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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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A jóia mais bonita

Joaquim Silva Borges / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de Nelson Duarte

Essa jóia tão bonita
Que eu não vendo a ninguém
É a velhinha bendita
Que se chama minha mãe

Sou pobre, mas a riqueza 
Que tenho não se acredita
Pois guardo com avareza 
Essa jóia tão bonita

Guardo-a no meu coração 
Pois tal valor ela tem
É jóia de estimação 
Que eu não vendo a ninguém

Quando minha mãe morrer 
Chorarei minha desdita
A causa do meu sofrer 
É a velhinha bendita

Se me dessem todo o ouro 
Que o milionário tem
Eu não vendia o tesouro 
Que se chama, minha mãe

Quem és tu *lama*

Paulo Marques e Aylce Chaves
Repertório de Alzira Canede

Se quiser beber, eu bebo
Se quiser fumar, eu fumo
Não me interessa mais ninguém
Se o meu passado foi lama
Agora quem me difama
Viveu na lama também

Comendo a mesma comida
Bebendo a mesma bebida
Respirando o mesmo ar
E hoje, por ciúme ou por despeito
Acha-se com o direito
De querer me humilhar

Quem és tu, quem foste
Não és nada
Se eu na vida fui errada
Tu foste errada também

Não compreendeste o sacrifício
Sorriste do meu suplício
Me trocando por alguém

Se eu errei, se pequei, pouco importa

Se aos teus olhos eu estou morta
P'ra mim morreste também

Você

João Linhares Barbosa / Armando Freire *alexandrino antigo*
Repertório de América Rosa

Você teve um capricho, eu tive um desengano
Um sonho que morreu sem eu saber porquê
Um cálculo que errou e desmanchou o plano
Motivo de afeição que eu tinha por você

Você já tinha outra a quem também mentia
O gosto por fazer, orgulho já se vê
A pobre acalentava a estranha fantasia
De ter uma paixão movida por você

Você não avalia o amor duma mulher
Não sabe o que é sofrer e das paixões descrê
Não escolhe uma afeição e serve-lhe qualquer
O ponto é que ela sofra e viva p'ra você

Você quando cansar à força de desgosto
Quando se achar diferente ao espelho onde se vê
E quando não tiver onde encostar o rosto
Volte que eu 'inda estou à espera de você

O fado não tem idade

Alice Barreto / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Nelson Duarte

O fado não tem idade
Tem estatuto no mar
Cantaram-no os marinheiros
Há quem diga que os primeiros
O cantaram a rezar

O fado é sempre cantado 
Em orações delirantes
Quando no mar encapelado
É grande oração, o fado 
Ao senhor dos navegantes

Escutei um dia o fado 
Num murmúrio sobre a areia
Só podia ser cantado
Aquele tão belo fado 
Pela voz de uma sereia

O fado é a voz do povo 
Como ele não há nenhum
Sempre velhinho, mas novo
Se o fado é a alma do povo 
No fado de cada um

Porto antigo

Letra e musica de Pedro Barroso 
Repertório de António Laranjeira 

Neste porto manso, eterno. onde descanso
Porque me fica aqui o peito e o sentido
Com aquela água imensa navegando
Este rio, ao passar, fala comigo;
E parece murmurar-se quente e brando
Como o mundo é mais sereno em Porto antigo

O velho Douro é como um hino à natureza
Escorrendo entre os dedos da montanha
Ao sol que o faz vibrar e pressentir
Mostrando a história em socalcos vinhateiros
Nos solares de baronetes e herdeiros
Com brasões verdadeiros ou a fingir

Dos barcos que se cruzam indo e vindo
Alguém levanta a mão saudando ao longe
Como um monge pagão fugido à norma
O próprio rio me esmaga e me transforma;
O casario dá a impressão que vai cair
E eu sei que vou chorar quando partir

Sei que o tempo ali parou naquele cais
E não quero saber de mais informação
Que a que me traz com majestade o Douro amigo
Eu quero ficar ali para sempre, ali contigo;
Olhos nas margens do sentir, a mão na mão
Ai, como o mundo é mais sereno em Porto antigo

Não prendas os teus olhos

António Laranjeira / Rogério Ferreira
Repertório de António Laranjeira

Não prendas os teus olhos
Nem me peças amor
Estou ausente de tudo, só dor
Esta herança pesada
Uma cruz por castigo
Não prendas os teus olhos comigo

Por mais que me torture
Em clausura atroz
Neste torpe silêncio por nós
Se te não te devo amor
É desígnio de Deus
Não prendas os teus olhos aos meus

Não serve este lamento
Para nos torturar
Tivemos muito tempo para amar
Nunca nos maltratamos
Nunca nos ofendemos
Mas quando nos cruzamos, sofremos

Porto do meu coração

Joaquim Brandão / Eduardo Jorge
Repertório de Nelson Duarte

Ao meu Porto, vou cantar 
O fado minha cantiga
Com ternuras a lembrar 
O sentir da minha vida

Meu palácio de ilusões 
Das noites de São João
Minha terra de paixões 
Dos tempos que já lá vão

Fechou a velha taberna
De velhinha estás moderna
Mas p’ra mim és sempre igual
Meiga terra hospitaleira
Cascata sobre a Ribeira
Baptizaste Portugal

No caminhar tens canseira 
Porto do meu coração
Na labuta és o primeiro 
Ao madrugar pelo pão

Tuas pontes são poemas 
Pelo rio a navegar
Jardins e fontes são temas 
Do teu alegre cantar

Olhos de amor

Letra e musica de António Laranjeira
Repertório de António Laranjeira

Olhos de amor não têm cor
Rosto queimado é de paz
Quem dá a mão com o coração
Não tem noção do que é capaz

Quanta ternura há na voz
Quanta doçura a sorrir
Olhos de amor não têm cor
Olhos de amor sem mentir;
Olhos de amor não têm cor
Olhos de amor não têm dor

Quanta distãncia de mar
Quanta largura de céu
Olhos de amor sabem amar
Um coração igual ao teu

Olhos de amor que não choram
Olhos que sabem esperar
Olhos de amor que demoram
Que tardam sempre em chegar

Olhos d’avô e d’irmão
Olhos de mãe e d’avó
Olhos de pai se não está só
Olhos de amor com coração;
Olhos de amor não têm cor
Olhos de amor não têm dor

Meu burgo tripeiro

Alice Barreto / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Nélson Duarte

Ribeira, burgo tripeiro
Meu coração de rainha
Encantaste o estrangeiro
Atraíste o mundo inteiro
Mas não deixes de ser minha

Ribeira, és monumento 
Para mim és o primeiro
Eu vejo em cada janela
Os vitrais duma capela 
Deste meu burgo tripeiro

Ribeira, linda mulher 
Deitada em leito de prata
Eu sei que o Douro te adora
E por vezes por ti chora 
Meu calendário sem data

Ribeira, quanta beleza 
Na tua graça tão bela 
Inspira qualquer pintor
Cada vez terás mais cor 
P’ra dar vida à tua tela

Aquela Maria

Alice Ogando / Frei Hermano da Câmara
Repertório de Frei Hermano da Câmara

Maria da Conceição
Vi-te ontem na procissão 
Mas duvidei do que via
Pois quando p'ra ti olhei
Olhei logo e reparei 
Que toda a gente sorria

Maria da Conceição
Ou tu perdeste a razão 
Ou então foi bruxaria
Um chapéu nessa cabeça
Mas tu queres que eu endoideça 
Oh pobre, pobre Maria

Calça a chinelinha, calça
Põe teu lenço de Alcobaça 
E a saia de flanela
Põe teu xaile de tricana
Pois tu és ribatejana
Pois tu Maria és aquela;
Criada com essa aragem
Que faz a mulher formosa
E em paisagem bravia
Nunca pode ir bem Maria
Esse chapéu, essa rosa

Maria da Conceição
Sai-me já da procissão 
Olha que Nosso Senhor
Sendo embora de madeira
Ao ver-te dessa maneira 
Pode fugir do andor

Volta depois sem vaidade
Prefere a simplicidade 
Numa vida sem mentira
Sem pose e sem presunção
Maria da Conceição 
De Vila Franca de Xira

Foi aqui na minha terra

José Guimarães / Alfredo Correeiro *marcha do correeiro*
Repertório de Nelson Duarte

Vejo as pontes, vejo a serra
E vejo o rio passar
Entre margens de carinho
Foi aqui na minha terra
Que a névoa veio morar
E onde o sol abre caminha

No passado que ela encerra
Tem nobreza e é bairrista 
Gaiata e sempre leal
Foi aqui na minha terra
Que de conquista em conquista 
Houve nome Portugal

Sofreu as penas da guerra
E a cruz de Cristo levou 
Através do mar profundo
Foi aqui da minha terra
Que o Infante navegou 
Deu novos mundos ao mundo

Este Porto onde nasci
Por vaidoso não me tomem 
Mas digo com altivez
Minha terra foi aqui
Que aprendi a ser homem 
E a ser mais português

Amor meu

Marla Amastor / Alfredo Duarte *fado versículo*
Repertório de António Laranjeira

É no canto mais antigo que há em nós
No sussuro mais contido que há na dor
Que me encontro a sós contigo nesta voz
Sem nunca me ter perdido meu amor

Se encontrares mais de mim neste fado
Não me vistas de loucura desmedida
Não me prendas mais assim, meu pecado
Nem te dispas desta jura prometida

Por saber como tu és e como sou
Por saber de onde vim e fui parar
Não te percas nas marés p’ra onde vou
Nem te soltes mais de mim sem me encontrar

Se falar a voz mais alta do que eu
Se as palavras que disser ao teu ouvido
Forem tudo o que nos falta, amor meu
Voltarei para te amar com mais sentido

Um dia no Ribatejo

Manuel de Almeida / Jaime Santos
Repertório de Manuel de Almeida

Fui certa vez ao Ribatejo entusiasmado
P’la mais castiça das festas tradicionais
Que grande dia, que dia tão bem passado
Um desses dias que a gente não esquece mais

Vi curiosos toureando com destreza
Numa largada de toiros ao romper d’alva
E assisti numa corrida à portuguesa
Toda a beleza do toureio marialva

Vi um forcado dando ao toiro meia praça
Batendo as palmas numa coragem das raras
Entusiasmando a multidão e pondo a raça
E a valentia que há numa pega de caras

E numa adega bem castiça a recordar
Outras noitadas com fidalgos e artistas
Cantei o fado rigoroso p’ra mostrar
À gente nova, que ainda haviam fadistas

Dilema

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Nelson Duarte

Ando a tentar esquecer-te
Mas já vi que não consigo
Pois o medo de perder-te
Ainda vive comigo

Eu não quero mais lembrar 
Os teus olhos o teu rosto
Mas volto sempre a sonhar 
Com as coisas que mais gosto

Nunca sais da minha mente 
P'ra viver, de ti preciso
Não posso por mais que tente 
Esquecer o teu sorriso

Tento a boca amordaçar 
P'ra não falar no teu nome
Mas não consigo calar 
A mágoa que me consome

Só Deus sabe este castigo 
Que na vida ando a viver
Esquecer-te não consigo 
Por mais que tente esquecer

Aniversário

José Guimarães / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Nelson Duarte

Nem sempre aniversário é felicidade
De uma hora feliz, que já passou
Às vezes muitas vezes é saudade
De um momento que o tempo já levou

É recordar o dia em que nasceram
Os filhos que o amor e Deus nos deu
É recordar momentos que vieram
Fazer da nossa vida um novo céu

É a data feliz do casamento
São as bodas de prata e as bodas de ouro
É lembrar cada ano esse momento
Que guardamos em nós, como um tesouro

É lembrar o marido ou a esposa   
Recordar a alegria e a saudade                             
E em cada aniversário, há uma rosa
Num desejo de amor e felicidade

E ao cantar este fado de alegria
Eu agradeço a Deus estarmos aqui
E em cada ano espero que este dia
Seja a festa da vida que vivi

Uma vez que seja

Ana Vidal / Raul Pereira *fado zé grande*
Repertório de António Zambujo

Tu que navegas ao sabor do vento
Sem outra rota que o que se deseja
Tu que tens por mapa o firmamento
Vem decobrir-me, uma vez que seja

E diz-me das viagens que não faço
Dos mundos cintilantes que antevejo
E traz-me mares de mel no teu abraço
Poeira de ouro velho no teu beijo

De ti não espero amarras nem promessas
É livre que te quero neste cais
Até que um dia em mim não amanheças
E te faças ao mar uma vez mais

E mesmo nessa hora de perder-te
Sabendo que a magia se desfez
Terá valido a pena conhecer-te
E deslumbra-me ao menos uma vez

Meu amor, sou vinho e pão

Manuel Guimarães / José Maria dos Cavalinhos *fado anadia*
Repertório de Nélson Duarte

Sou filho de um campo verde
O trigo que está no chão
Vinho que te mata a sede
Meu amor, sou vinho e pão

Sou farinha na masseira 
O pão, amor e carinho
A raiz de uma videira 
Forno, lagar, pão e vinho

Cubro de parra o meu rosto 
De farinha o coração
Teus lábios cheiram a mosto 
O teu corpo, a vinho e pão

Abraçaste trigo aos molhos 
Num celeiro de paixão
Na vindima dos meus olhos 
Encontraste vinho e pão

No fermento que fizemos 
Cresceu em fermentação
O filho que hoje temos 
Para nós é vinho e pão

Canto para não chorar

1a estrofe de Teresa Tarouca / 2a estrofe de Francisco Stoffel
Restantes estrofes de de Manuel Andrade 
Música de Joaquim Campos *fado puxavante
Repertório de Francisco Stoffel 
Este tema também aparece com o título *Eu vivo só p'ra cantar*
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*

Eu canto p'ra não chorar
Chorando canto também
Eu vivo só p'ra cantar
Toda a dor que a vida tem

Como uma prece diferente 
Que aos pés de Deus vá rezar
Cada um canta o que sente 
Eu canto p'ra não chorar

E esta canção tão linda 
Que me ensinou minha mãe
Cada vez que a lembro ainda 
Chorando-a, canto também

Comecei de pequenino 
Neste louco caminhar
Fiz do fado o meu destino 
Eu vivo só p'ra cantar

Na minha voz dolorida 
O fado retrata bem
As incertezas da vida 
Toda a dor que a vida tem

Verão, Alentejo e os homens

Letra e musica de Manuel Conde Fialho
Repertório de António Zambujo

Meu Alentejo
Enquanto isto se processa
O sol ferindo sem pressa
Queima mais a tez bronzeada
O suor rasga a camisa
Homem queimado mais fica
A vida é feita de brasa

No Verão
A brasa dourada e celeste
Esvaiando o sol agreste
Dourando mais as espigas
Ceifeiros, corpos curvados
Ceifando e atando em molhos
A benção loira da vida

O calor caustica os corpos
Os ceifeiros vão ceifando
Sem parar o seu labor
O seu cantar é dolente
É certo que é boa gente
Tem verdade e tem mais cor

P’ra onde quer que me volte

Mário Rainho / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de António Zambujo

Por muito que me revolte
Seres, somente, uma miragem
Pra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

Imagem que me enlouquece 
Como um louco no deserto
Que do nada me aparece 
E tão distante é tão perto

Vejo-te envolta, em poeira
Ou transparente cristal
E a loucura é mais inteira
O sonho quase real

Por muito que me revolte
Seres, somente, uma miragem
P'ra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

Mais fado para sonhar

Torre da Guia / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de Nélson Duarte

Sonhei em frente, sonhei
E sei lá quanto passei
Pr'alcançar a realidade
Sonhei e desde menino
Entre as curvas do destino
Firmei a minha vontade

Cantei à minha cidade
Fui feliz, tive vaidade 
Em ser arauto e cantor
Até que mudei um dia
Prá nostálgica melodia 
Que à vida alivia a dor

Todo me dei em pendor
Ao sentimento em flor 
Que do peito sobe à voz
O fado reza bendita
Onde em magia levita 
O sonho de todos nós

Sonhei e do sonho após
O tempo passou veloz 
Mas logrei enfim chegar
À trilha do meu almejo
E agora apenas desejo 
Mais fado para sonhar

Sou a noite, sou o fado

Manuel Guimarães / João Maria dos Anjos
Repertório de Nelson Duarte

Sou a noite na cidade
Sem sol nem claridade 
Mas aqueço o coração
Sou o fumo do cigarro
Quando a guitarra agarro
Canto o fado com paixão

Sou um fado de raiz
A cantar estou feliz 
Trago poemas na voz
Tradição e fado novo
Eu quero ser voz de um povo 
De um povo que somos nós

Sou o copo de sangria
A lanterna que alumia 
A noite, a madrugada
Semeio para colher
E ver um filho nascer 
Na minha seara amada

Sou companheiro da lua
Travessa, viela e rua 
Coração apaixonado
A noite é que me ensina
A minha vida é uma rima 
Sou a noite, sou o fado

Alma de quem o sente

Manuel Bogalho *fado bagdad*
Repertório de Marina Mota

Há muito p’raí quem diga
Que o fado já não é fado
Que essa canção tão antiga
Está a ser posta de lado

Quem o diz que desista 
É melhor estar calado
Do passado ao presente 
Fado é a voz do povo
Quando nasce um fadista 
Nasce com ele um fado
Por isso eternamente 
O fado é sempre novo

O fado que é meu enlevo
Com prazer devo
Sempre estimar
Faz parte do meu viver
E até morrer 
O hei-de cantar;
P’ra mostrar a essa gente
Que o fado é alma 
De quem o sente

Desde os tempo que lá vão
Esta canção sem igual
É a mais bela canção
Das canções de Portugal

Por isso não aceito 
Aquele que se arrisca
A escutar fado ali 
Mostrando desagrado
Porque tenho no peito 
Um coração fadista
P’ra cantar e sentir 
O verdadeiro fado

Noite cheia de estrelas

Letra e musica de Candido das Neves
Repertório de António Zambujo

Noite alta, céu risonho
A quietude é quase um sonho
O luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata
Claríssimo esplendor
Só tu dormes
Não escutas o teu cantor
Revelando à lua airosa
A história dolorosa deste amor

Lua, manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meus desejos
Sufocá-la com meus beijos
Canto, e a mulher que eu amo tanto
Não me escuta, está dormindo
Canto e por fim
Nem a lua tem pena de mim
Pois ao ver que quem te chama sou eu
Entre a neblina se escondeu

Lá no alto a lua esquiva
Está no céu tão pensativa
As estrelas tão serenas
Qual dilúvio de falenas
Andam tontas ao luar
Todo o astral ficou silente para escutar
O teu nome entre as endeixas
As dolorosas queixas ao luar

Cravo poeta

Fernando Jô / Carlos da Maia
Repertório de Artur Batalha

A NECESSITAR DE CONIRMAÇÃO
Embora na ficha técnica da gravação apareça mencionado o nome de Fernando Jô 
como tendo sido o autor da letra, chegou-me a informação que a autoria pertence a 
Jorge Fernando.

Nesta hora, a poesia
É a máxima distância
Que me separa do mundo
E da noite negra e fria
Sobe a haste da infãncia
Nasce um cravo vagabundo

Cresce de tudo um poema
Pelos muros da cidade 
Sem medos de amanhecer
Nas raízes morre a algema
Que lhe prendia a idade 
Com decretos de viver

Sorri ao mundo, sorri
Em cada folha um poema 
Cravo de verso na mão
As pétalas que te vesti
Sem usar de estratagema 
Dão ao meu fado, razão

Trago uma rua no peito

Tó Moliças / Popular *fado das horas*
Repertório de Ricardo Ribeiro

Trago uma rua no peito
Toda empedrada com fado
Que vou pisando com jeito
P’ra não pisar o passado

Quero morrer na saudade 
Que vivo morrendo em ti
Quero os beijos que perdi 
Na traição da felicidade;
Quero morrer na saudade 
Do teu corpo idolatrado
Pra reviver a teu lado 
Este amor puro e perfeito
Trago uma rua no peito
Toda empedrada com fado

E quero a doce loucura 
De te ouvir aqui presente
De te ver à minha frente 
E andar à tua procura;
Quero viver na tortura 
Do teu corpo destroçado
Vago num grito calado 
P’ra te merecer no meu leito
Que vou pisando com jeito
Pra não pisar o passado

Que mãos são essas

Fernando Campos de Castro / Henrique Lourenço *fado cigana*
Repertório de Nélson Duarte

Que mãos são essas que trazes
Essas mãos com que me fazes
Carícias que nunca vi
São duas mãos que se agitam
E em cada gesto me gritam
Palavras que bebo em ti

Que mãos são essas libertas
Nas madrugadas abertas 
De cada noite que temos
São duas mãos de ansiedade
A procurarem verdade 
Nos sonhos que os dois vivemos

Que mãos são essas tão frias
Essas mãos com que fazias 
Carícias como ninguém
Que mãos são essas paradas
Como marés adiadas 
Nas praias que o corpo tem

Que mãos são essas distantes
Essas mãos tão inconstantes 
Que habitam os sonhos meus
Que mãos são essas erguidas
A lembrarem despedidas 
A quem não quer um adeus