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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.285' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Maria da minha saudade

Letra e musica de Maria Guinot
Repertório de Tony de Matos

Tinhas ondas nos cabelos 
E promessas no olhar
Não sabia quem tu eras
Tive medo de perguntar 
Por ti, a quem passava
Nas ruas da cidade
E na verdade preferi 
Chamar-te só
Maria da Saudade

Maria da Saudade
Saudade porquê? não sei!
Maria da Saudade
Do dia em que te encontrei

Foste imagem que passou 
E encontrou o meu olhar
Nunca soube quem tu eras
Tive medo de perguntar 
Por ti, a quem passava
Nas ruas da cidade
E na verdade preferi 
Chamar-te só
Maria da Saudade

Trazemos

Manuel Carvalho / Fernando de Freitas *fado noquinhas*
Repertório de Filomena Sousa

Eu trago no meu cantar o sentir mais profundo
Poemas e doçura das palavras que me diz
Ele traz para me dar, seus braços o meu mundo
Nos olhos a ternura, razão de eu ser feliz

Eu trago neste fado um monte de desejos
E guardo estes segredos para ele desvendar
Ele traz para me dar, carinhos e seus beijos
E na ponta dos dedos, carícias para afagar

Eu trago no meu peito o fado que vos canto
E faço rimar depois, este amor como tema
Ele traz o seu jeito d’amar, que gosto tanto
E Deus traz-nos aos dois, a vida num poema

A tua boca

Letra e música de Marques de Carvalho
Repertório de Tristão da Silva

A tua boca, quando beija
È como lava de vulcão
E cada vez mais se deseja
O que talvez seja uma ilusão;
Porque a tua boca ardente
Nunca mente ao coração

Dá-me um beijo devagar
Para a boca não queimar
E mistura nesse beijo
A loucura dum desejo

Foi a semente dum grande amor 
Que fez nascer
Boca tão quente 
Que o seu calor me faz viver

E se a minha vida louca 
Um beijo tem de acabar
Minha boca há-de chamar 
P'rá beijar, a tua boca

Canção ao vento

Manuel Carvalho / Franklim Godinho
Repertório de Rosina Andrade

Cantei poemas ao vento
Voei nas asas do tempo
À procura  da verdade
Recuso ter que aceitar
Que a vida só tem p’ra dar
Amargura, infelicidade

Ainda existe pureza
Nas coisas da natureza 
E é tão bom ser amado
No olhar duma criança
Também vi acesa a esp’rança 
Que anda de nós arredada

Passei a noite acordada
Nos braços da madrugada 
À procura do amor
Eu não quero acreditar
Que se viva sem amar 
Que a vida seja só dor

Olha o sol que ainda existe
E em cada dia persiste 
Em voltar com sua luz
Apesar de tudo a vida
Vale a pena ser vivida 
Bendito seja Jesus

Emigrante

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Tony de Matos

Saí da minha terra, certo dia
Sozinho, a caminho lá da França
Deixando para trás tudo o que amava
Deixando até, meus sonhos de criança

Lá longe tive então de arranjar vida
Lutando por um desejo bem sagrado
Levar minha mulher e os meus filhos
P'ra irem lá viver para meu lado

E agora em França
Trabalho
e vivo bem
Agora em França
Eu penso que afinal
Feliz, feliz, eu só serei no dia
Em que já possa voltar p'ra Portugal


Lá longe desta terra, sou estrangeiro
Lá longe desta terra às vezes choro
E muitas noites só, eu sonho e rezo
E o meu regresso, a Deus então imploro

No dia a dia então eu vou pensando
Que aos estrangeiros dei a mocidade
Depois sozinho, eu sinto ir chegando
A companheira que è a saudade

Sou assim

Manuel Carvalho / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de José Ferreira

Meu amor, eu reconheço
Por vezes não te mereço
Pelo meu modo de ser
Os meus caprichos aturas
E nunca amor te saturas
Da maneira de eu viver

Sei que mereço castigo
De não ser tão teu amigo 
Como tu és minha querida
Eu tenho-te acompanhado
De mãos dadas lado a lado 
Nas amarguras da vida

Os nossos filhos que amamos
E a muito custo criamos 
São o orgulho sentido
Testemunhas de verdade
Das horas de felicidade 
Que na vida temos tido

Fiz este fado p’ra ti
E as palavras que escrevi 
Foi o meu peito a ditar
Eu sei que gostas de mim
Perdoa mas sou assim 
È meu jeito de te amar

Meu Porto meu fado

Manuel Carvalho / Raúl Ferrão *Lisboa não sejas francesa*
Repertório de Margarida Lima

Anda daí vem comigo ver esta cidade
Anda ver o Porto antigo
Velhinho sem ter idade

Anda p’lo teu pé ao bairro da Sé 
E à praça da Ribeira
Vai ver o sol-pôr que é lindo 
À tardinha na Cantareira
         
Meu Porto
Guerreiro em granito
Escondes o grito feito à liberdade
Meu Porto
Tripeiro de gema
Que guardas o lema da minha cidade
Meu Porto
Meu berço dourado
Meu rio meu fado que tudo me diz
Meu Porto
Foi bem que fizeste
No dia em que deste nome ao meu país

Vem daí mete-me o braço e traz teu balão
Acerta por mim o passo na rusga de S. João

Vê quanta alegria, anda neste dia 
No meio do bailarico
Vai à noite às Fontainhas 
E compra lá teu manjerico

Procura sem fim

Mimon Anahory / Popular *fado menor*
Repertório de Celeste Rodrigues

Esta angústia sem remédio
Esta procura sem fim
Este vazio, este tédio
Que trago dentro de mim

Este não estar onde estou 
Este querer o que não quero
Este não dar se me dou 
Que é inferno e desespero

Este amar sem me prender 
Mas sempre rendida a alguém
Querer fixar-me e não poder 
A nada nem a ninguém

Este eterno apego à vida 
Que não consigo explicar
Pois ando nela perdida 
E não me sei encontrar

Rosário do meu fado

Manuel Carvalho / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Laura Santos

Depois da luz se apagar
E as velas serem acesas
O fado vai começar
Andam sombras a bailar
Paira silêncio nas mesas

Quem se benze p’ra cantar 
Com o seu xaile traçado
Traz tristeza no olhar
Traz contas p’ra desfiar 
No seu rosário de fado

Quem canta seu mal espanta
 Diz o povo e com razão
No fado que nos encanta
Nem sempre sai da garganta 
O que manda o coração

Chora a guitarra dolente 
Com seu suave trinado
Eu estou com minha gente
É assim neste ambiente 
Que adoro cantar o fado

A vida é saber amar

Matos Maia / Raúl Pinto
Repertório de Tristão da Silva 

A vida é corda vibrada
Silêncio na madrugada
Quando há maior solidão
É mais grito do que brado
É fado dentro do fado
É medo no coração

A vida é saudade feita
Da verdade que se enjeita 
Tenha virtude ou defeito
É mistério em claridade
É mentira de bondade 
É esperança dentro do peito

A vida é como a maré
Pequena réstia de fé 
Para quem sofre castigo
A vida é saber amar
Aprender a perdoar 
Como fizeste comigo

Mais vale tarde

Manuel Carvalho / Joaquim Campos *fado puxavante
Repertório de Aurísio Gomes

Por timidez minha querida
Nunca te digo a verdade
Quero-te mais do que à vida
P’ra to dizer nunca é tarde

Por ti meu peito ainda arde 
É tão grande o meu querer
Meu amor mais vale tarde 
Do que nunca to dizer

Diz o povo e com razão 
Que nunca se engana, nunca
Em coisas do coração 
Mais vale tarde que nunca

Não me tomes por covarde 
Quando d’amor não te chamo
Sabes bem mais vale tarde 
Digo a cantar que te amo

Nunca é tarde para amar 
Quem tem fado na garganta
Mais vale tarde cantar 
Mas saber o que se canta

Esta canção

José Luís Alcaria / Tristão da Silva
Repertório de Tristão da Silva

Não façam das palavras negras pedras
A quem palavras duras não pediu
A luta que travamos é pura e breve
Tal como as águas ao deixar o rio

De mãos dadas lutemos lado a lado
Somos todos iguais no mesmo chão
Que fique sempre um verso bem vincado
Nas bocas que só cantam a razão

Não se pode algemar a voz do fado
Lamento e voz dum povo que se solta
D'esperança esta canção em todo o lado
Gritando em cada fado uma revolta

Desejos sufocados

Manuel Carvalho / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de Patrícia Fernandes

Só o destino é culpado
De pôr os dois neste fado
De mãos dadas a sofrer
Por um amor que é segredo
Que só não vinga por medo
Morrendo assim ao nascer

Sufocamos os desejos
Numa promessa de beijos 
Que não chegamos a dar
P’ra ninguém ser magoado
Foi cada um p'ra seu lado 
Fiquei sozinha a chorar

Dizer adeus faz doer
E as palavras por dizer 
Foram teu rosto molhado
Era tão grande a ternura
Mas só ficou amargura 
Neste poema sem fado

A família portuguesa

Letra e música de Belo Marques
Repertório de Tristão da Silva

Poesia, oração
Amor, bondade e luz
Saúde, valentia e gentileza
Com tudo isto à mão 
E um pouco de Jesus
Fez Deus t
oda a família portuguesa

Depois deu-lhe um país 
Plantado à beira-mar
E o sol fez seu pupilo e seu parente
Nasceu duma raiz 
Que a fé lhe foi buscar
Por isso fez mais forte, a forte gente

Quem nasceu povo não sabe
A fortuna que lhe cabe
Por direito e por dever
Mas esta gente è tão boa
Que às vezes até perdoa
Ao mundo que a faz sofrer

Guerreiro, lutador
Juiz pela razão
Nem sempre premiado pela glória
Fiel a um senhor 
Chamado coração
Foi brando e sempre justo na vitória

Amou, lutou, sofreu revezes
Sem contar
E o tempo foi mudando de juízo
Se o fado que aprendeu 
Seu peito faz chorar
Encobre a própria dor com um sorriso

Assim é meu fado

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Cátia Sofia

Mal tive a noção de ser gente
Nasceu p’ra mim o fado nesse dia
Agora deixem que m’apresente
Sou para todos vós Cátia Sofia

Trago junto à garganta o coração
Na minha voz o grito de criança
Que o fado seja sempre esta razão
Tão verde como um hino de esp’rança

Trago também o peito a transbordar
De sentimentos feitos de pureza
E ponho alegria em meu cantar
Porque o fado não é sempre tristeza

Trago neste mau cantar plebeu
A mensagem de paz o meu recado
Agradecendo a voz que Deus me deu
E fazer-me gostar tanto de fado

Quero abrir as portas mais secretas
Que o fado ás vezes fecha a quem é novo
Cantar pelas palavras dos poetas
O sentir mais profundo do meu povo

Não te deites a meu lado

Tiago Torres da Silva / José Manuel Rodrigues
Repertório de Cátia Montemor

Quando a noite adormecer 
Acordando a madrugada
Não regresses a correr 
Que eu não vou estar acordada

Adormeci de cansaço 
E ao dormir só me envergonho
De levar o teu abraço 
Para dentro do meu sonho

Quando entras sem ruído
No meu sono abandonado
Se eu tiver adormecido
Não te deites a meu lado


Ao romper de um novo dia 
Quando o meu sono s'esvai
Sinto a cama mais vazia 
Do que quando a noite cai

Não me procures depois 
Que o meu sono não se atrasa
E, ou aprendes a ser dois 
Ou não voltas mais p'ra casa

O fado que eu gostava

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Aida Arménia

Gostava tanto um dia de cantar
Um fado que toda a gente sentisse
E tivesse o dão de poder dar
Felicidade àquele que o ouvisse

Com palavras feitas de verdade
E tivesse o amor só como tema
Onde fosse bom sentir saudade
E a vida fosse p’ra sempre um poema

Versos eram verdes cor da esp’rança
Desse verde azulado que o mar tem
Juntava-lhe um sorriso de criança
Afagos e ternuras de uma mãe

Meus versos, numa estrela pendurava
Para que toda a gente fosse capaz
De ler o fado que eu mais gostava
Num hino de amor feito de paz

Cuidado

Letra e musica de Frederico de Brito
Repertório de Celeste Rodrigues

Lá porque eu passei e não lhe falei
Você está zangado comigo, já sei
E pensa também que não faço bem
Mas eu cá na rua não falo a ninguém

Não seja ruim, ficamos assim
Não quero que fale na rua p'ra mim
Assim combinamos os dois
Mas tenha cuidado depois

Cuidado, cuidado
É assim o que está combinado
Nem você me conhece na rua
Nem eu digo a ninguém que fui sua
Não é por capricho
Nem é por ter medo
Mas é por questão de segredo


Você assim quis e foi o que eu fiz
E pode contudo, julgar-se feliz
As coisas que fez seriam, talvez
P'ra eu, já fartinha, deixá-lo de vez

Mas vamos lá ver como isto vai ser
Não quero, contudo, fazê-lo sofrer
Você nada conta depois
O que pode ficar entre os dois

Meu Porto, minha cidade

Manuel Carvalho / Franklim Godinho
Repertório de Maria Augusta

Meu Porto bordado a ouro
Nas finas rendas do Douro
Meu amor minha cidade
Ò minha joia em granito
Que guardas em ti o grito
Do teu povo à liberdade

Do Bonfim à Cantareira
Do Amial à Ribeira 
Cada rua tem história
Foi do “Ouro” triunfante
Que partiu o nosso Infante 
A caminho da glória

O meu Porto destemido
Nunca, nunca foi vencido 
E adora o São João
Quando lutou lado a lado
Com o nosso Rei Soldado 
Ele deu-lhe o coração

A tua maior medalha
É teu povo que trabalha
Tripeiro mas com vaidade
És nobre e sempre leal
Deste o nome a Portugal 
Nossa senhora te guarde

Longe de tudo

Fernando Peres / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Tristão da Silva

Distantes, já tão sós, longe de tudo
Sofrer saudade apenas por sofrer
Que o nosso amor morreu num grito mudo
Dum beijo sem ter alma p'ra viver

Àquela hora o amor foi só tristeza
Ciúme que nasceu na despedida
E nesse adeus de mim, uma certeza
De que contigo foi a minha vida

Distantes, já tão sós, que nem sequer
A ilusão duma esp'rança me conforta
Na tristeza maior de seres mulher
Já toda a madrugada è noite morta

Presos no mesmo abraço e tão distantes
Já tão longe de tudo, ainda mais sós
A saudade sem fim, desses instantes
Quer o teu coração e a minha voz

Meu pai meu timoneiro

Manuel Carvalho / Nóbrega e Sousa *fado alenquer*
Repertório de Francisco Lisboa

Dos amores de todos nós 
Amor de pai é talvez
O que menos canta a voz 
Do coração português

Se o fado é oração 
Canto nele este recado
Ó meu pai como era bom 
Ainda te ter a meu lado
                  
Ó meu pai
Meu amigo verdadeiro
Meu amor meu timoneiro
Dos passos que eu ando a dar
Ó meu pai
Que saudades companheiro
Dessas noites de Janeiro
Com histórias p’ra contar
Ó meu pai
Sem ti a vida é mais dura
Há quem pense ser loucura
Eu ‘inda chorar por ti
Mas não meu pai
Sabes meu pai
São as saudades de ti

Os teus conselhos, meu pai 
Guardei-os com devoção
Só a saudade não sai 
Dentro do meu coração

Meu pai aí no além 
Vela por meu amor
Eu cá na terra também 
Rezo por ti ao senhor

Adeus não digo

Tiago Torres da Silva / José Marques do Amaral
Repertório de Cátia Montemor

Não sei se me despedi
Se te disse adeus, não sei
Mas depois chamei por ti
E ao chamar não te encontrei

Talvez tivesse chorado 
À beira da despedida
Ou talvez seja o meu fado 
Ir dizendo adeus à vida

E como os olhos são meus 
E a dor também è minha
Não te vou dizer adeus 
P'ra não me sentir sozinha

Mas se a tristeza me dá 
A lonjura por castigo
Talvez te diga até já 
Mas adeus, adeus não digo

Basta, nunca mais

Manuel Carvalho / Maximiano de Sousa *noite*
Repertório de  Alberto Alves

É verdade não o nego 
Que foste o meu encanto
Mas eu devia andar cego 
Para te amar assim tanto

Dei-te tudo quanto tinha 
Fiquei sem nada e por fim
Fiz de ti uma rainha 
E hoje ris-te de mim

Nunca... 
Nunca mais te quero ver
Basta de tanto sofrer
Confesso estou cansado
Nunca... 
Um homem nunca devia
D’amar quem não merecia
E depois ter este fado

Arrisquei tudo por ti 
Por encanto ou feitiços
Mil anos envelheci 
Por aturar teus caprichos

Agora vou ajudar 
Meu coração a esquecer
E ensiná-lo a gostar 
Só de quem amor lhe der

Cabelo solto ao vento

Jorge Rosa / Popular *fado menor*
Repertório de Celeste Rodrigues

De cabelo solto ao vento
Corro e não sei onde vou
Da lembrança que ficou
Trago o meu corpo sedento

Seca-me a boca sem esp'rança 
Dos beijos que tu me davas
Trago nos olhos, lembrança 
Dos futuros que embalavas

Trago ainda nos ouvidos 
Eco das tuas canções
E presas aos meus sentidos 
Ai... quantas recordações

E neste meu desalento 
Trago vida e sei que morro
Não sei onde vou, nas corro 
De cabelo solto ao vento

Velha Lisboa

Letra e musica de Fredrico de Brito
Repertório de Tristão da Silva

Sempre que canto este fado s
into alegria
Ao recordar o passado na Mouraria
Lembrar aquelas antigas vielas 
Que causam saudade
Que deviam ser, portanto
A graça e o encanto de toda a cidade

Velha Lisboa, dona do fado
Tu sabes cantigas
Daquelas antigas que fazem chorar
Duma canoa e o Tejo irado
Que doido levasse
E p'ra sempre ficasse perdida no mar

Esta Lisboa garrida é mais Lisboa
Duma janela florida na Madragoa
Do Bairro Alto de negro basalto
Tão cheio de fama
Com aquele aspeto belo

Que tem o Castelo vizinho d'Alfama

As meninas dos teus olhos

Manuel Carvalho / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Manuel Soares

Dentro desses olhos tão bonitos
Andam duas meninas a bailar
Foram duas janelas com escritos
Que muitos alugavam p’ra brincar

Logo que teus olhos encontrei
Na rua d’amargura, do pecado
Não os quis alugar, nem os comprei
Mas fiz deles na vida o meu fado

Agora as meninas dos teus olhos
Brilham de felicidade e tanto assim
Qu'esqueceram na vida os escolhos
Só abrem as janelas para mim

Passam todo o tempo a conversar
Essas quatro meninas ò meu Deus
Adoro tanto vê-las a bailar
Nesses olhos bonitos que são meus

Tempo de fado

Letra e música de Mário Moniz Pereira
Repertório de Tristão da Silva

Tempos antigos 
Com os meus amigos
Não custavam a passar
Tempo d'esperança 
Que uma criança
Vive a brincar

Tempo esquecido
Tempo perdido
Tempo passado
Noites seguidas 
Muito vividas
Tempo de fado

Só tu ó madrugada
Foste a culpada do meu sofrer
Permite, por favor
Que o meu amor volte a nascer 


Procura entre o luar
Alguém que venha amar
Só tu ó madrugada
Foste a culpada do meu penar

A raiva de ser assim

Manuel Carvalho / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Augusto Lopes

Pela taça da vida já bebi
Horas d’angustia, d’amargura
Tanto de saudade já sofri
E quase d’amor fui à loucura

A raiva que em meu peito mais me dói
É tentar ser feliz e não o ser
Ter sempre esta tristeza que me mói
A alma tão dorida de sofrer

Tentar compreender meu semelhante
Semear a virtude e tanto assim
Que ouvindo os outros num instante
Fico a sofrer por eles e por mim

O fado cantando, vou mantendo
Esta chama d’amor acesa em mim
Gritando que à maldade não me vendo
Sou aquilo que sou, nasci assim

História sem fé

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Tristão da Silva
Este tema também aparece com o título  *História sem fim*

Ele era da Mouraria 
E ela da Madragoa
Viviam longe um do outro 
Mesmo vivendo em Lisboa

Um
dia a Rua da Prata 
Numa esquina os dois juntou
Ele olhou, ela sorriu 
E aquele amor assim começou

Passaram dias e meses
Que aquele amor foi paixão
Casaram os dois na Esperança
E foram p'ró Capelão
Tempos depois, numa tarde
Em que tudo era virtude
Levaram os dois a filha
À Senhora da Saúde


Ela cresceu e um dia 
Numa rua de Lisboa
Ficou presa aos olhos negros 
Que vinham da Madragoa

Ele falou do seu bairro 
E ela falou do dela
E começou o namoro 
Ele na rua rua e ela à janela

Dei-te uma saudade

Tiago Torres da Silva / Daniel Gouveia
Repertório de Cátia Montemor

Dá-me um pensamento para eu brincar
Que eu também invento um para te dar
Pensa num segredo, esconde-o em vão
Se
ele è um brinquedo esquecido no chão

Descubro as diferenças que nos vão ligar
Virando o que pensas, de pernas pró ar
Pego um pensamento, ponho-lhe outro em cima
E
paro um momento senão, estrago a rima

Dei-te uma saudade
Que deitaste ao rio
Dei-te uma saudade
Que morreu de frio
Dei-te una saudade
Que esqueceste em casa
No
correr da idade
Que a saudade atrasa


Tu vês o que penso como um dominó
Eu só te pertenço quando ficas só
Quando deixas ir os sonhos no vento
E ficas a rir do teu pensamento

Finda a brincadeira, abre-se o baú
Julgas ver-me inteira e eu julgo que ès tu
Mas só me convenço vendo a tua mão
Guardar o que penso no teu coração

Cantando pela cidade

Manuel Carvalho / Raul Pereira *fado zé grande*
Repertório de  António Passos

Andei a passear pela cidade
Por essas ruas tão do meu agrado
Levado p’la mão duma saudade
Que me guia sempre para o fado

Fui ao “São Nicolau” e à “Lareira”
Do “Veleiro” saltei à “Taberninha”
Passei p’la “Mãe preta” na Ribeira
P’ra comer uma isca tostadinha

Depois de me benzer lá nas “Alminhas”
Subi os “Guindais” duma assentada
Comprei recordações nas “Fontainhas”
No “Louro” ainda paguei uma rodada

Cantei no “Fafe” e fui ovacionado
E o “Zé Grande” cantei lá no “Repuxo”
Corri minha cidade mais o fado
Só não cantei nessas casas de luxo   

Rosa Maria do Capelão

Carlos Bessa / Manuel Maria Rodrigues
Repertório de Sandra Correia

Passa o dia à janela
A velha Rosa Maria
Da rua do Capelão
A quem passa, diz que foi ela
Que deu fama à Mouraria
Em tempos que já lá vão

A vizinhança sorri
Pega com ela ao passar 
Pede p’ra cantar o fado
Começa então para ali
Num tom baixinho a cantar 
Fados lindos do passado

Paira no ar a saudade
Na voz daquela mulher 
Toda ela nostalgia
Capelão, sentes vaidade
Ouvindo o povo a dizer 
Há festa na Mouraria 

Vou-te contar

Letra e musica de Diogo Clemente
Repertório de Carminho

Vem, vou-te contar 
Por dentro dos meus sonhos
Como que uma aurora
Chegou de longe e veio p’ra me ver
Que envergonhada eu fui e agora

Vem, vou-te contar
Atravessou os meus versos, fez-se luz
Beijou-me as mãos
Deixou-me o seu perfume
Negro lume a entrançar bem devagar
As linhas leves da minh’alma

Folhas da minh’alma
Versos só de calma
E fez lugar do que era meu
E rescreveu, qual mão de Deus
As pedras que eram dor no meu caminho
E eu cega de paixão e de desejo
Dei-lhe um beijo sem querer

Parou o tempo aqui na minha boca 
E meu amor, que aconteceu ?
Que tudo o que foi nosso 
À frase rouca de um adeus em ti morreu ?
Então olha os meus olhos e hoje vem
Vou-te contar