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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.285' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Queimei tudo

Vasco Lima Couto / António Chainho
Repertório de Manuel de Almeida
Este tema foi gravado por Fernando João 
na melodia do Fado Carriche de Raúl Ferrão

Queimei tudo, queimei tudo
Dentro e fora desta chama
O teu nome em minha rua
O teu corpo em minha cama

Queimei o primeiro encanto 
Que de noite viajou
Entre as mãos das flores altas 
Que o silêncio incendiou

Queimei o dia seguinte 
Que ansiava repetido
E a fome de ter palavras 
Que ainda não tinha vivido

Queimei a alegria pura 
Que trouxe do desencanto
Filho do mar e do vento 
Onda rasgada no pranto

E ali, quando o outro dia 
Me encontrou sozinho e mudo
Fiz um poema de nada 
E sem alma queimei tudo

Um instante de Deus

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Deixaste-me ser Deus por um instante
Para trocarmos o mundo por um beijo
Enquanto te despia em sol minguante
A lua foi-te entregue num desejo;
Deixaste-me ser Deus por um instante
E a lua foi vestida de desejo

Dias a fio sem te contar
Algumas coisas deste lugar
Noites de frio no teu olhar
Teu corpo esguio, um desafio por saciar

Deixaste-me adornar os sentimentos
Na cega lei de amar em liberdade
O fado em que cantei tantos tormentos
È hoje um fado novo sem idade;
Deixaste-me ser Deus por um instante
P’ra te pintar o corpo com saudade

Dias a fio sem te contar
Algumas coisas deste lugar
Os sete céus de azul vibrante
São meus e teus
Porque fui Deus por um instante

A trova do amor amigo

Vasco de Lima Couto / António Chainho
Repertório de Vasco Rafael

Deitados na montanha, nós despimos a lei
Ficando como a brisa a correr a manhã
Cada braço era um tronco envolvido p'la era
A crescer no amor da nossa primavera

O que foi que dissemos no amor entregado
Vias o céu alto e eu via o chão fechado
Semeados p'lo sonho, fomos os dois buscar
O barulho do vento e uma onda do mar

A tarde refrescou-me o desejo de estar
E a vida veio lenta, nossos olhos fechar
Uma canção foi longe buscar a àgua pura
P'ra inventar o amor nos ramos da aventura

Um pássaro desceu, espreitou-nos o sono
E foi contar às ondas o feliz abandono
Quando a noite chegou à solidäo parada
Encontrou a alegria numa folha esmagada

Canção de nós dois

Pedro Bandeira / António Mestre
Repertório de António Mourão

Onde eu for, tu irás
Se eu ficar, ficarás
Se eu partir
Partirás onde eu for
Um olhar e depois
O luar e nós dois
Só nós dois 
A viver um grande amor

A canção é assim
Vem de ti para mim
É o meu coração
Esta canção
Foi o mar que dançou
Na canção do meu bem
Do meu bem que adorou 
E eu também

Balada para um anjo

J. Diniz / Alvaro Duarte Simões *meia noite e uma guitarra*
Repertório de Tristão da Silva

Tenho na vida dois céus
Não sei qual deles mais brilha
Se aquele aonde está Deus
Se o olhar da minha filha
Cabelos, pedaços d'oiro

Da cor do trigo maduro
Pequeno milagre loiro
A iluminar-me o futuro

Se quiseres, minha filhinha 
Dar-te-ei o sol e a lua
Das estrelas, vida minha
A maior será a tua

A minha linda menina 
Será o meu 'ai Jesus'
Apesar de pequenina 
Enche-me a vida de luz

Luz azul divinizada 
Onde revivo o pecado
Quando d'alma ajoelhada 
Eu rezo cantando o fado

O ardina

*Alta noite de madrugada*
Fernando Farinha / Fontes Rocha
Repertório de Fernando Farinha

Alta noite, madrugada
Já sai de casa o ardina
Com destino à redação
Traz as sobras dos jornais
E na boca pouco mais
De que um pedaço de pão

Pé descalço, boné ao lado
Fato de ganga já remendado
Lá vai contente p'ra sua lida
Como a troçar da própria vida


À tarde, depois da venda
Joga à bisca na taberna
Pois no jogo è sempre forte
Tem sorte à bisca, porém
A sorte que ao jogo tem
Não condiz co'a sua sorte

O fado nem sempre é fado

Guilherme Pereira Rosa / Popular *fado corrido* 
Repertório de Tristão da Silva

O fado nem sempre é fado
Foste fado, foste encanto
Gostei de ti, tanto tanto
E afinal hoje és passado

O fado nem sempre é fado 
Que sina a minha contigo
Tu andas sempre comigo 
Onde vá, por todo o lado

O fado nem sempre é fado 
Nem sequer pensas em mim
Que
pensar dum fado assim  
Que só me tem desprezado

E vou assim p'lo caminho 
Sem ninguém, sempre isolado
Mas, regresse o teu carinho 
E eu direi que o fado é fado

Amor e caridade

Américo Patela / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Fernando Farinha

Quando o amor è franco, puro e amigo
Não tem soberba alguma, nem vaidade
Nem julga que o sofrer è um castigo
Pois sofrer por amor, è caridade

E sendo o meu pensar esta maneira
Todo o meu sofrimento è natural
A vida, infelizmente, è passageira
E sofrer por amor nunca fez mal

Por isso, sê feliz como tu queres
E deixa-me sofer p'la vida fora
Se precisares de mim, quando quiseres
Tens sempre a porta aberta a toda a hora

Deixa essa solidão

Manuel Fria / Popular *fado menor c/refrão*
Repertório de Manuel Fria

Meu amor, anda comigo
Deixa essa solidão
Se pensas que eu não consigo
Conquistar teu coração;
Conquistar teu coração
Meu amor anda comigo
Deixa essa solidão
Se pensas que eu não consigo


Por vingança me trocaste 
Por vingança te troquei
Na troca nada ganhaste 
Na troca nada ganhei

Julgavas ser mais feliz 
Mas vê como te enganaste
O teu olhar è que o diz 
Na troca nada ganhaste

Tomei conselhos d'alguém 
Esse alguém não te direi
Só p'ra me vingar também 
Por vingança te troquei

Eu sinto-me arrependido 
Em dizer que te troquei
Em ter assim procedido 
Na troca nada ganhei

Rosa negra

António José / Ferrer Trindade
Repertório de Tony de Matos

Seu nome è Rosa, serena e calma
Mas cor de rosa só tem a alma
Rosto bonito, cor de canela
Mas em Luanda
Não
há nenhuma assim como ela

Rosa negra, teu destino está marcado
Rosa negra, no destino dum soldado
Tem cuidado com os desenganos
Quen te quer para a vida inteira
Que não seja só por dois anos
Deus queira

Mas o soldado partiu e agora
Desde que um dia se foi embora
Sente a saudade que o desespera
Volta que a Rosa
No cais tão distante ainda t'espera

Deus queira

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Fernanda Maria

Quero que Deus te castigue
Com um castigo sem fim
Que não passes mais um dia
Sem teres de voltar p'ra mim

Que fiques só, como eu estou só
Deus queira
Que sofras tanto com o meu pranto
Deus queira
Que essa paixão seja traição
Eu espero
Que o teu viver seja sofrer
Eu quero

Que o teu amor seja só dor
Deus queira
E a tua vida fique perdida
Deus queira
Mas que por fim, dessa maneira
Prós meu braços voltes, amor
Deus queira

Quero que Deus te castigue
Mas sem dó nem piedade
Que não deixe no teu peito
Nem a palavra saudade

Fado monte

Carlos Leitão / Custódio Castelo
Repertorio de Carlos Leitão

Nasce o sol no Alentejo 
Nasce água clara na fonte
Nasce em mim a saudade 
Na ladeira do teu monte

Na ladeira do teu monte 
Meu amor, quando eu te vejo
Nasce água clara na fonte 
Nasce o sol no Alentejo

Amanheceu e a porta abriu
O sol plebeu ao meu sonho
Que ninguém viu
È neste monte que o horizonte
Se levanta e faz tardio
Doce lembrança que não partiu

Mais aconchego
Vinho em botão
Calor no apego
Sangue na mão

Um céu deserto traz à saudade
A chuva ao perto
Num corpo aberto à liberdade
Em mil imagens conto as viagens
De um passado sem idade
E se me esqueço, sonho à vontade

Portuguesinha

Rui Furtado / Henry Cofiner (ou) António Ballasteros
Repertório de Manuel Fernandes

Quem já esteve em Portugal 
Ficou preso ao seu encanto
E é coisa bem natural 
Que lhe haja agradado tanto

Sentirá saudade infinda 
Ao recordar a canção
Que uma portuguesa linda 
Lhe cantou com emoção

A portuguesa a amar
Quando em verdade sente
Deixa a alma a vibrar 
No seu amor ardente
Bonita como as flores
D' olhos sonhadores
Vai despertando 
Amores ao vibrar

Mouraria, Mouraria 
De tradições tão airosas
És berço da melodia 
De mil cantigas famosas

Ao som duma guitarrada 
Faz-nos sonhar acordados
E deixa a alma elevada 
Ouvir do fado, os trinados

Agora que não sabes mais de mim

Carlos Leitão / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Carlos Leitão

Agora que não sabes mais de mim
Não sei se por acaso ou por vontade
Planta mais um cravo no jardim
E chora uma vez mais esta saudade

Odeia-me à vontade, trai lembranças
Deixei o nosso amor mas não o acabo
Sou isto, a revolta de crianças
Nascidas do meu Deus e o Diabo

Sou povo angustiado e madrugada
Num corpo masoquista em solidão
Sou sempre a nossa história inacabada
Sou o sangue por chegar ao coração

Ainda que procure o mesmo fim
Que esteja à minha frente sem saber
Agora que não sabes mais de mim
Talvez eu ‘inda esteja por nascer

Máscara

José Pereira / Frutuoso França
Repertório de Maria José da Guia

Faltaste ao juramento que entre nós dois havia
Ludibriaste assim meu pobre coração
Acreditei em ti, estava cega, não via
Só existir em ti a máscara da ilusão

Coração libertino que se deixou prender
Nas garras dum amor que nunca soube amar
Tive pena de mim, mas vi que era mulher
Meu coração mais frágil deixou-se apaixonar

Encorajei a alma, fiz-me forte e venci
A chama do ciume no peito de mulher
E as lágrimas que outrora dos meus olhos  verti
Transfornaram-se agora em risos de prazer

Segue a estrada da vida como se te aprouver
Segura bem a máscara, vê lá, toma cuidado
Pois se ela te cair, verás que outra mulher
Tu julgas enganar, e ès tu que ès enganado

Campino apaixonado

Leonel Neves / António Mestre
Repertório de Tony de Matos

Se não há nada que possa 
Fazer tremer um campino
Maldito olhar dessa moça 
Que faz de mim um menino

Olhou-me sem dizer nada 
Larguei da mão o pampilho
Aquilo deu uma pancada 
Pior que a marrada de algum novilho

Sou um campino capaz
De ir só atrás duma manada
Não deixo o toiro fugir
Nem o cavalo cair;
E já nem sei onde foi
Peguei um boi numa toirada
Só não consigo vencer
As manhas duma mulher


Quando ela passa indiferente 
Todo eu me dano e me zango
Meu coração de repente 
Põe-se a bater o fandango

Embora nada me deva 
Se calha de olhar para outro
Eu sinto estrelas na treva 
Como quem leva coices dum potro

De beleza estás vestida

Fernando Correia / Joaquim Campos *fado puxavante*
Repertório de Carlos Marques

Teus olhos calmos, morenos
São a minha inquietação
Embora estejam serenos
Perturbam meu coração

Teus lábios são violetas 
De primavera orvalhados
Fossem os meus borboletas  
P'ra estarem nos teus poisados

Teus dentes são prata fina 
Mais brancos do que o marfim
Óh... quem me dera menina 
Que sorrisses só p'ra mim

De beleza estás vestida 
Mas é breve a formosura
Sê virtuosa na vida 
Que a beleza em ti perdura

Outra rosa me trouxeste

Maria Manuel Cid /  Alfredo Duarte *menor versiculo*
Repertório de Fernanda Maria

A rosa que tu me deste, que ternura
Ao calor do teu abraço já murchou
Outra rosa me trouxeste, que amargura
Nem sequer no meu regaço desfolhou

Com a dor de braço dado, que saudade
Como a rosa desbotada, me tornei
P'ra matar o teu pecado de maldade
Essa flor abandonada desfolhei

Com a sombra do meu gesto de agonia
Um pedaço de roseira se cravou
Esse espinho foi o resto que vivia
Recordando-me a cegueira que passou

Vai-se traçando um destino

Tiago Torres da Silva / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Emanuel Soares

A terra não cicatriza
Das marcas que alguém que a pisa
Vai deixando levemente
Meu amor, a terra chora
Porque o tempo è uma espora
Amarrada aos pés da gente

Se um homem deixa pegadas
Vão-se desenhando estradas 
Vai-se traçando um destino
E na marca do seu pé
Um homem pouco mais é 
Do que um Deus feito menino

Mas se uma mulher avança
Vem um pé, um outro dança 
E o tempo rodopia
Levanta-se o pó do chão
E a terra sente afeição 
Pelo pé que a repudia

Os homens traçam caminhos
E seguem sempre sozinhos 
Sem a chance de parar
Sabendo em cada pegada
Que a mulher è que é a estrada 
Onde aprendem a andar

O que mais vale no mundo

António Vilar da Costa / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Fernando Farinha

Só dás valor ao dinheiro
Mas esta verdade aprende
O que mais vale no mundo
Não se compra nem se vende


Abandonas por vaidade 
O que è puro e verdadeiro
Na tua leviandade 
Só dás valor ao dinheiro

O destino traz supressas 
A quem ao luxo se prende
Sei que a verdade desprezas 
Mas esta verdade aprende

È dentro do coração 
Quando o sentir è profundo
Que existe o maior brasão 
O que mais vale no mundo

Para ti è coisa pouca 
Mas ao ouro não se rende
Porque o amor, minha louca 
Não se compra nem se vende

Derradeiro amor

Letra e musica de Moniz Pereira
Repertório de Manuel de Almeida

Amanhã vou sofrer a sorrir
Amanhã vou viver a mentir
No meio de tanta incerteza que me assalta
Este novo sentimento faz-me falta

Na minha vida, a tristeza
Também è contentamento
Só por causa deste amor derradeiro
Que p'ra mim tem mais valor que o primeiro

Amanhã minha dor è contente
Amanhã meu amor è diferente
Esta minha solidão vai morrer
E o meu velho coração, reviver

Porque a nova felicidade
È já uma realidade
Só por causa deste amor derradeiro
Que p'ra min tem mais valor que o primeiro

Madrid

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório de Carlos Leitão e Gisela João

Nuvens de cinza e fogo
Trespassam tudo o que vive em mim
Todos os dias, manhãs vadias
Porque me rogo em cinza e fogo ?
P’ra te encontrar por fim

Queimei as recordações
De quem não ficou mais um minuto
Porque não voltas em notas soltas?
Não há razões nos corações
Chorando o luto

Um amor intemporal
Perdeu-se de nós p’lo esquecimento
Tenho saudade dessa verdade
Que um vendaval, talvez por mal
Tornou lamento

Sesimbra ao meio-dia

Letra e musica de Fernando Farinha
Repertório do autor

Quem não viu ainda, Sesimbra ao meio dia
Quando os barcos chegam duma pescaria
Não compreendeu, não conhece bem
O ar pitoresco que Sesimbra tem

Ao largo, as traineiras mudas e paradas
Confessam canseiras de fainas passadas
Os botes desenham bailados no mar
Trazendo p'ra terra, o peixe a saltar

Chegam pescadores, a praia está cheia
As redes repousam estendidas na areia
Sesimbra redobra de cor e alegria
E fica mais linda chegando o meio-dia

Venham ver Sesimbra sempre a namorar
Recebendo beijos do sol e do mar
Vejam o progresso que o tempo lhe deu
Mas vejam também como ela nasceu

Se for noite, se for dia

Manuel Fria / Popular *fado das horas*
Repertório de Manuel Fria

Nas ondas do teu cabelo
Eu leio teus pensamentos
Só não sei porque razão
Não consigo entendimentos

Se for noite não consigo 
Encontrar a solução
Talvez a cor não me ajude 
Transmitir ao coração

Se for dia, no entanto
É mais fácil encontrar
Porque é que me agradas tanto 
Quando me estás a olhar

Na procura dum desejo 
Que não tem razão de ser
No meio desta confusão 
Tudo pode acontecer

A roubar ao sol a cor

Carlos Leitão / Custódio Castelo
Repertório de Custódio Castelo

Porque è que a vida da gente
Faz sentido sem amor
Se dou por mim de repente
A roubar ao sol a cor;
Porque è que a vida da gente
Faz sentido sem amor
Se te sigo eternamente
Seja lá p’ra onde for

Ficou uma porta entreaberta
Que não pudemos fechar
E uma casa já deserta
Sempre que ousamos sonhar

Do tempo que foi passando
Resta pouco mais que nada
Não nos deu um *até quando*
Nem uma história acabada

Pobre de mim

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha

Se o meu olhar 
Não te encontrasse
Eu não seria tão diferente como sou
Apenas cinza que ficou
Talvez eu fosse o mesmo lume
E a mesma chama radiosa que deu luz
E o teu desprezo apagou

Quis transformar
Um simples sonho em realidade
Semeei
rosas
E em vez de amor colhi maldade
Triste surpresa
Que recebi da natureza

Feliz de quem 
Um dia, gostou de alguém
E em troca do seu amor
Amor igual recebeu
Pobre de mim 
Que gostei de alguém, assim
Com tanto amor e no fim
Em troca, nada me deu

Não te importes de quem chora

Fernanda Maria / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Fernanda Maria

Lágrimas traduzem lamento
Escondido em meu olhar
São mágoas de sofrimento
Que moram no pensamento
De quem nasceu p'ra te amar

A verdade queres esconder 
Não dizes, eu adivinho
Só me tentas convencer
Que temos de percorrer 
Cada qual, o seu caminho

Se tens outra, vai-te embora 
Não te quero por caridade
Não te importes de quem chora
Porque há-se chegar a hora 
Da minha felicidade

A pedra que caíu

Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa
Repertório de Tony de Matos

Quando a pedra caiu  
O pântano ondulou
Não sei donde surgiu
A pedra que caiu
Nem quem a atirou

Não sei quem foi que viu 
Alguém nos apontou
Nenhum de nós pediu 
Silêncio a quem viu
Piedade a quem falou

Eu gosto de ti e tu gostas de mim
O mais, seja o que for, deixá-lo ser
Nós vamos a par, vocês podem falar
Não è crime nenhum viver


A pedra que caiu 
Alguém a atirou
Não sei quem foi que viu 
Mas não nos atingiu
Caiu e lá ficou

O pântano ondulou 
Não sei quem foi que viu
Alguém nos apontou 
Alguém nos atirou
A pedra que caiu

Crianças na orfandade

Fernando Farinha / José António Sabrosa *fado tia dolores*
Repertório de Fernando Farinha

Crianças na orfandade
È para vós este fado
Que eu aqui venho cantar
Fado velho em triste boca
Lábios que em rimas humildes
Vossas bocas vêm beijar

Crianças na orfandade
Aves sem sol e sem ninho 
Esperando a calor d'alguém
Como è triste estar no mundo
Sem os carinhos de pai 
E os doces beijos de mãe

Crianças na orfandade
Folhinhas tontas ao vento 
Sem o tronco onde nasceram
Que Deus guarde as vossas vidas
E as compense em felicidade 
Do bem que cedo perderam

O Porto é assim

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Alberto Ribeiro

Uma rua a descer
Uma outra a subir
Um céu cheio de cor
Um rio a refulgir

São o Porto a viver
São o Porto a olhar
Lá ao longe o azul 
E a beleza do mar

Uma ponte de ferro
Um barquinho a passar
Uma torre bem alta
Junto ao céu a brilhar
Uma cara morena
Passa agora por mim
Um sorriso no ar
E o Porto è assim


Há beleza e há cor 
Na Ribeira a cantar
Há ternura e amor
Há gente que sabe amar 

O casario sem fim 
Olhando a margem de lá
Parece dizer-lhe adeus
Querer sair donde está

Será pecado

Artur Ribeiro / José Maria Antunes
Repertório de Artur Ribeiro

Será que este amor é loucura
Será que a nossa ternura
É crime sem ter perdão
Será que esta lei faz sentido
Será mesmo proibido
Morar no teu coração

Será pecado a
mar-te assim
Será maldição 
Ter esta paixão cá dentro de mim
Se ninguém pode mudar seu fado
Dizei-me senhor 
Se este nosso amor será pecado

Será que é um mal sem medida
Sentir a vida perdida
Se não oiço a tua voz
Será que ninguém neste mundo
Sentiu amor tão profundo
Pecou assim como nós

Pouco mais

César Oliveira / João Vasconcelos
Repertório de Tony de Matos

Quero com nuvens moldar
Novo mundo imaginado
E pôr um ramo d'estrelas
No nosso céu inventado;
Quero uma árvore de ideais
Sombra da vida p'ra nós
Pouco mais
Pouco mais

Dá-me uma palavra
Uma só palavra
Pouco mais 
Pouco mais 
Pouco mais

Quero luar p'ra moldar
Num mar de prata lavrada
Onde o meu barco de remos
Deixe uma estrada marcada;
Quero encontrar outro cais
Onde o mar barco atracar
Pouco mais
Pouco mais

Dá-me uma palavra
Uma só palavra
Pouco mais 
Pouco mais 
Pouco mais

Quero o teu rosto moldar
Com uma réstia de vento
Roubar-te aos olhos, a noite
Trevas do teu sentimento;
Quero os teus beijos banais
Que só me dás por favor
Pouco mais
Pouco mais

Dá-me uma palavra
Quero essa palavra
Uma só palavra, amor

Ano novo

João de Freitas / José Ramos
Repertório de Fernanda Maria

Um ano, mais uma vida
Mais uma ilusão perdida
Mais desenganos, enfim
Novo ano, nova esperança
Aspirações de criança
É sempre assim, sempre assim

De que nos serve pensar
Que ele nos traga e possa dar 
O porvir abençoado
Pensar em tal, mas porquê? 
Se tudo quanto se vê 
Não passa dum triste fado

Um ano, mais uma vida 
Renasce a esperança perdida 
Em dias de felicidade
Ela se encontra onde quer 
Num momento de prazer 
E até na própria saudade

Passa um dia, depois dias 
Que são as Avé-Marias 
Deste rosário sem fim
E morrem nos corações 
Os sonhos e as ilusões
É sempre assim, sempre assim

Sete trovas de saudade

Rodrigues Canedo / Alberto Costa *fado torres do mondego*
Repertório de Carlos Marques

Um dia parti chorando
Mas hoje que te esqueci
Tenho saudades de quando
Tinha saudades de ti

Se ter saudades de alguém 
Já faz sofrer, mais atroz
È ter saudades de quem 
Não tem saudades de nós

Meu bilhetinho esquecido 
Minha folha de alecrim
Meu tempo ganho e perdido 
Minha saudade de mim

Quando a saudade me aperta 
Eu sinto-me debruçado
Numa janela entreaberta 
A ver passar o passado

Saudade è luz de candeia 
Sempre a acender e apagar
Para mostrar, volta e meia 
O que não chega a voltar

Sete letras tem mentira 
Sete letras tem verdade
Quem das sete, sete tira 
Tem as letras de saudade

Saudade tem sete letras 
Sete véus, sete punhais
Sete pés de violetas 
Sete pecados mortais

Névoa te tornaste

*Cinzento*
Florbela Espanca / Custódio Castelo
Repertório de Cristina Maria

Poeiras de crepúsculos cinzentos
Lindas rendas velhinhas em pedaços
Prendem-se
aos meus cabelos, aos meus braços
Como brancos fantasmas sonolentos

Monstros soturnos deslizando lentos
Devagarinho, em misteriosos passos
Prende-se a luz em languidos cansaços
Ergue-se a minha cruz dos desalentos

Poeiras de crepúsculos tristonhos
Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos
A névoa das saudades que deixaste

Hora em que o teu olhar me deslumbrou
Hora em que a tua boca me beijou
Hora em que em fumo e névoa te tornaste

Palavras roubadas

Vasco de Lima Couto / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de António Mourão

Roubei muitas palavras na solidão quieta
Para ver se ouvia contar a minha história
Mas doeram-me tanto as palavras roubadas
Que eu hoje só te encontro no fundo da nemória

E se às vezes te vejo, procuro uma razão
P'ra logo t'esquecer e passar adiante
Mas mistura-se o vento e eu sei que ele conhece
Que há um grito em teu nome de ave morta e d'amante

Ponho as mãos sobre a ponte donde se avista a margem
E canto o fado inútil, da noite em seu redor
Mas todas as palavras caíram no silêncio

E o silêncio cresceu, meu amor, meu amor

São coisas do fado

Guilherme Pereira Rosa / Carlos Villareth
Repertório de Tony de Matos

Gostar da noite em Lisboa 
Duma guitarra que chora
Dum olhar que se enamora 
Duma canção que se entoa

Gostar do Tejo que passa 
E ao passar sente saudade
Amar Alfama e a Graça 
Bairros velhos da cidade

São coisas do fado
Que não morre e se não rende
E quanto mais è passado
Mais nos prende
São coisas do fado
Deste fado de quem sente
Que Lisboa lado a lado
È fado da nossa gente


Gostar do luar, de viela 
Trocar a noite p'lo dia
Haver sempre esta e aquela 
Que nos trazem nostalgia

Gostar do bem e do mal 
Sem discutir, ir à toa
Ao sabor do vendaval 
Que è o fado de Lisboa

Lisboa de outros tempos

Letra e música de Fernando Farinha
Repertório de Fernando Farinha

Velha Praça da Figueira
Da varina regateira
E do marujo gingão
Imperatriz dos mercados
Com bailaricos e fados
Nas noites de São João

Ó verbena dos paulistas
Recanto dos mais bairristas 
Que em saudade se distingue
Das barracas de farturas
E endiabradas loucuras 
Nos despiques de swing

Coliseu dos arraiais
Dos alegres carnavais 
Do alfacinha boémio
Dos concursos de pregões
Das marchas com seus balões 
E das cegadas a prémio

Ó Lisboa doutra era
Do Retiro da Severa 
Do Mondego e do Solar
Motivos d'alma e de vida
Como o Luso d'Avenida 
Onde apareci a cantar

Ó Lisboa do passado
Das patuscadas com fado
D'alegria e d'amizade
Traz de novo a tua raça
Dá-me um ar da tua graça 
P'ra não morrer de saudade

Palminho de cara linda

DR / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de António Melo Correia

Palminho de cara linda
Carinha de lindo jeito
Que linda medalha davas
P'ra gente trazer ao peito

Eu dava o céu se o tivesse 
O céu, o mundo sem fim
Para esquecer o momento 
Que te esqueceste de mim

Se eu soubesse que voando 
Alcançava o meu desejo
Mandava fazer as asas 
Que as penas são de sobejo

Vocês devem perdoar-me 
Umas certas liberdades
Eu bem sei que ando a matar-me 
Mas ando a matar saudades

Porque te amo deste jeito

Alexandre Fontes / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Tristão da Silva

Não sei sei se tu me queres como eu te quero
Não sei se tu me dás tua afeição
Só sei que este amor è tão sincero
E que pertence a ti meu coração

Não sei se tu anseias meu regresso
Não sei porque te amo deste jeito
Só sei que a tua imagem não esqueço
E que a trago gravada no meu peito

Não sei se no teu quarto, à noitinha
O meu lugar está ou não, vazio
Não sei se outro amor te acarinha
Como eu te acarinhei em desvario

Não
sei amor, não sei, não compreendo
Sem ti eu já não sei o que fazer
Só sei que a minha vida vai morrendo
Cada dia que passa sem te ver

Balada

Popular / Fontes Rocha
Repertório de Fernando Farinha

Tricana airosa não escolhas
Estudantes que te olharam
Que as tricanas são as folhas
Dos livros que eles deixaram

A lua quando te viu
Envergonhada, corou
Por não poder igualar-te
Foi para longe e chorou

Chegou o outono

António de Sousa Freitas / Nóbrega e Sousa
Repertório de Tony de Matos

De novo já no outono
Diz-me um adeus a tua mão
Que é tal e qual o adeus
Das folhas pelo chão

Depois nas sombras quietas
Ficamos ambos e a saudade
É como um céu que alaga
De eternidade

E a vida está nessas folhas
Que são as horas caídas
As horas em que desfolhas
As nossas vidas
E o outono está onde nós
Seremos névoa e dor
Eu sou tristeza, grito e voz
Pedindo amor
Ó meu amor

Minhas palavras não dizem

Letra e musica de Moniz Pereira
Repertório de Fernanda Maria

Minhas palavras não dizem 
O que eu te queria dizer
Mas os meus olhos bendizem 
Como è grande o meu sofrer;
E os meus braços maldizem
Não te poderem prender

Minhas palavras não dizem 
Nem podes compreender
Como è grande esta paixão 
Minhas palavras não dizem;
O que tu querias saber
Está dentro do coração

Não disse, mas sei de cor 
O que tu querias ouvir
Estas coisas do amor 
Não se costumam pedir

Eram palavras diferentes 
Que te queria dedicar
È um amor que tu sentes 
Mas que eu não sei confessar