
Mas é só pelo que ela me toca
Que tudo o que canto é verdade;
É essa a moeda de troca
Cantar o meu fado
Para o dar à saudade

Mas às vezes o fado acontece
Sem que a gente entenda o que fez
E o fadista cansado agradece
E chora baixinho outra vez


Quero unir a minha às vossas almas
Sem perder a saudade de vista
Não me importa que me batam palmas
Ou gritem à grande *ahhh fadista*;
Quero ouvir o slêncio das almas
Assim que o mistério do fado as conquista

A minha aldeia

Fernando Teles / João Maria dos Anjos
Repertório de Maria Alice
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-tradicional*

É tão linda a minha terra
Essa aldeia pequenina
Desde o alto lá da serra
Até à verde campina

Dentre as latadas de vinha
Que a serrania contém
Alveja branca casinha
Onde morreu minha mãe

Peço a Deus em melodias
A graça desta andorinha
Que é fazer findar os dias
Também na branca casinha

Andam bailando sem Deus

Maria Manuel Cid / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Carlos Mendes Pereira


Andam bailando sem Deus
Teus olhos cor de avelã
São cruéis como judeus
Deixam a noite nos meus
E fogem com a manhã

Andam pobres desvairados
Numa corrida sem fim
Andam sós, embriagados
E não param de cansados
Não têm sede de mim

Não bebem da água pura
Da fonte dos meus desejos
Andam loucos na loucura
De não acharem segura
A fartura dos meus beijos

Galgo de corrida

Maria Manuel Cid / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de António Melo Correia
Título original: Ao meu galgo de corrida
Livro *Poetas do Fado Tradicional
De Daniel Gouveia e Francisco Mendes

Ao meu galgo de corrida
Quando morrer vou deixar
A trela que toda a vida
Lhe custou a suportar

O velho cesto de vime 
Onde guardei a coleira
O Maioral que o arrime 
À chama duma fogueira

E do canil, o portão 
Que mandei aferrolhar
Ordeno ao meu Abegão 
Que o abra de par em par

A vara que sempre pus 
Por respeito, à cabeceira
Partida fará a cruz 
Do meu caixão de madeira

E se for ,na realidade 
Esta vontade cumprida
Ganhará a liberdade 
O meu galgo de corrida