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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Ai dona feia foste-vos queixar

Natália Correia / Fontes Rocha
Declamado por Ary dos Santos
Adaptação de Natália Correia de uma cantiga medieval 
da autoria de João Garcia de Guilhade

Ai dona feia,
Fostes-vos queixar
De que vos nunca louvo em meu trovar
Mas umas trovas vos quero dedicar
Em que louvada de toda a maneira sereis
Tal é o meu louvar
Dona feia, velha e gaiteira

Ai dona feia
Se com tanto ardor
Quereis que vos louve como trovador
Trovas farei de tal teor
Em que louvada de toda a maneira sereis
Tal é o meu louvor
Dona feia, velha e gaiteira

Ai dona feia
Nunca vos louvei em meu trovar
Eu que tanto trovei
Eis que umas trovas vos dedicarei
Em que louvada de toda a maneira sereis
E assim vos louvarei
Dona feia, velha e gaiteira

Lisboa bonita

Eugénia Teles / Hermenegildo Figueiredo
Repertório de Amália 
Grande marcha de 1964

Lisboa minha cidade
Tão airosa e tão bonita 
Outra igual eu nunca vi
Sinto a tua mocidade
Cada vez és mais catita 
E mais eu gosto de ti

Apesar de tão velhinha
És cada dia mais nova 
Tens mais cor nos teus recantos
Lisboa cidade minha
Aqui tens mais uma trova 
A cantar os teus encantos

Lisboa Lisboa
Vamos lá cantar
Esta marcha ecoa 
Na rua ao passar
Mouraria passa
Bica e Madragoa
Alfama e a Graça 
Por toda a Lisboa

Tens um Castelo altaneiro
Que é a tua sentinela 
Desde o rei conquistador
Tens a Sé, tens o Mosteiro
Tens a graça da viela 
Sempre à espera dum pintor

São Vicente te abençoa
Santo António te acarinha 
E roga a Deus que te ajude
Vela por ti, ó Lisboa
Lá na sua capelinha 
A Senhora da Saúde

E pede-me agora o que não devia

Natália Correia / Fontes Rocha
Repertório de Amália Rodrigues
Esta letra é uma adaptação de Natália Correia para um poema medieval 
da autoria de João Garcia de Guilhade

Reparaste donas
Quando no outro dia o meu namorado
Comigo falou, como se queixava
Tanto se queixou
Que lhe dei o cinto, dei-lhe o que podia
E pede-me agora, o que não devia

Vistes, antes nunca, vistes, antes 
Tal coisa se visse
Que à força de muito, muito se queixar
Fez-me da camisa, fez-me da camisa
O cordão tirar
O cordão lhe dei, no que fiz tolice
E o que pede agora, antes não pedisse

Das minhas ofertas
João de Guilhade, enquanto as quiser
Enquanto as quiser não o privarei
Que muitas e boas, Que muitas e boas
Já dele alcancei
Nem lhe negarei minha lealdade
Mas de outras loucuras, tem ele vontade

O mundo é um moínho

Letra e música de Cartola
Repertório de Gisela João 

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés 

Lisboa noiva do fado

António José / Ferrer Trindade
Repertório de Amália Rodrigues

Nessa janela de águas furtadas
Há trepadeiras entrelaçadas
E dentro delas lá está Lisboa
Olhando o Tejo no altar da Madragoa

Mas à noitinha, está combinado
Andar sozinha com o seu fado
Se desce à rua já não se importa
Que até a lua veja o fado à sua porta

Dizem que o Tejo 
É teu namorado
E todos sabemos 
Que és noiva do fado
Mas não te cases 
Com um só depois
O melhor que fazes 
É namorar com os dois

Neste noivado entre vizinhos
Não há pecado, pois são velhinhos
Mas tu Lisboa toda te enfeitas
E eu até vejo os olhares que lhe deitas

Tens um costume que eu tanto invejo
Fazer ciúme ao pobre Tejo
Quando apareces com o teu fado
Nunca te esqueces de levar xaile franjado

Pop fado

César de Oliveira / Fernando de Carvalho
Repertório de António Calvário
Esta letra poderá não estar devidamente correta


O fado que é democrata
Mudou agora de estilo
Pegou-se à arte abstrata
Em concordata com tudo aquilo

Deixou-se da vadiagem
E é todo intelectualizado
Quis aprender a linguagem
E a mensagem do pop fado

Oh pá... 
Pop agora pró fado é popular
Topa ó pá o xarope do pop
Popátuá a galope com o pop
Oh pá... 
Estão-se nas poptintas os poplintras
São mais popistas que o fado
Popelarizado, popesticado
Popstarim poplista
Pop fadista sem rei nem pop


Arranjam novos modelos
Para atrair os mirones
Remendos nos cotovelos
E os cabelos à Rolling Stones

Existencial nos inversos
Rimas de nobres sentidos
Tem os trinados dispersos
Com estes versos muito atrevidos

A voz do vento

Fernando Gomes / Valter Rolo
Repertório de Catarina Rocha

Quando a mágoa vem 
Dizer-me que ninguém
Tem mais saber do que ela
E teima em calar 
Que eu quero sonhar
Eu não fecho a janela

Escuto a voz do vento 
Que me fala do futuro
Ganho um novo alento 
E atravesso qualquer muro

Digo à tristeza que vá embora
Não fico presa ao meu passado
E sem demora vem a certeza
Dizer que é hora de um outro fado


Digo adeus à dor 
Avanço com temor
E de alma em desalinho
O medo é voraz 
Mas eu não volto atrás
Procuro o meu caminho

Sigo a voz do vento 
Que me leva ao infinito
Vou sem um lamento 
À procura do meu grito

Papoilas aos ventos

Nuno da Câmara Pereira / Custódio Castelo
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Com ela de braço dado
Toda vestida de verão
Olhinhos em seu regaço
Papoilas em minha mão

Ajeito sua cintura
Aperto o meu coração
Sinto a sua loucura
Mar da minha emoção

Navegando no trigo louro
A brincar na solidão
A beijar o seu tesouro
Acendemos a paixão

Desengano

Carminho / Jaime Santos *fado latino*
Repertório da autora

Daria o mundo inteiro para ser tua
E o mundo inteiro é meu e estou tão só
Seria tão feliz na tua rua
Que a minha é só a solidão e o dó

Já noutro tempo eu não pensava assim
Mas ao contrário deste fim profundo
Tu eras o amor a esperar por mim
E eu queria o mundo inteiro deste mundo

Sei que nada é o que sonhamos
Mas é preciso, amor, sonhar na vida
Prepara bem assim os desenganos
P’ra que os teus sonhos cheguem algum dia

O povo canta na rua

Letra e música de Eduardo Pais Mamede
Repertório de Carla Pires

Abre a janela e deixa a lua entrar
Anda co’a gente, prá rua cantar
Que agora a festa vai ser tua
E até o sol acordar o povo canta na rua


Traz o teu par 
E vem dançar a noite inteira
Vamos saltar à fogueira 
E comer sardinha assada
E não te rales, ó pá
Deixa a tristeza p’ra lá
Põe um sorriso 
E vem com a rapaziada

Vamos comprar um manjerico 
E um balão
Vamos para a marcha cantar 
E foliar, pois então
Tomar de assalto a cidade
Encher as ruas
Quem não gostar que não venha 
E não faz falta, pois não
Quem esteja alegre 
Há-de vir pró pé da malta 

Se houver senhores 
Que tenham dores de cotovelo
E lhes irritar o pelo 
De ouvir a malta cantar
Não te arrelies, ó Zé
Com o mal deles, pois é
Canta mais alto 
Só para os incomodar

Que eles não gostam de ver 
A nossa alegria
Querem o povo tristonho
Sm fantasia, bisonho
Mas queiram eles ou não 
Estamos na rua 
E em algazarra, ó Zé
A marcha passa, pois é
Canta mais alto 
Só para lhes fazer pirraça 

Às voltas com o fado

Repertório de Tiago Torres da Silva / Valter Rolo
Repertório de Inês Duarte

Meu amor se tu quiseres
Ir ao campo p’la tardinha
Traz-me vinte malmequeres
E nenhuma erva daninha

Porque quem oferece flores
Quando o dia vai murchando
Talvez vá morrer de amores
Mas ‘inda não sabe quando

E se por ocaso 
Não me vires na romaria
Não procures outra p’ra bailar
Já fiz vinte anos 
Mas não vou ficar p’ra tia
Porque um malmequer 
Me prometeu que vais voltar

Meu amor longe de ti
Sinto o corpo tão cansado
Pois quando não estás aqui
Ando às voltas com o fado

E quando o fado adivinha
0 que o meu coração quer
Obriga-me a estar sozinha
Sem a saudade sequer

Eu não te amo, quero-te

Almeida Garrett / Custódio Castelo
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Não te amo, quero-te 
O amar vem da alma
E eu na alma tenho a calma 
A calma do jazigo
Ai, não te amo, não

Não te amo, quero-te 
O amor é vida
E a vida, nem sentida 
A trago eu já comigo
Ai, não te amo, não

Ai! não te amo, não 
E só te quero
De um querer bruto e fero 
Que o sangue me devora
Não chega ao coração

Infame sou, porque te quero
E tanto, tanto, tanto
Que de mim, tenho espanto 
De ti, medo e terror
Mas amar... não te amo, não

Noites perdidas

Carlos Leitão / Pedro Pinhal
Repertório de Carla Pires

São noites perdidas 
E não sei porquê
Razões que não quero 
Saber onde estão
As portas fechadas 
Que já ninguém vê
São os sonhos mais loucos 
Sem tempo e perdão

São dias inteiros 
Que vêm e vão
Gemidos que guardo 
Na boca calada
Angústias trancadas 
Na porta do chão
Ilusões que hoje grito 
No meio do nada

Noites e dias
Madrugadas sem fim
Desejos de um beijo carnal 
A nascer
Do grito mais belo 
Que deixas em mim
Só fica a certeza da vida 
A viver

São restos de tardes 
Paradas no tempo
Caminhos trocados 
Que outrora vivi
Segredos lembrados 
Num breve momento
Saudades esquecidas 
Vividas em ti

Estrela

Letra e música de Carminho
Repertório da autora

Tu és a estrela que guia o meu coração
Tu és a estrela que iluminou o meu chão
És o sinal de que eu conduzo o destino
Tu és a estrela e eu sou o peregrino


Até aqui foi uma escuridão tal
Dessas que nos faz ser sábios do mundo
Vivi desilusão tão desigual
Que vim dar à minha infância num segundo

Nem sabes tu aquilo que fizeste
Por mim e a até por ti quando chegaste
Só sei que ao te ver, tu re-ergueste
O que em mim era só cinza e desgaste

Amor que se deu mas numa distância
Distância que nos fez acreditar
Que é essa que dá real importância
À liberdade que é poder e saber amar

Bem mais feliz agora, certamente
Vou eu seguindo assim pela vida fora
Não mais ‘starei sozinha e estou bem crente
Que o teu feixe de luz própria me segue agora

Por medo de te perder

Tiago Torres da Silva / Jaime Santos *fado alfacinha*
Repertório de Inês Duarte

Por medo te te perder
É que me encontro perdida
Sem coragem de dizer
Que eu tenho medo é da vida

Os momentos de alegria 
Não se atrevem a ficar
É que a saudade, perdi-a 
Na ânsia de a encontrar

Passo os dias à procura 
Do que por medo perdi
O medo é a noite escura 
Em que me perco de ti

E vou perdendo os sentidos 
Quando descubro, por fim
Os teus dois olhos perdidos 
Perdidos de amor por mim 

Ao meu amigo sincero

Nuno da Câmara Pereira / Custódio Castelo e Câmara Pereira
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Pró o meu amigo sincero
Que me dá a sua mão franca
Quer em Julho quer em Janeiro
Cultivo uma rosa branca


Nem cardos nem urtigas cultivo
P’ra quem me quer mal e cansa
Neste coração em que vivo
Cultivo uma rosa branca

Não grito pranto, ou maldigo
Pessoa que não me aquece
Neste meu pulsar de amigo
Cultivo uma rosa branca

Impasse

Rita Mariano de Carvalho / Franklim Godinho 
Francisco Salvação Barreto

Tu queres saber, meu amor
Qual era o desejo meu
Formar um mundo e vivermos
Somente Deus, tu e eu

Vivo tanto em teu olhar 
Nesses olhos que são espinhos
Que já nem sei como andar 
Se não vejo outros caminhos

Quando rio ou quando choro 
E até quando rezo a Deus
Recordo sempre esses olhos 
Esses olhos que são meus

Louco de amor eu sonhava 
Que o mundo seria meu
Faltou-me a luz dos teus olhos 
E o destino escureceu 

Sorte e amor

Ary dos Santos / Custódio Castelo e N.C.Pereira
Repertório de Nuno da Câmara Pereira

Abre os olhos e encara a tua sina
O coração ao alto todo em flor
Que as tuas mãos singelas de menina
Saibam prender e acarinhar o amor

Nessa doçura louca que fascina
Sobe mais alto ainda, que o condor
Ama aqueles que a sorte te destina
Sem desprezar nem maldizer a dor

Vai mais além do mundo e dos espaços
Com teu olhar vibrante d’ilusão
Vai tu aonde nunca foi ninguém

E prende bem a vida nos teus braços
Que a vida não é mais que um sonho vão
Se quanto mais se quer, menos se tem 

A tecedeira

Letra e música de Carminho
Repertório da autora

Nem pensem que me esqueci
De começar a fiar
Novelo que por quebrar
Deu a ideia que morri

As voltas que ao mundo irei dar 
Novamente a cantar
São com fio que fiarei 
Dia e noite sem parar

Tecerei verdes ciprestes
À dimensão desta fé
Que ensina sábios e crentes
Que árvores morrem de pé

Mas à vista não há morte
Fiarei toda a beleza
O fio apanhei por sorte 
Ou por ter muita certeza

Canção com lágrimas

Manuel Alegre / Adriano Correia de Oliveira
Repertório de Adriano Correia de Oliveira

Eu canto para ti 
O mês das giestas
O mês de morte e crescimento
Ó meu amigo
Como um cristal 
Partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada

Eu canto para ti 
O mês onde começa a mágoa
E um coração poisado 
Sobre a tua ausência
Eu canto um mês 
Com lágrimas e sol, o grave mês
Em que os mortos amados
Batem à porta do poema

Porque tu me disseste
Quem me dera em Lisboa
Quem me dera me Maio
Depois morreste
Com Lisboa tão longe
Ó meu irmão tão breve
Que nunca mais acenderás 
No meu o teu cigarro

Eu canto para ti 
Lisboa à tua espera
Teu nome escrito c
Cm ternura sobre as águas
E o teu retrato 
Em cada rua onde não passas
Trazendo no sorriso 
A flor do mês de Maio

Porque tu me disseste
Quem me dera em Maio
Porque te vi morrer 
Eu canto para ti
Lisboa e o sol
Lisboa com lágrimas
Lisboa à tua espera
Ó meu irmão tão breve

Para onde vou

*eu cá não sei*
Tiago Torres da Silva / Valter Rolo
Repertório de Inês Duarte

Para ande vou
Eu cá não sei nem vou saber
Quem me acompanhou
Diz que eu irei onde quiser

Mas eu que me perdi
Sempre que dei um passo em falso
Agora descobri
Que me encontrei no teu encalço
Vou atrás de ti
Se tu fores descalço

Mas não volto a dizer-te onde vou
Se não me disseres onde vais

Quem sabe de nós
Talvez não vá saber de mim
Se ao chegar à foz
Pensar que enfim, chegou o fim

Mas quem sabe ou pressente
Que o mundo gira dentro de nós
Sabe que a nascente
É mais bonita depois da foz
É uma tangente
Ao fado e à voz 

Que triste sonho o meu

Carlos Conde / Fernando Alcobia
Repertório de Júlia Lopes

Agora, meu amor, nem por contraste
Podemos evitar sorte mais triste
Eu já não sou aquela que deixaste
Tu já não és aquele que partiste

Vê como de um capricho ou sorte crua
De uma ligeira zanga que nasceu
Agora já sou de outro, não sou tua
Agora já és de outra, não és meu

Hoje sinto o calor que há noutras mãos
Tu sentes o prazer que há noutro olhar
Seguimos outra lei, a lei de irmãos
Mas dessa não nos podem separar

Isto foi sonho mau, sonho ruim
Que não deixou pecado nem castigo
P'ra não ter sonhos maus, sonhos assim
Só quero, meu amor, sonhar contigo

Olhos nos olhos

Ana Vidal / Filipe Pinto *fado vadio c/arranjo musical*
Repertório de José da Câmara

É nos teus olhos que dança
A luz clara da manhã
Trazem promessas de esperança
Ao meu incerto amanhã

Trazes nos olhos a vida
Sem saber o que vens dar
A tua vida vivida
Em cores de céu e de mar

Olhos nos olhos 
Gostava de te dizer
Que sem os teus não sei ver
As cores que a vida tem 
Olhos nos olhos 
P’ra não perder o caminho
Sigo os teus, devagarinho
E aprendo a sonhar também


Vivida em nuvens de fumo
À margem da realidade
Numa corrida sem rumo
Em busca de novidade

Olhos loucos que não sabem
Quanto têm de profundo
Olhos lindos onde cabem
Todos os sonhos do mundo

Verdes campos, verde vida

Maria Manuel Cid / Fernando Pinto Coelho
Repertório de Maria do Rosário Bettencourt

Verdes campos, verde vida
Toda a campina florida
De repente escureceu
Fez-se noite em toda a parte
E porque o sonho não parte
Fiquei só apenas eu

Uma certeza me déste 
E nela o sabor agreste
Da sina que foi traçada
A parra do azevinho 
Já nasce trazendo espinho
E morre quando pisada

E morre porque não sabe 
Que alguma parte lhe cabe
De tanta coisa perdida
Algo mais amargo e doce 
E sempre, se mais não fosse
Verdes campos, verde vida

Nada tenho, resta apenas 
Esta roupagem de penas
Mais pobre que um pobrezinho
Mas quando a morte chegar 
Eu sei que posso voltar
Ao verde do meu caminho 

Só mais um dia

José Luís Gordo / Alfredo Marceneiro *menor-versículo*
Repertório de Francisco Salvação Barreto

Dá-me a tua mão amor, vamos dançar
A valsa da tristeza que nos ata
Vamos matar a dor que a dor nos traz
Ao nó desta tristeza que nos mata

Sossega ó minha dor, deixa-te estar
Neste anoitecer que a vida sempre dá
Derrama sobre a noite o teu pesar
Levanta-te, amanhã não durmas cá

Passeia-te pela noite na certeza
De que irei contigo em fundas águas
Lavar para sempre esta tristeza
E afogar de morte tantas mágoas

Mas dor, podes ficar só mais um dia
Deitada no meu corpo já cansado
Que amanhã vou acender a alegria
No meu quarto onde sempre tens morado 

Eu não sabia

Tiago Torres da Silva / Anamar e Armando Vieira
Repertório de Anamar

Nem por ti nem por ninguém
Subi ao monte mais alto
Ia só por ser além
E a cada passo que eu dava;
Ouvia a voz do basalto
Nas minhas veias de lava

Meu amor eu não sabia 
Que por trás do teu olhar
Existe uma luz que é dia 
Existe um azul que é mar
Meu amor eu não sabia

Enfrentei raios, trovões 
Dos meus pés fiz cada passo
Da minha voz fiz canções 
Não temi lobos nem feras;
E não morri de cansaço 
À procura de quem eras

Numa noite tão agreste 
Vi o sol dentro da lua
No abraço que me deste
E a noite adormeceu;
Descobrindo que sou tua 
Ao saber que tu és meu

Fado da carta

João Ferreira Rosa / Joaquim Campos *fado castanheiro*
Repertório do autor

Não me escrevas meu amor
A contar seja o que for
Do que se passa contigo
Pois antes quero pensar
Que só pensas em voltar
Ao tempo por ti esquecido

No que escreves e me contas
Só indiferenças apontas 
Pelas juras que fizeste
Por isso não quero ler
Outra carta, p’ra saber 
Que a mais alguém já quiseste

Eu antes queria fechada
A carta por ti mandada 
E que esperei com fervor
Pois tua carta tão fria
Marcou pra mim a agonia 
Do que foi o nosso amor 

Se vieres

Carminho / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Carminho

Se vieres, vem com amor
Traz-me a alegria maior
E a vontade de me ver
Vem com os olhos a cantar
Com o teu sorriso solar
E o coração a bater

Ao chegares não digas nada
Deixa que fique calada 
A ilusão e o lamento
Se vieres, quando isso for
Eu prometo, meu amor 
Saber viver o momento

Se vieres, não te demores
Que as minhas mais frias dores 
São a espera e o seu lume
Volta com Frésias na mão
Conheço o teu coração 
E é esse o seu perfume

Paixão, amor

José da Câmara / Jaime Santos *fado jaime*
Repertório de José da Câmara

Sempre fui senhor de mim
Foi sempre assim, o meu viver
Sempre que mostravam perigo
Dava comigo a não querer;
Era a minha proteção
Ninguém ousava tentar entrar
Mas um dia tropecei
Caí na teia do teu olhar;
Prisioneiro eu fiquei
E comecei a apaixonar

Esse teu ar tão dengoso 
Que me dá gozo, traz a paixão
Essa tua linda cara 
Que coisa rara, pura ilusão
Essas tuas palavras 
Entram em mim, sem eu saber
E assim sempre tu consegues 
Fazer de mim o teu viver
Meu amor eu vou contigo 
Mesmo sabendo que vou sofrer

Certa noite eu acordei 
E não deixei, fugi de ti
Esse teu poder em mim 
Vai ter um fim, pois descobri
Que a paixão é um arame 
Por onde andei, sem ter noção
Sinto o meu andar mais firme 
Já não preciso da tua mão
Hei-de encontrar o teu amor 
É mais seguro do que a paixão

O menino e a cidade

Letra e música de Joana Espadinha
Repertório de Carminho

Uma a uma, as luzes da cidade 
Vão-se despedindo
E o menino, sonhando acordado
Espera o seu destino
Que horas lhe trarão os dias?
Que mãos um dia há-de beijar, devagar?

Ele sabe que a vida não arde 
Se o sonho é pequeno
E que às vezes poderá queimar-te 
Com o seu veneno
À noite a mãe chora baixinho
Sozinha p’ra não perturbar
A cidade que hoje dorme sem luar

Não tenhas medo
Se o tempo foge sem razão 
Não tenhas medo
Serás maior que a solidão
Que o homem não chora sozinho
Não pode deixar de sonhar


Noite fora, a madrugada chora 
Solta pelo vento
E o menino já se foi embora
Já cresceu por dentro
Não espera desvendar os dias
Já desvendou uma mulher
Faz de conta que já sabe o que ela quer 

Adiante

Maria do Rosário Pedreira / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Francisco Salvação Barreto

Perco a esperança no futuro
Já não prometo, não juro
Não calculo e não prevejo
A vida dá-nos lições
E eu já não tenho ilusões
De vir a ter o teu beijo

Bem sei que fui o culpado 
De tanto tempo, enganado
Ter andado à espera disso
Pois tu nem conta te déste 
De que logo que apareceste
Me lançaste o teu feitiço

Fiz sempre tudo a teu gosto 
Nunca te dei um desgosto
Fui melhor do que hoje sou
Fiquei sempre do teu lado 
E até te cantei o fado
Mas nem isso resultou

Hoje já não faço planos 
Chegam-me bem os enganos
Porque tive de passar
Seja o futuro o que seja 
Se não fores tu quem me beija
Alguém me há-de beijar

Insistência

Fábia Rebordão / Jorge Fernando
Repertório de Fábia Rebordão

Atende… sou eu
Basta p’ra mim ouvir, sim
Dizer... estou
Atende… sou eu, sou 
Temes que eu insista
Se atenderes sem saberes 
Que p’ra mim nada há mais
Pr’além do fim 

Indiferente, não atendes
Finges não ouvir
É o teu jogo p'ra que logo 
Volte a insistir 

Passa a dor
Que o amor desgastado morre
Não dá mais, que os sinais 
De que o tempo corre

Já não dói, já se foi 
O amor que eu senti
E é por isto que eu persisto 
Em ligar p'ra ti

Fado rock

Artur Ribeiro / António Rebocho
Repertório de Artur Ribeiro

É fado?.. não!
É movie?... não!...
É rock?... também não!
Então que é?...

Não é rock nem é fado 
Não é mambo nem chachado
Nem tem género marcado 
P’ra quem toque
É o fado, novo fado 

Doutro modo cozinhado
Sincopado e misturado 
Com o rock

Foi assim que o velho fado 

Foi torcido e massacrado 
Com baquetes
Torturado e num remoque
Acabou por ser cantado 
À moda do outro lado
E nasceu assassinado
O fado rock

Fado rock, é fado rock

Nem viola nem guitarra

Nem jaqueta nem samarra
Nem da banza 
Se desgarra como outrora
Todo feito de algazarra
Anda de noite na farra
Fora de horas e da barra 
Já não chora

Nem trinado nem corrido

Nem marcado nem gemido
Nem sequer 'tá convencido 
De que é fado
Não é choro comovido

Não rima nem faz sentido
E desagrada 
Ao ouvido mais tapado

Fado rock, é fado rock

Nem tipóia nem Severa
Nem fidalgos doutra era
Nem nenhuma cantadeira 
Que o cante
Eu cá canto mas quem dera 

Que apareça alguma fera
Que coma a orquestra inteira 
Neste instante

Quando canto o fado rock

Fico em transe
Tenho um choque
Fico a tremer 
Qual berloque pendurado
Que ninguém cante nem toque 

Música sem rei nem roque
Que é a mistura do rock com o fado

E assim foi o fado rock assassinado 

Relembrar

Amadeu Dinis da Fonseca / Pedro Rodrigues
Repertório de José da Câmara

Não se morre de saudade
De saudade eu não morri
Mas tu sabes que é verdade
Que vivo e morro de saudade
Cada vez que eu penso em ti

Se deixaste de ser minha
Não deixei de ser quem era
Tenho agora uma raínha
Bem melhor do que a que tinha
Continua a primavera

Por favor não venhas tarde
Dizes-me tu com carinho
Mas não faças muito alarde
Das vezes que chego tarde
Por me enganar no caminho

Oh tempo volta para trás
Dá-me tudo o que eu perdi
Mas vê lá se és capaz
De voltar de novo atrás
P’ra ganhar o que vivi 

Lisboa menina bonita

Luís Simão / Carlos Rocha
Repertório de Alice Maria

Lisboa teve um desejo 
Foi p’rá boite brincar
Sorriu e disse um gracejo
Depois então foi bailar

Lisboa, menina bonita
Que bebe, que fuma, saltita
Champanhe e danças só quer
É outra, bem outra mulher
Tem charme, se canta, se ri
Diz: yes, goodbye, bonne nuit
Lisboa parece feliz
E lembra que esteve em Paris


Volta p’ra casa já tarde
Depois da noite perdida
Não quer que ninguém a guarde
Por ser menina crescida

Àquela casa

Flávio Gil / Mário Pacheco *fado sandra*
Repertório de Sandra Correia

Amor, porque não vens àquela casa 
Aonde nos amamos loucamente
E fomos corpo a corpo, um golpe de asa
Que fez do nosso amor um sol nascente

Amor, porque não vens àquele beijo
Que nunca tem sabor a frases feitas
Amor, porque arrefeces o desejo
Na mesma cama fria em que te deitas

Amor, porque não vens àquela hora
A hora que era sempre de te ver
Chegar aos meus desejos 
Alegre e sem demora
Porque essa a hora de eu te ver

Amor, porque não vens àquele dia
Que a vida fez de nós seres iguais
Amor, porque não vens por ironia
Ficar comigo um dia ou nunca mais 

Vira da minha rua

Frederico de Brito / João Aleixo
Repertório de Celeste Rodrigues 
Existe uma outra versão de Celeste Rodrigues gravada ao vivo na Viela
A versão aqui apresentada foi extraída do repertório de Mafalda Arnauth

Anda o vira na minha rua
Já me encheram a rua toda
Eu só vejo é à luz da lua
Cabeças à roda
Oiço harmónios e cavaquinhos
Vejo tantos braços no ar
Andam pares em remoinho
Rapazes agora é bailar

Quis ver da minha janela 
Como é que se dança o vira
Como é que baila a chinela 
Sobre o salto que salta e que gira

Pus-me atirando cantigas 
E logo de todo o lado
Homens, mulheres, raparigas 
Pareciam formigas 
Num vira pegado

Pois agora viro eu 
Que ao vira não se resiste
Tanto me viro e reviro 
Do avesso nunca se é triste

Salto que salta e que gira 
Leva-me ao baile dançar
Que enquanto a vida não vira
Eu troco-lhe as voltas 
Que eu quero é bailar