-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.300' LETRAS <> 3.180.000 VISITAS * ABRIL 2024 *

. . .

Despassarado

Pedro Silva Martins / Luís Silva Martins
Repertório de António Zambujo

Eu sei que sou o rei das falsas esperanças
Que meço muito mal distâncias
Mas isso é só porque eu sou
Desorganizado

Eu sei que nunca cumpro o que prometo
Que falo muito e depois esqueço
Mas tu sabes como eu sou
Tão despassarado

Lamento
Mas só daquilo que eu não digo
É que me arrependo
Quero casar contigo

Eu sei que achas isto um devaneio
Que nunca vais levar a sério
Mas também bate um coração
Num destrambelhado

Eu sei que tu só acreditas vendo
Pois fique 7 de novembro
E tens aqui esta canção
Anel de noivado

Chuva no mar

Arnaldo Antunes / Marisa Monte
Repertório de Caminho e Marisa Monte

Coisas transformam-se em mim
É como chuva no mar
Se desmancha assim
Em ondas a me atravessar
Um corpo sopro no ar

Com um nome p’ra chamar
É só alguém batizar
Nome p’ra chamar de nuvem
Vidraça, varal
Asa, desejo, quintal
O horizonte lá longe
Tudo o que o olho alcançar 
E o que ninguém escutar

Te invade sem parar
Te transforma sem ninguém notar
Frases, vozes cores, ondas
Frequências, sinais
O mundo é grande demais
Coisas transformam-se em mim
Por todo o mundo é assim
Isso nunca vai ter fim

Aos sete ventos

Tiago Torres da Silva / Armando Machado *fado aracélia*
Repertório de Cristina Branco

Já toda a gente sabe a novidade
O fado, que nasceu na Mouraria
È património da humanidade
E quebra mais fronteiras dia a dia

Há quem tenha aprendido português
P’ra entender de um modo mais profundo
Os fados que a *Amália Rodriguez*
Cantava aos sete ventos, pelo mundo

Tank you, gracias, merci ou arigato
São formas da fadista agradecer
Quando ao chegar ao fim de cada acto
Vê lágrimas no rosto a escorrer

Em Espanha, no Brasil ou no Japão
O fado è cada vez mais bem cantado
E porque ali se escuta um coração
È Portugal que diz *muito obrigado*

De mares e Marias

Letra e musica de Rodrigo Maranhão
Repertório de António Zambujo

Pode ser
Que a tarde pare p’ra ver
Mais uma vez o sol perder-se no mar
Tu e eu

Pode ser
Que a noite queira dizer
Tanta coisa mais de uma vez
Eu sei
Pode o amor passar
Ninguém saber

Fado dos contrários

Rui Machado / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Kátia Guerreiro

Anda o mundo a girar
Numa roda singular
Inconstante e fugidia
Contra o faco dança o forte
Para ver quem tem mais sorte
Não dançou quem não sabia

Entretido nesta andança
Quem tropeça cai, avança 
Diz que a culpa é da idade
Faz demais e não devia
Que podia e não sabia 
Dos enguiços da vontade

Assim vamos, que afinal
Anda torto e desigual 
O direito do avesso
Sem relógio ou calendário
Meu balanço é ao contrário 
Rodo e finjo que me esqueço

A tua frieza gela

Maria do Rosário Pedreira / António Zambujo
Repertório de António Zambujo

Queria ser teu namorado
Morar dentro dos teus olhos
Perder-me nos muitos folhos
Do teu vestido encarnado

Mas tu ficas à janela 
Sem ver sequer quando eu passo
E a tua frieza gela 
O calor do meu abraço

Queria pegar-te na mão 
Deixar-me levar às cegas
Perder-me nas muitas pregas 
Do teu vestido de Verão

Mas tu nem olhas para mim 
Não sabes que te desejo
Deixas um gosto ruim 
Na doçura do meu beijo

Destino

Alberto Janes / Diogo Clemente
Repertório de Carminho

Quando nasce uma pessoa
No livro destino faz-se
Uma história má ou boa
E a vida que teremos
Ali escrita e resolvida
Não somos nós que a escolhemos

Porque procuras 
Esquecer o meu carinho
Se naquelas escrituras
Não è esse o teu caminho
Foges depois
Sentes que o destino tonto
Resolveu que nós os dois
Entramos no mesmo conto

O caminho dos teus passos
Na vida e o meu carinho
Estão escritos nos mesmos traços
A verdade é conhecida
È que tu és a metade
Metade da minha vida

Não sei porquê
Na história dos nossos fados
Nem uma linha se lê 
Que nos deixe separados
E se o destino 
Já nos marcou esta sina
És meu desde pequenino
Sou tua de pequenina

A deusa da minha rua

João Faraj / Newton Teixeira
Repertório de António Zambujo

A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma-se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol, num dourado sonho
Vai claridade buscar

Minha rua não tem graça
Mas quando por ela passa 
Seu vulto que me seduz
Ah... ruazinha modesta
È uma paisagem de festa 
È uma cascata de luz

Na rua uma poça d’água
Espelho da minha mágoa 
Transporta o céu para o chão
Tal qual o chão da minha vida
Minha alma comovida 
E o meu pobre coração

Espelho da minha mágoa
Meus olhos são poças d’água 
Sonhando com seu olhar
Ela è tão rica e eu tão pobre
Eu sou plebeu e ela è nobre 
Não vale a pena sonhar

A ponte

Reinaldo Ferreira / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Carminho

Da margem esquerda da vida
Parte uma ponte que vai
Só até meio, perdida
Num halo vago que atrai

È pouco tudo o que vejo
Mas basta, por ser metade
P’ra que eu me afogue em desejo
Áquém do mar da vontade

Da outra margem, direita
A ponte parte também
Quem sabe se alguém ma espreita?
Não a atravessa ninguém

Até ao fim

Vasco Graça Moura / Tiago Bettencourt
Repertório de Kátia Guerreiro

Intensamente, amor, intensamente
Ponho na minha voz esta saudade
Que é feita de futuro no presente
E na ilusão é feita de verdade
Intensamente, amor, intensamente

Desesperando, amor, desesperando
Por mesmo assim eu não te dizer tudo
Mesmo ao lembrar-me 
De onde e como e quando
Teu coração mudou, mas eu não mudo
Desesperando, amor, desesperando

Até ao fim, amor, até ao fim
Do mundo, tal e qual pedro e Inês
Aqui te espero, aqui me tens a mim
Neste mísero estado em que me vês
Até ao fim, amor, até ao fim

Barata tonta

Maria do Rosário Pedreira / António Zambujo
Repertório de António Zambujo

Sai de casa, vê as horas
Solta a roda do vestido 
Fecha a porta de mansinho
Dos seus lábios como amoras
Espreita um sorriso atrevido 
Põe o pé no mau caminho

Passa por mim diz-me adeus
E em passo bem apressado 
Desaparece no escuro
Ai, por um beijo dos seus
Eu vendi o meu passado
E comprava o seu futuro

Olha quem chega tão tarde
Falta pouco o sol desponta 
Vem de sapatos na mão
Ainda tem quem a aguarde
Sou eu a barata tonta 
Às voltas com a paixão

Passa por mim diz-me adeus
Vê as horas e boceja 
Há-de deitar-se vestida
Ai por um sonho dos seus
Ai que fosse eu quem a beija 
Dava toda a minha vida

Andorinha

Letra e musica de Carminho
Repertório da autora

Andorinha 
Que foges do meu beiral
Logo vejo que afinal
Não há primavera em mim
Oh andorinha
Porquê de tanta viagem
Porque não fazes paragem
No meu outono sem fim

Andorinha
Talvez tu tenhas razão
O que refaz o coração
È a memória das flores

Andorinha
Dá-me a ideia que o passado
Não é útil nem amado
P’ra quem só viaja assim
Oh andorinha
Sabes bem que já é tarde
E o buscar a eternidade 
Tal como ela, não tem fim

A vida como ela é

Tiago Torres da Silva / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Joana Amendoeira 

Quando se tem pouca idade
Só se percebe a saudade
Se espreitarmos à janela
E ao vermos a mãe partir
Só pensamos em fugir
P’ra baixo das saias dela

Saudade é ter que ir p'rá cama
Após vestir o pijama 
E sonhar com temporais
Mas por ter medo do escuro
Ir num passinho inseguro 
Dormir prá cama dos pais

É estar com gripe ou anginas
Encharcado em aspirinas 
E saber que os companheiros
Lá foram jogar à bola
No campeonato da escola 
Mas não foram os primeiros

É o brinquedo estragado
É o sapato apertado 
Que já não cabe no pé
É tudo o que ao ir embora
Nos obriga a ver agora 
A vida como ela é

Contra a maré

Letra e musica de Carminho
Repertório da autora

Eu remo contra a maré de dia
Quase que perco o meu pé, podia
Uma forma de evitar o dia
Andar de noite ao luar, podia

À noite por entre as sombras
Correm os rios, as ondas
Sou como peixe e flutua um feixe de lua
P’ra que não te escondas

Gosto do amanhecer com calma
Mas quero chapéu de sol prá alma
O meu canto não se faz dos dias
É a claridade a mais, sabias

À noite sob as estrelas
Bailam as luzes, vem vê-las
Sou como a sombra ladina, feita bailarina
Que dança com elas

Chorar de alegria

Tiago Torres da Silva / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Mafalda Arnauth

Não aprendas a tristeza
Só porque gostas de fado
Deixa que a alma indefesa
Esteja aberta prá surpresa
Que um poema tem guardado

Não te entregues à saudade 
Só porque queres ser fadista
Entrega-te à liberdade
De teres a tua verdade 
Mesmo que alguém lhe resista

Não te dês à solidão 
Só porque ela te vigia
Se choras por tradição
Sabe que o fado-canção 
Também chora de alegria

Se alguém for o que não é 
Ponha as cantigas de lado
Cantar é questão de fé
E quem for o que não é 
Jamais pode ser do fado

Brincar aos fados

Tago Torres da Silva / Bernanrdo Lino Teixeira *fado ginguinha*
Repertório de Camané

Quem quer brincar a uma nova brincadeira
Que não tem índios, nem polícias, nem ladrões
E toda a gente pode brincar à primeira
Basta saber cantarolar duas canções

Uma vassoura pode ser uma viola
Uma guitarra pode ser feita em cartão
É muito fácil, basta usar tesoura e cola
Para dar asas à tua imaginação

Uma cortina faz de xaile improvisado
E num instante nasce um palco no quintal
Até o gato que não quer ser chateado
É a plateia que te aplaude no final

Então tu escolhes um cd, pôe-no baixinho
E em karaok, em playback, ou a cantar
És a Amália, a Mariza, ou a Carminho
E vais aos fados, mesmo que seja a brincar

9 amores

Letra e musica de Paulo de Carvalho
Repertório de Kátia Guerreiro

São nove os amores que eu vivo
Que trago dentro do peito
São ilhas de mil encantos
Terras de gente que amo
Que choro, que rio e que sou

Como viver com o espanto
Deste mar à minha volta
Azul por dentro dos olhos
Verde por dentro da alma
Da espuma branca dos dias

Eu sou uma ilha
Esta terra é minha mãe e minha filha
Sou uma voz p’ro seu canto
Terra que eu amo tanto

São nove as filhas que sei
Viagens de sonhos doces
Companheiras dos antigos
Que cantam a luz dos tempos
Nas ilhas dos meus amores

Noites de dezembro

Silva Ferreira / Cavalheiro Júnior *fado porto*
Repertório de Carlos Madureira

Eram noites de dezembro
E aquele frio que lembro 
De uma lareira apagada
E minha mãe, onde mora
Onde grita, onde chora 
Essa mulher magoada

Corria o zinco no vento
Morria o pinho no tempo 
E minha casa morria
Eram noites de dezembro
E aquele frio que lembro 
E aquela lareira fria

Só minha mãe era luz
Por ter nos olhos um brilho 
Que não pode ter ninguém
Nessa noite fui Jesus
Porque me sentia filho 
De Maria de Belém

Marcos brancos de cantigas

Silva Ferreira / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Carlos Madureira

Marcos brancos de cantigas
Madrigais do meu país
Trovas e lendas antigas
Ai esta funda raiz

Ai este apego, esta amarra
Ai este partir, ficando
Ai o som desta guitarra
Lembra o meu povo chorando

Se parte volta correndo
Cuidando ser mais feliz
Pensa viver, vai morrendo
Ai esta funda raiz

Silêncio que se vai cantar o fado

Tiago Torres da Silva / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Carlos Leitão

Silêncio que se vai cantar o fado
Não são palavras ditas por dizer
Se alguém não sabe ouvir estando calado
O fado já não pode acontecer

Também na sala de aula, o professor
Não quer barulho e pode-se zangar
Se apanha algum aluno falador
Que não aprende nem deixa ensinar

A tua mãe, quando não queres escutá-la
Basta-lhe erguer de leve as sobrancelhas
P’ra te dizer que qaundo um burro fala
Os outros todos baixam as orelhas

E quando um dia tu puderes ouvir
O que o fado nos diz quando é cantado
És tu quem de repente vai pedir
Silêncio que se vai cantar o fado

Na ribeira deste rio

Fernando Pessoa / Mário Pacheco
Repertório de Carminho

Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio
Nada me impede, me impele
Me dá calor ou dá frio

Vou vivendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada
Vejo os rastros que ele traz
Numa seqüência arrastada
Do que ficou para trás

Vou vendo e vou meditando
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando

Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali
E do seu curso me fio
Porque se o vi ou não vi
Ele passa e eu confio

O nosso amor meu amor

Letra e musica de Carlos Macedo
Repertório do autor

Já gostei quando cantei 
E do palco te vi
Vi ternura em teus olhos 
E cantei para ti

Vesti as minhas canções 
Com o melhor p’ra te dar
E despi as emoções 
Em troca do teu olhar

Nosso amor, meu amor
Não é uma miragem
É uma longa viagem sem fim
Nosso amor, meu amor
Faz-nos sempre sonhar
E é tão fácil gostar assim

Gostei de ti quando te vi 
No palco a cantar
Gostei de ti e senti 
Tanto amor p’ra te dar

Gostei de ti e pensei 
Em seguir os teus passos
E a sonhar te beijei 
E acordei nos teus braços

Juntei-me à voz verdadeira

Lídia Jorge / António Chaínho
Repertório de Elba Ramalho

Juntei-me à voz da guitarra  
Por ser mais que verdadeira
Provei que eu própria era
Feita de sua madeira

Viemos da mesma árvore
Talhadas do mesmo jeito
Guitarra tem as minhas formas
Eu tenho o seu próprio peito

Estão em mim as suas cordas
E até a mão de quem toca
É carne da minha carne
Falando na minha boca

Grito distante

Manuel Só / Alvaro Martins
Repertório de Tony Lopes

Eu daqui grito porque acredito
Que esta prece ao infinito
Nunca se esquece
Pois permanece feita num mito

Saudade é dor que o amor
Deixou ficar e com rigor
Nos faz chorar
P’ra nos livrar do seu valor

Recordar... é sentir na terra alheia
A saudade da areia
Que deixamos lá distante
E chorar... é lavar dos pensamentos
Dos malfadados momentos
Que nos vergam de rompante

Mas eu canto
Que hei-de vencer a saudade
P’ra mostrar à humanidade
O esforço que tenho feito
E garanto à terra que me viu nascer
Que hei-de cantar até morrer
Com este amor no meu peito

Serapião Pimenta

José Castro Carvalho / Alvaro Martins
Repertório de Zé Carvalho

O Serapião Pimenta
Que já passou dos oitenta
P’ró que lhe deu, vejam bem
Foi pedir em casamento
A filha do Chico Bento
Que nem vinte anos tem

Com tal diferença de idade
Havia necessidade 
A fim de evitar sarilhos
Fazer os dois uns testes
E lá foram um dia destes 
Saber se teriam filhos

Fez cada um sua análise
E até hemodiálise 
Num exame bem estudado
Uns vinte dias depois
Lá compareceram os dois 
P’ra saber o resultado

A sua análise está bem
Nada de grave contém 
É o que assinala esta cruz
A menina está intacta
Logo portanto, está apta 
P’ra casar e dar à luz

Perante tal resultado
O Pimenta entusiasmado 
Logo ali pediu a Deus
Que tudo lhe perdoasse
E lá do alto mandasse 
A benção prós filhos seus

Tenha calminha Pimenta
Porque o seu teste apresenta 
Uma cruz e mais um i
Boa saúde, de facto
Para casar está apto 
Mas só p’ra fazer xixi

O Tejo e as gaivotas

Mário Rainho / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Vanessa Alves 

Não há nuvens sobre o Tejo
Há só bandos de gaivotas
São como estrelas remotas
Que num voo apaixonado
Lhe quisessem dar um beijo
Enlouquecidas, devotas
Com gorjeios, que são notas
Vestindo os versos dum fado

Este rio que corre 
Mas muito pouco apressado
Até ao mar, onde morre 
Tem gaivotas por telhado

Parece querer ficar 
Abraçado a uma canoa
E a brincar 
Com as gaivotas de Lisboa

Quando a Lua aparece 
E baixa até ele, do alto
Este rio adormece 
Mas acorda em sobressalto

E as gaivotas, despertas 
Sem ter gestos de abandono
D’asas abertas 
Vão guardar-lhe o sono

As mulheres

José Castro Carvalho / Alvaro Martins
Repertório de Zé Carvalho

Ai as mulheres... 
Deus me livre, Deus me livre
Ai as mulheres... 
Desse ser que um dia fez
Ai as mulheres... 
Há mulheres de tal calibre
Ai as mulheres... 
Em vez duma quero três

Ai pobres dos mal casados 
Que casaram por promessas
Andam na vida trocados 
Andam na vida às avessas

Quando é a mulher quem manda 
Dá-nos até a impressão
Que a vida pára, não anda 
Se cá vou é quem comanda
P’ra que serve o capitão

Quem desdenha quer comprar 
Toda a vida ouvi dizer
E a gente só quer amar 
A que mais nos faz sofrer

O homem tudo consente 
Quando vai em tal feitiço
A mulher é uma serpente 
Que se enrosca bem na gente
E o que a gente quer é isso

Desafio

Joaquim Nogueira Marques / Popular *fado mouraria estilizado*
Repertório de Maria Emília Sobral

Vou lançar-te um desafio
Vê se sabes responder
É um nome meigo, macio
Que é morada e é mulher

À volta sete colinas 
São seu tecto, chão e casa
Dos olhos são as meninas 
Os bairros que ela abraça

Por becos, escadas, vielas 
É que faz os seus caminhos
Tem luz, flores nas janelas 
O céu e o mar por vizinhos

Um namorado a seus pés 
Que beijos de água lhe dá
Tem fado de lés a lés 
Qual o seu nome ? diz lá!

O homem tem de cantar

Torre da Guia / Alvaro Martins *fado varito*
Repertório de Tony Lopes

O homem tem de cantar
À vida, constantemente
Para poder suportar
O lugar que lhe calhar
Na vida de toda a gente

Canta a mãe quando embala
Seu filhinho com amor
Canta o pai quando trabalha
O pão justo do suor

Canta inteira a natureza
Que acorda sempre a cantar
E canto eu a certeza

Do amor que quero dar

Menina de rosto oval

António Frazão / Alvaro Martins
Repertório de Nuno de Aguiar

Menina de rosto oval 
Que bates o linha novo
Na ribeirinha do povo 
A pensar no enxoval

Bates sem sentir fadiga 
Em suave movimento
Entoando uma cantiga 
Que fala de casamento

Seu avental
Baila com o vento
E o rosto oval
A sorrir sem um lamento

Inundando o areal 
Bate o sol no estendedoiro
Ai... corando a fios d’oiro 
O linho do enxoval

E lá no meio do remanso 
Onde a água é mais cristal
Ata linhos em descanso 
Menina do rosto oval

Eu e o mar

Maria Manuel Cid / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Maria Emília Sobral

Fui ao mar buscar alento
E o mar nada me deu
Quem dera que num momento
Viesse o teu pensamento
Abraçar de novo o meu

Quem dera que as minhas penas 
Fossem nas ondas também
Que as minhas horas amenas
Ficassem calmas, serenas 
Como o mar às vezes tem

E que nunca a tempestade 
Transformasse o mar sem fim
Desse ao sonho a realidade
E nunca a voz da verdade 
Viesse gritar em mim