Mil cores
Carlos
Baleia / Daniel Gouveia
Repertório
de Daniel Gouveia
Se
houver um norte de amor
Orientado
para sul
Se
esse amor tiver cor
E
se essa cor for azul
Hei-de
dar um verde ao céu
Em
sinal de segurança
P’ra
que o azul seja meu
A
dar cor à minha esperança
Se
o amor viver no sul
E o ocaso for laranja
Com
raios de um sol azul
Que só no sonho se arranja
O
verde da minha esperança
Com laivos encarniçados
É
um arco-íris que dança
Em pontos desencontrados
Se
o amor tiver mil cores
Com cem pontos cardeais
Como
a vida tem amores
E o mar tem vendavais
Não
pode o tom da paixão
Vir a ser um e não mais
Como
arco-íris sem razão
De sete cores sempre iguais
Quero
um amar verde-azul
Amarelo-alaranjado
Aurora
de norte e sul
Com poente avermelhado
A
marcar sonhos de cor
De um arco-íris inventado
De um verde nascer de amor
Com pôr-do-sol azulado
Sendo eu Tejo e tu navio
Carlos
Baleia / Daniel Gouveia *fado navio*
Repertório
de Daniel Gouveia
Lisboa,
que entras em mim
Na
tua luz, nos teus cheiros
Nos
versos que te cantaram
Onde
Cesário é jardim
Teus
cantadores, Marceneiros
Dos
tronos que te enfeitaram
Das
ruelas, dos recantos
Norberto
tinha o segredo
Que
ainda por ti circulam
E
de mistérios e encantos
São
tecidos os enredos
Que
os teus anos acumulam
Há
mouros pelas esquinas
E
no cais vozes gentias
Relembram
tudo o que és
E
as gaivotas p’las colinas
São
poetas, são vigias
Que
te cruzam lés-a-lés
Teu
Santo António nas ruas
Não
sei se discursa ou não
Para
os peixes deste rio
Mas,
tu, que bem te insinuas
Entraste
em meu coração
Sendo eu Tejo e tu navio
Anos a fio
Carlos
Baleia / Daniel Gouveia
Repertório
de Daniel Gouveia
Tomem
cuidado
Porque agora sou poeta
Que
de maneira indiscreta
Deixa
cantar versos loucos
Escrevi
um fado
Que em tom leve do corrido
Até
ficou no ouvido
Dos
que dizem que são moucos
Esse
meu fado
Não canta fora de portas
Não
vive nas horas mortas
Nem
tem dores para chorar
É
só cantiga
Que já não conhece briga
Nem
navalha nem intriga
Mas
que insiste em cá ficar
Por
isso luta
Com o rap, o funck, o rock
E
tudo o mais que se toque
Neste
século vinte e um
E
na disputa
Este meu fado aparece
Como
herdeiro que não esquece
Memórias
do trinta e um
O
trinta e um
Duma vida assim-assim
Onde
a rocha faz de mim
Mexilhão
de mar bravio
Em
que nenhum
Dos donos do que nós temos
Imagina
o que aprendemos
Com o fado, anos a fio
Seja meu fado o que for
Carlos
Baleia / Daniel Gouveia *fado mesclado*
Repertório
de Daniel Gouveia
Tenho
meu fado de cor
Em
tudo o que veio de ti
Tu
foste o fado maior
Dos
amores que eu vivi
Não
digam que ele é Menor
Pois
por ele me perdi
Eu
estou preso nesse dia
Em
que o meu sonho ruiu
E
chorei numa agonia
Que
o fado nunca sentiu
Não
digam que é Mouraria
Este
meu fado vazio
Desde
então tenho vivido
Se
a isto viver se chama
Nas
saudades sem sentido
Que
vêm da tua cama
Não
digam que é Corrido
Fado
triste de quem ama
Seja
meu fado o que for
Veio
de ti e em mim ficou
Fado
que tenho de cor
E
que minha voz calou
Para não cantar a dor
E a saudade que deixou
Se tu fosses como eu queria
Carlos
Baleia / Daniel Gouveia
Repertório
de Daniel Gouveia
Se
tu fosses como eu queria
Em vez de seres como és
Decerto
te adoraria
E cairia a teus pés;
Serias
dona do mundo
Se o mundo me pertencesse
E
até um amor profundo
Talvez a ti, te oferecesse;
Bastaria
um só olhar
Um sorriso, uma ternura
P’rá
vida se transformar
Em duradoura ventura
Mas, tu, tirana
És
cruel, és indiferente
E soberana
Assim
passas entre a gente
Segues sem ver
Altiva no teu andar
Todo este querer
Que
eu guardo para te dar
E nesse andar
Onde
pisas sentimentos
Não há pesar
Por
desgostos ou tormentos
Mas
um dia tarde ou cedo
Quando o amor te atingir
Decerto
sentirás medo
Ou vontade de fugir;
E
rezo aos santos amigos
Que eu seja disso culpado
Desejando-te
castigos
Pelo desprezo que tens dado;
Castigos
que a mim te prendam
Correntes que não desatem
Beijos
que me surpreendam
Ou carícias que me matem
Pois
tu, tirana
Tão cruel e indiferente
A
tal soberana
Que nem via a outra gente
Hás-de
perder
O estilo do teu pisar
E
merecer
O amor que posso dar;
E
encantada
Com vida de nova cor
Por mim chamada
Correrás para o amor
Prece à noite
Torre
da Guia / Manuel dos Santos
Repertório
de Fernando João
Que
a noite seja leito de ventura
Em cada coração despedaçado
Que a noite seja fonte de ternura
Nas trevas de quem vive abandonado
Em cada coração despedaçado
Que a noite seja fonte de ternura
Nas trevas de quem vive abandonado
Tragam-me
a noite inteira numa taça
E um vinho de verdade que me aqueça
A noite é mensageira e por desgraça
Só vive de saudade quem regressa
E um vinho de verdade que me aqueça
A noite é mensageira e por desgraça
Só vive de saudade quem regressa
E
muito-muito antes que amanheça
Que exista ainda um fado por fadar
E que um par de amantes adormeça
Nos braços dum pecado por pecar
Que exista ainda um fado por fadar
E que um par de amantes adormeça
Nos braços dum pecado por pecar
Que a noite seja rumo e caminho
Jornada de regresso à felicidade
Que a noite seja lar, seja cantinho
Jornada de regresso à felicidade
Que a noite seja lar, seja cantinho
De paz, de amor, de liberdade
Envelhecer em Lisboa
Carlos
Baleia / Daniel Gouveia
Repertório
de Linda Leonardo
Sinto
a cidade
Em passos que vou cumprindo
No
avançar da idade
Em sonhos que vão caindo
E
a saudade
Colada nos meus cansaços
Segue
o rumo dos meus passos
A falar da mocidade
No
empedrado
Vou lendo histórias antigas
Livro
magoado
Que inspira suas cantigas
Ouvem-se
os sinos
Das igrejas do Chiado
E
os meus passos peregrinos
São ecos do meu enfado
Sinos
de fado
Estranha oração de Lisboa
Um
som salgado
Na cidade de Pessoa
Poema
ouvido
Soluço que dobra a esquina
E
é repetido de colina p'ra colina
Peso
nos ombros
Água nos olhos saudosos
Dos
meus escombros
Relembro tempos viçosos
Ao
caminhar nesta viela escondida
Sem partir e sem chegar
Cumpro meus passos na vida
O rio do meu sonho
José
Fernandes Castro / Armando Machado *fado marana*
Repertório
de Rute Rita
O
rio do meu sonho já secou
Agora
só existo neste fado
O
mar onde o meu barco navegou
Tem
ondas de prazer desencantado
O
rio do meu pranto, tem agora
O
sal da solidão e do tormento
A
vida já não tem data nem hora
Pois
tudo se resume ao sofrimento
O
rio transbordante do meu peito
Não
tem o encantamento das marés
Meu
sonho, já distante e já desfeito
Não
tem a cor do amor com que me vês
Mas
mesmo assim, eu quero que o meu rio
Naufrague,
no teu mar encapelado
E
vá beijar a proa dum navio
Que trago a navegar neste meu fado
Sé velhinha
Américo
Costa / Isidro Batista
Repertório de João Correia
Este tema foi também gravado com o título "Passo à Sé"
Este tema foi também gravado com o título "Passo à Sé"
Passo
à Sé já de noitinha
Vou encostar-me ao pelouro
Tranquila
em sonho ledo
Vejo
a Ribeira rainha
Enamorar-se do do Douro
Dando
ciúme a Barredo
E
a Maria Manuela
Com o seu xaile traçado
À
modinha afadistada
No
chão se ajoelha e reza
E pôs-se a cantar o fado
Até
alta madrugada
Eu quero viver sempre
na Sé
Porque tu, Sé
És o meu torrão
amado
Tu, Sé velhinha
És o meu berço
sagrado
E do Porto és a
rainha
E és rainha do fado
Vejo
o Chico de samarra
E calça à boca de sino
Isto,
às três da madrugada
Leva
consigo a guitarra
E já ébrio, quase sem tino
Cambaleia
na calçada
Eu
vejo o Fá e a amante
Em sincera comunhão
Embora
dois plebeus
Eu
vejo a lua distante
A cair na
imensidão
E à Sé dizendo adeus
Para sempre
Carlos
Baleia / Daniel Gouveia
Repertório
de Daniel Gouveia
Nasceu
o amor, nos dias de escola
Ela
era traquina, ele, um mariola
E
assim se olhavam, num jeito maroto
Amor
da menina, paixão do garoto
Corações
gravados em muito jardim
Num
dia de sol, disseram que sim
E
a gente sabia qual era o destino
Num
dia de chuva, nasceu um menino
E
foram marchando, vencendo a batalha
Sabendo
sorrir, desculpando a falha
E
em seus olhares não morre o desejo
Que
as breves zangas acabam num beijo
A
velha menina e seu rapazola
De
cabelos brancos, já não vão à escola
E
é coisa bem rara passear pela rua
Mas o amor de sempre neles continua
Há choro na Mouraria
Carlos
Baleia / Daniel Gouveia *fado naifa*
Repertório
de Daniel Gouveia
Este poema também foi gravado por Daniel Gouveia
na Marcha do Manuel Maria de Manuel Maria Rodrigues
Certa
noite violenta
Frente à taberna sebenta
Uma
navalha matou
Na
rua do Capelão
Dois
homens foram ao chão
Mas
só um se levantou
Gritos
da mesma mulher
Que
se dava a um qualquer
Soaram
pelo desgraçado
E
desfizeram-se em pranto
Nunca
ninguém soube quanto
Junto
ao corpo trespassado
Ele
fora um marinheiro
Que
num gesto cavalheiro
Quis
defender a Severa
Da
arremetida de um faia
Malvado,
que de atalaia
Por
ela ficara à espera
Coisa
nova para ela
Ter
recebido a tutela
De
um homem que ia a passa
E
a fadista, comovida
A
dura mulher da vida
Só lhe agradece a chorar
A luz dum grande amor
José
Fernandes Castro/ João Maria dos Anjos
Repertório
de Rute Rita
Desliga
a luz da tristeza
E
dá-me a claridade
Desse
teu olhar feliz
A
cor da tua beleza
Tem
a mesma intensidade
Do
amor que eu sempre quis
Desliga
a luz e sossega
Nos
braços deste prazer
Que
me sufoca no peito
Este
peito que se entrega
Ao
suave amanhecer
Deste
nosso amor perfeito
Desliga
a luz do luar
E
vem comigo provar
Os
sonhos da sedução
Em
nome do amor profundo
Temos toda a luz do mundo
E o mundo na nossa mão
Num bar
Domingos
Gonçalves Costa / Eugénio Pepe
Repertório
de Tony de Matos
De
bar em bar
Bebida
atrás de bebida
Foi assim a minha vida
Meses, tentando esquecê-la
Mas era à noite
Foi assim a minha vida
Meses, tentando esquecê-la
Mas era à noite
Que
a minh'alma incompreendida
Por entre a noite perdida
Louca, corria atrás dela
Ninguém suponha
Que um homem que adora e quer
Poderá sentir vergonha
Por gostar duma mulher
Pode chorar
Pode sentir-se infeliz
Ao fazer como eu já fiz
Esconder suas dores num bar
Na imensidão
Por entre a noite perdida
Louca, corria atrás dela
Ninguém suponha
Que um homem que adora e quer
Poderá sentir vergonha
Por gostar duma mulher
Pode chorar
Pode sentir-se infeliz
Ao fazer como eu já fiz
Esconder suas dores num bar
Na imensidão
Desse
bar, só uma imagem
P'ra me tirar a coragem
Surgia na escuridão
Imagem bela
Que
eu adoro e no entantoP'ra me tirar a coragem
Surgia na escuridão
Imagem bela
Eu estava ali para um canto
Louco, tentando esquecê-la
Louco, tentando esquecê-la
P’ra me livrar da saudade
Mário Rainho / Frutuoso França *fado jovita*
Repertório de Fernando Jorge
Esta melodia que aparece como sendo o Fado Jovita
é o Fado Moreninha de Santos Moreira
Desculpem, que a saudade não me deixa
E não me sai da alma, onde se abriga
Já fiz ao coração, tanta vez, queixa
Mas esse pobre louco não me liga
Bem tento excomungá-la do meu peito
Da boca, aonde sobe a toda a hora
Mas, a saudade sempre arranja jeito
Desculpas pra ficar, não ir embora
Se acamo, os meus lençóis, pra dormir
Logo ela toma conta d’almofada
E possui os meus sonhos, a sorrir
Desperta-me por tudo e até por nada
Mas hei-de arranjar modo de despejo
Para a arrancar de mim, forçosamente
Nem que, pra isso, engane o seu desejo
E vá viver contigo, novamente
Já fiz ao coração, tanta vez, queixa
Mas esse pobre louco não me liga
Bem tento excomungá-la do meu peito
Da boca, aonde sobe a toda a hora
Mas, a saudade sempre arranja jeito
Desculpas pra ficar, não ir embora
Se acamo, os meus lençóis, pra dormir
Logo ela toma conta d’almofada
E possui os meus sonhos, a sorrir
Desperta-me por tudo e até por nada
Mas hei-de arranjar modo de despejo
Para a arrancar de mim, forçosamente
Nem que, pra isso, engane o seu desejo
E vá viver contigo, novamente
Anjos caídos
Fernando Campos de Castro / Pedro Rodrigues
Repertório de Paulo Cangalhas
Nesta hora de partida
Será tempo de ficar
Neste desejo que abrasa
Dois amantes sem ter casa
E sem ter onde morar
Fiquemos à beira-esquina
Onde a noite se insinua
Depois que tudo adormeça
E a cidade nos ofereça
O quarto aberto da rua
Com lençóis de neblina
Sob a luz dum candeeiro
Boca na boca em ternura
Seremos corpo em loucura
Bem maiores que o mundo inteiro
Como dois anjos caídos
Nas pedras negras do chão
Dormiremos já cansados
Com os corpos abraçados
Em forma de coração
Fado nocturno
Feijó
Teixeira / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório
de Amália
Tema gravado por Carlos do Carmo com o título *Rodam as quatro estações*
Rodam
as quatro estações
Dá
lugar o sol à lua
Cai
a noite sem pregões
E
nós ficámos na rua
A
escutar dois corações
Que
dizem que vou ser tua
Podes
dizer-me um adeus
E olhar-me com desdém
Eu
sei que não serás meu
Só
quero que todo o bem
Que agora mesmo morreu
Não
o dês a mais ninguém
Cegam-me
as luzes perdidas
Que se escondem p’la cidade
Horas
mortas já vencidas
Doem-me
as dores da saudade
E das saudades fingidas
De
quem finge ter saudades
Depressa, vem depressa
Diogo
Clemente / Manuel Mendes
Repertório
de André Vaz
Depressa,
vem depressa ter comigo
Antes
que eu escreva aquilo que não quero
Beijos
que ficam dores, o quadro antigo
Que
impele teimosamente ao desespero
Depressa,
com a força das marés
Banha-me
a praia, salga a minha areia
P’ra
que eu esqueça do amor o seu revés
E
a voz suave e rouca da sereia
Depressa,
vem beijar-me como dantes
Guarda-me
a alma, sou eu que te chamo
Falei
co’a solidão há uns instantes
E
tanto ódio te tenho, como te amo
Depressa,
leva a dor do pensamento
Que
assim que eu te abraçar já não interessa
O
tudo que hoje quero é o momento
Depressa meu amor, vem mais depressa
Fado na palma da mão
Diamantina e Tiago Santos / Popular *mouraria estilizado*
Repertório de Diamantina
Não sei se é fado ou sina
Ou se é sina este fado
Que trago desde menina
Na palma da mão, gravado
Sonhei viver p’ra cantar
E p’ra te ter a meu lado
Ninguém me soube contar
De ciúmes morre o fado
Sem pedir, prendeu-me a si
Deixou-me presa em vontade
E agora guardo de ti
Somente a terna saudade
Deve ser este o meu fado
Saber ao fado dar sina
Pois continua gravado
Nas minhas mãos de menina
Casario
Vasco Graça Moura / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto
Em Lisboa eu prefiro o casario
Que se narcisa visto da outra banda
No espelho às vezes turvo deste rio
Na limpidez do rio às vezes branda
É entre o mar da palha e o bugio
Que o renque das fachadas se desmanda
Em tons de porcelana ao desafio
Em cada patamar, cada varanda
E a luz de água e azul a derramar-se
Vem envolver-lhe o vulto refletido
Dar-lhe o contraste de uns ciprestes, dar-se
Como um banho lustral e desmedido
É véu de gaze leve o seu disfarce
Mas é tão ténue e frágil o tecido
Que pode acontecer que ainda o esgarce
Um voo de gaivotas esquecido
Então seu corpo sob o véu rasgado
Terá uma outra luz densa e leitosa
Translúcida nudez do compassado
No espelho às vezes turvo deste rio
Na limpidez do rio às vezes branda
É entre o mar da palha e o bugio
Que o renque das fachadas se desmanda
Em tons de porcelana ao desafio
Em cada patamar, cada varanda
E a luz de água e azul a derramar-se
Vem envolver-lhe o vulto refletido
Dar-lhe o contraste de uns ciprestes, dar-se
Como um banho lustral e desmedido
É véu de gaze leve o seu disfarce
Mas é tão ténue e frágil o tecido
Que pode acontecer que ainda o esgarce
Um voo de gaivotas esquecido
Então seu corpo sob o véu rasgado
Terá uma outra luz densa e leitosa
Translúcida nudez do compassado
Coração da cidade branca e rosa
Gente do mar
João Dias / Casimiro Ramos *fado três
bairros*
Repertório de Rodrigo
Eu nasci olhando o mar
Com movimento de gente
Remando contra a maré
Mas no duro mourejar
Não deixa de olhar de frente
A vida tal como é
Remando contra a maré
Mas no duro mourejar
Não deixa de olhar de frente
A vida tal como é
Gente com a pele curtida
Queimada de sol e sal
Queimada de sol e sal
No rigor dos temporais
Vidas lutando pela vida
Longe deste vendaval
Vidas lutando pela vida
Longe deste vendaval
De lutas para cá do cais
Eu nasci ouvindo o vento
Em fragas e areais
Em fragas e areais
Soprando em velas redondas
Aprendi corpo ao relento
Entre moços e arrais
Aprendi corpo ao relento
Entre moços e arrais
O alfabeto das ondas
Gente para quem o norte
É o pão de cada dia
É o pão de cada dia
E diz só o que é preciso
O pão às vezes é morte
O pão às vezes é morte
E o mar quando se arrelia
Quase nunca traz aviso
O palhaço
Autor desconhecido / Amadeu Ramim *fado zeca*
Repertório de José Manuel Barreto
Foi na pista dum circo, certo dia
Um famoso palhaço trabalhava
E o publico em delírio e alegria
Não nota que na pista alguém chorava
Dada por finda a sua atuação
Do público se despede o artista
Mas nisto uma estrondosa ovação
Exige que o palhaço volte à pista
Ao longe ouviu-se a voz dum garotinho
Que o rir de muita gente interrompeu
Dizendo; vem depressa meu paizinho
Porque a minha mãezinha já morreu
Abraçado ao petiz a soluçar
O palhaço caiu por sobre a pista
Então ouviu-se o público a gargalhar
Pensando ser trabalho do artista
O palhaço levantando-se se ergueu
Dizendo para todos com voz forte
A mulher que eu mais amo já morreu
E vós estais a rir da sua morte
O garoto que eu agora muito abraço
É tudo quanto resta do meu lar
Por isso tenham pena dum palhaço
E o publico em delírio e alegria
Não nota que na pista alguém chorava
Dada por finda a sua atuação
Do público se despede o artista
Mas nisto uma estrondosa ovação
Exige que o palhaço volte à pista
Ao longe ouviu-se a voz dum garotinho
Que o rir de muita gente interrompeu
Dizendo; vem depressa meu paizinho
Porque a minha mãezinha já morreu
Abraçado ao petiz a soluçar
O palhaço caiu por sobre a pista
Então ouviu-se o público a gargalhar
Pensando ser trabalho do artista
O palhaço levantando-se se ergueu
Dizendo para todos com voz forte
A mulher que eu mais amo já morreu
E vós estais a rir da sua morte
O garoto que eu agora muito abraço
É tudo quanto resta do meu lar
Por isso tenham pena dum palhaço
Que leva a vida rir pra não chorar
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