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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.285' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Há um silêncio-amargura

Fernando Lito / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Fátima Couto

Há um silêncio-amargura
No teu sorriso sem cor
E o grito de quem procura
Razão na palavra amor

Horas mortas, madrugada 
Ódio, paixão, ou ternura
Na tua face marcada 
Há um silêncio-amargura

À vida já perguntei 
A razão da tua dor
Mas a resposta encontrei 
No teu sorriso sem cor

A noite já acendeu 
Dentro de ti, a loucura
És um sonho que morreu 
E o grito de quem procura

E nesse teu caminhar 
A Deus pede com fervor
Possas um dia encontrar 
Razão na palavra amor

Tempos que já lá vão

Manuel de Almeida / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Manuel de Almeida 

Oh fadistas do passado
Que no fado deram brado
Na boémia e no tacão
As coloridas toiradas
E as noitadas bem passadas
São tempos que já lá vão

Fidalgos aventureiros
Boleeiros e toureiros 
Gente nobre, gente fixe
Abalam nas traquitanas
Cem ciganas levianas 
P'rás adegas de Carriche

As severas, os artistas
Guitarristas e fadistas 
E faias de cachené
Os fidalgos mais ramboias
Mandam bater as tipoias 
P’ra abertura da água-pé

Entre os improvisadores
Cantadores dedilhadores 
Ao findar a desgarrada
Por causa dum rufião
Há discussão e confusão 
Resolvida à bofetada

Que é feito do nosso fado
Que deu brado no passado 
E um faia a falar calão
As coloridas toiradas
As noitadas bem passadas 
São tempos que já lá vão

É só por causa dela

Rosa Lobato Faria / Thilo Krasmann
Repertório de Marco Rodrigues 

É só por causa dela que não dá por mim
Com os seus olhos verdes de mar
É só por causa dela que eu sou assim
Vagabundo destas ruas, destes cais

É só por causa dela que não tenho sede
E ando de cabeça no ar
É só por causa dela, sei lá porquê
Que eu não quero outro céu nem outro mar

Teu lindo nome
Marcou-me no coração
E a tua graça que passa sem saber
Teu nome rima
Por cima da tentação
Olá Lisboa, tão boa, tão mulher

É só por causa dela que não digo adeus
Ao luxo a preto e branco do chão
E os beijos e azulejos são todos meus
E as janelas das vielas também são

É só por causa dela, se a maré subir
Que à tarde o seu vestido é a cor
E quando noite desce sem prevenir
Me comovo a um fado novo deste amor

Guitarra e violino

Francisco Radamanto / Direitos musicais reservados
Repertório de Mário Rocha, Jorge Fernando e Nuno de Aguiar

Mário Rocha - Declamado
No vasto anfiteatro abandonado
Finda a festa, eu ouvi uma guitarra
E um certo violino afidalgado
A discutir de forma mui bizarra

Jorge Fernando - Fado Alberto de Miguel Ramos
Pobre lira: dizia o violino
Quem te manda a ti, cá vir cantar
Não sabias que eu estava, eu, o divino
Cantor universal de voz sem par

Nuno de Aguiar - Fado Margarida de Miguel Ramos
Que figura mesquinha hás-de fazer
Em contraste com o meu valor profundo
Não voltes a cantar onde eu estiver
Porque eu só; apaixono de todo o mundo

Mário Rocha - Fado Varela de Renato Varela
E a guitarra lhe diz, humildemente;
Teu orgulho é talvez, demasiado
Tens valor sim; mas cá prá nossa gente
Tens um defeito; não cantas o fado

És de todos; não tens pátria, afinal
E eu nunca invejei tua nobreza
Tu és o violino universal
Mas eu sou a guitarra portuguesa

Errei

Alberto Rodrigues / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Mariana Silva
                                                          
Errei, mas não fui culpada
Nem sei até porque errei
Foi o destino que quis
Errar por tudo e por nada
É uma forçada lei
Da mulher que é infeliz

Quis-lhe com tanto fervor
Que louca de amor por ele 
O amava cegamente
Era tanta a minha dor
Que andava sempre atrás dele 
A errar constantemente

Nesse sonho embalador
Fui-me deixando vencer 
Em tudo via paixão
E perdida nesse amor
P’ra sempre deixei morrer 
O meu pobre coração

E hoje desiludida
Quando o vejo ainda parece 
Que continuo a errar
É a vida sempre a vida
Da mulher que nunca esquece 
O homem que soube amar

Eu seja fado

Ana Sofia Paiva / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Sofia Ramos

Amanheceu solitária
A minha rosa em botão
Cantou-me um fado, uma ária
E foi-se abrindo em canção

É uma rosa trigueira 
Cor de Alentejo ao relento
E canta de tal maneira 
Que arrepia o pensamento

Se o meu destino é o nosso 
Se são meus os seus sinais
Colher a rosa, não posso 
Viver sem ela, jamais     

Mas se eu cantar esta rosa 
Se eu lhe fizer companhia
Talvez em flor ou em prosa 
Eu seja fado algum dia

Ala arriba

Manuel de Almeida / José Pereira “fado clarim”
Repertório de Nuno de Aguiar

Ala arriba é o grito dos poveiros
Que o mar misterioso lhes quer roubar
O grito dos fortes aventureiros
Heróis dos sacrifícios além mar

Lá partem nos veleiros, sorridentes
Na conquista de pão e de agasalho
E os calos que mostram avaramente
São medalhas sagradas do trabalho

Arriba... é o grito, o murmurar
Dos velhos lobos do mar 
Nas tempestades de além
Arriba... tem cuidado ó pescador
Olha que o mar é traidor 
não respeita ninguém

Oh almas peregrinas daqui vos louvo
Dos loucos vendavais com emoção
Filhos do povo que lutam pelo povo
Escravos do dever e da razão

Já vibra na alvorada o raio profundo
Da marcha triunfante do regresso
E os seus músculos sagrados são no mundo
As fortes alavancas o progresso

Xaile negro

Maria Fernanda Santos / Popular *fado mouraria*
Repertório de Fernanda Maria

Ao trinar duma guitarra
Com tristeza ou alegria
De xaile negro sobre os ombros
Vou cantar o Mouraria

Fado triste, xaile negro 
Aos ombros duma fadista
Quem o canta, quem o escuta 
Vive um quadro realista

Nem só a tristeza impera 
Nesse quadro realista
Xaile negro sobre os ombros 
Fado triste é mais fadista

Guitarra minha guitarra 
Dedelhando o Mouraria
Quero o xaile e a guitarra 
Na tristeza ou na alegria

Falaram de nós

Domingos Gonçalves Costa / Jorge Fontes
Repertório de Tristão da Silva

Falaram de nós quando era mentira
Vivemos somente juntos, mas tão sós
Juntos mas distantes da maldosa ira
Com que certa gente falava de nós

Falavam de nós por isso sofremos
Calúnias sem par muita hora atroz
Porém despertamos e agora nos queremos
Sem nos importar que falem de nós

Que importa o que diz o mundo
Que importa o que a boca diz
Tudo passa num segundo
És feliz e eu sou feliz;
É o que conta e após
Unidos porque Deus quis
Já ninguém fala de nós


Faram de nós, teceram-se enredos
Contaram-se histórias com finais medonhos
Mas há no amor, mistérios, segredos
Derrotas, vitórias e um mundo de sonhos

Falaram de nós sem dó nem desculpa
E a vil falsidade ergueu sua voz
Por isso è que és minha e bendita a culpa
Dos que, com maldade, falaram de nós

Fado alegre

Letra e música de Joko
Repertório de Beatriz 

Não quero mais choradinho
Estou farta de tanta mágoa
Nunca mais ninguém vai ver
Os meus olhos rasos de água

Quero cantar outro fado 
Quero deixar o casebre
Vou deixar o tom menor 
Vou cantar o fado alegre

Gostava de andar em frente
Sem nunca mais olhar para trás
Na minha terra ou no mundo
Qualquer sítio tanto faz

Quero que o meu povo 
Passe do choro ao cantar
Mesmo da velha má-língua 
Tenho que me libertar;
De amor não quero míngua 
Espero alguém para amar

Não negues a tua mão

Manuel de Almeida / Filipe Pinto *fado meia-noite estilizado*
Repertório de Manuel de Almeida 

Não negues a tua mão
Não negues o teu amor
Vê em todos um irmão
Sem olhar à sua cor

Cansado de não ser gente
E de batalhas perdidas
Minha voz andou ausente
De palavras prometidas

Minha longa madrugada
Meu silêncio de morrer
Minha feliz alvorada
Meu direito de viver

No reino de Portugal

Beatriz Santos / Pablo Lapidusas
Repertório de Beatriz 

Neste país pequenino
Há romances sem igual
De príncipes e princesas
Até ao comum mortal

São romances tão singelos 
Que a gente conhece bem
Pena é que os namorados 
Não contem nada a ninguém

Quando a gente vê tais casos 
Fica triste e sem sorrir
Mas ouvindo cantar o fado 
Acabamos por sentir

Sentir casos tão tristes 
Não acabam sempre mal
As princesas são felizes 
No reino de Portugal 

Lisboa no outono

Silva Tavares /  Nóbrega e Sousa
Repertório de Tristão da Silva 

Lisboa no outono 
Creiam que vale por cem
O dar o seu a seu dono 
Não, não custa nada a ninguém

Os dias luminosos 
Não se podem descrever
E se há estranhos duvidosos 
Façam as malas, venham cá ver

Não me desmintas, mostra que és bela
Minha Lisboa sempre menina
Mas vem de xaile e chinela
Portuguesinha e traquina
Vem co'as cachopas dos teus mercados
Sem arrebiques afrancesados
E p'ra ninguém duvidar
Como tu e só tu sabes cantar
Canta Lisboa e sorri
Que esta minha canção é para ti


As noites de bom fado 
Nas adegas regionais
São qual motivo obrigado 
De comer e chorar por mais

Nas ruas, as pessoas 
Mostram-se alegres, com fé
E cheira a quentes e boas 
E vai-se à prova da água pé

Na cama do abandono

José Fernandes Castro / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de António Campos

Na cama do desejo que me queima
Exibindo a vontade natural
Revejo o teu perfil que ainda teima
Manter essa distãncia habitual

Existe uma barreira violenta
Que sem querer me tem acorrentado
E sempre que o instinto me atormenta
Eu sou, pelo amor, abandonado

Dou voltas e mais voltas em redor
Do
corpo que rejeita o amor que tenho
Cansado... adormeço sem amor
E sem saber do amor, o seu tamanho

Tristonho... acordo sem sorrir à vida
Sem ter motivos p'ra beijar o dia
Em nome da batalha já perdida

Ganharei o amor em guerra fria

Talvez

Letra e música de Archimedes Messina
Repertório de Tristão da Silva

Talvez você me veja, talvez
Talvez você me abrace, talvez
Há muito tempo que eu vivo a esperar
Por este momento
Há muito tempo, há muito tempo

Talvez você você me beije, talvez
Talvez você despreze o meu amor
Eu só não sei se aceitarei sua presença
Depois do que você me fez... t
alvez

Quando as palavras são poucas

João Imaginário / Franklim Godinho *quadras*
Repertório de Manuel Fria

Quando as palavras são poucas
P'ra dizer, não desespero
Canto o fado em quadras soltas
Co'a liberdade que quero

Dá-me um sorriso dos teus 
Se o teu sentir è sincero
Porque eu sonhei que não voltas 
Co'a liberdade que quero

No meu jeito de cantar 
Nem qualquer tema tolero
O meu fado è inspirado 
Co'a liberdade que quero

Digo-te adeus sem ter medo 
Hás-de voltar, assim espero
Com mil ideias de fado 
Co'a liberdade que quero

Somos dif'rentes dos outros 
O nosso amor tem seu esmero
Tem a noção das palavras 
Co'a liberdade que quero

Além de ti

Fernando Farinha / Casimiro Ramos
Repertório de Manuel de Almeida

De criança te adorei
Fiz de ti a doce esperança
Do amor que desejei
Hoje vejo loucamente
Que quanto mais me desprezas
Mais te quero ardentemente

P'ra esquecer... 
Já fugi ao teu olhar
Julgando assim, apagar
O fogo da minha crença
Mesmo distante... 
Tua imagem não esqueci
Quanto mais longe de ti
Mais sinto a tua presença

Cruel sorte Deus me deu
Ter no peito um coração
E saber que não è meu
Tristes olhos recebi
Deviam ver toda a gente
E só te vêm a ti

Além de ti... 
Nem o mar longo e profundo
Nem a grandeza do mundo
Nem do sol, o seu calor
Além de ti... 
Só Deus, alma redentora
E este amor que sofre e chora

À espera do teu amor

Fado livre

Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa
Repertório de Tony de Matos

Perdi o teu amor
Há mais amor por esse mundo
Um cais é de chegar e de partir
Viver devia ser
Não ter amarras, vagabundo
Chegar, sorrir, olhar e prosseguir

Perdi o teu amor
Não sou capaz de guardar nada
Sei lá quantas perdi até aqui
Mas fui, fomos os dois 
Uma loucura desvairada
Depois, não sei porquê que te perdi

Amarras entre nós
Prendem a força do amor
Sou livre como o vento
Sem quadrantes
Aqui, ali, além
Amar seja quem for
Mais livre, meu amor
Do que era dantes

Perdi o teu amor
Deixá-lo ir por aí fora
Um cais é de chegar e de partir
Amar devia ser
Não ter amarras, ir embora
Voltar, sorrir, olhar e repetir

Perdi o teu amor
Há mais amor em qualquer lado
Raiz que não morreu dá sempre flor
Verás teu corpo-chão por 
Tantos beijos meus, lavrado
Voltar a renascer de cada amor

Evocando o passado

Domingos Gonçalves Costa / Francisco Carvalhinho
Repertório de Fernanda Maria

Gostava de ir contigo à noite, à Mouraria
P'ra reviver saudosa os restos do passado
Pois desde a Amendoeira, até à velha Guia
Em tempos que lá vão, reinava ali o fado

Levarei o meu xaile e tu vestes samarra
Dois símbolos de fé do fado de outra era
E ali no Capelão ao som duma guitarra
Canto como quem reza, os fados da Severa

Depois, juntos os dois, à luz da branca lua
Um rosário de penas iremos desfiar
Cantando um fado triste, ali em qualquer rua
Daquelas, onde agora, a dor anda a cantar

E antes que nasça o sol, em romagem singela
De viela em viela, em doce melodia
Iremos, braço dado, até junto à capela 
Cantar cheios de saudade o fim da Mouraria

Parti

Carlos Leitão / Popular *fado das horas*
Repertório de Carlos Leitão

Nem sempre choro por ti
Quando a agonia me pesa
Hoje fui eu que parti
Todos os pratos da mesa

Hoje fui eu que parti 
Deste amor que se desfez
Nem sempre choro por ti
Deixo-te só desta vez

Ando à procura de mim 
E da sorte merecida
Deixar-te é apenas o fim 
E o começo de uma vida

Não te esqueças deste dia 
Hoje fui eu que parti
A mesa ficou vazia 
Não vou chorar mais por ti

Fado mourisco

Azinhal Abelho / Alfredo Duarte *marcha do marceneiro*
Repertório de Manuel Fria

Esta saudade morena
Foi de uma serracena
Que ma deixou, a chorar
É herança de raiz
Que eu canto no meu país
Quando estou em frente ao mar

No reino da desventura
Na jura ficas perjura 
Quando eu quis tu não quiseste
Sol e vento cinza e lama
Nem os moiros da moirama 
Fazem o que tu fizeste

Ó lua, rosa encarnada
Lua cheia, lua estrada 
Lua que matas assim
Três feridas num corpo nú
Um lençol de pano cru 
Minha mãe, chora por mim

Quem faz de conta

Jerónimo Bragança / Jorge Costa Pinto
Repertório de Tristão da Silva

Não é viver se não houver a flor dum sonho
Flor sem raiz, chão sem país ao sol risonho
Sonhar é força que o sangue percorre
Quem vive sem sonhos
Como que morre sem andar

Sonhar é tudo quanto resta 
A quem não tem de seu
Quem faz de conta, não protesta
É como eu
Sonhar é fome que consome 
E que faz mal
Maldito sonho em que suponho
Ser teu igual

Viver não é chegar ao pé 
De quem responde
Viver é mais saber que mais
Ir ver aonde
Viver é força do sangue dum sonho
Quem mora na vida 
Quase não vive sem sonhar

Aquele degrau

Horácio de Carvalho / Jorge Fontes
Repertório de Manuel de Almeida

Tanta vez, a hora morta
Eu encaminhei meus passos
Para ir à tua porta 
Ao encontro dos teus braços

E aquele degrau que havia 
Na tua escada, à entrada
P'ra me anunciar, gemia 
De cada vez que o pisava

Velho degrau carcomido
Que nunca mais pisarei
E aquele estranho ruído
Que eu nunca mais ouvirei;
Velha escada que subi
Tanta vez, de madrugada
Velho degrau que desci
Sem fé, sem amor, sem nada


O degrau que tanta vez 
Eu pisei com emoção
Numa só noite desfez 
Dentro em min, uma ilusão

Degrau que, tão de mansinho 
Com medo de te acordar
Pisava devagarinho 
Já não quero mais pisar

Volta amor

João Correia / Nel Garcia
Repertório de Fernanda Moreira

Vida tão triste 
Esta que levo, meu Deus
Ao fingir que me não viste
Mal disseste os sonhos meus
Vida tão triste 
Eu levo pra meu castigo
Já nada pra mim existe
Volta amor, anda comigo

Volta amor
A este leito de arminho
Vem reviver o calor
O calor do meu carinho
Volta amor
Fica p’ra sempre a meu lado
Vem esquecer esta dor
D’um triste viver passado

Vem a meus braços
Vem amor... oh que tristeza
Meus braços vão dar abraços
De um novo amor com certeza
Vem a meus braços
Aperta-os com devoção
E vem dar fim aos cansaços
Que existem em meu coração 

Nunca vivi

Jorge Rosa / João de Vasconcelos
Repertório de Tony de Matos 

Se agora sim, tenho um motivo 
Para viver e se hoje vivo 
Só por te ter, só por viver 
Ao pé de ti
Vou procurar as horas de ontem
P'ra lhes falar, p'ra que me contem
Se no passado, s
em ti a lado 
Também vivi

Tudo emudece, tudo se cala
Tudo parece perder a fala
Se eu recordar, nada me diz, já vi
Tudo é silêncio, estou convencido
Andei sem ti, andei perdido
Nunca vivi, nunca vivi


Se agora sim, tenho outra forma
A minha vida e o que a transforma
É a alegria de, por magia
Ter-te encontrado
Vou ver se sei porque razão
Não te encontrei na solidão
Sem cor nem luz q
ue sem querer pus 
No meu passado

Asas de gaivota

Carlos Lacerda / Raul Ferrão *fado carriche*
Repertório de Carlos Marques 

Porque tens asas de gaivota
Na sombra do teu andar
É quando partes, fico
Tão triste, quase a chorar

Porque tens mar nos teus olhos 
Em marés de noite escura
É que ando neste estado 
Quase em estado de loucura

Mas quando vens finalmente 
Quando juntamos os corpos
E os sentidos aquecem 
Porque não estamos mortos

É que eu voo à tua altura 
E debaixo da tua asa
Posso contruir com sonhos
As pedras da nossa casa

O fado da tua ausência

Matos Maia, Zélia Pinto / Franklim Godinho 
Repertório de Manuel Fria 

Eu sei que sou o culpado
Tu já não estás a meu lado
Pois não te soube prender
Eu sei que tu és feliz
Mas se o destino assim quis
Já nada posso fazer

Prendi-me só à saudade
Da minha triste verdade 
E do amor que perdi
Vivo uma vida fingida
Ao lembrar tua partida 
E ao sentir que estou sem ti

E choro ao estar sozinho
E ao lembrar o teu carinho 
Como quem sente e não vê
Mas mesmo assim vou vivendo
Embora aos poucos morrendo 
E vivo nem sei porquê

Vivo ao sabor das marés
Corro a praia lés a lés 
Já sinto o corpo doer
Mas não, não posso parar
Eu tenho que te encontrar 
Nada me pode prender

Cantiga de amigo

Mendinho / Alain Oulman
Repertório de Amália

Sentada na ermida de São Simeão
Cercaram-me as ondas, que grandes são
Eu atendendo o meu amigo
Eu atendendo o meu amigo

Estando na ermida, frente ao altar
Cercaram-me as ondas, grandes do mar
Eu atendendo o meu amigo
Eu atendendo o meu amigo

Não tenho barqueiro nem armador
Morrerei formosa no mar maior
Eu atendendo o meu amigo
Eu atendendo o meu amigo

Bons dias

Artur Ribeiro / Jorge Fontes
Repertório de Fernando Maurício 

O que eu guardo nos sentidos 
Do nosso amor acabado
São os dias bem vividos
Que passamos lado a lado


Já me esqueci, na verdade
Do mal que tu me fizeste
Mas recordo com saudade
Os bons dias que me deste

Bons dias
Bons dias que já passamos
Bons dias
Que não fazem muitos meses
Horas em que nos amamos
E nos zangamos às vezes
Bons dias que não voltamos
A viver, por mais que rezes


Vi-te partir iludida
Tal como alguém que se presta
A dar, num dia de vida
Toda a vida que lhe resta


E a fita com que prendias
Os cabelos, p'ra dormir
Ficou a dar-me os bons dias
Nos maus dias que hão-de vir

Boémia da noite

João Correia / Nel Garcia
Repertório de Leonor Santos 

Tu dizes a esmo 
Coisas que não são
Nada de ti mesmo 
Ditos sem razão
Tu dizes a esmo 
Triste desabafo
Nada disso eu faço 
Louco coração

Boémia da noite 
Éo que me chamas
Mas não proclamas 
A louca que sou
Boémia da noite
Sou o que tu és
Em vivas marés 
No mar para onde vou

A noite é p’ra mim 
Meu eterno encanto
É rumo sem fim 
Irmã do meu canto
A noite é pra mim 
Poema encantado
É tudo de um fado 
É a voz que te canto

Fado da rua tranquila

Rodrigo de Melo / Georgino de Sousa
Repertório de Vicente da Camara

Minha rua sossegada
Onde se não passa nada
E se conhece quem passa
És como certas mulheres
Tão linda sem o saberes
Com graça sem querer ter graça

Não tens luxo e és ditosa
Não te compões e és formosa 
Não és rica e vives bem
Minha rua pequenina
Onde brincaste em menina 
E já brincou minha mãe

Trabalhas mas também amas
Quando o amor acende chamas 
No olhar das tuas donzelas
És maneirinha e garrida
Governas a tua vida 
E tens cravos nas janelas

Eu não tenho outra delícia
Que ir vivendo na carícia 
De te dar minha amizade
Deixar-te era padecer
Era aprender a dizer 
Esta palavra saudade

Fado antigo

Martinho d'Assunção (pai) / Popular *fado corrido*
Repertório de Manuel de Almeida 

Também gravado com o título *Antigamente*

Meu velho fado corrido
Se foste dos mais bairristas
Porque te mostras esquecido
Na garganta dos fadistas

Explicou-me um velho amigo 
Como o fado era tratado
Tinha graça o fado antigo 
Da forma que era cantado

Um ramo de loiro à porta 
Indicava uma taberna
À noite era uma lanterna 
Com sua luz quase morta

Sobre os cascos da vinhaça 
Deitada em forma bizarra
Estava sempre uma guitarra 
Para servir de negaça

O canjirão da murraça
De tosco barro vidrado
Andava sempre colado 
Aos copos, pelo balcão;
E era assim nesta função 
Como o fado era cantado

Se aparecia um tocador 
Às vezes até zaranza
Pedia ao tasqueiro, a banza 
Para mostrar seu valor

Logo havia um cantador 
Dando um tom de certo perigo
Provocava o inimigo 
No cantar à desgarrada;
Até às vezes com lambada 
Tinha graça o fado antigo

Pouco tempo decorrido 
Cheia a taberna se via
P’ra escutar a cantoria 
Ao som do fado corrido

Todos prestavam sentido
Quando alguém cantava o fado
O tocar era arrastado 
O estilo dava a garganta;
Hoje pouca gente o canta 
Da forma que era cantado

Escutei com atenção 
Um cantador do passado
E a sua linda canção
Prendeu-me p’ra sempre ao fado

Por muito que se disser 
O fado é canção bairrista
Não é fadista quem quer 
Mas sim quem nasceu fadista