-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.300' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

. . .

Pobre de mim

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha

Se o meu olhar 
Não te encontrasse
Eu não seria tão diferente como sou
Apenas cinza que ficou
Talvez eu fosse o mesmo lume
E a mesma chama radiosa que deu luz
E o teu desprezo apagou

Quis transformar
Um simples sonho em realidade
Semeei
rosas
E em vez de amor colhi maldade
Triste surpresa
Que recebi da natureza

Feliz de quem 
Um dia, gostou de alguém
E em troca do seu amor
Amor igual recebeu
Pobre de mim 
Que gostei de alguém, assim
Com tanto amor e no fim
Em troca, nada me deu

Não te importes de quem chora

Fernanda Maria / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Fernanda Maria

Lágrimas traduzem lamento
Escondido em meu olhar
São mágoas de sofrimento
Que moram no pensamento
De quem nasceu p'ra te amar

A verdade queres esconder 
Não dizes, eu adivinho
Só me tentas convencer
Que temos de percorrer 
Cada qual, o seu caminho

Se tens outra, vai-te embora 
Não te quero por caridade
Não te importes de quem chora
Porque há-se chegar a hora 
Da minha felicidade

A pedra que caíu

Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa
Repertório de Tony de Matos

Quando a pedra caiu  
O pântano ondulou
Não sei donde surgiu
A pedra que caiu
Nem quem a atirou

Não sei quem foi que viu 
Alguém nos apontou
Nenhum de nós pediu 
Silêncio a quem viu
Piedade a quem falou

Eu gosto de ti e tu gostas de mim
O mais, seja o que for, deixá-lo ser
Nós vamos a par, vocês podem falar
Não è crime nenhum viver


A pedra que caiu 
Alguém a atirou
Não sei quem foi que viu 
Mas não nos atingiu
Caiu e lá ficou

O pântano ondulou 
Não sei quem foi que viu
Alguém nos apontou 
Alguém nos atirou
A pedra que caiu

Crianças na orfandade

Fernando Farinha / José António Sabrosa *fado tia dolores*
Repertório de Fernando Farinha

Crianças na orfandade
È para vós este fado
Que eu aqui venho cantar
Fado velho em triste boca
Lábios que em rimas humildes
Vossas bocas vêm beijar

Crianças na orfandade
Aves sem sol e sem ninho 
Esperando a calor d'alguém
Como è triste estar no mundo
Sem os carinhos de pai 
E os doces beijos de mãe

Crianças na orfandade
Folhinhas tontas ao vento 
Sem o tronco onde nasceram
Que Deus guarde as vossas vidas
E as compense em felicidade 
Do bem que cedo perderam

O Porto é assim

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Alberto Ribeiro

Uma rua a descer
Uma outra a subir
Um céu cheio de cor
Um rio a refulgir

São o Porto a viver
São o Porto a olhar
Lá ao longe o azul 
E a beleza do mar

Uma ponte de ferro
Um barquinho a passar
Uma torre bem alta
Junto ao céu a brilhar
Uma cara morena
Passa agora por mim
Um sorriso no ar
E o Porto è assim


Há beleza e há cor 
Na Ribeira a cantar
Há ternura e amor
Há gente que sabe amar 

O casario sem fim 
Olhando a margem de lá
Parece dizer-lhe adeus
Querer sair donde está

Será pecado

Artur Ribeiro / José Maria Antunes
Repertório de Artur Ribeiro

Será que este amor é loucura
Será que a nossa ternura
É crime sem ter perdão
Será que esta lei faz sentido
Será mesmo proibido
Morar no teu coração

Será pecado a
mar-te assim
Será maldição 
Ter esta paixão cá dentro de mim
Se ninguém pode mudar seu fado
Dizei-me senhor 
Se este nosso amor será pecado

Será que é um mal sem medida
Sentir a vida perdida
Se não oiço a tua voz
Será que ninguém neste mundo
Sentiu amor tão profundo
Pecou assim como nós

Pouco mais

César Oliveira / João Vasconcelos
Repertório de Tony de Matos

Quero com nuvens moldar
Novo mundo imaginado
E pôr um ramo d'estrelas
No nosso céu inventado;
Quero uma árvore de ideais
Sombra da vida p'ra nós
Pouco mais
Pouco mais

Dá-me uma palavra
Uma só palavra
Pouco mais 
Pouco mais 
Pouco mais

Quero luar p'ra moldar
Num mar de prata lavrada
Onde o meu barco de remos
Deixe uma estrada marcada;
Quero encontrar outro cais
Onde o mar barco atracar
Pouco mais
Pouco mais

Dá-me uma palavra
Uma só palavra
Pouco mais 
Pouco mais 
Pouco mais

Quero o teu rosto moldar
Com uma réstia de vento
Roubar-te aos olhos, a noite
Trevas do teu sentimento;
Quero os teus beijos banais
Que só me dás por favor
Pouco mais
Pouco mais

Dá-me uma palavra
Quero essa palavra
Uma só palavra, amor

Ano novo

João de Freitas / José Ramos
Repertório de Fernanda Maria

Um ano, mais uma vida
Mais uma ilusão perdida
Mais desenganos, enfim
Novo ano, nova esperança
Aspirações de criança
É sempre assim, sempre assim

De que nos serve pensar
Que ele nos traga e possa dar 
O porvir abençoado
Pensar em tal, mas porquê? 
Se tudo quanto se vê 
Não passa dum triste fado

Um ano, mais uma vida 
Renasce a esperança perdida 
Em dias de felicidade
Ela se encontra onde quer 
Num momento de prazer 
E até na própria saudade

Passa um dia, depois dias 
Que são as Avé-Marias 
Deste rosário sem fim
E morrem nos corações 
Os sonhos e as ilusões
É sempre assim, sempre assim

Sete trovas de saudade

Rodrigues Canedo / Alberto Costa *fado torres do mondego*
Repertório de Carlos Marques

Um dia parti chorando
Mas hoje que te esqueci
Tenho saudades de quando
Tinha saudades de ti

Se ter saudades de alguém 
Já faz sofrer, mais atroz
È ter saudades de quem 
Não tem saudades de nós

Meu bilhetinho esquecido 
Minha folha de alecrim
Meu tempo ganho e perdido 
Minha saudade de mim

Quando a saudade me aperta 
Eu sinto-me debruçado
Numa janela entreaberta 
A ver passar o passado

Saudade è luz de candeia 
Sempre a acender e apagar
Para mostrar, volta e meia 
O que não chega a voltar

Sete letras tem mentira 
Sete letras tem verdade
Quem das sete, sete tira 
Tem as letras de saudade

Saudade tem sete letras 
Sete véus, sete punhais
Sete pés de violetas 
Sete pecados mortais

Névoa te tornaste

*Cinzento*
Florbela Espanca / Custódio Castelo
Repertório de Cristina Maria

Poeiras de crepúsculos cinzentos
Lindas rendas velhinhas em pedaços
Prendem-se
aos meus cabelos, aos meus braços
Como brancos fantasmas sonolentos

Monstros soturnos deslizando lentos
Devagarinho, em misteriosos passos
Prende-se a luz em languidos cansaços
Ergue-se a minha cruz dos desalentos

Poeiras de crepúsculos tristonhos
Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos
A névoa das saudades que deixaste

Hora em que o teu olhar me deslumbrou
Hora em que a tua boca me beijou
Hora em que em fumo e névoa te tornaste

Palavras roubadas

Vasco de Lima Couto / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de António Mourão

Roubei muitas palavras na solidão quieta
Para ver se ouvia contar a minha história
Mas doeram-me tanto as palavras roubadas
Que eu hoje só te encontro no fundo da nemória

E se às vezes te vejo, procuro uma razão
P'ra logo t'esquecer e passar adiante
Mas mistura-se o vento e eu sei que ele conhece
Que há um grito em teu nome de ave morta e d'amante

Ponho as mãos sobre a ponte donde se avista a margem
E canto o fado inútil, da noite em seu redor
Mas todas as palavras caíram no silêncio

E o silêncio cresceu, meu amor, meu amor

São coisas do fado

Guilherme Pereira Rosa / Carlos Villareth
Repertório de Tony de Matos

Gostar da noite em Lisboa 
Duma guitarra que chora
Dum olhar que se enamora 
Duma canção que se entoa

Gostar do Tejo que passa 
E ao passar sente saudade
Amar Alfama e a Graça 
Bairros velhos da cidade

São coisas do fado
Que não morre e se não rende
E quanto mais è passado
Mais nos prende
São coisas do fado
Deste fado de quem sente
Que Lisboa lado a lado
È fado da nossa gente


Gostar do luar, de viela 
Trocar a noite p'lo dia
Haver sempre esta e aquela 
Que nos trazem nostalgia

Gostar do bem e do mal 
Sem discutir, ir à toa
Ao sabor do vendaval 
Que è o fado de Lisboa

Lisboa de outros tempos

Letra e música de Fernando Farinha
Repertório de Fernando Farinha

Velha Praça da Figueira
Da varina regateira
E do marujo gingão
Imperatriz dos mercados
Com bailaricos e fados
Nas noites de São João

Ó verbena dos paulistas
Recanto dos mais bairristas 
Que em saudade se distingue
Das barracas de farturas
E endiabradas loucuras 
Nos despiques de swing

Coliseu dos arraiais
Dos alegres carnavais 
Do alfacinha boémio
Dos concursos de pregões
Das marchas com seus balões 
E das cegadas a prémio

Ó Lisboa doutra era
Do Retiro da Severa 
Do Mondego e do Solar
Motivos d'alma e de vida
Como o Luso d'Avenida 
Onde apareci a cantar

Ó Lisboa do passado
Das patuscadas com fado
D'alegria e d'amizade
Traz de novo a tua raça
Dá-me um ar da tua graça 
P'ra não morrer de saudade

Palminho de cara linda

DR / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de António Melo Correia

Palminho de cara linda
Carinha de lindo jeito
Que linda medalha davas
P'ra gente trazer ao peito

Eu dava o céu se o tivesse 
O céu, o mundo sem fim
Para esquecer o momento 
Que te esqueceste de mim

Se eu soubesse que voando 
Alcançava o meu desejo
Mandava fazer as asas 
Que as penas são de sobejo

Vocês devem perdoar-me 
Umas certas liberdades
Eu bem sei que ando a matar-me 
Mas ando a matar saudades

Porque te amo deste jeito

Alexandre Fontes / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Tristão da Silva

Não sei sei se tu me queres como eu te quero
Não sei se tu me dás tua afeição
Só sei que este amor è tão sincero
E que pertence a ti meu coração

Não sei se tu anseias meu regresso
Não sei porque te amo deste jeito
Só sei que a tua imagem não esqueço
E que a trago gravada no meu peito

Não sei se no teu quarto, à noitinha
O meu lugar está ou não, vazio
Não sei se outro amor te acarinha
Como eu te acarinhei em desvario

Não
sei amor, não sei, não compreendo
Sem ti eu já não sei o que fazer
Só sei que a minha vida vai morrendo
Cada dia que passa sem te ver

Balada

Popular / Fontes Rocha
Repertório de Fernando Farinha

Tricana airosa não escolhas
Estudantes que te olharam
Que as tricanas são as folhas
Dos livros que eles deixaram

A lua quando te viu
Envergonhada, corou
Por não poder igualar-te
Foi para longe e chorou

Chegou o outono

António de Sousa Freitas / Nóbrega e Sousa
Repertório de Tony de Matos

De novo já no outono
Diz-me um adeus a tua mão
Que é tal e qual o adeus
Das folhas pelo chão

Depois nas sombras quietas
Ficamos ambos e a saudade
É como um céu que alaga
De eternidade

E a vida está nessas folhas
Que são as horas caídas
As horas em que desfolhas
As nossas vidas
E o outono está onde nós
Seremos névoa e dor
Eu sou tristeza, grito e voz
Pedindo amor
Ó meu amor

Minhas palavras não dizem

Letra e musica de Moniz Pereira
Repertório de Fernanda Maria

Minhas palavras não dizem 
O que eu te queria dizer
Mas os meus olhos bendizem 
Como è grande o meu sofrer;
E os meus braços maldizem
Não te poderem prender

Minhas palavras não dizem 
Nem podes compreender
Como è grande esta paixão 
Minhas palavras não dizem;
O que tu querias saber
Está dentro do coração

Não disse, mas sei de cor 
O que tu querias ouvir
Estas coisas do amor 
Não se costumam pedir

Eram palavras diferentes 
Que te queria dedicar
È um amor que tu sentes 
Mas que eu não sei confessar

Risca o teu passado

Aníbal Nazaré / João Vasconcelos
Repertório de Tony de Matos

Tens de riscar da memória o teu passado
Tens de pensar que nasceste novamente
P'ra nós vivermos lealmente, lado a lado
Tens de pensar apenas no presente

Risca os telefones
Os numeros que trazes na mala de mão
Tua perdição
Risca esses nomes
Que tens num caderno muito bem guardado
Sombra de pecado
Mas sobretudo risca da memória
Os nomes dos homens a quem tens amado
Tão presos à história
Que è, a triste história desse teu passado

Trago-te um copo de vinho

Carlos Barrela / António Mourão
Repertório de António Mourão

Trago-te um copo de vinho
Para beberes no caminho
Onde te leva a saudade
Dentro da noite vazia
Quando em madrugada fria
Não encontres claridade

Deves saber que em viagem
Vais
precisar de coragem 
P'ra matares a solidão
Conheço de cor a estrada
Já fiz essa caminhada 
Sou teu irmão, meu irmão

Queres esquecer a amargura
Queres destruir a ternura 
Queres o passado rasgar
Mas è tão longo o caminho
Trago-te um copo de vinho 
Só p'ra te não ver chorar

Canoa de vela branca

Frederico de Brito / Martinho d'Assunção
Repertório de Fernanda Maria

Canoa de vela branca 
Que vens do cais da ribeira
E vais para Vila Franca 
Assim, num dia de feira

Já vem subindo a maré 
E hoje que a manhã 'stá linda
Quero ir ao Alcané 
Bailar um fandango ainda

Canoa tu conheces bem
Quando há norte pela proa
Quantas docas tem Lisboa
E as muralhas que ela tem;
Canoa por onde tu vais
Se outro barco te abalroa
Nunca mais tu atracas ao cais
Nunca, nunca, nunca mais


Canoa de vela panda 
Que sobes o Rio Tejo
E trazes da outra banda 
O sol do meu Ribatejo

Repara no meu campino 
Levando o gado a pastar
Sem conhecer o destino 
Que Deus tem para nos dar

Com este título escreveu Frederico de Brito uma versão pouco conhecida, 
muito próxima da anterior, do repertório de Fernanda Maria.
Não se sabe com segurança qual das versões é mais antiga. 
Pelas datas de registo, que nem sempre correspondem à cronologia da produção
*Canoa de Vela Branca* (1976) será posterior a Canoas do Tejo (1973).
Verifica-se ser aquela uma versão para mulher
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*

Apenas por te deixar

Maria de Lurdes Carvalho / Martinho d'Assunção
Repertório de Manuel de Almeida

Deixei-te uma noite p'ra viver
Andaste sem destino a vida inteira
Entre estrelas queinaste o teu sorriso
Teu corpo repousou em muita esteira

Deixei-te a liberdade para amar
Correste braços, braços, sem parar
Buscavas com a sede de gazela
A àgua que ninguém te quis negar

Deixei-te ao prazer dos teus quereres
Apressaste no ventre os teus desejos
Passaram primaveras p'los jardins
E como em tantas bocas, os teus beijos

Deixei-te de olhos belos, brasa pura
No peito, esperança larga, céu imenso
Encontrei-te ajoelhada, noite escura
Vivendo das loucuras, o silêncio

Madeira terra de amor

Letra e música de João Nobre
Repertório de Tristão da Silva

Anda o mundo inteiro
Sempre, sempre a procurar-te
Ilha da Madeira
O teu encanto ninguém nega
Ės o lenço verde
Acenando p'ra quem parte
E um sorriso aberto
P'ra quem chega

Madeira, és sonho e prece
Milagre que Deus não esquece
Tuas noites lindas
Envolvem o amor no seu manto
E a saudade fala de ti, do teu encanto
Amor que nasce um dia
Será prá vida inteira
E quem fizeste feliz
Para sempre te bem diz
Ó terra d'amor, Madeira

Bendita saudade

Domingos Gonçalves Costa / Alfredo Duarte
Repertório de Fernanda Maria 
Este poema também foi gravado por Diana Vilarinho 
na música do fado Bragança de Alberto Costa

Quem chora por ter saudade
A meu ver não tem razão
Pois na vida, quanta vez
A saudade è na verdade
A doce recordação
D'ilusão que se desfez

Quem amou sem ser amada
Quem se embalou na miragem 
Dum falso amor a brilhar
Traz a saudade guardada
Para lhe dar mais coragem 
E nunca a pode deixar

Portanto, pobre de quem
Diz que a saudade anda unida 
Ao mais atroz padecer
Pois quem saudades não tem
Pode viver toda a vida 
Que não chegou a viver

Vagabundo das vielas

Maria de Lurdes Brás / João Nobre *ser fadista*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Fado... vagabundo das vielas
Tu paras em todas elas
Onde possas pernoitar
Fado... és amante da guitarra
Levas a noite na farra
Até ver o sol chegar

Querido fado
Eu quero ser tua amiga
Fazer de ti a cantiga
Que p’ra mim é oração
Vagabundo
Andas na boca do mundo
Mas tenho-te amor profundo
Fado do meu coração
Velho fado.
És vagabundo da noite
Já não tens onde te acoite
E fazes da noite dia
Fado amigo
Quero vaguear contigo
Fazer da noite um abrigo
Ser a tua companhia

Fado... há quem te chame vadio
Mas sentes orgulho e brio
Se ouves assim chamar
Fado... ès velho não tens idade
E só te resta a saudade
Das histórias p’ra contar

Perguntas

Delfim da Silva / Raul Ferrão *fado carriche*
Repertório de Tristão da Silva

Não me perguntes, que importa
Quantos amores conheci
O passado è letra morta
Hoje só gosto de ti

Acaso uma flor mimosa 
Tenta saber, indiscreta
Por quantos botões de rosa 
Se perdeu a borboleta

Diz-me se a areia da praia 
Alguma vez perguntou
Ao mar que nela se espraia 
Quantas praias já beijou

Também o sol não se amua 
Nem a ciúmes se aferra
Por saber que à noite, a lua 
Com seu luar beija a terra

O amor passado desfaz-se 
Só saudades faz vibrar
E um novo amor, quando nasce 
È sol ardente a brilhar

Eu dou-te, em beijos na boca 
Pedaços do coração
Como podes minha louca 
Duvidar desta afeição

Todos os caminhos vão dar a ti

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de António Mourão

Tenho corrido estradas sem fim
Andado em ruas que nunca vi
Mas afinal, p'ra quê, amor
Todos os caminhos vão dar a ti

Às vezes quero não encontrar
Aquela rua que eu já perdi
Mas quando ando, não sei porquê
Todos os caminhos vão dar a ti;
Quero ir p'ra longe, quero partir
Não viver mais o que vivi
Ai que caminho vou eu tomar
Todos os caminhos vão dar a ti


Por toda a parte eu já andei
Por toda a parte, amor, vivi
Andei fugindo mas encontrei-me
Todos os caminhos vão dar a ti

Adeus à mocidade

Manuel de Almeida / Popular *fado menor*
Repertório de Manuel de Almeida

Disse adeus à mocidade
Entre lágrimas e ais
O tempo, grande verdade
Passando não volta mais

Passa breve a mocidade 
O tempo d'ilusões feito
Só não passa esta saudade 
Que trago dentro do peito

Vocês devem perdoar-me 
Umas certas liberdades
Eu bem sei que ando a matar-me 
Mas ando a matar saudades

Não sei contudo entender 
Estes balanços da sorte
Estou cansado de viver 
Mas tenho medo da morte

Ai amigos quem me dera

Domingos Gonçalves Costa / Raul Ferrão
Repertório de Fernanda Maria

Ai amigos quem me dera
Viver no tempo passado
Em que a Maria Severa
Era a rainha do fado

Poder cantar ao desafio
À luz do luar, noites a fio
Com malta fixe 
Da boémia e do passado
Correr enfim, toda a Lisboa
A Mouraria, a Madragoa
Mostrar contente a toda a gente 
O nosso fado

Ir em qualquer traquitana
De rosas toda enfeitada
Até ao Campo de Santana
A uma castiça toirada

Depois voltar à linda Alfama
E junto ao mar que tanto ama
Eu cantaria a serenata mais bairrista
Após raiar o novo dia
Ia descansar p'rá Mouraria
Louvando a Deus, amigos meus
Por ser fadista

Meus tempos de criança

Letra e música de Ataulpho Alves
Repertório de Tony de Matos

Eu daria tudo o que tivesse
Para voltar aos tempos de criança
Eu não sei porquê a gente cresce
E não sai da gente esta lembrança

Aos domingos, missa na matriz
Na cidadezinha onde eu nasci
Ai meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino país

Que saudades da professorinha
Que me ensinou o bê à bá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará

Eu igual a toda a garotada
Quantas diabruras eu fazia
Jogo do botão pela calçada
Eu era tão feliz e não sabia

Este mundo não presta

Fernando Farinha / Domingos Camarinha
Repertório de Fernando Farinha

Este mundo não presta
Nunca foi natureza
Não lhe mintas sorrindo
Não lhe inventes beleza

Morra eu em tristeza 
Vivas tu sempre em festa
Para
nós, para todos 
Este mundo não presta

Este mundo não presta 
É navalha apontada
Tanto ao rico de tudo 
Como ao pobre de nada

Traz a cara tapada 
Tem cinismo de besta
Diz a todos que dá 
Mas no fim só empresta

Tu lhe pagas p'ra rir 
Eu lhe pago chorando
Alguns pagam morrendo 
Outros pagam matando

Até quando, até quando 
Vamos nós ter assim
Este mundo sem jeito 
Sem princípio nem fim

Lisboa bairrista

Lopes Victor e música de Martinho d'Assunção
Repertório de Fernanda Maria

Sempre que Lisboa deita 
Fora da porta, o seu pé
Alfama logo aproveita 
Logo aproveita a maré

A maré traz maresia 
Todos sabem que assim é
Sendo assim
A Mouraria mais a Guia 
Lá vão também na maré

Lisboa é sempre bairrista
Bisbilhoteira, sempre fadista
Quando na rua se mete
Tem logo sete p'ra namorar
Tem logo as Setes Colinas
Que são meninas do seu olhar
Lisboa lá vai com fé
Larilolé,  sempre a cantar


Vai à Bica, à Madragoa 
De Benfica até à Sé
Fazendo a corte a Lisboa 
Bairro Alto fica ao pé

P'ra Lisboa muito dela 
Sempre que Lisboa sai
Ninguém pode ter mão nela
E é só dela a rua p'ra onde ela vai

Saudades do Ribatejo

Maria de Lurdes Brás / Frederico Valério *cavalo ruço*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Eu já fui ao Ribatejo
E não esqueço com certeza
Aquela festa bravia
Que eu lá vi um dia
Bem à portuguesa

De tudo por lá havia 
Touros fado e vinho tinto
Dessas horas bem passadas 
Com fado e touradas
Que saudades, sinto

As charnecas e lezírias 
Que noutro lado não vejo
Mostram a quem por lá passa 
A destreza e a raça
Que há no Ribatejo

Gostava de lá voltar 
Àquela terra de encanto
Voltar a ver novamente 
Essa boa gente
P’ra quem hoje canto

Vou recordar para sempre 
A gente Ribatejana
Guardarei a imagem 
Da bela paisagem
Que é bem lusitana

Ao recordar tudo isto 
Uma tristeza me invade
E hoje a recordação 
Mora em meu coração
É tudo, saudade

A casa da malta

António Vilar da Costa / Nóbrega e Sousa
Repertório de Manuel de Almeida

A casa perdida à beira da estrada
Ande os meus sonhos encontram pousada
Não tem um brasão, nem ricas baixelas
Mas tem o telhado coberto d'estrelas

Às vezes desejo
Por minha pousada
A casa da malta
À beira da estrada


A casa da malta não tem sentinela
Apenas a lua lhe ronda a janela
As almas libertas dum rumo traçado
Não têm fronteiras de arame farpado

E chegam de noite, sacola vazia
Na casa da malta é sempre meio-dia
E colhem esperanças no sol e no vento
Que o sonho prás almas é meio sustento

Há frio nas almas, o mundo vai mal
Na casa da malta é sempre natal
Só lêem nos astros, são rudes plebeus
Mas sabem que todos são filhos de Deus

Eu canto para todos vós

Tema gravado por Rodrigo com o título 
*Nada é pobre quando é povo*
Vasco Lima Couto / António Chaínho
Repertório de Vasco Rafael

O fado, antigamente, era o recado
Das vielas sangrentas de Lisboa
E o protesto do amor desanimado
Canto livre dos olhos sem passado
Em mil versos que o tempo não perdoa

Nas tavernas do vinho, em noite suja
Onde as praias da voz não se encontravam
As guitarras falavam da cidade
Nos versos desse vinho onde a saudade
Cantava a maldição dos que choravam

Todos amordaçavam editais
A adormecer os ricos deste mar
Que pagavam o fado com o seu nome
E fingiam não ver a cor da fome
Em gerações sem tempo e sem lugar

Mas foram os poemas desse longe
Que ultrapassei, porque hoje me renovo
O tempo aberto e livre da canção
Do meu país chegado ao coração
Eu entrego feliz à voz do povo

Ausência

Sebastião Silva / Ivan Pires
Repertório de Tony de Matos

Se a tua ausência durar
Vou sofrer, vou chorar... de saudade
Tudo o que me restou
Deste infeliz amor... foi a saudade

Se soubesses como penso em ti
Como
è triste um coração sozinho
Voltarias ao meu lado, amor
Reconstruir nosso ninho

Um erro
Um erro não justifica
Esta saudade infinita
Que me separa de ti

Lágrimas diferentes

Domingos Gonçalves Costa / Jaime Santos *alexandrino*
Repertório de Fernanda Maria
Editado com o título *O que as lágrimas dizem*
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*

Quase ninguém dá conta, ao ver alguém chorar
Do que a lágrima diz quando aos olhos aflora
Essa boca de luz no seu estranho brilhar
É um espelho a refletir a vida de quem chora

A lágrima da vida nuns olhos divinais
Lembra a luz da manhã dum dia apetecido
Nem tem comparação com as lágrimas fatais
Que queimam como fogo os olhos dum vencido

A lágrima da mãe quando nos dá a vida
É cor que a tarde empresta a um dia divinal
E a lágrima chorada à hora da partida
É hino de saudade, às vezes imortal

Na vida em que se afunda sorrisos e cansaços
A lágrima mais pura, a que jamais tem par
É uma, a que se esconde atrás duns olhos baços
Que fartos de sofrer já nem sabem chorar

Longe da pátria

Vilar da Costa / Armandinho *fado mayer*
Repertório de Fernando Farinha

Se queres saber 
A dor pungente que um peito encerra
E o que é sofrer 
Um dia ausente da tua terra
Sai barra fora
Vive que uma vez no alto mar
E nessa hora
Se és português tens de chorar

Saindo a barra uma guitarra
No seu trinar fagueiro
E a voz dum marinheiro
Numa canção bizarra
È Portugal com a sua meiga voz
Sentimos a palpitar
Saudades dentro de nós


O português
Triste suspira e ninguém fala
Só no convés 
À voz da lira, o peito embala
Tudo emudece 
Ao recordar a pátria mãe
E até parece 
Que o próprio mar chora também

Ronda pelo passado

Maria de Lurdes Brás / José Duarte *fado seixal*
Repertório de Augusto Jorge

Eu passei, no Bairro Alto
Alta noite a horas mortas
E fiquei em sobressalto
Pensei logo dar um salto
Ao fado, fora de portas

Mas passei p’la Mouraria 
Quis recordar o passado
E senti, com nostalgia 
Pois vi que não existia
O velho sabor a fado

Fui à Bica e Madragoa 
Onde o fado teve fama
Nos recantos de Lisboa 
Onde o fado mais se entoa
É na doce e velha Alfama

Nesta ronda, p’lo passado 
Com fadistas de virtude
Descobri um novo fado 
E que vive abençoado
P’la Senhora da Saúde

Trova eterna

Domingos Gonçalves da Costa / Francisco Carvalhinho
Repertório de Manuel Fernandes

Com sua divina graça
Deus quis dar a Portugal
O fado, canção de raça
De mimo e graça
Trova imortal

Deu-nos um sol radioso
E o mais formoso luar
Por isso, como ditoso
Feliz garboso diz a cantar

Dá-me essa velha guitarra
E vem para a farra
A noite está linda
Vamos para a Mouraria
Que embora sombria
Não morreu ainda
Depois iremos p'ra Alfama
Um bairro de fama 
E de gente boa
P'ra dizermos lado a lado
Que é lindo o fado 
Desta Lisboa

Ao fado canta-se a lida
Feliz ou triste também
Com voz alegre ou sentida
Conforme a vida 
Que a gente tem

P'ra se cantar, finalmente
Serve um motivo qualquer
Por isso constantemente
A toda a gente se ouve dizer

Como palavras de fado

Fernando Campos de Castro / Filipe Pinto *fado meia-noite*
Repertório de João Loy

Estas mãos já não são minhas
Meu amor se te lembrasses
Dei-te as mãos que tu não tinhas
À espera que me tocasses

Sonhei noites, morri dias 
À espera dum toque teu
Dessas mãos que tu dizias 
Tão perto do corpo meu

Deixaste em mim a saudade 
Que o teu corpo me deixou
De viver nesta ansiedade 
De já nem saber quem sou

Não sei que fado é o fado 
Que me faz ficar assim
Com todo o mundo enleado 
À solta dentro de mim

Foste presente em passado  
No meu olhar todo azul
Como as palavras de fado 
Que canto de Norte a Sul

Casinha dum pobre

Frederico de Brito / Carlos Rocha
Repertório de Manuel Fernandes 

Uma casinha dum pobre
É um cantinho dos céus
Por sobre a telha que a cobre
Há sempre a benção de Deus

Tem mais graça mais encanto
Quanto mais pequena for
Estamos mais perto, portanto
Quanto mais perto melhor

Uma casa pequenina como a nossa
É duma graça tal 
Que até nos faz lembrar 
Um ninho num beiral
Uma casa pequenina como a nossa
A tanto se reduz
Que um beijo do luar
Enche-a toda de luz
Uma casa pequenina chega a ser
Um traço de união 
Entre o amor e o prazer

Ao princípio, a vida amena
A graça de Deus, depois
Eu chego a dizer, que pena
Ela não ser mais pequena
P’ra só cabermos os dois

A esperança é candeia acesa
Que nos dá vida e calor
A fé é quem põe a mesa
E assim vive o nosso amor

O trabalho acende o lume
Que não mais se apagará
Não se abre a porta ao ciúme
Porque não cabia lá