João da Mata / Armando Augusto Freire *Armandinho*
Repertório de Fernando Farinha
Andava de feira em feira
Lendo a sina a toda a gente
Ciganita feiticeira
Linda como o sol poente
De Moura a Vila Viçosa
De Estremoz a Montemor
Jornada longa e penosa
Que ela sabia de cor
Os seus olhitos errantes
Magoados, sonhadores
Eram o sol dos feirantes
Estrela dos lavradores
Em todos tinha um amigo
Como se houvesse fartura
De colheita e de ventura
Nos seus olhos cor do trigo
E a ciganita
Das sombras humilde escrava
Prometia a toda a gente
Riqueza e felicidade
Tão expedita
Nas orações se mostrava
Que o povo ficava crente
Como se fosse verdade
No entanto, na sua lida
De mistério desvendar
A sina da própria vida
Nunca soube adivinhar
Um dia, no seu labor
Surgiu figura imponente
Um moço da sua cor
Mas de raça diferente
Palavras que nunca ouvira
Ela ouviu, ela escutou
Fossem verdade ou mentira
A jovem acreditou
Novo rumo, nova cruz
Alcançaria por ele
E lá seguiu atrás dele
Como a sombra atrás da luz
Escorraçada
Logo se viu, p’lo seu povo
O culpado foi-se embora
Desprezando a ciganita
Desamparada
Às feiras voltou, de novo
A ler sinas como outrora
Mas já ninguém acredita