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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Nostalgia

Letra de João de Freitas
Repertório de Alberto Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Letra publicada no jornal Canção do Sul em Dezembro de 1938 
com dedicatória ao grande amigo e distinto poeta Norberto Ferreira.

Partira para bem longe um infeliz
Em busca da fortuna tentadora
Julgando ir encontrar noutro país
Alívio para a vida enganadora

Depois lá nessa terra de ilusão
Trabalhou noite e dia com vontade
Porém com a nostalgia, esta canção
Entoava num sonho de saudade

Ó minha Pátria saudosa 
Cheia de sol, tão formosa
Ai quem me dera voltar
Para acabar meu sofrer 
E não me cansar de ver
Tuas noites de luar
Tens um céu que nos encanta 
Que possui magia tanta
De radiante beleza
Meu torrão abençoado 
De saudade e meigo fado
Linda terra portuguesa


O tempo foi passando e o emigrante
Já velho e alquebrado sente a dor
E a Pátria não esqueceu um só instante
Falando sempre dela com amor

E quando algum paquete vê partir
Acompanhando-o sempre com o olhar
Não esconde a sua mágoa, o seu carpir
Murmurando, baixinho a soluçar

Acordar para a vida

Letra de Isidoro de Oliveira
Para o repertório de Helena Favila
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Vivia dias risonhos
E à noite nos meus sonhos
Via promessas e esperanças
E vivia descuidada
Rindo de tudo e de nada
Até que cortei as tranças

Comecei nos bailaricos
Nos alegres namoricos 
Que se têm nessa idade
Era um segredo encantado
Que tinha cheiro a pecado 
Mas ainda sem maldade

Sem maldade e divertida
Seguia à toa na vida 
Até que te conheci
Não sei o que aconteceu
Tudo passou e esqueceu 
Eu pensava só em ti

Dizendo sempre que não
Resistia à tentação 
Que vinha do teu calor
Mas acabei por ceder
E passei a ser mulher 
Por força do teu amor

Todo o meu sonho acabou
E a vida despertou 
Sem disfarce nem abrigo
A vida é p’ra ser vivida
Eu quero viver a vida 
E quero vivê-la contigo

Amor com amor se paga

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Disseram-me hoje por graça
Que não passavas aqui
Ao ouvir essa ameaça
Nem calculas como eu ri;
Aqui toda a gente passa
E até eu passo sem ti

Já me rogaste uma praga 
Faz lá o que te aprouver
Vieste abrir uma chaga 
E não quiseste saber;
Amor com amor se paga
E eu nunca fico a dever

No mundo não há desejo 
Que mais fale ao coração
Que ser roubado num beijo 
E ter fama de ladrão;
Se o beijo não for sobejo
D’outros beijos que lhe dão

Fiz-te ciúmes, não nego 
P’ra me rir do teu desdém
Já nem à mágoa me entrego 
Pois acho que faço bem;
É porque o ciúme é cego
E não respeita ninguém

Não sei que dizem teus olhos

João Ferreira Rosa / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Luísa Mira (ao vivo)


Não sei que dizem teus olhos
Quando olham para os meus
Não sei se dizem que chegam
Não sei se dizem adeus

Eu nunca sei o que dizes 
Pois nunca me queres dizer
Que as horas só são felizes 
Quando nos estamos a ver

E se um dia tu partires 
Não quero ver mais ninguém
E se ao longe tu me vires 
Eu hei-de ver-te também

Nunca me deixes de olhar 
Meu amor, faz por me ver
És a luz deste cantar 
Que dá força ao meu viver

Caminho sombrio

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O meu caminho sombrio
É o rasto negro e frio
De saudade e ilusão
Tecido em magras pegadas
Ondulantes, compassadas
Pelo bater do coração

A poeira levantada
Baixa triste e desolada 
Traçada em faixas de luz
Como cinzas que arrefecem
Aruras que juntas tecem 
A sina que me conduz

Seguirei a passo e passo
Este caminho que traço 
Esta romagem perdida
Até me deixar perder
Cair e apodrecer 
Na vala comum da vida

Fragata do Tejo

Isidro de Oliveira / Alves Coelho *fado maria vitória*
Repertório de Ana Marina
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credivel
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De velas feitas ao vento
Ainda parece que a vejo
Guardo no meu pensamento
Essa fragata do Tejo
Que caiu no esquecimento

Altiva como o navio 
Ligeira como a falua
Do Mar da Palha ao Bugio
A barra era toda sua 
Era a senhora do rio

A fragata navegava 
Quando Lisboa dormia
Quando Lisboa acordava
Tinha o pão de cada dia 
Que a fragata lhe levava

A lei da vida é ingrata 
O tempo nunca perdoa
O progresso tudo mata
E hoje, junto a Lisboa 
Não se vê uma fragata

A guitarra

Letra de Linhares Barbosa
Dedicada ao Júlio Proença
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


A guitarra não é oca
Tem lá dentro um coração
E nem anda como louca
A chorar de mão em mão


Dentro duma lira, mora 
O gemer da nossa boca
Justamente porque chora 
A guitarra não é oca

Se quando cantamos, canta 
Está definida a razão
É porque também tem garganta
Tem lá dentro um coração

Tem alegrias na voz 
Quando a mágoa se lhe apouca
Não é tonta como nós 
E nem anda como louca

Mais do que ela, ninguém manda 
Na pátria do fado, não
Por ter alma é que ela anda 
A chorar de mão em mão

Não escrevas mais cartas

João de Freitas / Francisco Carvalhinho
Repertório de Isaura Gonçalves


Quiseste partir, deixar-me
Por tua leviandade
De que servia queixar-me
Fizeste a tua vontade

Foste atrás duma aventura
Que tu julgavas sincera
Hoje vês que foi loucura
E não passou de quimera

Não escrevas mais cartas 
Que eu não te as aceito
Sabes bem que eu tenho 
Uma outra afeição
Dentro do meu peito
Mas temo em pensar
Vendo o que perdi
Que possas voltar
E que me falte a coragem 
P’ra fugir de ti

Estás farto de me dizer
Que choras penas sem fim
Que assim não podes viver
E tens saudades de mim

Não te posso dar valor
Já vieste muito tarde
Eu hoje tenho outro amor
Embora o teu ainda guarde

Eu quis ver a Mouraria

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação 
credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Do arquivo Francisco Mendes


Eu quis ver a Mouraria
Naquela noite de farra
Levei o fado por guia
Por companheira a guitarra

Corri o Bairro inteirinho 
Que tem do amor o ferrete
Do Largo do Terreirinho 
Ao Arco do Alegrete

Numa janela florida
Colhi um amor-perfeito
Mais aberto que uma ferida 
Que eu tinha dentro do peito

Nas vielas empedradas 
O luar estendia o manto
Por sobre as pedras lavadas 
Por muitas bagas de pranto

Naquela noite de farra 
Não cantei; porque sabia
Que a minha velha guitarra 
Perdeu-se na Mouraria

Auto-retrato

João Ferreira Rosa / Alfredo Duarte *fado senhora do monte*
Repertório de Aldina Duarte

Trago dentro do meu fado
Uma figura de proa
E uma velha caravela
Que naufragou em Lisboa

Tenho também uma vela 
Com a cruz das descobertas
E a luz duma outra vela 
E a luz duma outra vela
Nas minhas noites desertas

Deixo cair dos meus dedos 
O bater do coração
Que desvenda os meus segredos
Da minha enorme paixão

Nunca me esqueço de nada 
Que me faz cantar assim
Nem sequer da madrugada 
Nem sequer da madrugada
Que existe dentro de mim

Mendigas

Glosa de Linhares Barbosa / Mote de autor desconhecido
Letra publicada no jornal “Guitarra de Portugal” em Maio de 1939
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


As meninas dos meus olhos
Parecem duas mendigas
Sempre a pedirem esmola
Aos olhos das raparigas


Esta noite vi balhando 
E cirandando a Joaquina
Que é filha de gente fina 
Que tem dom e que tem mando
Se a vissem, linda, rodando 
Com o seu avental de folhos
Cabelos loiros, aos molhos 
Bota branca de bezerro
É nessa moça que eu erro
As meninas dos meus olhos

Mas, ai de mim! Que o demónio 
Não é de mim que ela gosta
Porque vejo que se encosta 
Ao filho do tio António
Ele sim, que toca harmónio 
E já dizem as amigas
Que são p’ra ele as cantigas 
Que ela canta nos desfolhos
Suas meninas dos olhos
Parecem duas mendigas

Porque é que os olhos da gente 
Quando vão às romarias
Vêm certas alegrias 
Que os transformam de repente?!
Ele há coisas!... francamente 
Que até parecem graçola
Os meus olhos de sacola 
E de esp’rança quase morta
Só andam de porta em porta
Sempre a pedirem esmola

Meus olhos são pobrezinhos 
Andam descalços e rotos
Porque há olhos marotos 
Que só lhe negam carinhos
Cruzam todos os caminhos 
Transpõem terras antigas
Só pisam cardos e espigas 
Charnecas, desolação
E por isso pedem pão
Aos olhos das raparigas

Caminho vão

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado.


Gostas de mim creio em ti
Gosto de ti podes crer
Em tudo quanto perdi
Só nós dois não vi morrer

Por ti por nós tive medo 
Pois tudo em mim se perdia
Só tu e eu em segredo 
E mais nada existia

Descobri no teu olhar 
Os teus olhos sem razão
Nos teus olhos a chorar 
Vi o meu caminho vão

Podia ter sido eu 
Podia ter sido adeus
Foi uma sombra do céu 
Nos teus olhos e nos meus

Quatro estações

Letra de João de Freitas
Repertório de Manuel Pereira
Publicada no jornal Canção do Sul, em Dezembro de 1938 
com dedicatória ao poeta Gabriel d’Oliveira

Num ano todos sabem que as estações
São quatro, e todas elas diferentes
Que passam a correr p’los corações
Deixando nuns a dor e outros contentes

Na bela primavera as andorinhas
Nos beirais dos telhados fazem ninhos
Nos campos e jardins, lindas florinhas
Convidam a fazer belos raminhos

No Verão há aquele viver fictício
Que nos queima num sol abrasador
Das praias e casinos o bulício
Nas férias dum repouso enganador

Das árvores caem folhas ressequidas
É o Outono terrível para os sem sorte
Doenças incuráveis ceifam vidas
E em muito infeliz lar campeia a morte

E o Inverno que tem tanta beleza
Quando algum furacão a terra cobre
Transforma sempre a linda natureza
E faz mais desgraçado quem é pobre

Por culpa minha

Letra de Isidoro de Oliveira
Repertório de Ana Marina
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ao perder o bem que temos
É que sabemos o seu valor
Agora que te perdi
Só penso em ti, no teu amor

Do teu amor desdenhava
Até gostava de te ver triste
Dizias que ias partir
Não quis ouvir e tu partiste

Levado pelo desejo
Pediste um beijo de despedida
Nesse beijo que te dei
Presa deixei a minha vida

Quis-te pedir p’ra ficar
Quis-te abraçar, mas fui cobarde
Perdi todo o bem que tinha
Por culpa minha, agora é tarde

Felicidade

Letra de João de Freitas
Repertório de Alberto Ribeiro
Publicada no jornal Canção do Sul em Dezembro de 1938 com dedicatória 
ao distinto poeta Henrique Rego.
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


És tão linda e sedutora
Passas por grande senhora
E sabes quanto te quero
E sabendo que me adoras
Pergunto: porque demoras
Esse sim que há tanto espero?

Receias que eu vá contar 
O que entre nós se passar? 
Se é isso, não tenhas medo
Nem vivas em tal engano
Que apesar de leviano 
Eu sei guardar um segredo

Não julgues que é altaneiro
O teres jóias e dinheiro 
E esconderes a tua dor
És culpada, podes crer
Tens vergonha de o dizer 
Mas falta-te o meu amor

Faz-me pena a tua sorte 
Pois julgas-te mulher forte
Impondo a tua vontade
Mas, olha! o maior tesoiro 
Que se não compra com oiro 
Chama-se: felicidade

Partir

João de Freitas / Ercília Costa
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Dezembro de 1938 
e no mesmo jornal em 1943 com o título *Partida* e dedicada 
ao conceituado jornalista Alberto de Freitas

É tão custoso partir
Desta terra tão Formosa 
De rara beleza
Que a gente finge sorrir
E uma lágrima teimosa 
Desvenda a tristeza

O barco parte, desliza 
Há corações a sangrar
Seu apitar simboliza 
Um adeus até voltar

Parte um vapor
Para terras bem distantes
E há sempre dor
Nos rostos dos viajantes
Uns sem ventura
E muitos contra vontade
Vão conhecer a amargura
Dessa palavra saudade


Vê-se lenços acenando
Nas horas da despedida 
Ao longo do cais
E o vapor leva, marchando
Muita lágrima sentida 
Dos que sentem mais

Partir é sempre tristonho 
P’ra quem tiver sentimento
E aniquila tanto sonho 
Que morre nesse momento

Não hei-de dizer adeus

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De luto ficou a cor
Dos abraços que eu daria
Gesto de espanto e de dor
Mais nada que quase amor
Muito menos que alegria

Há um mar à minha espera 
A banhar o meu país
E um horizonte que era
Para o sol da primavera 
E que a tristeza desdiz

E do barco que me leve 
Não hei-de dizer adeus
Minhas mãos são de quem teve
O suor dum tempo breve 
Em companhia de Deus

Linda Lisboa

Letra de João de Freitas / Raúl Ferrão *fado do campino*
Repertório de Maria Guerreiro
Publicada no jornal Guitarra de Portugal em Maio de 1939

Nesta Lisboa de pregões tão populares
Sempre nos soa aos ouvidos, seus cantares
Sobre as neblinas
Mal o sol vem despontando
Há gargantas cristalinas
P’las ruas apregoando

Lisboa linda
Com teus bairros sonhadores
A tua graça é infinda
E só merece louvores
Como eu invejo
Tua doçura e bem estar
E a melodia do Tejo
Nessas noites de luar


O teu bulício, próprio das grandes cidades
É um indício das tuas prosperidades
Tua grandeza 
Enfeitiça quem te adora
E por teres tanta beleza
Todo o mundo te namora

Isso é comigo e com ela

Alvaro Morgado / Popular *fado mouraria*
Repertório de César Morgado


Não é p'lo seu lindo rosto
A causa de gostar dela
Gosto dela, é porque é gosto
Isso é comigo e com ela

Aos que dizem ser de tômo 
Eu p’ra ser franco e sincero
Digo a todos que só como 
Daquilo que gosto e quero

Tanto murmúrio p'ra quê 
Tanta ansiedade em vão
Quem mais olha menos vê 
A causa desta afeição

Não me estou p'ra desgastar 
Com frases que tenho dito
Pois ver, ouvir e calar 
É sensato e é bonito

Há práí quem diga mal 
De eu ser dela tão amigo
Se gosto dela, afinal 
Isso é com ela e comigo

O meu castigo

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível.

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Saiu zangado comigo
E já nem parecia aquele
Gaiato, d’olhar profundo
Mas deixem que eu por castigo
Hei-de ir à procura dele
Nem que eu dê a volta ao mundo

Já lhe escrevi uma carta
Que eu lembro linha por linha 
E até começava assim
Meu malvado: eu já estou farta
Farta de viver sozinha 
Sem te ver ao pé de mim

Não choro por se ir embora
Mas por ter feito em pedaços 
Todo o amor duma mulher
Também se o encontro agora
Hei-de apertá-lo nos braços 
Com quanta força tiver

Nem sabe o mal que tem feito
Aquela “beleza rara” 
Que me saiu uma prenda
Mas, ai… se o apanho a jeito
Leva-me um beijo na cara 
Que lhe há-de ficar de emenda

Prenda de Natal

João de Freitas / Alberto Ribeiro
Repertório de Alberto Ribeiro


Indo pôr um sapatinho 
Em cima da chaminé
Ao filho de Nazaré 
Fala assim um rapazinho

Menino que és tão bondoso 
Minha mãezinha morreu
E dizem que foi pró céu 
E eu vivo tão pesaroso

Era tão meiga e tão bela
E eu tenho tanta saudade
Com a minha pouca idade
Não posso viver sem ela;
Com teu dom celestial
Se ouvisses a prece minha
Davas-me a minha mãezinha
Como prenda de Natal


Meu Radi, ó meu senhor 
Tu também tinhas mãezinha
Não precisavas da minha 
Que me dava tanto amor

Se a encontrares, meu Jesus 
Diz-lhe que quero beijá-la
E não podendo olvidá-la 
Arrasto pesada cruz
- - -
Original com o título *Noite de Natal*

Indo pôr um sapatinho 
Em cima da chaminé
Ao filho de Nazaré 
Fala assim um rapazinho

Menino que és tão bondoso 
Minha mãezinha morreu
E dizem que foi p’ra o céu 
Mas vivo tão pesaroso

Eu gostava tanto dela 
E sinto tanta saudade
Com a minha pouca idade 
Não posso viver sem ela

Se a encontrares, meu Jesus 
Diz-lhe que quero beijá-la
E não podendo olvidá-la 
Arrasto pesada cruz

Com teu dom celestial
Se ouvires a prece minha
Davas-me a minha mãezinha 
Como prenda de Natal

Meu bendito, meu Senhor 
Tu também tinhas mãezinha
Não precisavas da minha 
Que me dava tanto amor

Se a não queres devolver 
Outra prenda podes dar
Quando eu adormecer 
Nos braços dela acordar

Fado é destino

Letra de Isidro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Dizem que o fado é destino
Que nos é dado ao nascer
Tem-se fado em pequenino
Tem-se fado até morrer

Incerto e pouco seguro 
É o fado da criança
Não tem mais do que futuro 
É este o fado da esperança

Já grande, com juventude 
Com a vida a enfrentar
É forte a nossa atitude
Porque temos que lutar

Umas vezes devagar 
Outras vezes de corrida
Passa-se a vida a lutar 
O fado é a própria vida

O caminho é percorrido 
E quando chega a idade
O fado não é vivido 
O fado é todo saudade

Os homens que eu amei

Tiago Torres de Silva / Carlos Gonçalves
Repertório de Tereza Tarouca


Os homens que eu amei
Amei-os um a um
A todos me entreguei
E não amei nenhum

Os homens que eu amei
Amei-os um a um
Por todos eu chorei
E não me amou nenhum

Os homens que eu amei
Amei-os um a um
A todos eu matei
E não morreu nenhum

Os homens que eu amei
Amei-os um a um
Por todos me matei
Não me chorou nenhum

A fonte da Mouraria

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Houve em tempos uma fonte
Num beco da Mouraria
E era ali, mesmo defronte
Que a Severa vivia

Costumava o Vimioso 
Nas velhas noites de farra
Nesse recanto frondoso 
Afinar sua guitarra

Quando a Severa cantava 
A velha fonte sentia
E comovida chorava 
Pela água que corria

E há tempos, soube-o eu 
Um velhinho mo contou
Quando a Severa morreu 
A velha fonte secou

Retrato do meu fado

José Fernandes Castro / Júlio Proença *fado laiva*
Repertório de Luísa Nascimento


Sou simplesmente 
Uma voz que se levanta
Sempre que sente 
Verdades que o povo canta
Toda me entrego 
Às rimas que o fado tem
E nunca nego o
s meus fados 
A ninguém

Sou a cantiga
Que passa de boca em boca
Numa correria louca
Em perfeita direção
Velha cantiga
Carregada de mensagem
Que parece uma viagem
À volta do coração


Trago na voz 
A virtude e o pecado
Que em todos nós 
Vivem sempre lado a lado
Mesmo que a dor 
Venha morar sempre em mim
Canto o amor 
Do princípio até ao fim

Linda cidade

Letra de João de Freitas
Escrita para o repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Maio de 1941


Esta cidade tão linda
Que até parece encantada
Possui a doçura infinda
De ser p’lo Tejo banhada

Nos seus bairros cheios de cor
E meiguice nos cantares
Festeja-se com amor
Nossos Santos Populares

Nesta Lisboa mora a beleza
E a singeleza, de braço dado
Durante o dia soam pregões
Que são brasões do seu passado
Há fabricantes que nunca esquecem
Pois se conhecem p’lo seu trajar
E em toda a parte vê-se as varinas
Meigas, ladinas, de lindo olhar

É garbosa sentinela
O oceano a espreitar
Donde tanta caravela
Partiu p’ra o imenso mar

E parece estar escutando
As vozes dos pioneiros
Que lá no mar vão cantando
Os feitos dos marinheiros

Meu amor, gota de mel

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor, gota de mel
Sonho breve, flor de cinzel
Relógio de horas paradas
Meu amor corpo de vento
Meu riso, meu pensamento
Barro das minhas estradas

Se ando triste, ou 'stou cansado 
O meu amor, atento, e calado 
É seda, e calma, e esperança
Abre as mãos, e deixa a vida 
Escapar-lhe, de fugida 
Vindo a mim como criança

Meu amor, minh’água pura 
Liberdade que perdura 
Corpo inteiro sem prisão
Vem dizer ao mundo novo 
Que temos sangue de povo
E que o povo é nosso irmão

Vampiros, reis da desgraça 
Senhores da morte que passa 
Levando quem é verdade
Eis aqui o meu amor 
Guerreiro de peito em flor
Portugal, minha saudade

Mal de amor

João de Freitas / Francisco Carvalhinho
Repertório de Isaura Gonçalves


Quem um dia sofreu dum mal d’amor
Deve compreender esta razão
Que não existe alguém que possa impor
A vontade ao seu próprio coração

Numa noite, eu tentei em vão conter
Meu pobre coração que aniquilaste
Mas o meu peito, abrindo-o, ele a gemer
Seguiu atrás de ti quando abalaste

Se te fartares, amor, vem ter comigo
Porque a vida sem ti é escuridão
Mas traz meu coração, que foi contigo
Que eu não posso viver sem coração

Ele anda rastejando sobre o leito
Da estrada que seguiste, mudo e triste
Talvez que volte em mil pedaços feito
Porque a tão grande mágoa não resiste

E eu sofro ao pensar na infelicidade
De ter aberto o peito, que ironia
P’ra que o meu coração, junto à saudade
Acompanhe os teus passos, noite e dia

Adeus vagabundo

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vagabundo que vagueias
Por caminhos, por aldeias
Sem ter rumo, sem ter norte
Caminhante que palmilhas
Essa estrada, curtas milhas
Que leva às portas da morte

Vai, amigo, porta em porta
Nessa rua escura e torta 
A pedir por caridade
Segue a caminhada eterna
Deixando em cada taberna 
Um amor, uma saudade

Vai sorrindo, vai cantado
Pois o sol já vai baixando 
E mais um dia morreu
Vai, amigo, passo a passo
E não temas o cansaço 
Pois esse caminho é teu

Adeus, segue o teu caminho
Caminhando ao desatino 
Vagabundo, vai sozinho
Até que um dia, perdido
Adormeças esquecido 
Na berma desse caminho

Marcha da Severa

João de Freitas / Nuno Meireles
Repertório de Maria José da Guia


Quem vier visitar o Bairro Alto
P’ra ouvir esta canção sempre sincera
Não poderá passar sem dar um salto
Ao Restaurante Típico “A Severa”

Depois de estar na sala, bem sentado
E a comer um petisco saboroso
Ouve lindas canções e o nosso Fado
Mas o Fado castiço e rigoroso

Severa, Severa, Severa
Já toda a gente apregoa
Que é nesta linda Lisboa
Um restaurante afamado
Severa, Severa, Severa
Um nome, um padrão de glória
Que está gravado na história
Do nosso tão lindo Fado


Todo aquele que quiser, pode cantar
Mostrando a sua voz nas desgarradas
Com certeza dirá, ao retirar,
Que as noitadas aqui são bem passadas

Depois, p’lo caminho, irá pensando
Voltar outra vez cá, oh quem me dera!
E decerto, baixinho, vai cantando
O estribilho da marcha d’A Severa

Despedida

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


No chorar dos olhos teus
Na hora da despedida
Eu vi que ao dizer-te adeus
Disse adeus à própria vida


E é tão triste a despedida 
Tão triste é dizer adeus
Que chorei a própria vida 
No chorar dos olhos teus

Para mal dos meus pecados 
Naquela hora sentida
Eu morri p’los olhos teus 
Na hora da despedida

Quem dera que um dia a vida 
Me desse um dia, meu Deus
A tua imagem querida 
Que eu vi ao dizer-te adeus

Não penses que aos olhos meus 
Foste esquecida ou traída
Juro que ao dizer-te adeus 
Disse adeus à própria vida

Desgarrada

Tiago Torres da Silva
Quadras escritas para o final de um concerto da guitarrista 
Marta Pereira da Costa, interpretada por Kátia Guerreiro
Marco Rodrigues e Rodrigo Costa Félix

Sei que o fado é feminino 
E se for ele a escolher
Quer ouvir o seu destino
No canto de uma mulher

No meu bairro reza a lenda
Que o fado mais verdadeiro
Escolhe um homem que o entenda
Para ser o seu herdeiro

Basta um vestido e um xaile 
E um andar elegante
Para a fadista dar baile 
A qualquer homem que cante

Se é assim vou consentir
Que estou no lugar errado
Se o fado está no vestir
Então eu não sou do fado

Nem d'homem nem de mulher 
Não é velho nem é novo
O fado é de quem o quer 
E quem o quer é o povo

E talvez seja por isso
Que é tão bom vê-lo daqui
Neste bairro tão castiço
A cantar ao pé de ti

Pátria amada

Letra de João de Freitas
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Junho de 1941

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Portugal conquistador
O teu valor é tão cantado
Com antigos navegantes
E mareantes que deram brado

Tua grande fama encerra
Por toda a terra, páginas belas
Descobrindo há muitos anos
Os Oceano nas caravelas

Tens a glória dos heróicos cavaleiros
Que foram os pioneiros
Do teu valor tão profundo
E a tua história está gravada a letras d’oiro
E é o teu maior tesoiro
Pois assombrou todo o mundo


Com teus feitos invencíveis
Foram temíveis tuas espadas
Que tanto e tanto brilharam
Pois que lutaram pelas Cruzadas

P’lo teu heróico passado
Tu és olhado com fé ardente
Falam de ti com respeito
E rendem pranto à lusa gente

Nosso corridinho

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu velho Fado Corrido
Doce gemer triste e brando
Empresta-me esse gemido
Que eu quero chorar cantando

Basta p’ra mostrar a garra 
Desses teus sons divinais
O choro duma guitarra 
Um soluço e nada mais

Tanto és paixão das vielas 
Meu boémio sonhador
Como és o sonho daquelas 
Que se perdem por amor

O fado que nós cantamos 
Enquanto o coração chora
É com ele que atiramos 
A alma p’la boca fora

Não há fado por mais louco 
Mais triste ou mais divertido
Que não guarde em si um pouco 
Do nosso Fado Corrido

Saudades de mil lembranças

João Ferreira Rosa / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de José Pracana


O triste que sinto em mim
Dói muito mas tem beleza
Se estou alegre, estou triste
Com saudades da tristeza

Ao cantar, minhas saudades
Saem do meu coração
Voam pombos p’las trindades
Mas voltam sempre onde estão

Pobre de mim, que sou eu
Assim como tu me vês?
Tudo de mim se perdeu
Tudo de nós se desfez

Saudades de mil lembranças
Tem a minh’alma sentida
Trazem dores, levam as esperanças
Que me prendiam à vida

Despedida

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Partiste, fiquei sozinho
E o resto do meu caminho
Ficou perdido no pó
Só saudades me deixaste
Das vezes que me beijaste
Mas, no fundo, fiquei só

Ficaram cinzas de lume
E espero sem um queixume 
As tristezas que já sinto
Podias ter-me deixado
Ou até mesmo trocado 
Mas, mentiras, não consinto

Amo-te mais do que tudo
E este amor há-de ser mudo 
Hei-de matá-lo sem dó
Mesmo que morra de dor
Não me mentirás, amor 
Que prefiro viver só

Sinal

João Ferreira Rosa / Popular *fado menor*
Repertório de Maja Milinkovic


Vivi a guerra brutal
Que ecoou no meu país
Sem ter feito nenhum mal
Menina triste, infeliz

Ouvi um dia uma voz
Que sem perceber sentia
Parecia falar de nós 
Da gente que mais sofria

Era Amália que cantava 
Lá longe em Portugal
E que em mim despertava 
Na minha vida, um sinal

Quis ir ver a sua terra 
Aprender o português
E o fado que em mim encerra 
Que hoje canto p’ra vocês

Quadras variadas

De Henrique Rego
Transcritas do livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional* 
de Daniel Gouveia e Francisco Mendes

Por mais pérolas que citem
Tu não julgues minha louca
Que hajam pérolas que imitem 
As pérolas da tua boca

Não existem bailarinas 
Nem nos confins da Europa
Que bailem como as meninas 
Desses teus olhos, cachopa

Tantas mentiras empregas 
Sempre que falas comigo
Que às vezes até me negas 
As mentiras que eu te digo

Se entrasse no teu alcouce 
Conforme pedes que eu entre
Ia trair quem te trouxe 
Nove meses no seu ventre

Se juras, malmequer branco 
Que o meu amor bem me quer
Eu juro que não te arranco 
Nem uma folha, sequer

Recordar com devoção 
Um pretérito bendito
É conter o infinito 
No espaço dum coração

Numa vertigem tão forte 
A vida vai tão depressa
Que à vezes perto da morte 
É que a vida então começa

Santo António milagreiro 
Pelo amor que te dedico
Enfeita-me o céu inteiro 
Com vasos de manjerico

Ao meu querido São João 
Meu devotado patrono
Vou-lhe dar meu coração 
Para lhe servir de trono

Meu amor, no bailarico 
De saia verde, a bailar
Faz lembrar um manjerico 
Regado e posto ao luar

Meus irmãos

Letra de João de Freitas
Escrita para Ercília Costa reaparecer no Brasil”
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal em Setembro de 1938
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Meus irmãos, voltei de novo
A visitar este povo
Grande e de rara beleza
E a trazer-vos as saudades
Das aldeias e cidades
Da terra mãe, Portuguesa

Ai, como andava ansiosa
De ao Brasil, nação ditosa 
De novo poder voltar
P’ra vos cantar outra vez
O fado bem português 
Que eu sinto e canto a rezar

Corri Portugal inteiro
E neste fado altaneiro 
Pedi às vossas mãezinhas
Que sempre vos escrevessem
Porque vocês nunca esquecem 
Aquelas lindas velhinhas

Todas me queriam beijar
Pedindo para vos dar 
Seus beijos, mas eram tantas
Que eu guardei no coração
P’ra vos dar nesta canção 
Os beijos daquelas santas

Chorei com pena de ti

Isidoro de Oliveira / João David Rosa *fado rosa*
Repertório de Nuno de Siqueira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

O choro não pude conter
No dia em que te perdi
Não chorei por te perder
Chorei com pena de ti

Sei que sempre me mentiste 
Não me soubeste merecer
Mas no dia em que partiste 
O choro não pude conter

Na vida tudo te dera 
Já não vivia sem ti
Mas voltei a ser quem era 
No dia em que te perdi

Tudo em ti era traição 
Que o amor não deixou ver
Chorei talvez sem razão 
Não chorei por te perder

És mais uma nessa vida 
Como tantas que há p’ra aí
E ao ver-te mulher perdida 
Chorei com pena de ti

Glórias

Letra de João de Freitas
Repertório de Ercília Costa
Letra publicada no jornal Guitarra de Portugal em Outubro de 1938
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Numa aldeia francesa, uma senhora
Contou-me a simpatia sem igual
Na sua voz tão linda e sonhadora
Que sempre conservou por Portugal

Contou-me, quando foi da grande guerra
Por já perto o canhão se ouvir troar
A sua linda aldeia, a sua terra
Recebera uma ordem p’rá deixar

Com tudo preparado, ia partir
P’ra bem longe da luta e seus revezes
Quando p’ra sua aldeia viu surgir
Um batalhão de heróicos portugueses

Recordou essa frase, verdadeira
Do grande general Napoleão
Com soldados assim, minha bandeira
Transformaria o mundo em uma nação

Conservou-se com fé, cheia de esperança
E o seu lindo torrão não foi tomado
Embora esse cantinho lá na França
De sangue português fosse regado

E terminou dizendo, podeis crer
Nestas afirmações que são veementes
Feliz daquele país que possa ter
P’ra o defender soldados tão valentes

Impossível

Letra de Linhares Barbosa
Publicada no jornal “Guitarra de Portugal” em Outubro de 1945
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Podes-me dar por castigo
Que te não torne a escrever
Mas que não sonhe contigo
Isso não podes faze
r

O teu desdém, o teu ódio 
Obriga-me a respeitá-los
Acaba o teu episódio 
Faz dos meus olhos vassalos
Se te apraz, vem arrancá-los 
Podes ser cruel comigo
Não me poupes ao perigo
De te adorar cegamente
Tudo o que é mau, finalmente
Podes-me dar por castigo

Condena o meu coração 
Ao mais servil dos desterros
Não tenhas comiseração 
Quero pagar os meus erros
Põe os meus braços a ferros 
A minha alma a sofrer
Aniquila-me o prazer 
De te ver, de te falar
Que te não vá procurar
Que te não torne a escrever

Nada na vida me influi  
Tudo na vida me cansa
Não sou nada do que fui 
Porque fui sempre criança
Ai, de quem jamais alcança 
Um peito leal, amigo
Como um feroz inimigo 
Impões-me como barreira
Que sonhe em tudo o que queira
Mas que não sonhe contigo

Não t'imponhas aos meu sonhos 
Nem tão pouco aos pensamentos
Sejam tristes ou risonhos
Não são teus esses momentos;
Que evitar de sofrimentos 
Se os pudesses desfazer
Podes-me até convencer 
Que te não torne a olhar;
Que deixe de em ti sonhar
Isso não podes fazer

Aquele par

João de Freitas / Pedro Rodrigues
Repertório de José Moreira


Ela, vestida de chita
Ele, de zuarte azulado
Desse azul que nos encanta
Mas era o par mais catita
Que passava lado a lado
Na rua da Fonte Santa

Foi simples o seu amor
Nascido sob o condão 
De ser jurado ante a cruz
Ele, por ser fundidor
Fundiu o seu coração 
Ao da Maria da Luz

Mas ele um dia partiu
Buscando em terra distante 
A fortuna tentadora
E esse par não mais se viu
Passar alegre e galante 
Como ali passara outrora

E hoje, p’ra seu consolo
Se a Maria da Luz sai 
P’ra saber novas d’além
Traz uma filhinha ao colo
Vivo retrato do pai 
Mais linda que a própria mãe

Passagem do ano

Letra de João de Freitas
Repertório de Alberto Ribeiro
Letra publicada no jornal Canção do Sul em Janeiro de 1939 
com dedicatória ao poeta e grande amigo Norberto Ferreira

Bateu a meia-noite; é mais um ano
Que acabou o seu reinado, e outro vem
Trazendo felicidade ou desengano
Como fiel amor esperando alguém

Bateu a meia-noite: é manifesta
A alegria ruidosa de momentos
Há copos tilintando, reina a festa
Todos querem esconder os seus tormentos

Bateu a meia-noite e p’la cidade
Apitos estridentes vão soando
Trocam-se longos beijos de saudade
Enquanto o ano novo vai chegando

Bateu a meia-noite: há restaurantes
Cheios até à porta num delírio
Há canções de alegria, delirantes
Todos querem esquecer o seu martírio

Passou a meia-noite: é como um sonho
Que toda a gente tem: depressa passa
Pois o ano que vem nunca é risonho
P’ra quem tiver na vida só desgraça

Os quatro éfes

Nuno de Aguiar / Alfredo Duarte *fado mocita dos caracóis*
Repertório de Nuno de Aguiar
Esta versão é ligeiramente diferente diferente de outras 
também interpretadas pelo seu autor

Estes nomes consagrados
A quem eu presto homenagem
Foram vultos afamados
Há muito perpetuados
No meio da fadistagem

O Farinha, sem exceções 
E dum enorme talento
Em retiros e salões 
Foi a voz das multidões
No seu glorioso tempo

Um outro grande valor 
Que eu ouvi desde criança
Se alguém cantou a rigor 
Lindos poemas de amor
Foi o Frutuoso França

Outro génio talentoso 
Do nosso amado cantinho
Que trinava o rigoroso 
Num gorjear mavioso
Era o Francisco Martinho

Maurício, mais um artista 
Que a nossa grei adorou
Por direito de conquista 
Foi um castiço fadista
Que Lisboa idolatrou

Esta estrofe não faz parte desta gravação mas sim duma outra em que  
o Nuno de Aguiar usou a música do Fado Fé de Casimiro Ramos

E sem efe, mas dotado 
Duma linda voz que tinha
Era também consagrado 
Meu ídolo maior do fado
Foi o grande Silveirinha

A água da minha fonte

João Ferreira Rosa / Maria Teresa de Noronha *fado pintéus
Repertório de João Braga


A água da minha fonte
Tem sempre um novo cantar
Tal qual a cor que há no monte
E anda sempre a mudar

Conforme as estrelas no céu 
Se à noite há ou não luar
Conforme te oiço eu 
Quanto te oiço chegar

A água da minha fonte 
Tem mil jeitos de cantar
Acompanha a cor do monte 
Acompanha o meu pensar

Acompanha o dia-a-dia 
Noites e noites sem par
A minha água da fonte 
Alegria de te amar

Cruzei na rua contigo

Mote de Maria Manuel Cid / Glosa de Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Cruzei na rua contigo
Repara que mal te vi
Pois francamente te digo
Que nem eu te conheci


Quis-te com muita amizade 
Para ti fui mais que amigo
Julgava morta a saudade 
Cruzei na rua contigo

Saudades são do passado 
Dos dias perto de ti
Passei mesmo ao teu lado 
Repara que mal te vi

Passei perto e não sentiste 
O meu olhar tão sentido
Acredita que o feriste 
Pois francamente te digo

Estás mudada tão dif'rente 
Daquela com quem vivi
Estás igual a tanta gente 
Que nem eu te conheci

As saudades que me dás

José Fernandes Castro / Alfredo Duarte *Marceneiro*
Repertório de Carlos de Vasconcelos


As saudades que me dás
Passam vagarosamente
Nas ruas por onde vou
Eu nem sequer sou capaz
De te rever ternamente
Nos passos que por ti dou

Não sou capaz de sentir
A brisa suave e calma
Que me beija e me sufoca
Nem sequer sei repetir
Os sopros da minha alma
Através da minha boca

Por ti vou saboreando
Rimas que alguém escreveu
No livro dum amor triste
E por ti vou caminhando
Num espaço apenas meu
Pois sem ti, já nada existe

Vem daí

Letra de Frederico de Brito
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credivel
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vem até à Madragoa
Traz contigo essa Lisboa
Vem daí, anda com ela
Faz a roda p’las esquinas
Que vais ver essas varinas
Como bailam de chinela

Vem ouvir pregões cantados
Tão dolentes, tão magoados 
Que até lembram orações
São as queixas das fadigas
São pedaços de cantigas 
Que nem parecem pregões

Vem cá ver como se dança
Num bailarico da Esperança 
Entre varinas gaiatas
Tal como vogam as lanchas
Como baloiçam as pranchas 
Na descarga das fragatas

Vem cá ver como trabalham
Vem ouvir como elas ralham 
Numa gritaria tonta
Cada boca é uma adaga
Num motejo, numa praga 
Num louvor ou numa afronta

Madragoa de chinela
Xaile ao ombro, lá vai ela 
Como é linda a Madragoa
É travessa? o que tem isso?
Se é o bairro mais castiço 
Mais alegre de Lisboa

As tristezas do meu fado

João Ferreira Rosa / Popular *fado menor*
Repertório de João Ferreira Rosa


As tristezas do meu fado
São aquelas que me deste
Por isso, em meu tom magoado
Tens todo o mal que fizeste

Fiquei feliz e contente
Ao saber que não partias
Ficaste, mas tão diferente
Nem meu cantar entendias

E então, estando contigo
Senti-me só a teu lado
Que pena não teres partido
Que pena não teres ficado

A lenda

Letra de Silva Nunes
Escrita a pedido do diretor da “Voz de Portugal”
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Morou na Rua da Rosa
A Mariquinhas do fado
Que teve alma e coração
Foi mais linda do que airosa
E teve um quarto alugado
Na rua do Capelão

Criou fama, cantou fados
Pelos becos e travessas 
E apesar do porte rude
Soube remir os pecados
Cumprindo as suas promessas 
À Senhora da Saúde

Dava-se bem na balbúrdia
E o seu corpo de mulher 
Nunca temia a navalha
Por isso, às vezes, na estúrdia
Trocava um conde qualquer 
Por qualquer outro canalha

Mesmo assim, olhava o céu
Pedindo pela filhinha 
Que era a sua luz do dia
Que era pura como o véu
Que cobre aquela santinha 
Da Capelinha da Guia

Já se foi a enterrar
Quem me contou tudo isto 
Sem falar nas tabuinhas
Dizem que prá mãe salvar
Foi noiva de Jesus Cristo 
A filha da Mariquinhas

O meu nome é Margarida

João Ferreira Rosa / Alfredo Duarte (fado louco)
Repertório de Margarida Soeiro (ao vivo)


O meu nome é Margarida
Desde o dia em que nasci
O nome marcou-me a vida
Só agora percebi

Margarida, oiço chamar 
Quando na voz tenho fado
E sinto no meu cantar 
Que me ouves a meu lado

Embalada nas guitarras 
Não me sais do pensamento
E sinto que tu me agarras 
A todo e qualquer momento

O que sou eu afinal 
O que fui, o que serei
A todos darei sinal 
Nos fados que cantarei

Canção negra

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credivel
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Aquilo que vai no vento
São ecos de sofrimento
Duma tarde que passou
É esse som que se ouvia
A tua canção vadia
Que nunca ninguém cantou

A canção era loucura
Vazio de sepultura 
Era silêncio afinal
Roseiras secas e tortas
Delírio de folhas mortas 
Pairando no roseiral

Quando erguendo as mãos aos céus
Te lancei o meu adeus 
A tua canção passou
Passou a canção vadia
Canção negra, negra, fria 
Que só o vento cantou

É festa é festa da gente

João Ferreira Rosa / Carlos Macedo
Repertório de Carlos Macedo

Portugal dos arraiais
Pelas eiras a bailar
Lindas noites ao luar
Recordei-te tanta vez;
Lá longe, onde não vês
Mais que a saudade e o ma

Milho rei nas desfolhadas 
E beijos de raparigas
É festa, é festa da gente
Pegas de caras, touradas
Guitarradas e cantigas
É festa, é festa da gente

A guitarra vou tocando
Ao bater do coração
Trago um fado em cada mão
Tenho outro fado na voz;
Muita alegria para nós
Na festa que vou cantando

Tenho um amor cor do céu

João Ferreira Rosa / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de António de Noronha


Tenho um amor cor do céu
Tenho um amor cor do mar
Tenho um amor, sol e oiro
Que me não deixa calar

Tenho um amor cor do dia 
Que tanto tarda a chegar
Tenho um fado, noite fria 
Tristeza por acabar

As tuas mãos, meu amor 
Porque não hão-de alcançar
Uma estrela ou uma flor 
Das que trazes no olhar

Tenho um amor cor do céu
Tenho um amor cor do mar
O amor que Deus me deu 
Só Deus mo pode tirar

Meu amor, amor sem cruz

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada.
Publico-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor amor sem cruz
Vem ver o mar feito luz
Vem cantar anda bailar
A meio da noite estranha
Não há tristeza que venha
Até a noite acabar

Vem morrer em desvario
Seremos leito de rio 
Corpos de corpo mais puro
O pinhal entrou na praia
E qualquer medo desmaia 
Contra o céu menos escuro

Descerás até ao fundo
Onde a luz do mar é mundo
Serás tu quem sou agora
Os dois enfim condenados
Por fim os dois abraçados
Tempo sem força nem hora

Meu amor a rir amor
Amor inteiro sem dor 
Em mulher mais que mulher
Vem cantar vem rir bailar
Até a noite acabar 
Antes da noite morrer

O ardina e o groom

Letra de Linhares Barbosa
Publicada no jornal “Guitarra de Portugal”, Ano XVI, número 335
de 25 de Novembro de 1937 para o repertório de Domingos Silva
Desconheço se esta letra foi gravada
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Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Alegres e joviais
Eram João e José
Palreiros como pardais
Um, “ardina” dos jornais
Outro, groom dum café

Filhos do mesmo casal 
No mesmo berço nascidos
Eram irmãos e, afinal 
Davam-se de forma tal
Que nem dois desconhecidos

Quanta e quanta discussão 
Entre o João e o José
José era um toleirão
E não falava ao João 
Quando vestia a libré

Julgava-se milionário 
Por ter galões no boné
Via o irmão co’o Diário 
Alcunhava-o de ordinário 
E corria-o do café

João, de calções rasgados
Boina ruça, pé descalço
Gritava: p’ra teus pecados 
Tens muitos galões doirados
Mas nem vês que o oiro é falso

Fazes-me dó a valer 
Quando te imaginas mais
Não sabes ler nem escrever
E eu já aprendi a ler 
De tanto vender jornais

Trabalho honrado é virtude
Ser pobre a ninguém ofende
A vaidade é que se ilude
É no trabalho mais rude
Que às vezes muito se aprende

Dia claro nos teus braços

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Dia claro nos teus braços
Abertos ao sol que vem
Trazer luz aos olhos baços
De quem te julga ninguém

Dia claro, meu amor 
Nos corpos que abandonámos
À lentidão do calor 
Do passado que queimámos

Sol em fogo, amor de gente 
Mar em chamas mais além
Raiva do tempo presente 
Solidão que o tempo tem
Sol em fogo, amor de gente
Nosso sangue, e mais ninguém

Dia claro nos teus braços 
Cruzados à minha prisão
Onde o som dos nossos passos 
É liberdade e é razão

Senhora do Castelo

Letra de Isidro de Oliveira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


A novena já passou
E deixou em quem escutou
Uma atitude devota
Com foguetes a alvorada
É saudada e festejada
A lembrar Aljubarrota

Está a vila engalanada
Animada e agitada 
E o Sorraia vai tão belo
Vai sair a procissão
Devoção de tradição 
À Senhora do Castelo

Vai o sol no ocidente
Toda a gente boa e crente 
Sente uma certa emoção
É o campo abençoado
Consagrado, Deus louvado 
Já entrou a procissão

Toiros na rua, toiros na praça
Alma e graça, fina raça 
Alardes de valentia
E quando a noite chegar
A cantar e a dançar 
Segue a festa, é alegria

Mas tudo tem um final
É fatal o arraial 
É tirado e vai-se embora
Volta Coruche à sua lida
Numa vida protegida 
Pelo Manto da Senhora

Marquês de Belas

João Ferreira Rosa / Popular *fado mouraria*
Repertório de António Pelarigo

O velho Marquês de Belas
Foi sempre um bom português
Foi cavaleiro afamado
Bom forcado, muita vez

Grande embaixador d’El Rei
Sempre serviu Portugal
Por amor venceu a lei
Naquele duelo mortal

Falava aos novos, contava
O que viu, o que passou
Nas cortes por onde andava
Quantos romances contou

Era velho e não cansava
Praguejava duramente
Contra a força que ocupava
O reino da nossa gente

Deu o corpo a Santarém
Onde jaz, grande soldado
Quem nunca traiu ninguém
E sentiu o nosso Fado

Desgarrada

Quadras de Tiago Torres da Silva
Desgarrada escrita para o espetáculo de Maria João Quadros
no Coliseu dos Recreios, Lisboa, interpretada por Maria João Quadros
António Pinto Basto, Celeste Rodrigues, João Ferreira-Rosa, Lenita Gentil
Vicente da Câmara, Tereza Siqueira, Ada de Castro e Peu Madureira.

O fado quando se canta
Faz tais contas com a vida
Que o coração se adianta
Esquecendo a própria batida

Guitarras pedem ao fado 
O que o fado não lhes dá
E o fadista já cansado 
Canta essa dor que não há

O fado quando se chora 
É um segredo tão triste
Que a saudade vai-se embora 
E finge que não existe

Mas quando nós nos perdemos 
O fado encontra a razão
Que junta o que não vivemos 
Aos dias que não virão

O fado quando é sentido 
É uma dor que se lavra
Tendo por norte o Corrido
E por bandeira a palavra

Faço caber um país 
Nas quadras do Mouraria
Onde me sinto aprendiz 
De tudo o que já sabia

O fado quando se inventa 
Descobre dentro de nós
Que quando a alma se ausenta 
De pouco nos serve a voz

Mas quando a alma é fadista 
Não faz dif’rença a idade
Há fado a perder de vista 
Dentro da nossa saudade

O fado quando se sente 
Percebe que a tradição
É uma alma descrente 
Das coisas que tem à mão

No fundo só acredita 
Naquilo que não se vê
Ora segreda ora grita 
Mas nunca sabe porquê

O fado quando se agarra
À barra do meu vestido
Pede às cordas da guitarra
Que dedilhem o Corrido

E como a alma vigia 
O que a dor sabe de cor
Confesso no Mouraria 
O que calo no Menor

O fado quando se reza
Fala da fé que não tem
O passado que lhe pesa
É que o liberta também

Guitarras, versos, saudade 
Numa tristeza infinita
São a mais santa trindade 
Em que um fadista acredita

Mas se o fado ao ser cantado
É Deus, pátria e é destino
Também quero ser do fado
E fazer dele o meu hino

Dá-me o braço anda daí 
Não faças figuras feias
Desde o dia em que te ouvi 
Sei que tens fado nas veias

Tive saudades

João de Freitas / Popular *fado menor
Repertório de Maria Manuela Silva

Achei-te tanta diferença
Quando de novo te vi
Que 'stando em tua presença
Tive saudades de ti


Achei-te tanta diferença 
Que fiquei admirada
E senti uma dor imensa 
Ao ver-te a face enrugada

Ias a passar sorrindo 
Quando de novo te vi
E nesse momento infindo 
Sabes lá quanto sofri

Passei, fingindo indiferença 
E nem sei o que te achei
Que 'stando em tua presença 
Que fosses tu, duvidei

Nesse teu olhar magoado 
O livro da vida eu li
E recordando o passado 
Tive saudades de ti