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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.285' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Amor e saudade

António Torre da Guia / André Teixeira
Repertório de Miguel Xavier
Este poema foi gravado anteriormente por Ana d'Assunção
na música do Fado Isabel de Fontes Rocha

O amor que sentimento
Tão belo e tão fatal
Acaba na lei do tempo
Por nos fazer sempre mal

Saudade meu Deus saudade 
São estas coisas sem fim
Que quanto mais são verdade 
Mais caem dentro de mim

E quando o amor passou 
Tão perto do meu lugar
Quase ninguém reparou 
Que a saudade ia a passar

Quem teve amor e saudade 
E depois tudo perdeu
Pode sentir à vontade 
Que do que nada é seu

Na distância dos teus passos

Marla Amastor / Miguel Amaral
Repertório de Miguel Xavier

Porque andei de rua em rua
À mercê da tua jura
Entre as brumas da saudade
Meu amor, cada cansaço
Que dobrei no meu regaço
Dei ao vento da cidade

Nessa noite em que partiste
Nem sequer te despediste
E pisaste os sonhos meus
Na distância dos teus passos
Congelaram os abraços
Que ainda guardo como teus

Se algum dia me pensares
E a lembrança que lembrares
Te deixar em solidão
Não te apresses na demora
Porque eu espero a toda a hora
O sentir da tua mão

O tiro pela culatra

Ricardo Cruz / Maria do Rosário Pedreira
Repertório de António Zambujo

Mal a vi fui seduzido
P’lo seu corpo lança-chama
E a perna bem torneada
E meti no meu sentido
Se não a levo prá cama
Não sou homem não sou nada

Pus um ar de matador
E assim sem falinhas mansas 
Convidei-a pra jantar
Quase a vi ficar sem cor
Mas quando eu perdia as esperanças 
Aceitou sem hesitar

Pronto prá grande conquista
Barba feita, risco ao lado 
Sapato novo e brilhante
Comprei rosas na florista
E cheguei adiantado 
À porta do restaurante

Quase me caía o queixo
E até fiquei aturdido 
Com o choque da surpresa
Ela ao chegar deu-me um beijo
Apresentou-me o marido 
E foi andando prá mesa

Trazes mais amor à minha vida

António Laranjeira / Rogério Ferreira
Repertório de Cláudia Picado

Trazes mais amor à minha vida
Trazes outro rumo ao meu caminho
A noite quando vem, fico vencida
Mais perdida… e tu sozinho

Trazes mais calor aos meus abraços
Tão despidos de ti e do que somos
As palavras não perdem os espaços
Se nos teus braços sou o que já fomos

Trazes tanta luz e tanto pranto
Que me disperso a procurar em ti
Aquele olhar de sonho e d’espanto
Que no entanto eu nunca esqueci

Trazes mais amor à minha vida
O mundo é menos baço e menos triste
Não há cansaço e à noite adormecida
Segredas-me que ainda não partiste

Trazes mais amor à minha vida
E o desejo de um beijo que restou
Quando numa breve despedida
O meu corpo viveu porque te amou 

Canção de Brazzaville

José Eduardo Agualusa / Ricardo Cruz, Jon Luz
Repertório de António Zambujo


Pois me beijaste depois partiste
Até luz do sol me anoitece
E o azul do mar parece triste
Durante um fulgor tudo foi meu
Coração traidor bate e esquece
O céu dos dias que me pertenceu

Não sei se inveje quem ama ou se lamente
O amor é uma espécie de loucura
Em que vemos bailar o firmamento
Dai-me Senhor a paz do esquecimento

Pois se vi a luz e a perdi
Sou mais cego agora do que dantes
E o meu fado já não mora aqui
De que servem estrelas a brilhar no céu
Se não tiver na minha a tua mão
E o teu olhar não iluminar o meu

Depois, se a razão me diz; esquece
Neste peito bate um coração
Que contra a razão faz e acontece
Não existe mentira havendo fé
A lua perdida na imensidão
É quem no alto céu puxa as marés

Valsa do vai não vás

Letra e música de Samuel Úria
Repertório de António Zambujo

Se queres ser melhor mulher
Embarca para uma ilha
Se algum rapaz por lá houver
Não é deserta, a ilha

Se melhorares e eu te quiser
Não esqueças nessa ilha
Que eu não vou querer melhor mulher
Mulher, vou querer-te minha

Se queres, porém, enriquecer
Emigra lá p'ra fora
Se noutra terra o cofre encher
Foi bom tu estares lá fora

E se então alguém te pretender
Não te olvides lá fora
P'ra mim tu és rica mulher
Não tinhas de ir embora

Podes querer até te embelezar
Mas vais deixar-me tão triste
Não quero mais bela mulher
Mais bela não existe

Não voltes

Maximiano de Sousa / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Max
                                                                                      
Não voltes porque não quero mais sofrer
Saudades e tristezas que causaste
Não voltes pois não quero reviver
Tanta falsa promessa que juraste

Não penses em voltar, porque não quero
Sentir a arfar teu peito junto ao meu
E agora só em sonhos eu venero
O nosso grande amor que já morreu

E deixa que o perfume da saudade
Me embale no castelo onde estou preso
E guarda p’ra castigo da maldade
O meu ódio profundo, o meu desprezo

Último desejo

Alexandre Barreto da Hora / Martinho da Vila / Noel Rosa
Repertório de António Zambujo

Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo 
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete 
Sem luar, sem violão

Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo 
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero  seu beijo
Mas meu último desejo 
Você não pode negar

Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga 
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora 
A nossa separação

Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto 
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida 
Que você pagou para mim

Braços erguidos

António Vilar da Costa / António Chainho
Repertório de Alcindo de Carvalho

Braços erguidos
Ao céu que quero alcançar
Gritos perdidos
Boca sem ter quem beijar
Olhos fechados
Abertos ao coração
Passos mal dados
No caminho da ilusão

Onde andarei
O que farei, não sei de mim
De tudo e todos ausente
Rastejo feito serpente
Num labirinto sem fim
Da felicidade
Só há saudade nos olhos meus
Minha alma não tem par
Sou gota de água no mar
Sou Padre Nosso, sem Deus

Não penses

António Laranjeira / Rogério Ferreira
Repertório de Cláudia Picado

Se pensas que algum dia me tiveste
Criaste certamente uma ilusão
Foram tais as cenas que fizeste
E não se mente assim ao coração

Se pensas que ganhaste, não entendes
Quem perde um grande amor não é feliz
Se sentes que te quero só me ofendes
Ninguém te vai querer como eu te quis

Se pensas que te espero perdes tempo
O tempo que não tens para aprender
Que ter um coração fora do tempo
E não saber ter tempo p’ra viver


Se pensas que me trazes na memória
Não sabes como dói uma ilusão
Quem confunde saudade com vitória
Não sabe como bate um coração

Não há razão maior para viver
Do que saber que o teu bate por mim
Por muito que te custe compreender
O meu amor por ti chegou ao fim 

Valsa de um pavão ciúmento

João Monge / Pedro Silva Martins, Luís Silva Martins
Repertório de António Zambujo

Eu vi como ela o trata e pensei p'ra mim
Se ele é tão bom, tem boca de pudim
Tem voz de santo e modos de pavão
Eu sei que a minha mãe nunca me fez assim
Andei na escola do principio ao fim
Uns dias ia, outros também não

Já dei por mim às vezes a falar sozinho
Troco o Benfica por algum carinho
Se ela trocar pela minha paixão
Já vi que ele usa botas de polimento
E aqueles fatos a cem por cento
Isso diz tudo acerca dum qualquer

Eu sei como ela dança com o peito colado
Ninguém diz que tem o pé apertado
Se está nos braços desse Fred Astaire
Se alguém pensar que morro deste desconsolo
Eu vou para os alunos da Apolo
E dou a vida por essa mulher

Perdão elo mau jeito que dei, meu rapaz
És tão perfeito, tu és quase um às
Mas eu guardei para o fim o melhor trunfo
Eu dei a ela mais do que a minha atenção
Abri a porta do meu coração
Ela escolheu, não foi nenhum triunfo
Amigo, vais ver que um dia ainda vais ser feliz
Se tens dói-dói faz aquilo que eu fiz
Morre por ela e trata-a com drunfo

Flinstones

João Monge / Ricardo Cruz
Repertório de António Zambujo

Eu sei que cheguei tarde 
Mas tenho uma explicação
Não passei na matilha
Não provei nem uma jola
Até colhi uma flor 
P’ra colher tua atenção
Eu juro que hoje não
Não pus o pé na argola

Trago marcas de batom 
No casaco azul marinho
Hoje foi Dia da Mãe,
Passei lá para a beijar
Mas ela já não vê bem
Beijou-me o colarinho
Ela perguntou por ti 
E acabei por me atrasar

Apanhei fila na ponte
Viste no telejornal
Ainda te quis avisar
Mas dali não tinha rede
O destino às vezes faz 
Partidas de Carnaval
Vá lá, tem pena de mim
Tenho fome e tenho sede

Eu sei que cheguei tarde
Estou meio morto e com batom
Mas deixa-me explicar 
O que foi a essa hora morta
Não grites por favor
Não faças subir o tom
Já está tudo a espreitar,
Vá lá Wilma, abre a porta

Mágoa que magoa

Jorge Fernando / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Cláudia Picado

Dizem que as horas soavam
Na velha Sé de Lisboa
Entoando p’la cidade
E as guitarras que trinavam
Dores, num fado que magoa
Quando magoa a saudade

E um vagabundo discreto
Arrastando os pés gelados 
Indiferente à sua sorte
Deu-lhe a saudade por perto
Pois foi cantador de fados 
Vindo das terras do Norte

Teve um amor desmedido
Por uma jovem cantadeira 
Por quem cedo foi trocado
Nas dores de um homem traído
Recusou-se à vida inteira 
E nunca mais cantou o fado

Dizem que as horas soavam
Na velha Sé de Lisboa 
Entoando pela cidade
E uns olhos tristes choravam
Toda a mágoa que magoa 
Quando magoa a saudade 

Fado vivido

Manuela de Freitas / Miguel Amaral
Repertório de Miguel Xavier

Eu sei que o amor tem arte
De fingir e de cegar
Mas mais que amor, é amar-te
Conseguindo perdoar-te
Sem nada te desculpar

Tu finges que estás à espera 
Que eu escreva um fado menor
A dizer que a Primavera 
Nada perdeu do que era
Por morrer o nosso amor

De que me serve inventar 
Um fado que tu não sentes
Nunca o vais poder cantar 
Tu mentes sempre a falar
Mas a cantar nunca mentes

Por isso é que eu acredito 
Que entre os fados que vivi
O meu fado mais bonito 
Mesmo que não seja escrito
Será cantado por ti

Menino

Rui Rocha / Fernando Silva
Repertório de Cláudia Picado

Dou-te a mão a cada passo 
Dás-me um beijo de menino
Mil afetos num abraço
Teu sorriso é o meu destino

É o tempo que nos guia
Com vontade de viver
São caminhos da nossa alegria
São canções que irão renascer

Serás flor crescendo ao vento
Como os versos deste fado
Alma minha meu contentamento
Meu eterno poema cantado

Minha mão estará aberta
Como está meu coração
Por seres meu, minha voz se liberta
Neste canto és tu a razão 

Pantomineiro

Letra e música de Edu Mundo
Repertório de António Zambujo

A Rosa é bonita, mas mais é a Rita
Que coisa tão bela
E as flores nela como à Gabriela
Vestem  perfume que fica tão bem
Formosa é a Anita, esguia, catita
Mas que caravela
Já a Daniela, seu corpo revela
Sorrisos que assumem que a quero também

Falei com Amélia, para ver a Aurélia
Irmã de Florbela
Pois flor como aquela só vira Manuela
A flora ciúme de rubro carmim
Quase não quis Odete
Que através de Elisabete mandou 
As lágrimas dela
Ao contar-lhe na viela que não seria ela
Quem ia cuidar de mim

Já beijei Joana e a Mariana
Mas foi com cautela
Pois nessa ruela, na mesma cancela
Num golpe de sorte, Marina me quer
Tal como a Firmina, Ana e Josefina 
Querem ter a tutela
Mas sinto a cela e o meu amor gela
Reanimo o norte e fujo a correr

Sonhei com os dias de todas as Marias 
Virem à janela
E como uma aguarela verde e amarela
Num ondulado forte de azul rosmaninho
De tanto querer tudo o que é mulher
Sei que no final
De não saber qual, vivo assim o mal
De amar sozinho

Soneto inglês

Alexandre O‘Neill / Luís Figueiredo
Repertório de Miguel Xavier

Como o silêncio do punhal num peito
O silêncio do sangue a converter
Em fio breve o coração desfeito
Que nas pedras acaba de morrer

Vive em mim o teu nome, tão perfeito
Que mais ninguém o pode conhecer
É a morte que vivo e não aceito
É uma vida que espero não perder

Viver a vida e não viver a morte
Procurar noutros olhos a medida
Vencer o tempo, dominar uma sorte

Atraiçoar a morte com a vida;
Depois morrer de coração aberto
E no sangue o teu nome já liberto

Já não estar

Manuela de Freitas / José Mário Branco
Repertório de Camané

Se às vezes numa rua, num lugar
Eu penso que um dia hei-de morrer
Sei que tudo o que tenho vou deixar
Aqui onde hoje estou, deixo de estar
E tudo quanto sou deixo de ser

Medo da morte não consigo ter
Mas outros mais humanos e banais
Medos que a gente tem mesmo sem querer
Como o medo que eu tenho de morrer
Só por querer viver um pouco mais

Se consigo a meu modo estar no céu
Mesmo vivendo neste chão de inverno
Se apenas sou árvore que cresceu
No espaço e no tempo que é o meu
Para que havia eu de ser eterno

Mas como as minhas cinzas vão ficar
Debaixo de uma pedra do jardim
Meu amor, tu sabes onde me encontrar
E uma flor sobre a pedra vais deixar
De cada vez que te lembrares de mim

Café dos teus olhos

Letra e música de Tozé Brito
Repertório de Cláudia Picado c/ Tozé Brito

 O voo saiu a horas 
Há seis horas que voamos
Mas eu voo para ti
Desde que nos separamos

Vou a caminho de ti
Estou mais perto do céu
Quando olho para terra
As nuvens são o teu véu

Sem o café dos teus olhos
Já não consigo acordar
Quero encontrar os teus braços
Quando por fim aterrar

As luzes vão apagadas
Para apagar mil cansaços
Mas no silêncio do voo
Consigo ouvir os teus passos

Vou a caminho de ti
Estou mais perto de mim
Eu só sei voar contigo
Será para sempre assim 

Graças de Lisboa

António Vilar da Costa / Mário Laginha
Repertório de Miguel Xavier

De manhã começa a lida
Gente p’ra cá e p’ra lá
Cantam pardais na avenida
Vem gente da boa vida
Vai gente prá vida má

Abre o sol os bastidores 
E o drama começa já
Entram no palco os atores 
Lágrimas, sangue, suores 
Gente p’ra cá e p’ra lá

Os pregões bailam no espaço 
E ao fim da noite perdida
Sonolenta de olhar baço
Vencida p’lo cansaço 
Vem gente da boa vida

E num contraste profundo 
Da sorte que Deus nos dá
Com um sorriso jucundo
A fim de dar vida ao mundo 
Vai gente prá vida má

Lugar comum

João Vinhas / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Cláudia Picado

Dos erros vulgares da vida
Fica uma sombra escondida
Que ao simples fado dá luz
Tristeza, culpa, saudade
Amor cego de verdade
Que o meu destino conduz

Por pouco saber da gente
Finge a alma que não sente 
A amargura de deixar
Pois se a dor em mim morrer
Talvez não venha a saber 
Quanto amor se pode dar

Mesmo que eu nunca chore
O tempo que não demore 
A trazer o esquecimento
Tão perigosa a paixão
Que nos condena a razão 
Com tamanho sofrimento

No lento passar dos dias
Com tantas horas vazias 
Quis à tristeza por fim
Mas se a outro amor pertence
A saudade que não pense 
Que se afastará de mim 

Devagar coração

Mário Rainho / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Cláudia Picado

Coração deixa a emoção
A paixão, a imensidão
Dessas coisas do amor
Tudo tem tempo, compasso
Vai a passo, não és de aço
Vai devagar por favor

Não me dês cabo do peito
Nesse teu jeito, imperfeito 
De correr acelerado
Quero ir devagarinho
Com carinho, pelo caminho 
Onde tenho o meu fado

Se terei que ser saudade

Na minha idade, ela há-de 
Ser aquilo que Deus queira
Posso até mandá-la embora
Na hora em que ela implora 
P’ra ficar à minha beira

Por isso que não me impeça
Essa pressa que tropeça 
Quando o amor quero cantar
E a minha voz se apouca
Quase rouca, quase louca 
Coração, mais devagar 

Velhinho fado menor

Maria Manuel Cid / Popular
Repertório de João Braga

Fado menor meu castigo
Meu pecado original
Que trago sempre comigo
Sem ter feito nenhum mal

Velhinho, levas a vida 
A pedir por quem padece
E quem a sente perdida 
Confia na tua prece

Saudade, tristeza, amor 
Em cada nota dolente
São preces do cantador 
A rezar por toda a gente

Nenhuma dor já sofrida 
Pode igualar o tormento
De cantar a dor da vida 
E morrer de sofrimento

Quando me chamas mulher

Tiago Torres da Silva / Guilherme Banza
Repertório de Cláudia Picado

Ando a ver se dás à costa
Acendo uma vela
A ver se tenho resposta
Da santinha da capela

Se a santa não desembucha
Diz-me o coração
Que talvez deva ir à bruxa
Para pedir mais uma opinião

Mas nem Pai-Nossos nem Avé-Marias
Me podem fazer esquecer
O quanto tu me arrepias
Quando me chamas mulher;
Não posso perder-te
E se as cartas de tarôt
Dizem que devo esquecer-te
Eu digo; isso é que não vou


Quando vir uma cigana
Vou estender-lhe a mão
A ver se ela não se engana
E me lê o coração

Ao ler-me a linha da vida
Diz tim-tim por tim-tim
Que não há outra saída
Tu não vais voltar para mim

Lágrima

Letra e música de Roque Ferreira
Repertório de Lenita Gentil

Lágrima por lágrima 
Hei-de te cobrar
Todos os meus sonhos 
Que tu carregaste
Hás-de me pagar

A flor dos meus anos
Meu olhos insanos
De te esperar
Os meus sacrifícios
Meus medos, meus vícios
Hei-de te cobrar

Cada ruga 
Que eu trouxer no rosto
Cada verso triste 
Que a dor me ensinar
Cada vez que no meu coração 
Morrer uma ilusão

Hás-de me pagar
Toda a festa que adiei
Tesouros que entreguei 
À imensidão do mar
As noites que encarei sem Deus 
Na cruz do teu adeus
Hei-de te cobrar

Fragilidade

Jorge Fernando / Guilherme Banza
Repertório de Cláudia Picado

Se tu te rires de mim por eu ser triste
Por ti o amor não vale esta tristeza
É porque nunca amaste ou não te viste
Nas mãos de um amor que nos rouba a defesa

Se esta fragilidade não entendes
Por me dizeres que é coisa de momento
O pensamento é fútil se pretendes
Saber do amor à luz do pensamento

Deixa-me ser triste como estou
Pois por sermos pessoas tão diferentes
Este amor tão triste a que me dou
Não podes entender porque o não sentes 

Põe o teu lenço encarnado

José Luís Gordo / Jaime Santos *fado alfacinha*
Repertório de Miguel Ramos
    
Põe o teu cravo encarnado
E a tua saia rodada
Vamos os dois para o fado
E abraçar a madrugada

Depois eu canto o Menor
O Corrido e o Mouraria
E canto para ti, meu amor
A loucura da alegria

Nas lutas das guitarras
Ficas de todas as cores
Na minha voz há cigarras
Cantando vivos amores

E a tua saia rodada
Com o sol agigantado
Ilumina a noite toda
E dá mais vida ao meu fado

Meu velho fado

Mário Rainho / Carlos Dionísio
Repertório de Helena Nunes

Não sei que lhe aconteceu
Parti à sua procura
Mas onde é que ele se meteu
Nesta noite fria e escura
No coração azedume
Em ciúmes me desolo
Com os meus olhos em lume
Lá o vi como é costume
Com uma guitarra ao colo

Meu velho fado
Só me fazes coisas destas
Tu queres fadistices, festas
Sem horário de chegar
Meu velho fado
Só me dás razões de queixas
Tu não penses que me deixas
Sozinha em casa a chorar

Cantei-lhe o fado das horas
Em que fico amargurada
Pois não quero mais demoras
Ou em casa há desgarrada
Atirou-me no corrido
Uns versos, que fez à toa
Em que disse, convencido
Que queria ficar comigo
C'uma guitarra e Lisboa

Amor, tem calma

António Rocha / Fontes Rocha
Repertório de Cláudia Picado

Meu amor vai devagar
Que a pressa é má conselheira
Há sempre tempo pra’amar
Se a paixão é verdadeira

Meu amor não tenhas pressa 
Deixa-me estar sossegada
Cautela não te aconteça
Quereres tudo e ficares sem nada

Quem tudo quer tudo perde 
Por isso vê se me entendes
Tu ainda estás muito verde 
Pra teres tudo o que pretendes

Não vale a pena correr 
Meu amor vai devagar
Ainda acabas por perder 
O que desejas ganhar

Meu amor toma cautela 
Porque se o meu pai amua
Passo a ficar à janela 
E tu de plantão na rua

Não te apresses amor meu 
Nem um minuto sequer
O que tiver de ser teu 
Há de ser quando eu quiser 

A manhã é uma andorinha

Vasco de Lima Couto / Alfredo Duarte *mocita dos caracóis*
Repertório de Amália

A manhã é uma andorinha
Que se esqueceu da viagem
E voa em meu pensamento
Trazendo a cada momento
A noite na tua imagem

O dia lá fora é o dia
Que marca os passos no chão
Mas é tão cedo este amor
Que eu fecho tudo em redor
Das praias do coração

Ponho as mãos sobre o teu corpo
E, no instante de sonhar
Se o teu amor me encaminha
A manhã é uma andorinha
Que se lembrou de ficar

Cantigas e beijinhos

Emílio Vidal / Casimiro Ramos
Repertório de Maria Portugal

Dá-me o braço, meu amor
E vamos de braço dado
Acertar o nosso passo
Ao compasso desejado

Vamos rir, vamos cantar
Na marcha da nossa rua
Conjugar o verbo amar
Tu és meu e eu sou tua

Vamos fazer um vistão… 
Pois então
A bailar constantemente
É noite de São João… 
Porque não
À vista de toda a gente
Mas depois, às escondidas… 
Não digas
Que não vai saber melhor
Misturado com cantigas
Nossos beijinhos d’amor

Os balõezinhos no ar
Até vão mudar de cor
Ouvindo repenicar
Tantos beijinhos d’amor

Mas a festa continua
Diga o mundo o que disser
Porque na marcha da rua
Cada qual faz o que quer

Despertei

Linhares Barbosa / Casimiro Ramos
Repertório de Maria Manuela Silva 
Embora com algumas diferenças na letra
este tema tem sido constantemente gravado 
com o título *Julguei endoidecer* na música do 
Fado Esmeraldinha de Júlio Proença e com a letra 
atribuída a Tristão da Silva
- - -
Julguei endoidecer quando partiste
Deixando entre nós dois, funda barreira
Ficou dentro de mim, a noite triste
Feita de sombras negras, sem clareira

Durante dias, fui folha caída
Que o vento vai levando sem destino
Bebi, sofri, chorei, mal disse a vida
E tive, por meu mal, outro caminho

Um caminho cruel, porque a saudade
Falou em mim, mais alto que a razão
Não me deixando ver esta verdade
Não há homem que valha uma paixão

Vou regressar à vida que vivi
Quero voltar a ser tal como outrora
Maldito seja o dia em que te vi
Bendito sejas tu, p'la vida fora

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Julguei endoidecer
Tristão da Silva / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Alcindo de Carvalho


Julguei endoidecer quando partiste
Deixando entre nós dois, funda barreira
Ficou dentro de mim, a noite triste
Feita de sombras negras, sem clareira

Durante dias, fui folha caída
Que o tempo vai levando sem destino
Fumei, chorei, bebi, mal disse a vida
E desejei morrer, morrer por ti

Cretino, sim eu fui, porque a saudade
Falou em mim, mais alto que a razão
Não me deixando ver esta verdade
Não és mulher que valha esta paixão

quero voltar à vida que vivi
Quero voltar a ser tal como outrora
Maldito seja o dia em que te vi
Bendita sejas tu, p'la vida fora