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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Eu não sabia

Letra e música de João Dias Nobre
Repertório de Fernanda Batista

Eu não sabia 
O que era amor, pois julgava
Quando d’alguém se gostava
Tudo sorria na gente
Eu não sabia 
Quando custa a felicidade
E como o amor, na verdade
É às vezes tão diferente

É um olhar
Um palpitar dentro do peito
Um não sei quê 
Em que se crê, sonho desfeito
Uma promessa 
P’ra que se esqueça, logo depois
E o amor então 
É esquecimento, é sofrimento
Desilusão

Eu não sabia 
Como é cruel o ciúme
E ao senti-lo como lume
Nós somos todos iguais
Eu não sabia 
Quanta amargura contém
Ver que a ternura de alguém
Não é nossa nunca mais

Manhã de esperança

Carlos Plácido / Fernando Freitas *alexandrino do noquinhas*
Repertório de Gil Costa

Não esperes que a manhã te traga um novo dia
Um dia só é novo quando renasce a esperança
De ver o sol raiar no riso da criança
E bandos de gaivotas cheirando a maresia

Depois, co’a mão incerta até podes pintar
Um céu de rosa velho com nuvens de marfim
Numa rua deserta poderás encontrar
Alguém que não conheças, mas que fale de mim

Em cada primavera existe uma andorinha
Voando sobre as flores, espalhando a liberdade
Não sou terra queimada e nem erva daninha
Apenas a manhã que te acordou tão tarde

Fado do toureiro

Amadeu do Vale / Raúl Ferrão
Repertório de Fernanda Batista
Criação de Fernanda Baptista no filme Sol e Toiros, realizado por 
José Buchs / Cinema Condes 1949
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
-
Amo um toureiro de raça
Como os de raça cigana
Toureiro cheio de graça
Com a graça sevilhana

Na arena sereno e forte 
Abre o capote, valente
Sempre que entra na sorte
Eu vejo a morte à sua frente

Cingido ao toiro, traje d’oiro
À luz do sol a rebrilhar
Vejo o meu querido
Destemido a tourear
E quando a lide se decide
Eu oiço enfim, uma ovação
Junto ao altar
Rezo a chorar, uma oração

Toureiro audaz e valente
Frente a um toiro traiçoeiro
Eu sinto a vida pendente 
Da vida desse toureiro
Mas, ai, se numa corrida
O meu amor arrogante
Sofrer alguma colhida 
Eu perca a vida no mesmo instante

Não penses mais em mim

João da Mata / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Manuel de Almeida

Não penses mais em mim, por caridade
Eu já não sou o mesmo que era outrora
Se há sombras que ainda arrastam claridade
Nem sombra do que fui, eu sou agora

Não penses mais em mim, eu já não sou
Aquele pobre tonto entre os escolhos
Aquele pobre cego que te amou
E a quem tu ensinaste a abrir os olhos

Não penses mais em mim, preciso calma
P’rá vida que, feliz, nunca vivi
Já basta p’ra suplício da minh’alma
Ter que pensar que já pensei em ti

Marcha do Bairro Alto 1955

Silva Tavares / Elvira de Freitas
Repertório de Anita Guerreiro

O Bairro Alto fidalgo e fanfarrão
Já se vê todo sem sobressalto
Perdeu seu modo de provocação
E já acata sem zaragata 
Os que lá vão

Canta… ó Bairro Alto… canta
Canta e encanta 
Com teu balão
Prova… ó Bairro Alto… prova
Que não há trova 
Sem coração
Brilha… ó Bairro Alto… brilha
E maravilha 
De lés a lés
Passa… ó Bairro Alto… passa
Cheio de graça 
Mostrando quem és

Ao Bairro Alto, agora todos vão
Ouvir o fado quase de assalto
Foi-se o passado, mas a tradição
Mantém-se viva, sempre festiva
Sem frouxidão

Sorte

Maycon Ananias / Cassiano Correr
Repertório de Marco Rodrigues

Somos só uma canção a mais
Barco sem rumo ao mar 
Vento de proa a soprar
P’ra longe de nós
Eu digo que não sei
Se o tempo vai mostrar a saída

Meu amor 
Sei que é difícil sentir 
O peso do mundo assim
Fundo que não tem fim

Mas é melhor a sorte que se faz
Paisagem em nós, a alma em paz
O caminho sob os pés
Amigos em redor... a vida

Erros que cometi 
Por tanto procurar
Na ânsia de acertar

Mas é melhor a sorte que se faz
Paisagem em nós, a alma em paz
Eu digo que não sei
Se o tempo vai curar a ferida


Somos só uma vaidade a mais
Barco sem rumo ao mar
Vento de proa a soprar

Grande marcha de Lisboa 1955

Silva Tavares / João Andrade Santos
Repertório de Anita Guerreiro

É Lisboa, venham vê-la
São de sonho as graças que encerra
Só Deus sabe se foi estrela
Ou baixou lá do céu à terra

Pôs craveiros à janela
No amor é leal ardente
A falar… não há voz mais bela
A cantar… não há voz mais quente

Esta Lisboa bendita
Feita cristã p’ra viver
É a menina bonita
De quem tem olhos p’ra ver

Moira sem alma nem lei
Quis dar-lhe o céu cor e luz
E o nosso primeiro rei
Deu-lhe nova grei
E o sinal da cruz

Nas airosas caravelas
Tempo após, com génio profundo
Cruz sangrando sobre as velas
Portugal dilatou o mundo

E a Lisboa ribeirinha
Ao impôr sua cruz na guerra
Foi então a gentil rainha
Ante a qual se curvou a terra

De tarde

Cesário Verde / João Veiga
Repertório de Salvador Taborda Ferreira

Naquele piquenique de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela
E que sem ter história nem grandezas
Em todo o caso dava uma aguarela

Foi quando tu, descendo do burrico
Foste colher, sem imposturas tolas
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas

Pouco depois, em cima duns penhascos
Nós acampamos, ‘inda o sol se via
E houve talhadas de melão, damascos
E pão-de-ló molhado em malvasia

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas

Conta errada

Jorge Rosa / Alberto Simões Lopes *fado dois tons*
Repertório de Mariana Silva

Contei que tu aparecesses
E nas contas que deitei
Contando que tu viesses
Com teus carinhos contei

Contei as horas daquela 
Ânsia louca de te ver
E fui contar prá janela 
Contando ver-te aparecer

Contei as estrelas do céu 
Contei as pedras da rua
E mil sombras contei eu 
Sem contar a sombra tua

Contei-as de ponta a ponta 
As contas do meu colar
E a contar não dei por conta 
De ver a manhã chegar

Sempre contei que tu desses 
Conta, da falta que achei
Pois que tu não aparecesses
Confesso que não contei

Dois mistérios rodeiam esta letra:
Primeiro, o texto acima transcrito é o que consta do registo de obra 
na Sociedade Portuguesa de Autores.
Porém, Amália Rodrigues e todas as fadistas que interpretam este fado 
não cantam a primeira estrofe tal como está registada, mas desta forma:

Aprendi a fazer contas 
Na escola, de tenra idade.
Foi mais tarde, ainda às tontas, 
Que fiz contas com alguém.
Eu e tu, naquela ermida 
Somámos felicidade

Mas um dia fui seguida
Que traições que tem a vida
Que horas más que a vida tem
Tinha um homem, fui tentada
Somei-lhe outro, conta errada 
Fiz a prova, não fiz bem.

O segundo mistério é a declaração de registo conter ainda uma última estrofe 
à qual, pela estrutura, faltam os quatro versos iniciais, supondo-se a intenção 
de serem substituídos por um solo instrumental.
Contudo, os oito versos restantes seguem de muito perto o conteúdo dos últimos 
oito versos da estrofe hoje cantada como remate. 
Seria uma alternativa para escolha posterior do autor? 
Ou seria para a intérprete decidir qual a do seu maior agrado?
E quem terá modificado os versos que, hoje em dia, são cantados no início, 
não constando da declaração de registo de obra?

Força do mar

Letra e música de Márcia
Repertório de Pedro Moutinho 

Onde quer que o mar assente
Onde quer que a maré vá
Levo o mar comigo
E o mar me levará

Água que toca na gente
Gente que nos deixa cá
Quero que o mar seja abrigo
Que às vezes sol não há

Quero que a água leve
E o há-de levar

Onde quer que o mar assente
Onde quer que a maré vá
Quero que o mar seja abrigo
Que às vezes sol não há

E tudo pode ser diferente
Ou tudo ficar como está
Eu vou atrás e chego à frente
Conforme ao mar lhe dá

Onde for que o mar me leve
Eu quero guardar para mim
A força do mar donde eu vim 

O amor desacontece

Jorge Fernando / Tiago Machado
Repertório de Marco Rodrigues

Escurece e o amor desacontece
Os pés pisam-me a sombra pisando
Só a noite é o palco errado
Dar o braço, mantê-lo curvado
À espera que o teu braço enlace
E se acalme em meu braço enlaçado

Escurece e o amor desacontece
Os pés pisam-me a sombra pisando
Sem imagem a eternizar-nos
Sem porquês para desgostar-nos
Cuidar se o amor nos é falso
Não andar pelas nuvens descalço

Fico à porta para ser-me 
Um segundo a entender-me
Fico à porta e se não entro
Perco o pé e perco o momento
E só por ver-me assim me recuso a ver
Recuso a aceitar
O que o espelho vai dizer-me
Que triste o teu olhar


Escurece e o amor desacontece
Os pés pisam-me a sombra pisando
Resta a mão p’ra poder prender-te
Que se fecha por não querer perder-te
Que mais pode um ser, não ser mais
Que o aceitar dessa lei os sinais

Oração

Mariza / Tiago Machado
Repertório de Mariza

Triste e só anda meu coração
Como anda a folha perdida no vento
Procuro o caminho nesta escuridão
Procuro a luz no pensamento

Busco a perdida oração
Que minha mãe me ensinou
Quero gritar a verdade
Quero gritar a verdade
Mas o vento me calou


Pareço a madrugada molhada e fria
Que vagueia como louca pela cidade
Nada me aquece a alma vazia
Estou sem tempo mas com idade

Naquele dia

Fernando Pessoa / Teresinha Landeiro 
Armandinho *fado são miguel c/refrão*
Repertório de Teresinha Landeiro

Perguntei ao coração
Por quem batia e dava ais
E passaste tu, então
E eu senti-o bater mais

Naquele dia 
Tu passaste com firmeza
Com certeza e co’a beleza
De quem ama e nunca esquece
Tive o desejo 
De roubar-te um dia um beijo
De poder ver o que sentes
Se é amor, ou se me mentes
O teu passar 
Deixou meu amor desperto
Estavas perto e tão certo
Com firmeza no andar
Naquele dia 
Disse a Deus querer ser tua
Sob a lua numa rua
Em que more o teu olhar


Quando passas pela rua
Sem reparar em quem passa
A alegria é toda tua
E é minha toda a desgraça

Não podia estar melhor

Boss AC / Tiago Machado
Repertório de Marco Rodrigues

Sem querer adormeci e o alarme não ouvi
Atrasei-me tanto, visto-me à pressa
À porta do café encontro a dona Zé
Quer contar-me tudo lá da travessa

Ai agora o que é que eu vou fazer
A vida é bela e é p’ra se viver
Respiro fundo e digo assim:
Que bem estou
Não podia estar melhor

O chaço não quer pegar
O autocarro a passar
O motorista nem parou 
E assim não ajuda
Acabei por ir a pé
A subir pelo sopé
Sem chapéu e a chover
Deus me acuda

Tudo se compõe
É preciso ter calma
Deixem-me cantar
Cantar faz bem à alma
Se querem saber: 
Não podia estar melhor

Chego a casa e não há luz 
Nem há água para o duche
Trato disso amanhã,
Alguém me dê férias
Quase um mau olhado,
Tudo bate errado
Mas pensando bem
Há coisas mais sérias

Namora-me com teu olhar

Jorge Fernando / Arménio de Melo
Repertório de Luís Caeiro

Namora-me com teu olhar, profundamente
Sacode a minha alma com o olhar
Enche todo o meu ser até que a mente
Não tenha nada mais em que pensar

Namora-me com as mãos, quando se atrevem
Ligeiras no meu rosto a deslizar
Vê que se não dizem nem se escrevem
As emoções trocadas num olhar

Namora-me se quiseres mesmo em segredo
Que a chama do meu amor pode acabar
Não deixes que eu me perca aquém do medo
Que um dia tu me deixes de namorar

O fado que eu conheci

Jorge Rosa / Carlos Macedo
Repertório de Pedro Lisboa

O fado que eu conheci 
Tinha samarra e boné
Calça justa, cachené 
E paletó de caqui

Presa no canto da boca 
Uma beata modesta
E debruçada na testa 
Aquela melena louca

O figurino
Por, talvez antiquado
Não puxava muito ao fino
Mas cheirava muito a fado
E no seu estilo
Tinha a voz cansada e rouca
Mas fado na sua boca
Dava gosto, gosto, ouvi-lo


O fado que eu conheci 
Vadio de tasca em tasca
Fora de si, sempre à rasca 
Um copo aqui outro ali

Filho da noite e da estúrdia 
Da boémia companheiro
Tinha o travo verdadeiro 
Da verdadeira balbúrdia

A tua estátua

Capícua / Carlos Simões Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Marco Rodrigues

No vidrado súbtil
Do azul do azulejo
Eu me tinjo em teu anil
Eu te vejo e te desejo
Nas linhas do teu perfil

Eu esbocei o teu croqui 
Com saliva e aguarela
E na tela eu descobri
Sem a roupa, a tua pele 
É quase como um biscuit

Essa tez fez-se um verniz 
Na tua nudez de época
Retocada a pó de giz
Em tua pose perpétua 
Não és pedra por um triz
Retocada a pó de giz
No teu brilho madrepérola 
Não és pedra por um triz

O teu baton fez-me Drácula 
Nas sardas, a via láctea
Perfeita sem uma mácula
De mármore, assim linfática 
Vou esculpir a tua estátua
Perfeita sem uma mácula
Prometi, jurei a Fátima 
Vou esculpir a tua estátua

Infinito presente

David Mourão Ferreira / José Mário Branco
Repertório de Camané

Irrompe do teu corpo iluminado
Toda a luz de que o mundo sente a falta
Não a que mais reluz, só a mais alta
Só a que nos faz ver o outro lado

Do bosque, onde o futuro e o passado
Defrontam o presente que os assalta
Num combate indeciso a que nem falta
O sabor de saber-se ilimitado

Irrompe assim a luz entre os extremos
Da mesma renovada madrugada
E vibra a cada instante um novo grito

Com essa luz do grito é que nós vemos
Que passado e futuro não são nada
Apenas o presente é infinito

Chego tarde, canto o fado

Manuela de Freitas / Casimiro Ramos *rapsódia de fados*
Repertório de Pedro Moutinho

Meu amor, que Deus nos guarde
Pois confesso, tenho medo
Sou fadista, venho tarde
E tu queres que eu venha cedo 


Chego tarde, meu amor
Mas sabes que é bem pior
Quando nâo posso cantar
Para chegar cedo, nâo canto
E apesar de te querer tanto
Nada tenho para te dar

Por mais que ameaces não me esperar
Por mais que de perder-te eu tenha medo
Canto o fado e sempre hei-de chegar
Para ti tarde demais, para mim cedo

Não vou para outra mulher
Como estás sempre a acusar-me
Vou cantar onde puder
Enquanto o fado me der
O que nem tu podes dar-me

Acaba co’as tuas queixas
Pois está fora de questão
Ou te deixo ou tu me deixas
Deixar o fado é que não 

Meia vida

Marques Vidal / Popular *fado menor*
Repertório de Tânia Oleiro

Parti minha vida ao meio
Dei-ta de boa vontade
E agora sinto receio
P’la vida dessa metade

Não é que falta me faça 
A vida com que ficaste
Porém, no tempo que passa 
Meia vida abandonaste

Já não a trazes contigo 
E para ti já não presta
A tristeza anda comigo 
Nesta metade que resta

Viver assim não é nada 
Na vida que se desdobra
Mesmo sabendo-me errada 
Dou-te a metade que sobra

Por ti

Letra e música de Agir
Repertório de Marco Rodrigues

Por ti eu dava a volta ao mundo
Por ti não me importa vir em segundo
Ai por ti eu seria de uma só
Mas por enquanto eu canto a uma só voz

Por ti minha alma fica nua
Por ti dei voltas e voltas p’la rua
Ai por ti eu até daria o nó
Mas por enquanto eu canto a uma só voz

Ai meu amor
Tu diz-me porquê
Que eu ando farto de me perguntar
Porque é que no fundo renegas de vez
Que por ti eu traria a lua só p’ra te dar

Nova paixão

Valente Rocha / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Maria Fernanda Pinto

Não penses que ando perdida
Por me teres abandonado
Enamorei-me do fado
É feliz a minha vida


Se passei dias chorando  
Ao lembrar-te a toda a hora
Os dias foram passando 
A saudade foi-se embora
Hoje, de ti desprendida 
Vivo a cantar o fado
Meu coração torturado 
Sarou da mágoa sentida
Não penses que ando perdida
Por me teres abandonado


Mas se pensares procurar-me 
Ciente do meu perdão
A cantar vens encontrar-me 
Vivendo a minha paixão
Quero cantar de bom grado 
Minha canção preferida
Não vivo desprotegida 
Nem o cantar é pecado
Enamorei-me do fado
É feliz a minha vida

Verde limão

Letra e música de Arlindo de Carvalho
Repertório de Celeste Rodrigues

Dá-me a tua mão esquerda
Que quero abarcar
A direita não ta peço
Que já tens a quem a dar

Ó limão, ó verde limão
Solteirinha sim

Casadinha não
Ó limão, ó verde limão 
Amor da minh'alma 
Dá-me a tua mão

Ó luar da meia-noite
Alumia cá p’ra baixo
Que eu perdi o meu amor
E às escuras não o acho

Os olhos do meu amor
São grãozinhos de pimenta
Namorei-os na igreja
Ao tomar da água benta

Ruas do tempo

Amélia Muge / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Pedro Moutinho

Mal sei de ti, mesmo quando
Ao teu lado pouso e ando
Que estranha forma de ver
Cada um para seu lado
Como se fosse um passado
Que ainda vamos viver

E esta coisa do amor 
Tem um lugar para a dor
Onde supomos saber
E é certeza resgatada 
À prisão acorrentada
À liberdade do querer

E digas o que disseres 
Faças lá o que fizeres
Nós dois teremos um fim
Há um final adiado 
Sempre que estás a meu lado
Mas que há-de chegar, enfim

Nada nos pode salvar 
Desse fim, desse acabar
Que parece não chegado
Na verdade já lá estamos 
E este perto a que nos damos
É só futuro adiado

Entre oceanos

José Luís Gordo / Arménio de Melo
Repertório de Luís Caeiro

Entre o mar que nos separa
Dos oceanos do mundo
Há uma guitarra que chora
Um canto que se demora
Num grito calado e mudo

Ganhamos este destino
Com caravelas de vento
Rotas de vento à bolina
Mas ninguém nos adivinha 
As cordas do pensamento

Contam-me os mares da distância 
Os segredos dos navios
Das rotas que me apetecem
Lá onde moram os frios 
Que os marinheiros conhecem

E tu moras tão perto 
Deste mar por mim salgado
Das lágrimas com que te canto
Meu país ganha-me o pranto 
Que eu entrego a tanto fado

Agora

Nuno Miguel Guedes / Popular *fado menor*
Repertório de Maria Emília

Por vezes estou tão sozinha
Na imensa multidão
Que convido a tristeza
Para a minha solidão

E nesta triste conversa 
Que me obrigo a ter comigo
Eu recordo essa promessa 
Que te fiz, de estar contigo 

Em todos os rostos que vejo 
Apenas vejo o teu
Mas de que serve o desejo 
Se já sei que não és meu 

Respiro fundo e prometo 
Que deixo a vida passar
Que hei-de vencer este medo 
Que hei-de vencer este mar

De que me serve o passado 
Senão p’ra mostrar a estrada
Evitar o passo errado 
Começar tudo do nada 

De ti, fica uma memórias 
De dias que já lá vão
Agora escrevo outra história 
Sobre amores que aqui estão 

Não vivo o que já vivi 
Não aceito dias mortos
Estou agora, estou aqui 
A sonhar com outros portos 

Oi nha mãe

Letra e música de Custódio Castelo
Repertório de Mariza

Oi nha mãe 
Que me deste a liberdade
Cala meu chorar
Faz-me nascer outra vez
Cala também a dor desta saudade
Deixa-me ficar a olhar o teu olhar

Eu sou filha da distância
Que o mar da lua tem
A rua da minha infância
Foi colo de minha mãe

Busquei vida, cantei morna
Na praia de minha dor
Que bom filho a casa torna
Se em casa tiver amor

Sou da terra das canções
Do sentir da minha gente
Que em dia de sete sois
O luar fica mais quente 

Tarde demais

Florbela Espanca / Loic da Silva
Repertório de Sandra Correia

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar

Chegaste enfim, milagre de endoidar
Viu-se nessa hora o que não pode ser
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer

Beijando a areia d’oiro dos desertos
Procurara-te em vão, braços abertos
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor

E há cem anos que eu era nova e linda
E a minha boca morta grita ainda
Porque chegaste tarde, ó meu amor

Copo meio cheio

Mariza Liz / Mariza Liz / Tiago Pais Dias
Repertório de Marco Rodrigues

Estou tão triste aqui sozinho à espera dela
Com meu jeito meio sem jeito, não liguei
Mas depressa me senti perdido à chuva
Porque nem tentei

Passa o dia, a hora chega e não a vejo
Não aguento mais este bater de coração
Diz-me por favor se a viste, se sabes dela
P’ra acalmar a solidão

Não sei se vou hoje à noite
Nem sei se ela espera por mim
Talvez me digas
Volta p’ra lá… volta p’ra cá 
E diz-me quem lá está
Talvez também eu vá
Volta p’ra lá.. volta p’ra cá
Que um copo já não dá
Se ela não estiver lá


Aprumei-me, pus perfume, o melhor fato
Tudo isto para ver aquele sorriso
Mas não há nenhum sinal
Faltou a rede do meu paraíso 

Uma pena que me coube

Letra e música de Amélia Muge
Repertório Pedro Moutinho

Há um amor que não conheço
Pois não se dá a conhecer
Nunca se deita na minha cama
Nunca se senta à minha mesa;
Não sei sequer por onde anda
Nem sei se um dia o irei ver

Sopa dos pobres ao domingo
Lago de patos sem jardim
Pedra escondida no canteiro
Voz sem abrigo junto ao muro;
Terá saudades do futuro
Ou as saudades são só de mim?

Será que é uma pena que me coube?
Será que é uma pena que me coube?


Se o impossível já tem um rosto
Se o amanhã já se perdeu
Só sei que quero estar onde estou
Feita manhã dum sol já posto;
Feita poema sem alibi
Que se faz forma no estar aqui

Vai-se o mistério de um céu perfeito
Vem a certeza, que mais além
Alguém descansa neste meu peito
Já se faz minha tua presença;
Aqui se despem todas as crenças
E ficas tu e mais ninguém

Caminhos de Deus

António Sousa Freitas / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de Amália Rodrigues

Quis dar-me Deus um fado, um rumo e uma estrada
Caminhos, u sei lá aqueles que me deu
Quis dar-me Deus esperança e em tudo fui errada
Talvez porque troquei os seus fados p’lo meu

De tudo o que ficou a
inda resta acesa
A chama da saudade, estrela já no fim
E nada vale a pena, basta-me esta certeza
Daquele caminho errado traçado para mim

De tantas ilusões perdidas, u
ma a uma
Surgiu da noite agreste, um luto que me amarra
Ficaram-me as esperanças e Deus que mas resuma
Na triste voz do fado e cordas de guitarra