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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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À procura de amor

Rui Manuel / Ricardo Ribeiro *fado cláudia*
Repertório de Cláudia Leal

Neste lento agonizar de sentimentos
Onde quase parecemos dois estranhos
Evitamos partilhar os pensamentos
Prisioneiros dum silêncio sem tamanho

As pegadas que deixamos lado a lado
Testemunham a história que vivemos
Culpa nossa foi não termos reparado
Onde foi que um do outro nos perdemos

Não importa procurar atenuantes
O que importa é perguntar aos corações
Se a ternura que nos resta é o bastante
Para darmos novo alento às emoções

Perguntar aos nossos corpos, se o prazer
Conservou alguma réstia de calor
Que permita, beijo a beijo, refazer
Cada nó que se desfez no nosso amor

Sem peso ou medida

Tiago Torres da Silva / Armando Machado *fado cigana*
Cantado por: Carolina, Maria Emília Reis, Nadine Brás
Rodrigo Costa Félix e Sandra Correia  
Tema do filme *Forginving nigth for day 

Morro a cada amanhecer
Para depois renascer
Quando a noite se anuncia
No seio da escuridão
Sinto que o meu coração
Bate com mais alegria

Sou um estranho na cidade
Guiado pela saudade 
Da distância de onde vim
Nos confins desse lugar
É que eu consigo escutar 
O silêncio que há em mim

O tempo agora descansa
O mundo é uma criança 
A despertar para a vida            
E ao abrir-se em passo lento
Vai revelando um momento 
Que não peso ou medida

Quem eu era, já não sou
Tal como a luz que brilhou 
Nessa manhã que me espera
No silêncio que persiste
Acolho tudo o que existe 
E digo adeus a quem era

O meu xaile

Varela Silva / Adelino dos Santos
Repertório de Celeste Rodrigues 

A vida pôs-me um xaile 
Sobre os ombros
Deu-me um ar amargurado
Disse que eu era fadista 
E pôs-me na alma, um fado
E eu canto a minha vida 
Com o meu xaile traçado

E vou cantando a saudade
De coisas que nunca vi
Tristezas e desenganos
De amores que nunca vivi

E sempre com o meu xaile traçado
Em cruz, sobre o coração
No meu destino fadista
N meu ar amargurado
Eu não queria que o meu fado
Fosse só recordação

Eu queria um fado que desse
Nova expressão ao meu fado
Porque o meu fado merece
Não ser apenas passado

Pimentinha, pimentão

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Pimentinha como eu quero 
Leva sempre um grão na asa
Pois a pimenta é tempero 
Que se deve ter em casa

Pimenta tal como a vejo 
Pode ser branca ou ser preta
Quando tu me dás um beijo 
És a minha malagueta

Piri-piri, pimentão
És o conduto bastante
Para que o meu coração 
Também me saiba a picante
Tens um travo amargo e doce 
Tal e qual como o cravinho
Ai quem me dera que eu fosse 
Trincada devagarinho

Se às vezes estás descontente 
Eu também não estou feliz
Quando a gente não se entende 
Sobe a mostarda ao nariz

Os teus olhos, noz-moscada 
Ralados no meu olhar
Sabem sempre a madrugada 
A petiscos pra provar

No moinho da pimenta 
Que é o nosso dia-a-dia
Há sempre um grão que nos tenta 
E às vezes arrepia

Também há pimenta verde 
Pimenta da cor da esperança
A pimenta que faz sede 
Do amor que não se cansa

Perfeito pecado

Mário Raínho / Armando Machado *fado cunha e silva*
Repertório de Maria Emília

Só tu conheces bem a minha alma
Ninguém te leva a palma, dentro dela
Dás-me, amor, o silêncio que me acalma
E pões meus gritos d’alma à janela

Amante, das estrelas e da noite
Pernoite é o meu peito, onde acordado
Te ergues e não há ninguém que afoite
O que dizes em mim, meu adorado

Eu sou essa ternura 
Que me dás e se mistura
Nesse olhar de tristeza 
Que tem a sua beleza
Sou também a palavra 
Que na minha voz é escrava
Sou a saudade atroz 
De quando juntos, somos sós
Eu sou, somente essa solidão
Só por ti, na multidão
Caminho, incerto e errante
Pois tu, ó meu perfeito pecado
Amor alegre e chorado
És meu fado, amigo e amante

Os versos, com que beijas minha boca
São rosas de toucar avermelhadas
Se os canto, saio de mim como louca
E estas palavras choram-se cantadas

Não posso mais calar esta loucura
Porventura o destino quer-me assim
Andando a vida inteira à procura
De ti, que vives só e para mim

Dar o dia

Tiago Torres da Silva / Armando Machado *fado cigana*
Repertório de Anamar 

O teu corpo traz a vida
Como quem tem reflectida
A luz que as estrelas tecem
Olha as pontas dos teus dedos
Nelas guardam-se segredos
Que só as estrelas conhecem

Quando duas mãos se dão
O calor de cada mão 
Põe as almas a sorrir
Mas se esta mão outra afasta
Há um tempo que se gasta 
Uma luz por refletir

Se não a puderes fechar
Pelo que tens pra me dar 
Deixa a tua mão fechada
Abre-a só ao estar vazia
Porque dar-me-ás o dia 
Quando não tiveres lá nada

Soneto presente

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Não me digam mais nada senão morro
Aqui neste lugar dentro de mim
A terra de onde venho é onde moro
O lugar de que sou é estar aqui

Não me digam mais nada senão falo
E eu não posso dizer eu estou de pé
De pé como um poeta ou um cavalo
De pé como quem deve estar quem é

Aqui ninguém me diz quando me vendo
A não ser os que eu amo, os que eu entendo
Os que podem ser tanto como eu
 
Aqui ninguém me põe a pata em cima
Porque é de baixo que me vem acima
A força do lugar que for o meu

Segredos do mar

Tiago Torres da Silva / Jaime Santos *fado da bica*
Repertório de Carolina 

O mar tem tantos segredos
Que só se podem escutar
Quando ao bater nos rochedos
Ele se esquece que é mar

Nas ondas deixou o grito 
Da alma de uma sereia
Que descobre o infinito 
Ao vê-las morrer na areia

Nos búzios deixou guardado 
O som de uma vida inteira
Do primeiro fez-se o fado 
Do segundo a primavera

Quem olhar de manhã cedo 
P'rás ondas a rebentar
Talvez escute o segredo 
Que eu não me atrevo a contar

Sabê-lo foi minha sina 
Por um dia ter escutado
Uma guitarra que trina 
Quando o mar se chama fado

Digo adeus ao teu adeus

Tiago Torres da Silva / Carlos da Maia
Repertório de Joana Amendoeira 

Disse adeus à despedida
E como o sonho convida
À surpresa da chegada
Acenei ao teu olhar
Que adormecia o luar
Nos ombros da madrugada

Vinha um dia e outro dia
E eu nunca me despedia
 Das luas que iam morrendo
Ia-as guardando no peito
Que agora bate refeito 
Do luar que em mim acendo

Talvez se eu te der um beijo
Tu descubras o que eu vejo 
A brilhar dentro de nós
Uma lua e outra lua
E um sol que se insinua 
Por dentro da minha voz

Por saber que a madrugada
É uma noite cansada 
Onde o sol gosta de arder
Digo adeus ao teu adeus
Guardo os teus olhos nos meus 
E deixo-me adormecer

Os pinheiros

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

É dos pinheiros mais altos que eu te falo
Inês do nosso tempo trespassada
Por tudo quando canto, quanto falo
Pedra sem Pedro, planta despojada

Mulher-verde serei, mas não vendida
Trago agulhas e pinhas no regaço
E os choupais do Mondego dão guarida
Ao carro em que eu te sigo a par e passo

E à sombra das árvores amigas
Que eu conduzo na estrada que me leva
Às flores de D.Diniz, as mais antigas
Pois são ainda as flores de Adão e Eva

É dos pinheiros mais alto que eu te digo
Estás cansado? Não queres uma cerveja?
Olha o verde, olha o verde meu amigo
Não há verde mais lindo que se veja

E ao rolarmos pelas pradarias
No verdejar de montes e encostas
Nem tu amor, nem tu amor sabias
Meu coração tirado pelas costas

Um fado novo

Tiago Torres da Silva / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Teresa Tarouca 

Tinha uma voz que vinha do passado
E um andar com jeito de maré
Por isso se entregou sem medo ao fado
Por isso ninguém sabe quem ele é                

Uns dizem que ele foi um marinheiro
A quem o alto-mar deu sepultura
E outros que é o próprio Marceneiro
Se o fado nunca teve tal lonjura

Quando as ondas regressam ao seu peito
Ele pede à guitarra um tom menor
E canta um fado novo de tal jeito
Que a gente julga sabê-lo de cor

Depois vai-se afastando e uma Alfama
Fica escondida sob o seu olhar
Nunca vamos saber como se chama
Mas eu que nunca o vi, chamo-lhe mar

Mais um segundo

Tiago Torres da Silva / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de Cristiana Águas 

Os meus olhos sem os teus
Só querem dizer adeus
Ao mundo que eu conheci
Mas meu amor, não m’iludo
Vou dizer adeus a tudo
Pra não te dizer a ti

Adeus meu braços febris
Onde o teu nome se diz 
Em segredos bem guardados
Adeus à boca sedenta
Onde o coração inventa 
Beijos que nunca são dados

Adeus aos meus dedos frios
Aos meus gestos tão vazios 
Das tuas mãos carinhosas
Adeus, jardim de onde vinhas
Por entre as ervas daninhas 
Que eu fingia serem rosas

Mas não digo adeus à vida
Porque até na despedida 
O meu peito sofredor
Só pede mais um segundo
Pra não deixar este mundo 
Sem te chamar meu amor

Fecho os meus olhos

Tiago Torres da Silva / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Rodrigo Costa Félix 

Fecho os meus olhos, às vezes
Para ver ao meu redor
Porque nós, os portugueses
No escuro vemos melhor

Quando me atrevo a chorar 
Fecho os meus olhos e escuto
Um fado que vem do mar 
P'ra pôr as almas de luto

E sem sair do meu quarto 
Ao sentir meu esse fado
Fecho os meus olhos e parto 
Num barco já naufragado

À proa de um coração 
Onde o fado me quer tanto
Prendo o mar na minha mão 
Fecho os meus olhos e canto

Sou alfacinha da Graça

António Vilar da Costa / Nóbrega e Sousa
Repertório de Rodrigo

Sou alfacinha de gema
Nascido na Graça,
Na estúrdia criado
Faço da vida um poema
Que nunca mais passa 
Na história do fado

Não digam mal do que é nosso
Do que é português
Que eu cá não resisto
Perco a estribeira… não posso
Só conto até três
É pá… e vai disto

Gosto da malta bairrista
Dos barcos do Tejo 
Num jeito gingado
Perde-me um xaile fadista
Mas cego, se vejo 
Esperas de gado

Mal que um boi se tresmalha
Ó feras danadas
Aquilo só visto
Salto-lhe à frente e não falha
Dou quatro palmadas
É pá… e vai disto

Gosto de entrar na balbúrdia
Sou filho da noite 
E amante da lua
Ó camaradas de estúrdia
Se há um que se afoite 
Que venha p'rá rua

Em noites de tradição
Reinava a preceito
Ó almas de Crist
Bastava um arco e um balão
Um par a meu jeito
É pá… e vai disto

Dizem que o mundo vai torto
Vão endireitá-lo
Que a isso não ligo
Digam que o fado está morto
Então já me ralo 
Porque isso é comigo

Pego na banza afinada
E basta um jeitinho 
Que o fado é só isto
Uma garganta velada
Dois copos de vinho
É pá… e vai disto

A saudade não existe

Tiago Torres da Silva / Joaquim Campos *fado amora adaptado para 5as*
Repertório de Cristina Nóbrega
                            
A saudade enlouqueceu
No dia em que tu partiste
Não sei o que é que me deu
Se afirmei como um ateu
Que a saudade não existe

Então, o fado fez pouco 
Da minha infelicidade
E nunca mais me deu troco
Não sabe quem anda louco 
Se sou eu, ou a saudade

Coitado de quem a esquece 
Nunca mais volta a ter paz
Quando a saudade enlouquece
A loucura é uma prece 
Com o fado por detrás

A saudade ficou rouca 
De tanto te ter chamado
E anda de boca em boca
Comentam que ela está louca 
Mas quem está louco é o fado

Chiado antigo

Tema gravado por Salvador Taborda com o título 
*Sonata do Chiado antigo*
César de Oliveira / Thilo Krasman
Repertório de José da Câmara 

Pelos ferros forjados da janela
Vejo tremer a renda de franzir
E o sinal dessa rosa amarela, meu amor
Dizendo; vou sair
Gritando; vou sair

Vou esperar-te 
Mesmo em frente da Havaneza
Fingimos que o encontro aconteceu
E levo concerteza
Concerteza, outra flor
Dizendo; cá estou eu
Gritando; cá estou eu

Velho Chiado enamorado
Ai… quanto amor 
Ali nasceu e morreu
Velho Chiado 
Vejo-me ao espelho
Quem está mais velho?
Serás tu ou eu?

Fomos comer pãezinhos de erva-doce
Ouvindo o choro alegre dum violino
E tinhas no olhar 
Fosse o que fosse, meu amor
Mais doce que os pãezinhos
Mais doce que os pãezinhos

Subimos a correr, Chiado acima
Coraste de prazer e d’emoção
Paraste e perfumaste 
A Lúcia-lima, meu amor
E nessa noite então, pedi a tua mão

A saudade não se parte

Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Maria Armanda 

Não se partiu a saudade 
Que a saudade não se parte
Fica apenas a verdade
Fica apenas a verdade
A partir de toda a parte

Não se partiu a saudade 
Das minhas mãos amarradas
Mas partiu a mocidade 
Mas partiu a mocidade
Destas almas apartadas

Saudade de quem sou 
Uu de quem era
Saudade em que me dou 
À primavera
Saudade que o meu corpo 
Já chorou
E é verde no futuro 
Em que hoje estou

Não se partiu a saudade 
Que a saudade não se acaba
É apenas liberdade 
É apenas liberdade
Duma pedra que desaba

Se não se partiu a saudade 
Pois que a saudade me morda
A saudade é ansiedade 
A saudade é ansiedade
Quando o coração acorda

Meu amor, ou meu amigo 
Qual a saudade que tenho
Que vive sempre comigo 
Que vive sempre comigo
E é maior que o meu tamanho

És a asa da gaivota 
O rosto da minha filha
Tu não podes ser derrota 
Tu não podes ser derrota
És apenas uma ilha

O infinito e a saudade

Elsa Laboreiro / Alfredo Duarte *menor-versículo*
Repertório de Yola Dinis 

Meu olhar já se cansou de te não ver
Minhas mãos já se perderam da ternura
Minha memória lembrou-se de esquecer
O teu nome, meu amor, minha amargura

Parto agora sem destino e com vontade
Das palavras que apagaste do meu peito
Não me dou à solidão nem à saudade
Nem às horas de tristeza em que me deito

Roubarei aos meus sentidos, o sentido
De encontrar em cada gesto a tua mão
Mas sei, teu coração adormecido
Há-de um dia recordar meu coração

E talvez nos encontremos junto ao mar
Ao nascer dum novo sol de liberdade
E as nossas vidas se tornem a cruzar
Entre a linha do infinito e a saudade