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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.285' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Algemas de vidro

António José / Ferrer Trindade
Repertório de Fernanda Maria

Já não importa que tu me jures mentiras
Que batas a outra porta
Já sei que não me pertences
Não sou cobarde, eu aceito o que quiseres
Mas não escondas a verdade
A mentir não me convences

Disseste um dia, numa data já esquecida
Que nos prendia este amor por toda a vida
Porquê? velhas palavras, quem as disse não sentiu
Eram algemas de vidro que a vida agora partiu

Ganhaste um jeito de ficar sempre à distância
E no teu peito, amar tem pouca importância
Não é segredo, tens-me ensinado
Fazes de mim um brinquedo
De que não gostas e pões de lado;
A todas essas que tu preferes
Prendes algemas de vidro
Que vais quebrando quando quiseres

Bendita a hora

Rosa Lobato Faria / Mário Pacheco
Repertório de Paulo Bragança


Tu… a quem eu minto tantas vezes
E tenho modos descorteses
Se me descuido de te amar;
Tu… que por mais tarde que eu chegue
Que por mais sustos que eu te pregue
Não tens censuras no olhar;
Tu… entendes tudo e nada dizes
E dás-me dias tão felizes
E enches as noites de luar

Bendita a hora em que te vi
E o filho meu, florindo em ti
Bendito seja o fruto do teu ventre
Eu sou ateu, não sei rezar
Mas dou comigo a suplicar
Que Deus me dê o teu amor para sempre


Eu… que desarrumo a casa inteira
Deixo a toalha na banheira
E a roupa suja pelo chão;
Eu… que às vezes sou autoritário
E esqueço o teu aniversário
E até me zango sem razão;
Eu… que sou mordaz e cabeçudo
Encontro sempre um beijo mudo
No teu sorriso brincalhão

Eu… que sou egoísta e desatento
Que às vezes mudo como o vento
E ainda teimo em ser assim;
Eu… quando chego em desespero
Nem sequer gabo o teu tempero
Nem o teu corpo de cetim;
Tu… sem reparar no que eu não faço
Prendes-me todo num abraço
Dizes que é bom gostar de mim

Cantigas de atirar

Desgarrada de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

(Ele)
Minha linda cantadeira
Boquinha de amor perfeito
No meu peito que é lareira
Vem aquecer o teu peito

(Ela)
Falinhas de bem dizer
Meu coração não suporta
Deixa-me em paz, vai bater
Ao ferrolho doutra porta

(Ele)
Nunca bati ao ferrolho
Duma porta, minha amiga
Sem trazer “debaixo de olho”
A mulher que lá se abriga

(Ela)
Com cantigas não me embalas
Nem te dou essa ventura
Para mim as tuas falas
São cheques sem cobertura

(Ele)
Tens a língua bem comprida
Mas a pimenta, meu bem
Não se põe só na comida
Põe-se na língua também

(Ela)
Cantador da minha estima
Tu és como o caracol
Quando o sol lhe bate em cima
Põe os “pauzinhos” ao sol

(Ele)
Minha papoila vermelha
As respostas que me dás
São ferroadas de abelha
P’ra quem é tão bom rapaz

(Ela)
Nossa Senhora te valha
Senhor Deus te dê juízo
Só te falta uma mortalha
Para entrares no paraíso

(Ele)
Hei-de tirar-te os espinhos
Meu figuinho de piteira
Com abraços e beijinhos
Dados de certa maneira

(Ela)
Beijinhos, só de meus pais
Acredita e ouve bem
’Inda sou nova de mais
P’ra ter sogra em vez de mãe

(Ele)
Ser-se novo nada prova
Meu coração lindo e moço
Quando uma azeitona é nova
Até lhe trinco o caroço

(Ela)
Vou fazer contigo as pazes
Porque o ditado nos diz
Quem se mete com rapazes
Deve apertar o nariz

A vida que não te dei

Fernando Peres / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Madalena Ferraz

É quase sombra perdida
A promessa arrependida
Que a tua boca não deu
O meu coração resiste
Na certeza de ser triste
Mais triste porque sofreu

Saudades duma saudade
Saudades doutra verdade
Feita da mesma ilusão
Do fogo que não aquece
Duma verdade que esquece
E morre no coração

Os beijos que não se deram
Braços que não se estenderam
Lágrimas que eu não chorei
Nas horas da tua ausência
Ando a pedir clemência
À vida que te não dei

Boca encarnada

*Joaquina*
Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves
Repertório de Gonçalo Salgueiro

Amarelo é ouro e branca é a prata
Encarnada a boca de quem me mata
Amarelo é ouro e branca é a prata
Encarnada a boca de quem me mata

Ai Joaqulna
Dás um lindo amor perfeito
Cintura fina, e a blusadinha no peito
Ai Joaquina
Levas os olhos no chão
Vê se me encontras
No chão o meu coração

Quem fora negro
Quem fora negro gatinho
E na janela
Na tua janela entrasse
E a ti te desse, e a ti te desse um beijinho
E a tua mãe
E a tua mãe arranhasse

Quando te vejo
Quando te vejo Joaquina
Meu coração, meu coração a saltar
Diz-me que linda
Diz-me que linda pedrinha
Para eu poder
Para eu poder tropeçar

Amarelo é ouro, branca é a platina
Encarnada a boca da minha Joaquina

Vagabundo

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Nessas ruelas bizarras
Onde trinavam guitarras
Conheci há muitos anos
Um boémio, um vagabundo
Que na vida, a correr mundo
Espalhava seus desenganos

Tinha um ar afidalgado
Que naquele rosto enrugado
Se expressava debilmente
Olhar vago de saudade
Contido pela infelicidade
Sempre a sorrir tristemente

Tinha a história bem comprida
Dessa experiência vivida
De quem vive a correr mundo
Passeava a horas mortas
Pelas toscas ruas tortas
Era assim o vagabundo

A boneca

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Pelo Natal fui pedir
A Jesus para me dar
Uma boneca a sorrir
Dessas que sabem falar

Em seguida me deitei
Na cama, entusiasmada
E toda a noite sonhei
Com a boneca engraçada

Toda vestida, a preceito
A seda azul, vinha já
Eu dava-lhe um certo jeito
la dizia «Papá»

Quando com ela a brincar
Minha mãe sorria mais
Eu cheguei a desejar
Um ano com mais Natais

Baila Lisboa

Letra e música de Verónica
Repertório de Ada de Castro

Estou a ver nosso Senhor
Por esta janela aberta
Mais além um rouxinol
Canta a Lisboa liberta

Canto um hino ao amor
E canto um hino à paz
Canto ao meu dia de sol
De chorar não sou capaz

Baila Lisboa
Com o povo que te ama
Teu nome com ele voa
Desde a Sé até Alfama
Deixa Lisboa
Que te adorem dia a dia
Já conheceste a vitória
Dá-nos a tua alegria

Com o Tejo a rebrilhar
Sob um céu de mil estrelas
Segue Lisboa cantando
Melodias das mais belas

Com o pé a saltitar
Vês moçoilas a sorrir
Só a ti estão louvando
Agora não vão partir

Depois da tua ausência

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Só depois da tua ausência
É que fiquei a saber
Que sem ti o meu viver
É feito de negros dias
Sem ti a minha existência
Não tem a menor razão
E as minhas noites são
Acordadas e sombrias

Só quando saíste a porta
É que notei a diferença
E vi que a tua presença
Não pode ser afastada
Vi que nada mais importa
Neste mundo além de ti
E até tu voltares aqui
A vida ficou parada

Tentei ver-me noutro sonho
Tendo alguém no teu lugar
Alguém que me venha dar
Outra razão de viver
Meu olhar ficou tristonho
A olhar a casa nossa
E vi que não há quem possa
O teu lugar preencher

Fado das ruas sem sol

José Régio / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Eliana Castro


Naquela rua, à tardinha
Já quase nada se via
Parece que o sol fugia
Daquela rua mesquinha

Mas tinha prédios imensos
Entrechocando telhados
Tão altos, como suspensos
De lá dos céus afastados

Por isso, logo à tardinha
Parece que o sol fugia
Daquela rua sombria
Onde a vida que se tinha

Nem vivia, e todavia
Mãe vida, que força a tua
Pululava e refervia
Das próprias pedras da rua

E até na meia cantiga
Que por sobre esses telhados
Numa voz de oiro sem liga
Lançava aos céus afastados;
Lançava aos céus afastados
Um sonho de rapariga

Guitarra fiel amiga

Leonel Moura / Alberto Correia *fado solene*
Repertório de Leonel Moura


Num retiro à moda antiga
Onde o fado vem dar brado
Guitarra fiel amiga
Vamos cantar mais um fado

Nas horas de pranto e dor
Quando a voz é mais dolente
Cantamos versos de amor
Que vem do peito da gente

Se aos fadistas dás abrigo
Nas horas de solidão
Passa esta noite comigo
Amiga do coração

E um dia quando eu deixar
As nossas noites de farra
A trinar hás-de chorar
Oh minha velha guitarra

Ah não

Vasco Graça Moura / Carlos Paredes
Repertório de Mísia

Meu amor, meu amor
Foste-me sonho e pão
Foste febre e fervor
Razão e sem razão

E sede e sabor das manhãs de verão
Mas minha prisão, ah não
E em tanto calor nada foi em vão
Mas minha prisão, ah não

Meu amor, meu amor
Não te peço perdão
Não te peço favor
Não te peço aversão

Não te peço dor, nem a contrição
Nem o coração, ah não
Agora ao sol-pôr meus olhos se vão
E não voltarão, ah não

Beijo procura-se

Alberto Aguabrava / Manuel da Graça Pereira
Repertório de Catarina Rocha


Passo o meu dia à procura
De ti, criatura
Do teu beijo
Ao dobrar de cada esquina
Na rua de cima
Não te vejo

Becos, pracetas
Jardins nos quais adormeço
Noite na qual prometemos
Amar-nos até do avesso

Vou andar por onde calhe
Mesmo que me espalhe
No pó do caminho
Eu não quero o meu amor
Só porque eu demore
A ficar sozinho


Já com a cristã quebrada
A língua cansada
E com sono
Vejo surgir duma sombra
Tua boca redonda
Não sei como

Grito bem alto:
Meu bem, por onde é que andaste?
Calma! talvez não te lembres
Fiquei onde tu me beijaste

Mercado da Ribeira

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


É na faina da Ribeira
Que esta Lisboa velhinha
Ali com o Tejo à beira
É a mais bela alfacinha

Entre canastras e chitas
Andam risos aos montões
Entre cantigas bonitas
Andam pragas e pregões

E é tal o encanto seu
Para ver quem grita mais
Gritam gaivotas no céu
Gritam varinas no cais

Entre a folia de cor
Das fragatas em quermesse
Cada riso é uma prece
E cada vela parece
Branco círio de um andor

Abre a tua janela

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Hermínia Silva


Abre a tua janela e vê Lisboa
Tão bela e tão boa, tão bela e tão boa
E vê o Tejo a passar
Levando um adeus ao mar;
Abre a tua janela e vê Lisboa
Mas não à toa, mas não à toa

Abre a tua janela
E vê por ela esta Lisboa
Vê a graça da Graça
E como há raça na Madragoa
Vê as velhas trapeiras
Com sardinheiras na Mouraria
Vê como tudo canta
Canta e encanta da Sé à Guia

Quando vem a noite e o céu estrelado
Ouve-se o fado, ouve-se o fado
E a lua sempre a brilhar
Faz poeta o próprio ar;
E quando está triste esta cidade
É a saudade, é a saudade

Rua sombria

Manuel de Andrade / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Carlos Zel


Tenho saudades da rua
Sombria, tristonha e nua
Onde o nosso amor morou
Pobre dessa rua esguia
Pobre rua, não sabia
Que afinal tudo acabou

Ali juntos ao luar
Corriam sem se notar
Horas e horas seguidas
E só a rua escutava
O rumor que mal escapava
Das nossas frases mentidas

Pobre dessa rua esguia
Não sabia que mentia
Ao falar pelas nossas bocas
Essa rua nos juntou
Triste rua, apadrinhou
As nossas promessas loucas

Cana verde do mar

Popular
Repertório de Amália


Caninha verde, ó minha verde caninha
Ó minha caninha verde, ó minha verde caninha
Anda, não anda, ai minha verde caninha
Salpicadinha d’amores, de amores salpicadinha
Ó cana verde, de amores salpicadinha

Verde no mar, anda à volta do vapor
A cana verde no mar anda à volta do vapor
Anda, não anda, anda à volta do vapor
Ainda está para nascer quem há-de ser meu amor
Ai cana verde, quem há-de ser meu amor

Caninha verde à porta do escondidinho
Ó minha caninha verde, à porta do escondidinho
Anda, não anda, à porta do escondidinho
Uma rola que a viu e não a quis fazer-lhe o ninho
Ó cana verde, não a quis fazer-lhe o ninho

Colher cerejas para andar de cano em cano
Ó cana, ó verde cana, para andar de cano em cano
Anda, não anda, para andar de cano em cano
Eu hei-de ir à tua porta fazer sombra todo ano
Ai cana verde, fazer sombra todo ano

Nem um adeus me disseste

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Ao longe o teu vulto agreste
Para sempre se perdia
Nem um adeus me disseste
Nunca vi mais triste dia

Não foram saudades tuas
Que me fizeram cantar
Foi o silêncio das ruas
Que não posso suportar

Que sina desventurada
Me criou só para a dor
Cada ventura sonhada
É desventura maior

Acerquei-me duma cruz
Meu olhar foi oração
Não reza quem sabe orar
Reza quem tem coração

Ali em Alfama

Carlos Conde / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Raúl Pereira


O Chico Estivador, homem de fama
Por render culto ao fado e à profissão
Mora no bairro típico de Alfama
E trabalha no Cais da Fundição

Namora com a Rosa * a cotovia*
Cachopa de olhar vivo, encantador
Com lugar de hortaliça e peixaria
Mesmo em frente do Chico Estivador

Como a Rosa por vezes também canta
Aos domingos de tarde vão ao fado
E fazem desfiar pela garganta
As rimas dum poeta consagrado

Casam já no domingo, ali na Sé
E p’ra casa do Chico vão morar
Ele tem o trabalho mesmo ao pé
E a Rosa fica em frente do lugar

Boatos

Letra e música de Jorge Cruz
Repertóri0o de Cristina Branco


Dizem por aí desde o dia em que apareci
Que não há um lar seguro na cidade
Muito patuá se ouve no salão de chá
Sobre o que esta sabe e a outra ouviu dizer

É o senhor doutor, é o juiz, é o prior
O que não falta é suspeitos das andanças
Tudo o que é marido pelos vistos, eu persigo
Até me chamam menina das alianças

Mas são boatos, são só boatos
Ninguém sabe quem eu sou
O que eu faço, de onde vim
São boatos, são só boatos
Todos falam 
Mas ninguém conhece os factos
Não passam de boatos


Dizem que conheço 
Camas grandes de mansões
Apesar de ter um pobre apartamento
Na Rua de São Brás, 27 - 5º- trás
Onde o escândalo vem a acontecer

Homens bem casados
Diz que esbanjam ordenados
Em floristas, joias, prendas e jantares
Agem sem alarde, mesmo 
Quando chegam tarde
Têm sempre um álibi para escapar

Qual a verdade? o que é que importa
Se fico só quando chega o amanhecer
Resta-me o pouco que me bate à porta
E se alguém me perguntar
Ainda tenho de dizer

Teorias, fantasias, aparatos
Devaneios, mexericos, desacatos
Todos falam
Mas ninguém conhece os factos
Não passam de boatos

Carnaval

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Pelas horas matutinas
O céu vermelho raiou
E do carnaval ficou
Um montão de serpentinas

Pelos salões, o folguedo
Pouco a pouco se esvaiu
E a noite guardou segredo
Daquilo que consentiu;
Amanhã serão lembrados
Romances de namorados
De rostos que ninguém viu

Naquela alegre tipóia
Corremos de lado a lado
E essa noite de rambóia
Terminou ao som do fado

E corridas as cortinas
Essa tipóia abalou
E do carnaval ficou
Um montão de serpentinas

A voz da poesia

Kátia Guerreiro / Rui Veloso
Repertório de Kátia Guerreiro


Eu dei a minha voz à poesia
E ao fado asas para eu voar
Encontrei no teu amor a alegria
Que me dá esta coragem para cantar

Tens sonho, tens cor e liberdade
Tens tudo o que eu queria p’ra viver
És ternura e conforto, és verdade
Sou mais forte e segura, mais mulher

Veio a vida ensinar-me que o destino
É traçado em cada passo que eu der
E que o fado não é mais do que um caminho
Que os poetas traçam ao escrever


No meu fado sinto todo o nosso amor
P’ra ti canto e solto a minha voz
Sou gaivota, mas contigo sou maior
No poema, somos mais, nós somos nós

Beija-me e foge

Maria de Lourdes Carvalho / Franklim Godinho
Repertório de Dina do Carmo


É vontade de te ver
Fogo da minha ternura
Luz dos meus olhos cansados
É medo de te perder
O pranto desta loucura
Meus sorrisos desmaiados

Sei que já não me pertences
Que vives com outro alguém
Que teu amor me roubou
Teu sorriso não me ofereces
Tua boca, eu sei bem
Meu sabor nela secou

Se sentes algum carinho
Peço-te, por caridade
Traz-me esse tempo já longe
E junto a mim, de mansinho
Num minuto de saudade
Vem amor, beija-me e foge

Santo oleiro

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não deixes que o teu amor
A brincar te quebre a bilha
Qu’isso do Santo a compor
É conversa, minha filha

Tanta vez o pucarinho
Vai à fonte, minha filha
Deixa lá! Santo Antoninho
Dá um jeito e arranja a bilha

Santo António vê se deixas
As cantarinhas em paz
E atende também às queixas
Do pobre oleiro que as faz

Não critiques o acerto
Dos gatos que eu pus na bilha
Viu Santo António o concerto
E disse: que maravilha

Canção de embalar o amor

Tiago Salazari / Vitorino
Repertório de Carlos Leitão


Vem ver onde nasce o deserto
Vem ver onde é a foz do luar
Dunas e estrelas são o tecto
Anjos cintilam no seu lugar

Vem ver onde fica o oceano
Vem ver o canto do nosso mar
Onde és um amor sem engano
És minha canção de embalar

Porque antes de ti nada era
Porque depois de ti tudo foi
Porque a vida é valsa cantada
Porque o amor é o tempo dos dois;
Porque a vida é valsa cantada
Porque o amor é o tempo dos dois

A minha terra é Viana

Pedro Homem de Mello / Alain Oulman
Repertório de Amália Rodrigues


A minha terra é Viana
Sou do monte e sou do mar
Só dou o nome de terra
Onde o da minha chegar;
Ó minha terra vestida
Da cor da folha da rosa
Ó brancos saios de Perre
Vermelhinhos de Areosa

Virei costas à Galiza 
Voltei-me antes para o mar
Santa Marta, saias negras 
Tem vidrilhos de luar

Dancei a Gota em Carreço
O Verde Gaio em Afife
Dancei-o devagarinho
Como a lei manda bailar;
Como a lei manda bailar
Dancei em Vila a Tirana
E dancei em todo o Minho
E quem diz Minho diz Viana

Virei costas à Galiza 
Voltei-me então para o sul
Santa Marta, saias verdes 
Deram-lhe o nome de azul

A minha terra é Viana
São estas ruas estreitas
São os navios que partem
São as pedras que ficam;
É este sol que me abrasa
Este amor que não engana
Estas sombras que me assustam
A minha terra é Viana

Virei costas à Galiza 
Pus-me a remar contra o vento
Santa Marta, saias rubras 
Da cor do meu pensamento

Restos de penas e dores

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Faço aquilo que mais quero
Quero lá saber de mim
Ser da vida é desespero
O que quero não tem fim

As tuas mãos são senhoras
De sonhos, de fantasias
Das saudades criadoras
Que sentes todos os dias

Trazem pedras, trazem flores
Conchas do rio e do mar
Restos de penas e dores
E beleza a transbordar

Ai Lisboa

José Galhardo / Frederico Valério
Repertório de Amália


Eu nasci
Numa cidade que em verso
Escreveu alguém, que foi berço
Dos caminhantes do mar
Eu vivi
Entre pardais e andorinhas
E gaivotas ribeirinhas
Que andam no céu a cantar

Ai Lisboa
Terra bem nobre e leal
És o castelo da proa
Da velha nau Portugal
Ai Lisboa
Cheiram a sal os teus ares
Deus pôs-te as onda aos pés
Porque és, tu a rainha dos mares


Foi ali
Que para brincar com o demónio
Veio até nós Santo António
Que ainda na sé tem solar
E eu abri
Nos varandins dum eirado
Uma voz gritando (?) fado
Nesta canção popular

Acabar não fica mal

José Teles da Silva / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Mercês da Cunha Rego


Acabar não fica mal
Quando gostar, afinal
É uma simples ilusão
Mas a ilusão passou
E apenas ali ficou
Um pouco de compaixão

E a compaixão que nasceu
Foi vida que já morreu
Nos meus olhos muito tristes
E agora tudo mudou
E entre nós tudo acabou
Pois já nem penso que existes

Mas não julgues que eu esqueci
Aquilo que fiz por ti
Quando tudo era ilusão
E hoje já não o fazia
Pois com certeza sabia
Que tu não tens coração

Promessa de liberdade

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


São juras de fé perdida
As asas de dar à vida
Quando a vida entristece
Num destino de viagem
O pranto será coragem
Para o sol que arrefece

Uma jura em cada mão
E um desgosto de traição
Nasceram no meu amor
Senti a vida fugir
E com ela quis partir
Sem saudades e sem dor

Mas de longe pombos brancos
Vieram e foram tantos
A segredar a verdade
Que das juras fiz um beijo
Jura de puro desejo
Promessa de liberdade

Ai quisesses Deus

Cancioneiro tradicional
Repertório de Amália


Não sei, ó amigo de quem padecesse
Mágoas que padeço e que não morresse

Senão eu, coitada
Antes não nascesse
Já que não vos vejo
Como merecia
Ah, quisesse Deus
Que eu vos esquecesse
Amigo, que vi
Em tão triste dia

Não sei, ó amigo ,de outra que penasse
Penas como eu peno e as sepultasse

E que não morresse
Ou desesperasse
Já que não vos vejo
Como merecia!
Ah, quisesse Deus
Que eu vos não lembrasse
Amigo, que vi
Em tão triste dia

Não se, ó amigo de quem tal sentisse
E que assim sentindo, o sol encobrisse

Senão eu, coitada,
A quem Deus maldisse
Já que não vos vejo
Como merecia
Ah, quisesse Deus
Que nunca eu vos visse
Amigo que vi
Em tão triste dia

Flor de rosa

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Neste só teu Alentejo
Sem serras, sem sete fontes
De ceifeira eu te vejo
Flor da Rosa, pedras, montes

Arde o azinho, o sobreiro
A tua imaginação
No fado meu companheiro
Que me canta a solidão

A raposa que fugiu
O vento frio que esqueci
O Natal que a dor não viu
Primeiro que me esqueci

Depois do frio nevoeiro
Que existe em mim e em ti
Seja o que for verdadeiro
Foi contigo que vivi

Amor doentio

Leandro Belo / Francisco J. Marques *fado zé negro*
Repertório de Leandro Belo


Já corri montes e vales
Ruas e becos sem fim
Na esperança de te ver
À espera que tu me fales
Daquilo que sinto em mim
E dar fim ao meu sofrer

Amar é dor permanente
Faz-nos sentir tanto mal
E leva-nos à loucura
Quero sentir como gente
O porquê da razão qual
Andar à tua procura

Após a tua partida
Fiquei só sem guarida
Neste mundo de escolhos
Ausência que sinto agora
Ao olhar a linda aurora
Na lucidez dos meus olhos

Amor que tanto quero
E sinto no meu peito
Será doença ou paixão
É por ti amor que espero
Seja de qualquer jeito
P’ra descansar meu coração

Agora é que vai ser

Catarina Rocha / Manuel Graça Pereira
Repertório de Catarina Rocha


Hoje acordei a pensar
Que volta devia dar
A esta minha vida
Senti que a estrada onde entrei
Era apenas afinal
Uma estrada sem saída

Quero tentar renovar
A forma de pensar
E de ver as situações
Pois meu foco eram problemas
E tornei um dos meus lemas
Procurar as soluções

Agora é que eu vou cantar
E até já decidi ser maís feliz
Agora nem vou mais ligar
Ao que dizem, ao que pensam
E a quem nada me diz


Não vivo mais do passado
Já pus isso de lado
Porque não me faz sorrir
Desta vontade flamejante
Percebi que o importante
É o que ainda está p’ra vir

Vou-me deixar de ilusões
Mudar as atenções
Há muito que fazer
Sei daquilo que consigo
Pois a força está comigo
E agora é que vai ser

Amor traído

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Oiço as queixas dos amigos
Que esperam por emigrar
Oiço as queixas e os castigos
Que este país lhes quis dar

Oiço as queixas dos amigos
Oiço as queixas dum irmão
Vão p’ra longe, eu não consigo
Ter outra terra, outro chão

Tudo o mais é só desejo
De tanto te recordar
Além mundo não te vejo
És somente no pensar

Boa-noite, dou-te um beijo
Penso em ti quando acordar
Oiço sinos, oiço vozes
Que de ti vêm falar

Ai o amor

Letra e música de Hélder Moutinho
Repertório de Cuca Roseta

Ai o amor
Coração na minha alma
Que umas vezes se acalma
Outras perde a razão
Ai o amor
Desespero infinito
Umas vezes maldito
Outras vezes paixão

Ai o amor
Uma praia deserta
E o luar que desperta
Entre sonho e a esperança
Ai o amor
Uma rosa a secar
À janela do olhar
De uma eterna criança

Ai o amor
Se a verdade é incerta
Há uma rua deserta
Ao redor do pecado
Ai do amor
Se o desejo nos mata
A saudade é ingrata
Do mistério do fado

Ai do amor
Lucidez imperfeita
Quando a gente se deita
Ao cair da ternura
Ai o amor
Desespero infinito
Umas vezes maldito
Outras vezes loucura

Um fado a ninguém

Artur Ribeiro / Franklim Godinho
Repertório de Francisco Pedro


Eu canto um fado a ninguém
Ninguém é como quem diz
Um fado p’ra toda a gente
E só eu conheço bem
A razão por que não quis
Cantá-lo p’ra ti somente

Eu canto um fado sem tema
Não fala de mim agora
Nem fala do meu passado
Não vem pôr qualquer dilema
Não fala de nós nem chora
O nosso amor fracassado

Eu canto um fado a ninguém
Para deixar bem vincado
Que tudo chegou ao fim
Para que tu saibas bem
Que não entras no meu fado
E já não moras em mim

Ai, ai, ai, meu irmão

António Nássara / António Almeida
Repertório de Amália

Ai, ai, ai, meu irmão
Ai, ai, ai
A mulher deve casar, meu irmão
Mas o homem não


Quando eu era pequenino
O meu pai me avisou
Meu filho, tu não te cases
Que teu pai não se casou

E agora que já sou grande
Sou da mesma opinião
A mulher deve casar, meu irmão
Mas o homem não

A Maria desmanchou
Seu noivado com Manel
Pois eles vão se casar
Depois da lua-de-mel

Agora que já sou grande
Sou da mesma opinião
A mulher deve casar, meu irmão
Mas o homem não

Oito anos são passados

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Letra do arquivo de Luís Alberto Freitas Hilário, com a indicação de os versos 
se destinarem a ser cantados no dia 20/10/1963, 8.º aniversário de A Severa

Oito anos são passados
Que, no Bairro Alto, abriu
SEVERA, casa de fados
Que deu ao Fado mais brio

Fizeram esta conquista
Cheios de esperança e de fé
O Barros Evangelista
Mais a Maria José

Ela é uma simpatia
Ele, um belo companheiro
E os petiscos da Maria
Conhece-os o mundo inteiro

E por isso, quem vier
A “SEVERA” visitar
Dê lá as voltas que der
Tem que à “SEVERA” voltar

Pois sente doçura infinda
E benfazeja alegria
Nesta casinha tão linda
Do Barros e da Maria

P’ra eles, mil felicidades
Eu rogo a Deus, neste fado
E p’ra vós, prosperidades
E a todos, muito obrigado

Foram tantos os meus passos

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Foram tantos os meus passos
Que o meu corpo, acontecia
Fica assim como a terra
Meia noite, meio dia;
Terra que tive entre os braços
Quando, ao nascer, eu morria

Foram tantos os meus passos
E nem minha Mãe sabia
Foram tantos, tantos, tantos
Que, ao nascer, já eu morria;
Foram tantos os meus passos
Ai, meu Pai, ninguém diria

E aqui estou, feito saudade
Da criança que matei
Rasgando o ventre do amor
Com os beijos que gritei;
Beijando tão sem maldade
Que choro fora da lei

Sodade meu bem, sodade

Tradicional / Arranjo de Zé do Norte
Repertório de Ricardo Ribeiro


Sodade, meu bem, sodade
Sodade do meu amor
Sodade, meu bem, sodade
Sodade do meu amor


Foi-se embora, não disse nada
Nem uma carta deixou
Foi-se embora, não disse nada
Nem uma carta deixou

E os olhos da cobra-verde
Hoje foi que reparei
Se eu reparasse há mais tempo
Não amava quem amei

Quem levou o meu amor
Deve ser o meu amigo
Levou pena, deixou glória
Levou trabalho consigo

E arrenego a quem diz
Que o nosso amor se acabou
Ele agora está mais firme
Do que quando começou

Às vezes parece fado

Artur Ribeiro / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de Hélder Cruz

Às vezes parece fado
Isto que trago comigo
Este sonho inacabado
Restos dum amor antigo
Às vezes parece fado

Os meus anseios dispersos
Só contados a mim mesmo
Às vezes parecem versos
Dum fado cantado a esmo
Os meus anseios dispersos

Este deixar que aconteça
Mesmo que seja o contrário
Muito embora não pareça
É de muitos o fadário
Este deixar que aconteça

Às vezes parece fado
Este nosso desencontro
Este morar a teu lado
Sabendo que não te encontro
Às vezes parece fado

O jeito de te cantar

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Aquela estrela
Sempre na minha frente
O teu olhar
Sempre no meu olhar
O meu fado
Em ti sempre diferente
O meu amor
O jeito de te cantar

Aquele teu xaile branco, nuvem branca
Aquele meu céu azul onde tu passas
Aquele grito que a vida nos arranca
De um triste carnaval e de caraças

Alvorada

Letra e música de Luís Severo
Repertório de Cristina Branco


Meu amor tão transparente
Meu reverso de loucura
Tens o dom de olhar em frente
Para além da desventura

Ancorei na voz que canta
Esse teu olhar profundo
Cada nó desta garganta
Plantou flores pelo mundo

Queria ficar mais um pouco
Mas chegou a alvorada
Quem dera que fosse
para sempre madrugada
E voltarmos a fazer tudo outra vez


Cada marca no meu corpo
Vejo eu que te não pesa
Cada dia é um dia novo
Cada beijo uma reza

Alvorada amor ardente
Soube bem velar-te o sono
Já esquecemos tanta gente
Ainda nem é o Outono

O amor fica diferente
Quando chega a alvorada
Mas já se reaprende
Quando for de madrugada
E voltarmos a fazer tudo outra vez

Alentejo céu do mundo

António Laranjeira / Susana Castro Santos
Repertório de António Laranjeira


Foi neste Alentejo céu do mundo
Que me descobri aberto à vida
Num segundo, apenas num segundo
Acendi em mim a luz perdida

Foi neste Alentejo quente e doce
Que vi a solidão ficar à espera
Neste chão moreno que me trouxe
Voltou a ser de novo primavera

Voltou a ser de novo claridade
Agora que te vejo quando canto
Até meu coração sente saudade
Meu Alentejo em flor, que quero tanto

Vou fazer contigo esta viagem
É para ti que falo quando digo
Minha seara acesa de coragem
Alentejo céu do mundo, meu amigo

Abana

Cancioneiro popular
Repertório de Amália


Abana casaca, abana
Abana sacode o pó
Eu tenho sete casacas
Todas elas de filó

Abana casaca, abana
Abana devagarinho
Eu tenho setes casacas
Todas elas de paninho

Abana casaca, abana
Abana, não tenhas dó
Eu tenho sete casacas
Do tempo da minha avó

Abana casaca, abana
Abana, torna a abanar
Quem tiver casaca abana
Quem a não tem, vai comprar

Abana a casaca, abana
Abana, torna a abanar
Eu tenho sete casacas
Todas elas por talhar

Abana a casaca, abana
Abana, sacode o pó
Eu tenho sete casacas
Dos tempos da minha avó

Gaivota do meu romance

Jorge Rosa / Alfredo Duarte *Marceneiro*
Repertório de Francisco Pedro


Gaivota do meu romance
Asas brancas cor da neve
Olhos verdes cor do mar
Não há braço que te alcance
Nem força que torne breve
O teu constante voar

Esse céu onde desenhas
Iluminuras de sonho
É distante do meu cais
Vivo na esperança que venhas
Mas andas longe e suponho
Que não voltas nunca mais

Gaivota das minhas histórias
Razão dos meus desenganos
Motivo do meu penar
Vivem na minha memória
Teus olhos cor de oceanos
Teu corpo cor do luar

Se um golpe de viração
Alertar os teus sentidos
Fizer eco dos meus ais
Muda a tua direção
Procura rumos perdidos
E vem pousar no meu cais

Até o sol te esquecer

Leandro Belo / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Leandro Belo

Se o sol se põe à tardinha
No doirado do teu rosto
Só para ver o sol posto
Eu daria a vida minha

Teus olhos amendoados
E tão verdes, volta e meia
Tão lindos, ajardinados
Lembram-me a lua cheia

Que importa a cor dos olhos
Se é tão grande o seu fulgor
Neste mundo de escolhos
Não vivo sem o teu amor

Serei eterno prisioneiro
Deste meu grande sofrer
Vivo agora o dia inteiro
Até o sol te esquecer

Escutai os sinos da Sé

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De manhã, ainda o sol
Entre as dobras do lençol
Estremunhado se espreguiça
Já na Sé se ouvem os sinos
Convidando em sons divinos
Os fiéis p’rá santa missa

Escutai os sinos da Sé
Escutai que os ouvis dizer
Alfama é aqui ao pé
Venham ver como é
Bonita a valer

Escutai os sinos da Sé
Que os ouvis dizer decerto
Alfama é um mar de fé
E cada maré
É um céu aberto


À tardinha ao fim do dia
Há sempre uma melodia
Na voz dos sinos também
Cantam preces, marcam horas
Sem ter pressas nem demoras
Tudo em paz, amor e bem

Não creias que me magoas

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Não creias que me magoas
Sem mais nada para dizer
Basta-me o céu de Lisboa
Mais forte que tu mulher

Podes partir e voltar
Para voltar e partir
Basta-me o gosto de mar
Que ficando vou sentir

Não me importam desenganos
Nas tuas mãos sem sentido
Bastam-me as horas os anos
Que ganhei por ter perdido

Basta-me o sol e o vento
Do monte basta-me a terra
Bastam-me no pensamento
Segredos que o teu encerra

Terras dum mar interior

Letra e música de Amélia Muge
Repertório de Ricardo Ribeiro


Eu estou na flor da amendoeira
E vou no vento, aonde ele quiser
E sou o cheiro a erva cidreira
E dou a sombra que o sobreiro tiver

Sinto-me fruto da oliveira
No travo amargo tão bom de trincar
A luz da vela, fagulha da fogueira
Cal na parede que sabe a casa limpar

No regresso a casa sou a Garça
Gaivota em grito aberto frente ao mar
Andorinha com seu negro golpe de asa
Sou da gente de partir e de voltar

Em mim o mel que há na videira
Bebo da taça de velhos faraós
Dou corda ao tempo à minha maneira
Laranja em gomo do sumo dos avós

Quem é que não tem tristezas

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quem é que não tem tristezas
Que me dê um bocadinho
Minha menina princesa
Meu rubro copo de vinho

A vida é esta agonia
Sabemos que vamos morrer
Viver não é alegria
Saudades de não esquecer

Nós passamos, pouco morre
Temos sorte em ficar
Nós somos todos a morte
Bem antes d’ela chegar

Versos tristes do meu fado

Artur Ribeiro / Popular *fado corrido*
Repertório de Manuel Dias

Se vives de mim perdida
Meu amor quero morrer
Viver sem ti não é vida
Que valha a pena viver

Eu não te quero perder
E se teimas em partir
Deixa que eu morra a seguir
Quando deixar de te ver

Temos todos uma cruz
Mas a minha é tão pesada
Que já a deixei cair
No começo da jornada

De braço dado comigo
A dona fatalidade
Anda a cumprir um castigo
Maior que a sua maldade

Fatalidade é desculpa
Dada a tudo o que é ruim
Mas olha amor não tem culpa
Que tu não gostes de mim

Teimo sempre em dar guarida
À dor no meu coração
Pois sem sofrer sinto a vida
Mais vazia e sem razão

Segredos da minha cama
Do meu travesseiro amigo
Que noite fora me chama
P’ra fazer versos comigo

Quando acontecem meus versos
Tenho a sensação estranha
De que só Deus me acompanha
Nos meus anseios dispersos

Temos mesmo é que amar

Leandro Belo / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Leandro Belo


Na linda estrada da vida
Amamos quem nos dá guarida
Se caminhamos à toa
É tão grande a incerteza
Que até sentimos tristeza
Por quem nos atraiçoa

Amigos tive-os aos centos
Não só em meus pensamentos
Que me fizeram tão feliz
Porém ao perder o norte
Até me abandonou a sorte
Porque o destino assim quis

Somos nós que procuramos
Nossos tão lindos ramos
Que nos ajudam a ver
Não vale a pena odiar
Temos mesmo é que amar
Porque o destino é morrer

Adeus ao fado

Guerreiro Bruno / Casal Ribeiro
Repertório de Fernanda Batista


Morreu o faia da tradição
Pobre Severa do Capelão

O fado é fino
Já não anda com a malta
Da viela, ganhando bem
Como a vida assim é bela

O velho fado do Marceneiro
Agora canta só por dinheiro

Adeus ó fado, gingão, castiço
Sofrer misérias, já não vai nisso
Exige o isco, perde a noite nas boîtes
Com uns modos esquisitos
Vejam lá que disparates
Adeus ó fado que estás mudado
Todo moderno e estilizado
Menino bem, com as manias de estrangeiro
Como isto mói, até parece um Tedy Boy


Deu volta ao mundo, muito importante
Falando caro com ar pedante

Até já foi
Todo chique a Hollywood
De avião, igual ao fado
Não há outro, isso não

Mesmo estafado, tem sempre bis
Em todo o lado mete o nariz

Tirai os olhos de mim

Gil Vicente / Alain Oulman
Repertório de Ricardo Ribeiro


Tirai os olhos de mim
Minha vida e meu descanso
Que me estais namorando
Tirai os olhos de mim

Os vossos olhos senhora
Senhora da formosura
Por cada momento da hora
Dão mil anos de tristura

Temo de não ter ventura
Vida, não me estais olhando
Que me estais namorando
Tirai os olhos de mim

Maria da Fé

Artur Ribeiro / Nóbrega e Sousa
Repertório de Artur Ribeiro

Maria da Fé bonita
Se acaso um dia dou fé
Que tens fé noutro qualquer
Por minha fé acredita
Nem que seja à falsa fé
Hás-de ser minha mulher

Maria da Fé
Por quem vais rezar só
zinha à igreja
Maria da Fé
Diz-me por quem é, seja por quem seja
Por que me castigas
E por que me obrigas a  sofrer assim
E se és Maria da Fé
Diz também porquê não tens fé em mim


Se podes de mim gostar
Faz-me a vontade Maria
Casa comigo na Sé
Que eu juro nunca te dar
Motivo para que um dia
Sejas Maria sem fé

Mouraria

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não sou mais nada, senão
A fadista que tu vês
Tenho a voz no coração
Destroçado e português

O meu destino, o meu fado
É feito de quase nada
De tristezas do passado
Duma sina desgraçada

Num soluço na garganta
Numa lágrima no olhar
Há tanta amargura. tanta
Como a água que há no mar

O meu xaile negro cai
Dos meus ombros para os teus
Como a ternura em que vai
Todo o perdão que há nos céus

Mas quando acabo a canção
Mais triste e desenganada
Vem a noite e a solidão
E vou sozinha na estrada

De fado em fado

Artur Ribeiro / Alfredo Duarte *fado mocita dos caracóis*
Repertório de Adelaide Rodrigues


Quando contigo a meu lado
Eu de fado me disfarço
E vestida de pecado
Eu ando de fado em fado
Pendurada no teu braço

De fado em fado lá vamos
Tu vais seguindo o meu canto
E quando menos esperamos (pensamos)
Em qualquer lado encontramos
Uma guitarra em quebranto

Guitarras (guitarra) que vai seguindo
À voltas dos fados meus
E ao vento vai repetindo
Este meu sonho tão lindo
De ficar nos olhos teus

E assim de fado vestida
Contigo de fado em fado
Na minha prece sentida
Rogo a Deus que toda a vida
Me deixe andar a teu lado

Ilusões perdidas

Leandro Belo / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Leandro Belo

Se alguém por ti quiser, gritar lá fora
A pensar que tem esse direito
De saber o porquê de me ir embora
Responde que só a nós diz respeito

Quando eu partir amor, e te perder
Deste mundo cruel e tão ruim
Vê se podes então cravos colher
E leva-os humildemente só para mim

Para quê mostrar, tanta felicidade
Nesta vida ingrata e de escolhos
Quando a triste e mera realidade
Está bem patente em nossos olhos

Ilusões perdidas, em nosso tempo
Apenas e só me fazem lembrar
Este meu triste e forte lamento
De te não poder continuar a amar

Essa mulher que eu amei

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Essa mulher que eu amei
Noutro nome que lhe dei
O amor levou consigo
Disse adeus e foi-se embora
E quando me vê agora
Ri da dor que anda comigo

No meu peito o coração
Fez desenhos de paixão
Viagens de caravela
Andei doido p’la cidade
Esqueci-me da saudade
Fui mais contente com ela

Na lembrança que ficou
D’amargura que deixou
Vou fingindo alegria
Mesmo nos fados que canto
Escondo a dor do desencanto
Sofrido naquele dia

Pedido

Fábia Rebordão / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Fábia Rebordão

Pedi para não te apaixonares
Vivermos bons momentos, por momentos
Pedi para não te deslumbrares
Só é traído quem tem sentimentos

Disse para andarmos lado a lado
Que fosse cada um pelo seu pé
Que fosses meu eterno namorado
Sem juras por um Deus de qualquer fé

Disse-te o segredo do qu’rer bem
De dar e receber sem duvidar
Se existe um modo de prender alguém
É deixar livre quem nos quer amar

Vira-voltas

Francisco Guimarães / Ricardo Ribeiro
Repertório de Ricardo Ribeiro

Oh menina dos meus olhos
Anda cá e dá-me um beijo
Que o meu beijo sai das rosas
Roda a saia que eu não te aleijo;
Oh menina dos meus olhos
Anda ter ao meu regaço
Que os meus olhos ficam cegos
Se não têm o teu abraço


Vens do norte até ao sul
Que te norteia o coração
Não me causes tal desnorte
Que eu sou forte e dou-te a mão

Guardo aqui a calma e vem comigo
É silêncio puro e meu amigo
É um chão maduro, meu centro
O Alentejo é voz que vem de dentro

E o sobreiro erguido em largo azul
Tem no seu corpo a cor que tem o sul
O suão balança no chão
E é branca a cor da solidão

E se o trigo aquece em sol dourado
Será minha a sombra no montado
E no teu canto o cante é fado

Os teus olhos

Artur Ribeiro / Armandinho *fado da adiça* 
Repertório de Adelaide Rodrigues

Os teus olhos são janelas
Onde me vou debruçar
A ver as coisas mais belas
Que possas imaginar

Vejo uma nesga de céus
E tenho sonhos infindos
Quando afundo os olhos meus
Nesses teus olhos tão lindos

Diviso mundos estranhos
Lindas noites de luar
Nuns olhos assim tamanhos
Ninguém se pode fiar

Fazem loucos desacatos
Ao carinho mais fiel
Esses teus olhos gaiatos
Têm a doçura do mel

Quando juntinhos dos meus
Aliam no mesmo olhar
Toda a bondade dos céus
E a falsidade do mar

Diz-me Lisboa

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Cansei-me de procurar
Por essas ruas à toa
Coisas de que ouvi falar
No cenário de Lisboa

Desapareceu das ruelas
O ferro-velho, o ardina
O cheiro a iscas com elas
E o pregão duma varina

Diz-me, Lisboa
Que é feito do velho fado
Da “Garrett” no Chiado
Do “Martinho” no Rossio
Diz-me, Lisboa
P’ra onde foram coitados
Os velhinhos “atrelados”
Mais as fragatas do rio

Diz-me, Lisboa
Por onde anda o Pirolito
A “Gazeta” e o “Mosquito”
E o “Borda” das sementeiras
O graxa a c’roa
E a dez tostões matinais
O “Século” e outros jornais
Com notícias verdadeiras


O carnaval na Avenida
A Feira na Palhavã
O Parque Mayer com vida
Até romper a manhã

A Amália a cantar no Luso
Os brinquedos no Camões
As ruas sem o abuso
De pragas e de pregões

Só contamos nós

Artur Ribeiro / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Eurico Pavia

Que importa que finde o dia
E o sol se esconda no mar
Se os teus olhos de magia
Trazem raios de luar
À minha casa sombria

Que importa que a noite venha
E o sol durma nas alturas
Se a terra do sol desdenha
Pois que se deite às escuras
E eu que teus olhos tenha

Que importa que o mundo esteja
Sedento de primavera
Se enquanto a gente se beija
O frio fica à espera
Por mais inverno que seja

Que importa nuvens no céu
Ou a chuva nos telhados
Sei lá se a noite é de breu
Para dois enamorados
Só contamos tu e eu

Poema para ti

Leandro Belo / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Leandro Belo


Nas ondas do mar errante
Silhuetas fazem lembrar
O teu rosto deslumbrante
Que eu adoro recordar

Quando o oceano se agita
Aumenta a minha ilusão
Sinto-te amor, acredita
Dentro do meu coração

Na penumbra dos meus olhos
Vejo teus lábios sorrir
Navegando em lindos sonhos
Volto então a dormir

E ao acordar lembrando
A felicidade sentida
Mesmo apenas divagando
Amar-te-ei toda a vida

Não me quiseste avisar

Letra e música de Luísa Sobral
Repertório de Fábia Rebordão

Não me quiseste avisar
Quando ias chegar
Entraste sorrateiro
Mas vieste p'ra ficar

Falaste dos planos
Que tinhas para nós
Que de então em diante
Não estaríamos mais sós

E eu bebi as tuas palavras
Sem saber que tinha sede
Abri-te a minha porta
Deitei-te na minha rede;
Fiz planos eternos
Sem nunca me lembrar
Que a vida também faz planos
Planeou-te levar


Não me quiseste avisar
Quando las chegar
Baralhaste a minha vida
E ela ficou no lugar

Sabias-me ao pormenor
Cada traço de cor
Hoje sei que sou metade
A outra morreu de saudade

Não me quiseste avisar 
Quando las partir

Mistério da vida

Leandro Belo / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Leandro Belo


A linda estrada da vida
Tal como outras estradas
Tem subidas e descidas
E muitas encruzilhadas

A vida é como um rio
Que desagua no mar
Para quem viveu sem brio
Não tem forma de voltar

A solidão triste da mente
Permanece dentro de nós
Quando o amor forte e dolente
Nos consome aquando sós

Quando partem os que amamos
Sem aparente razão
É aí que nos lembramos
Que somos um, na multidão

Estarmos, porém, inseridos
Nesta nossa rude lida
É sentirmo-nos perdidos
Neste mistério da vida

Alfama

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quem não acredita que Alfama é bonita
Por não ter a dita de nunca a ter visto
Que venha até cá ver o que bom há
E depois não vá a dizer mal disto

Quem ’inda duvida d’Alfama garrida
Cheiinha de vida pelo São João
Venha cá em Junho vê-la d’arco em punho
Será testemunho da minha razão

Ai Ai Ai
Que linda que Alfama vai
P'ró meu bairro não há pai
Diga o povo o que disser
Ai Ai Ai
Alfama, como vai linda
Quem ’inda a não viu, ainda
Está muito a tempo de a ver


Quem por má memória s'esqueceu da história
E jogou à glória, coisas do passado
Venha revivê-las cá nestas vielas
Pois à sombra delas muito foi contado

Quem não vê que nós somos porta-voz
De heróicos avós que a história nos deu
Venha até Alfama recordar a fama
Que nas naus do Gama mundos percorreu

Tu não tens culpa

Artur Ribeiro / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Adelaide Rodrigues

Tu não tens culpa não como insinua
Quem sabe o que entre nós aconteceu
Muito embora a traição seja só tua
O culpado de tudo fui só eu

Fui eu que te pintei dum modo estranho
Como nunca foste nem serás
Fui eu que ao teu amor dei um tamanho
Que tu nunca lhe deste nem darás

Fui eu que confiei dia após dia
E em ti acreditei tão cegamente
Que não acreditava no que via
Pois te pintei melhor que toda a gente

Quem pinta o que não vê sofre revezes
E arrisca-se ficar só e tristonho
Tu não tens culpa não de que eu às vezes
Pinte as minhas paixões tal como as sonho

Se me deixares

António Botto / Ricardo Ribeiro
Repertório de Ricardo Ribeiro


Se me deixares eu digo
O contrário a toda a gente
E neste mundo de enganos
Fala verdade quem mente

Tu dizes que a minha boca
Já não acorda desejos
Já não aquece outra boca
Já não acorda os teus beijos;
Mas tem cuidado comigo
Não procures ser ausente

Aqui na casa branca
A vida é feita de luz
Quando el Kiko avança
Ele a todos seduz

El Kiko é uma criança
Que a todos vai trazer esperança
Quando el Kiko avança
Ele a todos seduz

Lição

Letra e música de Fábia Rebordão
Repertório da autora


Se a dor não me souber mudar o coração
É porque eu não soube aprender a lição
A ferida cicatriza só a olho nu
Sempre que ameniza a dor, lá chegas tu

Eu não me sei ver sem ti
Eu não me sei ver sem ti


Se sabes que não vais ficar, p'ra quê chegar?
Eu sei que me queres bem e queres de mim cuidar
Não temas avançar, não temas o depois
Sabes que o meu amor chega p'ra nós os dois

Eu não me sei ver sem ti
Eu não me sei ver sem ti

Se o amor não te souber mudar o coração
É porque não soubeste aprender a lição
Tu sabes que uma ferida aberta em vida, dói
Aprende que o amor sem dois, não se constrói

Eu não me sei ver sem ti
Eu não me sei ver sem ti
Eu não sei viver assim

Não rias assim

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não rias, que esse rir só te faz mal,
Desfigurando as linhas do teu rosto.
Pois rir forçadamente, é mau sinal
E mostras esconder algum desgosto.

Porque não dás sonora gargalhada
Que seja verdadeira e não fingida?
Mas tu não és assim, sorris por nada,
P’ra mostrar que és feliz na tua vida.

Tu sorris ao passar à minha porta
E se me vês desvias teu olhar.
E eu, vendo o teu sorriso, não me importa,
Pois sei bem, quem desdenha quer comprar

Um fado ao acaso

Artur Ribeiro / Jorge Fontes
Repertório de António Severino

Eu andava só na rua
Olhos tristes alma nua
O coração magoado
Andava em busca de nada
E na triste madrugada
Fui ouvir cantar o fado

Um fado ao acaso
Numa sala escura
E à chama das velas
Vi o céu de estrelas
Que andava à procura

Um fado ao acaso
Numa voz sentida
Quando nos fitámos
Nunca mais andámos
Sozinhos na vida


Agora tempos passados
Vida fora, enamorados
Pensamos como seria
Se a voz que a tudo deu azo
Não cantasse por acaso
Esse fado nesse dia

Nem sempre acontece fado

Artur Ribeiro / João Maria dos Anjos
Repertório de João Cabral


Nem sempre acontece fado
No cantar estilizado
Que sai de cada garganta
E às vezes nada acontece
Porque quem canta s’esquece
De dar sentido ao que canta

Quem canta nem sempre tem
Razões para amar alguém
E às vezes nunca sofreu
E sem nunca ter sofrido
Como é que vai dar sentido
Ao que o poeta escreveu

Mas se acontece o contrário
E nós temos por fadário
Amar amar sem medida
Então acontece fado
E cada verso cantado
Fica transformado em vida

Eu sei

Letra e música de Pedro Campos
Repertório de Fábia Rebordão


Eu sei que pode ser um novo dia
Que tudo sempre acontecia
Sem forçar, sem sequer pensar se crescia

Eu sei que o tempo já não volta atrás
Eu sei que já não sou capaz
De ficar, de voltar, só para onde tu estás

E dói saber que foram tempos tão reais
E lembrar e sentir que não voltam mais
E dói saber que foi um tempo que passou
Esquecer e sentir que a vida acabou


Eu sei que foi um ponto sem ter volta
Que a nossa vida ficou solta
Vais tentar, vou tentar ter-nos de volta

Eu sei que o tempo já não volta atrás
Eu sei que já não sou capaz
De ficar, de voltar só para onde tu estás

Fado passado

Nuno Júdice / Franklin Godinho
Repertório de Ricardo Ribeiro


Queria dançar contigo
Levar-te à lua mais alta
Esquecer campa e jazigo
Não pensar que fazes falta

Via o fim à nossa volta
Mesas de grupos vencidos
Mas nós os dois em revolta
Falando de heróis traidos

Bebia p’la tua boca
Todo o vinho desta vida
Na noite mais funda e louca
Não te via já tão perdida

Acendias o cigarro
Que eu fumava até ao fim
E tudo a que me agarro
Não voltou a ser assim

Muda o tempo dia a dia
É uma sombra o teu fado
E a tua lembrança fria
Uma pedra no passado

O nosso lugar

Letra e música de Fábia Rebordão
Repertório da autora


Acordei de manhã
Já não estavas comigo aqui
Levantei-me da cama
Espreitei, mas não te vi;
Não dobraste o pijama
Saíste sem avisar
Daqui do nosso lugar

Eu pensei que era fácil
Se entre nós há amor demais
Porque é tão difícil
Concordarmos com coisas banais?
Se por vezes reclamo
Não ligues, eu sou mesmo assim
Assim, mas eu gosto de ti

O relógio da sala
Conta as horas tão devagar
Não levaste a mala
Reparei, estava no lugar;
0 meu peito em soluços
Descansou, não estava a contar
Que tu pudesses voltar

Eram cinco p'rás quatro
Quando a porta então bateu
Tu chegaste mansinho
Encostaste o teu rosto no meu
E disseste baixinho:
Não ligues, eu sou mesmo assim
Assim, mas eu gosto de ti"

Do silêncio saímos

Letra e música de Fernando Tordo
Repertório de Ricardo Ribeiro


Fala-me dos tempos que já foram
Fala-me daqueles que já não estão
Conta-me da pena que nos faz
Que só estejamos nós e outros não

Mas viva a vida esta que ainda temos
O riso, o amor, por dentro e por fora
O futuro que nunca aprendemos
Mas sendo sábios do que é sermos agora

Do silêncio saímos cheios de versos
E com versos fizemos as cantigas
Que nos lembram momentos tão dispersos
Que não há cantigas velhas, só cantigas


Conta-me dos passados recentes
Fala-me dos sonhos, se quiseres
Que eu digo-te das dívidas que temos
Do quanto nós devemos às mulheres

Diz-me das paisagens dos caminhos
Das montanhas dos desertos e das flores
Fala-me de não estarmos sózinhos
Conta-me a verdade dos amores

Meus sonhos proibidos

Artur Ribeiro / Cavalheiro Júnior *fado porto*
Repertório de Maria Valejo


No dia em que dei por ti
O que até então vivi
Varreu-se dos olhos meus
Saiu da minha memória
E agora só tenho história
A partir dos olhos teus

Os sonhos mais proibidos
Foram todos atendidos
Duma maneira tão louca
Dum modo tão absurdo
Que me fez esquecer de tudo
A partir da tua boca

Tudo o que não for contigo
Não tem nada a ver comigo
Nem mora na minha voz
E até nos fados que canto
Tu ficas ali ao canto
Ouvindo falar de nós

Chave da memória

Letra e música de Carminho
Repertório de Ricardo Ribeiro


Se julgas ter a chave da memória
Guardada pra servir a tua vida
Erraste pois lembrar a tua história
Não é escolha que dês por garantida

E mesmo quando falta te fizer
Toda a experiência que a vida te deu
Darás por ti rezando por manter
A bendita memória do que é teu

Há dias em que sentirás saudade
Que tinhas daquele tão distante amor
Só por andares tu livre p’la cidade
E a avenida já estiver toda em flor

Desconcertadamente lembrarás
Passado que te foi perda ou vitória
E sem controlo compreenderás
Que tu não tens a chave da memória

Nunca mais

Letra e música de Agir
Repertório de Fábia Rebordão


Nunca mais, nunca mais
Nunca mais, nunca mais
Provei o teu beijo
Mas ainda o vejo
Quando os olhos fecham
Nunca mais, nunca mais
Direi que é tarde demais
E o vento que sopre
Mesmo que não voltes
Nunca mais


Se eu soubesse,se eu soubesse
Não tinha deixado o peito aberto
Que de tão aberto, acabou fechado
Deixei-te ir embora
Deixei fugir e agora

Quem diria que eu um dia iria mudar
Quem diria, e eu não sabia, que ia acabar
Deixei-te ir embora
Deixei fugir e agora

Vou deixar de dizer que te quero
P'ra nunca mais ter de dizer
Nunca mais, nunca mais
Direi que é tarde demais
P’ra ter o teu beijo
Mas ainda o vejo
Nunca mais

Purinha

Maria do Rosário Pereira / Frederico de Brito *fado azenha*
Repertório de Ricardo Ribeiro


Chegaste e eras tão bonita
Que o meu olhar encantado
Viu na menina a mulher
Foste a imagem bendita
Que acorda um homem cansado
Da vida que já não quer

Se eu soubesse que existias
Bem me teria guardado
Para ser teu e só teu
Mas na lonjura dos dias
Eu tinha dado o meu fado
A quem seu fado me deu

O beijo que me pediste
E que eu te dei, que loucura
Foi o começo e o fim
E de alegre me fiz triste
Por saber que assim tão pura
Não devias ser p'ra mim

Hoje ninguém acredita
Que eu pudesse ter recusado
Ser o teu primeiro amor
Mas, sendo tu tão bonita
Quase parecia pecado
Que não tivesses melhor

Que maneira de gostar

Artur Ribeiro / João do Carmo de Noronha *fado joão*
Repertório de Maria Valejo


Tu dizes sentir por mim
Amor como tu lhe chamas
Se tu amando és assim
O que serás se não amas

Se amando fazes de conta
Que és  meu rei e senhor
Diz-me lá a quanto monta
Esse teu profundo amor

A tua forma de amar
É da minha tão diferente
Que não sei avaliar
Esse teu amor ardente

P’ra te falar com franqueza
Depois das coisas que vi
Até nem tenho a certeza
Se tu gostarás de ti

Por muito que tu apostes
Que sou o teu maior bem
O mais certo é que não gostes
Nem de mim nem de ninguém

Orgulhosos

Letra de Linhares Barbosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Letra publicada no jornal “Guitarra de Portugal” de 29 de Março de 1928


Os “c’roa ou graxa”, coitados
Que nas valetas da Baixa
Vivem a rir e a cantar
Trabalham ajoelhados
Fazendo da suja caixa
O seu verdadeiro altar

Boina rota, posta a jeito
Fato de ganga ou caqui
Em bandos, como uma praga
Alegram meia Lisboa
Ó vossência engraxe aqui
Se não ficar bem não paga

Alguns deles, conheci-os
Vadiavam, desprezados
Eram pequenos ladrões
Deixaram de ser vadios
Não roubam mas são roubados
Pois pagam contribuições

Que viver! Que liberdade!
Alguns são tão pequeninos
E têm tanta esperteza
Que a gente sente vontade
De trazer esses bambinos
P’ra os pôr em cima da mesa

Têm orgulho os gaiatos
No seguinte: é que os janotas
Quando lhes dão a engraxar
Os luxuosos sapatos
E as luxuosas botas
Precisam de se curvar

O Estado fá-los pagar
A cruel contribuição
E o que eles ganham com a graxa
A Lei lá lho vai buscar
Pode não chegar p’ra pão
Mas tem de chegar p’ra a taxa

Os ledos engraxadores
Os pobres industriais
Ladinos e desdenhados
Fazem curvar os senhores
Tenho visto generais
Limpando os pés... mas... curvados

Quem sou na tua vida

Artur Ribeiro / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Maria Valejo


Quem sou eu na tua vida
Diz-me por que ao mundo vim
Diz à minh’alma sentida
Quem sou eu na tua vida
Eu que já nem sei de mim

Quem sou eu nos sonhos teus
Eu que só sonho contigo
Às vezes pergunto a Deus
Quem sou eu nos sonhos teus
Mas Deus não fala comigo

Dorme alguém nos teus sentidos
Ou não dorme lá ninguém
Nos teus sonhos proibidos
Dorme alguém nos teus sentidos
E nos teus braços também

Quem sou afinal de contas
Tenho lugar no teu fado
Se não são perguntas tontas
Quem sou afinal de contas
Quando vou contigo ao lado

E conta quem eu sou

Francisco Guimardes / Angelo Freire
Repertório de Ricardo Ribeiro


Tudo me prende à terra onde me dei
Tudo se acende ao pé donde morei
Mudo me torno em torno donde amei
Mas adormeço e sonho onde chorei

Fui vento e mar que foi e enfim voltou
Um rio que ocorre e corre sem morrer
A flor que emerge e morre por nascer
Como um lugar que a sós, assim ficou

Sobrou o vento e tudo o que ele deixou
Nomes e datas escritas na madeira
E no lugar da minha cabeceira
Há uma criança e conta quem eu sou


E no caminho o aroma se mantém
Resiste a casa, o resto que sustém
Uma janela, um pai e uma mãe
Mas quando acordo e o sono se detém;
Abro uma porta e mesmo sem ver bem
Eu vejo, já não mora lá ninguém

O outro lado da viela

Fábia Rebordão / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Fábia Rebordão


Eu sabia que tu estavas
Na viela, onde me olhavas
Sob a luz dum candeeiro
Sentia no teu olhar
Enfeitiçado ao passar
Que era nosso o fado inteiro

Senti vaidoso o teu ar
Que desdenha e quer comprar
Que qualquer homem assume
Passaste por mim, olhaste
Acenaste e tentaste
O convite do costume

Sem resposta p’ra te dar
No meu rosto de chorar
Mostrei desgosto e descrença
Foste embora amargurado
Que a história de cada fado
Nem sempre é o que se pensa

Ainda tenho tão presente
Como quem olha e que sente
Um amor que ali perdi
A pena que nos desgarra
Como cordas de guitarra
Num fado a falar de ti

Novo horizonte

Carlos Baleia / António Machado
Repertório de Ana Margarida


Novas coisas em Lisboa
Agitam esta cidade
Não há lugar p'rá canoa
Vai de férias a saudade

Começa o riso em Marvila
Vai até aos Olivais
Lisboa está mais reguila
Se tem muito ‘inda quer mais

De braços no ar em onda contente
Não sabe cantar para pouca gente;
Ninguém tem inveja de tanta alegria
E corre a cerveja até vir o dia;
Com outro milénio mesmo a começar
Ela ganha o prémio por saber sonhar


Com o rio mesmo à beira
Com um barco e outra ponte
Ficou agora à maneira
E eu nem sei se vos conte

Ninguém trava esta cidade
E nada a pode parar
Apenas há a saudade
Do que está para chegar

Por cada sonho

Artur Ribeiro / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Vasco Rafael

Por cada sonho desfeito
Cada lágrima caída
Por cada amor sem direito
Nascido dentro do peito
São menos anos de vida

Por cada sonho trazido
Dos sonhos da mocidade
Por cada beijo traído
Por cada amor sem sentido
Cada fado de saudade

Por cada sonho diferente
Que morre feito desgosto
É ness’altura que a gente
Dá conta que o sonho mente
E deixa rugas no rosto

Quando mesmo assim transponho
Essa linha imaginada
Quando ter tudo suponho
No final de cada sonho
Acordo de mãos sem nada

Meu rio, meu pão de trigo

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu rio, meu pão de trigo
Meu fruto, meu vinho novo
Meu gesto, meu verso antigo
Cravo que trago comigo
Maria, mulher do povo

Corpo de sol e sargaço
Areal ao mar doado
Promessa dum novo espaço
Carne dos mundos que traço
Fora das leis do pecado

Meu barco, minha aventura
Meu riso, minha verdade
Céu aberto em noite escura
Meu morrer, minha loucura
Maria, minha cidade

Aos quatro ventos

*Como não acreditas*
Artur Ribeiro/ João Blak*menor do porto*
Repertório de Lenita Gentil
As duas últimas estrofes não foram gravadas


Não acreditas, pois não
Então tomo a liberdade
De dizer toda a verdade
Que me vai no coração

Posso falar da tortura
Que a tua ausência me traz
Pois sei de fonte segura
Que nunca acreditarás

Sendo assim sempre me atrevo
A confessar o que sinto
Pois sei que pensas que minto
E é falso tudo o que escrevo

Se eu cantar aos quatro ventos
Minha canção de saudade
Tu dirás que ouviste centos
De canções com mais verdade

Se eu chorar pedindo a Deus
Que termine este abandono
Vais achar que os olhos meus
Andam vermelhos de sono

Mas se a minha voz amua
E afirma chegar o fim
Gritarás de rua em rua
Mentira gosta de mim

Sinto-me portuguesa

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Eu sinto-me portuguesa
Desde a alma ao coração
A cantar sinto a nobreza
Do povo e da tradição

Foi nas terras mais castiças
Que o fado me deslumbrou
Ao ouvir velhos fadistas
Que o destino nos deixou

Gostei desta descoberta
Das festas, dos arraiais
Onde o Fado nos liberta
A sentir cada vez mais

É pois de enorme prazer
De cantar com esta alma
Que Deus me deu ao nascer
Com tempestade e com calma

Eu trago por companhia
Uma guitarra no peito
Quer de noite, quer de dia
Me faz cantar a meu jeito

Lisboa amargurada

Carlos Baleia / António Redes Cruz
Repertório de Ana Margarida


Com o vento a empurrar
O seu destino de mar
A caravela zarpou
Ia à vela na lonjura
Por estrada de aventura
Quando Lisboa acordou

Num sofrimento profundo
Quis saber se o novo mundo
o seu destino ia mudar
Mas ninguém lhe respondeu
Só a amargura cresceu
E pôs-lhe mágoa no olhar

Ouviu-se um fado dif’rente
Desconhecido da gente
Que sempre vinha à janela
Um cantar que foi marcado
P'lo sabor do mar salgado
E um leve gosto a canela

Alguém falou de conquistas
E de coisas nunca vistas
Que estarão além do mar
Mas Lisboa amargura
Fica de dor destroçada
E o barco tarda em voltar

Passei a ser quem sou

Artur Ribeiro / Fernando Freitas *fado noquinhas*
Repertório de Maria Valejo

O meu sonho deixou de ser uma quimera
Depois de teres chegado por fim à minha beira
Passei a ser quem sou ao esquecer quem era
Passei a ser o fado da tua vida inteira

No teu olhar trazias o sol que me faltava
E vinhas tão diferente que logo que te vi
Eu soube que serias o tal que eu esperava
Este sentir-me gente que começou em ti

Vi que a palavra sonho já tem significado
E vi que o meu fadário é ser como tu dizes
Meu fado era tristonho antes de teres chegado
Agora o meu rosário só tem contas felizes

Ninguém pode censurar

Letra de João de Freitas
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Porque gosto tanto dele
E a causa deste meu querer
Até a Deus perguntei
Penso noite e dia nele
Sem nunca vir a saber
A razão por que o amei

Gosto dele, isso que tem
Ninguém pode censurar
Este amor insatisfeito
Pertence a outras, bem sei
Mas terá sempre lugar
Num cantinho do meu peito

Dizem que foi desordeiro
Que frequentou as vielas
E a desgraça conheceu
Mas é um bom companheiro
Meu e de todas aquelas
Que o adoram como eu

O nome do meu amado
Vou dizer-vos, mas imploro
De todos vós o perdão
É o nosso lindo fado
O fado que eu canto e choro
E vive em meu coração

Os fados que me acontecem

Artur Ribeiro / Edgar Nogueira
Repertório de Jorge Martinho


Os fados que me acontecem
Nestes meus lábios incertos
Nascem de mim tão libertos
Que às vezes nem meus parecem

Aqueles que me conhecem
Mas não sabem donde vim
Julgam que falam de mim
Os fados que me acontecem

Muitas vezes lembram certos
Fados que já foram teus
Por isso parecem meus
Nestes meus lábios incertos

Parecem gumes abertos
Aos meus anseios dispersos
Talvez por isso meus versos
Nascem de mim tão libertos

Fados que de mim se esquecem
Desde quando te perdi
E tanto falam de ti
Que às vezes nem meus parecem

Riso impreciso

Jorge Rosa / João Noronha *fado pechincha*
Repertório de Alice Maya


Não façam fé no meu riso
Se me ouvirem gargalhar
Só eu sei quanto preciso
Sorrir p’ra não soluçar

Rir pouco é muito cuidado
Rir muito é pouco juízo
O meu não é controlado
Não façam fé no meu riso

Todos me dizem feliz
Por ser feliz o meu ar
Duvidem do que se diz
Se me ouvirem gargalhar

Quem esteja atento repara
E há-de notá-lo impreciso
Sorriso que a dor mascara
Só eu sei quanto preciso

Quando o amor é fracasso
Que não se quer demonstrar
Faz-se apenas o que eu faço
Sorrir p’ra não soluçar

Nem Deus, nem rei, nem cometa

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não olhes para mim, criança
Que não te posso dar nada
Tive um bocado de esperança
Mas, como tudo o que cansa
Foi-se embora já cansada

Não te zangues, por favor
Nem finjas que vais chorar
Não tens que entender a dor
Fogo em brasa deste amor
Que quero e não posso dar

Não sou nada, podes crer
Nem Deus, nem Rei, nem cometa
Só sei que te vi nascer
E que amanhã vou morrer
A imaginar-me poeta