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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.140 LETRAS <> 3.082.000 VISITAS * FEVEREIRO 2024

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Meu querido, meu velho, meu amigo

Erasmo Carlos / Roberto Carlos
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Esses seus cabelos brancos, bonitos
Esse olhar cansado, profundo
Me dizendo coisas num grito
Me ensinando tanto do mundo

Esses passos lentos de agora
Caminhando sempre comigo
Já correram tanto na vida
Meu querido, meu velho, meu amigo

Sua vida cheia de histórias
E essas rugas marcadas pelo tempo
Lembranças de antigas vitórias
Ou lágrimas choradas ao vento

Sua voz macia me acalma
E me diz muito mais do que eu digo
Me calando fundo na alma
Meu querido, meu velho, meu amigo

Seu passado vive presente
Nas experiências contidas
Nesse coração consciente
Da beleza das coisas da vida

Seu sorriso franco me anima
Seu conselho certo me ensina
Beijo suas mãos e lhe digo
Meu querido, meu velho, meu amigo

Eu já lhe falei de tudo
Mas tudo isso é pouco 
Diante do que sinto
Olhando seus cabelos tão bonitos
Beijo suas mãos e digo
Meu querido, meu velho, meu amigo

Ser antigo

Diogo Clemente / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Miguel Ramos

Lembrei-me ainda há pouco do que fomos
Algum de nós deixou de ser antigo
A vida deu-me os laços e levou-mos
Há tão levado tempo por castigo

Quisera eu dar de mim e ter saudades
Deixar este lugar que não tem nome
E encher este vazio de outras verdades
Que não a do vazio que me consome

Antigo fora o meu amor em rendas
Pendido nos teus ombros e hoje digo
Que a vida já não faz com que me prendas
Algum de nós deixou de ser antigo

Gosto do vento

António Tavares Teles / Tozé Brito
Repertório de Tony de Matos 

Gosto do vento
Aqui sentado à lareira
Um cigarro, um pensamento
A crepitar na fogueira

Gosto do vento
Desta dor a hora morta
Deste fumo em movimento
Para além daquela porta

Verso imenso que um Deus escreveu
Vendaval, ternura no céu
E se alguém o souber escutar
Saberá o que é o amor
E se um dia tu quiseres voltar
Diz ao vento para não parar
Vento é dor mas também perdão
Vem p'la sua mão

Gosto do vento
Mágoa voando lá fora
Que nasceu nesse momento
Em que tu te foste embora

Gosto do vento
Gosto dessa liberdade
Gosto desse sentimento
Mesmo feito de saudade

A lama que nos separa

José Gonçalez / Frederico de Brito *fado Britinho*
Repertório de Miguel Ramos

Se um dia me encontrares
Por aí e não gostares
De me veres assim agora
Sou o resto que ficou
Dum coração que parou
Desde que te foste embora

Não estranhes a minha dor
Quando sabes que o amor 
É ferida que nunca sara
E por mais anos que passem
Há sempre sonhos que nascem
a lama que nos separa

Talvez possa a solidão
Encontrar na tua mão 
Algum carinho depois
Encosta ao teu coração
Esses restos da paixão 
Que já foi de nós os dois

Mas não digas a ninguém
Com esse ar de desdém 
Que ainda gostas de mim
Dizes o que te convém
São mentiras, sabes bem 
Que o nosso amor teve fim

A rua do desencontro

Jerónimo Bragança / Nóbrega e Sousa
Repertório de Estela Alves 

Alguém me encontrou
Alguém me perdeu
Na rua do desencontro
Nem eu me encontro 
Já não sou eu

Perdida por ti
Perdida de ti
Sou isto que sou agora
Deitem-me fora, vou por aí

Meu rasto no chão 
Traz sonhos perdidos
Nos braços caídos
Não há sequer uma ilusão

Alguém me encontrou
Alguém me perdeu
No mundo do desengano
O teu engano também foi meu

Amada por ti
Beijada por ti
Sou isto que sou agora
Não houve aurora quando nasci

Só tenho de meu os restos de nada
Na boca rasgada 
Nem o sabor dum beijo teu
Pois quem me encontrou
Também me perdeu

A verdade

Diogo Clemente / Lino Bernardo Teixeira *fado ginguinha*
Repertório de Miguel Ramos

Percorro antigas avenidas da cidade
Como um mendigo sem sentido nem guarida
Tantos caminhos percorri na minha vida
Para acabar na velha rua da saudade

Já estive aqui, na ingratidão desta incerteza
Deixando à sorte a ilusão de liberdade
Quando se está, como eu, perdido na cidade
Não há viela que nos tire da tristeza

Se por acaso me encontrares na tua rua
Não penses nada que me faça má presença
Nem sequer penses que seria culpa tua
Se o meu destino decidisse tal sentença

É nessa rua a minha casa, na verdade
Sentes na cama o vazio onde pertenço
Porém, enquanto não te entregas ao bom senso
Termino assim, só e perdido na cidade

Esta gente

Sophia de Mello Breyner  / Lima Brumom
Repertório de Teresa Tarouca

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso 
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem 
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem 
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova 
Meu canto se renova 
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa 
E dum tempo justo

Fim do outono

Diogo Clemente / Raúl Pereira *fado zé grande*
Repertório de Miguel Ramos

Corria o fim do outono e a amargura
Parecia não ser dia ou quase não
Também não era noite, nem negrura
Era o tempo vazio da solidão

Relógio ainda parado que me assiste
Por cada vez que dizes não me ver
Se tento ir sozinho, a alma desiste
E pára a cada vez para morrer

Assim, longe de mim, por ti adentro
A minha alma por si vive insegura
Não é noite nem dia, aqui por dentro
É só o fim do outono e a amargura

Disse-te adeus a sorrir

João Fezas Vital / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de António de Noronha

Disse-te adeus a sorrir
Não sabia que ao partir
Era o mesmo que chorar
Agora longe de ti
Vejo bem o que perdi
E juro que hei-de voltar

Sofro mais e passo a vida
A lembrar-te minha querida 
Nos dias de felicidade
Estranho amor, estranha afeição
Que me queima o coração 
E me faz sentir saudade

Por isso hei-de voltar
Talvez me vejas chorar 
Com ternura e alegria
Prometo que voltarei
Quando ao certo 'inda não sei 
Amanhã ou qualquer dia

A outra face da alegria

Lima Brumon / Raúl Pereira *fado zé grande*
Repertório de Teresa Tarouca

Por ti cheguei a amar o desumano
E fiz da minha angústia amor total
Vi florir primaveras todo o ano
Nunca ninguém te amou com amor igual

Por ti bastava a sombra fugidia
Do teu olhar no meu, insatisfeito
E tudo o que não tinha pressentia
Como quem tem dois corações no peito

Por ti reinventei lindas palavras
Nas mãos tive oiro e estrelas só por ti
E nada te bastou nada aceitavas
Mas roubaste o melhor que havia em mim

Por ti gastei a face da alegria
E andei morrendo um pouco em toda a parte
Embriagaste a luz de cada dia
Dos dias mais belos da minha idade

Aqui na alma

Diogo Clemente/Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Miguel Ramos

Já não canto, já não choro
Deixei tudo o que era meu
Pelas pedras do caminho
E nas ruas onde moro
Maior pedra seja eu
Num modo de andar sozinho

Não importa de onde venho 
Nem me fales dessa estrada 
Que foi dona do meu fim
Mesmo que pareça estranho
Por favor não digas nada 
Não vou querer pensar em mim

Dá-me as mãos e a tua calma
O teu beijo, o verde manto 
E o silêncio de sofrer
Dói-me tudo aqui na alma
Dói-me tanto mãe, mas tanto 
Que eu só queria adormecer

Ser feliz só por sonhar

António Laranjeira / Miguel Amaral *fado eugénio de castro"
Repertório de Francisco Moreira *Kiko*

Pudesse amor saber se compreendes
O jeito intenso deste meu viver
Tu sabes que me tens e que me prendes
Mas não queres nem pensas, te prender

Se num mundo perfeito te alcançar
E apenas sonhar, correr p’ra ti
No meu desejo de amor, me entregar
Na dor do teu corpo que perdi

Não sei se desespero na ilusão
De não poder gritar que te não quero
Na esperança de contar ao coração
Que é por ti, amor, que ainda espero

Agora que já sabes o que sinto
Não julgues este amor só por amar
Por mim, já não me escondo, nem te minto
Mas quero ser feliz só por sonhar

Meu amor, meu beijo breve

António Laranjeira / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Mélanie

Eu não te quero alcançar
Meu amor de sofrimento
Teus olhos da cor do mar
Turvam o meu pensamento

Meu amor, ainda espero 
Ouvir no chão os teus passos
E correr em desespero 
P’ra me perder nos teus braços

Vamos ser versos e beijos 
Vamos ser poesias loucas
Unir os nossos desejos 
No calor das nossas bocas

Meu amor, eu sou a rua 
A rua que não tem fim
Eu sou a alma mais nua 
Sempre que passas por mim

As andorinhas

Manuel Peixoto / Amadeu Ramim *fado zeca*
Repertório de Francisco Moreira *Kiko*

Um casal de andorinhas que vivia
No meu beiral, andava construindo
Um ninho singular que parecia
Um castelo de sonhos muito lindo

Era mui cuidadoso esse casal
Na construção do ninho humilde e belo
Queria ficar p’ra sempre no beiral
Por isso edificou um bom castelo

Mas chegou o inverno inclemente
E as outras andorinhas debandaram
Em busca dum país, enfim, mais quente
E apenas essas duas lá ficaram

Mas num dia de terrível vendaval
O vento, numa fúria assaz, tremenda
Derrubou o castelo original
Deixando as andorinhas sem vivenda

Como essas andorinhas, muita gente
Constrói grandes castelos, mas no ar
Castelo de ilusões que certamente
O tempo tem prazer em derrubar

Por Lisboa

Rui Rocha / Miguel Rebelo
Repertório de Miguel Ramos

Desce a avenida com o seu ar bairrista
Mas é na praça que restaura a liberdade
Sobe com glória e diz que quer ser jornalista
Mas do ardina se algo existe é a saudade

De bairro em bairro a trautear
Uma canção bem popular
Mas nos beirais já vão morrendo as tradições
A procissão saiu da Sé
Será que vai co’a mesma fé?
Será que o tempo perdeu as emoções?

E junto ao rio como se fosse marinheiro
Que ancorado navegou pelas colinas
E sobre as águas decentemente um cacilheiro
Leva lembranças dos pregões e das varinas

De bairro em bairro a recordar
Quadras de um canto popular
E nas vielas os amores e as tradições
Mas há quem faça finca-pé
E vai mostrando como é
Nem sempre o tempo perdeu as emoções

Meu unicórnio azul

Letra e música de Sílvio Rodriguez
Repertório de Mísia

Meu unicórnio azul, aquele que era meu
Pastando eu o deixei e desapareceu
Qualquer informação, decerto eu vou pagar
As flores que deixou não me querem falar

Meu unicórnio azul, ontem desapareceu
Não sei se me deixou, nem sei se se perdeu
Mas eu não tenho mais que um unicórnio azul
E se alguém souber dele, que dê uma informação
Cem mil ou um milhão eu pagarei
Meu unicórnio azul ontem desapareceu… adeus

Meu unicórnio e eu fizemos amizade
Um pouco com amor, um pouco com verdade
Com o seu chifre de anil pescava uma canção
Sabê-la repartir, tinha por vocação

Meu unicórnio azul, perdi o rasto seu
E pode parecer até um fado meu

Mas eu não tenho mais que um unicórnio azul
Mesmo que fossem dois, eu só queria aquele
Cem mil ou um milhão eu pagarei
Meu unicórnio azul ontem desapareceu… adeus

E de repente um adeus

Marco Oliveira / Pedro Rodrigues
Repertório de Francisco Moreira *Kiko*

E de repente um adeus
E não mais a tua voz
E não mais o teu olhar
Sonhos distantes dos meus
Passos na noite, tão sós
Sem ninguém p’ra me acordar

Acontecemos num fim 
Numa rua de Lisboa
Onde escrevi o teu nome
De repente, dentro em mim 
Tantos caminhos à toa
Na solidão que consome

E de repente a saudade 
Memórias do teu fulgor
Como luz na madrugada
Amanheceu na cidade 
Nada mais no resta, amor
E de repente mais nada

Sexta, sábado e domingo

Letra e música de José Maria de Oliveira
Repertório de Paula Cristina

Nunca mais chega o meu dia
P’ra demonstrar, os meus dotes fadistas
Ao som dos belos trinados
Que são tocados p’los guitarristas

Cantar uns lindos poemas
Com belos temas bem populares
Que façam vibrar a malta
Que ali se junta para escutar

Sexta, sábado e domingo
P’ra mim são dias de devoção
Cantar o fado em retiros
Faz vibrar meu coração;
Tal como em missa sagrada
Fico em pecado se lá não for
Escutando o som da guitarra
Cantando um fado fico melhor

Eu sou filha de Lisboa
Linda cidade em forma de altar
Perante as sete colinas
Chora o Rio tejo indo pró mar

Herdei o mesmo destino
Triste ou alegre há que avançar
Quando oiço uma guitarra
Canto um bom fado para alegrar

Se eu entrasse em desespero

António Laranjeira / João Martins *fado sorte*
Repertório de Francisco Moreira *Kiko*

Se eu entrasse em desespero
Ficava d’alma perdida
Amar alguém por inteiro
Ser sagaz mas imprudente;
Sabendo como te quero
Trocando as voltas à vida
E como sou o primeiro
Não quero ser insolente

No amor há mais encanto
Se andamos dilacerados
Por isso vou ser sincero
Mas sei que à primeira vista;
Quem ama cuida, e portanto
Mesmo quando afastados
Dizer que ainda te quero
Não é frase de conquista

Amor é golpe de sorte
Não deve ser um castigo
Quem ama perde o sentido
O corpo perde a razão;
Que o teu coração suporte
Meu coração atrevido
Que desconhece os perigos
Escondidos numa paixão

Num só verso

Francisco Moreira / João Martins *fado feitiço*
Repertório de Francisco Moreira *Kiko*

Se na vida as ambições são de alcançar
Quando por elas lutamos cegamente
Porque é que a alma nos força a querer amar
Quem da nossa vida está demais ausente?

Dois caminhos paralelos que se cruzam
Num feitiço de paixão cruel, malvado
Duas almas cegamente se recusam
A aceitar o seu destino tão pesado

E é no tempo do Outono, tristemente
Que o vento agreste soprando faz cair
Uma paixão tão fogaz, que de repente
Uma das almas penadas faz ruir

Nessas vidas em que outrora o Sol brilhava
Cai a chuva e é a força do Universo
Que transforma os tempos em que o amor reinava
Em dor, ansiedade e fado num só verso

Fado triste

Sérgio Valares / Henrique Lourenço *fado cigana*
Repertório de Celeste Rodrigues

Na minha vida sombria
Cada hora e cada dia
É só na tua saudade
Com ela canto o meu fado
Fado triste, amargurado
Sem sonhos de felicidade

Já não choro o teu amor 
Já não grito a minha dor
Vou vivendo sem viver
Sozinha ando p’las ruas 
A relembrar canções tuas
E a sentir-te sem te ter

Mas quando na noite, o vento
Junta ao meu o seu lamento 
Atormentado e dorido
Só sei cantar este fado
Fado triste, amargurado
Como o teu amor perdido

Amanhecia

Gervásio Miguel / Raúl Ferrão *fado alcântara*
Repertório de Gervásio Miguel

Amanhecia… e o meu corpo à beira mar
Tecendo o teu, devagar com emoção
Pediu à noite que ficasse mais um pouco
Na companhia dum louco, meu coração

Por uma estrela mandou dizer ao luar
Que já se fora deitar, longe de nós
P’ra não deixar que o sol raiasse tão cedo
Descobrindo esse segredo de estarmos sós

Ilusão, fora só pura ilusão
Que me deste, coração
não tens maneiras
Tu não vês que a minha dor é maior
Quando me dás o favor 
dessas tuas brincadeiras
Quero ouvir dizer que estás satisfeito
Que não choras no meu peito 
como é costume
Ilusão não coração mata de vez
Essa tua malvadez
em brando lume

O sol raiou em todo o seu esplendor
Testemunhando este amor, embevecido
Mostrando ao dia, que a força da maré cheia
Não dissimulou na areia, o acontecido

Mas a alegria, vivida só por nós os dois
Trouxe ao meu peito depois, o desalento
Pois reparei, que deitada estava eu só
Em lençóis feitos de pó, num chão cinzento

Todos os fados são meus

António Laranjeira / André Teixeira
Repertório de Francisco Moreira *Kiko*

Eu venho dum tempo novo 
Do mar, do mundo, de Deus
Eu canto o Fado e o povo 
Todos os fados são meus

Eu trago a vida na voz 
Que se embarga de saudade
Rio sem margem, sem foz 
Tal como eu sem idade

Sou um fado sem amarra
Sem pressa de querer chegar
O meu norte é a guitarra
Que me chama p’ra cantar;
Sou um fado sem destino
Sem linhas de qualquer cor
Que trago desde menino
No canto livre do amor

Eu venho dessa clareza 
De ver por dentro de mim
Na inconstante certeza 
Duma tristeza sem fim

Eu sou o antes e o agora 
Que vive através de Deus
Na inquietação que devora 
Todos os fados são meus