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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.285' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Remos partidos

Lima Brumon / Helena Moreira Viana
Repertório de  Mariette Pessanha

Enquanto me olhas sem nada dizer
Remordo as palavras que nunca te digo
Abraçam-se as ondas antes de morrer
Não posso abraçar-te, quero morrer contigo

Na minha tristeza baloiça-se o vento
E vivo a apagar meus passos na areia
Se tu me procuras a  todo o momento
Sou palha queimada, o fogo não me ateia

Quem sabe se os barcos de remos partidos
Encontram a rota
Da margem mais certa
Os ventos são sete, são cinco os sentidos
E nada resiste 
À solidão completa

Aquela gaivota que a outra encontrou
Na praia deserta com uma asa partida
Deixou suas asas, nunca mais voou
Cada vez mais triste, adia a fugida

A força do mundo puseste aos meus pés
Que tinham pisado só lama e poeira
Não sei quem procuras, mas sei bem quem és
São belas as rosas e há quem as não queira

A graça do teu andar

Hélder do Ó / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Hélder do Ó

Há um não sei quê que me apraz
Quando te vejo sozinha
Beijando as pedras que pisas
Em cada passo que dás

Tens poesia no andar 
E olhar-te não sou capaz
Há algo que não entendo 
Há um não sei quê que me apraz

Quando à minha porta passas 
Tão simples, tão ligeirinha
O teu corpo é todo graça 
Quando te vejo sozinha

Da maneira que me olhaste 
Do meu amor não precisas
Mas seguiste, não paraste 
Beijando as pedras que pisas

Mas eu vou ser persistente 
E vou-me fazer audaz
Perseguindo o teu pezinho 
Em cada passo que dás

Voz do fado

Arnaldo Ruaz / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Ana Pacheco

Sentia-o desde menina
Estava já na minha sina
E no destino marcado
Que um dia viesse a escutar
Uma estranha voz a chamar
Que seria a voz do fado

Chamou-me num leve sussurro
Porém tão doce e tão puro 
Que corri ao chamamento
Abracei-o com emoção
E arde em mim a paixão 
Desde esse terno momento

O destino também ditou
A quem se apaixonou 
P’lo fado tão loucamente
Que com alma o defendesse
E até que a voz lhe doesse 
O cantasse a toda a gente

Fado chorado

Mário Rainho / Alfredo Marceneiro
Repertório de Fernando Jorge Amaral


Eu não chorei ao nascer
Dei um grito, foi de espanto
Como estivesse a prever
Que me ia acontecer
Toda uma vida de pranto


Pranto, por dentro, chorado 
A alma queimada e o rosto
Culpa dum choro salgado
Por, na vida, ter andado 
Só de desgosto em desgosto

Queria acender alegrias 
Subi-las ao universo
Mas as minhas poesias
Cantavam, só, elegias 
Choravam em cada verso

As lágrimas desmaiavam 
Nas rimas-ondas, sem cor
E os poemas se alagavam
Por verem que me cercavam
Analfabetos de amor

Eu não chorei ao nascer 
Dei um grito, foi de espanto
Eu estou vivo, podem crer
Mas já não choro-a-valer 
Porque sequei o meu pranto

Tempo de saudade

Hélder do Ó / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Hélder do Ó

Quando o tempo não apaga
A razão do sofrimento
É melhor dar tempo ao tempo
P’ra que outro tempo nos traga

Vou dar saudade à saudade 
Para ver se ela se cansa
Que eu ainda tenho esperança 
Se sentir felicidade

Vou dar tristeza à tristeza 
P’ra que entristeça de vez
Eu já me sinto cansado 
De estar triste tanta vez

Que seja assim

Letra e música de Hélder do Ó
Repertório do autor

Que eu respire em ti o ar fresco da manhã
Que eu seja em ti a força p’ra mais um dia
Que o nosso amor seja o ventre da romã
A desfazer-se em bagas doces de alegria

Que o teu olhar seja uma doce carícia
Que o meu desejo seja sempre o teu olhar
Que a nossa vida ultrapasse a fantasia
Temos no peito uma roseira a despertar

Que o nosso beijo seja sempre uma constante
Mas que o sintamos duma forma desmedida
Que o queiramos sempre mais, porque sabemos
Que o amor é a razão da nossa vida

Ouve lá ó pá

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de António Mourão

Ser fadista é ser poeta, ambos são
O produto do poder do sentimento
O poeta dá aos versos, coração

O fadista pôe a alma no talento

P'ra que o fado possa ter uma expressão
Não importa a fatiota do artista
Tem que haver a emoção, senão então

Quem canta está fingindo que é fadista

Ouve lá ó pá, vem cá, vê
Se entras no tom que é
P'ra seres fadista, serás aprumado
Pontapé na nota com batota
Desafinado até
Não pode ser, nem é, próprio do fado

Um fadista é um artista, é vertical
E não é um fantasista, ou coisa tal
Tem a graça da chalaça bem metida
A cantar ou a amar, pôe toda a vida

Mantém sempre com aprumo aquele rumo
Que em tempos de fidalguia foi condão
Chora se vem a desgraça e não passa
Sem dar tudo o que tem ali à mão

A vida e o sonho

Letra e música de Ana Pacheco
Repertório de autora

Tão belo é sempre o sonho
Como a vida
Há sempre uma ilusão que faz viver
Quem sabe onde andará
Talvez perdida
A vida que julgamos merecer
A vida é o sonho e o tormento
A força e a fraqueza da emoção
O encontro, a luz e o momento
Amor, mágica, dor e ilusão

Lisboa mudou

Letra e música de Hélder do Ó
Repertório do autor

Sobre Lisboa, meu amor, vou-te contar
A tradição que se perdeu desta cidade
Os seus pregões já não se ouvem no ar
Da sua história ficou apenas saudade

Que é do teu fado vadio, pelas tabernas
Que é dos marujos, outrora navegadores
Que é dos fadistas, dos rufias de melenas
E das fragatas, dos arrais, dos pescadores

Mas mesmo assim
És um poema que eu invejo
És a gaivota 
Que ainda põe voz na Ribeira
És um poeta 
Que se inspira no rio Tejo
Tu és princesa 
E das cidades a primeira

Da velha Bica, só resta a escadaria
No Bairro Alto já não se cantam as trovas
E há missangas a vender, na Mouraia
Na Madragoa, em vez de fado, há bossa-nova

Os teus mercados tão velhinhos das peixeiras
Foram trocados por centros comerciais
Do casario baixinho e rude, hoje há Taveiras
E carroças a gizalhar, já não há mais

Faz-me pena, coração

Mário Rainho / João Maria dos Anjos
Repertório de Fernando Jorge


Faz-me pena coração
Que não saibas dizer não
Digas sim a quem me apouca
Pois se vives no meu peito
Porque te trago, imperfeito

Coração, ao pé da boca

Comanda a lua as marés
Tal como a lua tu és 
Quando fazes desmaiar
Ondas, lágrimas de sal
Que agigantas, por meu mal 
Nas praias do meu olhar

Pulsas, como adolescente
Por alguém, que me é ausente 
Esse amor que não me acalma
Dás-me, por pouco ou por nada
A lençóis de madrugada 
Onde me deito sem alma

Faz-me pena coração
Que a quem te quer digas não
Digas sim a quem não devas
Só espero que, nesta idade
Não me mates de saudade 
Coração, tu não te atrevas

Era o fado

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias 

Procurei-te em Alfama 
Fácilmente te encontrei
Nesse bairro onde tens fama 
E te ama como rei

Mas nesse novo dia 
Voltei a te encontrar
Com grande fidalguia 
Num palácio a cantar

Era o fado 
Gemido e chorado e até adorado
Que eu fui encontrar
O fado senti e a ele me prendi 

P’ra não mais deixar

Quantas vezes te encontrei 
E afinal que sei eu
Nem sequer te perguntei 
Se eras burguês ou plebeu

Ficas sempre entusiasmado 
Quando cantado com garra
Não dispensas a teu lado 
O trinar duma guitarra

Costumei tanto os meus olhos

Quadras populares / Popular *fado das horas*
Repertório de Ana Pacheco 

Costumei tanto os meus olhos
A namorarem os teus
Que de tanto confundi-los
Já nem sei quais são os meus

Vem cá dizer-me que sim
Ou vem dizer-me que não
Porque sempre vens assim
Perto do meu coração

Ó meu amor se te fores
Leva-me podendo ser
Que eu quero ir acabas
Onde tu fores morrer

Esquina da minha rua

Américo Patela / Rocha de Oliveira
Repertório de Celeste Rodrigues

Quem me dera, sonhos meus
Ser verdade o meu desejo
Ver o que há tanto não vejo
Na rua da Primavera

Primavera de esperança
Que dentro em mim continua
A viver a semelhança
Desses tempos de criança
Na esquina da minha rua

E já lá vão 
Esses tempos de ventura
A verdadeira razão
Da minha grande amargura
E a saudade 
Que faz de mim presa sua
Levando o meu pensamento
P'ra esquina da minha rua

A tão triste fim pertenço
Que de mim nada consigo
Anda a tristeza comigo
E de outro modo não penso

Chego a ser vida sem vida
Que vive noite sem lua
Sentindo a vida perdida
A vaguear esquecida
Na esquina daquela rua

Estarei onde?

Ana Pacheco / Loreena Mckennit
Repertório de Ana Pacheco

Pássaros com rosas vejo voar
Ventos de trovas enchem o ar
No mar se quer ir naufragar;
Estarei onde?
Não dei por chegar

Olhos que sorriem no meu olhar
Braços que me chamam
Num longo abraço
Prados que se estendem a cada passo;
Estarei onde?
Não dei por chegar

E tempo não anda
Não pára, não corre nem envelhece
Paira nos braços que nos enrolam
Dança e adormece

Fica nesta saudade

Mário Rainho / Frutuoso França *fado jovita*
Repertório de José Alberto
Esta melodia que aparece como sendo o Fado Jovita
é o Fado Moreninha de Santos Moreira


Deixa que fique, em mim, aquele gosto
Dos beijos, que me deste nessa era
Que tinham o calor do sol de Agosto
E o fresco das manhã de primaveras

Deixa que fique, em mim, essa lembrança
Dum tempo em que o amor, na nossa mão
Brincava, com jeitinho de criança
No balancé do sonho e da paixão

Deixa que fique, em mim, sempre presente
Esse sabor de ti naquela idade
Pois quero meu amor, eternamente
Que tu fiques em mim nesta saudade

Fado das cerejas

José Gago / José António Sabrosa *fado pintadinho*
Repertório de Ana Pacheco 

Tão doces, apetitosas
E vermelhinhas de cor
As cerejas como as rosas
Trazem perfume ao amor

As cerejas não são ginjas 
Nem se podem comparar
Com este medo que finjas 
Que me amas sem amar

Não sei se sou quem desejas 
No mês de maio ou agosto
Mas tu, tal como as cerejas 
És o fruto de que mais gosto

Oxalá Deus me proteja 
De mágoas e desconsolo
Que seja eu a cereja 
Bem no cimo do teu bolo

O tempo que não vivi

Letra e música de Manuel de Almeida
Repertório de Manuel de Almeida

No domingo passei com uns amigos
A tarde numa adega de Caneças
Motivo p’ra lembrar tempos antigos
De farras com cantigas e promessas

Falamos, entre dois copos de vinho
Das tardes no Gingão e no Sisudo
Das noitadas de fado no Charquinho
E na dança da Bica no Entrudo

Baile dos Quintalinhos tão cantado
As festas da Atalaia e das Mercês
Bons tempos, quando o fado era mais fado
E o amor, mais amor, mais português

Destas coisas que o povo consagrou
Que apenas pela história conheci
Chego a sentir, fadista como sou
Saudades dos tempos que não vivi 

Preciso de ti

Letra e música de Manuel de Almeida
Repertório do autor 

Preciso de ti
P’ra afastar a solidão
Das minhas noites vazias
Preciso de ti
P’ra sacudir a pressão
Que prende os meus longos dias

Preciso de ti 
Para viver na certeza
Que o mundo não me esqueceu
Preciso de ti 
P’ra correr com a tristeza
Que a tua ausência me deu

Preciso de ti 
Para que o sol brilhe mais
Nas minhas horas sem luz
Preciso de ti
Porque sem ti é demais
O peso da minha cruz

Preciso de ti 
P’ra voltar à realidade
E chorar os meus fracassos
Preciso de ti 
P’ra correr com a saudade
Que anda a seguir os meus passos

Marcha do Alto do Pina

César de Oliveira / J.A.Ramos / Carlos Dias
Repertório de Amália

Quando o sol sorri sobre Lisboa
Logo o Alto Pina vai beijar
E saudar a gente boa
Que parte p’ra trabalhar

Mas a noite chega e surge a lua
Pr’animar os bailaricos
Toda a gente vem p’ra rua
E no ar flutua cheiro a manjericos

Aqui vai o Alto Pina 
E ninguém lhe ensina 
A ser mais popular
Traz na boca essas cantigas 
Que as raparigas
Tanto gostam de cantar
Pula a fogueira num salto
P’ra manter a tradição, um balão
O nosso bairro ilumina
Erguido no alto, no Alto do Pina

Vamos lá cantar, deixem o resto
Venham cá ao bairro para o ver
É pitoresco e modesto
Mas alfacinha a valer

Alegre cantando a marcha passa
Airosa, fresca e ladina
Mostrando bem toda a raça
Que leve esvoaça no Alto do Pina

Cuidadinho meu bem

Popular c/arranjos de António Chaínho / Mário Martins
Repertório de António Mourão 

Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Cuidadinho no modo de andar
O teu corpo é uma luz
Ai... que cega a quem o olhar

Ai... que cega a quem o olhar
Bem de frente na boca vermelha
Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Com o brinco dessa tua orelha

Dessa orelha que brinca a bailar
Com um brinco que é d'oiro pesado
Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Que o diabo é um descarado

Descarado como o teu sorriso
Descarado como o teu olhar
Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Que o diabo anda à solta a espreitar

A espreitar ando eu e o diabo
Ai à tarde quando o sol desmaia
Cuidadinho meu bem, cuidadinho
Ao tirares o corpete e a saia

Lisboa em festa

Aníbal Nazaré / Ferrer Trindade
Repertório de Amália 

Hoje é dia de festa na cidade
Lisboa veio prá rua p’ra cantar
Mas achou que era fraca a claridade
Que lhe vinha do alto, do luar

Lisboa vista assim, dá gosto vê-la
E nem tanto balão era preciso
Porque cada balão é uma estrela
E cada rapariga um sorriso

Lisboa cá vem risonha a cantar
Vá, deixem passar as raparigas
Lisboa cá vem, q
ue a venha escutar
Quem queira aprender novas cantigas
Cantar uma trova e
 sem ter fadiga
P’la cidade inteira andou à toa
Na Lisboa nova, n
a Lisboa antiga
Lisboa é sempre Lisboa

Quando Lisboa vem cantar p’rá rua
Para alegrar os nossos corações
Parece que no céu a própria lua
Se debruça a ouvir suas canções

Os bairros da cidade estão em festa
Os santos têm na rua aos seus altares
E não há noite alegre como esta

Que é dedicada aos santos populares

Vem amar-me

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias 

À janela foi onde eu te vi 
À tardinha quando ali passei
Eu olhei, tu sorris-te p’ra mim 
Desde então, nunca mais descansei

Passo os dias a contar as horas 
Esperando de novo te ver
Este coração não tem melhoras 
Está cansado de tanto bater

Já sonhei que senti nos meus lábios
O calor da tua boca ardente
Já sonhei que senti o teu peito
A bater de maneira diferente;
Já sonhei que me amavas também
E que o sonho era  a realidade
E afinal porque esperas meu bem
Vem amar-me mesmo de verdade


Imagino esses teu cabelos 
Quando estão nos teu ombros caídos
Só de longe eu consigo vê-los 
E me fazem mexer os sentidos

Desce amor, dessa tua janela
Para que eu te possa falar
E me tornes a vida mais bela
E acordado eu fique a sonhar

Que sonhei que senti nos meus lábios
O calor da tua boca ardente
Que sonhei que senti o teu peito
A bater de maneira diferente;
Que sonhei que me amavas também
E que o sonho era a realidade
E afinal porque esperas meu bem
Vem amar-me mesmo de verdade

Faço da noite o meu manto

António Rocha / Alvaro Duarte Simões *meia noite e uma guitarra*
Repertório de Celeste Maria 

Eu faço da noite o manto
Com que cubro a minha dor
É nela que sofro e canto
Saudades do teu amor

Lembranças minhas e tuas
Vão comigo pelas vielas
Luar de prata nas ruas
Meu peito, noite sem estrelas

Restos de um sonho perdido
Cobertos p’lo negro manto
São este fado vencido
Que tristemente vos canto