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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Às tantas

Letra e música de Duarte
Repertório de Duarte com Mara


Porque às tantas dei por mim
A gostar de canções tristes
Quando um amor chega ao fim
É que sabemos que existe

Porque às tantas dei por mim
Com alguns vícios do mar
Paixões perdidas nos portos
Partidas sem querer chegar

Já não choro amores perdidos
Já não me prendem amarras
Porque às tantas a beleza do naufrágio
Está na paz que vem das águas


Porque às tantas dei por mim
Como quem não quer saber
Quem ama nunca tem fim
Quem ama, deixa de ser

Porque às tantas dei por mim
Qualquer coisa que sonhei
E mesmo quando não fui
Muitas vezes lá fiquei

Inspiração

Lina Morgado / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Elsa Laboreiro


Nesta fronteira do medo
Onde vegeto meus dias
A madrugada vem cedo
Vestir-me de fantasias

E sonho mares inventados 
Com fundos de transparência
Onde morrem afogados 
Pedaços de consciência

Minh’alma parte cansada 
Quando o sol vem poisar
No pedaço de almofada 
Que guardo p’ra te deitar

E tão distante já vai 
Minha vontade de ser
Que meu sonho de mim sai 
Com desejos de morrer

Digo-te adeus a sorrir 
Chorando raiva vencida
De tão bem saber mentir 
Fujo à verdade da vida

Velho faroleiro

João de Freitas / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Júlio Peres


Naquela rocha escarpada
Sempre batida p’lo mar
Onde um farol existia
Quase sempre uma balada
Quando era lindo o luar
A altas horas se ouvia

Era um velho faroleiro 
Fadista antigo, de garra  
Que tivera uma voz d’oiro
E que cantava altaneiro 
Tocando a sua guitarra
P’ra ele o maior tesoiro

E nos murmúrios do vento 
Levada como um lamento 
Sua voz entristecida
Era uma eterna saudade 
Relembrando a mocidade 
Da sua cansada vida

Mas aconteceu um dia 
O farol ser demolido
E ele à dor não resistiu
E nunca mais a magia 
Do velho fado corrido
Naquela rocha se ouviu

Farra sem fim

Mónica Pinto / João Alvarez
Repertório de Mónica Pinto


A noite vem beijar o dia a terminar
E o sol já vai contar à lua
Que o povo vai sair com a alma a sorrir
Para a noite passar na rua


Espelho das estrelas a marcha a passar
Brilham as mais belas moças a dançar 
E os bairros cobrem-se de cor e de folia
Que do mais singelo ao mais castiço contagia

A noite vem beijar o dia a terminar 
E o sol já vai contar à lua 
Que o povo vai sair com a alma a sorrir 
Para a noite passar na rua 

Cai a madrugada, ninguém se recolhe
Vive-se a noitada que o alvor acolhe 
E o povo segue o seu destino alegremente
Quando a noite cai, vive-se a festa novamente

A cantar e bailar na rua
Para a noite passar na rua

A vida é bela

Cátia Oliveira / Valter Rolo
Repertório de Inês Duarte


Iludem as aparências
Faço as malas mas não quero ir
Doem as reticências
Do que não me dizes ao partir

A vida é bela
Dizes tu meu amor
Mas amargo o sabor
Das noites em que o teu abraço 
Não vem

Humanas intermitências
Não te quero mas por ti anseio
Tristes inconsistências
Boas intenções, inferno cheio

A vida é bela
Digo eu sem rancor
É cerejeira em flor
Vai alta a noite e a manhã 
Que aí vem

Se me desvia a estrela guia
E outra vez, só por um triz
Te encontro à beira do metro 
E desta vez, tu me sorris

Se não há coincidências
Caprichoso firmamento
Somos claras evidências
Astros baralhados pelo vento

A vida é bela
Já sabemos os dois
E antes que depois
Estou de viagem ao futuro
Meu bem

Quem me dera o luar

Elsa Laboreiro / António Neto
Repertório de Elsa Laboreiro


Ai quem me dera o luar
Refletido sobre as águas
Do meu ser a despertar
Lavado de quaisquer mágoas

Ai quem me dera o azul 
Mais puro que o céu contém
Bordado a nuvens de tule 
Pelas mãos de minha mãe

E o verde da primavera 
Salpicado de mil flores
Deus sabe quanto quisera 
Ofertá-lo aos meus amores

E em cada onda do mar 
Que meu pai soube de cor
Quem me dera flutuar 
Num barco feito de amor

Resta-me então este canto 
Que é fado da minha vida
Coberta de negro manto 
Porém de sonhos vestida

O Fado e nós

António Rocha / Arménio de Melo
Repertório de Mónica Pinto


Tu dizes que me enganei mas eu sei
Que és tu que estás enganado
Porque quando te encontrei e te amei
Já tinha outro a meu lado

É o fado que amo tanto e que canto
Sem dele poder esquecer-me
Não me digas p’ra deixar de o cantar
Não consegues convencer-me

Podes ficar descansado
Embora saibas que ao fado
Dou o meu amor também
Só a fadista é que o quer
Porque afinal, a mulher
É tua, de mais ninguém


Há no fado tal magia que eu queria
Só p’ra mim o seu carinho
Mas tem mais duas amantes vibrantes
A quem se dá inteirinho

A viola e a guitarra bizarra
Sua grande paixão
Tal como eu as tolero, não quero
Teus ciúmes sem razão

Não cantes p’ra mais ninguém

Maria Manuel Cid / Armandinho *fado da adiça*
Repertório de Elsa Laboreiro


Quando menina cantava
Ao escutar minha mãe
Quase a medo murmurava
Não cantes p’ra mais ninguém

Pelo sentido profundo 
Na forma de me expressar
Sabia que neste mundo 
Tinha muito que chorar

E do seu olhar cansado 
Uma lágrima caída
Vinha tornar mais pesado 
O fardo da minha vida

Minha mãe compreendera 
E com ela estremeci
Que esta tristeza nascera 
Comigo quando nasci

E porque o fado é sofrer 
Eu sinto que minha mãe
Tinha razão ao dizer 
Não cantes p’ra mais ninguém

Na tua mão

Mónica Pinto / João Alvarez
Repertório de Mónica Pinto


Nasceu esta canção do coração
Pensando em ti... no que vivi
Naquela noite e
Em que eu na tua mão 
Escrevi... pertenço a ti

Na palma da tua mão 
Depositei o meu mundo
Naquela hora arrisquei
Perder o teu amor 
Que desejei mais profundo
Minh’alma a ti entreguei

A partir desse momento 
A minha vida é mais vida
O meu ser é mais ser
Partilhamos lado a lado 
A felicidade escondida
Na aventura de viver

Sexta-feira

Carlos Leitão / Carlos Menezes
Repertório de Carlos Leitão


Não é costume o atraso
Demorei-me no caminho
Fui comprar o melhor vinho
E umas flores ao acaso

O carro não quis pegar
Não me habituo à cidade
E quando teimo em chegar
Mais se demora a saudade

Depois foi o jantar que se queimou
O disco que escolhi estava riscado
Maldito seja o gás que se acabou
E o tempo cada vez mais despachado

O beijo mais certo desse sexta-feira
Deixou-me tão perto de uma vida inteira
Se amanhã vieres traz tu o jantar
Tentamos de novo na sala de estar

Desliguei a televisão
Corri a acender as velas
Abri portas e janelas
À espera de inspiração 

A mesa está requintada
Já me vesti a rigor
Só faltas tu à entrada
Para a coisa se compor

Dezembro em flor

Odete Mendes / Carlos Gonçalves *fado lágrima*
Repertório de Elsa Laboreiro


Foi em Dezembro, era inverno estava frio
E hoje relembro teu rosto por desvendar
Dentro de mim havia um grande vazio
E havia um rio de um amor por despertar

Andei no tempo a ver o tempo a passar
Mas nunca é tarde, nunca é tarde para amar
Ai meu amor, porque tardaste a chegar
Andei perdida, perdida por te encontrar

Cheia de sonhos, cheia de sonhos no peito
Quando me deito no calor dos teus abraços
Olho prá vida, lho prá vida com calma
Espreguiço a alma  e 
adormeço nos teus braços

Sorrir à luz do sol

Mónica Pinto / João Alvarez
Repertório de Mónica Pinto


Sorrir à luz do sol em cada renascer
De um novo dia… é viver


De cada vez que o sol prazenteiro
Brilha em cada viveiro
Dum amor primeiro
Amor verdadeiro
Amor de ternura
Amor de loucura
É amor, amor

É louvar cada dia a alegria
De uma nova poesia
De uma nova cantiga
De luz e de vida
Cantiga de fado
De orgulho e pecado
Cantiga de amor

Até amanhã

Cátia Oliveira / Valter Rolo
Repertório de Inês Duarte


Não te via há tanto tempo já
Que amor lascado te trará por cá?
E eu que sofro de memória má
Respiro fundo e deixo p’ra lá

Espero sempre que este entra e sai
Termine e amanhã talvez
Se de novo o coração te cai
Quem sabe fiques de uma vez

Nós temos tudo p’ra dar certo
Pão e água e meio teto
Com vista aberta p’ró céu
Dizes que sou louca e não está certo
Que preferes o deserto
Do que chamar-te de meu

Mas fosse o que dizes verdade
Não te daria a saudade
Do meu cheirinho a maçã
Sei que um dia ainda é verdade
Hás-de voltar com vontade
Ao dizer até amanhã

São Martinho

João Ferreira Rosa / Alfredo dos Santos *fado correeiro*
Repertório de António de Noronha


Um fadista já velhinho
Muito triste, coitadinho
Contou-me quase a chorar
As saudades do passado
Quando ele cantava o fado
Que todos qu’riam escutar

Contou-me então como eram
As noitadas que fizeram 
Fadistas e cavaleiros
O alegre São Martinho
Nos retiros com bom vinho 
E o calor dos fogareiros

De olhos semi-cerrados
Baixinho cantou-me uns fados 
Sua tristeza aumentou
Mas mudando de repente
Olhando-me bem de frente 
Com voz mais firme afirmou

A minha grande tristeza
Não me é dada p’la pobreza 
Nem lembranças que contei
É o medo de morrer
Sem de novo poder ver 
Portugal ter o seu rei

Esta dor adormecida

Ana Goês / José António Sabrosa
Repertório de Elsa Laboreiro


Esta dor adormecida
Que ao meu próprio colo embalo
É a dor da minha vida
Que acorda quando eu lhe falo

Esta dor adormecida 
Que calo em meus próprios braços
É a dor da minha vida 
Que acorda ao som dos meus passos

Esta dor adormecida 
Não dorme profundamente
É a dor da minha vida 
Que acorda quando me sente

Esta dor adormecida 
Já não posso mais com ela
Vou falar-lhe, vou ouvi-la 
Vou acordá-la e sofrê-la

Sofrê-la de novo ferida 
De novo aberta a doer
É a dor da minha vida 
Não a posso adormecer

Gaivotas

António Calém / José Lopes *fado lopes*
Repertório de António de Noronha


Disse-te em ondas verdades
Que foram morrer na areia
Falei de amor e saudades
Duma noite em maré cheia

Só as gaivotas voltaram
O resto ficou no mar
Os olhos que te sonharam
Não mais te podem sonhar

Por isso esta praia nua
Que eu vim encontrar depois
Não sei se um dia foi tua
Ou se foi de nós os dois

Varinas longe do cais

Hélder Moutinho / António Neto
Repertório de Elsa Laboreiro


Vem daí ver as colinas
Onde dormem as varinas
Desta formosa Lisboa
Na madrugada suprema
Guardo versos de um poema
Que o fado do povo entoa

Vem daí ver os poetas
Esses famosos profetas
A rimar trovas ao vento
Nas vozes das cantadeiras
Andam saudades brejeiras
Trovas de amor e lamento

Foram-se embora 
Os pregões da Madragoa
Já cá não mora a
 varina de Lisboa
E agora o Tejo 
Que anda sempre apaixonado
Até já canta outro fado


Vem daí p’ra ver se encontras
À venda por essas montras
Chinelinhas para os pés
Na lota já não há nada
Demoliram a bancada 
Foram todas para Algés

Quando um dia tiver tempo

Valentim Matias / Franklim Godinho 
Repertório de Valentim Matias


Quando um dia tiver tempo
Vou escrever-te um poema
Quer este rime ou não rime
O amor será o tema

Será de versos ligeiros 
Ligeiros como andorinhas
Que em manhãs de nevoeiros 
Te levam mensagens minhas

Vai falar do nosso amor 
Do amor que te dedico
Do perfume duma flor 
Que ao teu corpo identifico

E essas quadras singelas 
Falam de mim e de ti
Daquelas coisas tão belas 
Que contigo já vivi;
Afinal, já tive tempo
E o teu poema escrevi

A rapariga das violetas

Fernanda de Castro / Lima Brummon
Repertório de Teresa Tarouca


Éramos três
Quando passou por nós
Quando passou por nós
Com o cesto das violetas
Disse a primeira:
Como vai cansada
E descalça
Coitada, coitada

Disse a outra:
Tão suja e desgrenhada
Olham os pés sem cor
As unhas pretas
Eu, a terceira
Eu não disse nada
Não disse nada
Que lindas as violetas

Verbo amar

Carlos Leitão / Júlio Resende
Repertório de Carlos Leitão


Guarda-me todos os medos
Limpa-me as feridas de outrora
Deixa-me o colo mais terno
Das horas más do inverno;
Manda as tristezas embora
E fica só com os segredos

Agarra o meu coração
Os meus enleios da alma
Deixa que seja o desejo
A falar por entre o beijo;
E enquanto o peito se acalma
Deixa-me apenas o chão

Perdoa-me o verbo amar
As mil vezes que o gastei
Se sobra algum Deus para mim
Sabe que amar-te é assim;
Guarda tudo o que não sei
E deixa o mundo acabar

Aquela alvorada

Valentim Matias / Armando Machado *fado marana*
Repertório de Valentim Matias


O sol nos teus cabelos veio brilhar
Teus olhos acenderam-se pra mim
Eu tive a tua boca p’ra beijar
Nessa alvorada que nasceu sem fim

Havia lavaredas no teu corpo
Como fogueira acesa a crepitar
Colamos nosso peito um contra o outro
Na madrugada que nasceu sem par

Nesse dia, p’ra nós maravilhoso
Em que a luz do amor em nós se entranha
Foi um nascer de sol tão radioso
Que nos levou ao cimo da montanha

Bendita a luz que nos iluminou
Nesse belo raiar de um novo dia
Feliz e bela imagem nos deixou
A recordar momentos de magia

Formiga bossa nossa

Alexandre O’Neill / Alain Oulman
Repertório de Amália Rodrigues


Minuciosa formiga
Não tem que se lhe diga 
Leva a sua palhinha
Não tem que se lhe diga 
Leva a sua palhinha
Asinha, asinha

Assim devera eu ser
Assim devera eu ser
Assim devera eu ser
Assim devera eu ser


Assim devera eu ser
E não esta cigarra 
Que se põe a cantar
E não esta cigarra 
Que se põe a cantar
E me deita a perder

Assim devera eu ser
De patinhas no chão
Formiguinha ao trabalho
De patinhas no chão
Formiguinha ao trabalho
E ao tostão

No fim de contas

Tiago Torres da Silva / Fernando Freitas *fado pena*
Repertório de Pedro Galveias


Já não tenho pensado ultimamente
Nos dias que passavas a meu lado
Até um grande amor dentro da gente
Acaba por se transformar em fado

Já ando mais alegre nestes dias
Se até a solidão me tem gritado
Tristezas são iguais a alegrias
Se no final das contas já são fado

Talvez tenha sentido o coração
Bater daquela vez descompassado
Agora quando bate, bate em vão
E é por bater em vão que eu canto o fado

As coisas que me custam a lembrar
Já vão fazendo parte do passado
E só não as consigo perdoar
Porque preciso delas para o fado

A magia da Pimenta

Letra e música de Alice Pimenta
Repertório de Alice Pimenta


A magia deste fado que é o nosso
O dstino deste povo português
A ternura dum abraço fecha o fosso
De onde emanam as negativas marés

Heróis do mar, tanta bravura
Heroicidade, feliz loucura
Que nos ergueu
Por todo o mar, por toda a terra
Dizendo ao mundo
Sim à paz, e não à guerra


Por alto mar, em jangadas feitas luz
Em barcaças de ilusão e de magia
Sob a benção desse mestre que é Jesus
Somam feitos grandiosos noite e dia

Nasci em lençol bordado

José Raposo / Popular *fado mouraria*
Repertório de Nuno Rocha


Nasci em lençol bordado
Meu berço foi a guitarra
Cresci nos braços do fado
Que hoje canto com garra

Meu padrinho, o Bairro Alto 
A madrinha, a Madragoa
As pedrinhas de basalto 
Calçada da minha rua

Rua onde o fado passeia 
Por entre casas velhinhas
Nas noites de lua cheia 
Cantando saudades minhas

Saudades que são sinais 
Gravados no pensamento
Que ferem como punhais 
Cravados no sentimento

Sentimento é o que sinto 
Sempre que canto o fado
Ao coração nunca minto 
Nasci em lençol bordado

É como o amor

António Rocha / João Alberto
Repertório de Miguel Ramos


Já te escolhi numa outra vida
Como nesta, a tua vida
Eu vivo em mim e só por ti
Rompi os laços com a descrença
Pedi a Deus tua presença
Em longas preces, pedi por ti

Tu que és assim
Vê como sou assim também por ti
É como o amor que vive em dor
Só vive bem assim


Que a tua alma se fundisse
Com a minha e redimisse
Os sobressaltos que já passei
E a verdade que te encontro
Em que acredito e não confronto
Que estás aqui, que te encontrei

O mosquito mordeu-me o olho

Amália / Amélia Muge
Repertório de Amélia Muge


Passou um mosquito, mordeu-me no olho
Não vi a lagarta, comi o repolho

Comi a lagarta que o repolho tinha
E disse à lagarta que a couve era minha

E a lagartinha deu-me uma resposta
E eu não repito, que você não gosta

O raio da lagarta tão mal se portou
Um raio que a parta, tanto me enojou

Comi a lagarta, fiquei enjoada
Mordeu-me o mosquito e não vejo nada

Vejo agora ali aquilo que eu queria
Vi o que já vi, que é da minha tia

É o seu burrico que passa na estrada
Aqui já não fico, vou nele montada

Burro sem ser burro, burro sem burrice
Burro inteligente, que grande chatice

Sem andar prá frente, nem andar p’ra trás
Apanhou-me rente, deu um coice… zás

O abrigo que me déste

Valentim Matias / Adriano Ruiz Batista *fado macau*
Repertório de Valentim Matias


Quando as ondas batem forte
E o vento é muito agreste
A chuva cai e a sorte
É o abrigo que me deste

Abrigo do teu regaço 
Sob a vista dos teus olhos
Teu coração marca o passo 
E afasta os escolhos

Mão com mão entrelaçadas 
Um sentimento de posse
As bocas ficam coladas 
Assim a vida é mais doce

Neste nosso encantamento 
Que tanto nos satisfaz
Vivemos cada momento 
Sem nunca olharmos pra trás

Já as ondas se acalmaram 
E a brisa está serena
Nossas bocas se encontraram 
Meu amor, valeu a pena

Janela virada p’ró sol

Letra e música de Alice Pimenta
Repertório de Alice Pimenta


Janela escancarada p’la manhã
Paira no ar um cheiro de harmonia
Aromas de cidreira e hortelã
Abençoado seja o novo dia

Janela rasgada pela esperança
Onde a felicidade não é mito
Onde não há fantasmas de criança
Nem o amargo som do cruel grito

Janela aberta que o vento descobre
De onde não há tragédia que se aviste
Nem mulher que com medo o rosto cobre
Nem sequer se desenha um olhar triste

Janela de vida que a vida seduz
Tem raios de sol que à vida dão luz
Janela alegria, janela esplendor
Janela riqueza, pois só mostra amor

Eu fui aos fados

Valentim Matias / Popular
Repertório de Valentim Matias


Eu fui aos fados
Certa noite, há muito tempo
E o que então vi n
ão me saiu da memória
Uma mulher cantava de xaile preto
Versos de amor, no velho fado Vitória

O fado é lindo
O fado é verdade
Não tem idade 
Mas tem paixão
Canta ao amor 
Tal qual uma flor
Que lança perfume 
Bem dentro do coração

Ouvi guitarras 
A trinar doces arpejos
Ouvi silêncio que o silêncio é pra se ouvir
Senti na alma um baque de mil desejos
Senti o fado que o fado é pra se sentir

Como vai longe 
A noite que então vivi
P’ra todo o sempre a mesma vou recordar
Não sei exprimir tudo aquilo que senti
Nessa mulher de xaile preto a cantar

Tenho uma cabra cabrita

Amália / Amélia Muge
Repertório de Amélia Muge


A rola põe-se na rua 
O botão põe-se na casa
Vem o sol e vai a lua 
E a formiga perde a asa

Perco eu a inspiração 
Tudo o que faço não rima
Já perdi o que foi p’ra baixo 
E vou perder o que vem p’ra cima

Tenho uma cabra cabrita 
Que lindos saltos me dá
É uma cabra tão bonita 
Que é cabra mas não é má

Tenho um grilo na gaiola 
Um galo na capoeira
Tenho na porta uma argola 
E vivo desta maneira

Vinho leva o garrafão 
Cheia de água vai a bilha
Já tenho a fava na mão 
Já só me falta a ervilha

Um dia contigo

Tiago Simões / Pedro Galveias e Tiago Simões
Repertório de Pedro Galveias


Assim que amanhece
O teu sorriso aparece 
A lua dorme por fim
Bate o sol na janela
Que tua sombra revela 
Luzente só para mim

Com um bom dia sonolento
O teu sorriso inquieto 
Se dirige a mim num beijo
Num repente, esse bom dia
Faz acontecer magia 
De um comum desejo

Contigo amor, se vê o sol nascer
Bom dia amor, eu te quero dizer


Apressada, a manhã sumiu
Entre conversas que em nós surgiu 
E chega a hora de cear
Em nós emana a paixão
Que faz voar o tempo e então 
Acaba a noite por chegar

Contigo amor, o dia passa a correr
Assim amor, se vê a noite a nascer


A noite cai e num instante
O dia já vai distante 
Olhamos as estrelas em seu esplendor
Os dois nos vamos deitar
A noite irá passar 
E novamente te direi *bom dia amor*

Pranto nos teus olhos

Maria Manuel Cid / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de António Melo Correia


Choravam teus olhos tristes
Quando poisaram nos meus
Ficaram tristes meus olhos
E mais alegres os teus

E quando teus olhos viram
Nos meus o pranto bailar
Embora alegres, não riram
Por ver meus olhos chorar

Se teus males infinitos
Tornam meus olhos vidrados
Os teus olhos tão bonitos
Ficam logo embaciados

O pranto dos olhos teus
Cá para mim, não sei bem
É como dizer adeus
A tudo o que a gente tem

Fado é doença ou paixão

Valentim Matias / Alfredo Marceneiro
Repertório de Valentim Matias


Jamais poderei dizer
Que o fado não faz sofrer
Que o fado não é paixão
Mais que paixão, é doença
Que marca sua presença
Bem fundo no coração

É loucura, é sofrimento 
Por vezes, só um lamento 
Tantas outras. desatino
Porta aberta à nostalgia
Mas também é alegria 
O fado é o destino

Canta o amor, a saudade
Nem sequer sabe a idade 
É sentimento de um povo
E se recorre ao humor
É p`ra disfarçar a dor 
Fado também é renovo

Fado é vida, é solidão
Amargura, ilusão 
É amor principalmente
Se é doença, se é paixão
Sei que sai do coração 
E é tudo o que a gente sente

De quem eu gosto

Estevão José Machado / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Maria Teresa de Noronha


Gostei uma vez na vida
Gostei bastante iludida
De quem tanto me enganava
Agora sem fé, sem esperança
Talvez por minha vingança
Não gosto de quem gostava

Gostei sim, por não saber
Poder em amor haver
Um mal oculto no bem
Hoje firme no meu posto
Recordando esse desgosto
Já não gosto de ninguém

E como sei ser mulher
Mentir-vos-ei se disser
Que dei ao gostar um fim
Gosto sim, posso jurar
Por saber não me enganar
Unicamente de mim

Angústias

Valentim Matias / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Valentim Matias


Versos que nascem de dentro
Versos que são emoções
Traduzem um sentimento
Quantas vezes um lamento
Refletem desilusões

Por vezes não sei que sinto 
Se é dor ou muita emoção
Um sentimento distinto 
Que vou fingindo que finto
E me aperta o coração

Saudades de muito longe 
Mas será que as devo ter
O passado já não foge 
O que importa é o hoje
E o muito que há pra fazer

O futuro está à porta 
O presente vai passando
A minha alma conforta 
E acima de tudo importa
Seguir vivendo, sonhando (cantando)

Águias perdidas

Lima Brummon / Lino Teixeira *fado ginguinha*
Repertório de Teresa Tarouca


A sono sollto dormia há muito a cidade
E eu procurava como louca rua em rua
A tua sombra, entre essas ruas da saudade
Onde uma noite sobre nós raiara a lua

Na minha grande amargura de águia perdida
Que começou co’a tua ausência, eu queria ser
Ao encontrar-te, a perfumada flor da vida
Ou ser de novo uma alegria por viver

Mas fui tão pouco ao teu olhar desencantado
E o nosso abraço uma tristeza tão profunda
Que entre o silêncio o amor com lágrimas quebrado
Abandonou-se nas estranhas mãos da lua

Ergueu-se ao longe a sinfonia das guitarras
Perdida a voz, quebrado o amor, nada entendemos
Beijei-te a fronte e assim sem mágoa nem palavras
Serenamente unidos, meu amor, morremos

Conjugar o verbo amar

Valentim Matias / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Valentim Matias


Gostava de saber dizer em verso
O que é sentir amar e ser amado
Algo de tão diferente e tão diverso
Que não cabe nos versos de algum fado

Sentir que num olhar nos entendemos
E que um pequeno gesto tudo diz
Saber que o outro sofre quando sofremos
Amar e ser amado é ser feliz

Amar é ver o mundo com mil cores
É ter a luz do sol sempre a brilhar
Um doce caminhar por entre flores
E mesmo em noite escura ver luar

Porém amarguras e tristezas
Podem esse amor dificultar
Mas quando este é feito de certezas
Que bom é conjugar o verbo amar

Mandei embora a saudade

Domingos Silva / Jorge Fontes
Repertório de Maria Valejo


Eu queria, meu amor 
Ver-te um segundo somente
Para matar esta dor 
Que me mata lentamente

Há muito tempo eu procuro 
O teu olhar, Santo Deus
Mas não vejo, tudo é escuro 
Sem a luz dos olhos teus

Não queiras não aumentar este sofrer
Que vou vivendo a morrer
Sem que te ver, sem te beijar
Não queiras não que este dolorido
Sofra mais que tem sofrido
Pela luz do teu olhar


Este meu coração fecha 
Uma saudade sem fim
A saudade não me deixa 
Sem te ver junto de mim

Meu amor, por caridade 
Dá fim ao meu sofrimento
Manda embora a saudade 
Que não me deixa um momento 

Janela da alma

Mário Rainho / José Marques do Amaral
Repertório de Manuela Cavaco


Tem a alma uma janela
Onde às vezes debruçado
Espreita o coração, por ela
Só pra rever o passado

Em noite que a solidão 
Magoa e não me dá calma
Lá está o meu coração 
Posto à janela da alma

Passam dolentes segundos 
Que horas muito mais parecem
E há sonhos tão tão profundos 
Que acordados me enlouquecem

Quase à entrada do dia 
Sem sono, por caridade
Vem fazer-me companhia 
Uma infinita saudade

Tem alma uma janela 
E é por ela que espreita
O meu olhar, dentro dela 
A chorar quando se deita

O teu lugar é aqui

Valentim Matias / Raúl Pinto
Repertório de Valentim Matias


Teus olhos dizem-me tanto
Que enchem os meus de pranto
Quando estou longe de ti
Teus beijos são alimento
Têm sido o meu sustento
Desde o dia em que te vi

Passo dias e mais dias
Esperando o sol qu`irradias 
Nesse teu lindo sorriso
E em toda esta espera
Meu coração desespera 
P’lo abraço que preciso

Nem sei se é noite, se é dia
Só sei que sinto magia 
Quando estou juntinho a ti
Não estranhes que eu te peça
Por favor volta depressa 
Que o teu lugar é aqui

Trapeiras de Lisboa

Lourenço Rodrigues, Fernando Santos, Almeida Amaral / Raúl Ferrão
Repertório de Fernanda Batista

Ai Lisboa
Como tu és divertida
Se te vejo cá de cima das trapeiras
Quanto mais olho p’ra ti
Lisboa tão querida
tanto mais fico encantada 
Com essas tuas maneiras

Ou ao sol ou à luz do luar
És p’ra mim uma irmã de brincar
E se aqui vou ganhar o meu pão
Não é demais ser para ti meu coração

Oh Lisboa 
Que para mim não tens reversos
Manhã cedo corro a ver-te com saudade
E eu só queria
Meu amor, saber fazer versos
P’ra tos oferecer Lisboa
Minha formosa cidade

Como é bom ser avô

Valentim Matias / Pedro Rodrigues
Repertório de Valentim Matias

À mesa de um velho bar
Eu dei por mim a pensar
Como é bom ser avô
É algo de tão diferente
Que entra na alma da gente
E que a mim me fascinou

Somos de novo crianças
E regressam as lembranças 
De um tempo já bem distante
Perdoamos travessuras
Vão-se embora as amarguras 
Vemos futuro diante

Nova vida a começar 
Dá vontade de lutar 
E de escolher novos trilhos
Brilho novo no olhar
E o desejo de ajudar 
Os filhos dos nossos filhos

Quem diz o contrário mente
Ser avô é tão diferente 
Em carinhos e afetos
E não há coisa melhor
Do que juntar com amor 
Os avós, filhos e netos

Terra mãe

Letra e música de Nuno Barroso
Repertório de Dora Maria

Sou um poema, uma melodia
Lançado em verso na primavera
Dei luz ao vento que abraça o tempo
E trago em mim ventre de mulher

Sou mãe da terra, sol da primavera
E nasce em mim a planície de cantar
Trago no peito aquele jeito
De ser menina, de ser mulher
De ser mulher

Sou um poema, mais um dilema
Lançado em verso no planeta do amor
Dei luz ao vento que abraça o tempo
E trago em mim ventre de mulher

Sou mãe terra, sol da primavera
E nasce em mim esta planície de cantar
Trago no peito aquele jeito
De ser menina, de ser mulher
De ser mulher

Estações da vida

Valentim Matias / Daniel Gouveia *fado daniel*
Repertório de Valentim Matias

Alguém dizia, sorrindo
Para ti o mundo é lindo
Estás em plena Primavera
Era o tempo dos amores
Dos perfumes e das flores
E de uma ou outra quimera

Céu azul e andorinhas
Voando rente às beirinhas 
Dos telhados da cidade
E eis que chega o Verão
É tempo de afirmação 
Estás na força da idade

O tempo passa depressa
Sem sequer uma promessa 
Duma vida renascida
E nem nos apercebemos
Que de repente estaremos 
Em pleno Outono da vida

Mas este não é eterno
A correr vem o inverno 
Maiores as noites que os dias
Tempo para descansar (filosofar)
E também pra recordar 
Quantas, quantas alegrias (fantasias)

Soneto para os meus pais

Título original *Alma perdida*
Florbela Espanca / Edgar Nogueira
Repertório de Catarina Rosa

Toda esta noite o rouxinol chorou
Gemeu, rezou, gritou perdidamente
Alma de rouxinol, alma da gente
Tu és talvez alguém que se finou

Tu és talvez um sonho que passou
Que se fundiu na dor, suavemente
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou

Toda a noite choraste e eu chorei
Talvez porque ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós

Contaste tanta coisa à noite calma
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz

Meia-noite fadista

Nuno Lorena / José Marques *fado triplicado*
Repertório de António de Noronha

Meia-noite, uma lanterna
Um degrau, uma taberna 
E a petisqueira sublime
Ainda impera o tacão
No estilo da tradição
 Que a fadistagem imprime
E ainda é uso, ao balcão
Que à chama do canjirão
A velha guarda se arrime

Meia-noite, o caprichar
Duma guitarra a trinar 
Em mão fadista, certeira
Uma vela meia ardida
Uma garrafa bebida 
E uns olhos de camareira
Na parede colorida
Um cartaz duma corrida
E um xaile de cantadeira

Meia-noite, uma lembrança
E o rebrilhar duma trança 
É lume que mais fascina
E o cantar é a preceito
No rigoroso perfeito 
Que a velha escola ensina
Tem o fado o seu conceito
O faia tem o seu jeito 
Tem a gente a sua sina

Meia-noite e há discussão
Mas põe fim à confusão
Uma voz que o fado entoa
Gente boémia e fadista
Aventureira e artista 
A pedir outro Malhoa
Gente vária e bizarrista
Mas só um ponto de vista 
A tradição de Lisboa

Vai dizer à Mouraria

Letra e música de João Nobre
Repertório de Fernanda Batista

Se foi assim como hoje sou 
Que me encontraste
Se foi assim que te agradei 
E me agradaste
Porque me pedes p’ra mudar
Se sabes bem
Que ao destino, por mais triste
Não pode fugir ninguém

Vai dizer à Mouraria
Que não cante mais o fado
Diz a Alfama que sorria
E esqueça o que tem chorado;
Diz à Sé p’ra não ser crente
Que não dance à Madragoa
E verás como é diferente
Tão diferente esta Lisboa

Se o meu amor já não te prende 
E te atormenta
Se te aborreço por assim 
Tão ciumenta
Tu não me peças p’ra mudar 
E ser diferente
Se eu nasci p’ra ter ciúmes
Hei-de-os ter eternamente

Só sei que já não sei

Valentim Matias / Renato Varela *fado varela*
Repertório de Valentim Matias

Junto ao mar, num rochedo me sentei
E ali aguardei o teu regresso
Mas sei que foi em vão que te esperei
Porque não alcancei qualquer sucesso

Não sei se foi o mar que te sumiu
Ou foi o teu amor que já morreu
Mas sei que o coração quase ruiu
Depois de perceber que te perdeu

Ainda estou aqui a aguardar
Que possas regressar noutras marés
Pressinto que me andaste a enganar
Só sei que já não sei quem é que és

Por favor, diz-me qual a condição
Que fazer para te ver regressar
Duvido que o meu pobre coração
Ainda vá bater escutando o mar

Os teus lindos olhos pretos

Amália / Amélia Muge
Repertório de Amélia Muge

Os teus lindos olhos pretos
Teus olhos de negro olhar
Olham-me tão inquietos
Teus lindos olhos pretos
Que me andam a inquietar

Inquieta se te não vejo
Inquieta por te não ver
Inquieta-me o que eu desejo
E o medo de o dizer

Cá me ando com a ternura
Que tem o teu negro olhar
Nunca vi tanta negrura
Nunca vi tanta negrura
Mesmo no escuro a brilhar

Amor à primeira vista

Valentim Matias / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Valentim Matias

Eu não sei qual a razão
P’ra meu pobre coração
Ao fado se ter rendido
Amor á primeira vista
Amor feito de conquista
Amor, amado e sofrido

Sempre que a noite chega
A minha alma se aconchega
Aos trinados das guitarras
É na meia escuridão
Que liberto o coração
E então solto as amarras

Amarras do sentimento
Que  meus fados alimento
Com versos por mim sonhados
É no barco da saudade
Que embarca toda a verdade
Que existe nos meus fados

Soneto Andreia

(mudam-se os tempos, mudam-se as vontade)
Luís Vaz de Camões / Edgar Nogueira
Repertório de Catarina Rosa

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Todo o mundo é composto de mudança
Tomando sempre novas qualidades

Continuamente vemos novidades
Diferentes em tudo da esperança
Do mal ficam as mágoas na lembrança
E do bem, se algum houve, as saudades

O tempo cobre o chão de verde manto
Que já coberto foi de neve fria
E e em mim converte em choro o doce canto

E afora este mudar-se cada dia
Outra mudança faz de mor espanto
Que não se muda já como soía

Um passeio por Lisboa

Letra e música de Valentim Matias
Repertório do autor

Vou andar pela cidade 
Num passeio meio à toa
E p’ra dizer a verdade 
Quero é desfrutar Lisboa
Vejo o Marquês imponente 
Que p’las costas tem o Parque
Tem a Avenida p’la frente 
Lisboa por toda a parte

Dou um salto ao Castelo 
Vejo a cidade e o Tejo
Desço pela Mouraria 
E aguça-me o desejo
De ver o Martim Moniz 
Agora remodelado
Com mil cores e mil sabores 
E em mil línguas falado

Já na Praça da Figueira 
Aí eu faço um compasso
Depois subo ao Bairro Alto 
E desço ao Terreiro do Paço
Talvez eu vá petiscar 
Ali bem perto do Tejo
Mais tarde rumo a Alfama 
E aproveito o ensejo

De cantar e ouvir e fado
 Porque há muito anoiteceu
Encontrei-me com Lisboa 
E magia aconteceu
Passei no Cais do Sodré 
Docas, Parque das Nações
Ficou tanto para ver 
Não  faltam ocasiões

Meu coração sem direito

Amália / Amélia Muge
Repertório de Amália Muge

Lá foi o tal coração
Que eu tinha contra vontade
Lá foi aquele ladrão
Não sei para que cidade

O meu velho coração
Que ficou triste comigo
Por causa desse ladrão
Não volta a ser meu amigo

Pobre de quem envelhece
Por fora do coração
Que novo nos aparece
Com uma nova paixão

Meu coração sem direito
De bater tão apressado
Anda dentro do meu peito
Onde não cabe, coitado

Vai-te embora coração
Eu não sou boa morada
Onde mora a solidão
Não há lugar p’ra mais nada