-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

. . .

Quero ouvir o teu cantar

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *fado Mondego*
Repertório do autor

Hoje vais comigo aos fados
Quero ouvir o teu cantar
Quero ouvir-te a estilar
Com pianos e roubados

Pinta os lábios dessa cor 
Rubra, viva, como gostas
Põe o xaile pelas costas 
P'ra cantares mais a rigor

Então canta só pra mim 
Como quem atira um beijo
Como quem sente o desejo
Dum amor que não tem fim

Canta até que o fado peça 
Que não quer ser mais cantado
Mas o fado, quando é fado 
De calar-se não tem pressa

Vida

António Laranjeira / Armindo Fernandes
Repertório de Andreia Alferes

Acordei... a alma estava tão fria
Todo o meu corpo cedia
Morrendo com a manhã
E pensei... que de mim já nada havia
E apenas sei que sentia
Um doce travo a romã

Acordei... e tudo em mim era noite
Como se fosse um açoite
Estalado a dor da tristeza
Sim, chorei... e perdida ali fiquei
Sobre mim rodopiei
Desfalecida na mesa

E senti... que queria nascer de novo
Que fosse a manhã do povo
A levantar-me outra vez
Então vi... como se fosse o primeiro
Do dia mais derradeiro
Que a minha noite não fez

Talvez fosse

Letra e música de Pedro Fernandes Martins
Repertório do autor

Se eu soubesse quantas estrelas do céu
Vieram dizer-me adeus
Nessa hora em que parti
E tivesse o sabor de um beijo teu
Agarrado aos lábios meus
A lembrar-me o que vivi

Talvez fosse menos errante na vida
Talvez fosse mais ligeiro meu caminho
Talvez fosse menos triste a despedida
Menos triste estar sozinho... talvez fosse

Se eu chorasse como chora o céu cinzento
Nas noites mais revoltosas
Que fazem tremer o chão
E deixasse o meu mal morrer com o vento
Como morrem sempre as rosas
Quando é grande a solidão

Clandestinos do amor

Letra e música de António Pedro Vasconcelos
Tema do filme *Os gatos não têm vertigens*
Intérprete: Ana Moura 

Vivemos sempre sem pedir licença
Cantávamos cantigas proibidas
Vencemos os apelos da descrença
Que não deixaram mágoas nem feridas

Clandestinos do amor, sábios e loucos
Vivemos de promessas ao luar
Das noites que souberam sempre a pouco
Sem saber o que havia p’ra jantar

Mas enquanto olhares p’ra mim eu sou eterna
Estou viva enquanto ouvir a tua voz
Contigo não há frio nem inverno
E a música que ouvimos vem de nós

Vivemos sem saber o que era o perigo
De beijos e de cravos encarnados
Do calor do vinho e dos amigos
Daquilo que p’rós outros é pecado

Tu sabias que eu vinha ter contigo
Pegaste-me na mão para dançar
Como se acordasse um sonho antigo
Nem a morte nos pode separar

Nós somos um instante no infinito
O fragmento à deriva no universo
O que somos não é para ser dito
O que sente não cabe num só verso

Um bom lugar

Letra e música de Pedro Fernandes Martins *Fado dominó*
Repertório do autor

Lá longe vivo sozinho
E nem sei qual o caminho
Que venci pra lá chegar
Lá onde o tempo não passa
E a saudade nos abraça
E não mais nos quer largar

Lá onde o tempo se perde 
Entre tanto e tanto verde
De um fresco e grande jardim
Lá longe nesse recanto 
Onde não há dor nem pranto
Quero ter-te junto a mim

Lá não há sede nem fome 
A morte não nos consome
Vive o sol, o céu e o mar
Lá longe não sei bem onde 
Onde o nosso amor se esconde
Lá longe é um bom lugar

Perfil da tua imagem

António Campos / Jorge Barradas
Repertório de António Campos

Não é céu o céu que vejo
Não é azul, não é cor
É apenas o infinito
Onde se perde o meu grito
Este meu grito de dor

Não é mar o mar que vejo
Não é verde, não tem fundo
É ilusão, é miragem
É o perfil da tua imagem
Onde se afoga o meu mundo

Só acredito na desventura que me deixaste
Neste meu grito, nesta amargura que não levaste
Na noite fria, no vento errante da tempestade
Na nostalgia, na dor constante desta saudade

Fado do cavaleiro tauromáquico

Lourenço Rodrigues / Jaime Mendes
Repertório de Hermínia Silva

Era um cavalo de raça, que na praça
Olha um toiro com nobreza
É da plebe e fidalguia, a alegria
Cá da gente portuguesa

Também a mulher 
Que amamos e juramos
Conquistar a mal ou bem
Quanto mais difícil for 
Nas seduções do amor
Para nós, mais valor tem

Eu de cavalos e mulheres
Gosto como ninguém
São dois prazeres p'ra mim 
Dos mais difíceis de igualar
É que um cavalo
Pode um homem dominá-lo bem
Mas a mulher 
Ninguém consegue dominar

A trotar que é um regalo, o cavalo
Galga prados e colinas
E lá ao longe 
As montanhas, são tamanhas
Mas parecem pequeninas

Também a mulher 
Parece, que engrandece
À sombra duma afeição
Quando o amor é profundo
Possuí-la é ter o mundo
Fechado dentro da mão

Não falamos de amor

António Campos / João Vasconcelos
Repertorio de Terezinha Alves

Amigos
Amigos e nada mais
Não te digo aonde vou
Nem me dizes onde vais
Nada de beijos
Nada que nos dê calor
Falamos disto e daquilo
Só não falamos de amor

O tempo, apesar do tempo
Não aprendeu a voltar
Mas podia, pelo menos
Ter aprendido a parar
Mas o tempo foi andando
Andando cada vez mais
Tornando os meus dias longos
E todos, todos iguais

Ai quem me dera 
Voltar àquilo que fomos
Unidos de corpo e alma
Não ser só isto que somos
Só conversamos 
Coisas banais sem valor
Quem me dera, quem me dera
Podermos falar de amor

Morrendo em saudade

António Campos / Jorge Canede
Repertório de Luísa Salgado

Já não há manhãs de sol 
Nem noites enluaradas
Já não canta o rouxinol 
Anunciando alvoradas

A ponte já não murmura 
O rio secou o leito
Só ficou esta amargura 
No vazio do meu peito

Partiste…
Meus olhos choram sem pranto
A vida perdeu o encanto
Nem o sol tem mais calor
Partiste…
É tao amarga a verdade
Eu vou morrendo em saudade;
Quando voltas meu amor?

Já no outono da vida 
Em noites de tempestade
Sou uma folha caída 
Levada pela saudade

Não há mais nada de meu 
Nem lágrimas p’ra chorar
Não há estrelas no céu 
Nem há beleza no mar

Daqui houve nome, Portugal

*Recado ao Porto*
Letra e musica de José Mário Branco
Repertório de Rodrigo 
Este tema foi também gravado com o título *Recado ao Porto*


Nas margens 
Deste rio atormentado
É que está dependurado
O nome do meu país
Mistura 
Entre a fuga e a procura
Entre o medo e a loucura
Que estão na minha raiz

Meu Porto 
Muito mais vivo que morto
Tu recusas o conforto
De quem está morto de vez
Por isso 
Eu te canto este fado
Porque vivo atormentado
Como o rio que te fez

Daqui houve nome, Portugal
Aqui está tudo bem e tudo mal
Meu Porto
És o carinho que me tenho
És a ponte donde venho
Entre o mar e o quintal;
Daqui, eu fui embora sem vontade
Aqui eu renasci prá liberdade
Meu Porto
Deixa andar, nunca fiando
Que me dás de contrabando
A alegria e a saudade


Criança
Ris e choras de seguida
Mesmo quando a tua vida
É o assunto da anedota
Sentir
É o teu modo de existir
E és capaz de mentir
Só p’ra não fazer batota

Meu Porto
Revoltado e penitente
Invicto p’ra tanta gente
Só por ti és derrotado
Nas margens 
Do rio que te desflora
Há um vulcão que demora
E dorme sempre acordado

Último recado

Manuela de Freitas / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Camané

No dia em que me deixaste
Nada quis do que te dei
Tudo o que eu tinha levaste
Nem co’a saudade fiquei

Se foi tão fácil esquecer-te 
E ao pouco bem que me déste
Só me resta agradecer-te 
Todo o mal que me fizeste

Aqui vai este recado 
Gratidão a que me obrigas
Por tudo, muito obrigado 
Por nada, espero que digas

Não penso que ele te fira 
Nem qualquer bem te fará
De nada, nada se tira 
A nada, nada se dá

Mas fico mais descansado 
Sem nenhum mal-entendido
Já que fui mal empregado 
Não sou mal agradecido

E serve p’ra confessar 
Quanto fiquei a dever-te
Por nunca poder pagar 
O que ganhei em perder-te
Nunca poderei pagar
O que ganhei em perder-te

Vida triste

J.Saluerhoff / Pedro Rodrigues C/arranjos de Custódio Castelo
Repertório de Cristina Branco

Condenado a viver triste
É sina de quem muito ama
Nunca meu coração resiste
Ao amor que a dor inflama

Mais uma vez, torturado coração
Buscou abrigo no teu peito, inutilmente
Não há quem lhe console a sede ardente
Nem se farte da paixão

E sempre, p’ra qualquer acto
Há que pagar com sofrimento
Até que a doçura do último tacto
Acabe por morrer num lamento

Por mais que os corpos se enlacem
Um dia só fica a solidão
Haverá porventura alguém
Que mate o fogo de uma paixão

Eu sei que amar é pecado
Por isso a mim o céu castigou
Fiquei p’ra vida amarrado
A quem sempre me enganou

Ai Silvina, Silvininha

António Gedeão / Alain Oulman
Repertório de Camané
                                                                                     
Lindos olhos tem Silvina 
Lindas mãos Silvina tem
E a cintura da Silvina 
É fina como o azevém
Em Silvina tudo exala 
Um cheiro de coisa fina
Mas o que a nada se iguala 
É a fala da Silvina

Porque não cantas Silvina 
Se a tua voz é tão doce
Talvez cantada que fosse 
Mais doce que a glicerina;
Não me apetece cantar 
E muito menos p’ra ti
Eu sou nova, tu és velho 
Já não és homem p’ra mim

Não me tentes Silvininha 
Que eu já não te olho a direito
Sou como o ladrão escondido 
Na azinhaga do teu peito
A azinhaga do meu peito 
Corre entre duas colinas
E o ladrão do meu amor 
Tem pé leve e pernas finas

Canta, canta Silvininha 
Como se fosse para mim
Dar-te-ei um lençol de estrelas 
E uma enxerga de alecrim;
Deixa o teu corpo estendido 
À terra que o há-de comer
A tua cama é de pinho 
Teus lençóis de entristecer

Canta, canta Silvininha 
Uma canção só p’ra mim
Dar-te-ei um escorpião de oiro 
E um aguilhão de marfim
Não quero o teu escorpião 
Nem de oiro nem de prata
Quero o meu amor trigueiro 
Que é firme e não se desata

Pois não cantes Silvininha
Se é essa a tua vontade
Canto eu mesmo assim velho 
Que o cantar não tem idade;
Hás-de tu ser morta e fria 
Sem anos se passarão
Já de ti ninguém se lembra 
Nem de quem te pôs a mão;
Mas sempre há-de haver quem canta
Os versos desta canção
Ai Silvina, ai Silvininha
Amor do meu coração

Velha cantiga

Francisco Branco Rodrigues / Manuel Figueiredo
Repertório de Vicente da Câmara

Quando ao meu peito encostada
Seguro a minha guitarra
Faço tal qual a cigarra
Canto cantigas, mais nada
O nosso fado que dizem ser fatalista
Nele tenho devoção, sou fadista
E canto com o coração

Ó minha velha cantiga
Por seres expressão muito antiga
Corres veloz como o vento;
Quem te cantar a rigor
Vai descobrindo que o fado
Bem cantado no Menor
Toca fundo o sentimento

Sempre que sais da garganta
De quem te canta a preceito
Fazes penetrar no peito
Um sentimento que encanta
Cantas a dor, a alegria, a paixão
Por isso és, concerteza, com razão
Bem da gente portuguesa

Quantas vezes és bizarra
Velha cantiga altaneira
Mesmo assim tu és bandeira
Que tem por lança a guitarra
Porque te sinto
Só por isso és cantado 
Com raça e com prazer
Bem timbrado 
Toda a vida até morrer

Minha Alfama velhinha

Leonel Moura / Fontes Rocha *fado isabel
Repertório de Bruno Igrejas

Da minha Alfama velhinha
Bairro de gente do mar
Vejo o luar à noitinha
E barcos a navegar

Tem as ruas estreitinhas 
E craveiros nas janelas
Que enfeitam as escadinhas 
E dão beleza às vielas

Alfama, bairro velhinho 
Que tem a Casa dos Bicos
Nas tascas há pão e vinho 
Nas ruas há manjericos

Já não se ouvem pregões 
Como nos tempos de outrora
Mas vivem as tradições 
Co’a fadistagem de agora

E o santo casamenteiro 
Deste povo, gente boa
É o santo padroeiro 
D’Alfama e desta Lisboa

Terra natal

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Alexandra

Agradeço a tua carta, meu irmão
Os conselhos que me dás trazem saudade
Mas sabes, entre nós dois
Hé diferenças… e depois
Eu não gosto da cidade

Acredito que é melhor é viver aí
Onde ninguém sabe da vida de ninguém
Mas aqui onde nasci
Onde cresci, sempre vivi
É onde me sinto bem

Aqui na terra, terra natal
A lua vem
Meu irmão, que emoção
Ninguém fala por mal

Eu prefiro as nossas casas pequeninas
E os carreiros onde o gado vai pastar
Tudo é grande na cidade
Tudo enorme, mas verdade
O espaço é pouco para estar

Vou aqui ficar, fazer minha família
Ver meus filhos a crescer ano p’ra ano
É a força do meu ser
Nada mais precisa ter
Quem nascer provinciano

Mudança

Carlos Baleia / Daniel Gouveia
Repertório de Bruno Igrejas

Prendi suspiros no peito 
Juntei ais no coração
E ao tratá-los com respeito 
Conservei a dor à mão
Porque com ela me deito
Só ela me dá razão

Memória silenciosa 
Do muito que há p’ra lembrar
Faz com que a dor, caridosa 
P’lo meu delírio de amar
Se torne menos penosa
E não me deixe chorar

Ando zangado comigo 
Com este meu sentimento
Que afinal é meu amigo  
E comanda meu tormento
E só me dá por castigo
Sonhos de amor que eu invento

E por não querer sonhar mais 
Parto em busca da mudança
Dou a liberdade aos ais 
Pinto os suspiros de esperança
Mas os sonhos sempre iguais
Dizem que o amor não cansa

Os meus olhos

Ricardo Maria Louro / Alfredo Marceneiro *Fado CUF*
Repertório de José Quaresma

Teus olhos, agonias pelo Tejo
Pairando pelas águas para o mar
Teu corpo adormecido, meu desejo
Tão distante deste meu querer amar

Teus olhos são dois fados, meu castigo
Teu corpo, pedra fria sem ternura
Teus olhos duas águas, meu gemido
Folhas secas sobre a minha sepultura

Teus olhos são dois filhos enjeitados
Dolente caminhar em dia vão
Teus olhos são dois círios apagados
Tão longe de encontrar meu coração

Teus olhos já não choram este amor
Que leva pelo Tejo à beira-mar
Meu corpo já não sente o teu calor
Meus olhos andam loucos por te amar

Sombras

Domingos Costa / Armandino Maia
Repertório de Flora Silva

Daquele amor que um dia me juraste
E que deixou em mim traços fatais
Igual a uma flor sacraste
Ficou somente a sombra e nada mais

Dos beijos venenosos que me déste
E que eu sorvi com louca embrieguês
Ficou só a saudade triste e agreste
Que amor não foi, mas é sombra talvez

Sombra
Que me tortura e não me deixa
Sombra cruel como uma queixa
Dum coração a padecer
Sombra
Que é para mim pesada cruz
Sombra cruél como uma luz
Que eu nunca mais desejo ver

Quantas vezes eu penso em te dizer
A minha dor escondida nos teus braços
Mas sinto dentro em mim anoitecer
E a sombra faz-se então toda em pedaços

Agora, mais que eu queira não consigo
Afastar-me de ti, o que me assombra
Na luz dum puro amor busco outro abrigo
Morre essa luz bendita e é tudo sombra

Por ti aceito

Fernando Campos de Castro / Francisco Mendes
Repertório de Mónica de Jesus

Aceito... por ti aceito esta mágoa
Nos meus olhos rasos de água
Que há tanto tempo persiste
Aceito que voltes já fora de horas
Porque sei que se demoras
Também sei que não partiste

Aceito... por ti aceito este fado
Este silêncio magoado
E posso até perdoar-me
Aceito esta dor que há no meu peito
Mas amor só não aceito
Que voltes a enganar-me

Eu sinto por ti o mesmo de outrora
E se duvidas agora
Não sei mais o que dizer
Talvez seja o destino que queira
Que eu viva doutra maneira
E acabe por te esquecer

Aceito... que na cama do meu sono
Tu sejas puro abandono
Dos sonhos que já sonhei
Aceito que tudo agora é diferente
Mas não dês impunemente
O grande amor que eu te dei

O fado que eu não cantei

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Fernanda Maria
                                                                   
Passaste na minha vida
Como nem eu própria sei
Tu foste p'ra mim um fado
Um fado que eu não cantei

Passaste, olhaste, paraste
Mas depois não mais te vi
E até os próprios ciúmes
Já se esqueceram de ti

O que tu foste p’ra mim 
Juro amor, que hoje não sei
Para mim tu foste um fado 
Um fado que eu não cantei
Tu foste um sol sem calor 
Estrela que não apanhei
Tu foste um fado da vida 
Um fado que eu não cantei

Quando chegavas, partias
Chegavas depois sem esperar
Quando te via, não via
Não paravas de passar

Eu esperei dias e meses
Depois ‘inda mais esperei
Mas hoje não espero nada
Meu fado que não cantei