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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Tempo da nossa vida

Elsa Laboreiro / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Lilana Martins

Passa o tempo, controverso
Tão calado, tão discreto
Que parece não passar
E eu, distraída, me esqueço
Que existe um rumo secreto
Com pressa de me encontrar

Nesta noite de luar
Oiço ao longe, a voz do mar
Que acorda em mim, a saudade
Saudade do que não sei
Do que ainda não sonhei
No tempo da minha idade

Pensativa, me disperso
Por rotas que não conheço
E que anseio desvendar
Comece eu, onde comece
Sei apenas que o Universo
Rima o teu, com o meu olhar

Meu amor, vamos depressa
Para que o tempo se não esqueça 
De nos deixar encontrar
O tempo da nossa vida
Tão feliz e desmedida 
Como a imensidão do mar

Fado quer dizer destino

Conde Sobral / Popular *fado das horas*
Repertório de Carlos Guedes de Amorim

Fado quer dizer destino
Sorte que a vida nos traz
Cantá-lo é puxar o sino
Que só toque nas horas más

Não há vida sem sem amor 
Nem força sem alimento
Não há desgosto sem dor
em fado sem sofrimento

Fado tem tanta tristeza
E uma tristeza sem par
Mais triste só a certeza 
De o não podermos cantar

Que o fado nasceu do povo 
Mas tem o mundo na mão
Pois há sempre um fado novo 
Onde houver um coração

Vem cá, amor

Fernando Gomes dos Santos / Valter Rolo
Repertório de Liliana Martins 

Meu amor, esta saudade
Dos meus olhos a espelharem-se nos teus
Dura já mais que uma eternidade
E só há pouco me disseste adeus

Meu amor, mata-me a fome
De te qu’rer ao pé de mim a toda a hora
Quando sais, entra a dor que me consome
Eu não sou eu, sempre que vais embora

Vem cá, amor, vem cá
Não fujas mais de mim
Nem sequer por um segundo
Amor, vem já
Sem ti, a vida é um sono profundo
Vem cá, amor, vem cá
Preciso de sentir
O teu corpo junto ao meu
Amor, vem já
Só tu me dás o que ninguém mais me deu

Meu amor, este desejo
De sentir a tua pele contra a minha
Vai crescendo enquanto não te vejo
Eu desespero se ficar sozinha

Por de Deus ter recebido

António Aleixo / Manuel dos Santos
Repertório de Alfredo Guedes

Por de Deus ter recebido
Tantas provas de bondade
Já lhe tenho até pedido
A morte por caridade

O homem sonha acordado
Sonhando, a vida percorre
E desse sonho doirado
Só acorda quando morre

Os nobres que se envaidecem
Plo muito que querem ser
São frutos bobs que apodrecem 
Mal começam a nascer

A vida é uma ribeira
Caí nela, infelizmente
Hoje vou, queira ou não queira
Aos trambolhões na corrente

O tempo e a vida

Fernando Gomes dos Santos / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Liliana Martins

A vida diz ao tempo que não corra
O tempo não a escuta e vai em frente
E enquanto ela o persegue até que morra
O tempo continua, indiferente

O tempo ordena à vida: não te atrases
A vida bem se esforça por prendê-lo
Se todos os instantes são fugazes
Há que os aproveitar sem desmazelo

Na infância, todo o tempo é infinito
Depois vai começando a escassear
Por fim, a vida aceita o veredicto
De que nada adianta em se atrasar

Mas por gastarmos tanta, tanta vida
Na pressa de agarrar cada momento
Quando queremos travar essa corrida
O tempo já passou, já não há tempo

O dia do casamento

Carlos Leitão / Mário Pacheco
Repertório de Carlos Leitão

Há uma janela enfeitada
Aberta de madrugada
Ao doce enleio do trigo
Há lírios roxos no chão
Em jeito de um coração
Que se apressa em estar contigo

Todos os dias são este
Na manhã que tu escolheste 
A branco e mel vestida
Deixa que o sol amanheça
Pôr grinaldas na cabeça 
E vem mostrá-las à vida

Sorri, que o povo saiu
À rua de onde partiu 
Quando não havia fim
Deixa que o vento te grite
Te despenteie e se agite 
E dancem juntos para mim

Que o choro seja alegria
Bordada de poesia 
Agora que vais chegar
Meu amor, hoje é diferente
Tanto sonho e tanta gente 
E tanto tempo para amar

Bem-vindo

Cátia Oliveira / Manuel Graça Pereira
Repertório de Liliana Martins 

Bendita, meu amor, bendita
Hora em que me perdi no Tejo
Bendita, meu amor, bendita
Lisboa que trouxe o teu beijo

Bendito, meu amor, bendito
O ronco desse cacilheiro
Bendito, meu amor, bendito
Que traz em ti o mundo inteiro

E não há mal que sempre dure nem desdita
Meu bom fado, meu bom fado
E até já o meu coração se acredita
Que é amado, meu bom fado

Bem-vinda, meu amor, bem-vinda
A força viva que me invade
Não sei se vem de ti, ainda
Ou se virá desta cidade

Bem-vindo, meu amor, bem-vindo
O amor que dentro mal me cabe
Não sei se vem de ti, é lindo
Se vem do Tejo, diz quem sabe

Arco de triunfo à liberdade

Bernardo Sá Nogueira / Armando Machado *fado súplica
Repertório de Bernardo Sá Nogueira

Às vezes de manhã, o sol nascente
Leva-me pelas ruas, sem destino
E a minha cidade, então silente
Abraça-me a alma de menino

E enquanto vai crescendo o seu calor
Sossegam, lá bem longe, as mansas corças
Ai de mim, porém, por teu amor
Eu vou perdendo a pouco as fracas forças

Já de manhã me enleias, me consomes
De tarde me arrebatas, já me elevas
De noite me abandonas, de mim somes
Mas deixas uma luz nas vagas trevas

Nada quero saber, pouco me importa
A tristeza profunda, a ansiedade
Se me move a certeza dessa porta
Desse arco de triunfo à liberdade

Aqui existo

Rosa Lobato Faria / Mário Pacheco
Repertório de Sandra Correia

Aqui existo
Solidão entre amarguras
Vagas serenas, loucuras
E alegrias desgarradas
Aqui me visto
Da cor que a noite me deu
Mais perto de ser mais eu
Quando oiço chorar guitarras

Aqui me ergo
Sem reservas, sem amarras
Venho do fundo das águas
Sem futuro, sem passado
Aqui me entrego
À magia de um segredo
Que atravessa o mundo a medo
E é sempre o grito de um fado

Sou portuguesa
Filha do sol que me beija
Do vento que me deseja
Da poesia que me enlaça
Sou portuguesa
Portuguesa concerteza
Ave livre e indefesa
Flor campestre que esvoaça

Sonhos meus

Teresinha Landeiro / Carlos da Maia 
Repertório de Teresinha Landeiro

Saudosos são os meus sonhos
Lembro os tristes e os risonhos
Já não sonho cor do mar
Num enleio de tormentos
Um navio de desalentos
Naufragou no meu cantar

Vi teu jeito de partida
E no mar li tua ida
Meu sorriso então esqueci
A névoa desvaneceu
O meu sonho entristeceu
Saudades de te ver senti

Se sonhar já não tem cor
Vou pedir-te, meu amor
Que voltes na calmaria
Quando o barco atracar
E o tormento se afundar
Sonharei até ser dia

Lisboa 77

António José / José Carlos Areias
Repertório de Maria Dilar

Santo António está à porta
Mas de festas nem sinal
Há gente que não se importa
Que haja ou não um arraial

Há sempre quem contradiga
Que cantar não é preciso
Que mal tem uma cantiga?
Que mal tem dar um sorriso?

Ai, ai, Lisboa
Os teus santos desolados
Andam tão abandonados
No teu figurino novo
Ai, ai, Lisboa
Vê lá bem, toma atenção
Só acaba a tradição
Quando acabar este povo

Mês de Junho, a festa é tua
Ó Lisboa vem cantar
Outra vez de rua em rua
Uma marcha popular

A verdade salta à vista
E o povo não te perdoa
Se deixas de ser bairrista
Se deixas de ser Lisboa

Fado fantasia

Letra e música de Edgar Nogueira *fado Edgar*
Repertório de Catarina Rosa
                                                                                     
Por ti eu sinto alegria
Neste amor de cada dia
Que docemente vais dando
Há no teu ser, fantasia
Envolvendo uma harmonia
Que vivendo vou amando

Se às vezes vou chorando
É só porque não sei quando
Gozo de plena vontade
O bem que me vais deixando
E dentro em mim vai gerando
E paz e a liberdade

Eu vivo a fantasia
Da grande alma que nos guia
Dum beijo absorvente
Beijando sob a magia
Da etérea sabedoria
Viveremos para sempre

Dizer adeus é tão triste

Branco Rodrigues / José da Câmara
Repertório de José da Câmara

Dizer adeus é tão triste
Como é triste a noite escura
É dor que dói e persiste
Em saudade e amargura

Quando alguém então nos deixa
Ai, dói tanto a despedida
O coração não se queixa
Mas perdem-se anos de vida

Um adeus dito à partida
Fica na alma a roer
E lembra por toda a vida
Quem se não pode esquecer

Adeus... palavra singela
Que é tão triste de verdade
Não há saudade sem ela
Nem adeus sem a saudade

Quem não ama não vive

António Botto/ Pedro Jóia
Repertório de Cláudia Leal

Já da minha alma se apagam
As alegrias que eu tive
Só quem ama tem tristezas
Mas quem não ama não vive

Andam pétalas e folhas 
Bailando no ar sombrio
E as lágrimas dos meus olhos 
Vão correndo ao desafio

Em tudo vejo saudades 
A terra parece morta
Ó vento que tudo levas 
Não venhas à minha porta

E as minhas rosas vermelhas 
As rosas do meu jardim
Parecem assim caídas 
Restos de um grande festim

Meu coração desgraçado 
Bebe ainda mais licor
Que importa morrer amando 
Que importa morrer d'amor

A vida por ti

Letra e música de Angelo Freire
Repertório de Sandra Correia 

A vida é como a escada em caracol
Que dá voltas e voltas e não cansa
A vida não é mais que um girassol
Que ao sol nega o olhar duma lembrança

Não sei como é viver sem teu viver
No limite do céu, o teu olhar
Me faz compreender o teu sofrer
E ter esta vontade de te amar

Palavras que ao mar eu entreguei
Palavras que dei pra te encontrar
Palavras que ao meu coração neguei
Deixando o meu silêncio ao acordar

Palavras que ao mar eu entreguei
Num porto distante ao acordar
Perdoa, meu amor, porque sonhei
O sonho de não querer mais acordar

Distância que me aperta o coração
Aperto que me afunda num vazio
Vazio que é apenas ilusão
Do amor que a pouco e pouco me é tardio

Confio a minha vida ao teu caminho
Nos caminhos traçados pela mão
Confia a tua vida ao meu carinho
O aperto que me afunda o coração

Quem me dera

Letra e música de Matias Damásio
Repertório de Mariza 

Que mais tem de acontecer no mundo
Pra inverter o teu coração pra mim
Que quantidade de lágrimas 
Devo deixar cair
Que flor tem de nascer 
P'ra ganhar o teu amor

Por esse amor, meu Deus
Eu faço tudo
Declamo os poemas mais lindos 
Do universo
A ver se te convenço
Que a minha alma nasceu para ti

Será preciso um milagre
Para que o meu coração se alegre
Juro, não vou desistir
Faça chuva, faça sol
Porque eu preciso de ti para seguir

Quem me dera
Abraçar-te no Outono
Verão e Primavera
Quiçá, viver além uma quimera
Herdar a sorte 
E ganhar teu coração

Será preciso uma tempestade
Para perceberes 
Que o meu amor é de verdade
Te procuro nos outdoors da cidade
Nas luzes dos faróis
Nos meros mortais como nós

O meu amor é puro
É tão grande e resistente 
Como um embondeiro
Por ti eu vou onde nunca iria
Por ti eu sou o que nunca seria

Deixa caír

Carlos Leitão / Paulo Paz
Repertório de Carlos Leitão

Deixa cair, não faças nada
Tenho a almofada
E o meu sufoco faz de mim louco 
Por não partir
Deixa cair, fico no chão
Longe das mãos que não me querem 
E me desferem por não querer ir

Morres-me aqui 
Em cada acto onde me mato
E se sonhar é o verbo amar
Sonho-te a ti
Eu já não quero
Fico na cama onde se ama
Já não, não vou contigo e fico aqui

Teus olhos nos meus

Teresinha Landeiro / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Teresinha Landeiro

Ao olhar-te da janela
Vi teus olhos pousar nela
Na janela que eu abri
Das cortinas voaram beijos
E entre eles alguns desejos
Que pedi quando te vi

Tinhas preso no teu jeito
Um sorriso imperfeito 
Que marcava quando rias
Trago ainda o olhar
Com que olhavas ao passar 
A janela onde me vias

Passavas noites e dias
Todas as vezes sorrias 
Com alguma timidez
Ia sempre prá janela
Pois sabia que por ela 
Passarias outra vez

Vou descer à tua rua
Numa noite em que a lua 
Pratear os olhos teus
Vou dizer-te num olhar
Não passei só por passar 
Queria os teus olhos nos meus

Das horas abandonadas

Rodrigo Costa Félix / Tiago Machado
Repertório de Sandra Correia

De onde me vem esta voz
Que é mais antiga que o tempo
Do tempo da minha idade
Virá do fundo de nós
Daquele breve momento
Em que não fomos saudade

De onde me vem esta dor
Que se solta quando canto
E me entorpece os sentidos
Virá de ti, meu amor
Do teu riso, do teu pranto
Ou dos meus sonhos perdidos

De onde virá a tristeza
Que me veste as madrugadas
Deste fado escuro e frio
Virá meu bem, concerteza
Das horas abandonadas
Do nosso quarto vazio

De onde vens tu, que não chegas
Não me abraças, não me beijas
Nem me esperas na entrada
Do futuro que me negas
Só lembranças tu me deixas
Mas eu não quero mais nada

Murmúrios secretos

Elsa Laboreiro / António Neto
Repertório de Elsa Laboreiro  

Trago lembranças do mar
Dentro do meu coração
Momentos de sol doirado
Sobre areias de paixão

Trago uma concha na mão
Refúgio dos meus segredos
Guardiã dos meus sossegos 
E da minha condição

E dos mais altos rochedos 
Voam asas de saudade
Em ânsias de liberdade 
P'ra mundos desconhecidos

Mas em qualquer infinito 
Na mais longínqua paragem
Seja qual for a viagem 
É só em ti que eu existo

E é por isso que o mar 
Nos seus murmúrios secretos
Fala de beijos e afetos 
Que trago no meu olhar

Ai meu amor, meu amor
Volta nas ondas do mar

Improviso

Rosa Lobato Faria / Popular *fado menor*
Repertório de Carlos Zel

Se uma palavra pudesse
Abrir o teu coração
E aquele que a dissesse
Inventasse uma canção

Se um gesto da tua mão
Nos apontasse o caminho
Que leva da solidão
Ao centro do labirinto;
Se tudo aquilo que eu sinto
Alcançasse noutra voz
O voo que ao teu ouvido
É ave dentro de nós;
Eu faria amor contigo
Quando não estamos a sós

Amor perfeito

Letra e música de Héber Marques
Repertório de Mariza

Eu ouço as marchas de São João
E o coro negro que me traz tanta emoção
Na rua a amargura calou a voz
Só resta entanto, um quando espanto
Que me faz erguer a voz dos meus avós
Daquilo que era, que sempre será

Mais do que o fogo 
Que arde sem se ver
Mais que a palavra 
Que o mundo faz esquecer
Mais que o ciúme 
Que a terra conheceu
Amor perfeito
Quem será que o entendeu

Olhai o triunfante trovador       
Cantar o seu romance, o seu esplendor
É sol de pouca dura, dá luz sem cor
Pois falta entanto um quanto espanto
Que me faz erguer a voz dos meus avós
Daquilo que era e sempre será