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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.285' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Só soube escrever saudade

Letra e música de Alves Coelho
Repertório de Francisco José

Revolvi uma gaveta
De uma velha escrevaninha
E encontrei uma caneta
Que escreveu prosa tão minha

Foi com ela que escrevi
As cartas p’ra te encantar
Com ele me despedi
Quando julguei não te amar

E hoje
De cabeça esbranquiçada
Com a mão já enrugada
Fui escrever-te, que ansiedade
Tentei
Mas a sina é caprichosa
Velha, a caneta teimosa
Só soube escrever saudade

Porto à noite

José Guimarães / Rezende Dias
Repertório de Natércia Maria 

Quando anoitece
O Porto tal graça encerra
Que mais parece 
O céu a morar na terra
E sendo assim
A noite é suavidade
Tem graça sem fim
Olhar a cidade

Meu Porto tão risonho, a tua luz
É tal e qual o sonho, que seduz
É jóia a cintilar, em canto infindo
Que até nos faz sonhar um sonho lindo

Pelas janelas
As luzes que dão encanto
São quais estrelas 
Forrando o vistoso manto
E à luz do luar
Porto, meu bem-amado
Parece um altar 
Todo iluminado

Novos passos

José Fernandes Castro / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Manuel Barbosa

Encontrei-me assim perdido
Sofrido / e arrependido
Dos passos que dei outrora
Foram passos transviados
Mal dados / desencontrados
Passos que não dou agora 


Agora penso melhor
No dissabor / do amor

Sentimento doce e raro
Agora, por precaução
Tenho a razão / sempre à mão

E dela não me separo 

Encontrei-me e agora sou
Quem andou / por onde andou
Sem conhecer rumo certo
Encontrei-me e ainda bem
Que ninguém / me viu além
A vaguear no deserto 


No deserto já não estou
Nem lá vou /porque não dou
Mais passos inutilmente
Encontrei o meu caminho
No carinho / deste ninho
Onde o fado está presente

Marcha do Porto

Norberto Barroca / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de José da Câmara

Erguida sobre o granito
No altar de São João              
Se o seu corpo tem dureza
O rio dá-lhe a beleza
Faz-lhe de ouro o coração

Das pedras, nascem as flores
Numa teimosa batalha
E nas ruas e vielas
Abrem-se a rir as janelas
P’rá cidade que trabalha

O Porto, que do trabalho é cidade
Altivo, tem no trabalho vaidade
Bairrista, tem na boca o coração
Ninguém faz calar sua razão;
Tripeiro, por tudo faz escarcéu
Com seu corpo de granito
Abre o coração num grito
A defender o que é seu

Vai à Sé, vai à Ribeira
E reza pelas Alminhas
Faz ouvir a sua voz
Desde Miragaia à Foz
Do Bolhão às Fontainhas

P’ra defender o que é seu
Corre por toda a cidade
Luta p’lo seu património
Entre Deus e o demónio
Da Cedofeita à Trindade

A Rosa e o Chico

Letra e música de Joaquim Pimentel
Repertório de Tezesinha Alves

Ali naquela janela
Daquele primeiro andar
Lá está a Rosa atrás dela
P’ra ver o Chico passar

O Chico, que sabe disso
Numa atitude engraçada
Atira um ar de derriço
Que deixa a Rosa corada

E lá na Lapa, a ninguém escapa 
Aquele namorico
O bairro deseja levar à igreja
A Rosa e o Chico
E vê-los depois, unidos os dois 
Em amor e graças
Naquela janela, naquela janela 
Da rua da Praças

Não mais atrás da vidraça
A Rosa vem p'rá janela
Porque o Chico quando passa
Não passa, fica ao pé dela

E no meu canto isolado
Fico de longe a olhar
Aquele amor sem pecado
Que tanto dá que falar

Um amor alegre

José Fernandes Castro / Júlio Proença *fado laiva*
Repertório de Manuel Barbosa

Uma cantiga 
Descrevendo amor sincero
Faz com que a vida 
Vá correndo como quero
E se a poesia 
Me tocar, logo depois
Ponho a alegria
A falar de nós os dois

Basta-me um fado
Para que minh’alma cante
E naturalmente espante
As forças que o mal me traz
Basta-me um fado
Misturado num sorriso
P’ra sentir o paraíso
No amor que tu me dás

Em cada beijo 
Vou sentindo fogo preso
E o meu desejo 
Vai surgindo mais aceso
É nesse instante 
Que me dou inteiramente
Porque o amante que hoje sou 
Sabe ser gente

Despi-me de ti

Pedro Martins / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de Filomeno Silva

Despi-me dos teus braços na hora em que partiste
Não mais te procurei desde esse amargo dia
Eu não segui teus passos e a noite foi mais triste
Mais só então fiquei, vestido de agonia

Despi o teu carinho e a seda dos teus beijos
Ficou no chão, caída e foi por mim pisada
Seguiste o teu caminho sonhando com desejos
De teres outra vida vestida de alvorada

Despi-me dos meus medos, dos quais era refém
Já não sinto agonia, respiro liberdade
Esqueci teus segredos e agora estou bem
Talvez te encontre um dia vestida de saudade

Orgulho

José Guimarães / Manuel Reis
Repertório de Filomeno Silva

Quero ver o teu amor doutra maneira
Quero ver o meu olhar, olhar p'ra ti
Não te peço por favor p'ra que me queiras
Nem desisto de encontrar o que perdi

Vês além aquela estrela e o seu fulgor
Quero assim nosso viver a cintilar
Vamos enfeitar com ela o nosso amo
Vamos tentar esquecer, voltar a amar

Os meus dias são viver a recordar
Nos meus dias há sentir que a ninguém digo
Peço a noite p'ra esquecer e não lembrar
Vem a noite, vou dormir, sonho contigo

Não pretendo conquistar causas perdidas
Anda lá, vamos pôr fim à nossa dor
E não vamos destroçar as nossas vidas
Por orgulho em dizer sim ao nosso amor

Senhor d'Além

Letra e música de Filomeno Silva
Repertório do autor

Senhor de além
Quem vai do Porto a passar
Não pode deixar de olhar
A tua ermida velhinha
Senhor de além
Quando em ti um olhar se espraia
Tens orgulho em ser de Gaia
E tens o Douro à beirinha
Que é o espelho
Dessa cascata cinzenta
Que tanta ternura inventa
Nas noites de São João
E refletes
A ponte de Dom Luiz
Que é referência feliz
De tempos que já lá vão

Quando passavam 
Os barquinhos cintilantes
E as Toninhas gigantes
Rio acima em desatino
A poesia 
De tão belos movimentos
Despertava os sentimentos
Dos meus tempos de menino

Mudou o tempo
Mudaram os sentimentos
Dizem que é fruto dos tempos
Talvez seja essa a verdade
Mas para mim 
Continua como dantes
Tu continuas a ser
O Senhor dos Navegantes

Fado Eliana

Tributo do poeta 
Fernando Campos Castro

Foi fado, amor e vida que nos deste
E até os dias vãos foram vividos
Do fado que foi teu quando nasceste
E que cumpriste em todos os sentidos


Ninguém pode fugir ao seu destino
E não fugiste ao teu porque sabias
Por mais que um fado seja pequenino
Tem sempre muitas dores e alegrias

Foi fado ELIANA a tua vida
Vivida até ao fim intensamente
Por isso não serás nunca esquecida
Por quem te amou e ama eternamente

Por teres sido mulher feita verdade
Ao dar a toda a gente o teu amor
Deixaste em nós o sopro da saudade
Que deixa quem é grande e é maior

Tripeiro de gema

Augusto José Leão / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Filomeno Silva

Meu Porto linda cidade
Onde nasci e me criei
Defronte às águas do Douro
És berço da liberdade
Dos heróis da nossa grei
Porto, és o meu tesouro

Cidade, toda granito
De casarios diversos
Cascata de São João
E neste olhar infinito
Espraio nestes meus versos
Poemas à tradição

Tens Gaia, tão afamada
Num abraço fraternal
Em perfeita comunhão
A que andas sempre ligada
P'lo cordão umbilical
De barcas, ferro e betão

Por isso, meu Porto amado
Pelo muito que te quero
Amar-te é sempre o meu lema
Recebe neste meu fado
O amor puro e sincero
Deste tripeiro de gema

Sózinha nunca mais

Artur Ribeiro / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Francisco Martinho

Sózinha, nunca mais te sentirás
Enquanto eu for o sol da tua vida
Sózinha, nunca mais tu andarás
Nem andarás jamais de mim perdida

Sózinha, nunca mais terás tal sorte
Sózinha, só à noite nos meus braços
Sózinha, não amor, que até à morte
Eu serei sempre o guia dos teus passos

Sózinha, nunca mais, isso acabou
No dia em que me dei a andar errado
Sózinha, foi no tempo que passou
Agora somos dois no mesmo fado

Café do amor

José Fernandes Castro / Daniel Gouveia
Repertório de Filomeno Silva

Todos os dias entrava
Pela porta do café
Tomava a bica de pé
Sorrindo enquanto pagava

Fiz dela a minha rainha
E ela nem imaginava
Que o sorriso que me dava
Valia a luz que ela tinha

Talvez por isso 
Gosto tanto de café
E gosto até 
Do travo que o café tem
Seja feitiço
Ou seja lá o que é
É por causa do café
Que a vida me corre bem


Um dia tudo mudou
Porque eu não pude evitar
Convidei-a p'ra jantar
Ela de pronto aceitou

Tudo mudou de sabor
A partir desse momento
Pois no meu apartamento
O café sabe melhor

Lusitano vagabundo

Maria Manuel Cid / Alvaro Martins *fado pão de gestos*
Repertório de Carlos Zel

Lusitano vagabundo
Foi um pintor genial
Pintou no quadro no mundo
O rosto de Portugal

Marinheiro, aqui nasceu
Marinheiro quis navegar
Enquanto a pátria cresceu
Andava no alto mar

E do mar voltou um dia
Triste fim, sem o saber
Veio ao sabor da agonia
Só voltou para morrer

E na praia quis ficar
Para ali ao Deus-dará
Marinheiro olhando o mar
Que foi seu e não será

De costas voltadas

José Guimarães / Manuel Reis
Repertório de Filomeno Silva

De costas voltadas
A tudo que é mau, meu amor
Iremos mãos dadas
Em busca de um mundo melhor
Iremos em frente
Transpondo fronteiras fechadas
E quem ri da gente
Rirá certamente, de costas voltada

Ai, daquele que não sabe
Qual o caminho que pisa
Ai, daquele que a verdade
Procura não entender
Ai, daquele que pensar
Que dos outros não precisa
E desvia o seu olhar
Para a verdade não ver

Voltemos as costas a toda a maldade
Olhemos em frente, em frente à razão
Ai, daquele que insistir
Que desconhece a verdade
Ai, daquele que fingir
Que não sente o coração

Fado povo

António Rocha / Alvaro Martins *fado pão de gestos*
Repertório de António Rocha

Sê esquecido tempo antigo
Em que o povo era calado
Humilhado e perseguido
De pés e mãos amarrado

Luta agora sem demora
Impõe bem a tua raça
Mas não esqueças nesta hora
Quem te tirou a mordaça

Cravo ao peito nesse jeito
De quem sente felicidade
Por lhe ser dado o direito
À paz e à liberdade

Eu te louvo, país novo
Ó minha pátria imortal
Avante filhos do povo
Soldados de portugal

O som da guitarra

Letra e música de Ricardo Martins
Repertório de Filomeno Silva 

Está no som da guitarra
Que geme penas da vida
Na luta jamais vencida
No beijo que se desgarra

Está no sonho desfeito
Na incerteza na dor
E até ao falar de amor
Se faz presente no peito

É a voz do silêncio
Que canta, que chora
Que brinca na noite
Que dorme na aurora
Que faz um poema
E depois se aninha
Na alma dos sons
Na voz do silêncio 
Que fala ti, que fala de mim
Do amor que é de nós
A voz do silêncio
Que canta no fado 
Que há na minha voz

Está no tempo que corre
Na saudade, no sentir
No passado no porvir
Na esperança que morre

Está no riso, no pranto
Na mentira ou na verdade
E faz-se mais liberdade
Na minh’alma, quando canto

Maria do mar

José Guimarães / Alvaro Martins
Repertório de Fernando Gomes

À beira do mar nasceu 
Essa Maria do mar
Tinha um amor muito seu
Que era a luz do seu olhar

Unia-os tanta ventura
Mas o destino, depois
Acabou essa ternura 
E pôs o mar entre os dois

Um lenço acenando 
Num dia sombrio
Dois olhos chorando 
Uns lábios rezando
E um barco partiu;
Partiu e deixou 
Su’alma perdida
O mar o levou 
E ela ficou
Sozinha na vida

Olhos no céu em promessa
Perdida na sua dor
P’ra que o mar traga depressa
Para si, o seu amor

E esse mar que ela adora
Dessa paixão sabe bem
Pois quando a Maria chora,
Parece chorar também

Maria do Mar 
No mar confiava
E pode voltar 
De novo a beijar
Quem tanto adorava
Depois, certo dia 
Foram a casar
Levando a Maria 
Um véu que parecia
Espuma do mar

Longas noites, longos dias

A. Sousa Freitas / Alvaro Martins *fado pão de gestos*
Repertório de Carlos Barra

Longas noites, longos dias
Longos instantes tão vagos
Que são madrugadas frias
Onde há silêncios de lagos

Longas noites, longos dias
Longos sonhos sem segredos
Tenho as minhas mãos vazias
E os olhos cheios de medos

Longas noites, longos dias
Longas horas sem calor
Pelas vidas mais sombrias
Vou cantar, chorar d’amor

Longas noites, longos dias
Longas marés sem luar
Desesperos, agonias
E a vida sempre a passar

Teu peito é o meu lugar

Letra e música de Ricardo Martins
Repertório de Filomeno Silva 

Fui andarilho perdido
Por esses caminhos que a vida traçou
Barco sem porto seguro
Que um dia sem rumo quase naufragou

Fui a esperança perdida
Que embala a tristeza nos braços da dor
Fui o deserto sem vida
Onde um dia o destino plantou uma flor

Em teu amor, encontrei
Aquele paraíso a que chamamos céu
Esse lugar tão profundo
Tão longe do mundo e tão perto de Deus
Conjugação mais perfeita
De todas as formas, que há no verbo amar
Sabes aqui em meu peito é o teu lugar

Realidade, que nem o mais lindo dos sonhos
Consegue vencer
Anjo de luz, que por doce milagre
Em meu peito veio adormecer

Minha verdade, sentido da vida
Que a teu lado celebrarei
Supremo bem que me encanta
E que a cada instante eu mais amarei