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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Alma Rosa

Manuel Carvalho / João Blak *fado menos do porto*
Repertório de Manuel Barbosa 

A alma que a Alma tinha 
Na sua voz donairosa
Era a raça que lhe vinha 
De ser mais Alma que Rosa

Cantou o fado dos fados 
O ”Menor” como ninguém
Cantou de olhos fechados 
No ventre de sua mãe

Depois a vida enganou-a 
Ao dar-lhe destino errado
Deu-lhe a glória e a coroa 
E destino desgraçado       

E como o luar de d’Agosto
Qu’encerra tanta beleza
Se o fado tivesse um rosto
Era o dela com certeza


ALMA ROSA por Sérgio Marques




























Eu hoje acordei Lisboa

Mário Rainho / Nuno Nazareth Fernandes
Repertório de Vanessa Alves 

Eu hoje acordei Lisboa 
Amuada e tagarela
Ainda havia uma canoa 
Olhando a última estrela;
Eu hoje acordei Lisboa
Passei o dia com ela

Um eléctrico descia 
Com gente, ao colo, sentada
Mas dentro dele não havia 
Uma varina acordada:
Um eléctrico descia 
O Combro, velha calçada

Eu hoje acordei Lisboa
Era ainda madrugada
Eu hoje acordei Lisboa
Que estava mais ensonada
Eu hoje acordei Lisboa
Ao espreguiçar-me à janela
Eu hoje acordei Lisboa
E depois chorei com ela

O Tejo chorava a lota 
Que lhe fora sobranceira
Sem ouvir uma gaivota 
Nem um pregão de peixeira:
O Tejo chorava a lota 
E o Cacau da Ribeira

Quem nasceu à beira-rio 
Com cheiro e sabor de mar
Tem, hoje, a saudade, o frio 
Pedras de sal no chorar;
Quem nasceu à beira-rio 
Tem amarras no olhar

Se tudo muda

Fernando Campos de Castro /  Lúcio Joaquim Campos
Repertório de Susana Lopes 

Já nada tem o sabor de antigamente
E nem a gente é tão forte como era
No verão chove, o inverno é seco e quente
E o outono até parece primavera

Nada se faz como dantes se fazia
Tudo é diferente do que era no passado
E até a flor que te dou com alegria
Sendo tão bela dura apenas um bocado

Mudam os tempos, a vontade e o fazer
Muda a vida muda a forma de criar
Se tudo muda, meu amor, eu quero ver
Se também mudas a maneira de gostar

O que se come quase sempre faz-nos mal
Mesmo que digam que dá força e juventude
O que bebemos e nos dizem natural
É saboroso mas dá cabo da saúde

Há tantas coisas que não têm mais sentido
No nosso mundo que anda tão destemperado
Se até o peixe vem do mar já poluído
E nem o sal nos parece tão salgado

Mudam os tempos, a vontade e o fazer
Muda a vida muda a forma de criar
Se tudo muda, meu amor, eu quero ver
Se também mudas a maneira de gostar

Lisboa da madrugada

Tiago Torres da Silva / Pedro Jóia
Repertório de Joana Amendoeira 

Lisboa tem um tesouro que escondeu
Numa das setes colinas pequeninas
O fado que ela aprendeu
Mais o berço onde nasceu 
A canastra das varinas;
Só não tem um coração porque mo deu
Perto da Rua das Trinas

Quando Lisboa chega a casa 
Às sete da manhã
Já o Tejo anda a pedir 
P’ra que Lisboa se deite
E ela não fica sozinha
Porque tem uma sardinha 
E um jarrinho de azeite

Quando Lisboa chega a casa 
Às sete da manhã
Ainda o fado anda a pedir 
Aos restos da madrugada
Para o levarem a casa
Porque um grãozinho na asa 
Fê-lo esquecer a morada

Lisboa tem um segredo que contou
Ao santinho da sua predileção
Mas o menino acordou
E Lisboa transformou 
O segredo num pregão;
E agora que Santo António autorizou
Vai contá-lo a São João

Lisboa tem um poema que escreveu
Com a espuma azul 
Das primeiras traineiras
E o que então aconteceu
Foi que a espuma dissolveu 
As rimas mais verdadeiras;
E só quem as soube ler e aprendeu
Foi a alma das peixeiras

Vida sem sabor

José Fernandes Castro / Casimiro Ramos *fado oliveira/freira*
Repertório de Abílio Silva 

Se não tenho o teu amor
O mundo muda de cor
E a vida fica sombria
A noite não tem luar
Não há razões p’ra sonhar
Tudo tem mais nostalgia

Se não oiço a tua voz
O vento sopra veloz 
Varrendo as praias da vida
Tudo em mim é solidão
E o meu louco coração
É uma ave ferida

Se não beijo a tua boca
A minh’alma como louca 
Navega por qualquer fado
Ai meu amor, meu amor
A vida não tem sabor 
Quando não estás a meu lado

P’ra mudar o rumo à vida

Tiago Torres da Silva / Rogério Ferreira
Repertório de Joana Amendoeira

Ando a seguir os teus passos
Desde a hora em que te vi
Ando a contar os meus passos
P’ra chegar ao pé de ti

Quando se vive um instante 
Que não tem peso ou medida
Isso já é o bastante 
P’ra mudar o rumo à vida

Quem entra nalgum lugar 
Pela porta da saída
Já se está a preparar 
P’ra mudar o rumo à vida

E se a gente se enamora 
De uma alma destemida
É que já chegou a hora 
De mudar o rumo à vida

No momento em que me olhaste 
Eu já estava convencida
Do muito que tu mudaste 
O rumo da minha vida

La ra ra ra os teus passos 
P’ra chegar ao pé de ti
Lai ra ra ra os meus passos 
A conta já lhes perdi

A minha padeirinha

Letra e música de Fernando Farinha
Repertório do autor

Padeirinha, padeirinha  
Que me dás pão tão quentinho
Não me dês apenas pão 
Dá-me também teu carinho

Não é com pão que alivias  
As mágoas que me consomem
Repara bem, que na vida
Repara bem, que na vida 
Nem só de pão vive o homem

Ai padeirinha
Pãozinho quente a estalar
Cara linda cor do trigo 
E grão centeio no olhar
Duas cerejas 
São teus lábios de carmim
E teus seios mais parecem 
Duas bolas de Berlim

Se aos olhos meus 
És por graça ou simpatia
O pãozinho mais gostoso 
Que existe na padaria
Mata-me a fome
Tem pena da vida minha
Dá-me ao menos uma bucha 
Do teu amor, padeirinha

Padeirinha, padeirinha 
Por ti, o meu coração
Está mais em brasa que o forno 
Onde tu cozes o pão

Quem me dera, quem me dera 
Como sou também Farinha
Um dia, ser amassado
Um dia, ser amassado 
Por tuas mãos, padeirinha

Hortelã mourisca

Letra e musica de Arlindo de Carvalho
Repertório de Amália

Vem o sol de Agosto 
Vou dormir no prado
Tudo lá é posto 
Sem ferro de arado

A cama está feita 
De hortelã mourisca
E a macela espreita 
Com graça de arisca

Hortelã mourisca
Por entre a macela
Vem lavar teu rosto 
No orvalho dela

Hortelã mourisca

Pela madrugada
Beijarei teus olhos
Rosa perfumada

Sob um mar de estrelas 
De flor de macela
Não tenho fronteiras 
Não tenho janela

Tenho a minha amada 
Cotovia arisca
Toda perfumada 
De hortelã mourisca

Com penas de ternura

Joaquim Pessoa / Amadeu Ramim *fado zeca
Repertório de Joana Amendoeira 

Na tua pele bebi a luz molhada
Que o meu amor por ti incendiou
Fogo que iluminou a madrugada
E que só pela manhã se apagou 

Nos teus dedos deixei o doce ninho
Que construí com penas de ternura
Quando fizemos amor devagarinho
Até ao infinito e à loucura 

Amor, amor assim, ninguém o fez
Como nós o fizémos, sem cansaço
Uma vez, e outra vez, e outra vez
Perdidos entre o tempo e entre o espaço 

Meu amor a quem canto e digo e chamo
Com os nervos, com o sangue, com a voz
Quero dizer ao mundo que te amo
E o amor maior do mundo somos nós

Muito depois

Tiago Torres da Silva / Bruno Fonseca
Repertório de Joana Amendoeira

Acabei de descobrir que o coração
Tem muitas portas e janelas por abrir
Por isso, tudo o que vivi não foi em vão
Se me levou a decidir

Que agora a hora
É de inventar outro caminho 
P’ra nós dois
Amar-te, escutar-te
E pressentir o teu amor 
Muito depois

Quando me pediste a mão
Faltou-me o ar
Nem sei como dizer 
Como o meu corpo estremeceu
A labareda que brilhava sem queimar
E no entanto sempre ardeu

O nosso amor é livre

*bom dia meu amor*
Vasco Lima Couto / Martinho d’Assunção
Repertório de Carlos do Carmo

Bom dia meu amor, meu cravo intemporal
Sem grilhetas nos pés, à distância em que lavras
Sem algemas de fumo na voz de Portugal
Onde a memória viu que amordaçou palavras

Bom dia meu amor, porque tu vais chegar
Sem aquelas presenças da sombra que fez medo
E vais falar mais alto, ouvindo e repetindo
Cada letra de luz que projeta o segredo

Bom dia meu amor, meu campo e minha casa
Regato da manhã que entre os penedos dança
Bom dia ao pé do sol, bom dia ao pé da noite
Minha força encontrada nos caminhos da esperança

Bom dia meu amor, meu poema de paz
Só de olhar para ti o futuro já vive
Por isso na alegria, do amor que me dás
Canto-te em português, o nosso amor é livre

Mãos de mãe

Francisco Radamanto / Armandinho *fado alexandrino antigo*
Repertório de César Morgado 

És linda minha mãe, és uma linda aurora
És o sol a nascer para me vir beijar
Teu rosto me parece o de Nossa Senhora
Que está na linda igreja onde vamos rezar 

O pequeno beijou o rosto de sua mãe
Que viveu radiante os momentos felizes
Mas logo continuou; as tuas mãos porém
São tão feias assim cheias de cicatrizes 

Num movimento brusco, ela, as mãos retirou
Disfarçando a sorrir uma amargura infinda
O pai que tudo ouviu, seu filho então chamou
Dizendo-lhe; vem ouvir uma história bem linda 

Escuta, era uma vez certo lindo menino
Que no berço dormia um sonho sossegado
Quando em hora fatal, por descuido ou destino
Nas cortinas de renda o fogo se há pegado  

Da ama, ao brado aflito, acorreu logo a pobre mãe
Que às chamas, desvairada o seu filho arrancou
E ela que tinha as mãos mais lindas que ninguém
Com essas doces mãos assim feias ficou  

O petiz compreendeu toda a lição que tinha
Esta singela história e num sentir profundo
Beijou a mãe, dizendo; as tuas mãos mãezinha
São as mais lindas mãos que existem neste mundo

A moleirinha

Popular / Alfredo Duarte *mocita dos caracóis*
Repertório de Alfredo Duarte Júnior*

Minha linda moleirinha
A quem eu adoro tanto
Tão simples, tão maneirinha
Que até o pó da farinha
Ainda te dá mais encanto

Não penses mais na cidade 
O teu sonho mal fadado
Perdes lá a felicidade
Depois sentirás saudade 
Do teu rosto enfarinhado

Não ouves velas ao vento? 
O chiar do teu moinho
É talvez o seu lamento
Por ter o pressentimento 
De que o vais deixar sozinho

Lá a vida é bem ruim 
O porvir não se adivinha
Tem dó de ti e de mim
Porque eu prefiro-te assim 
Minha linda moleirinha

P’la cidade passeei

Fernando Lito / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Augusto Fernandes

P'la cidade passeei
Até vir a madrugada
Pelas ruas divaguei
Aonde fui eu não sei
Eu não me lembro de nada

Vi a lua prateada 
Lá no céu a cintilar
E a minha mente cansada
Andava ali agarrada 
Não me deixando sonhar

Vim par casa e finalmente 
Contigo p'la minha mão
Disse-te então friamente
Meu coração já não sente 
Por ti a mesma paixão

Como eu recordo esse dia 
Em que o teu amor neguei
Por todo o lada eu te via
Perdi a minha alegria 
Por onde ando, não sei

Poema bendito

Maria de Lourdes Carvalho / Martinho d'Assunção
Repertório de Ana Madalena

Trago comigo, escondido
Só, vagabundo, perdido
Um poema que te fiz
Aquece meu peito vazio
E com ele suporto o frio
Das noites em que te quis

Fala d’amor, é verdade
Chora o pranto da saudade 
Tempo vivido a teu lado
Chama que tu acendeste
Alimentaste e esqueceste 
Como brinquedo quebrado

Na rima do meu poema
Tua boca é doce tema 
Teus olhos mais atrevidos
Tua voz, verso final
Anjo do bem e do mal 
Castigando meus sentidos

Passo triste

Florbela Espanca / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Alfredo Guedes 

Passo triste na vida e triste sou
Um pobre a quem jamais quiseram bem
Um caminhante exausto que passou
Que não diz onde vai nem donde vem

Ah!  sem piedade, a rir, tanto desdém
A flor da minha boca desdenhou
Solitário convento onde ninguém
A silenciosa cela procurou

E eu quero bem a tudo, a toda a gente
Ando a amar assim, perdidamente
A acalentar o mundo nos meus braços
E tem passado, em vão, a mocidade;
Sem que no meu caminho uma saudade
Abra em flor a sombra dos meus passos

Madalena

Letra e música de Marques de Carvalho
Repertório de Tristão da Silva

Madalena, a formosa pecadora
Arrependida, foi pedir perdão a Deus
E sem pena dessa vida sedutora
Resolveu mudar de vida
E olhar de frente os céus
E o amor transformou-se em devoção
Pois
sorrindo, o redentor
Concedeu-lhe o seu perdão

Agora o sol é d'oiro

A lua é fantasia
A vida é tesoiro de alegria
E Cristo murmurou
Talvez com certa pena
Quem foi que não pecou, ó Madanela


Meu Jesus: assim falou Madalena
Sou tão ditosa, sinto tal felicidade
Que da luz dos meus olhos em  verbena
Vejo a vida cor de rosa
Tudo no mundo é verdade
Se pequei e vivi na perdição
P'lo teu amor me salvei
Acordei a redenção

A vida

Linhares Barbosa / Popular *fado menor*
Repertório de Fernando Farinha

A vida, o que vale a vida
Cante a vida quem souber
Que eu trago a vida perdida
Na vida duma mulher


P'ra que vivo, p'ra que existo 
P'ra tanta mágoa sofrida
Se a vida é apenas isto 
A vida, o que vale a vida

Se a dor é ferro e a lei 
Que todos corações fere
Cantar a vida, não sei 
Cante a vida quem souber

Lá porque não sei limpar 
Uma lágrima caída
Não querem acreditar 
Que eu trago a vida perdida

Foi no amor, eu bem sei 
Numa paixão de morrer
Que a minha vida deixei 
Na vida duma mulher

É festa é festa

Carlos Dias / César de Oliveira
Repertório de Anita Guerreiro

Se é curta a vida e mal vivida
P'ra quê fugir a
o que há-de vir  
Um dia a suceder
A vida é bela, fazei por ela
Que o mal só vem 
Quando ele tem de acontecer

Venham cantigas, trovas amigas
P'ra se sofrer ou se viver 
Com mais animação
Não parem de sorrir
Toca a folgar e rir
Que é p'ra alegrar 
E animar o coração

É festa, é festa ó Zé
É festa, é festa ó pá
Ai goza a vida
Que um dia perdida
Já outra não há
Alegre romaria
Não há como esta
Ai, ò Zé haja alegria 
E viva a folia
Que é dia de festa


Se nos ralamos nada ganhamos
Ainda mais nos são fatais 
As horas de amargor
A felicidade vem por vontade
Não vem, oh não, por obrigação
Nem por favor

Abram a alma à vida calma
Que assim fiz e sou feliz
Alegre e jovial
Agora à luz do luar
Alegre e a tremular
Meu coração 
É um balão no arraial

Fado calado

Nuno Miguel Guedes / Sidónio Pereira
Repertório de Lúcia Mourinho 

Pediste-me cem palavras
Para dizer o que sentia
Deixaste-me sem palavras
A pensar como seria

De boca aberta d’espanto 
Resolvi cantar um fado
O que saiu do meu canto 
Foi só um fado calado

Por mais que pedisse a voz 
Ela teimou não chegar
P’ra dizer eu, tu e nós 
E as mil maneiras de amar

Não existem cem palavras 
Para dizer este tudo
Coração é sem palavras 
E é cego, surdo e mudo

Esse teu nome Lisboa

Mário Rainho / Carlos Dionísio
Repertório de Paulo Filipe

Confesso tinha saudade 
Já, de ti minha Lisboa
Pra onde for sempre há-de 
O teu nome vir à proa

À proa deste navio 
Ao mar da minha lembrança
Convés de fio a pavio 
Que percorro de criança

Lisboa, mulher-magia
De colinas à cabeça
Saia bordada a maresia
Ancas onde o olhar tropeça
Teus braços, ondas de mar
Gaivota, que sobrevoa
A minha alma, a cantar
Esse teu nome, Lisboa

Tuas veias são as ruas 
Aonde corre enleado
Em noite de frias luas 
O choro de tanto fado

Tanto fado, que recordas 
Não só choro, mas festejo
Lisboa que quando acordas 
Lavas sorrisos no Tejo

Há um silêncio-amargura

Fernando Lito / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Fátima Couto

Há um silêncio-amargura
No teu sorriso sem cor
E o grito de quem procura
Razão na palavra amor

Horas mortas, madrugada 
Ódio, paixão, ou ternura
Na tua face marcada 
Há um silêncio-amargura

À vida já perguntei 
A razão da tua dor
Mas a resposta encontrei 
No teu sorriso sem cor

A noite já acendeu 
Dentro de ti, a loucura
És um sonho que morreu 
E o grito de quem procura

E nesse teu caminhar 
A Deus pede com fervor
Possas um dia encontrar 
Razão na palavra amor

Tempos que já lá vão

Manuel de Almeida / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Manuel de Almeida 

Oh fadistas do passado
Que no fado deram brado
Na boémia e no tacão
As coloridas toiradas
E as noitadas bem passadas
São tempos que já lá vão

Fidalgos aventureiros
Boleeiros e toureiros 
Gente nobre, gente fixe
Abalam nas traquitanas
Cem ciganas levianas 
P'rás adegas de Carriche

As severas, os artistas
Guitarristas e fadistas 
E faias de cachené
Os fidalgos mais ramboias
Mandam bater as tipoias 
P’ra abertura da água-pé

Entre os improvisadores
Cantadores dedilhadores 
Ao findar a desgarrada
Por causa dum rufião
Há discussão e confusão 
Resolvida à bofetada

Que é feito do nosso fado
Que deu brado no passado 
E um faia a falar calão
As coloridas toiradas
As noitadas bem passadas 
São tempos que já lá vão