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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.140 LETRAS <> 3.082.000 VISITAS * FEVEREIRO 2024

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Ai de mim que me perdi

Amália Rodrigues / Amélia Muge
Repertório de Amélia Muge

Ai de mim que me perdi
Pelos caminhos do tédio
Perdi-me cheguei aqui
Agora não tem remédio

Ai de mim que me perdi 
Perdi-me no fim da estrada
Ai de mim porque vivi 
A vida desencontrada

Tantos caminhos andados 
Não fui eu que os descobri
Foram meus passos mal dados 
Que me trouxeram aqui

Perdida me acho da vida 
E a vida já me perdeu
Ando na vida perdida 
Sem saber quem a viveu

Por mais que queira encontrar 
A razão do meu viver
A razão de cá andar 
Não posso compreender

Que culpa tem o destino 
Dos caminhos que eu andei
Fui eu que no meu desatino 
Que andei e não reparei

Perdida estou sem remédio 
Meu pecado e meu castigo
Pecado é morrer de tédio 
Castigo é viver contigo

Terra certa

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor com participação de Lia Gama

A terra certa 
Trata por tu a saudade
Entrega-se à liberdade
De ser dia e noite a sós

A terra certa sabe a sonho
Sabe a morte e canta o fim
Como se o canto dessa voz 
Que mais me aperta
Fosse a alma a querer ser Deus 
Dentro de mim

O céu já quer ser meu a esta hora
Castiga-me a traição mais inclemente
Já não és terra forte e não tens gente
Dizes que vais parar, mas não agora;
Agora que és só terra sem semente
Desprezas a saudade e vais embora

Texto declamado por Lia Gama
Hoje… ainda longe do destino
O sol das lágrimas tristes 
Deixa-me só neste cais
Hoje… aquilo que foi céu é só cinzento
Que dói tanto mar adentro
E diz que já não existes
Que não voltas nunca mais

Hoje… mais perto de mim
Há um sussurro eloquente 
Duma sereia inventada
Hoje… quero ser apenas triste
Imaginar que não partiste
E que Lisboa é diferente
Apenas triste e mais nada

Este rio que quer ser foz já não é meu
Quer ser só solidão, sem nos dizer
E agora que Lisboa se perdeu
Também o céu que quis ser teu 
Já quer morrer

Já não é terra forte 
E não tens gente
Deixa-me ser só eu à despedida
Pois só assim tu vais parar
E eu vou-me embora

Marcha de Loures

"Ó Loures aqui vai a gente"
Jorge d’Ávila / Silva Nunes
Repertório de Maria Valejo

Vem comigo que depois 
Por vontade tua e minha
É São João que apadrinha 
O casamento dos dois

Não sei ao certo quem vem 
Mas andam p'raí rumores
Que por milagre de amores
Santo António vem a Loures 
P’ra ir na Marcha também

Ó Loures aqui vai a gente
Que encara de frente 
A vida a cantar
É povo que marcha na marcha
E o povo que marcha 
Não pode parar
Ó Loures, a gente modesta
Trouxe para a festa 
Balões de mil cores
E a rua chama pela gente
Que canta e que sente 
A marcha de Loures

Venham rir, venham cantar 
E dançar à luz da lua
Porque na marcha da rua 
Todo o povo tem lugar

Tragam arcos e balões 
Açafates de cantigas
Deixem para trás intrigas
Que os olhos das raparigas 
Incendeiam corações

O bicho de conta

Amália Rodrigues / Amélia Muge
Repertório de Amélia Muge

O bicho de conta todo se fechou
Na minha mão tonta quando o apanhou
E nela ficou todo enroladinho
Fez-me comichão o raio do bichinho

Bicho de conta
Que conta, bicho
Conta lá, bicho
Conta lá

Encontrei o mocho, agarrei o gato
O mocho era coxo, era gago o gaio
Mas fugiu-me o coxo e falou-me o gaio
Ora vai do vira à noite é que eu saio

Fui atrás da lua
Encontrei o sol
E vi os pauzinhos
A um caracol

Ó minha mãe

José Guimarães / Nóbrega e Sousa *fado Alenquer*
Repertório de Fernando João

Nesta vida de perjuro 
Que só maldade contém
Não existe amor mais puro 
Que o sagrado amor de mãe

Ter mãe é ter a certeza 
Dum amor forte e profundo
Quem tem mãe tem a nobreza 
Do maior bem que há no mundo

Minha mãe

O meu sol, a minha luz
És farol que me conduz
E me guia para o bem
Minha mãe

Minha estrela redentora
És como Nossa Senhora
Que foi santa por ser mãe
Minha mãe

Por mais que teu rosto afague
Não há carinho que pague
Esse teu amor sincero
Ó minha mãe, ó minha mãe
Deus sabe quanto te quero 

Os teus cabelos branquinhos 
Nevados pela saudade
São os velhos pergaminhos 
Que trazes da mocidade

Mãezinha do meu encanto 
Quero-te mais que a ninguém
Ficas feliz quando canto 
Se sofro, sofres também

Estranho país

António Cálem / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Maria Valejo

Se as ondas fossem teus passos
Se a espuma, os teus abraços
E se o vento, os teus gemidos
Eu entraria no mar
Morreria ao entregar
O meu corpo aos teus sentidos

Era o princípio do fim
Fundo do mar ou jardim
Minha última viagem
Algas, búzios e sargaços
O calor dos teus dois braços
A fechar toda a paisagem

E é isso que és para mim
Mar, distância e o jardim
Ondas, paisagens remotas
Deixa-me então ser feliz
No teu estranho país
Feito de mar e gaivotas

Sinfonia do desejo

Paco Gonzalez / José Moreira
Repertório de Tino Ferreira

Formei-me na ciência do sofrer
Existe agora em mim, força p’ra tudo
Sinto-me até com força p’ra morrer
Ao ter o teu amor com que me iludo

Compus a sinfonia do desejo
Pintei a paisagem de carinho
E para ter de ti, um simples beijo
Fiz do inferno teu, o meu caminho

Os anos vão correndo velozmente
As rugas foram dando vida à carne
E esse amor que veio docemente
Tornou-se doentio e já não parte

Deixou na moradia do meu peito
Esta sede de amar e ser amado
E com lençóis de dor dorme no leito
Do viver que me déste amargurado

Tenho dois corações

Amália Rodrigues / José Mário Branco
Repertório de Amélia Muge

Eu tenho dois corações
Dentro e fora do meu lar
Eu tenho dois corações
Já me não podem bastar

Quando a tristeza é tão triste
Qual dos dois sofrerá mais
O que é real não existe
Eu tenho dois corações
Ambos eles irreais ;
Eu tenho dois corações
Qual dos dois sofrerá mais

Dois corações, o primeiro
Pertence á rua e ao pecado
O segundo é cativeiro
De quem me fez caminheiro
Sem nunca ter caminhado

O amante

Letra e música de Paco Gonzalez
Repertório de Fernando João

Eu sou amante que chora
Por dentro, por fora ri
Sou ofensa duma esmola por ti

Sou a flor guardada a tempo
Do romance que tivemos
Sou a saudade a lembrar
Que nos quisemos

E hoje…
Quando passas a meu lado, amor
A saudade do passado diz
Quanto a gente foi feliz
E hoje…
No sentido que nos traz a dor
No caminho dum orgulho atroz
Já nem sei quem somos nós

Tu foste a onda espumosa
Nos corpos colados, nús
Foste a lua caprichosa, a luz

Foste a rima do meu fado
A razão do meu viver
Foste o verso mais cantado
P’ra te esquecer

Não me perguntes

Joaquim Pimentel / Popular *fado menor
Repertório de Maria Valejo

Minha mão na tua enleias
Estão enleadas as duas
Que eu sinto nas minhas veias
Correr o sangue das tuas

Não me perguntes se venho
Novamente p’ra ficar
Não me perguntes se tenho
Ainda, amor p’ra te dar

Não me perguntes se quero 
4eviver o que passou
Pois neste meu desespero 
Já nem mais o que sou

Sou riso sem alegria 
Sou restos dum triste fado
Sou a saudade vazia 
Duma vida sem passado

Sou água triste a parada 
Sou esperança sem ter fé
Sou um zero, sou um nada 
Do nada que a vida é

A lua

Amália Rodrigues / Amélia Muge
Repertório de Amélia Muge

Olha a lua redondinha
Tão redonda coisa rara
Nem lhe descubro a covinha
De cada lado da cara

Anda cá ó lua cheia 
De cantigas p´ra me dar
Nem o mundo faz ideia 
Das cantigas ao luar

Tantas cantigas de amor 
Já terá ouvido a lua
Se as sabe todas de cor 
Sabe a minha e sabe a tua

Lua no quarto minguante 
Algum desgosto ela tem
Foi cantiga de estudante 
Que cantou p´ra mais alguém

Lua nova não se vê 
Anda de cara escondida
Não me perguntem porquê 
Que é uma pergunta atrevida

Na lua já ando eu 
Mesmo sem ter ido à lua
Meu amor é todo meu 
Meu amor sou toda tua

Será que de amores cresce 
Lua no quarto crescente
Ou será que a lua desce 
P'ra estar mais perto da gente

As luas são separadas 
Quartos minguante crescente
Já tem quatro assoalhadas 
Tem muito mais do que a gente

Sonho nunca entendido

Fernando João / Samuel Cabral
Repertório de Fernando João

Meu amor parido a frio
Meu sonho, meu sacrifício
Meu desejo escondido
Enseada do meu grito
Onda do meu precipício
Sonho nunca entendido

Meu resto de coisa finda 
Meu corpo feito uma chaga 
Meu desejo de ser eu
Minha saudade mais linda 
Minha conta sem ser paga
Ao peito que Deus me deu

Encruzilhada de sonho 
Rosa que nunca nasceu 
Momento que não passou
Estes silêncios medonhos 
Dum peito que se perdeu
E nunca mais se encontrou

E é minha contradição 
De ser ou não ser assim
Misto de riso e de pranto
É a única razão 
Que eu tenho dentro de mim
P’ra dar ao fado que canto

Já passaram tantos beijos

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Maria Valejo

Já passaram tantos dias 
Tantos meses, tantos anos
E eu teimo ainda em ter 
Esperanças e desenganos

Já passaram tantos sóis 
Já passaram tantas luas
E eu sem dar com o caminho 
E andando por tantas ruas

Já passaram tantos beijos
Tantas palavras de amor
Tanta jura, tanta esperança
Tanta ternura, amargor
Tanta ansia de seres tu
Aquele que desejei
Passou tanta, tanta vida
E nunca mais te encontrei

Já passaram as tristezas 
Já passaram as traições
Já passaram tantas dores 
Que só p'ra dez corações

Já passaram, vida minha
Coisas que nunca contaste
Passou tudo, tudo, tudo
Somente tu não passaste

Bom dia madrugada

Jorge Neves / Joaquim Campos *fado alexandrino*
Repertório de Fernando João

Bom dia madrugada, eu levantei-me agora
Que linda que tu ‘stás aos meus olhos despertos
Talvez enevoada como nuvem que chora
E quer deixar pra trás os gritos encobertos

Bom dia minha amada, meu sonho permanente
Meu riso de olhos tristes, meu canto de horas frias
Bom dia madrugada, meu sol sempre presente
À dor a que resiste com loucas ironias

Bom dia lua nova, bom dia noite escura
Viveremos os dois enquanto eu tiver vida
Fazendo a dura prova de vencer a amargura
E entre o nascer dos sóis, bom dia minha querida

Sombra triste de ninguém

António Cálem / Carlos da Maia
Repertório de Maria Valejo

E partias num navio
Com jeito de naufragar
Sei que era noite e era frio
E eu nem sabia chorar

Quem te mandou para longe
P’ra lá de terra e de mim
Que voz trouxe não sei donde
Aquela palavra fim

Porque não quebras os laços
Dessa voz que te chamava
E não voltas aos meus braços
A sonhares o que eu sonhava

Ó meu fim, meu desespero
Minha voz não sei de quem
Noite negra qu’inda espero
Sombra triste de ninguém

Ruas do fado

Artur Ribeiro / José Maria Antunes
Repertório de Artur Ribeiro

Ruas do fado nas ruas
Feitas de casas singelas
Onde há roupa nas janelas
Dando alegria à cidade;
E em cujas paredes nuas
Poetas improvisados
Escrevem rimas de fados
Para falar de saudade

Ruas do fado
Vielas de mil trapeiras
Com sardinheiras 
E guitarras a trinar
Ruas do fado
Onde a sombra da desgraça
Sempre que passa 
Deixa um fado a soluçar

Um candeeiro apagado
Que entristece a noite escura
Alguém que canta e procura
Calar o filho que chora;
Algures, um grito abafado
Sombras que passam unidas
A jogar às escondidas
Com quem passa áquela hora

Se há flores na primavera

António Cálem / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Maria Valejo

Eu já nada sei de mim
Se sou flor ou jardim
Ou sou um lago sem margem
Nem sei o lado do vento
Sei que o sonho é pensamento
E o pensamento é miragem

O que sei é divagar
Sei que o fim não é chegar
E o chegar é uma espera
À noite pelas vielas
Pergunto ao céu se há estrelas
Ou se há flores na primavera

Visto gestos que me cansam
Oiço vozes que me lançam
Num desespero sem fim
Sei de ti, de mais ninguém
Mas haverá mais alguém
Se eu própria nem sei de mim

Lisboa à meia noite

Artur Ribeiro / António Mestre
Repertório de Artur Ribeiro
Este tema também foi gravado com o título *Lisboa às zero horas*

Quando a meia noite passa
E a boa gente adormece
É que Lisboa tem graça
E pelas ruas se esquece
De brincar pelas esquinas
Com ar de menina boa
Deixa o pregão dos ardinas
E das varinas da Madragoa

Gente a passar
Os cinemas a fechar
E um casal a chamar 
Por um táxi já tomado
E mais além
Teatros fecham também
E lá vai a gente de bem 
Para os retiros do fado

Que linda és
Lisboa dos cabarets
Das boates, dos cafés
Sem basbaques no Chiado
Anda no ar 
Uma voz triste a cantar
Uma guitarra a trinar 
Num beco mal afamado  

Passa um guarda de uniforme
Que desperta de seguida
Um vagabundo que dorme
Pelos bancos da avenida
Numa outra esquina desponta
Um grupinho a protestar
Porque bebeu mais que a conta
E agora a conta não quer pagar

Estive um dia sem te ver

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Maria Valejo

Estive um dia sem te ver 
Nesse dia não vivi
E o meu coração batia 
Baixinho, a chamar por ti

Estive um dia sem te ver 
Estive um dia sem te ver
Pareceu-me um dia sem fim
Meu amor, p’lo amor de Deus 
P’lo amor de Deus
Nunca te afastes de mim

Eu sofro tanto por ti
É tão grande a minha dor
Que um dia, se estou sem ver-te
É como um ano de dor
Eu sofro tanto por ti
Que o meu coração assim
Quase nem sabe bater
Se não estás ao pé de mim

Eu sofro tanto por ti 
Num dia em que te não veja
Que não te afastes de mim 
Nem uma hora que seja

Estive um dia sem te ver 
Estive um dia sem te ver
E a saudade sem fim
Bateu à porta e entrou 
Bateu e entrou
E veio sentar-se ao pé de mim

Eu vivo a vida perdida

Amália Rodrigues / Amélia Muge
Repertório de Amélia Muge

Viver é estar-se perdido
Não sei se o terei ouvido
Se o li ou inventei
Desta ou daquela maneira
Não sou menos verdadeira
Nesta verdade que achei

Eu vivo a vida perdida
Sem esperança de me encontrar
Nesta verdade que achei;
Cantai-me o último fado
Que eu vivo e vai-se-me a vida
Que eu vivo e vai-se-me a vida

Sem esperança de me encontrar
A tentar compreender
Eu vivo e vai-se-me a vida
Sem conseguir entender
Porque me sinto perdida
Porque me sinto viver

Eu já vou a enterrar
Peço flores dai-me flores
Já me mataram as dores
Do sol que eu tinha no olhar
Ficou-me a noite tão escura
Talvez fosse de chorar