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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Em busca do meu choro

Pedro Fernandes Martins *Fado Rosa Maria*
Repertório o autor

Andei aqui sozinho à beira-mar
Em busca do meu choro nestas águas
Deixei tudo pra trás pra encontrar
O sal que se soltou das minhas mágoas

Cansado dos meus olhos de tristeza
Perdido de viver tão triste assim
Meu choro fez-se ao mar com tal certeza
que achei que ele não queria ser de mim

Na noite, enfim, choveu a bem chover
Torrente de revolta, sabe Deus,
E dei por mim, então, a querer beber
A chuva que molhava os lábios meus

Senti o gosto triste do meu pranto
Mas nem sinal do sal que nele havia
Achei na chuva o choro que quis tanto
E quero, pois, chorar, mas de alegria

Zé soldado, soldadinho

Guilherme José de Melo / Fontes Rocha
Repertório de Amália Rodrigues

Cai largado nevoeiro, boa sorte
Ai ligeiro mar salgado, espumeirinho
Deus teu norte, teu roteiro, teu caminho
Zé soldado, Zé soldado, soldadinho

Longe, longe, na lonjura
Alva casa, sol brancura
Longe, longe, bater d’asa
Desenhado de mansinho;
Longe, longe, Zé soldado
Zé soldado, soldadinho

Arma ao peito, chuva e lama, sentinela
Quem te chama, corpo afeito, negro pinho
Luz da vela, Deus louvado, vem Zézinho
Zé soldado, Zé soldado, soldadinho

Ai um dia voltarás
Sol doirado, romaria
Festa e vinho, Deus, teu norte
Teu roteiro, teu caminho;
Menineiro, Zé soldado
Zé soldado, soldadinho

Falando de amor

Domingos Gonçalves da Costa / Popular *fado mouraria*
Repertório de Alice Maria

No amor, eu não m’iludo
Lembra-me a flor delicada
Nasce por nada e por tudo
Morre por tudo e por nada

Nasce às vezes dum queixume 
Da simples troca do olhar
O amor, estranho raiar 
Da quimera e do ciúme

Põe nas almas, gelo ou lume 
Paz ou sina malfadada
Mel que uma abelha doirada 
Põe nos lábios de veludo
No amor, eu não m’iludo
Lembra-me a flor delicada

Não sei quem teve a ventura 
De o fazer cruel assim
Se foi Deus, fez, quanto a mim 
A mais sublime tortura

Amor é sonho é loucura 
É luz de meiga alvorada
A flor imaculada 
Que exposta ao destino mudo
Nasce por nada e por tudo
Morre por tudo e por nada

Corpo entorpecido

Letra e música de Pedro F. Martins *Alexandrino da Figueira*
Repertório do autor

Um céu sem fim cinzento, um corpo entorpecido
Ramo despido ao vento em busca de sentido
Um copo meio-cheio, vazio p'la metade
Um corpo sem esteio, sofrendo de saudade

Um céu que vai girando em nuvens cinza-frio
Um vale que vai chegando ao fundo do seu rio
De vez em quando espreita, por entre a tarde parda
Uma estrela desfeita que insiste em estar de guarda

Folhas mortas e cruas, rasgadas no jardim
São só saudades tuas que não saem de mim
Do corpo entorpecido que se deixa ficar
Em busca de sentido, verdade, sorte e azar

De braço dado com a vida

Carlos Heitor Fonseca / Armando Machado *fado mortalhas*
Repertório de Conceição Ribeiro

Cantar fado é um encanto
Um dom que Deus me deu
Momentos de amor e pranto
São alguns fados que canto
De um mundo que é o meu

Não tenho medo do escuro 
Da incerteza, da imensidão
Do meu passado mais duro 
Aprendi, para o futuro
Seguir a minha razão

Afastei as más memórias 
A que estive condenada
E longe dessas escórias 
Vivo novas histórias
Numa vida renovada

Caminho rumo à vida 
E à essência do meu ser
Com atitude garrida 
Somente estou decidida
Em ser feliz e viver

Mouraria, Mouraria

Armando da Costa Santos / Júlio Proença
Repertório de Miguel Xavier

Mouraria, Mouraria
Onde está o teu passado
Quando de noite e de dia
Se ouvia, cantar o fado

Mouraria, Mouraria
Onde está a tradição
Que em sonhos de amor trazia
Mesmo até a fidalguia
À rua do Capelão

Velhas guitarras
Trinando, vibrando
À luz duma candeia
Velhos fadistas 
Chorando, cantando
O fado, à lua cheia
Suas janelas 
Modestas, singelas
Tão cheias de alegria
Hoje tristezas e fado 
Só nos falam de saudade
Onde estás tu Mouraria?

Já não há pelas vielas
Fadistas e cantadeiras
E florindo p’las janelas
Tão belas, as sardinheiras

É raro ouvir uma prece
À Senhora da Saúde
Ó meu Deus, até parece
Que a Mouraria se esquece
De ter fé e ter virtude

Meu amor

Florbela Espanca / Samuel Lopes
Repertório de Cristina de Sousa

De ti somente um nome sei, amor
É pouco, é muito pouco e é bastante
Para que esta paixão doida e constante
Dia após dia cresça com vigor

Como de um sonho vago e sem fervor
Nasce assim uma paixão tão inquietante
Meu doido coração triste e amante
Como tu buscas o ideal na dor

Isto era só quimera, fantasia
Mágoa de sonho que se esvai num dia
Perfume leve dum rosal do céu

Paixão ardente, louca isto é agora
Vulcão que vai crescendo hora por hora
Ó meu amor, que imenso amor o meu

A Mariquinhas velhinha

Letra e música Pedro Fernandes Martins *Fado Marcelino*
Repertório do autor

A Mariquinhas velhinha
Vai pedindo por sustento
Mendigando, coitadinha
Sem ter casa e testamento


Ninguém sabe onde ela mora 
Diz-se que dorme no chão
Em cima de um papelão 
Até ao romper da aurora
Anda pela rua fora 
Repetindo a ladainha
Ajudem a pobrezinha 
Que já tem pouca saúde
E há sempre quem ajude
A Mariquinhas velhinha

Tem sempre a mesma rotina 
De não ter nada a perder
De só desejar morrer 
Por viver tão triste sina
Como já não é menina 
Poucos lhe dão alimento
E por dormir ao relento 
Não lhe resta quase nada
Vai vivendo desgraçada
Vai pedindo por sustento

A quem passa estica a mão 
Pede à porta do mercado
E quando este está fechado 
Vai prá porta da estação
Com as esmolas compra pão 
Mais uma sopa quentinha
E quando cai a noitinha 
Deita-se no papelão
Vive nessa condição
Mendigando, coitadinha

Pouco resta do passado 
Ficou, talvez, a saudade
Que não traz felicidade 
Porque tudo está mudado
Pobre mulher, mas que fado 
Anda à mercê do tormento
Ao sol, à chuva, ao vento 
Vive com essa má sorte
À espera da sua morte
Sem ter casa e testamento

Choro

Ermelinda Xavier / Custódio Castelo
Repertório de Cristina Branco

Ai barco que me levasse
A um rio que me engolisse
Donde eu não mais regressasse
P’ra que mais ninguém me visse

Ai barco que me levasse
Sem velas, remos, nem leme
P’ra dentro de todo o ouvido
Onde não se ama nem teme

Ai onde que me levasse
Bem dentro de um vendaval
Barco berço, barco esquife
Onde tudo fosse igual

Ai barco que me levasse
Aos tesouros conquistados
Por entre esquinas de perigos
Dos mil caminhos trilhados

Ai barco que me levasse
Toda estendida em seu fundo
Nesga de céu a bastar-me
Toda a saudade do mundo

Quadras soltas com versículo

Pedro Fernandes Martins *Fado Rosarinho*
Repertório do autor

Esta vida são dois dias / sem fulgor
Dia sim e dia não / simplesmente
Dizer sim ao coração / com ardor
Não nos traz sempre alegrias / certamente

O silêncio é quase tudo / é dourado
É a voz que não se cala / sem gritar
Mesmo sendo sempre mudo / tão calado
É quem mais me escuta e fala / sem falar

Tanto rio vai ser mar / de imensidão
Quando ao mar se for render / despojado
Tanta estrada por pisar / tanto chão
Tanto tempo por viver / triste fado

No mar alto desta vida / fugidia
Há dois ventos por jornada / frente a frente
A amargura da partida / que agonia
E o desejo da chegada / tão ardente

O amor é coisa incerta / apressada
Mas que nos pode acertar / e seduzir
É a porta sempre aberta / escancarada
Que o destino há-de fechar / ou reabrir

Flor de romaria

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha

Quando vais à romaria, Maria
Vais tão linda e delicada
Que quem olha para ti, sorri
Ao ver-te tão engraçada

No teu vestido comprido, garrido
Tens uma rosa viçosa
Mas teu encanto e frescura
Não te enfeita a formusura
Tu é que enfeitas a rosa

Maria… 
Na tua aldeia encantada
Teus olhos andam na berra
São duas fogueiras vivas
Maria… 
És a flor mais perfumada
Nascida na mesma terra
Que dia a da cultivas

Ao chegares à romaria, Maria
São tantos, tantos olhares
Os olhos que te estremecem, parecem
Abrir alas p’ra dançares

E enquanto tu vais dançando
Mostrando o teu saiote de folhos
Os meus olhos, coitadinhos
Andam a dançar sozinhos
À procura dos teus olhos

Sete rosas

José Luís Gordo / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Andreia Alferes

O meu amor diz que tem
Sete rosas p’ra me dar
Mas nunca disse a ninguém
Aonde as foi apanhar

Foi ao jardim da saudade 
Tem sete fontes de prata
Foi lá matar a saudade 
E a saudade não se mata

Tem olhos da cor do vento 
Sorrisos da cor do mar
Tem na boca o movimento 
De quem ‘stá sempre a sonhar

Traz nas mãos tanta ternura 
E carinhos p’ra me dar
Sete rosas de saudade 
Que teimam sempre em ficar

Lá está ela

Mário Rainho / Paulo Jorge de Freitas
Repertório de Marina Mota

Lá está ela olhando rio 
Lá está ela olhando o mar
A ver partir um navio 
Com saudades de voltar

Lá está ela olhando rio 
Lá está ela olhando o mar
Só não chora quem não viu 
Os seus olhos a chorar

Lisboa 
Chora sempre ao fim da tarde
Num soluço sem alarde
Ao fim dum dia cansado
Lisboa 
Quando anoitece, em saudade
Chora outro tempo, outra idade
Nos versos de qualquer fado

Lisboa
Tem olhos cheios de mar
Quando os põe a navegar
No mar dum sonho profundo
Lisboa 
Chora sempre que é preciso
Mas também tem o sorriso
Mais bonito deste mundo

Lá está ela olhando o rio 
Como um barco sem ter rota
O mar é um desafio 
Prós seus olhos de gaivota

Lá está ela olhando o rio 
Lá está ela olhando o mar
Tanto sonho fugidio 
Tem Lisboa num olhar

Eu já não sei de nada

Letra e música de Pedro Fernandes Martins (Alexandrino de Buarcos)
Repertório do autor

Eu já não sei de ti, perdi-te sem querer
Nas ruas sem saída que a noite me mostrou
Eu já não sei de ti, nem sei se vou saber
Eu já não sei da vida, eu já não sei quem sou

Eu já não sei de mim, perdi-me não sei quando
Talvez naquele dia em que quis encontrar-me
Eu já não sei de mim e assim cá vou andando
Distante da alegria e sem saber amar-me

Eu já não sei de nós e nem sei se sofri
Não sei quando é o fim, nem se tem fim a estrada
Eu já não sei de nós, eu já não sei de ti
Eu já não sei de mim, eu já não sei de nada

Quero ouvir o teu cantar

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *fado Mondego*
Repertório do autor

Hoje vais comigo aos fados
Quero ouvir o teu cantar
Quero ouvir-te a estilar
Com pianos e roubados

Pinta os lábios dessa cor 
Rubra, viva, como gostas
Põe o xaile pelas costas 
P'ra cantares mais a rigor

Então canta só pra mim 
Como quem atira um beijo
Como quem sente o desejo
Dum amor que não tem fim

Canta até que o fado peça 
Que não quer ser mais cantado
Mas o fado, quando é fado 
De calar-se não tem pressa

Vida

António Laranjeira / Armindo Fernandes
Repertório de Andreia Alferes

Acordei... a alma estava tão fria
Todo o meu corpo cedia
Morrendo com a manhã
E pensei... que de mim já nada havia
E apenas sei que sentia
Um doce travo a romã

Acordei... e tudo em mim era noite
Como se fosse um açoite
Estalado a dor da tristeza
Sim, chorei... e perdida ali fiquei
Sobre mim rodopiei
Desfalecida na mesa

E senti... que queria nascer de novo
Que fosse a manhã do povo
A levantar-me outra vez
Então vi... como se fosse o primeiro
Do dia mais derradeiro
Que a minha noite não fez

Talvez fosse

Letra e música de Pedro Fernandes Martins
Repertório do autor

Se eu soubesse quantas estrelas do céu
Vieram dizer-me adeus
Nessa hora em que parti
E tivesse o sabor de um beijo teu
Agarrado aos lábios meus
A lembrar-me o que vivi

Talvez fosse menos errante na vida
Talvez fosse mais ligeiro meu caminho
Talvez fosse menos triste a despedida
Menos triste estar sozinho... talvez fosse

Se eu chorasse como chora o céu cinzento
Nas noites mais revoltosas
Que fazem tremer o chão
E deixasse o meu mal morrer com o vento
Como morrem sempre as rosas
Quando é grande a solidão

Clandestinos do amor

Letra e música de António Pedro Vasconcelos
Tema do filme *Os gatos não têm vertigens*
Intérprete: Ana Moura 

Vivemos sempre sem pedir licença
Cantávamos cantigas proibidas
Vencemos os apelos da descrença
Que não deixaram mágoas nem feridas

Clandestinos do amor, sábios e loucos
Vivemos de promessas ao luar
Das noites que souberam sempre a pouco
Sem saber o que havia p’ra jantar

Mas enquanto olhares p’ra mim eu sou eterna
Estou viva enquanto ouvir a tua voz
Contigo não há frio nem inverno
E a música que ouvimos vem de nós

Vivemos sem saber o que era o perigo
De beijos e de cravos encarnados
Do calor do vinho e dos amigos
Daquilo que p’rós outros é pecado

Tu sabias que eu vinha ter contigo
Pegaste-me na mão para dançar
Como se acordasse um sonho antigo
Nem a morte nos pode separar

Nós somos um instante no infinito
O fragmento à deriva no universo
O que somos não é para ser dito
O que sente não cabe num só verso

Um bom lugar

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Fado dominó*
Repertório do autor

Lá longe vivo sozinho
E nem sei qual o caminho
Que venci pra lá chegar
Lá onde o tempo não passa
E a saudade nos abraça
E não mais nos quer largar

Lá onde o tempo se perde 
Entre tanto e tanto verde
De um fresco e grande jardim
Lá longe nesse recanto 
Onde não há dor nem pranto
Quero ter-te junto a mim

Lá não há sede nem fome 
A morte não nos consome
Vive o sol, o céu e o mar
Lá longe não sei bem onde 
Onde o nosso amor se esconde
Lá longe é um bom lugar

Perfil da tua imagem

António Campos / Jorge Barradas
Repertório de António Campos

Não é céu o céu que vejo
Não é azul, não é cor
É apenas o infinito
Onde se perde o meu grito
Este meu grito de dor

Não é mar o mar que vejo
Não é verde, não tem fundo
É ilusão, é miragem
É o perfil da tua imagem
Onde se afoga o meu mundo

Só acredito na desventura que me deixaste
Neste meu grito, nesta amargura que não levaste
Na noite fria, no vento errante da tempestade
Na nostalgia, na dor constante desta saudade

Fado do cavaleiro tauromáquico

Lourenço Rodrigues / Jaime Mendes
Repertório de Hermínia Silva

Era um cavalo de raça, que na praça
Olha um toiro com nobreza
É da plebe e fidalguia, a alegria
Cá da gente portuguesa

Também a mulher 
Que amamos e juramos
Conquistar a mal ou bem
Quanto mais difícil for 
Nas seduções do amor
Para nós, mais valor tem

Eu de cavalos e mulheres
Gosto como ninguém
São dois prazeres p'ra mim 
Dos mais difíceis de igualar
É que um cavalo
Pode um homem dominá-lo bem
Mas a mulher 
Ninguém consegue dominar

A trotar que é um regalo, o cavalo
Galga prados e colinas
E lá ao longe 
As montanhas, são tamanhas
Mas parecem pequeninas

Também a mulher 
Parece, que engrandece
À sombra duma afeição
Quando o amor é profundo
Possuí-la é ter o mundo
Fechado dentro da mão

Não falamos de amor

António Campos / João Vasconcelos
Repertorio de Terezinha Alves

Amigos
Amigos e nada mais
Não te digo aonde vou
Nem me dizes onde vais
Nada de beijos
Nada que nos dê calor
Falamos disto e daquilo
Só não falamos de amor

O tempo, apesar do tempo
Não aprendeu a voltar
Mas podia, pelo menos
Ter aprendido a parar
Mas o tempo foi andando
Andando cada vez mais
Tornando os meus dias longos
E todos, todos iguais

Ai quem me dera 
Voltar àquilo que fomos
Unidos de corpo e alma
Não ser só isto que somos
Só conversamos 
Coisas banais sem valor
Quem me dera, quem me dera
Podermos falar de amor

Morrendo em saudade

António Campos / Jorge Canede
Repertório de Luísa Salgado

Já não há manhãs de sol 
Nem noites enluaradas
Já não canta o rouxinol 
Anunciando alvoradas

A ponte já não murmura 
O rio secou o leito
Só ficou esta amargura 
No vazio do meu peito

Partiste…
Meus olhos choram sem pranto
A vida perdeu o encanto
Nem o sol tem mais calor
Partiste…
É tao amarga a verdade
Eu vou morrendo em saudade;
Quando voltas meu amor?

Já no outono da vida 
Em noites de tempestade
Sou uma folha caída 
Levada pela saudade

Não há mais nada de meu 
Nem lágrimas p’ra chorar
Não há estrelas no céu 
Nem há beleza no mar

Daqui houve nome, Portugal

*Recado ao Porto*
Letra e musica de José Mário Branco
Repertório de Rodrigo 
Este tema foi também gravado com o título *Recado ao Porto*


Nas margens 
Deste rio atormentado
É que está dependurado
O nome do meu país
Mistura 
Entre a fuga e a procura
Entre o medo e a loucura
Que estão na minha raiz

Meu Porto 
Muito mais vivo que morto
Tu recusas o conforto
De quem está morto de vez
Por isso 
Eu te canto este fado
Porque vivo atormentado
Como o rio que te fez

Daqui houve nome, Portugal
Aqui está tudo bem e tudo mal
Meu Porto
És o carinho que me tenho
És a ponte donde venho
Entre o mar e o quintal;
Daqui, eu fui embora sem vontade
Aqui eu renasci prá liberdade
Meu Porto
Deixa andar, nunca fiando
Que me dás de contrabando
A alegria e a saudade


Criança
Ris e choras de seguida
Mesmo quando a tua vida
É o assunto da anedota
Sentir
É o teu modo de existir
E és capaz de mentir
Só p’ra não fazer batota

Meu Porto
Revoltado e penitente
Invicto p’ra tanta gente
Só por ti és derrotado
Nas margens 
Do rio que te desflora
Há um vulcão que demora
E dorme sempre acordado

Último recado

Manuela de Freitas / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Camané

No dia em que me deixaste
Nada quis do que te dei
Tudo o que eu tinha levaste
Nem co’a saudade fiquei

Se foi tão fácil esquecer-te 
E ao pouco bem que me déste
Só me resta agradecer-te 
Todo o mal que me fizeste

Aqui vai este recado 
Gratidão a que me obrigas
Por tudo, muito obrigado 
Por nada, espero que digas

Não penso que ele te fira 
Nem qualquer bem te fará
De nada, nada se tira 
A nada, nada se dá

Mas fico mais descansado 
Sem nenhum mal-entendido
Já que fui mal empregado 
Não sou mal agradecido

E serve p’ra confessar 
Quanto fiquei a dever-te
Por nunca poder pagar 
O que ganhei em perder-te
Nunca poderei pagar
O que ganhei em perder-te

Vida triste

J.Saluerhoff / Pedro Rodrigues C/arranjos de Custódio Castelo
Repertório de Cristina Branco

Condenado a viver triste
É sina de quem muito ama
Nunca meu coração resiste
Ao amor que a dor inflama

Mais uma vez, torturado coração
Buscou abrigo no teu peito, inutilmente
Não há quem lhe console a sede ardente
Nem se farte da paixão

E sempre, p’ra qualquer acto
Há que pagar com sofrimento
Até que a doçura do último tacto
Acabe por morrer num lamento

Por mais que os corpos se enlacem
Um dia só fica a solidão
Haverá porventura alguém
Que mate o fogo de uma paixão

Eu sei que amar é pecado
Por isso a mim o céu castigou
Fiquei p’ra vida amarrado
A quem sempre me enganou