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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.285' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Nossa Senhora das Neves

Tiago Torres da Silva / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Anamar 
Copiado do livro de poesia de TTS

Nossa Senhora das Neves
Aves flocos nuvens leves
Vozes em silêncios… tantos
Pés a fazerem a estrada
Que pisam não pisar nada
Brancos brancos brancos brancos

Corpo-luz onde cintila 
O nada que feito argila
Abre o dia em cada peito
Dias e dias e dias 
Mãos de nuvens mãos vazias
Fazem novo o sempre feito

Nossa Senhora das Neves 
Eras dias pausas breves
Silêncios são vozes… tantas
Bocas mãe bocas de calma 
Que só nos beijam a alma
Brancas, brancas, brancas, brancas

Regresso

*janelas ao vento*
Fezas Vital / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Maria da Fé 

Abram janelas ao vento
Que pelo vento sem tempo
O meu amor vai voltar
Noutra asa mais esguia
Vai chegando a alegria
Vou ser contente a chorar

Em cada rua deserta 
Eu quero uma porta aberta
E que haja flores pelo chão
Em cada peito fechado 
Quero que seja guardado
Muito do meu coração

Espalhem uvas p’lo caminho 
Crianças farão o vinho 
De beber ao pé do mar
Ergam castelos a mais 
Pintem no céu catedrais 
Que o meu amor vai chegar

Nem meus olhos nem meus dias

Manuel Andrade / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de João Braga
                                                                             
Nem meus olhos, nem meus dias
Alguma vez serão teus
Nem roubados os terias
São livres, nasceram meus

De meus dias não alcanças 
Nem ao de leve o sentido
Nos teus olhos vão lembranças 
Do tempo p’ra mim perdido

Meus beijos e meu amor 
Nunca os queiras confundir
Dei-te beijos sem calor 
Dei-te beijos sem sentir

Meu amor e meu olhar 
Só sabem falar verdade
Meus dias, quem mos roubar 
Rouba vida e mocidade

Alguma vez voltarei 
A dar-te tudo o que querias
Somente não te darei 
Nem meus olhos, nem meus dias

Saudades da tua voz

João Fezas Vital / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de João Braga

Não quis que tu me visses tão diferente
Parti para mais longe, desta vez
Deixei poemas meus a toda a gente
E a ti, uma oração em que não crês

Fui andando sozinho sem pensar
Em tudo quanto foi amor em nós
Andavam mais saudades pelo ar
Que o vento arrancou à tua voz

Talvez que eu regresse qualquer dia
E traga comigo outra vontade
Que tudo entre nós seja alegria
E nada mais nos faça ter saudade

A luz dos teus olhos

Isidoro de Oliveira / Alberto Correia *fado solene*
Repertório de Manuel Cardoso de Menezes

O teu olhar de ternura
Era a luz da minha vida
Eu vivo na noite escura
Depois da tua partida

Era a luz da minha vida 
Essa luz dos olhos teus
Que parecia vir dos céus 
Das mãos de Deus emitida

Luz duma estrela caída 
Cintilante, bela, pura
Tinha beleza e doçura 
Era a minha felicidade;
Hoje lembro com saudade 
O teu olhar de ternura

Eu vivo na noite escura 
Pedindo à Virgem Maria
Que contigo, um novo dia 
Ponha fim nesta amargura

Só tu podes ser a cura 
Da dor que vem desta ferida
Que tira o gosto da vida 
Tirando à vida beleza;
Na vida só há tristeza 
Depois da tua partida

Depois da tua partida
Eu vivo pedindo a Deus
Que dê luz à minha vida
Com a luz dos olhos teus

Em negros véus te envolvias

Manuel Andrade / Popular *fado menor*
Repertório de Francisco Pessoa
             
Em negros véus te envolvias
Trazias vermelhas vestes
E as tuas mãos eram esguias
Como a sombra dos ciprestes

Vinhas toda de vermelho 
E vinha a noite contigo
Era chão dum musgo velho 
Era ar dum vinho antigo

Era altivo o teu olhar 
Como de águia ou de rainha
Quando deixaste poisar 
A tua mão sobre a minha

Sorria entre os teus dedos 
Um lírio de branca cor
Foram beijos ou segredos 
Foi saudade ou foi amor

Fraga

João Fezas Vital / Alain Oulman *fado gaivota*
Repertório de Carlos Guedes de Amorim

Se eu soubesse quanto tempo
Levava o tempo a passar
Mandaria pelo vento
Noutro barco mais antigo
Outra história por contar
Do tempo que anda comigo

Que canoa levaria 
Na viagem que fizesse
O segredo d’algum dia
E em segredo me dissesse 
Que na fraga me perdia

A matar a minha esperança
O mar quebrou-se na fraga
E era mais que uma vingança
Nas ondas que se afastaram
Dormiam dores de chaga
E mais dores me ficaram

Punhal de primavera

João Fezas Vital / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Carlos Macedo

Querer-te, é um punhal de primavera
Que rasga a minha carne à luz do dia
E o sangue que em mim corre à tua espera
Arde no fogo em brasa da alegria

E vens, e a tua pele traz o suor
Da raiva dos poemas que te chamo
És cor, e sol, e pátria, e riso, e dor
E dás-te num suspiro de oceano

Há rios de fúria e espanto no abraço
Da morte que tu foste e que eu não era
Morreste, e eu nasci no teu regaço
Teu corpo é um punhal de primavera

A lenda da cotovia

Manuel Andrade / Cavalheiro Jnr *fado menor do porto*
Repertório de Bela Bueri

Uma linda cotovia
Libertina e mariola
Conta a lenda, certo dia
Foi presa numa gaiola

E a linda cotovia 
Costumada a vadiar
Cantou de noite e de dia 
Pois não sabia chorar

E à voz da passarada 
Que de vago, ao longe ouvia
Respondia em desgarrada 
A todos entristecia

À quarta noite passada 
Já risonho o sol nascia
Morreu de dor e cansada 
Essa linda cotovia

Onde ela foi enterrada 
Um cravo negro vingou
Depois disso a passarada 
Nunca mais ali cantou

Não olhes p’ra mim

Manuel de Almeida / Alberto Costa *fado dois tons*
Repertório de Manuel de Almeida

Não olhes p’ra mim não olhes
Eu vivo tão bem assim
Olha lá p’ra quem quiseres
E não olhes mais p’ra mim

Ando no mundo, enganado
Tu com calma, melhor escolhes
Se pra ti não valho nada
Não olhes p’ra mim não olhes

Se por mim sentes tristeza
Não tenhas pena de mim
Pois digo-te com franqueza
Que vivo tão bem assim

E se coração tiveres
Faz-me esta vontade, enfim
Olha lá p’ra quem quiseres
E não olhes mais p’ra mim

Se um dia voltasse atrás

Manuel de Almeida / Popular *fado mouraria*
Repertório de Manuel de Almeida
Este tema foi gravado a duas vozes por Manuel de Almeida 
e Fernanda Maria com o título *Não olhes pra mim, não olhes*

Não olhes p’ra mim, não olhes
Eu vivo tão bem assim
Olha lá p’ra quem quiseres
Mas não olhes mais p’ra mim 


Depois de tudo acabado 
Entre nós, mais nada existe
Recordar um amor triste 
Não te esqueças que é pecado
No mundo por Deus criado 
Tudo tem começo e fim
E quando passares por mim 
Na certeza que bem escolhes
Não olhes p’ra mim, não olhes
Eu vivo tão bem assim 


Voltar atrás era asneira 
Sou firme, não tenhas dó
Vale mais uma dor só 
Que sofrer a vida inteira 
Nosso amor foi qual fogueira 
Que se apagou, teve fim
Mas a vida é mesmo assim
E sendo assim se preferes
Olha lá p’ra quem quiseres
Mas não olhes mais p’ra mim


Se um dia voltasse atrás 
Recordando o que sofri
Confesso que era capaz 
De ter só olhos p’ra ti

A jura

Manuel Andrade / José António Sabrosa *sextilhas*
Repertório de Ana Hortense

Quando tu te foste embora
Jurei que desde essa hora
Não te voltava a amar
Foi uma jura sagrada
Ao pé da cruz levantada
Naquele sagrado altar

Mas mal essa jura louca
Saíra da minha boca 
Já eu lhe tinha faltado
Pois desde logo senti
Que pensava só em ti 
Nesse momento sagrado

E dessa cruz lá do alto
Eu senti num sobressalto 
Uma voz a segredar
Nunca faças juras dessas
Pois pra faltar a promessas 
Vale mais nunca jurar

Espalhem flores pelo chão

João Fezas Vital / Raúl Silva
Repertório de Maria da Fé

Pelo sol que vai nascer
Nos meus olhos, por te ver
Canto mais livre e sem dor
Pois pressinto a liberdade
Num instante de saudade
E em cada gesto de amor

O teu jeito de dizer
Que tens gosto em viver
Faz da noite madrugada
Ai meu amor, meu amor
Seja medo, seja o que for
Não me lembro de mais nada

Valha-me Deus, que loucura
Minha tristeza tão pura
E tão longe da razão
Não tem passado nem fim
É o sol inteiro em mim
E uma flor em cada mão

Ser fadista é ser assim

Manuel Andrade / Jorge Ganhão
Repertório de Rodrigo

Sou fadista porque o fado
Me traz na vida arrastado
Preso a um cruel destino
Sou fadista porque a sorte
Me faz caminhar sem norte
Num correr ao desatino

Andam pairando nos céus
Gritos loucos que são meus
São fados que espalho ao vento
São ecos chorando em mim
História de noites sem fim
Voz rouca do meu tormento

Ser fadista é ser assim
Colher rosas num jardim
P’las próprias mágoas regado
Retratar a própria vida
Naquela canção dorida
A que o mundo chama fado

Ai, a noite é tão pequena

João Fezas Vital / José António Sabrosa *sextilhas*
Repertório de Carlos Macedo

Gosto tanto de te ver
Quando vens e és só mulher
E de mim não trazes nada
Gosto tanto, meu amor
Que nem escondo esta dor
De não querer a madrugada

Se ao menos, ver-te chegar
Fosse partir e ficar 
Em ti, por ti, sem saudade
Na hora de sermos dois
O frio dos meus lençóis 
Não queimaria a verdade

Ai, a noite é tão pequena
Para me alegrar a pena 
De saber que vais partir
Sem que eu feche minha mão
Onde fica o coração 
Que me ensinou a sorrir

Alentejo solidão

José Régio / Jorge Ganhão
Repertório de Rodrigo

Alentejo, solidão
Solidão, ai Alentejo
Solidão ai Alentejo
Além-tejo, solidão

Oceano de ondas de oiro
Tinhas um tesoiro perdido
Nos teus ermos escondido
Vim achar o meu tesoiro

Convento de céu aberto
Nos teus claustros me fiz monge
Perdeu-se-me a terra ao longe
Chegou-se-me o céu mais perto

Padre-nosso de infelizes
Encoberto de cadeias
Mas estas com que me enleias 
Deram-me asas e raízes

Ao fado dei minha voz

João Fezas Vital / Popular *fado das horas*
Repertório de João Braga 

Se cantar em tom magoado
E cantar chorando até
Faz que o canto seja fado
Nem sempre o fado assim é

Se choro cantando o fado 
Nem sempre choro por mim
Trago no peito guardado 
Um mundo que não tem fim

Cantar, cantar é saber 
As dores que o mundo tem
Mas cantar é conhecer 
As alegrias também

Ao fado dei minha voz 
Meus sonhos, minha vontade
Ao fado dei minha voz 
E a minha liberdade

Meu amor que me dói tanto

João Fezas Vital / António Chaínho
Repertório de Teresa Siqueira 
Editado em livro com o título *Amor que me dóis tanto*
No espólio do autor o tema aparece com o título *Noite Branca*

Noite branca, noite estranha
Em que doámos o copo
À vontade de viver
Ai meu amor, noite estranha
Perdidos no tempo morto
Do sol tardio a nascer    

Olhos tristes, teu olhar
Sal amargo da verdade
Se te davas e morrias
Desespero de madrugar
De encontro ao frio da cidade
Exaustos na hora fria

Ai amor, quisera Deus
Que eu pudesse ser alguém
Da tortura deste espanto
Solidão de serem teus
Os olhos de mais ninguém
Meu amor que me dóis tanto

Saudade vai-te embora

Letra e musica de Júlio de Sousa
Versão: Fernanda Maria

Olho a terra, olho o céu
E tudo me fala de ti
Do teu amor que perdi
Quando a minh'alma se perdeu

Sim, a única verdade
Presente no nosso amor
Tem como imagem, a cor
Tão bela e triste, da saudade

Saudade, vai-te embora
Do meu peito tão cansado
Leva para bem longe este meu fado

Ficou escrita no vento esta paixão
E à noite o vento é meu irmão
Anda a esquecer a tempestade
Também quero olvidar esta saudade
Ai de mim que eu não consigo
Volta amor porque é verdade


Vai-se a dor, volta a alegria
Vai-se o amor, fica a amizade
Só não parte do meu peito
Esta profunda saudade

Porque será que não vens
Espreguiçar-te nos meus braços
Porque será que me tens
Na poeira dos teus passos

Um tempo que passou

Chico Buarque / Sérgio Godinho
Repertório de Liliana Martins

Vou, uma vez mais, correr atrás
De todo o meu tempo perdido
Quem sabe, está guardado
Num relógio escondido por quem
Nem avalia o tempo que tem

Ou, alguém o achou, examinou
Julgou um tempo sem sentido
Quem sabe, foi usado
E está arrependido, o ladrão
Que andou vivendo com o meu quinhão

Ou dorme num arquivo
Um pedaço de vida, vida
Vida que eu não gozei
Eu não respirei, eu não existia
Mas eu estava vivo, vivo, vivo
O tempo escorreu, o tempo era meu
E apenas queria
Haver de volta cada minuto 
Que passou sem mim

Sim, encontro enfim. iguais a mim
Outras pessoas aturdidas
Descubro que são muitas
As horas dessas vidas que estão
Talvez postas em grande leilão

Voltarei à minha terra

Tiago Torres da Silva / Armandinho / Pedro Jóia
Repertório de Teresa Salgueiro

Voltarei à minha terra
Quando já estiver cansada
Do destino que me leva
A andar de estrada em estrada

Por enquanto eu adivinho:
Este destino que pra mim escolhi
Vai chegando de mansinho
Quando eu descubro o caminho
Que me vai levar a ti

Minha terra é a distância
Minha casa é o segundo
Em que eu lembro aquela ânsia
Que me chega da infância
E me leva pelo mundo

Por isso é que sou menina
E não vou mudar de idade
Chamo terra à minha sina
E chamo casa à saudade

Se o relógio se adianta
Prende-me o fado à garganta
E obriga-me a cantar
Como se a qualquer momento
Se escutasse a voz do vento
Nas profundezas do mar

Mas se o ponteiro se atrasa
Chamo terra e chamo casa
Ao antes e ao depois
Quando seguimos sozinhos
Vamos abrindo caminhos
Onde às vezes cabem dois

Mariquinhas

Silva Tavares / Popular c/arranjos de Celeste Rodrigues
Repertório de Celeste Rodrigues

É numa rua bizarra
A Casa da mariquinhas
Tem na sala uma guitarra... ó laré
Janelas com tabuinhas

Mariquinhas, como passou?
Olá, como tem passado?
Passei bem, muito obrigado... ó laré
Sem nunca o ter encontrado

Vive com muitas amigas
Aquela de quem vos falo
E não há maior regalo... ó laré
De vida de raparigas

Marcha de Santo António

Cátia Oliveira / Valter Rolo
Repertório de Liliana Martins

Tudo faz sentido se acorda bonito
O sol à minha porta, manhã cedo
Leva embora a mágoa
Lava mais do que água
Cura-me a tristeza e o medo

Se traz chuva o dia, nada me alivia
O coração partido desta hora
Noite que consome
Quase morre à fome
A alegria que tarda e demora

Mas sei que um dia 
Não há-de ser São Pedro
A desdizer a vontade que há em mim
E há-de a chuva vir e trazer o vento
Há-de brandir até o Senhor do Bonfim

Mas eu nasci pra ser feliz, amor
E o sol há-de nascer dentro de mim
Desde que acorde até a noite vir
Mesmo sem te ter hei-de sorrir

Tudo faz sentido, quando vens, querido
Por breve que seja a nossa paz
Levo embora as fúrias
Esqueço as  injúrias
Deixo pra depois as horas más

É pouca a poesia, é triste a melodia
Que o adeus no fim sempre me deixa
Hás-de vir mais tarde
Já no peito me arde
A dor de quem não tem direito a queixa

Mas sei que um dia 
Ao ouvir me o Santo António
Há-de chamar-me a subir ao seu altar
Quer sejas tu, meu amor quem lá me espera
Quer tu não sejas e eu tenha outro par

Quero ir feliz no meu vestido, amor
E sei que o santo há-de olhar por mim
Desde que acorde até a noite vir
Mesmo sem te ter hei-de sorrir

O tempo passa, quem o detém?

Fernanda Cardoso / José Crispim
Repertório de António Severino

O tempo passa, passa apressado
Passa por nós e sem cuidado
E sem parar, passa indiferente
À amargura de tanta gente

Passa sem dó e entretanto
Deixa ficar cabelo branco
O tempo passa, o tempo corre
Menino nasce e o velho morre

O tempo passa, quem o detém?
E a mocidade vai e não vem

Premonição

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

E foi com os trejeitos do costume
Os olhos desmaiados sobre a mesa
O riso envergonhado com perfume
Esqueceu o tempo
Cansou o lume
De quem me quer amar sem a certeza

Adivinhei, no adeus, a crueldade
De não saber de ti mais que agora
Acompanhei-te à porta sem vontade
Tentei o beijo
Quando a saudade
Não me deixou chorar sem te ires embora