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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Nó de laçada

Rosa Lobato Faria / Rui Veloso
Repertório de Tony de Matos

Vieste como quem sabe
Que è esperada p'ra jantar
E eu, que já era tarde
Comecei a madrugar

Vieste como quem reza  
O refrão de uma cantiga
E a minha voz ficou presa 
No teu ar de rapariga

Fui aurora no teu beijo 
Manhã na tua cintura
Poente no teu desejo 
Noite na tua ternura

Fui corpo no teu sorriso 
A teus pés fui coração
Fomos ambos paraíso 
Somos ainda paixão

Mudamos a nossa estrada 
E os dedos meus e teus
Deram o nó da laçada 
Não sabem dizer adeus

Conselho aos novos

António Reis / Armando Machado *fado súlpica*
Repertório de António Reis

Sempre que o fado antigo for cantado
Na voz dum cantador timbrado e terno
Vê-se que mesmo velho e muito usado
Ele foi e será sempre moderno

Por muito que se faça ou haja escrito
Um músico ou poeta de valia
Não fazem concerteza, mais bonito
Que o Menor, o Corrido, ou o Mouraria

Aos novos cantadores dou um conselho
Cantem o fado antigo, a voz do povo
Ele por ser antigo não è velho

È jovem, imortal e sempre novo

Nem um só dia

Jorge Rosa / Francisco Carvalhinho
Repertório de António Mourão

Não há um dia, um só dia
Que eu não passe à tua rua
Quem diria, quem diria
Meu querer não esfria nem se atenua
Quem diria, quem diria
Que esta afeição continua

Não há um dia, um só dia 
Que eu não recorde o passado
Bom seria, bom seria
Dar primazia a outro cuidado
Bom seria, bom seria
Pôr a saudade de lado

Não há um dia, um só dia
Que eu não espere o teu regresso
Bem não queria, bem não queria
E cada dia menos t'esqueço
Bem não queria, bem não queria
E é tudo que a Deus peço

Sei onde estás

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Sei onde estás
Quero prender-te à negrura que te sinto
A esta alma está doente
Um Deus demente diz-me onde estás
A sete chaves neste peito ao qual eu minto
Quando sente, quando sente
Sei onde estás

Voltou atrás
Pintou de sangue o mais perverso dos punhais
O Deus ausente fugiu da gente
Mas sei onde estás
Cá dentro, de onde eu digo ao Deus e à gente
Não sais, que não sais
Que não sais

Flores do meu roseiral

José Fernandes Castro / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Alfredo Guedes

Rosas do meu roseiral
Flores da minha roseira
Brilhos duma vida inteira
Com a força natural
Dum fado à minha maneira

Pedaços do mesmo chão 
Onde cultivei magia
Duas rosas que já são
Rimas de valor maior 
Na voz da minha poesia

Melodias do meu fado
Dois fados num fado só
Poemas do meu agrado
Fazendo de mim o avô 
Mais feliz e mais amado

Dois trevos de sorte pura 
No jardim que Deus me deu
Duas brisas de ternura
Duas nuvens de frescura 
Brilhando num casto céu

Cidade do fim de tarde

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Fim de tarde em Lisboa 
Sol poente no rosto
Prova-se um Tejo disposto
Ao fim da tarde em Lisboa
Quadro Malhoa 
Pintado a gosto por ti, Lisboa

A pouco a pouco e quase a medo
Cai o luar
E chega o louco desassossego 
Sem sossegar
Um povo a nu, parte do zero 
Sonhando à toa
Assim és tu quando te quero
Minha Lisboa

Não são precisos pregões
Nem arrufos de saudade
Brejeiros engatatões 
Ou prostitutas de idade

Não è preciso chorar 
A morte da Mouraria
Ser o meu bairro a ganhar
Nem Lisboa ser Maria
Cidade do fim de tarde
Sonhada por mim, um dia

Ser mulher

Domingos G. Costa / Cavalheiro Júnior *fado porto*
Repertório de Fernanda Maria

Uma mulher sem amor
Sem o afeto verdadeiro
Vive uma vive de mágoa
Lembra a desditosa flor
A quem o mau jardineiro
Recusa una gota d'água

Por vezes o amor è lume 
Que o negro ciúme ateia
Queimando a vida da gente
Mas só pode ter ciúme 
E no ciúme se enleia
Quem ama perdidamente

A mulher não esmorece 
Sofre embora o amargor
Dum amor que a não quiser
Porque jamais desconhece 
Que foi p'ra sofrer d'amor
Que Deus criou a mulher

Falar, falar, só falar

Fernando Farinha / Domingos Camarinha
Repertório de Fernando Farinha

Não se consegue entender 
As vozes da multidão
Faça a gente o que fizer 
Que ninguém nos dá razão

Se bem fazemos, pecamos 
Erramos, se mal fizemos
Se damos, é porque damos 
E se não damos, ficamos
Mal vistos, porque não demos

Por isso eu sou assim tal como sou
Fiel e justo à minha opinião
Pensando só p’ra mim
Que apenas dou o sim
Que me dá o meu próprio coração

Este é doido se faz festa 
Se a não faz, é presunçoso
Quem diz verdades, não presta
Se as não diz, é duvidoso

Um que à pressa vai andando 
Outro que anda devagar
E assim vamos caminhando 
Sem saber p’ra quem e quando
Estamos certos no andar

Até ao fim

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Um dia fui teu
Num amor de tempo inteiro
Mais forte do que a chuva de janeiro
Que o noturno silêncio à beira mar;
Foi como se um lirismo verdadeiro
Chegasse até nós dois p’ra embarcar

E partimos
Deixamos quase tudo por levar
Guardamos as lembranças no beijar
De dois sorrisos livres, infantis;
E sempre que quisemos não voltar
Deixaste-me inventar a ser feliz

Mais vivemos
O destino que criamos em saber
Que o dia de amanhã ficou por ver
Na noite mais eterna de nós dois;
Não sei se esta saudade quer partir
Mas sei que fica sempre p’ra depois

Grito calado

Carlos Leitão / Fontes Rocha *fado lavava no rio*
Repertório de Carlos Leitão

A saudade está mais fria
Tenho perdido a alegria
De te amar eternamente
Resgato o meu coração
Dia a dia, na ilusão
De te esquecer francamente

O tempo mentiu à sorte
Prometeu-lhe a doce morte 
Deste amor ensanguentado
Sobraram feridas abertas
Meia dúzia de horas certas 
E um regresso ignorado

Fomos um sonho tardio
Amantes em desvario 
Mais um sol sobre a cidade
Foste um destino sem volta
E quando o corpo me solta 
Faço amor com a saudade

È mais um fado dolente
De uma revolta indiferente 
Feita de mim, do meu medo
È mais um grito calado
Feito d’esperança e passado
P’ra te cantar em segredo

Olhos felizes

Maria Fernanda Santos / Domingos Camarinha
Repertório de Fernanda Maria

Sinto os meus olhos felizes
Pensando, pensando em ti
Rio
de lágrimas são raízes
Nascidas dentro de mim

Lembro os meus passos perdidos 
Recordo por onde andei
Os caminhos percorridos 
Foram tantos que eu nem sei

Os meus ais foram no vento 
Andam todos no espaço
Na esfera do sofrimento 
Do desgosto e do fracasso

O perfume do teu corpo 
O meu corpo perfumou
Tenho o corpo perfumado 
Que o teu corpo me deixou

Os meus ais foram no vento 
Mas a esperança não perdi
Tenho o corpo perfumado 
Foi perfumado por ti

Melodia portuguesa

Silva Tavares / António Melo
Repertório de Tristão da Silva

Estas mãos sempre dispostas 
A punir quem te amofina
Agradeço-as de mãos postas 
Como dádiva divina

È com elas, meu enlevo 
Que te digo adeus, se passo
E è com elas que te escrevo 
Estes versos que te faço

Co'as mãos se abençoa
Se trabalha e se perdoa
E as minhas, desde a hora em que vi
Mais tuas que minhas são;
Mãos tão capazes de rezar por ti
Como capazes de ganhar teu pão


Nem sei dizer o que sinto 
Se co'as minhas mãos te afago
O que sei è que não minto 
E nas palminhas te trago

Quem me dera a santa esmola 
Desses teus olhos cristãos
Frente ao padre com a estola 
Envolvendo as nossas mãos

Esquecer o que sofri

Maria Fernanda Santos / Orlando Silva
Repertório de Fernanda Maria

Tu que lês nos olhos meus
Lês tristeza em meu olhar
Vês que a alegria em meu rosto
Tenta esconder o desgosto
De que me quero libertar

O sentir das minhas lágrimas 
Corpos, pedaços de dor
São o escape fo sofrer
Que tu deves entender 
Como mensagens d'amor

Quero amar-te eternamente 
Não quero amar mais ninguém
Meu amor,  dá-me a certeza 
Que hei-de vencer a tristeza 
E os escolhos que a vida tem

Olhos cerrados, martírio 
Será no presente, o passado
Quero esquecer o que sofri
Quero viver só p'ra ti 
Quero morrer a teu lado

Somos amigos

Letra e música de Luís Rebochos
Repertório de Tristão da Silva

Tu andas fingindo 
Amor que não sentes
E nem sentirás
E eu vou sorrindo 
Pois sei que tu mentes
E que mentirás
Mas viver assim
Jamais alguém vive
Com tantos castigos
Não gostas de mim
Não gosto de ti
Mas somos amigos

Quando tu me beijas 
Eu também te beijo
Fingimos os dois 
Matar um desejo
Que nunca sentimos
E sem um tormento 
A vida caminha
Eu finjo ser teu
Tu finges ser minha
Mas somos amigos

Amigos só, nada mais

Queimei tudo

Vasco Lima Couto / António Chainho
Repertório de Manuel de Almeida
Este tema foi gravado por Fernando João 
na melodia do Fado Carriche de Raúl Ferrão

Queimei tudo, queimei tudo
Dentro e fora desta chama
O teu nome em minha rua
O teu corpo em minha cama

Queimei o primeiro encanto 
Que de noite viajou
Entre as mãos das flores altas 
Que o silêncio incendiou

Queimei o dia seguinte 
Que ansiava repetido
E a fome de ter palavras 
Que ainda não tinha vivido

Queimei a alegria pura 
Que trouxe do desencanto
Filho do mar e do vento 
Onda rasgada no pranto

E ali, quando o outro dia 
Me encontrou sozinho e mudo
Fiz um poema de nada 
E sem alma queimei tudo

Um instante de Deus

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório do autor

Deixaste-me ser Deus por um instante
Para trocarmos o mundo por um beijo
Enquanto te despia em sol minguante
A lua foi-te entregue num desejo;
Deixaste-me ser Deus por um instante
E a lua foi vestida de desejo

Dias a fio sem te contar
Algumas coisas deste lugar
Noites de frio no teu olhar
Teu corpo esguio, um desafio por saciar

Deixaste-me adornar os sentimentos
Na cega lei de amar em liberdade
O fado em que cantei tantos tormentos
È hoje um fado novo sem idade;
Deixaste-me ser Deus por um instante
P’ra te pintar o corpo com saudade

Dias a fio sem te contar
Algumas coisas deste lugar
Os sete céus de azul vibrante
São meus e teus
Porque fui Deus por um instante

A trova do amor amigo

Vasco de Lima Couto / António Chainho
Repertório de Vasco Rafael

Deitados na montanha, nós despimos a lei
Ficando como a brisa a correr a manhã
Cada braço era um tronco envolvido p'la era
A crescer no amor da nossa primavera

O que foi que dissemos no amor entregado
Vias o céu alto e eu via o chão fechado
Semeados p'lo sonho, fomos os dois buscar
O barulho do vento e uma onda do mar

A tarde refrescou-me o desejo de estar
E a vida veio lenta, nossos olhos fechar
Uma canção foi longe buscar a àgua pura
P'ra inventar o amor nos ramos da aventura

Um pássaro desceu, espreitou-nos o sono
E foi contar às ondas o feliz abandono
Quando a noite chegou à solidäo parada
Encontrou a alegria numa folha esmagada

Canção de nós dois

Pedro Bandeira / António Mestre
Repertório de António Mourão

Onde eu for, tu irás
Se eu ficar, ficarás
Se eu partir
Partirás onde eu for
Um olhar e depois
O luar e nós dois
Só nós dois 
A viver um grande amor

A canção é assim
Vem de ti para mim
É o meu coração
Esta canção
Foi o mar que dançou
Na canção do meu bem
Do meu bem que adorou 
E eu também

Balada para um anjo

J. Diniz / Alvaro Duarte Simões *meia noite e uma guitarra*
Repertório de Tristão da Silva

Tenho na vida dois céus
Não sei qual deles mais brilha
Se aquele aonde está Deus
Se o olhar da minha filha
Cabelos, pedaços d'oiro

Da cor do trigo maduro
Pequeno milagre loiro
A iluminar-me o futuro

Se quiseres, minha filhinha 
Dar-te-ei o sol e a lua
Das estrelas, vida minha
A maior será a tua

A minha linda menina 
Será o meu 'ai Jesus'
Apesar de pequenina 
Enche-me a vida de luz

Luz azul divinizada 
Onde revivo o pecado
Quando d'alma ajoelhada 
Eu rezo cantando o fado

O ardina

*Alta noite de madrugada*
Fernando Farinha / Fontes Rocha
Repertório de Fernando Farinha

Alta noite, madrugada
Já sai de casa o ardina
Com destino à redação
Traz as sobras dos jornais
E na boca pouco mais
De que um pedaço de pão

Pé descalço, boné ao lado
Fato de ganga já remendado
Lá vai contente p'ra sua lida
Como a troçar da própria vida


À tarde, depois da venda
Joga à bisca na taberna
Pois no jogo è sempre forte
Tem sorte à bisca, porém
A sorte que ao jogo tem
Não condiz co'a sua sorte

O fado nem sempre é fado

Guilherme Pereira Rosa / Popular *fado corrido* 
Repertório de Tristão da Silva

O fado nem sempre é fado
Foste fado, foste encanto
Gostei de ti, tanto tanto
E afinal hoje és passado

O fado nem sempre é fado 
Que sina a minha contigo
Tu andas sempre comigo 
Onde vá, por todo o lado

O fado nem sempre é fado 
Nem sequer pensas em mim
Que
pensar dum fado assim  
Que só me tem desprezado

E vou assim p'lo caminho 
Sem ninguém, sempre isolado
Mas, regresse o teu carinho 
E eu direi que o fado é fado

Amor e caridade

Américo Patela / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Fernando Farinha

Quando o amor è franco, puro e amigo
Não tem soberba alguma, nem vaidade
Nem julga que o sofrer è um castigo
Pois sofrer por amor, è caridade

E sendo o meu pensar esta maneira
Todo o meu sofrimento è natural
A vida, infelizmente, è passageira
E sofrer por amor nunca fez mal

Por isso, sê feliz como tu queres
E deixa-me sofer p'la vida fora
Se precisares de mim, quando quiseres
Tens sempre a porta aberta a toda a hora

Deixa essa solidão

Manuel Fria / Popular *fado menor c/refrão*
Repertório de Manuel Fria

Meu amor, anda comigo
Deixa essa solidão
Se pensas que eu não consigo
Conquistar teu coração;
Conquistar teu coração
Meu amor anda comigo
Deixa essa solidão
Se pensas que eu não consigo


Por vingança me trocaste 
Por vingança te troquei
Na troca nada ganhaste 
Na troca nada ganhei

Julgavas ser mais feliz 
Mas vê como te enganaste
O teu olhar è que o diz 
Na troca nada ganhaste

Tomei conselhos d'alguém 
Esse alguém não te direi
Só p'ra me vingar também 
Por vingança te troquei

Eu sinto-me arrependido 
Em dizer que te troquei
Em ter assim procedido 
Na troca nada ganhei

Rosa negra

António José / Ferrer Trindade
Repertório de Tony de Matos

Seu nome è Rosa, serena e calma
Mas cor de rosa só tem a alma
Rosto bonito, cor de canela
Mas em Luanda
Não
há nenhuma assim como ela

Rosa negra, teu destino está marcado
Rosa negra, no destino dum soldado
Tem cuidado com os desenganos
Quen te quer para a vida inteira
Que não seja só por dois anos
Deus queira

Mas o soldado partiu e agora
Desde que um dia se foi embora
Sente a saudade que o desespera
Volta que a Rosa
No cais tão distante ainda t'espera

Deus queira

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Fernanda Maria

Quero que Deus te castigue
Com um castigo sem fim
Que não passes mais um dia
Sem teres de voltar p'ra mim

Que fiques só, como eu estou só
Deus queira
Que sofras tanto com o meu pranto
Deus queira
Que essa paixão seja traição
Eu espero
Que o teu viver seja sofrer
Eu quero

Que o teu amor seja só dor
Deus queira
E a tua vida fique perdida
Deus queira
Mas que por fim, dessa maneira
Prós meu braços voltes, amor
Deus queira

Quero que Deus te castigue
Mas sem dó nem piedade
Que não deixe no teu peito
Nem a palavra saudade

Fado monte

Carlos Leitão / Custódio Castelo
Repertorio de Carlos Leitão

Nasce o sol no Alentejo 
Nasce água clara na fonte
Nasce em mim a saudade 
Na ladeira do teu monte

Na ladeira do teu monte 
Meu amor, quando eu te vejo
Nasce água clara na fonte 
Nasce o sol no Alentejo

Amanheceu e a porta abriu
O sol plebeu ao meu sonho
Que ninguém viu
È neste monte que o horizonte
Se levanta e faz tardio
Doce lembrança que não partiu

Mais aconchego
Vinho em botão
Calor no apego
Sangue na mão

Um céu deserto traz à saudade
A chuva ao perto
Num corpo aberto à liberdade
Em mil imagens conto as viagens
De um passado sem idade
E se me esqueço, sonho à vontade

Portuguesinha

Rui Furtado / Henry Cofiner (ou) António Ballasteros
Repertório de Manuel Fernandes

Quem já esteve em Portugal 
Ficou preso ao seu encanto
E é coisa bem natural 
Que lhe haja agradado tanto

Sentirá saudade infinda 
Ao recordar a canção
Que uma portuguesa linda 
Lhe cantou com emoção

A portuguesa a amar
Quando em verdade sente
Deixa a alma a vibrar 
No seu amor ardente
Bonita como as flores
D' olhos sonhadores
Vai despertando 
Amores ao vibrar

Mouraria, Mouraria 
De tradições tão airosas
És berço da melodia 
De mil cantigas famosas

Ao som duma guitarrada 
Faz-nos sonhar acordados
E deixa a alma elevada 
Ouvir do fado, os trinados

Agora que não sabes mais de mim

Carlos Leitão / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Carlos Leitão

Agora que não sabes mais de mim
Não sei se por acaso ou por vontade
Planta mais um cravo no jardim
E chora uma vez mais esta saudade

Odeia-me à vontade, trai lembranças
Deixei o nosso amor mas não o acabo
Sou isto, a revolta de crianças
Nascidas do meu Deus e o Diabo

Sou povo angustiado e madrugada
Num corpo masoquista em solidão
Sou sempre a nossa história inacabada
Sou o sangue por chegar ao coração

Ainda que procure o mesmo fim
Que esteja à minha frente sem saber
Agora que não sabes mais de mim
Talvez eu ‘inda esteja por nascer

Máscara

José Pereira / Frutuoso França
Repertório de Maria José da Guia

Faltaste ao juramento que entre nós dois havia
Ludibriaste assim meu pobre coração
Acreditei em ti, estava cega, não via
Só existir em ti a máscara da ilusão

Coração libertino que se deixou prender
Nas garras dum amor que nunca soube amar
Tive pena de mim, mas vi que era mulher
Meu coração mais frágil deixou-se apaixonar

Encorajei a alma, fiz-me forte e venci
A chama do ciume no peito de mulher
E as lágrimas que outrora dos meus olhos  verti
Transfornaram-se agora em risos de prazer

Segue a estrada da vida como se te aprouver
Segura bem a máscara, vê lá, toma cuidado
Pois se ela te cair, verás que outra mulher
Tu julgas enganar, e ès tu que ès enganado

Campino apaixonado

Leonel Neves / António Mestre
Repertório de Tony de Matos

Se não há nada que possa 
Fazer tremer um campino
Maldito olhar dessa moça 
Que faz de mim um menino

Olhou-me sem dizer nada 
Larguei da mão o pampilho
Aquilo deu uma pancada 
Pior que a marrada de algum novilho

Sou um campino capaz
De ir só atrás duma manada
Não deixo o toiro fugir
Nem o cavalo cair;
E já nem sei onde foi
Peguei um boi numa toirada
Só não consigo vencer
As manhas duma mulher


Quando ela passa indiferente 
Todo eu me dano e me zango
Meu coração de repente 
Põe-se a bater o fandango

Embora nada me deva 
Se calha de olhar para outro
Eu sinto estrelas na treva 
Como quem leva coices dum potro

De beleza estás vestida

Fernando Correia / Joaquim Campos *fado puxavante*
Repertório de Carlos Marques

Teus olhos calmos, morenos
São a minha inquietação
Embora estejam serenos
Perturbam meu coração

Teus lábios são violetas 
De primavera orvalhados
Fossem os meus borboletas  
P'ra estarem nos teus poisados

Teus dentes são prata fina 
Mais brancos do que o marfim
Óh... quem me dera menina 
Que sorrisses só p'ra mim

De beleza estás vestida 
Mas é breve a formosura
Sê virtuosa na vida 
Que a beleza em ti perdura

Outra rosa me trouxeste

Maria Manuel Cid /  Alfredo Duarte *menor versiculo*
Repertório de Fernanda Maria

A rosa que tu me deste, que ternura
Ao calor do teu abraço já murchou
Outra rosa me trouxeste, que amargura
Nem sequer no meu regaço desfolhou

Com a dor de braço dado, que saudade
Como a rosa desbotada, me tornei
P'ra matar o teu pecado de maldade
Essa flor abandonada desfolhei

Com a sombra do meu gesto de agonia
Um pedaço de roseira se cravou
Esse espinho foi o resto que vivia
Recordando-me a cegueira que passou

Vai-se traçando um destino

Tiago Torres da Silva / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Emanuel Soares

A terra não cicatriza
Das marcas que alguém que a pisa
Vai deixando levemente
Meu amor, a terra chora
Porque o tempo è uma espora
Amarrada aos pés da gente

Se um homem deixa pegadas
Vão-se desenhando estradas 
Vai-se traçando um destino
E na marca do seu pé
Um homem pouco mais é 
Do que um Deus feito menino

Mas se uma mulher avança
Vem um pé, um outro dança 
E o tempo rodopia
Levanta-se o pó do chão
E a terra sente afeição 
Pelo pé que a repudia

Os homens traçam caminhos
E seguem sempre sozinhos 
Sem a chance de parar
Sabendo em cada pegada
Que a mulher è que é a estrada 
Onde aprendem a andar

O que mais vale no mundo

António Vilar da Costa / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Fernando Farinha

Só dás valor ao dinheiro
Mas esta verdade aprende
O que mais vale no mundo
Não se compra nem se vende


Abandonas por vaidade 
O que è puro e verdadeiro
Na tua leviandade 
Só dás valor ao dinheiro

O destino traz supressas 
A quem ao luxo se prende
Sei que a verdade desprezas 
Mas esta verdade aprende

È dentro do coração 
Quando o sentir è profundo
Que existe o maior brasão 
O que mais vale no mundo

Para ti è coisa pouca 
Mas ao ouro não se rende
Porque o amor, minha louca 
Não se compra nem se vende

Derradeiro amor

Letra e musica de Moniz Pereira
Repertório de Manuel de Almeida

Amanhã vou sofrer a sorrir
Amanhã vou viver a mentir
No meio de tanta incerteza que me assalta
Este novo sentimento faz-me falta

Na minha vida, a tristeza
Também è contentamento
Só por causa deste amor derradeiro
Que p'ra mim tem mais valor que o primeiro

Amanhã minha dor è contente
Amanhã meu amor è diferente
Esta minha solidão vai morrer
E o meu velho coração, reviver

Porque a nova felicidade
È já uma realidade
Só por causa deste amor derradeiro
Que p'ra min tem mais valor que o primeiro

Madrid

Letra e música de Carlos Leitão
Repertório de Carlos Leitão e Gisela João

Nuvens de cinza e fogo
Trespassam tudo o que vive em mim
Todos os dias, manhãs vadias
Porque me rogo em cinza e fogo ?
P’ra te encontrar por fim

Queimei as recordações
De quem não ficou mais um minuto
Porque não voltas em notas soltas?
Não há razões nos corações
Chorando o luto

Um amor intemporal
Perdeu-se de nós p’lo esquecimento
Tenho saudade dessa verdade
Que um vendaval, talvez por mal
Tornou lamento

Sesimbra ao meio-dia

Letra e musica de Fernando Farinha
Repertório do autor

Quem não viu ainda, Sesimbra ao meio dia
Quando os barcos chegam duma pescaria
Não compreendeu, não conhece bem
O ar pitoresco que Sesimbra tem

Ao largo, as traineiras mudas e paradas
Confessam canseiras de fainas passadas
Os botes desenham bailados no mar
Trazendo p'ra terra, o peixe a saltar

Chegam pescadores, a praia está cheia
As redes repousam estendidas na areia
Sesimbra redobra de cor e alegria
E fica mais linda chegando o meio-dia

Venham ver Sesimbra sempre a namorar
Recebendo beijos do sol e do mar
Vejam o progresso que o tempo lhe deu
Mas vejam também como ela nasceu

Se for noite, se for dia

Manuel Fria / Popular *fado das horas*
Repertório de Manuel Fria

Nas ondas do teu cabelo
Eu leio teus pensamentos
Só não sei porque razão
Não consigo entendimentos

Se for noite não consigo 
Encontrar a solução
Talvez a cor não me ajude 
Transmitir ao coração

Se for dia, no entanto
É mais fácil encontrar
Porque é que me agradas tanto 
Quando me estás a olhar

Na procura dum desejo 
Que não tem razão de ser
No meio desta confusão 
Tudo pode acontecer

A roubar ao sol a cor

Carlos Leitão / Custódio Castelo
Repertório de Custódio Castelo

Porque è que a vida da gente
Faz sentido sem amor
Se dou por mim de repente
A roubar ao sol a cor;
Porque è que a vida da gente
Faz sentido sem amor
Se te sigo eternamente
Seja lá p’ra onde for

Ficou uma porta entreaberta
Que não pudemos fechar
E uma casa já deserta
Sempre que ousamos sonhar

Do tempo que foi passando
Resta pouco mais que nada
Não nos deu um *até quando*
Nem uma história acabada