José Gonçalez / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de António Pinto Basto
Agora que a minha rua
Vai deixar de ser a tua
Porque te queres ir embora
Diz àquele sonho antigo
Que parta também contigo
Que saia p’la porta fora
Podes levar o que é teu
Se quiseres leva o que é meu
Isso a mim já nada interessa
Sai quando eu cá não estiver
Porque eu não te quero ver
Já que sais, parte depressa
Não deixes fotografias
Testemunhas de alegrias
Felicidades doutras luas
Eu não quero mais andar
Por aí, a encalhar
Em tantas lembranças tuas
Não me fales nunca mais
Nem me digas p’ra onde vais
Se finjo que nada importa
Tenho medo que o coração
Não resista à tentação
E te vá bater à porta
A Beatriz da Ribeira
António Vasconcelos / Eugénio Pepe
Repertório de Anabela
A Beatriz da Ribeira
Era a vendedeira com maior cartaz
Num corpo esguio, travessa
Virava a cabeça a qualquer rapaz
Mal rompia a madrugada
A sua chegada era um festival
Ela era a luz da Ribeira
Era a mais brejeira que o sol e o sal
Ó Ribeira, ó Ribeira
Levanta a voz e apregoa
No mercado da Ribeira
Estão as mulheres
Ó Ribeira, ó Ribeira
Grita alto o teu pregão
Venham todos à Ribeira
Ver as mulheres que cá estão
Repertório de Anabela
A Beatriz da Ribeira
Era a vendedeira com maior cartaz
Num corpo esguio, travessa
Virava a cabeça a qualquer rapaz
Mal rompia a madrugada
A sua chegada era um festival
Ela era a luz da Ribeira
Era a mais brejeira que o sol e o sal
Ó Ribeira, ó Ribeira
Levanta a voz e apregoa
No mercado da Ribeira
Estão as mulheres
Mais bonitas de Lisboa
Ó Ribeira, ó Ribeira
Grita alto o teu pregão
Venham todos à Ribeira
Ver as mulheres que cá estão
Que belas são
Bravia e cheia de brio
O fado vadio era todo seu
Na Grande Noite do Fado
Cantou e deu brado lá no Coliseu
Deixou de ser vendedeira
Hoje é cantadeira, percorre o país
E a malta diz na Ribeira
Vai ser a primeira, que seja feliz
Bravia e cheia de brio
O fado vadio era todo seu
Na Grande Noite do Fado
Cantou e deu brado lá no Coliseu
Deixou de ser vendedeira
Hoje é cantadeira, percorre o país
E a malta diz na Ribeira
Vai ser a primeira, que seja feliz
Sombra fugidia
António Rocha / Popular *fado menor*
Repertório de António Rocha
Vem, ó sombra fugidia
Repertório de António Rocha
Vem, ó sombra fugidia
Folha verde em meu outono
Gota cristalina e fria
Neste sede de abandono
Verde esperança sem sentido
Gota cristalina e fria
Neste sede de abandono
Verde esperança sem sentido
Onda revolta de mar
Onde navego perdido
Onde navego perdido
Em busca do teu olhar;
Verde esperança sem sentido
Sentido de te alcançar
Vem enquanto a lua espreita
Verde esperança sem sentido
Sentido de te alcançar
Vem enquanto a lua espreita
Dorme o sol em meu passado
E uma saudade se deita
E uma saudade se deita
No meu leito abandonado;
Vem enquanto a lua espreita
O teu corpo imaginado
Traz uma nova alvorada
Vem enquanto a lua espreita
O teu corpo imaginado
Traz uma nova alvorada
Ao escurecer da minha idade
Que já se sente cansada
Que já se sente cansada
D’esperar tua verdade;
Traz uma nova alvorada
P’ra matar esta saudade
Traz uma nova alvorada
P’ra matar esta saudade
Compasso
Amadeu Diniz da Fonseca / Amadeu Diniz da Fonseca e Jorge Silva
Repertório de António Pinto Basto
Dá-me um abraço e dá-me um beijo
Segue o compasso do meu desejo
Dá-me um momento do teu segredo
Cobre o meu espaço sem dor nem medo
E vem sentir num sonho breve
Esta empatia desperta em nós
Este caminho que nos envolve
Na alegria ao estarmos sós
E dá-me as mãos e dá-me o gosto
Desse sorriso aberto e justo
O teu regaço, minha aventura
O meu cansaço, a minha cura
E deixa ouvir os sons da terra
E deixa sentir a força do mar
P’ra lá das portas e das janelas
Que não se cansam de nos guardar
E proteger, de nos unir
De nos receber e ver-nos partir
P’ra lá das fontes, p’ra lá da foz
Repertório de António Pinto Basto
Dá-me um abraço e dá-me um beijo
Segue o compasso do meu desejo
Dá-me um momento do teu segredo
Cobre o meu espaço sem dor nem medo
E vem sentir num sonho breve
Esta empatia desperta em nós
Este caminho que nos envolve
Na alegria ao estarmos sós
E dá-me as mãos e dá-me o gosto
Desse sorriso aberto e justo
O teu regaço, minha aventura
O meu cansaço, a minha cura
E deixa ouvir os sons da terra
E deixa sentir a força do mar
P’ra lá das portas e das janelas
Que não se cansam de nos guardar
E proteger, de nos unir
De nos receber e ver-nos partir
P’ra lá das fontes, p’ra lá da foz
Desse infinito que corre em nós
Por te amar perdi a Deus
Sérgio / Júlio Proença *fado puxavante*
Por te amar perdi a Deus
Por teu amor me perdi
Agora vejo-me só
Sem Deus, sem amor, sem ti
Sem fé navego na vida
Repertório de Ana Rosmaninho
Desconhece-se a estrofe que deveria glosar o 2° verso do mote.
Por te amar perdi a Deus
Por teu amor me perdi
Agora vejo-me só
Sem Deus, sem amor, sem ti
Sem fé navego na vida
Por culpa dos olhos teus
Hoje sinto-me perdida
Hoje sinto-me perdida
Por te amar perdi a Deus
Quando os teus olhos choraram
Quando os teus olhos choraram
Tive pena, senti dó
Mas mentiram e enganaram
Mas mentiram e enganaram
E agora vejo-me só
E perdida nesta estrada
E perdida nesta estrada
Que a teu lado percorri
Sigo triste e abandonada
Sigo triste e abandonada
Sem Deus, sem amor, sem ti
O tempo não passa
António Vasco Moraes / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de António Vasco Moraes
Cheguei a meio da noite
Da noite da tua vida
Procurando quem me acoite
Esta alma tão despida
Ao longo do meu caminho
Repertório de António Vasco Moraes
Cheguei a meio da noite
Da noite da tua vida
Procurando quem me acoite
Esta alma tão despida
Ao longo do meu caminho
Cheguei a este cansaço
Tenho agora o teu carinho
Tenho agora o teu carinho
O teu colo, o teu abraço
Nele quero descansar
Nele quero descansar
P’ra sempre ficar em paz
Afogar-me em teu olhar
Afogar-me em teu olhar
Nunca mais olhar p’ra trás
Sentir que o tempo não passa
Sentir que o tempo não passa
Não passa, já se desfez
É o meu corpo que te abraça
É o meu corpo que te abraça
Que te abraça outra vez
Ti Alfredo
Francisco Nicholson / Braga Santos
Repertório de Anabela
Tio Alfredo, quando às tantas
Vou p’las vielas à toa
Repertório de Anabela
Tio Alfredo, quando às tantas
Vou p’las vielas à toa
Oiço a tua voz nos céus
Cantas p’ra santos e santas
Cantas p’ra santos e santas
O teu fado de Lisboa
Encantas o próprio Deus
Lá do alto a que subiste
Na viagem sem regresso
Encantas o próprio Deus
Lá do alto a que subiste
Na viagem sem regresso
Que nos leva à eternidade
Certamente ‘inda não viste
Certamente ‘inda não viste
Tudo o que fez o progresso
Da nossa querida cidade
Sob a luz dum candeeiro
Já não se descobre o fado
No rosto de uma mulher
Tio Alfredo Marceneiro
Se visses não querias crer;
Mas chega o anoitecer
Traz a saudade que voa
Para a estrela aonde estás
Porque o fado há-de viver
Enquanto existir lisboa
Alfredo descansa em paz
Na casa da Mariquinhas
Que outrora foi das mais belas
Da nossa querida cidade
Sob a luz dum candeeiro
Já não se descobre o fado
No rosto de uma mulher
Tio Alfredo Marceneiro
Se visses não querias crer;
Mas chega o anoitecer
Traz a saudade que voa
Para a estrela aonde estás
Porque o fado há-de viver
Enquanto existir lisboa
Alfredo descansa em paz
Na casa da Mariquinhas
Que outrora foi das mais belas
Vive hoje uma doidivanas
Deitou fora as tabuínhas
Deitou fora as tabuínhas
Que alindavam as janelas
E mandou pôr persianas
O ardinita, João
Ninguém ouviu nunca mais
E mandou pôr persianas
O ardinita, João
Ninguém ouviu nunca mais
Apregoar nas esquinas
Aquele belo pregão
Aquele belo pregão
Que dava vida aos jornais
Estão a acabar os ardinas
Estão a acabar os ardinas
Sonho junto ao rio
António Rocha / Manuel Mendes
Repertório de António Rocha
Corria o Tejo calmo e lentamente
Um cheiro a maresia enchia o ar
E eu ali parado à tua frente
Perdido nos teus olhos verde mar
Uma brisa suave acariciava
O teu rosto sereno, encantador
Enquanto a minha voz balbuciava
Num som imperceptível, meu amor
Esvoaçavam gaivotas ondulantes
Numa dança que fazia lembrar
O bailar dos meus olhos suplicantes
Perdidos nos teus olhos verde mar
É testemunha a tarde que morria
De tudo quanto o teu olhar não viu
Na paisagem, no amor, na fantasia
Deste sonho nascido junto ao rio
Repertório de António Rocha
Corria o Tejo calmo e lentamente
Um cheiro a maresia enchia o ar
E eu ali parado à tua frente
Perdido nos teus olhos verde mar
Uma brisa suave acariciava
O teu rosto sereno, encantador
Enquanto a minha voz balbuciava
Num som imperceptível, meu amor
Esvoaçavam gaivotas ondulantes
Numa dança que fazia lembrar
O bailar dos meus olhos suplicantes
Perdidos nos teus olhos verde mar
É testemunha a tarde que morria
De tudo quanto o teu olhar não viu
Na paisagem, no amor, na fantasia
Deste sonho nascido junto ao rio
O salgueiro
Célia Barroca / Luís Petisca
Repertório de Célia Barroca
Ai salgueiro, porque choras
Porque te pões a chorar?
Perdi um amor de mel
Num barquinho de papel
Nas areias deste rio
Eu cravei minhas raízes
Vão-se amores, vão-se mágoas
E venham horas felizes
Sentinela deste Tejo
Sou salgueiro cabisbaixo
Que um salgueiro à borda d’água
Sonha ir p’la água abaixo
Nas areias deste rio
Construí minha cabana
Veio a chuva no inverno
Pintou-me a cama de lama
Ai salgueiro, porque choras
Porque te pões a chorar?
Quem me dera ‘star contigo
Seguro nesse lugar
O salgueiro à borda d’água
Mergulha no pensamento
De ser livre como as aves
De ser livre como o vento
Repertório de Célia Barroca
Ai salgueiro, porque choras
Porque te pões a chorar?
Perdi um amor de mel
Num barquinho de papel
Nas areias deste rio
Eu cravei minhas raízes
Vão-se amores, vão-se mágoas
E venham horas felizes
Sentinela deste Tejo
Sou salgueiro cabisbaixo
Que um salgueiro à borda d’água
Sonha ir p’la água abaixo
Nas areias deste rio
Construí minha cabana
Veio a chuva no inverno
Pintou-me a cama de lama
Ai salgueiro, porque choras
Porque te pões a chorar?
Quem me dera ‘star contigo
Seguro nesse lugar
O salgueiro à borda d’água
Mergulha no pensamento
De ser livre como as aves
De ser livre como o vento
Resta-me a esperança
António Rocha / Alfredo Duarte *marcha do marceneiro*
Repertório de António Rocha
Mais um dia sem te ver
Menos um dia de vida
Sem te ouvir, sem te falar
Porque vieste acender
Esta chama adormecida
Que eu não queria despertar
Quanto mais foges de mim
Tanto mais perto te sinto
Menos consigo esquecer-me
Mas se apareces por fim
Vejo-me num labirinto
Onde receio perder-me
O amor que em mim despertaste
É rio que corria manso
E hoje transborda do leito
Falei-te, não me escutaste
Estendo os braços, não te alcanço
Aumenta a angústia em meu peito
Angústia que não se cansa
Desde o dia em que te vi
De me prender em seus laços
Resta-me apenas a esperança
Que não fujas mais de ti
E te entregues em meus braços
Repertório de António Rocha
Mais um dia sem te ver
Menos um dia de vida
Sem te ouvir, sem te falar
Porque vieste acender
Esta chama adormecida
Que eu não queria despertar
Quanto mais foges de mim
Tanto mais perto te sinto
Menos consigo esquecer-me
Mas se apareces por fim
Vejo-me num labirinto
Onde receio perder-me
O amor que em mim despertaste
É rio que corria manso
E hoje transborda do leito
Falei-te, não me escutaste
Estendo os braços, não te alcanço
Aumenta a angústia em meu peito
Angústia que não se cansa
Desde o dia em que te vi
De me prender em seus laços
Resta-me apenas a esperança
Que não fujas mais de ti
E te entregues em meus braços
Confissão
Amadeu Diniz de Fonseca / Popular *fado moleirinha*
Repertório de António Pinto Basto
Passei a vida a correr o mundo inteiro
Dei tantas voltas que nem vão acreditar
Se alguém disser que eu minto, é o primeiro
Contando aquilo que vos quero confessar
Vale sempre a pena lutar p’lo que se quer
Mas nada iguala o amor duma mulher
Vi tantos rios, tantos vales, tantas montanhas
Tantas planícies e cidades tão formosas
Lugares tão belos, de mil cores, vistas tamanhas
Cheias de vida, de lendas fantasioas
Mas não me digam que há um lugar sequer
Mais deslumbrante que um sorriso de mulher
Todos os mares da terra inteira naveguei
Em mil lugares acostei e percorri
Até sereias, julgo eu que as vislumbrei
Por entre as ondas desses mares que eu já vi
Mas de certeza que ainda está para nascer
Coisa mais bela que o olhar duma mulher
Toda a beleza do que nasce tem um fim
A vida tem tempos diferentes p’ra lembrar
Mas quero eu ter a cantar perto de mim
Na hora certa que Deus me queira levar
Na solidão do momento, já sem a ver
A voz serena, cheia de luz, duma mulher
A vida é bela, a vida é linda
Uma graça infinda
Repertório de António Pinto Basto
Passei a vida a correr o mundo inteiro
Dei tantas voltas que nem vão acreditar
Se alguém disser que eu minto, é o primeiro
Contando aquilo que vos quero confessar
Vale sempre a pena lutar p’lo que se quer
Mas nada iguala o amor duma mulher
Vi tantos rios, tantos vales, tantas montanhas
Tantas planícies e cidades tão formosas
Lugares tão belos, de mil cores, vistas tamanhas
Cheias de vida, de lendas fantasioas
Mas não me digam que há um lugar sequer
Mais deslumbrante que um sorriso de mulher
Todos os mares da terra inteira naveguei
Em mil lugares acostei e percorri
Até sereias, julgo eu que as vislumbrei
Por entre as ondas desses mares que eu já vi
Mas de certeza que ainda está para nascer
Coisa mais bela que o olhar duma mulher
Toda a beleza do que nasce tem um fim
A vida tem tempos diferentes p’ra lembrar
Mas quero eu ter a cantar perto de mim
Na hora certa que Deus me queira levar
Na solidão do momento, já sem a ver
A voz serena, cheia de luz, duma mulher
A vida é bela, a vida é linda
Uma graça infinda
Esta benção de viver
É uma aventura e a vida ainda
É mais bem vinda
É uma aventura e a vida ainda
É mais bem vinda
Com o amor duma mulher
Foste uma ilusão
António Rocha / Fontes Rocha *teu nome simplesmente*
Repertório de António Rocha
Pensaste que eu buscava uma aventura
Um risco mais no meu rol de prazer
E viste devaneio onde a ternura
Vibrava no mais fundo do meu ser
Recordo as horas que comigo estavas
Quando só eu falava e tu ouvias
E as escassas respostas que me davas
Me faziam pensar que me entendias
Escutavas as palavras que eu dissesse
Sorrindo para mim cada momento
Por isso me confunde e entristece
A tua ausência, o teu afastamento
Ainda não consigo compreender
O que faz tomar tal atitude
Pois quem melhor pansamos conhecer
É quem mais fácilmente nos ilude
Cantando este poema para ti
Mais uma vez abri meu coração
Olha-me bem nos olhos e sorri
E diz-me que não és uma ilusão
Repertório de António Rocha
Pensaste que eu buscava uma aventura
Um risco mais no meu rol de prazer
E viste devaneio onde a ternura
Vibrava no mais fundo do meu ser
Recordo as horas que comigo estavas
Quando só eu falava e tu ouvias
E as escassas respostas que me davas
Me faziam pensar que me entendias
Escutavas as palavras que eu dissesse
Sorrindo para mim cada momento
Por isso me confunde e entristece
A tua ausência, o teu afastamento
Ainda não consigo compreender
O que faz tomar tal atitude
Pois quem melhor pansamos conhecer
É quem mais fácilmente nos ilude
Cantando este poema para ti
Mais uma vez abri meu coração
Olha-me bem nos olhos e sorri
E diz-me que não és uma ilusão
Envelhecer
Maria Manuel Cid / Franklim Godinho *fado franklim 4as*
Repertório de Teresa Tarouca
Quando o fadista velhinho
Já não tem voz p’ra cantar
Começa a rezar baixinho
E principia a chorar
Tem pena da mocidade
Mas não lhe importa morrer
Que lhe importa de verdade
É sentir-se envelhecer
E da vida já vivida
Recordando a mocidade
Tenta viver outra vida
Toda feita de saudade
E o seu peito magoado
Já não tem voz p’ra cantar
Guarda no peito o seu fado
E prinicipia a chorar
Repertório de Teresa Tarouca
Quando o fadista velhinho
Já não tem voz p’ra cantar
Começa a rezar baixinho
E principia a chorar
Tem pena da mocidade
Mas não lhe importa morrer
Que lhe importa de verdade
É sentir-se envelhecer
E da vida já vivida
Recordando a mocidade
Tenta viver outra vida
Toda feita de saudade
E o seu peito magoado
Já não tem voz p’ra cantar
Guarda no peito o seu fado
E prinicipia a chorar
Caixeirinha do Grandella
Carlos Baleia / Nuno Nazareth Fernandes *fado caixeirinha*
Repertório de António Pinto Basto
Certa manhã no Grandella
Repertório de António Pinto Basto
Certa manhã no Grandella
Vi a bela caixeirinha
E preso nos olhos dela
E preso nos olhos dela
Quase esqueci ao que vinha
Pois beleza como aquela
Pois beleza como aquela
Dava-lhe um ar de rainha
E a simples entretela
E a simples entretela
Que era coisa pobrezinha
Só por roçar nas mãos dela
Só por roçar nas mãos dela
Era da seda, vizinha
Ai, a bela caixeirinha
Ai, a bela caixeirinha
Que morava na viela
Onde voltava à tardinha
Onde voltava à tardinha
Comigo sempre atrás dela
E na porta da tasquinha
E na porta da tasquinha
Plantei-me de sentinela
Guardando a rua estreitinha
Guardando a rua estreitinha
Que parecia larga e bela
Pois a beleza que tinha
Pois a beleza que tinha
Sendo enorme, era singela
E, sempre olhando p’ra ela
E, sempre olhando p’ra ela
Vi que o seu ar de rainha
Era a imagem mais bela
Era a imagem mais bela
Da Lisboa ribeirinha
Meus olhos não tirei dela
Meus olhos não tirei dela
Jurei que seria minha
Não há poder de um Grandella
Não há poder de um Grandella
Ou duma baixa inteirinha
Que impeça a caixeira bela
Que impeça a caixeira bela
De me dar o que eu não tinha
Com a paixão alfacinha
Com a paixão alfacinha
Inspirada p’la donzela
Decerto que se adivinha
Decerto que se adivinha
Que aquela caixeira bela
Que da baixa era rainha
Que da baixa era rainha
Deixou de ser do Grandella
E que a casa tão velhinha
E que a casa tão velhinha
Que antes era apenas dela
É agora também minha
É agora também minha
E o sol inunda a viela
Na voz dos trigais
Célia Barroca / Luís Petisca
Repertório de Célia Barroca
Fui um sonhador
Repertório de Célia Barroca
Fui um sonhador
Esculpi oceanos e mastros e velas
Tracei areais
Tracei areais
E nos verdes pinhais talhei caravelas
Fui aventureiro
Fui aventureiro
Num mar de paixão, de luz e de sombras
Um rude marinheiro
A tanger modinhas ao sabor das ondas
Já fui trovador nos paços reias
E fui lavrador
Um rude marinheiro
A tanger modinhas ao sabor das ondas
Já fui trovador nos paços reias
E fui lavrador
A escutar o mundo na voz dos trigais
Sou filho do povo e andei embarcado
Eu já fui à guerra, eu já fui soldado
Do mar e da terra me fiz namorado
Eu já fui profeta, eu já fui cantor
Eu já fui poeta, fiz trovas de amor
Já fui trovador
Sou filho do povo e andei embarcado
Eu já fui à guerra, eu já fui soldado
Do mar e da terra me fiz namorado
Eu já fui profeta, eu já fui cantor
Eu já fui poeta, fiz trovas de amor
Já fui trovador
Cantei a verdade
Eu já fui à guerra
E da guerra não trouxe
Eu já fui à guerra
E da guerra não trouxe
Nem pão, nem saudade
Quadras da minha solidão
Alda Lara / Jaime Santos *fado da bica*
Repertório de António Vasco Morais
Fica longe o sol que vi
Aquecer meu corpo outrora
Como é breve o sol daqui
E como é longa esta hora
Donde estou vejo partir
Repertório de António Vasco Morais
Fica longe o sol que vi
Aquecer meu corpo outrora
Como é breve o sol daqui
E como é longa esta hora
Donde estou vejo partir
Quem parte certo e feliz
Só eu fico e sonho ir
Só eu fico e sonho ir
Rumo ao sol do meu país
Mas dor de quê? dor de quem?
Mas dor de quê? dor de quem?
Se nada tenho a sofrer
Saudade, amor, sei lá bem
É qualquer coisa a morrer
E assim no pulso dos dias
Sinto chegar outro outono
Passam as horas esguias
Levando o meu abandono
Saudade, amor, sei lá bem
É qualquer coisa a morrer
E assim no pulso dos dias
Sinto chegar outro outono
Passam as horas esguias
Levando o meu abandono
No Tejo escrevi meu nome
Célia Barroca / Luís Petisca
Repertório de Célia Barroca
No Tejo escrevi meu nome
Com minhas mãos de criança
Com mil desejos de afagos
Entre risos e entre esp’rança
Areias foram ternura
Salgueiros foram abraço
E as águas cor de prata
O espelho do meu cansaço
Entre estevas e papoilas
Entre verdes canaviais
Trilhei caminhos descalços
Semeei fundo meus ais
Ao Tejo pedi sustento
Com minhas mãos lavadeiras
Nas doces águas do estio
Nas de inverno traiçoeiras
Ai que saudades que eu tenho
Dos tempos de rapariga
Quando a tristeza lavava
Nos versos duma cantiga
Ao tejo dei-me inteirinha
Dei minhas mãos lavadeiras
Dei minha alma de mulher
Num corpo de mil canseiras
Rio que corres p’ra tão longe
Os meus sonhos não mos leves
Que os momentos de alegria
São tão poucos, são tão breves
Repertório de Célia Barroca
No Tejo escrevi meu nome
Com minhas mãos de criança
Com mil desejos de afagos
Entre risos e entre esp’rança
Areias foram ternura
Salgueiros foram abraço
E as águas cor de prata
O espelho do meu cansaço
Entre estevas e papoilas
Entre verdes canaviais
Trilhei caminhos descalços
Semeei fundo meus ais
Ao Tejo pedi sustento
Com minhas mãos lavadeiras
Nas doces águas do estio
Nas de inverno traiçoeiras
Ai que saudades que eu tenho
Dos tempos de rapariga
Quando a tristeza lavava
Nos versos duma cantiga
Ao tejo dei-me inteirinha
Dei minhas mãos lavadeiras
Dei minha alma de mulher
Num corpo de mil canseiras
Rio que corres p’ra tão longe
Os meus sonhos não mos leves
Que os momentos de alegria
São tão poucos, são tão breves
Açorda d’alho
Joaquim Banza / Joaquim Marrafa
Repertório de António Pinto Basto
Repertório de António Pinto Basto
Participação do Grupo de Cante da Damaia
É fácil fazer, dá pouco trabalho
É água a ferver, coentros e alho
Coentros e alho e água a ferver
Dá pouco trabalho e é fácil fazer
Alhos, coentros e sal
Também se faz com poejo
Esse manjar que nasceu
Lá dentro do nosso Alentejo;
Depois dos alhos pisados
E com a água a ferver
Corta-se o pão aos bocados
Está pronta, vamos comer
Com o panito bem duro
E um ovo para escalfar
O azeite bom e puro
Não há melhor paladar;
Açorda com bacalhau
E azeitonas pisadas
Também não é nada mau
Com umas sardinhas assadas
Lembro-me, quando era moço
Antes de ir p’ró trabalho
Comer ao pequeno almoço
Uma bela açorda d’alho;
Já meus avós me diziam
A força que a açorda dá
Todos os dias comiam
E dez filhos já estão cá
É fácil fazer, dá pouco trabalho
É água a ferver, coentros e alho
Coentros e alho e água a ferver
Dá pouco trabalho e é fácil fazer
Alhos, coentros e sal
Também se faz com poejo
Esse manjar que nasceu
Lá dentro do nosso Alentejo;
Depois dos alhos pisados
E com a água a ferver
Corta-se o pão aos bocados
Está pronta, vamos comer
Com o panito bem duro
E um ovo para escalfar
O azeite bom e puro
Não há melhor paladar;
Açorda com bacalhau
E azeitonas pisadas
Também não é nada mau
Com umas sardinhas assadas
Lembro-me, quando era moço
Antes de ir p’ró trabalho
Comer ao pequeno almoço
Uma bela açorda d’alho;
Já meus avós me diziam
A força que a açorda dá
Todos os dias comiam
E dez filhos já estão cá
Terra queimada
Célia Barroca / Luís Martins
Repertório de Célia Barroca
Tanta terra já queimada
Tanto tojo a despontar
Tanta papoila encarnada
Tanto sonho por lavrar
Nesta terra abandonada
Tudo lembra o teu olhar
Corre o rio no seu leito
E em seu jeito, murmuro
Trovas que trago no peito
Acorda-me o rouxinól
E à noite o vento faz-me chorar
Nesta terra abandonada
Tudo lembra o teu cantar
Repertório de Célia Barroca
Tanta terra já queimada
Tanto tojo a despontar
Tanta papoila encarnada
Tanto sonho por lavrar
Nesta terra abandonada
Tudo lembra o teu olhar
Corre o rio no seu leito
E em seu jeito, murmuro
Trovas que trago no peito
Acorda-me o rouxinól
E à noite o vento faz-me chorar
Nesta terra abandonada
Tudo lembra o teu cantar
As sandálias cor-de-rosa
Eduardo Olímpio / Paco Bandeira
Repertório de António Pinto Basto
Não calces as sandálias cor-de-rosa
Essas sandálias são o meu martírio
Com elas tu desenhas verso em prosa
E fazes da calçada um chão de lírio
Se desces para Alfama, há uma viela
Que fica enamorada e a teus pés
Teus passos, toc-toc, uma aguarela
E o Tejo muda o curso das marés
As tuas sandálias
São duas Amálias
São Cesário Verde
Que em rimas se perde
Repertório de António Pinto Basto
Não calces as sandálias cor-de-rosa
Essas sandálias são o meu martírio
Com elas tu desenhas verso em prosa
E fazes da calçada um chão de lírio
Se desces para Alfama, há uma viela
Que fica enamorada e a teus pés
Teus passos, toc-toc, uma aguarela
E o Tejo muda o curso das marés
As tuas sandálias
São duas Amálias
Cantando a ternura
São o Marceneiro
Gingando certeiro
São o Marceneiro
Gingando certeiro
Como a vida é dura
São Cesário Verde
Que em rimas se perde
E como eu invejo
Fernando Pessoa
A namorar Lisboa
Fernando Pessoa
A namorar Lisboa
Que namora o Tejo
Se vais ao Bairro Alto ouvir um fado
Tuas sandálias pisam a ternura
Mesmo que o verso tenha um tom magoado
O teu andar é sempre uma aventura
O cor-de-rosa das tuas sandálias
Lembra um jardim florido em movimento
Ramos de rosas, de tulipas, de dálias
Que nunca foram minhas e eu lamento
Se vais ao Bairro Alto ouvir um fado
Tuas sandálias pisam a ternura
Mesmo que o verso tenha um tom magoado
O teu andar é sempre uma aventura
O cor-de-rosa das tuas sandálias
Lembra um jardim florido em movimento
Ramos de rosas, de tulipas, de dálias
Que nunca foram minhas e eu lamento
Memória de um tempo
Célia Barroca / Luís Petisca
Repertório de Célia Barroca
Rosa, que sonhaste?
Foi um sonho antigo!
Memória de um tempo
Que bate ao postigo
Rosa, que sonhaste
Que te fez chorar?
Sonhei-me menina
Repertório de Célia Barroca
Rosa, que sonhaste?
Foi um sonho antigo!
Memória de um tempo
Que bate ao postigo
Rosa, que sonhaste
Que te fez chorar?
Sonhei-me menina
Na rua esquecida
E que a meio da vida
E que a meio da vida
Me vem acordar
Deixa-me embalar na noite
Esse sonho sonho antigo
Verás que não volta
Se eu dormir contigo
Deixa-me embalar na noite
Esse sonho sonho antigo
Verás que não volta
Se eu dormir contigo
Deixa-me ficar na noite
Que bate ao postigo
Que o medo não volta
Se eu dormir contigo
Que bate ao postigo
Que o medo não volta
Se eu dormir contigo
A Graça
Letra e música de Amadeu Diniz da Fonseca
Repertório de António Pinto Basto
Ai que coisa sem graça
Tamanha desgraça a de não a ver
Já nem sei o que faça
Para que a Graça torne a aparecer
Ando de volta na Graça
Não sei que se passa nesta Lisboa
Não ver a Graça na Graça
Qual é a Graça? Não se perdoa!
Ó Graça aparece na Graça
Se alguém que passa não te quer bem
É gente que não tem graça
E inveja a Graça que a Graça tem
A Graça é tão engraçada
A sua graça não tem igual
Ao vê-la passar na Graça
Com sua graça tão natural
Por onde andará a Graça?
Graça escondida é minha tristeza
A Graça faz falta à Graça
Graça prendada da natureza
A Graça tão graciosa
Vai aparecer num dia qualquer
No meio da Graça, vaidosa
Abraço a Graça se ela quiser
Ó Graça por tua graça
Aparece na Graça, faço questão
Eu quero que saibas, Graça
Que te dou de graça o meu coração
Repertório de António Pinto Basto
Ai que coisa sem graça
Tamanha desgraça a de não a ver
Já nem sei o que faça
Para que a Graça torne a aparecer
Ando de volta na Graça
Não sei que se passa nesta Lisboa
Não ver a Graça na Graça
Qual é a Graça? Não se perdoa!
Ó Graça aparece na Graça
Se alguém que passa não te quer bem
É gente que não tem graça
E inveja a Graça que a Graça tem
A Graça é tão engraçada
A sua graça não tem igual
Ao vê-la passar na Graça
Com sua graça tão natural
Por onde andará a Graça?
Graça escondida é minha tristeza
A Graça faz falta à Graça
Graça prendada da natureza
A Graça tão graciosa
Vai aparecer num dia qualquer
No meio da Graça, vaidosa
Abraço a Graça se ela quiser
Ó Graça por tua graça
Aparece na Graça, faço questão
Eu quero que saibas, Graça
Que te dou de graça o meu coração
Minha amada Lisboa
Marco Oliveira / Tiago Derriça
Repertório de Marco Oliveira
A minha amada Lisboa
Tem o azul do tejo no olhar
Toda a cidade se ilumina
Quando penteia o seu cabelo ao luar
Conto as estrelas no seu rosto de menina
A minha amada Lisboa
Perfuma cada rua de saudade
E nas vitrinas da avenida
O seu vestido vais espelhando a claridade
Quando ela passa nos meus dias distraída
Que será das vielas e da ponte sobre o rio
Quando encontrar outro lugar nos sonhos dela
Se ela partir sem um adeus no seu navio
Não há-de haver outra cidade como ela
A minha amada Lisboa
Quer ver nascer o sol no meu inverno
Quer ver a chuva em pleno agosto
E andar molhada no Rossio um dia eterno
Quando ela dança o meu sorriso é fogo posto
Que será das vielas que deixou no meu olhar
Quando o luar vier espreitá-la na janela
Daquela casa que deixou sem avisar
Sei que Lisboa vai sentir a falta dela
Repertório de Marco Oliveira
A minha amada Lisboa
Tem o azul do tejo no olhar
Toda a cidade se ilumina
Quando penteia o seu cabelo ao luar
Conto as estrelas no seu rosto de menina
A minha amada Lisboa
Perfuma cada rua de saudade
E nas vitrinas da avenida
O seu vestido vais espelhando a claridade
Quando ela passa nos meus dias distraída
Que será das vielas e da ponte sobre o rio
Quando encontrar outro lugar nos sonhos dela
Se ela partir sem um adeus no seu navio
Não há-de haver outra cidade como ela
A minha amada Lisboa
Quer ver nascer o sol no meu inverno
Quer ver a chuva em pleno agosto
E andar molhada no Rossio um dia eterno
Quando ela dança o meu sorriso é fogo posto
Que será das vielas que deixou no meu olhar
Quando o luar vier espreitá-la na janela
Daquela casa que deixou sem avisar
Sei que Lisboa vai sentir a falta dela
Nas águas do meu navio
Afonso Duarte / Borges de Sousa
Repertório de Célia Barroca
Nas águas vai meu navio
Leva amor que se carrega
É na graça e no feitio
O meu olhar que navega
O mar bate-se na praia
E as águas curvam-se em ondas
É o meu olhar que desmaia
Nas suas formas redondas
Uma se quebra atrás duma
Meus olhos perderam olhos
Querira Deus que a sua espuma
Não traga um feixe de escolhos
São duas ondas de mar
Que se saúdam no rosto
Sendo ambas do meu olhar
Só uma travo com gosto
Repertório de Célia Barroca
Nas águas vai meu navio
Leva amor que se carrega
É na graça e no feitio
O meu olhar que navega
O mar bate-se na praia
E as águas curvam-se em ondas
É o meu olhar que desmaia
Nas suas formas redondas
Uma se quebra atrás duma
Meus olhos perderam olhos
Querira Deus que a sua espuma
Não traga um feixe de escolhos
São duas ondas de mar
Que se saúdam no rosto
Sendo ambas do meu olhar
Só uma travo com gosto
Fado amargura
Ana Sofia Paiva / Marco Oliveira *fado amargura*
Repertório de Marco Oliveira
Contemplo da janela a madrugada
Os carros vão varrendo as avenidas
Perfume de miséria adocicada
Que aos poucos embriaga as nossas vidas
Contemplo esta saudade rotineira
Manchando de vergonha toda a rua
A minha própria dor à cabeceira
Do tédio a que meu corpo se habitua
E as pombas, guardiãs do cemitério
Em que a velha cidade se transforma
Com asas de mortalha e de mistério
Cinzeiro que do céu todo se entorna
Contemplo este compasso de quebranto
Entre a vida que passa e a que ficou
Contemplo esta amargura que hoje canto
Contemplo e jã não sei dizer quem sou
Repertório de Marco Oliveira
Contemplo da janela a madrugada
Os carros vão varrendo as avenidas
Perfume de miséria adocicada
Que aos poucos embriaga as nossas vidas
Contemplo esta saudade rotineira
Manchando de vergonha toda a rua
A minha própria dor à cabeceira
Do tédio a que meu corpo se habitua
E as pombas, guardiãs do cemitério
Em que a velha cidade se transforma
Com asas de mortalha e de mistério
Cinzeiro que do céu todo se entorna
Contemplo este compasso de quebranto
Entre a vida que passa e a que ficou
Contemplo esta amargura que hoje canto
Contemplo e jã não sei dizer quem sou
Um dia atrás do outro
Tiago Torres da Silva / Pilar Homem de Melo
Repertório de Célia Barroca
Não olhes p’ra mim dessa maneira
Como se eu fosse jardim e tu roseira
Manhãs luminosas estão à espera
Então porque não dás rosas… é primavera
O amor é uma andorinha, quando sente frio
Enfrenta sózinha um céu vazio
O ninho do meu peito, o beiral de um telhado
Pelas tuas mãos desfeito, pelas minhas moldado
Não esperes do meu corpo uma rotina
Um dia atrás do outro não é sina
O sol atrás da lua e das marés
É assim que eu sou tua e tu não vês
Repertório de Célia Barroca
Não olhes p’ra mim dessa maneira
Como se eu fosse jardim e tu roseira
Manhãs luminosas estão à espera
Então porque não dás rosas… é primavera
O amor é uma andorinha, quando sente frio
Enfrenta sózinha um céu vazio
O ninho do meu peito, o beiral de um telhado
Pelas tuas mãos desfeito, pelas minhas moldado
Não esperes do meu corpo uma rotina
Um dia atrás do outro não é sina
O sol atrás da lua e das marés
É assim que eu sou tua e tu não vês
Que é feito da Mariquinhas?
Marco Oliveira e Ana Sofia Paiva / Marco Oliveira
Repertório de Marco Oliveira
Que é feito da Mariquinhas?
Há muito que ninguém a vê passar
Foi nas suas tamanquinhas
A casa já está pronta pr’alugar
Quem é que se lembrou de a pôr a andar?
Não se riam as vizinhas
Que dizem que foi desta p’ra pior
Só não sabem, coitadinhas
Quem ri por último é quem ri melhor
Vendeu o espelho e a colcha com barra
Ao preço dumas uvas miudinhas
Mas se ela deixou lá uma guitarra
Um dia há-de voltar, a Mariquinhas
Que é feito da Mariquinhas?
Ninguém sabe onde param as amigas
Correrem as capelinhas
Não há sinal daquelas raparigas
E vai um bairro inteiro prás urtigas
E a saga continua
Ainda vai no adro a procissão
Quem lá vai não se habitua
A falta que ela faz não tem perdão
Rifou as bambinelas mais a jarra
Os móveis e as cortinas às pintinhas
Mas se ela deixou lá uma guitarra
Um dia há-de voltar, a Mariquinhas
A rua está cada vez mais bizarra
Custam couro e cabelo umas ginginhas
O fado que gostava de algazarra
Perdeu a Rosa, o Chico e a Mariquinhas
Lisboa já não é como a cigarra
Espantaram os boémios alfacinhas
Mas se deixaste lá uma guitarra
Adeus, até à volta, Mariquinhas
Repertório de Marco Oliveira
Que é feito da Mariquinhas?
Há muito que ninguém a vê passar
Foi nas suas tamanquinhas
A casa já está pronta pr’alugar
Quem é que se lembrou de a pôr a andar?
Não se riam as vizinhas
Que dizem que foi desta p’ra pior
Só não sabem, coitadinhas
Quem ri por último é quem ri melhor
Vendeu o espelho e a colcha com barra
Ao preço dumas uvas miudinhas
Mas se ela deixou lá uma guitarra
Um dia há-de voltar, a Mariquinhas
Que é feito da Mariquinhas?
Ninguém sabe onde param as amigas
Correrem as capelinhas
Não há sinal daquelas raparigas
E vai um bairro inteiro prás urtigas
E a saga continua
Ainda vai no adro a procissão
Quem lá vai não se habitua
A falta que ela faz não tem perdão
Rifou as bambinelas mais a jarra
Os móveis e as cortinas às pintinhas
Mas se ela deixou lá uma guitarra
Um dia há-de voltar, a Mariquinhas
A rua está cada vez mais bizarra
Custam couro e cabelo umas ginginhas
O fado que gostava de algazarra
Perdeu a Rosa, o Chico e a Mariquinhas
Lisboa já não é como a cigarra
Espantaram os boémios alfacinhas
Mas se deixaste lá uma guitarra
Adeus, até à volta, Mariquinhas
Pena
*Rua Martin Vaz n°2*
Ana Sofia Paiva / Armandinho *alexandrino do estoril*Repertório de Marco Oliveira
Lisboa é uma criança perdida ao pé do mar
Sem casa onde dormir, trapeira onde morar
Brincando alheia à dor, ao vento que assobia
Por entre o doce véu de alguma gelosia
Lisboa é uma criança de crua pele morena
No pátio escuro e pobre da vila mais pequena
Lá vai descendo a rua, velhinha e descalçada
Vender laranja nova por pouco ou quase nada
Noturno passarinho, cativo de orfandade
Correr da doce mágoa ao colo da cidade
Deixando duras penas a quem quiser cantar
Lisboa é uma criança perdida ao pé do mar
Lágrima tola
Célia Barroca / Luís Petisca
Repertório da autora
Que lágrima tola percorre este fado
Sal derramado sem cor nem sentido
Mágoa tão amarga, não sei donde vem
De um sonho de alguém que o terá perdido
Mágoa tão antiga
Que já não me ocorre
Se é viva ou se morre
Que lágrima tola percorre este fado
Sal derramado p’la vida fugida
Que sal tão salgado, ai que água tão fria
Que lágrima tola percorre este dia
Repertório da autora
Que lágrima tola percorre este fado
Sal derramado sem cor nem sentido
Mágoa tão amarga, não sei donde vem
De um sonho de alguém que o terá perdido
Mágoa tão antiga
Que já não me ocorre
Se é viva ou se morre
Que lágrima tola percorre este fado
Sal derramado p’la vida fugida
Que sal tão salgado, ai que água tão fria
Que lágrima tola percorre este dia
Fado sem ti
Manuela de Freitas / João Black *fado menor do porto*
Repertório de Marco Oliveira
Sempre quis cantar um fado
Que não falasse de ti
E de tanto ter tentado
Finalmente consegui
Que só tu é que me inspiras
Repertório de Marco Oliveira
Sempre quis cantar um fado
Que não falasse de ti
E de tanto ter tentado
Finalmente consegui
Que só tu é que me inspiras
Que só de ti é que eu falo
Mentiras, tudo mentiras
Mentiras, tudo mentiras
Este fado vai prová-lo
Será um fado diferente
Será um fado diferente
De todos que já cantei
Falarei de toda a gente
Falarei de toda a gente
Mas de ti não falarei
Nem falo, não há razão
Nem falo, não há razão
Disto que sinto por ti
De seres a maior paixão
De seres a maior paixão
De todas que eu já vivi
E como vês meu amor
E como vês meu amor
Eu não cedo à tentação
Falo seja do que for
Falo seja do que for
Falar de ti é que não
E assim fica provado
E assim fica provado
Que tentei e consegui
Cantei finalmente um fado
Cantei finalmente um fado
Sem nunca falar de ti
Meu canto de viela
Artur Ribeiro / Amadeu Ramim *fado zeca*
Repertório de Fernando Maurício
Há neste meu cantar feito viela
Qualquer coisa sequer que não entendo
Que tanto podem ser saudades dela
Como queixas de mim que vou fazendo
Há neste meu cantar das madrugadas
Um anseio de ser o que não sou
Que tanto podem ser pequenos nadas
Como versos que mais ninguém cantou
Há neste meu cantar feito amargura
Coisas que nem sequer devo lembrar
E que me fazem ir p’la noite escura
À procura de quem não devo amar
Repertório de Fernando Maurício
Há neste meu cantar feito viela
Qualquer coisa sequer que não entendo
Que tanto podem ser saudades dela
Como queixas de mim que vou fazendo
Há neste meu cantar das madrugadas
Um anseio de ser o que não sou
Que tanto podem ser pequenos nadas
Como versos que mais ninguém cantou
Há neste meu cantar feito amargura
Coisas que nem sequer devo lembrar
E que me fazem ir p’la noite escura
À procura de quem não devo amar
Rua da saudade
Ana Sofia Paiva e Marco Oliveira / Marco Oliveira
Repertório de Marco Oliveira
Aquela rua
Repertório de Marco Oliveira
Aquela rua
Junto ao largo da infância
Onde a vida continua
A marcar uma distância
Quem nela mora
Vê o espelho doutra idade
Quando a tarde se demora
Nos olhos duma saudade
Na Rua da Saudade
Na Rua da Saudade
Não há cravos nas janelas
As portas ‘stão fechadas
Não há luz por dentro delas
Poeira do passado
Não há luz por dentro delas
Poeira do passado
Silêncio de oração
Molduras desmaiadas
Retratos de ilusão;
Na Rua da Saudade
Retratos de ilusão;
Na Rua da Saudade
Algo fica de quem parte
Um beijo, uma promessa
De amanhã reencontrar-te
Quem dera ver-te ainda
De amanhã reencontrar-te
Quem dera ver-te ainda
À espera de voltar
À Rua da Saudade
Que foi sempre o teu lugar
Naquela rua
À Rua da Saudade
Que foi sempre o teu lugar
Naquela rua
Ao largo de São Martinho
Vi brinquedos de madeira
Vi brinquedos de madeira
Um cavalo, um passarinho
Calçada escura
Calçada escura
Que Santo António abençoa
Ao relento da ternura
Ao relento da ternura
Coração de outra Lisboa
Na Rua da Saudade
Na Rua da Saudade
Ninguém passa sem chorar
O tempo de mansinho
Adormece a ver passar
Tão belas são as sombras
Adormece a ver passar
Tão belas são as sombras
Dos pátios ao luar
Saudades e encantos
De quem nos quer lembrar;
Saudades e encantos
De quem nos quer lembrar;
Algo fica de quem parte
Um beijo, uma promessa
De amanhã reencontrar-te
Quem dera ver-te ainda
De amanhã reencontrar-te
Quem dera ver-te ainda
À espera de voltar
À Rua da Saudade
Que foi sempre o teu lugar
À Rua da Saudade
Que foi sempre o teu lugar
Fado das docas
Letra e música de Célia Barroca
Repertório da autora
Corri Lisboa, becos escadinhas
Repertório da autora
Corri Lisboa, becos escadinhas
Do Bairro Alto à Madragoa
Segui-te o rastro
Neste meu passo que apresso e troco
Procurei-te o rosto
No fundo baço de mais um copo
Mas foi nas docas
Segui-te o rastro
Neste meu passo que apresso e troco
Procurei-te o rosto
No fundo baço de mais um copo
Mas foi nas docas
Mas foi nas docas
Que o teu olhar me encheu a noite
Que o teu olhar me encheu a noite
De rosas rubras
Deste-me a mão
Sorriu-me o Tejo e não vi mais nada
Pediste-me um beijo
Disse que sim dum’assentada
Cumpriu-se o amor já prometido
Num beijo aceso, num beijo aceso
Deste-me a mão
Sorriu-me o Tejo e não vi mais nada
Pediste-me um beijo
Disse que sim dum’assentada
Cumpriu-se o amor já prometido
Num beijo aceso, num beijo aceso
Num vão de escada p’la madrugada
Fado inventado
Tiago Torres da Silva / Joaquim Campos
Repertório de Célia Barroca
Inventei uma palavra
P’ra te dizer ao ouvido
De cada vez que acordava
Do teu beijo adormecido
Inventei um sentimento
Repertório de Célia Barroca
Inventei uma palavra
P’ra te dizer ao ouvido
De cada vez que acordava
Do teu beijo adormecido
Inventei um sentimento
P’ra trazer a eternidade
À doçura do momento
À doçura do momento
Em que se inventa a saudade
Inda inventei uma cor
Inda inventei uma cor
Que da chama duma vela
Fizesse abrir uma flor
Fizesse abrir uma flor
Mas não murchasse com ela
Depois, deixei-me dormir
Depois, deixei-me dormir
Ao sentir adormecer
O que não pode fugir
O que não pode fugir
De quem se inventa ao nascer
Inventei uma quimera
Inventei uma quimera
Que no escuro nos guiasse
E deixei-me estar à espera
E deixei-me estar à espera
Que o teu amor me inventasse
Eterna namorada
Ana Sofia Paiva / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Marco Oliveira
Lisboa, minha eterna namorada
Acordo quase sempre p’ra te ver
Tu és manhã tardia e sossegada
Dum tempo que eu não tenho p’ra perder
Mas quando eu dou por mim preso à janela
Poisado como as pombas e os pardais
Contemplo esta cidade em aguarela
Reparo que ela e eu somos iguais
O sono entristecido das cortinas
Ao vento côr-de-rosa, desmaiado
Estendendo a vida inteira p’las colinas
Na corda dum relógio já cansado
Ao longe, a voz antiga das canções
Magoa as margaridas dos quintais
Lisboa que envelhece os corações
No fundo eu e tu somos iguais
Repertório de Marco Oliveira
Lisboa, minha eterna namorada
Acordo quase sempre p’ra te ver
Tu és manhã tardia e sossegada
Dum tempo que eu não tenho p’ra perder
Mas quando eu dou por mim preso à janela
Poisado como as pombas e os pardais
Contemplo esta cidade em aguarela
Reparo que ela e eu somos iguais
O sono entristecido das cortinas
Ao vento côr-de-rosa, desmaiado
Estendendo a vida inteira p’las colinas
Na corda dum relógio já cansado
Ao longe, a voz antiga das canções
Magoa as margaridas dos quintais
Lisboa que envelhece os corações
No fundo eu e tu somos iguais
À hora da partida
Célia Barroca / Luís Petisca
Repertório da autora
À hora da partida, em cada voz
Um fado triste das vielas
À hora da partida
Minha alma é noite e ansiedade
No cais das descobertas, o meu navio
No meu navio flutua um sonho
Acendem-se as estrelas por meus guias
No cais das descobertas calou-se o fado
Lisboa não vive nem morre, Lisboa dorme
No coração um resto de saudade
Não cabem nesta hora despedidas
Chama por mim um mar de esquecimento
Cidade de chegadas, cidade de partidas
Não coube em ti meu sonho e meu tormento
Repertório da autora
À hora da partida, em cada voz
Um fado triste das vielas
À hora da partida
Minha alma é noite e ansiedade
No cais das descobertas, o meu navio
No meu navio flutua um sonho
Acendem-se as estrelas por meus guias
No cais das descobertas calou-se o fado
Lisboa não vive nem morre, Lisboa dorme
No coração um resto de saudade
Não cabem nesta hora despedidas
Chama por mim um mar de esquecimento
Cidade de chegadas, cidade de partidas
Não coube em ti meu sonho e meu tormento
De cada noite perdida
Marco Oliveira / João David Rosa *fado rosa*
Repertório de Marco Oliveira
Trago ruas e memórias
De cada noite perdida
São retratos das histórias
Do fado da própria vida
A vida que vai passando
Repertório de Marco Oliveira
Trago ruas e memórias
De cada noite perdida
São retratos das histórias
Do fado da própria vida
A vida que vai passando
Lembra mais um sonho ausente
As saudades vão ficando
As saudades vão ficando
No olhar de toda a gente
Quando a noite nos abraça
Quando a noite nos abraça
Nas ruas onde passamos
Há sempre alguém que lembramos
Há sempre alguém que lembramos
Num passado que não passa
A luz do céu da cidade
A luz do céu da cidade
Vem beijar a nossa calma
Como o tempo traz saudade
Como o tempo traz saudade
Às ruas da nossa da nossa alma
São retratos das histórias
São retratos das histórias
Do fado da própria vida
Trago ruas e memórias
Trago ruas e memórias
De cada noite perdida
Bebido o luar
Sophia Melo Breyner / Helena Maria Viana
Repertório de Maria do Rosário Bettencourt
Bebido o luar e ébrios de horizontes
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar
Mas solitários somos e passamos
Não são nossos os frutos nem as flores
O céu e o mar apagam-se em exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos
Porquê jardins que nós não colheremos
Límpidos nas auroras a nascer
Porquê o céu e o mar se não seremos
Nunca, os deuses capazes de os viver
Repertório de Maria do Rosário Bettencourt
Bebido o luar e ébrios de horizontes
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar
Mas solitários somos e passamos
Não são nossos os frutos nem as flores
O céu e o mar apagam-se em exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos
Porquê jardins que nós não colheremos
Límpidos nas auroras a nascer
Porquê o céu e o mar se não seremos
Nunca, os deuses capazes de os viver
Sombra
Hélia Correia / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Carlos do Carmo
No mais profundo da gente
Onde nem a vista alcança
Uma outra vida balança
Entre o passado e o presente
No mais profundo de nós
Repertório de Carlos do Carmo
No mais profundo da gente
Onde nem a vista alcança
Uma outra vida balança
Entre o passado e o presente
No mais profundo de nós
Onde ninguém se aventura
Anda a canção à procura
Anda a canção à procura
Da voz que lhe há-de dar voz
P’ra lá do muro assombrado
P’ra lá do muro assombrado
Onde nem luz se adivinha
Esvoaça aquela andorinha
Esvoaça aquela andorinha
Que vem morrer no meu fado
E dizem que a voz não vem
E dizem que a voz não vem
De particular garganta
Que não sabemos quem canta
Que não sabemos quem canta
Sempre que em nós canta alguém
Não somos mais que centelha
Não somos mais que centelha
Que a própria sombra acendeu
Mas basta um poema e o céu
Mas basta um poema e o céu
Que está tão longe e ajoelha
Conheces-me
José Fernandes Castro / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Ana Margarida Leal
Tu sabes bem quem eu sou
Onde estou / e onde vou
De mim sabes quase tudo
Sabes até que o meu fado
Marcado / p'lo teu passado
É um grito quase mudo
Tu conheces bem a cor
De mim sabes quase tudo
Sabes até que o meu fado
Marcado / p'lo teu passado
É um grito quase mudo
Tu conheces bem a cor
E o valor / que tem a dor
Quando a despedida vem
Conheces a realidade
Conheces a realidade
Da saudade / que m'invade
Pela saudade de alguém
A saudade é mais veloz
A saudade é mais veloz
Do que a voz / sempre que nós
Sentimos a alma fria
Para matar a frieza
Sentimos a alma fria
Para matar a frieza
E a tristeza / tão acesa
Canto por ti noite e dia
Cantando estou bem melhor
Canto por ti noite e dia
Cantando estou bem melhor
Tenho o vigor / e o fulgor
Que só o fado contém
Amor que não esqueci
Que só o fado contém
Amor que não esqueci
Canto por ti / e p'ra ti
Porque me conheces bem
Porque me conheces bem
Minha alma, meu fado
José Fernandes Castro / João Blak *fado menor do porto*
Dei a alma toda ao fado
Fui fadista a vida inteira
Neste jeito dedicado
De honrar a minha Madeira
Nasci fadista por sina
Sou fadista por condão
Mulher que já foi menina
Outono que foi Verão
Ainda tenho vontade
De mostrar com grande empenho
Esta alma que mantenho
Que a alma não tem idade
Vivo feliz, na certeza
De ter dado por inteiro
Este jeito verdadeiro
De ser mulher portuguesa
Repertório de Eugénia Maria
Dei a alma toda ao fado
Fui fadista a vida inteira
Neste jeito dedicado
De honrar a minha Madeira
Nasci fadista por sina
Sou fadista por condão
Mulher que já foi menina
Outono que foi Verão
Ainda tenho vontade
De mostrar com grande empenho
Esta alma que mantenho
Que a alma não tem idade
Vivo feliz, na certeza
De ter dado por inteiro
Este jeito verdadeiro
De ser mulher portuguesa
O lençol desta paixão
Bernardo Sá Nogueira / Carlos da Maia *fado perseguição
Repertório do autor
Gosto tanto de te ouvir
De olhar tua boca a abrir
A soltares teu coração
Que qualquer dia, p’ra ver
A teus pés irei estender
O lençol desta paixão
Vou falar que a alma aqueces
Que me abrasas e entonteces
Repertório do autor
Gosto tanto de te ouvir
De olhar tua boca a abrir
A soltares teu coração
Que qualquer dia, p’ra ver
A teus pés irei estender
O lençol desta paixão
Vou falar que a alma aqueces
Que me abrasas e entonteces
Com teu canto cristalino
Que ao escutar-te, já esquecido
Me sinto às vezes perdido
Que ao escutar-te, já esquecido
Me sinto às vezes perdido
Nas malhas do meu destino
Vou gritar: quero-te agora
Que me não basta uma hora
Vou gritar: quero-te agora
Que me não basta uma hora
Nem carinhos de ternura
Saberás, assim o espero
A razão por que te quero
Saberás, assim o espero
A razão por que te quero
Sem mágoas, nem amargura
Mas se efeito não fizer
Tudo o que então te disser
Mas se efeito não fizer
Tudo o que então te disser
Por agora eu fico assim
O meu desejo é imenso
Não raciocino, não penso
O meu desejo é imenso
Não raciocino, não penso
Quando estás ao pé de mim
Amor de madressilva
Cália Barroca / Popular / Luís Petista
Repertório da autora
Eu trago o beijo das rosas
O cheiro das madressilvas
Nos meus olhos, brilhos mansos
Nos lábios, doces cantigas
Trago ribeiras que riem
Por entre as pedras doiradas
Trago campos de papoilas
Em serenas madrugadas
Vai p’rá torre São João
Repertório da autora
Eu trago o beijo das rosas
O cheiro das madressilvas
Nos meus olhos, brilhos mansos
Nos lábios, doces cantigas
Trago ribeiras que riem
Por entre as pedras doiradas
Trago campos de papoilas
Em serenas madrugadas
Vai p’rá torre São João
Vai p’rá torre
Vai p’rá torre
São João de Barra
Vai p’rá torre, vai p’rá torre
Vai p’rá torre tocar guitarra
Trago o mistério da vida
No rio do meu desejo
Trago o amor a bailar
Nos olhos com que te vejo
Vai p’rá torre, vai p’rá torre
Vai p’rá torre tocar guitarra
Trago o mistério da vida
No rio do meu desejo
Trago o amor a bailar
Nos olhos com que te vejo
Vida curta anda depressa
Bernardo Sá Nogueira / Joaquim Campos *fado puxavante*
Repertório do autor
Num instante, num segundo
Vida curta anda depressa
Toda a beleza do mundo
Coração jamais apressa
Vivemos como imortais
Repertório do autor
Num instante, num segundo
Vida curta anda depressa
Toda a beleza do mundo
Coração jamais apressa
Vivemos como imortais
Mas sabendo, lá no fundo
Que as horas passam, fatais
Que as horas passam, fatais
Num instante, num segundo
Nossa existência se faz
Nossa existência se faz
Numa flecha e atravessa
O tempo, de trás a trás
O tempo, de trás a trás
Vida curta anda depressa
Sem parar por um só dia
Sem parar por um só dia
De meu fado a terra inundo
Devorando co’ alegria
Devorando co’ alegria
Toda a beleza do mundo
Nun galope, num rompante
Nun galope, num rompante
Sem que mar ou rio o impeça
Tua estrela rutilante
Tua estrela rutilante
Coração jamais apressa
Ai o fado
Célia Barroca / Luís Petisca
Repertório da autora
Ai o fado, o que é o fado
É a lágrima teimosa
Que teima sempre e que cai
O meu fado é mais um ai
A rimar com o passado
É este cantar chorado
Como uma prece de santa
E eu sou mais uma que canta
O amor que passa ao lado
Que passa por este fado
Ai o fado, o que é o fado
É o verso e o reverso que atravesso
Nestas horas a cismar
É a saudade a bailar
É a sombra do passado
É o amor que passa ao lado
E eu sou mais uma a cantar
Repertório da autora
Ai o fado, o que é o fado
É a lágrima teimosa
Que teima sempre e que cai
O meu fado é mais um ai
A rimar com o passado
É este cantar chorado
Como uma prece de santa
E eu sou mais uma que canta
O amor que passa ao lado
Que passa por este fado
Ai o fado, o que é o fado
É o verso e o reverso que atravesso
Nestas horas a cismar
É a saudade a bailar
É a sombra do passado
É o amor que passa ao lado
E eu sou mais uma a cantar
Procurei e encontrei
José Fernandes Castro /Alfredo Marceneiro *menor-versículo*
Repertório de Carlos Coelho
Procurei-te num poema / genial
Encontrei-te felizmente / meu amor
Tinhas a força suprema / divinal
Duma rima diferente / por compor
Rimavas com madrugada / por nascer
Rimavas com tempestade / sonhadora
Tinhas na pele perfumada / p’lo prazer
A essência da verdade / encantadora
Tinhas no corpo a vontade / renovada
Dum verso feito p’lo mar / do coração
Tinhas sol de liberdade / controlada
No teu doce respirar / por sedução
Tinhas marca de futuro / desejado
No perfil da tua imagem / singular
Em ti, tudo era puro / e sem pecado
Meu amor, minha coragem / para amar
Repertório de Carlos Coelho
Procurei-te num poema / genial
Encontrei-te felizmente / meu amor
Tinhas a força suprema / divinal
Duma rima diferente / por compor
Rimavas com madrugada / por nascer
Rimavas com tempestade / sonhadora
Tinhas na pele perfumada / p’lo prazer
A essência da verdade / encantadora
Tinhas no corpo a vontade / renovada
Dum verso feito p’lo mar / do coração
Tinhas sol de liberdade / controlada
No teu doce respirar / por sedução
Tinhas marca de futuro / desejado
No perfil da tua imagem / singular
Em ti, tudo era puro / e sem pecado
Meu amor, minha coragem / para amar
Este castigo
Célia Barroca / Luís Petisca
Repertório da autora
Quantos céus
Repertório da autora
Quantos céus
Quantas noites, quantos dias
Quantos sóis me alumiaram
Em pramessas de alegrias
Quantos voos
Quantos sóis me alumiaram
Em pramessas de alegrias
Quantos voos
Em primaveras de pranto
Cresceram no meu olhar
Se afundaram no meu canto
Quantas horas
Cresceram no meu olhar
Se afundaram no meu canto
Quantas horas
Neste morrer acordada
Quanta raiva no silêncio
Da minh’alma amordaçada
Tudo morre
Quanta raiva no silêncio
Da minh’alma amordaçada
Tudo morre
Só não morre este castigo
As dores do pensamento
Que arrasto sempre comigo
As dores do pensamento
Que arrasto sempre comigo
Poemas canhotos
Herberto Hélder / António Vitorino d’Almeida
Repertório de Carlos do Carmo
Estes poemas que chegam
Repertório de Carlos do Carmo
Estes poemas que chegam
Do meio da escuridão
De que ficamos incertos
De que ficamos incertos
Se têm autor ou não
Poemas às vezes perto
Poemas às vezes perto
Da nossa própria razão
Que nos podem fazer ver
Que nos podem fazer ver
O dentro da nossa morte
As forças fora de nós
As forças fora de nós
E a matéria da voz
Fabricada no mais fundo
Fabricada no mais fundo
De outro silêncio do mundo
Que serão eles senão
Que serão eles senão
Uma imensidão de voz
Que vem da terra calada
Que vem da terra calada
Do lado da solidão
Estes poemas que avançam
Estes poemas que avançam
No meio da escuridão
Até não serem mais nada
Até não serem mais nada
Que lápis, papel e mão
E esta tremenda atenção, este nada
Uma cegueira que apago
E esta tremenda atenção, este nada
Uma cegueira que apago
A luz por trás de outra mão
Tudo o que acende e me apaga
Tudo o que acende e me apaga
Alumiação de mais nada
Que a mão parada
Alumiação então
Que a mão parada
Alumiação então
De que esta mão me conduz
Por descaminhos de luz
Por descaminhos de luz
Ao centro da escuridão
Que é fácil a rima em Ão
Que é fácil a rima em Ão
Difícil é ver-se a luz
Rima ou não rima co’a mão
Rima ou não rima co’a mão
Saudade cantadeira
José Fernandes Castro / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de Angela Pimenta
A saudade foi ao fado
Mais uma vez com vontade
De pôr a alma à janela
Por lá ficou, lado a lado
Com a dona felicidade
Que também lá foi com ela
Ficaram juntas ao canto
Da sala, aonde os cantores
Repertório de Angela Pimenta
A saudade foi ao fado
Mais uma vez com vontade
De pôr a alma à janela
Por lá ficou, lado a lado
Com a dona felicidade
Que também lá foi com ela
Ficaram juntas ao canto
Da sala, aonde os cantores
Punham nostalgia em nós
E foi com algum espanto
Que ao ouvir falar d'amores
E foi com algum espanto
Que ao ouvir falar d'amores
A saudade ganhou voz
Cheia de brio e de garra
Movida p'la poesia
Cheia de brio e de garra
Movida p'la poesia
A saudade motivou-se
Depois, ao som da guitarra
Cantou com rara mestria
Depois, ao som da guitarra
Cantou com rara mestria
E o fado emocionou-se
Com o olhar marejado
Com a alma bem acesa
Com o olhar marejado
Com a alma bem acesa
E de peito a bater forte
A saudade e o senhor fado
Deram alma portuguesa
Deram alma portuguesa
Ao fado da nossa sorte
Bem-disposto então vá
Júlio Pomar / Paulo de Carvalho
Repertório de Carlos do Carmo
Bem-disposto então vá
Repertório de Carlos do Carmo
Bem-disposto então vá
Pão e vinho sobre a mesa
E cozido à portuguesa?
E cozido à portuguesa?
É sexta-feira, não há
Bem-disposto então vá
Bem-disposto então vá
No cavalo do poder
De burro, não chega lá
De burro, não chega lá
De mula, iremos ver
Bem-disposto então ó meu
Bem-disposto então ó meu
Quem é t’acaba o resto
Das cantigas de protesto?
Das cantigas de protesto?
Inda me passas a réu
Bem-disposto então vá
Bem-disposto então vá
Alevantado do chão
E o bem é da nação
E o bem é da nação
Acabou-se a festa, pá
Bem-disposto então vá
Bem-disposto então vá
Lá fora ver a mudança
Viver sempre também cansa
Viver sempre também cansa
Descanso é que não há
Bem-disposto então vá
Bem-disposto então vá
Que a fome não enganas
Saiam finos e bifanas
Saiam finos e bifanas
Para mais é que não há
Bem-disposto então vá
Bem-disposto então vá
E depois para limpar
Dava jeito um Salazar
Dava jeito um Salazar
Nem por brincadeira, pá
Pois zero de mão beijada
Pois zero de mão beijada
Te será dado de graça
No país que vai à praça
No país que vai à praça
Por pó, terra, cinza e nada
Sopro madeirense
José Fernandes Castro / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Maria José Figueira
O sopro do meu fado é um poema
Que canto à minha Ilha da Madeira
Poema que só tem força suprema
Por ser cantado assim desta maneira
Cantando com prazer e com rigor
Sentida pela alma que hoje sou
A força deste fado tem a cor
Da fé que o céu da ilha me ensinou
A minha condição de ser fadista
É culpa desta raça portuguesa
Que não se compra, apenas se conquista
Com brio e com muito mais nobreza
O sopro do meu canto é este amor
Que faz de mim um ser abençado
Bendito este jardim encantador
Bendita esta Madeira do meu fado
Repertório de Maria José Figueira
O sopro do meu fado é um poema
Que canto à minha Ilha da Madeira
Poema que só tem força suprema
Por ser cantado assim desta maneira
Cantando com prazer e com rigor
Sentida pela alma que hoje sou
A força deste fado tem a cor
Da fé que o céu da ilha me ensinou
A minha condição de ser fadista
É culpa desta raça portuguesa
Que não se compra, apenas se conquista
Com brio e com muito mais nobreza
O sopro do meu canto é este amor
Que faz de mim um ser abençado
Bendito este jardim encantador
Bendita esta Madeira do meu fado
Vai devagar coração
António Rocha / Raúl Pinto *fado raul pinto*
Repertório de António Rocha
Silêncio em horas perdidas
São meus tristes pensamentos
Vai devagar coração
P’ra não viveres duas vidas
Nestes escassos momentos
De doce recordação
Coração, não me condenes
Porque te faço sentir
Que segues caminho errado
Mas eeu não quero que penes
Nem te deixes iludir
Na mentira do meu fado
Fado que não te convém
Porque não tem pró guiar
O calor daquela mão
Que há muito espero e não vem
Não te deixes arrastar
Vai devagar coração
Repertório de António Rocha
Silêncio em horas perdidas
São meus tristes pensamentos
Vai devagar coração
P’ra não viveres duas vidas
Nestes escassos momentos
De doce recordação
Coração, não me condenes
Porque te faço sentir
Que segues caminho errado
Mas eeu não quero que penes
Nem te deixes iludir
Na mentira do meu fado
Fado que não te convém
Porque não tem pró guiar
O calor daquela mão
Que há muito espero e não vem
Não te deixes arrastar
Vai devagar coração
Não voltes
Moita Girão / Pedro Rodrigues
Repertório de Fernando Maurício
Porque teimas em seguir
Cegamente a caminhar
Na poeira dos meus passos
Não vês que eu ando a fugir
A fugir de te apertar
Novamente nos meus braços
Desde o dia em que abalaste
Do jardim do nosso amor
Repertório de Fernando Maurício
Porque teimas em seguir
Cegamente a caminhar
Na poeira dos meus passos
Não vês que eu ando a fugir
A fugir de te apertar
Novamente nos meus braços
Desde o dia em que abalaste
Do jardim do nosso amor
A saudade não se mede
As rosas murcham na haste
Os cravos perdem a cor
As rosas murcham na haste
Os cravos perdem a cor
E os lírios morrem à sede
Se o inverno se avizinha
Se o inverno se avizinha
Eu já sou não como era
Cai tanta neve em meu peito
Não podes ser andorinha
Que volta na primavera
Não podes ser andorinha
Que volta na primavera
Ao ninho que deixou feito
Sabes que não sei mentir
Se hoje só te posso dar
Sabes que não sei mentir
Se hoje só te posso dar
Um coração em pedaços
Deixa-me andar a fugir
A fugir de te apertar
Deixa-me andar a fugir
A fugir de te apertar
Novamente nos meus braços
Mariquinhas.com
Vasco Graça Moura / Paulo de Carvalho
Repertório de Carlos do Carmo
A quem quer pintar o sete
À moda dos alfacinhas
Dá bem mais do que promete
A formosa Mariquinhas
Consta que já reabriu
Repertório de Carlos do Carmo
A quem quer pintar o sete
À moda dos alfacinhas
Dá bem mais do que promete
A formosa Mariquinhas
Consta que já reabriu
A Casa da Mariquinhas
E que tem as amiguinhas
E que tem as amiguinhas
Mais lindas que já se viu
Quem o disse, sugeriu
Quem o disse, sugeriu
Que se vá ver na internet
O site dela promete
O site dela promete
Só meiguices e fosquinhas
E diz mais nas entrelinhas
E diz mais nas entrelinhas
A quem quer pintar o sete
Será caro mas é bom
Será caro mas é bom
Não vos sei dizer o preço
É este o seu endereço
É este o seu endereço
Mariquinhas ponto com
Tem mobílias de bom tom
Tem mobílias de bom tom
E discretas tabuínhas
E até vende camisinhas
E até vende camisinhas
Para os encontros brejeiros
Vão lá muitos estrangeiros
Vão lá muitos estrangeiros
À moda dos alfacinhas
Faz-se em duas ou três linhas
Faz-se em duas ou três linhas
Uma marcação de amor
E se está muito calor
E se está muito calor
Há no tecto as ventoinhas
Quando chega a Mariquinhas
Quando chega a Mariquinhas
Com escassa toilette
Logo os corações derrete
Logo os corações derrete
Por ser boa rapariga
Não faltando até quem diga
Não faltando até quem diga
Dá bem mais do que promete
O progresso é mesmo assim
O progresso é mesmo assim
Hoje não há nada inédito
Usa-se o cartão de crédito
Usa-se o cartão de crédito
Paga-se antes e no fim
O sabão cheira a jasmim
O sabão cheira a jasmim
E as bebidas são fresquinhas
Se é altiva entre as vizinhas
Se é altiva entre as vizinhas
Virtuosa não será
Mas virtual se fez já
Mas virtual se fez já
A formosa Mariquinhas
Canção
Sophia de Mello Breyner / Mário Pacheco
Repertório de Carlos do Carmo
Clara uma canção
Rente à noite calada
Cismo sem atenção
Com a alma velada
A vida encontrei-a
Repertório de Carlos do Carmo
Clara uma canção
Rente à noite calada
Cismo sem atenção
Com a alma velada
A vida encontrei-a
Tão desencontrada
Embora a lua cheia
E a noite extasiada
A vida mostrou-se
A vida mostrou-se
Caminho de nada
Embora brilhasse
Embora brilhasse
Lua sobre a estrada
Como se a beleza
Como se a beleza
Da lua ou do mar
Nada mais dissesse
Nada mais dissesse
Que o próprio brilhar
Por esta razão
Por esta razão
Sem riso nem pranto
Neste sem sentido
Neste sem sentido
Se rompe o encanto
Estou bem
Capicua / Ricardo Cruz
Repertório de Inês de Vasconcellos
Fiz a cama de lavado
E com papel perfumado
Repertório de Inês de Vasconcellos
Fiz a cama de lavado
E com papel perfumado
Forrei a minha gaveta
Duas gotas de lavanda
E sentei-me na varanda
Duas gotas de lavanda
E sentei-me na varanda
A beber um chá de menta
O gato deitado no colo
Ouço Coltrane num solo
O gato deitado no colo
Ouço Coltrane num solo
A tocar no gira-discos
Olho a cidade serena
Que até parece pequena
Olho a cidade serena
Que até parece pequena
No sossego dos chuviscos
Estou bem
Assim sem ninguém
Estou bem
Assim sem ninguém
Tão bem
Sabe tão bem saber
Sabe tão bem saber
Estar em solidão
Como também
Quando a companhia vem
Estou bem
Como também
Quando a companhia vem
Estou bem
Sabendo bem
Saborear a confusão
A sala silenciosa
Parece estar ansiosa
A sala silenciosa
Parece estar ansiosa
Que retorne o frenesim
Mas eu aproveito o tempo
Faço render o momento
Mas eu aproveito o tempo
Faço render o momento
De ter espaço só pra mim
Aconchego-me na manta
Abro um livro, mas às tantas
Aconchego-me na manta
Abro um livro, mas às tantas
Vou deixando o sono ler
Quando uma mão pequenina
Me acorda com uma festinha
Me acorda com uma festinha
E a casa volta a encher
Jogo do lenço
José Saramago / Joaquim Campos *fado puxavante estilado*
Repertório de Carlos do Carmo
Trago no bolso do peito
Um lenço de seda fina
Dobrado de certo jeito
Não sei quem tanto lhe ensina
Que quanto faz, é bem feito
Acena nas despedidas
Quando a voz já lá não chega
Por distâncias desmedidas
Depois no bolso aconchega
As saudades permitidas
Nunca mais chegava ao fim
Se as graças todas dissesse
Deste meu lenço e de mim
Mas uma coisa acontece
De que não sei porque sim
Quando os meus olhos molhados
Pedem auxílio do lenço
São pedidos escusados
E é bem por isso que penso
Que os meus olhos, se molhados
Só se enxugam no teu lenço
Repertório de Carlos do Carmo
Trago no bolso do peito
Um lenço de seda fina
Dobrado de certo jeito
Não sei quem tanto lhe ensina
Que quanto faz, é bem feito
Acena nas despedidas
Quando a voz já lá não chega
Por distâncias desmedidas
Depois no bolso aconchega
As saudades permitidas
Nunca mais chegava ao fim
Se as graças todas dissesse
Deste meu lenço e de mim
Mas uma coisa acontece
De que não sei porque sim
Quando os meus olhos molhados
Pedem auxílio do lenço
São pedidos escusados
E é bem por isso que penso
Que os meus olhos, se molhados
Só se enxugam no teu lenço
Fado das amarguras
Vasco Graça Moura / Rogério Charraz
Repertório de Inês de Vasconcellos
Meu amor, se me és o mundo
Nestas minhas desventuras
Podes ver quanto me afundo
No lodo das amarguras
No lodo das amarguras
Não posso viver contente
De meu próprio natural
O meu bem corre-me mal
E o meu mal é recorrente;
Mas a mim infelizmente
Parece que mais abundo
Em tristezas num segundo
Do que os mais em toda a vida;
És a história repetida
Meu amor, se me és o mundo
Eu dei, tu deste, nós demos
Um ao outro a vida acesa
Tinha a força da represa
Darmos tudo o que pudemos;
E as palavras que dissemos
De paixão e ardente juras
Os afagos, as ternuras
Tudo isso agora parece;
Que não trava o que acontece
Nestas minhas desventuras
Repertório de Inês de Vasconcellos
Meu amor, se me és o mundo
Nestas minhas desventuras
Podes ver quanto me afundo
No lodo das amarguras
No lodo das amarguras
Não posso viver contente
De meu próprio natural
O meu bem corre-me mal
E o meu mal é recorrente;
Mas a mim infelizmente
Parece que mais abundo
Em tristezas num segundo
Do que os mais em toda a vida;
És a história repetida
Meu amor, se me és o mundo
Eu dei, tu deste, nós demos
Um ao outro a vida acesa
Tinha a força da represa
Darmos tudo o que pudemos;
E as palavras que dissemos
De paixão e ardente juras
Os afagos, as ternuras
Tudo isso agora parece;
Que não trava o que acontece
Nestas minhas desventuras
Canção de vida
Letra e música de Jorge Palma
Repertório de Carlos do Carmo
Nascemos tão furiosamente sábios
Dispensamos a razão
Corremos com sorrisos nos lábios
De encontro ao mundo em contramão
Crescemos descortinando o nosso fado
Desvendando a nossa voz
Mantemos bem-acondicionado
O fugitivo que há em nós
E tu, tu que nem sempre me entendes
Mas que tão bem sabes aconchegar
Aquele que eu sou
Talvez num breve instante, ao olhares-me
Consigas simplesmente, sem pudor
Rever-te em mim
Às vezes nada nos pode causar medo
Tudo corre de feição
Revezes também constam no enredo
Pois não há bela sem senão
Mais tarde valorizamos a inocência
E o que dela resta em nós
Mais tarde temos plena consciência
De que o final é sempre a sós
Repertório de Carlos do Carmo
Nascemos tão furiosamente sábios
Dispensamos a razão
Corremos com sorrisos nos lábios
De encontro ao mundo em contramão
Crescemos descortinando o nosso fado
Desvendando a nossa voz
Mantemos bem-acondicionado
O fugitivo que há em nós
E tu, tu que nem sempre me entendes
Mas que tão bem sabes aconchegar
Aquele que eu sou
Talvez num breve instante, ao olhares-me
Consigas simplesmente, sem pudor
Rever-te em mim
Às vezes nada nos pode causar medo
Tudo corre de feição
Revezes também constam no enredo
Pois não há bela sem senão
Mais tarde valorizamos a inocência
E o que dela resta em nós
Mais tarde temos plena consciência
De que o final é sempre a sós
Ao correr da pele
Letra e música de Amélia Muge
Repertório de Nathalie Pires
O meu amor tem a pele tão macia
A sede nele não tem valia
O meu amor é um cravo de rosa ao peito
Aroma escravo com que me enfeito
Só mais uma coisa vos digo
Já muito em segredo
Ao brincar comigo
Pega num pião
Feito do meu coração
E gira com ele sem medo
O meu amor se está brando é uma lentura
Nada falando pela ternura
O meu amor parece de veludo
Eu faço dele o meu sobretudo
O meu amor tem a pele tão macia
O meu amor é um cravo de rosa ao peito
O meu amor se está brando é uma lentura
Parece de veludo
Eu faço dele o meu sobretudo
Repertório de Nathalie Pires
O meu amor tem a pele tão macia
A sede nele não tem valia
O meu amor é um cravo de rosa ao peito
Aroma escravo com que me enfeito
Só mais uma coisa vos digo
Já muito em segredo
Ao brincar comigo
Pega num pião
Feito do meu coração
E gira com ele sem medo
O meu amor se está brando é uma lentura
Nada falando pela ternura
O meu amor parece de veludo
Eu faço dele o meu sobretudo
O meu amor tem a pele tão macia
O meu amor é um cravo de rosa ao peito
O meu amor se está brando é uma lentura
Parece de veludo
Eu faço dele o meu sobretudo
O olhar e a morte
António Calém / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de João Braga
Há olhares que matam sem viver
Eu vi um dia alguém à luz da lua
E nesse alguém eu senti-me anoitecer
E nessa voz ainda ouvi: sou tua
Depois, veio outra noite e outra vida
Unidos num só corpo e tão distantes
Que mais parecia a sombra dolorida
Da luz do sol que então éramos dantes
Mas hoje nada resta do que fomos
Morreu a esperança vã de te sonhar
Em mim ficaram apenas os meus sonhos
E o nada que ficou em teu lugar
Repertório de João Braga
Há olhares que matam sem viver
Eu vi um dia alguém à luz da lua
E nesse alguém eu senti-me anoitecer
E nessa voz ainda ouvi: sou tua
Depois, veio outra noite e outra vida
Unidos num só corpo e tão distantes
Que mais parecia a sombra dolorida
Da luz do sol que então éramos dantes
Mas hoje nada resta do que fomos
Morreu a esperança vã de te sonhar
Em mim ficaram apenas os meus sonhos
E o nada que ficou em teu lugar
Fado em amor perfeito
João Barge / Pedro Moreira
Repertório de Nathalie Pires
Meu amor, amor em chamas
Feito de noite e de lume
Coração onde derramas
Toda a cor do teu perfume
Meu amor, amor amante
Repertório de Nathalie Pires
Meu amor, amor em chamas
Feito de noite e de lume
Coração onde derramas
Toda a cor do teu perfume
Meu amor, amor amante
Amor de perdas e danos
Eterno como o instante
Eterno como o instante
De nós termos vinte anos
Meu amor, amor liberto
Meu amor, amor liberto
Feito de sal e luar
Mora tão longe ou tão perto
Mora tão longe ou tão perto
Do que tens para me dar
Meu amor, amor perfeito
Meu amor, amor perfeito
Preso na cor das cerejas
Não cabe dentro do peito
Não cabe dentro do peito
Por saber que me desejas
Meu amor, amor inteiro
Meu amor, amor inteiro
Cheio de luz e de sombra
Vai num olhar derradeiro
Vai num olhar derradeiro
Vem nos olhos de uma pomba
Cântico negro
José Régio
“Vem por aqui”
Dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços
“Vem por aqui”
Dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços
E seguros de que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos
Há, nos olhos meus, ironias e cansaços
E cruzo os braços, e nunca vou por ali
A minha glória é esta: criar desumanidade
Não acompanhar ninguém
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos
Redemoinhar aos ventos como farrapos
Arrastar os pés sangrentos, a ir por aí...
Se vim ao mundo
Eu olho-os com olhos lassos
Há, nos olhos meus, ironias e cansaços
E cruzo os braços, e nunca vou por ali
A minha glória é esta: criar desumanidade
Não acompanhar ninguém
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos
Redemoinhar aos ventos como farrapos
Arrastar os pés sangrentos, a ir por aí...
Se vim ao mundo
Foi só para desflorar florestas virgens
E desenhar meus próprios pés
E desenhar meus próprios pés
Na areia inexplorada
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos
Ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
Corre, nas vossas veias
Ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
Corre, nas vossas veias
Sangue velho dos avós
E vós amais o que é fácil
Eu amo o longe e a miragem
E vós amais o que é fácil
Eu amo o longe e a miragem
Amo os abismos
As torrentes, os desertos
Ide!... Tendes estradas, tendes jardins
As torrentes, os desertos
Ide!... Tendes estradas, tendes jardins
Tendes canteiros, tendes pátria
Tendes tetos, e tendes regras
Tendes tetos, e tendes regras
E tratados, e filósofos, e sábios
Eu tenho a minha loucura
Levanto-a, como um facho
Eu tenho a minha loucura
Levanto-a, como um facho
A arder na noite escura
E sinto espuma, e sangue
E sinto espuma, e sangue
E cânticos nos lábios
Deus e o Diabo é que guiam
Deus e o Diabo é que guiam
Mais ninguém
Todos tiveram pai
Todos tiveram pai
Todos tiveram mãe
Mas eu, que nunca principio nem acabo
Nasci do amor que há
Mas eu, que nunca principio nem acabo
Nasci do amor que há
Entre Deus e o Diabo
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções
Ninguém me peça definições
Ninguém me diga: "vem por aqui"
A minha vida é um vendaval que se soltou
É uma onda que se alevantou
É um átomo a mais que se animou
Não sei por onde vou, não sei para onde vou
Sei que não vou por aí
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções
Ninguém me peça definições
Ninguém me diga: "vem por aqui"
A minha vida é um vendaval que se soltou
É uma onda que se alevantou
É um átomo a mais que se animou
Não sei por onde vou, não sei para onde vou
Sei que não vou por aí
Amor incurável
Telmo Pires / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Nathalie Pires
Voltaste e eu caí na tentação
De sentir dos teus braços, o calor
Voltei a enganar meu coração
Sabendo-te incapaz de dar amor
Essa força que me atrai e me fascina
Impossível resistir ao teu olhar
É loucura esta paixão que me domina
Sentimentos que não posso controlar
E depois de fazer-nos tanto mal
Ferir-nos, uma outra e outra vez
Parece ser mas não, não é normal
Perdemos toda a nossa lucidez
Este amor é um mal que não tem cura
É doença que aumenta sem parar
Dois loucos que perdidos na loucura
Encontram mil razões para sonhar
Repertório de Nathalie Pires
Voltaste e eu caí na tentação
De sentir dos teus braços, o calor
Voltei a enganar meu coração
Sabendo-te incapaz de dar amor
Essa força que me atrai e me fascina
Impossível resistir ao teu olhar
É loucura esta paixão que me domina
Sentimentos que não posso controlar
E depois de fazer-nos tanto mal
Ferir-nos, uma outra e outra vez
Parece ser mas não, não é normal
Perdemos toda a nossa lucidez
Este amor é um mal que não tem cura
É doença que aumenta sem parar
Dois loucos que perdidos na loucura
Encontram mil razões para sonhar
Eu tenho tanta pena… pai
Letra e música de José Gonçalez
Repertório de José Gonçalez
Eu tenho tanta pena
Que não possas ‘star comigo
Agora que o presente se desenha
Sobre o meu passado antigo
Eu tenho tanta pena
Dessas coisas do destino
Quando a história é a resenha
Dum homem que foi menino
Mas eu tenho é a vontade
Repertório de José Gonçalez
Eu tenho tanta pena
Que não possas ‘star comigo
Agora que o presente se desenha
Sobre o meu passado antigo
Eu tenho tanta pena
Dessas coisas do destino
Quando a história é a resenha
Dum homem que foi menino
Mas eu tenho é a vontade
De te poder dar a mão
Dar um murro na saudade
Dar um murro na saudade
Que me prende à solidão;
Quero abrir uma janela
Quero abrir uma janela
E deixar o sol entrar
E pintar uma aguarela
E pintar uma aguarela
Onde tu possas morar;
E depois dou-te umas asas
P’ra que tu possas voar
Eu tenho tanta pena
De não ‘stares aqui agora
Quando a vida me acena
Com os meus sonhos de outrora
Eu tenho tanta pena
De tudo o que já lá vai
Da tua voz amena
De poder chamar-te pai
E depois dou-te umas asas
P’ra que tu possas voar
Eu tenho tanta pena
De não ‘stares aqui agora
Quando a vida me acena
Com os meus sonhos de outrora
Eu tenho tanta pena
De tudo o que já lá vai
Da tua voz amena
De poder chamar-te pai
Soledad
Cecília Meireles / Alain Oulman
Repertório de Amália
Soledad… antes que o sol se vá
Como um pássaro perdido
Também te direi adeus
Soledad, soledad
Também te direi adeus
Terra… terra morrendo de fome
Pedras secas, folhas bravas
Ai quem te pôs esse nome
Soledad, soledad
Sabia o que são palavras
Antes que o sol se vá
Como um sonho de agonia
Cairás dos olhos meus, Soledad
Indiazinha… indiazinha tão sentada
Na cinza do chão deserta
Que pensas, não pensas nada
Soledad, soledad
Que a vida é toda secreta
Como estrela…
Repertório de Amália
Soledad… antes que o sol se vá
Como um pássaro perdido
Também te direi adeus
Soledad, soledad
Também te direi adeus
Terra… terra morrendo de fome
Pedras secas, folhas bravas
Ai quem te pôs esse nome
Soledad, soledad
Sabia o que são palavras
Antes que o sol se vá
Como um sonho de agonia
Cairás dos olhos meus, Soledad
Indiazinha… indiazinha tão sentada
Na cinza do chão deserta
Que pensas, não pensas nada
Soledad, soledad
Que a vida é toda secreta
Como estrela…
Como estrela nestas cinzas
Antes que o sol se vá
Nem depois não virá Deus
Soledad, soledad
Nem depois não virá Deus
Pois só ele explicaria
A quem teu destino serve
Sem mágoa nem alegria
Um coração tão breve
Também te direi adeus, Soledad
Antes que o sol se vá
Nem depois não virá Deus
Soledad, soledad
Nem depois não virá Deus
Pois só ele explicaria
A quem teu destino serve
Sem mágoa nem alegria
Um coração tão breve
Também te direi adeus, Soledad
Lisboa
Letra e música de João Paulo Esteves da Silva
Repertório de Nathalie Pires
Desespero de acabar
Já não se fala de amor
A neblina da saudade vai mudar de cor
Ficas tão perto do mar
Que o sol já perde o sabor
Cai a noite, não faz mal
Repertório de Nathalie Pires
Desespero de acabar
Já não se fala de amor
A neblina da saudade vai mudar de cor
Ficas tão perto do mar
Que o sol já perde o sabor
Cai a noite, não faz mal
Se ficar ou se me for
Vem, anda correr a cidade
Vem, anda correr a cidade
Não há pressa de partir
A estátua da liberdade deixa lá fugir
Não sinto grande vontade de dançar
Vais-te embora tu também
Não há tempo de acabar
A estátua da liberdade deixa lá fugir
Não sinto grande vontade de dançar
Vais-te embora tu também
Não há tempo de acabar
O que acaba no amor
E dói muito esta verdade
Talvez até mais que o fim da dor
Ficas tão perto do mar
Que o sol já perde o sabor
Cai a chuva nos meus ombros
É talvez melhor
Anda correr a cidade,
E dói muito esta verdade
Talvez até mais que o fim da dor
Ficas tão perto do mar
Que o sol já perde o sabor
Cai a chuva nos meus ombros
É talvez melhor
Anda correr a cidade,
Não há pressa de partir
A estátua da liberdade deixa lá fugir
Não sinto grande vontade
A estátua da liberdade deixa lá fugir
Não sinto grande vontade
De dançar, estar a sorrir
Vais-te embora, vou também
Não há tempo de acabar
Vais-te embora, vou também
Não há tempo de acabar
O que acaba no amor
E dói muito esta verdade
Talvez até mais que o fim da dor
E dói muito esta verdade
Talvez até mais que o fim da dor
A lenda do fado
António Mendes / Franklim Godinho
Repertório de Ana Maurício
Dizem que o fado nasceu
Numa noite triste e fria
Na mais humilde viela
Quando uma estrela do céu
Foi cair na Mouraria
Nos degraus da porta dela
Cota a lenda dessa era
Que esse menino sagrado
Repertório de Ana Maurício
Dizem que o fado nasceu
Numa noite triste e fria
Na mais humilde viela
Quando uma estrela do céu
Foi cair na Mouraria
Nos degraus da porta dela
Cota a lenda dessa era
Que esse menino sagrado
Que veio à terra por bem
Entrou dentro da Severa
Porque ela chamou-lhe fado
Entrou dentro da Severa
Porque ela chamou-lhe fado
E o fado chamou-lhe mãe
Há quem se atreva a contar
Quando a Severa morreu
Há quem se atreva a contar
Quando a Severa morreu
E o deixou na orfandade
O fado pôs-se a chorar
A boa mãe que perdeu
O fado pôs-se a chorar
A boa mãe que perdeu
E assim nasceu a saudade
Por isso é que o fado é triste
Porque chora muitas vezes
Por isso é que o fado é triste
Porque chora muitas vezes
E também nos faz chorar
É porque a tristeza existe
Na alma dos portugueses
É porque a tristeza existe
Na alma dos portugueses
Quando ouve o fado cantar
Gare do Oriente
Amélia Muge / Ricardo Dias
Repertório de Nathalie Pires
Num rendilhar de velas postas
Chamam por mim por todo o mundo
Têm um espelho de água ao fundo
São uma asa aberta ao voo
Do que é partir e regressar
No meio há um mercado
Onde se vendem coisas soltas
Há quem lá passe apreçando a cor
Brilhando na pedrinha
Do cheiro que tem nome de flor
Ao canto há um café aonde tu paraste
E diz o teu olhar a hora de embarcar
Mas não diz quando chegaste
Já bailam as escadas
Sobem os elevadores
Correm sombras e há um vai e vem
São pernas apressando amores
Que foi, o que aconteceu
Alguém procura o que perdeu
E há uma luz que se reflete e bate em cheio
Nesse olhar que é tão passageiro
P’ra lá daquele vidro, do chão assim traçado
Há um atraso, um horário atrasado
O calor diz que fique
Eu sei, chove em Munique
E aqui estou nesta Gare
Que se chama de Oriente
E nela vejo o teu olhar que diz
Que é daqui, dali, ele é qualquer lugar
Repertório de Nathalie Pires
Num rendilhar de velas postas
Chamam por mim por todo o mundo
Têm um espelho de água ao fundo
São uma asa aberta ao voo
Do que é partir e regressar
No meio há um mercado
Onde se vendem coisas soltas
Há quem lá passe apreçando a cor
Brilhando na pedrinha
Do cheiro que tem nome de flor
Ao canto há um café aonde tu paraste
E diz o teu olhar a hora de embarcar
Mas não diz quando chegaste
Já bailam as escadas
Sobem os elevadores
Correm sombras e há um vai e vem
São pernas apressando amores
Que foi, o que aconteceu
Alguém procura o que perdeu
E há uma luz que se reflete e bate em cheio
Nesse olhar que é tão passageiro
P’ra lá daquele vidro, do chão assim traçado
Há um atraso, um horário atrasado
O calor diz que fique
Eu sei, chove em Munique
E aqui estou nesta Gare
Que se chama de Oriente
E nela vejo o teu olhar que diz
Que é daqui, dali, ele é qualquer lugar
A lenda do velho Porto
Carlos Bessa / Pedro Rodrigues
Repertório de José Barbosa
Cai um forte nevoeiro
Sobre esta linda cidade
Que deu nome a Portugal
Parece que o céu inteiro
Quer esconder a verdade
Da história medieval
Diz a lenda, que um dia
El-rei D, Pedro, à toa
Repertório de José Barbosa
Cai um forte nevoeiro
Sobre esta linda cidade
Que deu nome a Portugal
Parece que o céu inteiro
Quer esconder a verdade
Da história medieval
Diz a lenda, que um dia
El-rei D, Pedro, à toa
Anunciou o noivado
Sem saber o que dizia
Quis que o Porto e Lisboa
Sem saber o que dizia
Quis que o Porto e Lisboa
Casassem no seu reinado
Grande cortejo imponente
O Rio Douro subiu
Grande cortejo imponente
O Rio Douro subiu
Barcos do país inteiro
É então que de repente
As portas do céu se abriu
É então que de repente
As portas do céu se abriu
Caiu forte nevoeiro
O Porto desapareceu
E El-rei viu-se obrigado
O Porto desapareceu
E El-rei viu-se obrigado
A anular o casamento
Lisboa se entristeceu
Por romperem seu noivado
Lisboa se entristeceu
Por romperem seu noivado
Deu entrada num convento
O Porto ficou solteiro
Amante da liberdade
O Porto ficou solteiro
Amante da liberdade
Deixá-lo ser, não faz mal
Deus lhe deu o nevoeiro
A essa linda cidade
Deus lhe deu o nevoeiro
A essa linda cidade
Que deu nome a Portugal
Diário
Mário Claudio / Ricardo Dias
Repertório de Nathalie Pires
Quer fosse noite, quer dia
Era uma ãnsia, uma espera
E em cada hora batia
Um coração de pantera
O desfraldado desejo
A sede da maresia
Passavam de beijo a beijo
A chama que nos unia
Morria num sobressalto
As terras da promissão
E as águias pairavam alto
Além dos dedos da mão
Fique de nós o abraço
Ao que perdemos de vista
Não há tempo nem espaço
Não há raiz que persista
Repertório de Nathalie Pires
Quer fosse noite, quer dia
Era uma ãnsia, uma espera
E em cada hora batia
Um coração de pantera
O desfraldado desejo
A sede da maresia
Passavam de beijo a beijo
A chama que nos unia
Morria num sobressalto
As terras da promissão
E as águias pairavam alto
Além dos dedos da mão
Fique de nós o abraço
Ao que perdemos de vista
Não há tempo nem espaço
Não há raiz que persista
Que estranha vida
Vitor de Deus / Arménio de Melo
Repertório de Luís Caeiro
Que estranha forma tenho de viver
Sem nada à minha volta, em solidão
Um misto de te querer e te perder
Ciúmes a jorrar do coração;
Sem nada à minha volta, em solidão
Que estranha forma tenho de viver
Que estranha noite longa, em tempestade
Amor, desejos loucos, alimento
E quando caio em mim sem liberdade
Ao teu corpo e em teus braços me acorrento;
Amor, desejos loucos, alimento
Que estranha noite longa, em tempestade
Vem possuír-me, amor, em cada instante
Afaga meus cabelos, dá-me carinhos
Vem ser minha mulher e minha amante
Se o vento soprar contra, revoltado;
Conduz a minha vida p’los caminhos
Até que o meu amor fique calado
Repertório de Luís Caeiro
Que estranha forma tenho de viver
Sem nada à minha volta, em solidão
Um misto de te querer e te perder
Ciúmes a jorrar do coração;
Sem nada à minha volta, em solidão
Que estranha forma tenho de viver
Que estranha noite longa, em tempestade
Amor, desejos loucos, alimento
E quando caio em mim sem liberdade
Ao teu corpo e em teus braços me acorrento;
Amor, desejos loucos, alimento
Que estranha noite longa, em tempestade
Vem possuír-me, amor, em cada instante
Afaga meus cabelos, dá-me carinhos
Vem ser minha mulher e minha amante
Se o vento soprar contra, revoltado;
Conduz a minha vida p’los caminhos
Até que o meu amor fique calado
Noiva do teu olhar
João Barge / Pedro Moreira
Repertório de Nathalie Pires
Quero ser a tua casa
Quero dar-te a minha mão
Eu preciso de outra asa
Para assim me erguer do chão
Hei-de abrir-te a minha cama
Repertório de Nathalie Pires
Quero ser a tua casa
Quero dar-te a minha mão
Eu preciso de outra asa
Para assim me erguer do chão
Hei-de abrir-te a minha cama
E arder no teu abraço
E à noite quem nos ama
E à noite quem nos ama
Não sabe a cor do cansaço
Hei-de acordar a teu lado
Hei-de acordar a teu lado
Ser noiva do teu olhar
Molhar de luz este fado
Molhar de luz este fado
Como se fosse rezar
Nem toda a luz me cativa
Nem toda a luz me cativa
Nem toda a tristeza passa
Eu sou flor em carne viva
Eu sou flor em carne viva
Que o vento de leve abraça
Canção de Alcântara
Letra de José Galhardo, Lourenço Rodrigues e Carvalho Mourão
Música de Raúl Ferrão
Versão do Repertório de Lídia Ribeiro
Música de Raúl Ferrão
Versão do Repertório de Lídia Ribeiro
Criação de Margarida de Almeida na revista *Fado Liró*
Teatro Variedades, 1928
Teatro Variedades, 1928
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
Ó linda Alcântara
Ó linda Alcântara
Junto à qual o velho Tejo
Reza sempre dia e noite, uma oração
Como eu gostava
Reza sempre dia e noite, uma oração
Como eu gostava
Que coubesses só num beijo
Como cabes toda inteira, no coração
Bairro modesto
Como cabes toda inteira, no coração
Bairro modesto
De modestos pescadores
Onde o povo sabe rir e padecer
A minha mãe
Onde o povo sabe rir e padecer
A minha mãe
A luz do sol e os meus amores
Em Alcântara tudo eu vim a conhecer
Não há bairro de Lisboa mais lindo
Do que aquele onde eu ganho
Em Alcântara tudo eu vim a conhecer
Não há bairro de Lisboa mais lindo
Do que aquele onde eu ganho
O pão para comer
E ali vivo, ora triste, ora rindo
Ali fui criança
E ali vivo, ora triste, ora rindo
Ali fui criança
Ali fui mulher
Eu só queria que no dia em que a morte
O meu pobre corpo
Eu só queria que no dia em que a morte
O meu pobre corpo
Viesse buscar
Eu só queria, meu Deus, ter a sorte
De ainda em Alcântara
Eu só queria, meu Deus, ter a sorte
De ainda em Alcântara
Poder me enterrar
Ó lindo bairro
Ó lindo bairro
Que os antigos guerrilheiros
Amarraram ao valor de Portugal
És o cantinho
Amarraram ao valor de Portugal
És o cantinho
Que os valentes marinheiros
Querem todo só p’ra si, a bem ou mal
Quando é noitinha
Querem todo só p’ra si, a bem ou mal
Quando é noitinha
E as cantigas fatalistas
Já começam p'las vielas a gemer
É para Alcântara
Já começam p'las vielas a gemer
É para Alcântara
Que os últimos fadistas
Vão cantar o triste fado, que vai morrer
Vão cantar o triste fado, que vai morrer
Tudo é Portugal
Artur Ribeiro / Ferrer Trindade
Repertório de Artur Ribeiro
Vem ver a terra das mil candeias
Olha esta gente tão diferente e tão feliz
Vem ver a Serra e as aldeias
Verás então porque razão se diz
Aqui é Portugal
Dono e senhor
Repertório de Artur Ribeiro
Vem ver a terra das mil candeias
Olha esta gente tão diferente e tão feliz
Vem ver a Serra e as aldeias
Verás então porque razão se diz
Aqui é Portugal
Dono e senhor
Da humildade e do amor
E verás que afinal
Onde quer que haja saudade
Tudo é Portugal
Vem ver quem passa, ouve as cantigas
Olha o encanto deste santo ali em paz
Vem ver a graça das raparigas
E quando alguém não souber bem, dirás
E verás que afinal
Onde quer que haja saudade
Tudo é Portugal
Vem ver quem passa, ouve as cantigas
Olha o encanto deste santo ali em paz
Vem ver a graça das raparigas
E quando alguém não souber bem, dirás
O rei dos outros sóis
Artur Ribeiro / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de Trio Odemira
Um sol para nós dois num céu de tons risonhos
Sem nuvens a causar mais sombras descabidas
É rei dos outros sóis o sol dos nossos sonhos
Nasce do teu olhar e morre em nossas vidas
Um sol para nós que a nossa vida aquece
E desde que nascemos nos tornou bem diferentes
Um sol para nós dois que vela e não esquece
E andamos tu e eu da sua luz pendentes
Um sol para nós dois a dar-nos confiança
Numa vida melhor onde não há pecado
Juntou-nos e depois com raios de esperança
Formou o nosso amor, deu-nos o mesmo fado
Repertório de Trio Odemira
Um sol para nós dois num céu de tons risonhos
Sem nuvens a causar mais sombras descabidas
É rei dos outros sóis o sol dos nossos sonhos
Nasce do teu olhar e morre em nossas vidas
Um sol para nós que a nossa vida aquece
E desde que nascemos nos tornou bem diferentes
Um sol para nós dois que vela e não esquece
E andamos tu e eu da sua luz pendentes
Um sol para nós dois a dar-nos confiança
Numa vida melhor onde não há pecado
Juntou-nos e depois com raios de esperança
Formou o nosso amor, deu-nos o mesmo fado
Canção ao Porto
Artur Ribeiro / Jaime Filipe
Repertório de Artur Ribeiro
Esta canção que vou cantar ao Porto
É oração para rezar ao Porto
Tudo o que sou nasceu em ti, minha cidade
E só te dou o meu amor e esta saudade
Aqui nasci, aqui brinquei, meu Porto
E até sofri quando deixei o Porto
És a feliz inspiração da minha vida
Para quem fiz esta canção sentida
Porto velhinho das ruas antigas
E das cantigas pelo São João
Do riso alegre das raparigas
Ó minha terra só coração
Se a noite vem eu canto a sós ao Porto
O mar também canta na voz ao Porto
E ao luar o Douro então fica absorto
A escutar esta canção ao Porto
Repertório de Artur Ribeiro
Esta canção que vou cantar ao Porto
É oração para rezar ao Porto
Tudo o que sou nasceu em ti, minha cidade
E só te dou o meu amor e esta saudade
Aqui nasci, aqui brinquei, meu Porto
E até sofri quando deixei o Porto
És a feliz inspiração da minha vida
Para quem fiz esta canção sentida
Porto velhinho das ruas antigas
E das cantigas pelo São João
Do riso alegre das raparigas
Ó minha terra só coração
Se a noite vem eu canto a sós ao Porto
O mar também canta na voz ao Porto
E ao luar o Douro então fica absorto
A escutar esta canção ao Porto
Quadras de Aleixo
António Aleixo / Júlio Proença *fado puxavante
Repertório de Trio Odemira
O homem sonha acordado
Repertório de Trio Odemira
O homem sonha acordado
Sonhando, a vida percorre
E desse sonho doirado
E desse sonho doirado
Só acorda quando morre
Embora me queiras tanto
Embora me queiras tanto
Quanto pode o bem-querer
Não me queres tanto quanto
Não me queres tanto quanto
Te quero sem te dizer
Não digas que me enganaste
Não digas que me enganaste
Por ter confiado em ti
Muito mais do que levaste
Muito mais do que levaste
Ganhei eu no que aprendei
Só quando sinceramente
Só quando sinceramente
Sentirmos a dor de alguém
Podemos descrever bem
Podemos descrever bem
A mágoa que essa alguém sente
Campo em festa
Francisco Martins / Vitor Rodrigues
Repertório de Francisco Martins *Fado Marialva*
No meu cavalo montado
Repertório de Francisco Martins *Fado Marialva*
No meu cavalo montado
Logo que a manhã rompia
Com o Rodrigo e o Ricardo
Com o Rodrigo e o Ricardo
O Pietra e o Faria
Por esses campos fora
Por esses campos fora
No seio do Ribatejo
Calça justa, bota e espora
Calça justa, bota e espora
Em Arruda ou em Samora
Da Chamusca ao Alentejo
Com valentia
Toiros vamos apartar
Galhardos na picardia
Garbosos a derribar
E com nobreza
Trazemos no coração
A saudade que está presa
Aos tempos que já lá vão
O Visconde já pingado
Da Chamusca ao Alentejo
Com valentia
Toiros vamos apartar
Galhardos na picardia
Garbosos a derribar
E com nobreza
Trazemos no coração
A saudade que está presa
Aos tempos que já lá vão
O Visconde já pingado
O Palhas na caturreira
O Dentinho desafivelado
O Dentinho desafivelado
Casquinha à antiga maneira
Passeios e romarias
Passeios e romarias
Vilaverde, que saudade
Deu-nos grandes alegrias
Deu-nos grandes alegrias
Era vê-lo nas picarias
Hoje, dele, só Deus sabe
E depois do sol-posto
Hoje, dele, só Deus sabe
E depois do sol-posto
Trinam guitarras de fundo
Dedilhadas com bom gosto
Dedilhadas com bom gosto
P’lo Velez e o Edmundo
Marialavas de cartel
Marialavas de cartel
Que cantam o velho fado
O Rodrigo Miguel
O Rodrigo Miguel
O Xico e o Manel
O Macho e o Pegado
O Macho e o Pegado
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