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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Saudades do Ribatejo

Maria de Lurdes Brás / Frederico Valério *cavalo ruço*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Eu já fui ao Ribatejo
E não esqueço com certeza
Aquela festa bravia
Que eu lá vi um dia
Bem à portuguesa

De tudo por lá havia 
Touros fado e vinho tinto
Dessas horas bem passadas 
Com fado e touradas
Que saudades, sinto

As charnecas e lezírias 
Que noutro lado não vejo
Mostram a quem por lá passa 
A destreza e a raça
Que há no Ribatejo

Gostava de lá voltar 
Àquela terra de encanto
Voltar a ver novamente 
Essa boa gente
P’ra quem hoje canto

Vou recordar para sempre 
A gente Ribatejana
Guardarei a imagem 
Da bela paisagem
Que é bem lusitana

Ao recordar tudo isto 
Uma tristeza me invade
E hoje a recordação 
Mora em meu coração
É tudo, saudade

A casa da malta

António Vilar da Costa / Nóbrega e Sousa
Repertório de Manuel de Almeida

A casa perdida à beira da estrada
Ande os meus sonhos encontram pousada
Não tem um brasão, nem ricas baixelas
Mas tem o telhado coberto d'estrelas

Às vezes desejo
Por minha pousada
A casa da malta
À beira da estrada


A casa da malta não tem sentinela
Apenas a lua lhe ronda a janela
As almas libertas dum rumo traçado
Não têm fronteiras de arame farpado

E chegam de noite, sacola vazia
Na casa da malta é sempre meio-dia
E colhem esperanças no sol e no vento
Que o sonho prás almas é meio sustento

Há frio nas almas, o mundo vai mal
Na casa da malta é sempre natal
Só lêem nos astros, são rudes plebeus
Mas sabem que todos são filhos de Deus

Eu canto para todos vós

Tema gravado por Rodrigo com o título 
*Nada é pobre quando é povo*
Vasco Lima Couto / António Chaínho
Repertório de Vasco Rafael

O fado, antigamente, era o recado
Das vielas sangrentas de Lisboa
E o protesto do amor desanimado
Canto livre dos olhos sem passado
Em mil versos que o tempo não perdoa

Nas tavernas do vinho, em noite suja
Onde as praias da voz não se encontravam
As guitarras falavam da cidade
Nos versos desse vinho onde a saudade
Cantava a maldição dos que choravam

Todos amordaçavam editais
A adormecer os ricos deste mar
Que pagavam o fado com o seu nome
E fingiam não ver a cor da fome
Em gerações sem tempo e sem lugar

Mas foram os poemas desse longe
Que ultrapassei, porque hoje me renovo
O tempo aberto e livre da canção
Do meu país chegado ao coração
Eu entrego feliz à voz do povo

Ausência

Sebastião Silva / Ivan Pires
Repertório de Tony de Matos

Se a tua ausência durar
Vou sofrer, vou chorar... de saudade
Tudo o que me restou
Deste infeliz amor... foi a saudade

Se soubesses como penso em ti
Como
è triste um coração sozinho
Voltarias ao meu lado, amor
Reconstruir nosso ninho

Um erro
Um erro não justifica
Esta saudade infinita
Que me separa de ti

Lágrimas diferentes

Domingos Gonçalves Costa / Jaime Santos *alexandrino*
Repertório de Fernanda Maria
Editado com o título *O que as lágrimas dizem*
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*

Quase ninguém dá conta, ao ver alguém chorar
Do que a lágrima diz quando aos olhos aflora
Essa boca de luz no seu estranho brilhar
É um espelho a refletir a vida de quem chora

A lágrima da vida nuns olhos divinais
Lembra a luz da manhã dum dia apetecido
Nem tem comparação com as lágrimas fatais
Que queimam como fogo os olhos dum vencido

A lágrima da mãe quando nos dá a vida
É cor que a tarde empresta a um dia divinal
E a lágrima chorada à hora da partida
É hino de saudade, às vezes imortal

Na vida em que se afunda sorrisos e cansaços
A lágrima mais pura, a que jamais tem par
É uma, a que se esconde atrás duns olhos baços
Que fartos de sofrer já nem sabem chorar

Longe da pátria

Vilar da Costa / Armandinho *fado mayer*
Repertório de Fernando Farinha

Se queres saber 
A dor pungente que um peito encerra
E o que é sofrer 
Um dia ausente da tua terra
Sai barra fora
Vive que uma vez no alto mar
E nessa hora
Se és português tens de chorar

Saindo a barra uma guitarra
No seu trinar fagueiro
E a voz dum marinheiro
Numa canção bizarra
È Portugal com a sua meiga voz
Sentimos a palpitar
Saudades dentro de nós


O português
Triste suspira e ninguém fala
Só no convés 
À voz da lira, o peito embala
Tudo emudece 
Ao recordar a pátria mãe
E até parece 
Que o próprio mar chora também

Ronda pelo passado

Maria de Lurdes Brás / José Duarte *fado seixal*
Repertório de Augusto Jorge

Eu passei, no Bairro Alto
Alta noite a horas mortas
E fiquei em sobressalto
Pensei logo dar um salto
Ao fado, fora de portas

Mas passei p’la Mouraria 
Quis recordar o passado
E senti, com nostalgia 
Pois vi que não existia
O velho sabor a fado

Fui à Bica e Madragoa 
Onde o fado teve fama
Nos recantos de Lisboa 
Onde o fado mais se entoa
É na doce e velha Alfama

Nesta ronda, p’lo passado 
Com fadistas de virtude
Descobri um novo fado 
E que vive abençoado
P’la Senhora da Saúde

Trova eterna

Domingos Gonçalves da Costa / Francisco Carvalhinho
Repertório de Manuel Fernandes

Com sua divina graça
Deus quis dar a Portugal
O fado, canção de raça
De mimo e graça
Trova imortal

Deu-nos um sol radioso
E o mais formoso luar
Por isso, como ditoso
Feliz garboso diz a cantar

Dá-me essa velha guitarra
E vem para a farra
A noite está linda
Vamos para a Mouraria
Que embora sombria
Não morreu ainda
Depois iremos p'ra Alfama
Um bairro de fama 
E de gente boa
P'ra dizermos lado a lado
Que é lindo o fado 
Desta Lisboa

Ao fado canta-se a lida
Feliz ou triste também
Com voz alegre ou sentida
Conforme a vida 
Que a gente tem

P'ra se cantar, finalmente
Serve um motivo qualquer
Por isso constantemente
A toda a gente se ouve dizer

Como palavras de fado

Fernando Campos de Castro / Filipe Pinto *fado meia-noite*
Repertório de João Loy

Estas mãos já não são minhas
Meu amor se te lembrasses
Dei-te as mãos que tu não tinhas
À espera que me tocasses

Sonhei noites, morri dias 
À espera dum toque teu
Dessas mãos que tu dizias 
Tão perto do corpo meu

Deixaste em mim a saudade 
Que o teu corpo me deixou
De viver nesta ansiedade 
De já nem saber quem sou

Não sei que fado é o fado 
Que me faz ficar assim
Com todo o mundo enleado 
À solta dentro de mim

Foste presente em passado  
No meu olhar todo azul
Como as palavras de fado 
Que canto de Norte a Sul

Casinha dum pobre

Frederico de Brito / Carlos Rocha
Repertório de Manuel Fernandes 

Uma casinha dum pobre
É um cantinho dos céus
Por sobre a telha que a cobre
Há sempre a benção de Deus

Tem mais graça mais encanto
Quanto mais pequena for
Estamos mais perto, portanto
Quanto mais perto melhor

Uma casa pequenina como a nossa
É duma graça tal 
Que até nos faz lembrar 
Um ninho num beiral
Uma casa pequenina como a nossa
A tanto se reduz
Que um beijo do luar
Enche-a toda de luz
Uma casa pequenina chega a ser
Um traço de união 
Entre o amor e o prazer

Ao princípio, a vida amena
A graça de Deus, depois
Eu chego a dizer, que pena
Ela não ser mais pequena
P’ra só cabermos os dois

A esperança é candeia acesa
Que nos dá vida e calor
A fé é quem põe a mesa
E assim vive o nosso amor

O trabalho acende o lume
Que não mais se apagará
Não se abre a porta ao ciúme
Porque não cabia lá

Como te quis e te quero

Mote: Linhares Barbosa / Glosa: Manuel de Almeida / Popular *fado corrido*
Repertório de Manuel de Almeida

Amei-te com desespero
Mais do que eu ninguém te quis
E agora que te não quero
Vejo as figuras que fiz


Adorei-te noite e dia 
Com toda a força da alma
Ninguém me levava à palma 
A querer-te como eu te queria
A minha vida daria 
P'lo teu amor de raiz
Vivi um sonho feliz 
Feliz e belo também
Amei- te como a ninguém
Mais do que eu ninguém te quis


Mas a vida atroz, medonha 
Quis este bem terminar
E não chorei com vergonha 
Que alguém me visse chorar
O que eu sofri a pensar 
Na crença com que te quis
Com razão o mundo diz 
Que o meu amor foi sincero
E agora que te não quero 
Vejo as figuras que fiz

Sofri bastante, confesso
Agora que te perdi
Mas se voltasse ao começo
Tornava a gostar de ti

Quando acontece

Rogério Ferreira / Frederico de Brito *fado dos sonhos*
Repertório de Eliana Castro

Estou sempre a ver a maneira
De chegar à tua beira
Ai de mim se não consigo
Desde que te conheci
Fiquei carente de ti
Só sonho sonhar contigo

Quando o amor acontece
A nossa alma estremece 
E há perfumes no ar
De nada temos receio
O nosso rio vai cheio 
Que importa se transbordar

Nos abraços somos laços
Danças, desenhos e traços 
Somos um só, santo Deus
Todos os beijos são poucos
Todos são doces e loucos 
Desde que sejam os teus

No cais da Ribeira

Letra e música de Frederico de Brito
Repertório fe Fernanda Maria

No cais da Ribeira Nova 
Onde tanto barco aproa
Anda no ar uma trova 
Nascida na Madragoa

Passam uns olhos bonitos
 Da cor do mar sem ter fim
E ouvem a graça duns ditos 
Que sempre acabam assim

Varina gaiata, sorriso que alastra
Mentira que seja, diz lá donde vens
O peixe de prata da tua canastra
Até sente inveja dos olhos que tens


Quando ela passa bailando 
De chinelinhas nos pés
Parece um barco vogando 
Que anda ao sabor das marés

No seu olhar há saudade 
Ou um mistério qualquer
E a gente sente vontade 
Vontade de lhe dizer

Olhos fatais

Armando Neves / Alfredo Marceneiro *fado bailado*
Repertório de Alfredo Marceneiro


Que sorte que Deus me deu
Que p'ra sempre hei-de lembrar
Embora não seja ateu
Julguei encontrar o céu
Na expressão do teu olhar

Mas deitaste-me ao deserto 
Neste mundo enganador
Hoje o teu olhar incerto 
Já não é um livro aberto
Onde eu lia o teu amor

Enganaste os olhos meus 
Nunca mais te quero ver
Meus olhos dizem-te adeus 
Teus olhos não são dois céus
São dois infernos a arder

Coração p’ra amar a fundo 
Outro coração requer
Se há tanta mulher no mundo 
Vou dar este amor profundo
Ao amor doutra mulher
- - -
Versão Original
Do livro *Poetas do Fado Tradicional* 
De: Daniel Gouveia e Francisco Mendes

Que sorte que Deus me deu
E que sempre hei-de lembrar

Embora não seja ateu
Julguei encontrar o céu
Na expressão do teu olhar

Neste mundo, mar de escolhos 
Unimos nossos destinos
E nesta vida de abrolhos 
Para mim teus lindos olhos
Eram dois céus pequeninos

No espelho do teu olhar 
Vi dois céus em miniatura
E para mais me encantar 
Vão-se neles mirar
A minha própria ventura

E tão mística atracão 
Tinha o teu olhar profundo
Que em sua doce expressão 
Era um manto de perdão
Sobre as misérias do mundo

Mas deitaste-me ao deserto 
Deste mundo enganador
Pois o teu olhar incerto 
Já não é um livro aberto
Em que eu lia o teu amor

Enganaste os olhos meus 
Nunca mais te quero ver
Meus olhos dizem-te adeus 
Teus olhos não são dois céus
São dois infernos a arder

Coração para amar a fundo 
Outro coração requer
Se há tanta mulher no mundo 
Vou dar este amor profundo
Ao amor doutra mulher

Recordando amores esquecidos

Domingos Gonçalves da Costa / Pedro Rodrigues
Repertório de Fernanda Maria

Pensei escrever um poema
Onde cantasse a revolta
Que anda a par da minha dor
Porém, na hora suprema
Minha inspiração à solta
Fez um poema d'amor

Recordou amores esquecidos
Momentos belos vividos 
Sol da minha mocidade
E obrigou-me, por fadário
A desfiar o rosário 
De amor, ternura e saudade

E então, ante o meu olhar
Vi o triste desfilar 
Dos sonhos que já vivi
E nessa doce miragem
Eu vi passar a imagem 
De alguém que há muito perdi

Entre os poemas dispersos
Que canto com ansiedade 
Nas horas do meu sofrer
Eu fiz destes pobres versos
Uma oração de saudade 
Que rezo p'ra não esquecer

Obrigado

Letra e musica de João Nobre
Repertório de Tony de Matos

Obrigado
Só sei dizer muito obrigado
Ai como foi bom p'ra mim
Ter-te por fim encontrado

Que saudade
Se não estivesses a meu lado
Por tanta felicidade que me tens dado
Obrigado

Minha vida sem carinho
Era p'ra mim como um deserto
Pôs-te Deus, no meu caminho
Encontrei o rumo certo

Se perdido andei na vida
Hoje esqueci todo o passado
E quero apenas viver p'ra te dizer
Meu amor, muito obrigado

Quimera perdida

Maria Manuel Cid / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Fernanda Maria

Ó lume que me arrefece
Ó ventura que enlouquece
Ó saudade de ninguém
Pobre sombra fugidia
Fresta de luto se abria
Se há luar, de luto vem

Quanto silêncio gritado
Quanto sonho abandonado 
Quanta quimera perdida
Rosto marcado de traços
Sombra seguindo os meus passos 
Sempre de luto vestida

È brisa de mar, salgada
Lume cortante de espada 
Tudo o que penso e não sei
Morte de vida sem vida
Sangue vermelho de ferida 
Beijo que sinto e não dei

Nem Deus sabe

Artur Ribeiro / Jaime Santos
Repertório de Manuel de Almeida

Quem separou nossas vidas
Quem te roubou do meu lado
Nas minhas noites perdidas
Vou perguntar às bebidas
Quem vou cantar no meu fado

Quem vais amar com loucura 
Quem vai dormir nos teus braços
Negro como a noite escura 
Grita cheio de amargura
Meu coração em pedaços

Quem
vais trazer na lembrança 
A quem vou dar os bons dias
Quem me vai chamar criança 
E vai pôr raios de esperança
Nas minhas horas sombrias

Já perguntei à saudade 
Até já fiz mil promessas
Já corri toda a cidade 
Mas desisti, que em verdade
Só Deus sabe se regressas

Namoro às escondidas

Gabriel de Oliveira, Fernando Farinha / António Menano
Repertório de Fernando Farinha

Nem teu pai nem tua mãe
Querem que a gente se fale
A gente rala-se bem
Não vai a bem, vai a mal


Fugindo aos olhares daninhos
Das vizinhas atrevidas
Contigo ando, p'los cantinhos
Namorando às escondidas
Os elos das nossas vidas 
São mal vistos em geral
Nosso
amor que tanto vale 
Não está certo p'ra ninguém
Nem teu pai nem tua mãe
Querem que a gente se fale


Já inventei mil maneiras
Sem conseguir evitar
Tão ruíns alcoviteiras
Que nos andam a espreitar
Ambos querenos casar 
Ter um lar e amor leal
Mas nem assim, afinal
Estamos certos para alguém
A gente rala-se bem
Não vai a bem, vai a mal

O fado que me acompanha

Américo Portela / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de Fernanda Maria

O fado da minha vida
Não è feio nem bonito
Não è menos nem è mais
È a voz da linguagem
Usada já noutros tempos
No fadário dos meus pais

Se nada posso fazer
À vida da minha vida 
Desenhada no passado
Nada sou que valor tenha
Porque valor não existe 
Na imperfeição do pecado

Se este fado me acompanha
Creio que já não me resta 
Nem uma esperança esquecida
Que este fado vem do fruto
Que a semente dos meus pais 
Transformou na minha vida

Não mintas

Jorge Rosa / Domingos Camarinha
Repertório de António Mourão

Por te amar, amo a verdade
Fé no amor ninguém me tira
Não quero não, que a mentira
Roube a minha felicidade

Se queres tanto como eu
Dar forna a este sonhar
Não deves não, enganar
O amor que è teu e meu

Não mintas, acredito no que dizes
Não mintas, tenho fé no teu carinho
Não mintas, poupa-me horas infelizes
Não destruas as raízes
Dos trevos do meu caminho

Não mintas, meu amor, quero-te tanto
Não digas, não digas o que não sintas
Näo mintas, não me quebres o encanto
Meu amor quero-te tanto
Não mintas, não mintas

Regresso à vida

Fernando Farinha / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Fernando Farinha

Estive entre a vida e a morte
E Deus deu-me a feliz sorte
De poder viver ainda
Pode a vida ser maldosa
Difícil e caprichosa
Mas não há coisa mais linda

Por um milagre sagrado
Regresso hoje ao meu fado 
Ao fado que me embalou
Feliz por voltar de novo
A cantar p'ra este povo 
Que sempre me acarinhou

Nesta hora que me aquece
Minha voz reaparece 
Depois duma ausência atroz
Fados que tenho de meu
Cantigas que Deus me deu 
Para dar a todos vós

Bairro amado

Letra e música de Frederico de Brito
Repertório de Fernanda Maria

Gemem guitarras
Notas bizarras dum fado triste
Choro e queixume
Dor e ciume que ainda existe
Tristes baladas
Canções magoadas e olhos em brasa
Isso
que importa
Se estão à porta da minha casa

È este o meu bairro amado
Que os outros são muito iguais
Ai do meu tempo passado
Que foi e não volta mais
A minha rua è tão linda
Como outra igual nunca vi
Basta que lá esteja ainda
A casinha onde eu nasci


Bairro tristonho
Que foste um sonho da fadistagem
De aventureiros
E cavaleiros de alta linhagem
Bairro tranquilo
Tu ès aquilo que eu mais adoro
Minh'alma è tua
Bairro da rua aonde eu moro

Maria da Paz

Nóbrega e Sousa / Boavida Portugal
Repertório de Tristão da Silva

Maria da Paz
Foi longe, na França 
Que o teu bem morreu
E um filho, mais tarde
Ainda uma criança
No mar se perdeu 

Teu netinho, agora
Soldado garboso
Quer a pátria honrar
E o teu pensamento 
Embora saudoso
Anda a perguntar

Dei-te um amor verdadeiro 
Daquele que Deus me deu
Dei-te um filho marinheiro 
E o neto è também teu
Dei-te lágrimas e ais 
O melhor da minha vida
O que posso eu dar-te mais 
Ó pátria querida

Maria da Paz
Toda a imensa dor 
Que o teu peito encerra
Nasceu afinal
No gelado amor 
Da maldita guerra 

Teu olhar velhinho
De mágoa fenece
Farto de chorar
E o teu pensamento
Como numa prece
Anda a murmurar

Caminho de perdição

Artur Ribeiro / Jaime Santos
Repertório de Fernanda Maria 

Quem se queixa que seus filhos
Se perderam por maus trilhos
Como é costume dizer-se
Esquece que todos são
Caminhos de perdição
Para quem quiser perder-se

Pecar é coisa vulgar
Para quem souber lutar 
Lutar e retroceder
Deus abriu por sua mão
Caminhos de redenção 
Para quem se arrepender

Eu continuo a pensar
Que os caminhos só vão dar 
Onde nós queremos ir
Mas se há caminhos maldosos
Então somos criminosos 
Por deixá-los construir

As nossas vidas

Artur Ribeiro / Manuel de Almeida
Repertório de Manuel de Almeida 

Que Deus guarde nossas vidas
Para sempre, como agora
Uma à outra tão cingidas
Como duas mãos unidas
Como pás da mesma nora

São pedaços dum só linho 
As nossas vidas a par
Pedras do mesmo caminho 
Velas do mesmo moinho
Notas do mesmo cantar

Como risos de criança 
Sobre a relva dum jardim
Como ventos de bonança 
Deixando cair esperança
Sobre ti e sobre mim

As nossa vidas normais 
Neste mundo enlouquecido
Às vezes parecem, mais 
Coisas sobrenaturais 
Dum país desconhecido


II versão
Letra cantada por Manuel de Almeida na música de um fado tradicional não identificado.
NOTA:
Na fixação do texto, adotámos a versão constante da Declaração de Obra apresentada pelo Autor 
à Sociedade Portuguesa de Autores (S.P.A.) em 16 de Abril de 1971, com ligeiras diferenças, 
no que se refere à 1.ª estrofe, relativamente à versão gravada em disco.

Quero ver as nossas vidas
Sempre formando uma só
Uma à outra tão cingidas
Como duas mãos unidas
Como pás da mesma mó

São pedaços dum só linho
As nossas vidas a par
Pedras do mesmo caminho
Velas do mesmo moinho
Notas do mesmo cantar

Como risos de criança
Sobre a relva dum jardim
Como vento de bonança
Deixando cair esp’rança
Sobre ti e sobre mim

As nossas vidas normais
Neste mundo enlouquecido
Às vezes parecem mais
Coisas sobrenaturais
Dum país desconhecido

Ovarina da Ribeira

António Reisinho / Jorge Fontes
Repertório de António Severino

Anda no cais da Ribeira 
Uma saia a navegar
Duma ovarina peixeira 
Que mais ondas que o mar

E há tanto pescador 
Com a rede já lançada
P'ra buscar o seu amor 
Mas ninguém apanha nada

Ovarina da Ribeira 
És o vendaval da praia
Levas a companhia inteira 
No cerco da tua saia
Ovarina da Ribeira 
És a mais linda de Ovar
Não me afundes a bateira 
Nas ondas do teu andar

Eu ando atrás da maresia 
Dessa ovarina tão bela
Com a esperança de algum dia 
Naufragar nos braços dela

E se Deus me ser por sina 
De casar com uma peixeira
Vou trazer essa ovarina 
Para bordo da bateira

Aquela de quem tu gostas

Joaquim Pimental / Carlos da Maia
Repertório de Fernanda Maria 

Há pouco, quando passaste
Tive a impressão que me olhaste
Com certo ar de desdém
E até um leve sorriso
Pretensioso, impreciso
Pareceu-me sentir também

Se pretendeste humilhar-me
Ou se quiseste mostrar-me 
A outra que tens agora
Não atingiste o teu fim
Porque afinal, tu p'ra mim 
És coisa que deitei fora

Podes passar à vontade
Exibe a tua vaidade 
Com isso não me desgostas
Eu ficarei onde estou
Porque sou que ainda sou 
Aquela de quem tu gostas

Agora que nada somos

Artur Ribeiro / Adelino dos Santos
Repertório de Manuel de Almeida

Hoje todos os caminhos
Me conduzem ao que fomos
Agora que nada somos
E nem andamos vizinhos

Vão dar a ti, finalmente 
Todas as minhas ideias
E o sangue das minhas veias 
Chama por ti loucamente

Agora precisamente 
Após todas as canseiras
Quando tu talvez não queiras 
Acreditar-me dif'rente

Quando mais estamos sozinhos
É quando mais peço a Deus
Que encaminhe os passos teus 
De novo nos meus caminhos

Arraial do Tejo

César de Oliveira / Ferrer Trindade
Repertório de Fernanda Maria 

Digam às varinas 
Pra'aprenderem as canções
Que Lisboa canta agora
Encham a canastra 
Com arquinhos e balões
E vão p'la cidade fora

Trepem escadinhas 
Que se fartam de subir
Gritem alto o seu pregão
Convidem o Tejo para vir
Porque ele gosta de sentir
Que è lisboeta até mais não

Lisboa canta 
No arraial popular
E tem no Tejo, seu par
O fadista namora as varinas
Lisboa canta, 
Gosta de ver baloiçar
Balões brilhando
Que vão inundando as sete colinas


Vamos pôr festões 
Junto da barra do farol
Em louvor dos três santinhos
Lisboa sem Tejo 
É como um dia sem ter sol
Nasceram os dois juntinhos

Se Lisboa está nesta maré de divertir
Não lhe estraguem a função
Convidem o Tejo para vir
Porque ele gosta de sentir
Que é lisboeta até mais não

Corações loucos

Letra e musica de Frederico de Brito
Repertório de Fernanda Maria

Deixa, larga-me de mão
Ninguém te mandou cá vir
Loucuras de coração
Dão-me vontade de rir

Não sejas impertinente, já disse
Não posso escutar-te agora, não posso
Era uma tolice, como se eu não visse
Que o mal è só nosso

Tem calma... 
Olha os dias que lá vão
E não confundas a alma 
Com o doido coração
Isto p'ra min não tem graça
Mas passa
Também não faças alarde
Que é tarde
O caso é p'ra meditar
Pois queres que eu faça 
Castelos no ar

Deixa, larga-me depressa
Que o tempo passa a correr
E quando a vida começa
È bom sabermos viver

Não quero arrependimentos,  não quero
Também p'ra ser teu joguete não presto
Já muito eu tolero, de mais nada espero
Depois vê- se o resto

Nossa senhora faz meia

Mote de António Nobre / Glosa de Linhares Barbosa 
Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Tristão da Silva
Também gravado com o título *serão da virgem"

Nossa Senhora faz meia
Com linha feita de luz
O novelo é lua cheia
E as meias são p'ra Jesus

Quando a noite é escura e bela 
Diz-se lá na minha aldeia
Que à janela duma estrela 
Nossa Senhora faz meia

A rodar a dubadoura 
Andam quatro anjinhos nus
Prendendo nossa Senhora 
Com linha feita de luz

Jesus pequenino e loiro 
Na linha todo se enleia
As quatro agulhas são d'oiro 
O novelo é lua cheia

Dormem as coisas mais santas 
Só a mãe santa produz
Faz serão até às tantas 
E as meias são p'ra Jesus

Cair em graça

Maria da Conceição Piedade / Hernâni Correia
Repertório de Manuel Fernandes

Digo sempre um galanteio
Você indiferente passa
Até chego a ter receio
De não ter caido em graça

Não
tenho culpa de vê-la
Como quem anda apaixonado
Você de há muito é a estrela
Que tem meus sonhos, iluminado

Cair em graça, no amor, é bom sinal
Pois mais depressa chega a vitória
Cair em graça é sorriso natural
Onde começa mais uma história

Cair em graça, ó menina quem me dera
Era a certeza do seu agrado
Cair em graça é sentir a primavera
Que vem de surpresa p'ró nosso lado


Porque ouviu um galanteio
Não se faça tão esquisita
Vaidade é pecado feio
E você è tão bonita

Eu já nem sei o que faça
Quando me lembra certo ditado
È melhor cair em graça
Que ser, deveras, muito engraçado

A tantos de tal

Artur Ribeiro / Joaquim Campos *fado alexandrino*
Repertório de Fernando Farinha

Foi a tantos de tal de mil e não sei quantos
Que unimos nossas bocas num beijo desmedido
Tudo o que era banal passou a ter encantos
Fomos crianças loucas num sonho proibido

E assim nesta loucura do mesmo amor profundo
Ambos, ano após ano, a rir das das convenções
Fomos tomando aos poucos lugar ao sol no mundo
Por cada desengano, fizemos mil canções

Alheios ao passado e firmes no presente
Caminhamos sem medo em chão cruel e duro
Nosso amor indicava que o caminho era em frente
E
em frente caminhamos, em busca do futuro

E hoje que essa vitória ganhamos, por desejo
Em nosso lar, juntinhos, sem tristezas nem pranto
Sorrimos para o mundo, fiéis àquele beijo
Dado a tantos de tal de mil e não sei quantos

Deixa-te disso

Letra e música de Frederico de Brito
Repertório de Fernanda Maria

Há quem não goste do fado
Por ter esquecido o passado 
E abandonado as vielas
Por não ter adormecido
Tal como ébrio caído 
Na rua, à luz das estrelas

Por deixar de ser brigão
Com mais dias de prisão 
Que minutos tem o dia
Por ter sacudido a lama
Das velhas tascas d'Alfama 
Dos portais da Mouraria

Falas-me em fado castiço
Deixa-te disso
Aqui só há uma casta
É quanto basta
Melodia que nos prende
E que a gente compreende
Por mais que a tenham mudado
Com mais brilho ou menos brilho
Com estribilho ou sem estribilho
È sempre fado


Fado com alma ou sem alma
Cheio de calma ou sem calma 
Num suspiro ou num rugido
È sempre canção magoada
Tanto numa gargalhada 
Como num triste gemido

Só não perdeu esse jeito
De andar de guitarra ao peito 
A gemer a cada instante
Vive da fé e da esperança
Em alma duma criança 
Dentro dum peito gigante

Não tenham pena de mim

António Mourão / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de António Mourão

Não tenham pena de mim
Não queiram mudar meu norte
O meu viver não tem fim
Eu quero encontrar a morte
Não tenham pena de mim

Não queiram mudar meu norte 
O meu rumo está marcado
Meu destino è não ter sorte
Tenho de cumprir um fado 
Não queiram mudar meu norte

O meu viver não tem fim 
Ando na vida a sofrer
E tudo quanto há em mim
È vontade de morrer 
O meu viver não tem fim

Eu quero encontrar a morte 
A vida nada me deu
Não quero quem me conforte
E afinal que quero eu 
Eu quero encontrar a morte

Deixa falar o mundo

Letra e música de Alves Coelho
Repertório de Manuel de Almeida

O mundo fala 
Da nossa vida passada
E em nome da verdade
Fala tanto que até mente
O mundo fala
Fala por tudo e por nada
E até fala da saudade
Que anda bem perto da gente

Deixa falar o mundo
Pois quando o mundo fala
Ai de quem não se cala 
E lhe dá a importância
Para responder depois
Deixa falar o mundo
Que por muito que ele diga
Não creio que consiga 
Aumentar a distância
Que existe entre nós dois


Agora è tarde 
Para voltar ao passado
E quando o mal è profundo
Nenhum pranto vale a pena
Que Deus te guarde 
Das tentações do pecado
Longe das bocas do mundo
Que sem razão nos condena

Do amor sou mendigo

Vasconcellos e Sá / Alfredo Duarte
Repertório de António Mourão

Voa no tempo o amor
À procura dum abrigo
Passa por mim e não pára
Anda zangado comigo

De porta em porta a pedir 
Percorro toda a cidade
Sou como os pobres da rua 
Mendigando caridade

Ninguém tem pena de mim 
Esquecido neste tormento
Eu rogo a Deus, dia a dia 
Que acabe o meu sofrimento

Se continuas na vida  
A estar zangado comigo
Não posso deixar de ser 
De ti, amor, um mendigo

Igual a ti sou eu

Maria Manuel Cid / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Fernanda Maria

Igual a ti, sou eu, que me perdi
Que me perdi por entre os matagais
Onde jamais ganhei ou descobri
Porque razão segui teus ideais

Os meus sonhos reais crucifiquei
Ao sonho de seguir o teu destino
E só quando era tarde reparei
Que há outros ideais que eu não ensino

Nos anos que passaram sempre iguais
A recalcar desejos e quimeras
Eu aprendi que até as primaveras
Podem tornar-se chuvas outonais

E quase sem saber, eu me encontrei
No cimo da ladeira, tão cansada
Embora consciente, me neguei
A retomar sozinha a caminhada

Marujinho português

Mário Rainho / Fernando Ribeiro
Repertório de Alice Pires

Quando Deus criou o mar 
Logo pensou, quando o fez
Tenho agora que criar 
Um marujo português

Faz-me ao mar a força viva 
Deste português de fé
Nau duma esperança festiva 
Que não andou à deriva
Como a arca de Noé

Meu português marujinho 
Infante de muitas rotas
Quantas paisagens remotas 
Colheste pelo caminho
E do mar ao regressar 
Num porão de caravela
Trazias cheiro a canela 
Com mistura de cravinho

Venceste o Adamastor 
Com essa fé que sentias
Peito erguido sem temor 
Nas caravelas dos dias

O olhar, perdido, em frente 
Sentindo que o mundo chama
Assim foste ao Oriente 
A esse cais de nova gente
Nas naus de Vasco da Gama

Gaivota, sonho em viagem 
Que um dia regressa ao ninho
Sobre o convés da coragem 
Meu português marujinho