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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Outros tempos, outro fado

Tony Carolas / Alfredo Correeiro *marcha do correeiro*
Repertório de Nelson Duarte

Ai quantas noites de farra
Com vinho, mulheres em fado
Vividas na Mouraria
Ao trinar de uma guitarra
Com a viola a seu lado
Começava a cantoria

Fidalgos e marinheiros
Camareiras e rufias 
Marialvas de tipóias
E outros mais companheiros
Iam ali todos os dias 
Para andarem nas rambóias

Se alguém embriagado
Ou um qualquer rufião 
Provocavam a desordem
Logo um fadista afamado
Ia chamá-lo à razão 
Ou então, pô-lo na ordem

Era assim antigamente
Que o fado era cantado 
Até ao romper do dia
Hoje o fado está diferente
Outros tempos, outro fado 
Numa outra Mouraria

Só um beijo

Manuela de Freitas / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Pedro Moutinho

Só um beijo me pediste
Um beijo de despedida
Depois do beijo, partiste
Num beijo foi-se-me a vida

Com a pressa de quem parte 
Nem sequer te despediste
Eu tanto tanto p’ra dar-te 
Só um beijo me pediste

Se o que se dá por amor 
Nos pode tirar a vida
Não há pecado maior 
Que um beijo de despedida

De tantos beijos que demos 
Foi esse o beijo mais triste
Beijei-te, nada dissemos 
Depois do beijo, partiste

E só recebi em troca 
A dor da tua partida
O adeus da tua boca 
Num beijo foi-se-me a vida

Meu amor sem direção

Vasco Lima Couto / Joaquim Campos  *fado tango*
Repertório de João Braga 

Meu amor sem direção
Meu amor, meu caso de horas
Vives tão longe a meu lado
Que eu já nem sei se o meu fado
Cumpre a noite em que tu moras

Dei sementes do teu nome 
Aos campos e a ver o mar
Atirei ao vento norte
Esta cadência que a morte 
Inventa no teu olhar

Ninguém me diz onde estás 
Meu amor em solução
Prendem-te a noite chegada
Quando a minha mão calada 
Se dirige à tua mão

E o tempo corre em silêncio 
Na ausência de prometer
Podem fechar o caminho
Que em nós, o tempo sozinho 
Não mata a dor de viver

Já foste raínha

Manuel Carvalho / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Vitor Rodrigues 

Na vida foste rainha
Eu a teu lado só tinha
Lugar de bobo marcado
Hoje cais-te do trono
Já não tens rei, não tens dono
E queres voltar p’ra meu lado

É verdade não o nego
Que por ti eu já fui cego 
Nem via que me humilhavas
Fui um vassalo p’ra ti
Nesse tempo em que vivi 
Iludido que me amavas

Fiz de ti uma rainha
Dei-te tudo quanto tinha 
E da lama te tirei
Agora já te não quero
Acredita, sou sincero 
Nem te peço o que te dei

Encontrei outro regaço
Onde durmo a cada passo 
Até Deus me dar o fim
Como vês agora é tarde
Posso morrer de saudade 
Mas com respeito por mim

Se eu te pudesse dizer

Fernando Pessoa / Armando Augusto Freire *fado da adiça*
Repertório de Pedro Moutinho 

Quando te apertei a mão
Ao modo de assim-assim
Senti o meu coração
A perguntar-me por mim

Só com o jeito do corpo 
Feito, sem dares por isso
Fazes mais mal que o demónio 
Em dias de grande enguiço

Esse xaile que arranjaste 
Com que pareces mais alta
Dá ao teu corpo esse brio 
Que à minha coragem falta

Quando apertaste o teu cinto 
Puseste o cravo na boca
Não sei dizer o que sinto 
Quando o que sinto me toca

Se eu te pudesse dizer 
O que nunca te direi
Tu terias de entender 
Aquilo que nem eu sei

Fui à rua onde tu moras

Carlos Bessa / Carlos da Maia
Repertório de Nelson Duarte 

Fui à rua onde tu moras
E não te vi à janela
Em teu lugar vi aquela
Meu amor, que tu adoras

Já estive no seu lugar 
Partilhei a mesma cama
Apagou-se acesa chama 
Que havia no nosso lar

Fui lá p’ra matar saudades 
Na esperança de te ver
Esquecendo as maldades 
Que me fizeste sofrer

Saí de lá, horas altas 
Meu amor, não te encontrei
Ir à rua onde moras 
Nunca mais eu lá irei

Vai, dança com ela

Letra e música de Armando Nascimento Rosa
Repertório do autor 

Quem te disse que o fado não dançava 
Mentiu-te para te deixar sentada
Vielas com viola onde há guitarra
Dançava a gente além da madrugada

Não são só trovas vindas do passado
Nem vozes mortas da cidade antiga
Se o corpo ouvir o som que vem do fado
Voltas a ser rapaz ou rapariga

Dá-me o teu braço, traz o teu gesto
Traça no espaço
Escapa ao cansaço de tudo o resto
A vida é plena se bailares nela
Faz uma cena sem dor nem pena
Vai, dança com ela 


Quem te disse que o fado é só tristeza
Não viu no canto a chave da alegria
Mesmo que o choro embargue a voz já presa
Se tu cantares da noite fazes dia

Há tantos modos de habitar o tempo
Que às vezes não sabemos bem vivê-lo
É rio que passa breve e vai sedento 
E num só fado a gente quer contê-lo 

Meu berço, meu fado

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte
Repertório de Maria José 

Bairrismo não é pecado
Pecado é pormos de lado
O lugar onde nascemos
É não guardar na memória
Um pedacinho de história
Do bairro onde crescemos

Dos lugares que o Porto tem
A Sé será sempre mãe 
Ali nasceu a cidade
E d’Aldoar às Eirinhas
Do bairro das Fontainhas
Eu guardo tanta saudade

Essa cascata altaneira
A rampa da Corticeira 
Alameda e sua fonte
Aguarela d’encantar
Com a Serra do Pilar 
Na tela mesmo defronte

Bairro de gente modesta
E que um junho fica em festa 
Com manjerico e balão
S. João meu doce bem
Fontainhas minha mãe 
Meu berço, meu coração

Leva-me contigo

Letra e míúsica de Amélia Muge
Repertório de Pedro Moutinho 

Vem daí, vem estar comigo
E leva-me a passear
Por cada sim que eu não digo
Pela casa onde me fecho
Pelas manhãs de calor
Seja lé pelo que for
Leva-me contigo
Que eu deixo

Leva-me até ao outro lado
Todo inventado por ti
Onde posso ouvir uma fado
Sem saber do que me queixo
Que me pareça um abrigo
Quase um sonho, um riso antigo
Leva-me contigo
Que eu deixo

Não fiques aí sentada
Dá vida a estas palavras
Cheias de intenções escravas
Tu sem ver, sem fazer nada
Descobre então o andar
Que me põe a caminhar
Leva-me contigo
Que eu deixo

Amor eterno, amor ausente

Carlos Bessa / Alfredo Duarte *fado cravo
Repertório de Nelson Duarte 

Fico a olhar pausadamente
Amor eterno, amor ausente
Disperso na imensidão
Triste olhar inquietante
Tão perdido, tão distante
Que loucura coração

Foi um erro ter sonhado
Com tudo o que é errado 
Sem vontade de acordar
Corrimão de aço frio
Conduziu-me ao desvario 
Sem forças p’ra recuar

Duma janela já morta
Vejo a chuva que conforta 
As marcas da minha dor
O frio faz-se sentir
Meu amor, eu vou dormir 
Boa noite meu amor 

Fado da contradição

Lourenço Rodrigues / João Dias Nobre
Repertório de Hermínia Silva

Não estou bem ao pé de ti
Longe de ti também não
E a nossa vida é assim 
Eterna contradição
Penso fugir-te e aposto 

Mas volto logo em seguida
Digo que não gosto e gosto 
E assim passamos a vida

Se eu digo sim, tu dizes não
Se eu digo não, tu dizes sim
Vive-se assim em discussão
Numa constante contradição

Zangado foste-te embora 
Pedi que não me deixasses
E quando voltaste agora 
Tive pena que voltasses

Não posso viver sem ti 
Não posso viver contigo
A vida assim, eu já vi 
Vai ser um grande castigo

Se queres sair, eu não quero 
Se tens calor, tenho frio
Se t’espero, desespero 
Se vens cedo, desconfio

A minha cabeça trago-a 
Em constante burburinho
Se queres vinho, bebo água 
Se queres água, bebo vinho

Quem me dera ter sido eu

Cátia Oliveira / Valter Rolo
Repertório de Madur 

Quem me dera ter sido eu
E por não ser bem doeu
Nunca pensei que se desse o que se deu
Como foste casar sem mim
Bem me disseste, era o fim
Mas nunca eu te julguei sério assim

Mas sinto que não passa de pirraça
E que viver sem mim não te dá graça
Se não te disse o bem que me fazias
Julgando que os dias
Jamais nos faltariam vida fora
Julguei errado e perdi a hora

Quem me dera ter sido eu
Quem sempre fez, sempre deu
Amor que desse p’ra encher um Coliseu
Mas guardei-o tanto em mim
Que sentimento ruim
Sofre bem mais quem não deu, perdeu o sim

Gratidão

Fernando Gomes dos Santos / Jaime Santos *fado bica*
Repertório de Madur 

As marés são sempre cheias
No mar do meu coração
Porque me corres nas veias
Em rios de gratidão

Contigo alarguei os passos 
E o mundo inteiro cruzei
Por me perder nos teus braços 
É que eu, enfim, me encontrei

É tua a voz que persiste 
Em transbordar do meu peito
Sigo-a de sonhos em riste 
Atrás de um canto perfeito

Tu és a luz que me veste 
Quando me dou de alma nua
Fado, que tudo me deste 
A minha vida... é tua

Canto de viagem

Fernando Gomes Santos / Manuel Graça Pereira
Repertório de Madur 

Quando canto dou-me de alma inteira
No meu canto não há meio amor
Solto a voz em qualquer fronteira
P’ra seguir a vida com fervor

A caminhada é incerta e tão dura
Mas não levo meia-volta na viagem
Vou embalada pelos braços da aventura
Embriagada com as cores da paisagem

O meu peito traz-me a luz perfeita
No meu canto não há meio-dia
Há um sol que está sempre à espreita
A guiar-me pela noite fria

A caminhada é incerta e tão dura
Mas não levo meia-volta na viagem
Levo a verdade, a esperança e a ternura
Não há saudade que me corte a passagem;
Sonho o futuro num caminho de loucura
O que procuro é o longe e a miragem

Xaile cor de sonho

Rui Manuel Cuca / Popular *fado menor*
Repertório de Madur 

Tenho um xaile cor de sonho
Sem o qual não sou ninguém
Só com ele me disponho
A querer ir mais além

Com ele abri os dias 
E fui navegando os anos
Desbravei as alegrias 
Naufraguei em desenganos

Com ele cheguei aqui 
Sem me perder de quem sou
Se algumas vezes caí 
O xaile me levantou

Está um pouco desfiado 
Mas é vaidosa que o ponho
Nos meus ombros, bem traçado 
O meu xaile cor de sonho

Riquezas minhas

Manuel Carvalho / João Maria dos Anjos
Repertório de Margarida Lima 

Não nasci em berço d’ouro
Minha mãe foi meu tesouro
A minha grande riqueza
Mas hoje bem pobre sou
Porque Deus já ma levou
Vive em meu peito a tristeza

Já fui rica quando tive
Um amor que já não vive
Mas que era a minha loucura
Nos seus braços fui rainha
Pois nesse tempo eu tinha 
Uma riqueza em ternura

Fui rica em felicidade
Agora resta a saudade 
Sou rio chegando à foz
Enquanto Deus me deixar
Eu serei rica a cantar 
O fado p’ra todos vós

Jardim

Cátia Oliveira / Valter Rolo
Repertório de Madur 

Tudo aconteceu sem que dera eu
Conta de que o céu vestira de breu
A manhã sem fim ue anoitece em mim
Na desgraça irmã de ver o jardim

Onde o mais que há é palavra má
Onde habita só a mágoa e o pó
Do que foi o amor
Do que foi o nosso amor

Tudo se perdeu, o lamento é teu
Que desabe o céu, o vazio sou eu
Nada existe mais e os dias iguais
Passam longe amor, longe do teu cais

Nem saudade há, só lembrança má
Tudo á flor da pele, tudo em mim repele
O que foi o amor, o que foi o nosso amor

Quisera eu fazer de cada flor do meu jardim
De cada fado, dedicado a ti
Os argumentos p’ra que tu ficasses
Quisera eu fazer de cada dor do meu jardim
A borboleta que pousasse em ti
Nada pesando, p’ra que tu me amasses

Fui adulta muito cedo

Manuel Carvalho / Jaime Santos *fado latino*
Repertório de Fátima Alves 

Sou mãe, mulher e fui também criança
Pisei descalça, ruas sem ter medo
Poucas recordações tenho d’infância
Porque fui adulta muito cedo

Recordo alguns brinquedos dos baratos
Despesas foram sempre pouca monta
Minha linda boneca era de trapos
Para brincar às mães do faz-de-conta

Lembro a dor que tem as mãos de frio
E tanta raiva contida no olhar
De ver outros brincar e eu no rio
Com tanta, tanta roupa p’ra lavar

Depois este meu fado, meu sentir
Deu à minh’alma esta esperança
De ver hoje meus filhos a sorrir
E lembrar que fui também criança

O fado voltou

Fernando Gomes dos Santos / José Blanc *fado blanc*
Repertório de Madur 

Um dia o fado afastou-se 
Para longe da minha vida
O que essa ausência me trouxe 
Foi uma alma triste e dorida;
Um dia o fado afastou-se
E eu senti-me perdida

Depois veio uma saudade 
Daquelas que a voz não cala
Então vi que era verdade 
Que sem o fado, ela não tem fala;
Depois veio uma saudade
E eu não podia cantá-la

Agora que ele voltou 
P’ra minha grande alegria
Tornei a ser o que sou 
Mandei embora o que me doía:
Agora que ele voltou
Voltou também a magia

Quem diz que não quer o fado
Só pode ser infeliz
Eu quero-o sempre a meu lado 
E não renego a minha raiz;
Quem diz que não quer o fado
Não sabe aquilo que diz

Mãos frias, coração quente

Augusto Gil / Elvira de Freitas
Repertório de Ada de Castro 

Mãos frias, coração quente
Quanta vez isto dizias
Com o teu ar sorridente
Aquentando-me as mãos frias

Agora decerto tenho 
Num braseiro, num vulcão
O frio é tanto, é tamanho 
Que a pena cai-me da mão

Queria dizer-te o que penso 
E o que faço e premedito
Mas posso lá ser extenso 
Com este frio, frio maldito

Tu perdoas certamente 
Tu não te zangas, pois não?
Mãos frias, coração quente 
Lá diz o velho rifão

Sabemos bem onde estamos

Fernando Gomes dos Santos / Casimiro Ramos *fado 3 bairros*
Repertório de Madur 

Coração que é viajante
Só sabe andar em diante
Finta qualquer ameaça
Mar adentro, terra afora
Vê sempre uma nova aurora
A cada dia que passa

Desde que não vá sozinho
Pouco lhe importa o caminho 
Nunca se julga perdido
Ter com quem o partilhar
É melhor do que chegar 
E do que não ter partido

É por isso que eu te digo
Que esta jornada contigo 
Transcende o tempo e o mundo
Sem saber p’ra onde vamos
Sabemos bem onde estamos 
Vivendo cada segundo

Não há mágoa nem temor
Desarrumando o amor 
Que levamos na bagagem
Que se calem os profetas
Não precisamos de metas 
Só nos interessa a viagem

Percurso de amor

José Pereira da Conceição / Adriano Roiz *fado macau*
Repertório de Nelson Duarte 

Blusa negra cingida
E debruada com folhos
Dessa forma assim vestida
Eras luz para os meus olhos

Saia xadrez preta e branca 
No teu corpo de Sereia
Se abanavas a anca 
Eras mar batendo a areia

Olhar-te assim à distância 
Dos teus verdes quinze anos
Traz-me a suave fragância 
Dos sonhos que ambos sonhamos

É tão bom poder amar 
Dia a dia, vida fora
E sempre poder beijar 
Os teus lábios cor de amora

O tempo que por ti passa 
Não deixa mossa ao passar
E digo por tua graça 
Que és jovem ao meu olhar

Quando estiver de partida 
Vou levar-te nos meus olhos
De blusa negra vestida 
E debruada com folhos

Rua de cima

Tiago Torres da Silva / Valter Rolo
Repertório de Madur 

Moro na rua de cima 
Mas do alto da janela
Sempre que ele se aproxima 
Vejo se ele vem com ela

Vejo e não queria ver 
Vejo o que era p’ra esquecer
Vejo o que era p’ra ser meu
Vejo o que o amor me deu

E sem bom motivo a vida levou                                              
Se é por ele só que vivo                                                         
Já nem sei  sequer quem sou
Vivo sem motivo, sempre a recordar
Que é por ele só que vivo
Já nem sei se tenho lar

Moro na rua de cima 
E não saio da janela
Mas quando ele se aproxima 
Vejo que não me dá trela

Vejo e não queria ver 
Vejo o que era p’ra esquecer
Vejo o que era p’ra ser meu 
Vejo o que o amor me deu

Moro na rua de cima 
E vou fechar a janela
Que ele já não se aproxima 
Mudou-se p'ra casa dela

Sou saudades, sou fadista

Cláudia Madur / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Madur 

Já perdi sonhos na vida
Perdi tantas ilusões
Fui ganhando nova vida
Uma vida de canções

Vivo sempre de alma nua 
Sem saber o meu destino
Que importa se continua 
Dia a dia em desatino

Fui menina, sou mulher 
Sou saudades, sou fadista
E quem irá entender 
A alma de um artista

E embarco nesta hora 
Na mais louca ilusão
De cantar p’la vida fora 
Amor, destino, paixão

Sombras da noite

João Dias / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Manuel de Almeida 

Andei p’la noite, gritando
Coisas que não entendi
Só sei que quando em quando
O teu nome ia turvando
O vinho que não bebi

E em cada sombra que via 
Imaginava o teu corpo
E atrás da sombra corria
Como um cego atrás do dia 
Ou um marujo sem porto

E num barco sem partida 
Embarquei a minha dor
Na maré baixa da vida
Amarado à despedida 
No cais do primeiro amor

E quando o dia nasceu 
Senti o remorso irado
Como a culpa que morreu
O ciúme aconteceu 
E assim nasceu este fado

Voa

Cátia Oliveira / Manuel Graça Pereira
Repertório de Madur 

Quando a alma se entrega
Ao encanto que falta
Sonho que morre na maré alta
Quando o mar se revolta
E o sonho perece
Alma afogada salva-me a prece

Que canto mesmo sem fé
Na dor que a hora me traz
Do sonho que nunca é
Do sonho que nunca se faz

Que canto mesmo sem ver
Nas horas que a dor me traz
A luz de quem tem no peito
A luz que a noite desfaz

Voa voa, andorinha
Sobre as ondas que morrem no chão
Leva leva, andorinha
O manto negro desta solidão

Quero ser feliz depressa

Manuel Carvalho / António Barbeirinho *fado porto*
Repertório de Nicolau Rocha

Vamos parar de fingir
Sinto a vida a fugir
Por entre os dedos da mão
Quero ser feliz depressa
Não há nada que t’impeça
Ò meu pobre coração

Já sentiste emoções
E muitas desilusões 
De sonhos de fantasias
Anda, pára de sofrer
Vamos os dois fazer crer 
Que a vida é só alegrias

Anda viver nosso fado
Esquece lá o passado 
Num copo, numa emoção
Se por saudade ou sequela
Ainda te lembras dela 
Não chores meu coração

Quem foi

Cátia Oliveira / Manuel Graça Pereira e Valter Rolo
Repertório de Madur 

Quem foi, quem foi meu bem
Que disse que o homem merece o que tem
Quem foi, quem foi meu bem
Só diz quem não sabe que tu vezes cem
Não vales metade de mim, ai meu bem

Não vou ser mais o teu gato-sapato
Não vou jogar contigo às escondidas
Mereço muito mais 
Do que as tuas noites perdidas
E eu que nem ligo ao que a gente diz
Que teimo sempre até não poder mais
Fiquei sem argumentos 
P’ra teimar, que ser feliz

Não vou ser mais quem sempre te recebe
Não vou pedir mais a tua atenção
Se tudo o que me dás 
Não passa nunca de’ intenção
Não gastes mais comigo as tuas penas
Não venhas procurar-me por favor
Que eu hei-de olhar-te triste 
E talvez rir do nosso amor