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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.140 LETRAS <> 3.082.000 VISITAS * FEVEREIRO 2024

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Deste meu quarto vazio

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Fernanda Maria 

Meu amor volta depressa
Estou sozinha à tua espera
Não me deixes estar só
A solidão desespera

Não estejas mais tempo fora 
Tudo sem ti é mais frio
Vem amor, vem aquecer 
Este meu quarto vazio

Este meu quarto vazio
 Espera por ti, noite inteira
Todo ele parece olhar 
Teu retrato à cabeceira

Estas paredes caiadas 
Esperam por ti toda a hora
E os lençóis da nossa cama 
Já sabem como se chora

Meu amor, volta depressa 
A vida assim não tem jeito
E o bater do relógio 
Bate dentro do meu peito

Os minutos já são horas 
Que eu conto, dias a fio
E o tempo não quer andar 
Parece parar neste quarto vazio

Aqueles olhos

Maria Amélia Morgado / Alberto Costa *fado torres do mondego*
Repertório de Manuel Fria

Da cor que eram não sei
Aqueles olhos que eu vi
Eram tão lindos, tão lindos
Que eu por eles me perdi

Azuis azuis, bem, não eram 
Não tinham a cor do céu
Nem o brilho das estrelas 
Igualava o brilho seu

Negros negros, bem, não eram 
Não tinham da noite a cor
Só sei que eles eram lindos 
E me falavam de amor

Verdes verdes, bem, não eram 
Não tinham a cor do mar
Nem o brilho dos cristais 
Igualava o seu brilhar

Ah, já sei, eram castanhos 
Aqueles olhos que eu vi
Eram tão lindos tão lindos 
Que eu por eles  me perdi

Em cada dia que passa

Letra e música de Nel Garcia
Repertório de Fernanda Moreira 

Em cada dia que passa
Eu sinto a vida fugir
Um copo, uma fumaça
Conversar, brincar e rir

E sempre a rir 
Eu sinto a vida fugir
E até chegar o meu fim
Hei-de rir da própria vida
Para que ela não ria de mim

Egoísmo, ingratidão
Cinismo, traição
Fome, miséria e guerra
Sentido a vida fugir
Tenho vontade de rir
Da maldade que há na terra

Ri, louco ri
Oiço dizer hora a hora
Serei louco a gargalhar
Mas quem ri para não chorar
Sempre que ri... chora

Talvez porque Lisboa me esqueceu

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Por causa de sonhar sempre sozinho
Desta melancolia enegrecida
Quedei-me à solidão
De um Tejo aqui à mão
Chorado p’lo adeus da despedida

Pode a saudade voar com as gaivotas
Na perdição de ser apenas teu
Que o seu lindo bailado
Será um triste fado
Talvez porque Lisboa me esqueceu

Aceito a maldição desta cidade
Não vos posso fugir, não vale a pena
Lisboa prefere o fim
Tu já partiste de mim
E o Tejo chorará sempre por pena;
Aceito a maldição desta cidade
Talvez porque Lisboa me esqueceu

Tarde mas a tempo

João Correia / Nel Garcia *balada do Nel*
Repertório de Glória Maria 

Se já tudo passei na minha vida
Irei acorrentar a minha dor
Jamais me sentirei nela perdida
Sou feliz em t braços, meu amor

Sinto prazer de ser gente, mais mulher
Sinto prazer de ser eu sempre a teu lado
Quero esquecer para sempre estre sofrer
Maldito sejas tu, tempo passado

Tarde nasci p’ra vida, mas a tempo
Por ver amor, em ti, felicidade
Que de mim afastava em sentimento
Contigo sou mais eu, sou mais verdade

Não te afastes de mim, amor tem dó
É teu meu coração cheio de amor
O tudo que passou, desfez-se em pó
Deixar-te amor na vida, nem supor

Agora sei

Ivete Pessoa / Eugénio Pepe
Repertório de Tony de Matos 

Nada ficou, tu partiste e eu fiquei
Tudo acabou daquele amor que eu te dei
Pobre de mim, agora caminho à toa
É sempre assim, o destino não perdoa

Agora sei
O que é a vida sem ti
Tanto lutei, para quê
Se te perdi?
Tudo acabou
Na minha grande ilusão
O tempo tudo levou
Só a saudade è que não


Hoje vencido, já perdi de todo a fé
E a minha vida é barco contra a maré
Tua lembrança hora a hora anda comigo
E a minha esperança, essa levaste-a contigo

Além vem a barca bela

Manuel Fria / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Manuel Fria 

Além vem a barca bela
Que fizeram os pastores
Vem Nossa Senhora nela
Toda coberta de flores

Além vem a barca bela 
Que fizeram os soldados
Vem Nossa Senhora nela 
Toda coberta de cravos

Além vem a barca dela 
Arrastada p'la maré
Vem Nossa Senhora nela 
E a seu lado São José

Lenços brancos acenando 
À virgem, senhora mãe
Algumas estavam rezando 
Outras chorando também

Barca bela, barca bela 
Que partiu, hoje voltou
Foi por ti, ó barca bela 
Que a aldeia inteira chorou

Tu foste ingrato

João Correia / Nel Garcia
Repertório de Fernanda Moreira

Porque foi
Porque foi que me deixaste
Foi porque enfim reparaste
Que te dava mau viver
Mas podes crer
Foi mau o teu pensamento
Pois resta-me o lamento
Desse teu mau proceder

Foste ingrato
Não tiveste compaixão
De ferir meu coração
Que por ti anda a penar
Foste ingrato
Foste mau foste ruim
Se tu passas bem sem mim
Eu sem ti hei-de passar

Sentida
Eu sei que vivo sentida
Pela tua despedida
Por esse teu falso amor
Já esquecida
Podes andar à vontade
Já nem me resta a saudade 
Só ficou comigo a dor

Trago guitarras no sangue

José Francisco Lopes Victor / António Chainho
Repertório de Manuel de Almeida

Trago guitarras no sangue
E fado no coração
Venho do fundo do mundo
Meu corpo é feito da chão

Meu corpo è feito de seiva 
Que ao teu corpo deu alento
Trago dentro a madrugada 
Cantada na voz do vento

Trago o mundo p'ra te dar 
Numa prece de guarida
No rosário do esquecimento 
Eu rezo as contas da vida

Trago dentro o universo 
P'ra ti amor, que perdi
Morro no resto que resta 
E vivo à espera de ti

Fado das mágoas

Letra e musica de Frederico de Brito
Repertório de Fernanda Maria

Eu nunca procurei o teu olhar
Foi ele quem buscou os olhos meus
Eu nunca fiz empenho em te encontrar
E nem sequer segui os passos teus

Agora já começo a entender
Não quero reviver a minha dor
Pois já falta coragem p'ra dizer
Adeus ao nosso amor

Sofre as mágoas e queixas 
Sofre, que faz bem chorar
Só p'ra ver se tu me deixas 
Eu passo a vida a cantar
E assim lavo do meu peito 
O veneno desse olhar

Se alguém te for dizer que eu fui cruel
Tu faz esta pergunta, por favor
Pergunta se bebeu o amargo fel
Naquela taça d'oiro que è o amor

Tu sabes lá supor o que è viver
Com quem nos fez sofrer, nos fez penar
E ouvir o coração sempre a dizer
Adeus, ao mesmo olhar  

Por ti e para ti

José Fernandes Castro / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Leonor Santos 

Eu dava a minha cidade
Em troca da tua rua
Para ter a felicidade
De morar em casa tua

Eu dava o sol a brilhar 
Em troca dum temporal
Se me pudesse abrigar 
No beiral do teu portal

Dava a mesa aonde come 
A nobreza e a razão
Só para matar a fome 
Co'as migalhas do teu pão

Dava-me ao frio, sem ver 
O calor duma só chama
Se me pudesse aquecer 
Nos lençóis da tua cama

O amor não tem tamanho 
Nesta paixão que escolhi
E eu dava tudo que tenho 
Só para me dar a ti

Infinitude

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor 

Aqui onde floresço 
Quando o sol rompe a janela
Como se o tempo 
Me pintasse numa tela, lentamente
Aqui esta tristeza sensual é mais serena
Porque a saudade se respeita 
E não tem pena de quem sente

Aqui, melancolia semeada 
Campos fora
Cantada ao povo 
E segredada a qualquer hora
À gargalhada de um sarcasmo 
Ao pé da porta
Aqui sente-se o quente 
A apertar-nos a garganta
Nesta verdade desarmante que agiganta
A força louca da paisagem quase morta

Aqui desta janela 
Onde se avista a liberdade
Ainda vale a pena amanhecer
No mais mordaz silêncio que vivi
Aqui torna-se urgente 
Uma certa crueldade
Quando se parte sem chegar a conhecer
O doce encanto que roubei e ofereci

Aqui onde o meu corpo
Não tem culpa e quer morrer

É sempre fado

Frederico de Brito / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Fernanda Maria

Disseram-me que este fado
Foi chamado triplicado
Pois tem três rimas seguidas
Sem rimar ficava mudo
E o telhudo rima tudo
Não está com meias medidas

Noutros tempos, quem diria
Que seria o Mouraria 
O Dois Tons e o Menor
Quando já era Corrido
Atrevido, conhecido 
Trinta léguas em redor

Mais
tarde foi o Ginguinhas
O Palhinhas, o Calcinhas 
O Liró e o Choradinho
Chamaram-lhe Brasileiro
Marinheiro e Artilheiro 
Magiola e Armandinho

Foi da Azenha, da Atalaia
Foi da Praia, da Gandaia 
Nomes que lhe deram brado
Se uma alcunha sempre ajuda
Não se iluda que não muda 
Nunca deixa de ser fado

Louco coração

José Guimarães / Rezende Dias
Repertório de Aurélio Perry

Coração... 
Nunca te dês a ninguém
Porque não existe alguém
Capaz de te compreender
Coração... 
Anda lá, faz-me a vontade
E não dês tanta amizade
A quem só te faz sofrer 

Porque será 
Que o meu louco coração
Sempre se dá 
A quem menos o merece
Porque será 
Que ando a viver na ilusão
E o meu louco coração
Só recorda quem o esquece

Coração... 
Vai procurando outro bem
E não chores por alguém
Que apenas te fez sofrer
Coração... 
Não batas tão apressado
Deixa ficar o passado
E vem outra vez viver

Se a saudade

Carlos Leitão / Alfredo Duarte *fado pierrot*
Repertório de Carlos Leitão


És a onda que rebenta no mar chão
E a sorte dos meus sonhos de criança
Tens a chave deste pobre coração
Que só bate p’ra viveres numa lembrança

Tens o dom da singeleza num suspiro
Que eu agarro intensamente quando ris
E então ganhas esse jeito em que deliro
Na loucura de um poema que eu não fiz

Mas que pena não te ver a esta hora
Em que a vida faz sentido por momentos
De nós dois há a saudade, por agora
E um amor de dois amantes desatentos

Onde estão as nossas juras impossíveis
Deste tempo sempre imune ao ver-nos sós
Talvez um dia o nosso amor seja possível
Se a saudade não estiver p’ra além de nós

Maria sem dono

José Guimarães / Alvaro Martins
Repertório de Augusto José

Alegre e namoradeira 
Era por todos querida
Sempre em ar de brincadeira
Mas brincou tanto na vida 
Que hoje chora a vida inteira

Nas ruas donde passava 
Espalhava luz e cor
Ria de quem a adorava
E negava o seu amor 
Àqueles de quem gostava

Maria sem dono, sem dono vivia
Sozinha na vida, cansada e vencida
Sofria, sofria
Ninguém a tirou daquele abandono
O tempo passou e sempre ficou
Maria sem dono


Mais tarde quando pensou 
Poder voltar a viver
Nem por piedade encontrou
Quem lhe pudesse oferecer 
Aquele amor que esbanjou

Pobre Maria sem dono 
A sua vida é um inferno
Na solidão do outono
Sente chegar o inverno 
No frio desse abandono

Temos encontro marcado

José Guimarães / Rezende Dias
Repertório de Florência

Como o encontro marcado 
Vamos matar a saudade
Iremos cantar o fado 
À noite, pela cidade

Iremos de braço dado 
Numa ternura sem fim
Quando tu vais a meu lado 
Sinto que há fado dentro de mim

He pá, olá.. he pá, vem cá
Anda comigo pró fado
Que o fado é sempre um feitiço
Fado castiço, triste ou chorado;
Antigo mas sempre novo
Fado é povo e é sempre fado

Neste meu jeito atrevido 
No meu sorriso trocista
Na rosa do meu vestido 
Tu verás que sou fadista

No nosso olhar encontrado 
No beijo que me vais dar
No nosso encontro marcado 
Novo fado vamos cantar

Remar contra a maré

António Rocha / Renato Varela *fado varela*
Repertório de António Rocha

Remar contra a maré não vale a pena
Pedir o que se não sente é errado
Lutar para quê, a vida é tão pequena
E cada um de nós tem o seu fado

Eu já vivi bem mais do que viveste
E amei quantos amores o amor me deu
Até aquele dia em que apareceste
E o meu espelho não me reconheceu

Quase morri de espanto ao constatar
Que estando em frente a mim não me encontrei
Eu que tenho vivido para amar
Cheguei à conclusão que nunca amei

Agora que o outono é já visível
È que a vida me prega esta partida
De me perder d’amor p’lo impossível
Como impossível é sem ti a vida

Noites da Sé

José Guimarães / Manuel Maria Rodrigues e Alfredo Duarte
Repertório de Filomeno Silva

Cai a noite na cidade
E logo vem a saudade
Às ruas da velha Sé
È tudo sossego e calma
E entra na nossa alma
Um sentimento de fé

A Rosa abriu a janela
E no silêncio da viela 
Uma guitarra se ouviu
È o Chico, o namorado
Que da trapeira do lado 
Lhe lançou o desafio

E naquela rua estreita
Que a lua do céu espreita 
Anda o fado no sentido
Em versos cheios de amor
A Rosa canta o menor 
O dois tons e o corrido

Vão se abrindo mais janelas
E saem cantigas delas 
Em jeito de desgarrada
E quase ninguém dá fé
Que às ruas da velha Sé 
Vai chegando a madrugada

Três horas na catedral
Vieram pôr ponto final 
Àquela cena bairrista
Logo a guitarra emudece
E a Sé velhinha adormece 
E tem sonhos de fadista     

Nó de laçada

Rosa Lobato Faria / Rui Veloso
Repertório de Tony de Matos

Vieste como quem sabe
Que è esperada p'ra jantar
E eu, que já era tarde
Comecei a madrugar

Vieste como quem reza  
O refrão de uma cantiga
E a minha voz ficou presa 
No teu ar de rapariga

Fui aurora no teu beijo 
Manhã na tua cintura
Poente no teu desejo 
Noite na tua ternura

Fui corpo no teu sorriso 
A teus pés fui coração
Fomos ambos paraíso 
Somos ainda paixão

Mudamos a nossa estrada 
E os dedos meus e teus
Deram o nó da laçada 
Não sabem dizer adeus

Conselho aos novos

António Reis / Armando Machado *fado súlpica*
Repertório de António Reis

Sempre que o fado antigo for cantado
Na voz dum cantador timbrado e terno
Vê-se que mesmo velho e muito usado
Ele foi e será sempre moderno

Por muito que se faça ou haja escrito
Um músico ou poeta de valia
Não fazem concerteza, mais bonito
Que o Menor, o Corrido, ou o Mouraria

Aos novos cantadores dou um conselho
Cantem o fado antigo, a voz do povo
Ele por ser antigo não è velho

È jovem, imortal e sempre novo

Nem um só dia

Jorge Rosa / Francisco Carvalhinho
Repertório de António Mourão

Não há um dia, um só dia
Que eu não passe à tua rua
Quem diria, quem diria
Meu querer não esfria nem se atenua
Quem diria, quem diria
Que esta afeição continua

Não há um dia, um só dia 
Que eu não recorde o passado
Bom seria, bom seria
Dar primazia a outro cuidado
Bom seria, bom seria
Pôr a saudade de lado

Não há um dia, um só dia
Que eu não espere o teu regresso
Bem não queria, bem não queria
E cada dia menos t'esqueço
Bem não queria, bem não queria
E é tudo que a Deus peço

Sei onde estás

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Sei onde estás
Quero prender-te à negrura que te sinto
A esta alma está doente
Um Deus demente diz-me onde estás
A sete chaves neste peito ao qual eu minto
Quando sente, quando sente
Sei onde estás

Voltou atrás
Pintou de sangue o mais perverso dos punhais
O Deus ausente fugiu da gente
Mas sei onde estás
Cá dentro, de onde eu digo ao Deus e à gente
Não sais, que não sais
Que não sais

Flores do meu roseiral

José Fernandes Castro / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Alfredo Guedes

Rosas do meu roseiral
Flores da minha roseira
Brilhos duma vida inteira
Com a força natural
Dum fado à minha maneira

Pedaços do mesmo chão 
Onde cultivei magia
Duas rosas que já são
Rimas de valor maior 
Na voz da minha poesia

Melodias do meu fado
Dois fados num fado só
Poemas do meu agrado
Fazendo de mim o avô 
Mais feliz e mais amado

Dois trevos de sorte pura 
No jardim que Deus me deu
Duas brisas de ternura
Duas nuvens de frescura 
Brilhando num casto céu

Cidade do fim de tarde

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Fim de tarde em Lisboa 
Sol poente no rosto
Prova-se um Tejo disposto
Ao fim da tarde em Lisboa
Quadro Malhoa 
Pintado a gosto por ti, Lisboa

A pouco a pouco e quase a medo
Cai o luar
E chega o louco desassossego 
Sem sossegar
Um povo a nu, parte do zero 
Sonhando à toa
Assim és tu quando te quero
Minha Lisboa

Não são precisos pregões
Nem arrufos de saudade
Brejeiros engatatões 
Ou prostitutas de idade

Não è preciso chorar 
A morte da Mouraria
Ser o meu bairro a ganhar
Nem Lisboa ser Maria
Cidade do fim de tarde
Sonhada por mim, um dia

Ser mulher

Domingos G. Costa / Cavalheiro Júnior *fado porto*
Repertório de Fernanda Maria

Uma mulher sem amor
Sem o afeto verdadeiro
Vive uma vive de mágoa
Lembra a desditosa flor
A quem o mau jardineiro
Recusa una gota d'água

Por vezes o amor è lume 
Que o negro ciúme ateia
Queimando a vida da gente
Mas só pode ter ciúme 
E no ciúme se enleia
Quem ama perdidamente

A mulher não esmorece 
Sofre embora o amargor
Dum amor que a não quiser
Porque jamais desconhece 
Que foi p'ra sofrer d'amor
Que Deus criou a mulher

Falar, falar, só falar

Fernando Farinha / Domingos Camarinha
Repertório de Fernando Farinha

Não se consegue entender 
As vozes da multidão
Faça a gente o que fizer 
Que ninguém nos dá razão

Se bem fazemos, pecamos 
Erramos, se mal fizemos
Se damos, é porque damos 
E se não damos, ficamos
Mal vistos, porque não demos

Por isso eu sou assim tal como sou
Fiel e justo à minha opinião
Pensando só p’ra mim
Que apenas dou o sim
Que me dá o meu próprio coração

Este é doido se faz festa 
Se a não faz, é presunçoso
Quem diz verdades, não presta
Se as não diz, é duvidoso

Um que à pressa vai andando 
Outro que anda devagar
E assim vamos caminhando 
Sem saber p’ra quem e quando
Estamos certos no andar

Até ao fim

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Um dia fui teu
Num amor de tempo inteiro
Mais forte do que a chuva de janeiro
Que o noturno silêncio à beira mar;
Foi como se um lirismo verdadeiro
Chegasse até nós dois p’ra embarcar

E partimos
Deixamos quase tudo por levar
Guardamos as lembranças no beijar
De dois sorrisos livres, infantis;
E sempre que quisemos não voltar
Deixaste-me inventar a ser feliz

Mais vivemos
O destino que criamos em saber
Que o dia de amanhã ficou por ver
Na noite mais eterna de nós dois;
Não sei se esta saudade quer partir
Mas sei que fica sempre p’ra depois

Grito calado

Carlos Leitão / Fontes Rocha *fado lavava no rio*
Repertório de Carlos Leitão

A saudade está mais fria
Tenho perdido a alegria
De te amar eternamente
Resgato o meu coração
Dia a dia, na ilusão
De te esquecer francamente

O tempo mentiu à sorte
Prometeu-lhe a doce morte 
Deste amor ensanguentado
Sobraram feridas abertas
Meia dúzia de horas certas 
E um regresso ignorado

Fomos um sonho tardio
Amantes em desvario 
Mais um sol sobre a cidade
Foste um destino sem volta
E quando o corpo me solta 
Faço amor com a saudade

È mais um fado dolente
De uma revolta indiferente 
Feita de mim, do meu medo
È mais um grito calado
Feito d’esperança e passado
P’ra te cantar em segredo

Olhos felizes

Maria Fernanda Santos / Domingos Camarinha
Repertório de Fernanda Maria

Sinto os meus olhos felizes
Pensando, pensando em ti
Rio
de lágrimas são raízes
Nascidas dentro de mim

Lembro os meus passos perdidos 
Recordo por onde andei
Os caminhos percorridos 
Foram tantos que eu nem sei

Os meus ais foram no vento 
Andam todos no espaço
Na esfera do sofrimento 
Do desgosto e do fracasso

O perfume do teu corpo 
O meu corpo perfumou
Tenho o corpo perfumado 
Que o teu corpo me deixou

Os meus ais foram no vento 
Mas a esperança não perdi
Tenho o corpo perfumado 
Foi perfumado por ti

Melodia portuguesa

Silva Tavares / António Melo
Repertório de Tristão da Silva

Estas mãos sempre dispostas 
A punir quem te amofina
Agradeço-as de mãos postas 
Como dádiva divina

È com elas, meu enlevo 
Que te digo adeus, se passo
E è com elas que te escrevo 
Estes versos que te faço

Co'as mãos se abençoa
Se trabalha e se perdoa
E as minhas, desde a hora em que vi
Mais tuas que minhas são;
Mãos tão capazes de rezar por ti
Como capazes de ganhar teu pão


Nem sei dizer o que sinto 
Se co'as minhas mãos te afago
O que sei è que não minto 
E nas palminhas te trago

Quem me dera a santa esmola 
Desses teus olhos cristãos
Frente ao padre com a estola 
Envolvendo as nossas mãos

Esquecer o que sofri

Maria Fernanda Santos / Orlando Silva
Repertório de Fernanda Maria

Tu que lês nos olhos meus
Lês tristeza em meu olhar
Vês que a alegria em meu rosto
Tenta esconder o desgosto
De que me quero libertar

O sentir das minhas lágrimas 
Corpos, pedaços de dor
São o escape fo sofrer
Que tu deves entender 
Como mensagens d'amor

Quero amar-te eternamente 
Não quero amar mais ninguém
Meu amor,  dá-me a certeza 
Que hei-de vencer a tristeza 
E os escolhos que a vida tem

Olhos cerrados, martírio 
Será no presente, o passado
Quero esquecer o que sofri
Quero viver só p'ra ti 
Quero morrer a teu lado

Somos amigos

Letra e música de Luís Rebochos
Repertório de Tristão da Silva

Tu andas fingindo 
Amor que não sentes
E nem sentirás
E eu vou sorrindo 
Pois sei que tu mentes
E que mentirás
Mas viver assim
Jamais alguém vive
Com tantos castigos
Não gostas de mim
Não gosto de ti
Mas somos amigos

Quando tu me beijas 
Eu também te beijo
Fingimos os dois 
Matar um desejo
Que nunca sentimos
E sem um tormento 
A vida caminha
Eu finjo ser teu
Tu finges ser minha
Mas somos amigos

Amigos só, nada mais