-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

. . .

Maria da Paz

Nóbrega e Sousa / Boavida Portugal
Repertório de Tristão da Silva

Maria da Paz
Foi longe, na França 
Que o teu bem morreu
E um filho, mais tarde
Ainda uma criança
No mar se perdeu 

Teu netinho, agora
Soldado garboso
Quer a pátria honrar
E o teu pensamento 
Embora saudoso
Anda a perguntar

Dei-te um amor verdadeiro 
Daquele que Deus me deu
Dei-te um filho marinheiro 
E o neto è também teu
Dei-te lágrimas e ais 
O melhor da minha vida
O que posso eu dar-te mais 
Ó pátria querida

Maria da Paz
Toda a imensa dor 
Que o teu peito encerra
Nasceu afinal
No gelado amor 
Da maldita guerra 

Teu olhar velhinho
De mágoa fenece
Farto de chorar
E o teu pensamento
Como numa prece
Anda a murmurar

Caminho de perdição

Artur Ribeiro / Jaime Santos
Repertório de Fernanda Maria 

Quem se queixa que seus filhos
Se perderam por maus trilhos
Como é costume dizer-se
Esquece que todos são
Caminhos de perdição
Para quem quiser perder-se

Pecar é coisa vulgar
Para quem souber lutar 
Lutar e retroceder
Deus abriu por sua mão
Caminhos de redenção 
Para quem se arrepender

Eu continuo a pensar
Que os caminhos só vão dar 
Onde nós queremos ir
Mas se há caminhos maldosos
Então somos criminosos 
Por deixá-los construir

As nossas vidas

Artur Ribeiro / Manuel de Almeida
Repertório de Manuel de Almeida 

Que Deus guarde nossas vidas
Para sempre, como agora
Uma à outra tão cingidas
Como duas mãos unidas
Como pás da mesma nora

São pedaços dum só linho 
As nossas vidas a par
Pedras do mesmo caminho 
Velas do mesmo moinho
Notas do mesmo cantar

Como risos de criança 
Sobre a relva dum jardim
Como ventos de bonança 
Deixando cair esperança
Sobre ti e sobre mim

As nossa vidas normais 
Neste mundo enlouquecido
Às vezes parecem, mais 
Coisas sobrenaturais 
Dum país desconhecido


II versão
Letra cantada por Manuel de Almeida na música de um fado tradicional não identificado.
NOTA:
Na fixação do texto, adotámos a versão constante da Declaração de Obra apresentada pelo Autor 
à Sociedade Portuguesa de Autores (S.P.A.) em 16 de Abril de 1971, com ligeiras diferenças, 
no que se refere à 1.ª estrofe, relativamente à versão gravada em disco.

Quero ver as nossas vidas
Sempre formando uma só
Uma à outra tão cingidas
Como duas mãos unidas
Como pás da mesma mó

São pedaços dum só linho
As nossas vidas a par
Pedras do mesmo caminho
Velas do mesmo moinho
Notas do mesmo cantar

Como risos de criança
Sobre a relva dum jardim
Como vento de bonança
Deixando cair esp’rança
Sobre ti e sobre mim

As nossas vidas normais
Neste mundo enlouquecido
Às vezes parecem mais
Coisas sobrenaturais
Dum país desconhecido

Ovarina da Ribeira

António Reisinho / Jorge Fontes
Repertório de António Severino

Anda no cais da Ribeira 
Uma saia a navegar
Duma ovarina peixeira 
Que mais ondas que o mar

E há tanto pescador 
Com a rede já lançada
P'ra buscar o seu amor 
Mas ninguém apanha nada

Ovarina da Ribeira 
És o vendaval da praia
Levas a companhia inteira 
No cerco da tua saia
Ovarina da Ribeira 
És a mais linda de Ovar
Não me afundes a bateira 
Nas ondas do teu andar

Eu ando atrás da maresia 
Dessa ovarina tão bela
Com a esperança de algum dia 
Naufragar nos braços dela

E se Deus me ser por sina 
De casar com uma peixeira
Vou trazer essa ovarina 
Para bordo da bateira

Aquela de quem tu gostas

Joaquim Pimental / Carlos da Maia
Repertório de Fernanda Maria 

Há pouco, quando passaste
Tive a impressão que me olhaste
Com certo ar de desdém
E até um leve sorriso
Pretensioso, impreciso
Pareceu-me sentir também

Se pretendeste humilhar-me
Ou se quiseste mostrar-me 
A outra que tens agora
Não atingiste o teu fim
Porque afinal, tu p'ra mim 
És coisa que deitei fora

Podes passar à vontade
Exibe a tua vaidade 
Com isso não me desgostas
Eu ficarei onde estou
Porque sou que ainda sou 
Aquela de quem tu gostas

Agora que nada somos

Artur Ribeiro / Adelino dos Santos
Repertório de Manuel de Almeida

Hoje todos os caminhos
Me conduzem ao que fomos
Agora que nada somos
E nem andamos vizinhos

Vão dar a ti, finalmente 
Todas as minhas ideias
E o sangue das minhas veias 
Chama por ti loucamente

Agora precisamente 
Após todas as canseiras
Quando tu talvez não queiras 
Acreditar-me dif'rente

Quando mais estamos sozinhos
É quando mais peço a Deus
Que encaminhe os passos teus 
De novo nos meus caminhos

Arraial do Tejo

César de Oliveira / Ferrer Trindade
Repertório de Fernanda Maria 

Digam às varinas 
Pra'aprenderem as canções
Que Lisboa canta agora
Encham a canastra 
Com arquinhos e balões
E vão p'la cidade fora

Trepem escadinhas 
Que se fartam de subir
Gritem alto o seu pregão
Convidem o Tejo para vir
Porque ele gosta de sentir
Que è lisboeta até mais não

Lisboa canta 
No arraial popular
E tem no Tejo, seu par
O fadista namora as varinas
Lisboa canta, 
Gosta de ver baloiçar
Balões brilhando
Que vão inundando as sete colinas


Vamos pôr festões 
Junto da barra do farol
Em louvor dos três santinhos
Lisboa sem Tejo 
É como um dia sem ter sol
Nasceram os dois juntinhos

Se Lisboa está nesta maré de divertir
Não lhe estraguem a função
Convidem o Tejo para vir
Porque ele gosta de sentir
Que é lisboeta até mais não

Corações loucos

Letra e musica de Frederico de Brito
Repertório de Fernanda Maria

Deixa, larga-me de mão
Ninguém te mandou cá vir
Loucuras de coração
Dão-me vontade de rir

Não sejas impertinente, já disse
Não posso escutar-te agora, não posso
Era uma tolice, como se eu não visse
Que o mal è só nosso

Tem calma... 
Olha os dias que lá vão
E não confundas a alma 
Com o doido coração
Isto p'ra min não tem graça
Mas passa
Também não faças alarde
Que é tarde
O caso é p'ra meditar
Pois queres que eu faça 
Castelos no ar

Deixa, larga-me depressa
Que o tempo passa a correr
E quando a vida começa
È bom sabermos viver

Não quero arrependimentos,  não quero
Também p'ra ser teu joguete não presto
Já muito eu tolero, de mais nada espero
Depois vê- se o resto

Nossa senhora faz meia

Mote de António Nobre / Glosa de Linhares Barbosa 
Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Tristão da Silva
Também gravado com o título *serão da virgem"

Nossa Senhora faz meia
Com linha feita de luz
O novelo é lua cheia
E as meias são p'ra Jesus

Quando a noite é escura e bela 
Diz-se lá na minha aldeia
Que à janela duma estrela 
Nossa Senhora faz meia

A rodar a dubadoura 
Andam quatro anjinhos nus
Prendendo nossa Senhora 
Com linha feita de luz

Jesus pequenino e loiro 
Na linha todo se enleia
As quatro agulhas são d'oiro 
O novelo é lua cheia

Dormem as coisas mais santas 
Só a mãe santa produz
Faz serão até às tantas 
E as meias são p'ra Jesus

Cair em graça

Maria da Conceição Piedade / Hernâni Correia
Repertório de Manuel Fernandes

Digo sempre um galanteio
Você indiferente passa
Até chego a ter receio
De não ter caido em graça

Não
tenho culpa de vê-la
Como quem anda apaixonado
Você de há muito é a estrela
Que tem meus sonhos, iluminado

Cair em graça, no amor, é bom sinal
Pois mais depressa chega a vitória
Cair em graça é sorriso natural
Onde começa mais uma história

Cair em graça, ó menina quem me dera
Era a certeza do seu agrado
Cair em graça é sentir a primavera
Que vem de surpresa p'ró nosso lado


Porque ouviu um galanteio
Não se faça tão esquisita
Vaidade é pecado feio
E você è tão bonita

Eu já nem sei o que faça
Quando me lembra certo ditado
È melhor cair em graça
Que ser, deveras, muito engraçado

A tantos de tal

Artur Ribeiro / Joaquim Campos *fado alexandrino*
Repertório de Fernando Farinha

Foi a tantos de tal de mil e não sei quantos
Que unimos nossas bocas num beijo desmedido
Tudo o que era banal passou a ter encantos
Fomos crianças loucas num sonho proibido

E assim nesta loucura do mesmo amor profundo
Ambos, ano após ano, a rir das das convenções
Fomos tomando aos poucos lugar ao sol no mundo
Por cada desengano, fizemos mil canções

Alheios ao passado e firmes no presente
Caminhamos sem medo em chão cruel e duro
Nosso amor indicava que o caminho era em frente
E
em frente caminhamos, em busca do futuro

E hoje que essa vitória ganhamos, por desejo
Em nosso lar, juntinhos, sem tristezas nem pranto
Sorrimos para o mundo, fiéis àquele beijo
Dado a tantos de tal de mil e não sei quantos

Deixa-te disso

Letra e música de Frederico de Brito
Repertório de Fernanda Maria

Há quem não goste do fado
Por ter esquecido o passado 
E abandonado as vielas
Por não ter adormecido
Tal como ébrio caído 
Na rua, à luz das estrelas

Por deixar de ser brigão
Com mais dias de prisão 
Que minutos tem o dia
Por ter sacudido a lama
Das velhas tascas d'Alfama 
Dos portais da Mouraria

Falas-me em fado castiço
Deixa-te disso
Aqui só há uma casta
É quanto basta
Melodia que nos prende
E que a gente compreende
Por mais que a tenham mudado
Com mais brilho ou menos brilho
Com estribilho ou sem estribilho
È sempre fado


Fado com alma ou sem alma
Cheio de calma ou sem calma 
Num suspiro ou num rugido
È sempre canção magoada
Tanto numa gargalhada 
Como num triste gemido

Só não perdeu esse jeito
De andar de guitarra ao peito 
A gemer a cada instante
Vive da fé e da esperança
Em alma duma criança 
Dentro dum peito gigante

Não tenham pena de mim

António Mourão / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de António Mourão

Não tenham pena de mim
Não queiram mudar meu norte
O meu viver não tem fim
Eu quero encontrar a morte
Não tenham pena de mim

Não queiram mudar meu norte 
O meu rumo está marcado
Meu destino è não ter sorte
Tenho de cumprir um fado 
Não queiram mudar meu norte

O meu viver não tem fim 
Ando na vida a sofrer
E tudo quanto há em mim
È vontade de morrer 
O meu viver não tem fim

Eu quero encontrar a morte 
A vida nada me deu
Não quero quem me conforte
E afinal que quero eu 
Eu quero encontrar a morte

Deixa falar o mundo

Letra e música de Alves Coelho
Repertório de Manuel de Almeida

O mundo fala 
Da nossa vida passada
E em nome da verdade
Fala tanto que até mente
O mundo fala
Fala por tudo e por nada
E até fala da saudade
Que anda bem perto da gente

Deixa falar o mundo
Pois quando o mundo fala
Ai de quem não se cala 
E lhe dá a importância
Para responder depois
Deixa falar o mundo
Que por muito que ele diga
Não creio que consiga 
Aumentar a distância
Que existe entre nós dois


Agora è tarde 
Para voltar ao passado
E quando o mal è profundo
Nenhum pranto vale a pena
Que Deus te guarde 
Das tentações do pecado
Longe das bocas do mundo
Que sem razão nos condena

Do amor sou mendigo

Vasconcellos e Sá / Alfredo Duarte
Repertório de António Mourão

Voa no tempo o amor
À procura dum abrigo
Passa por mim e não pára
Anda zangado comigo

De porta em porta a pedir 
Percorro toda a cidade
Sou como os pobres da rua 
Mendigando caridade

Ninguém tem pena de mim 
Esquecido neste tormento
Eu rogo a Deus, dia a dia 
Que acabe o meu sofrimento

Se continuas na vida  
A estar zangado comigo
Não posso deixar de ser 
De ti, amor, um mendigo

Igual a ti sou eu

Maria Manuel Cid / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Fernanda Maria

Igual a ti, sou eu, que me perdi
Que me perdi por entre os matagais
Onde jamais ganhei ou descobri
Porque razão segui teus ideais

Os meus sonhos reais crucifiquei
Ao sonho de seguir o teu destino
E só quando era tarde reparei
Que há outros ideais que eu não ensino

Nos anos que passaram sempre iguais
A recalcar desejos e quimeras
Eu aprendi que até as primaveras
Podem tornar-se chuvas outonais

E quase sem saber, eu me encontrei
No cimo da ladeira, tão cansada
Embora consciente, me neguei
A retomar sozinha a caminhada

Marujinho português

Mário Rainho / Fernando Ribeiro
Repertório de Alice Pires

Quando Deus criou o mar 
Logo pensou, quando o fez
Tenho agora que criar 
Um marujo português

Faz-me ao mar a força viva 
Deste português de fé
Nau duma esperança festiva 
Que não andou à deriva
Como a arca de Noé

Meu português marujinho 
Infante de muitas rotas
Quantas paisagens remotas 
Colheste pelo caminho
E do mar ao regressar 
Num porão de caravela
Trazias cheiro a canela 
Com mistura de cravinho

Venceste o Adamastor 
Com essa fé que sentias
Peito erguido sem temor 
Nas caravelas dos dias

O olhar, perdido, em frente 
Sentindo que o mundo chama
Assim foste ao Oriente 
A esse cais de nova gente
Nas naus de Vasco da Gama

Gaivota, sonho em viagem 
Que um dia regressa ao ninho
Sobre o convés da coragem 
Meu português marujinho

Cantar dos ventos

Manuel Tomé / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Helena Leonor

Cantam ventos bem diferentes
Baladas p'ra outras gentes
Na rua do meu encanto
Por serem já conhecidas
E por demais já ouvidas
Não devem causar-me pranto

Não pode entender o vento
No seu riso ou seu lamento 
Quem todo o sopro acarinha
Não sei se valeu a pena
Aquela brisa serena 
Que não foi tua e foi minha

Envoltas num turbilhão
As folhas mortas p'lo chão 
Nas ruas desta cidade
Tristes, perdidas, sem cor
Traídas e sem amor 
Levam consigo a saudade

Agora tudo mudou
E a brisa que então soprou 
Lançou tudo ao abandono
Agora não sei quem era
A brisa da primavera 
Que é hoje vento de outono

Vi chuva no trigo loiro

Maria Manuel Cid / José António Sabrosa
Repertório de António Mourão

Ouvi o silêncio a rir
Enquanto a noite chorava
E na manhã que há-de vir
O dia que madrugava

Vi chuva no trigo loiro 
E sede nos arrozais
Vi correr atrás do oiro 
E ficar pobre demais

Vi gente dormir na lama 
Com tanto amor de sobejo
E outros, que tendo cama 
Nunca tiveram um beijo

Vi quem, vivendo de dores 
Inveja quem já morreu
E desgraçados maiores 
Muito maiores do que eu

Berço de madeira

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha

Berço de madeira onde eu fiz ó ó
Relíquia sagrada da infãncia passada
Já desfeita em pó
Berço
de madeira, barco pequenino
No mar do destino

Meu berço velhinho, a tua existência
Foi a sentinela da minha inocência
Como gratidão à tua amizade
Dou-te esta canção feita de saudade


Berço de madeira, pequena lembrança
Ninho de poesia que eu vivi um dia
Quando era criança
Quem dera poder dormir e sonhar
No teu embalar


Tu és, na verdade

A minha saudade

Solidão adeus

Maria de Lurdes Brás / Raúl Portela *fado magala*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Anda vem ficar comigo
Completas o meu ser
Viver sem ti não consigo
Ès parte do meu viver

Ajuda-me a subir o muro 
Comigo de braço dado
Quero chegar ao futuro 
E ter alguém a meu lado

Será sempre Primavera 
Se tu estiveres a meu lado
Com amizade sincera 
O amor è reforçado

Vida a dois è mais feliz 
É menor a solidão
Pomos os pontos nos is 
Lemos a mesma lição

Quando um coração bate 
Junto de outro coração
Fica a tristeza de parte 
E diz-se adeus solidão

O abraço da saudade

Silvestre José / Armando Machado *fado súplica*
Repertório de Edna

Sei que a vida me pregou uma partida
Deixou-me só no mundo com a paixão
Senhora desta dor sem ter medida
Que preenche e magoa meu coração

Caminho pela vida amargurada
Na mente um pensamento que é distante
Que me desperta e mantém apaixonada
Nos trilhos do amor, caminho errante

Sei que a vida me impôs este castigo
E encheu meu coração de sofrimento
Sou barco que perdeu porto de abrigo
Sorrio, pra disfarçar cada lamento

Só peço ao coração pra suportar
A dor que me enlouquece, que me enlaça
É tão duro e penoso o caminhar
Nada mais, só a saudade é que me abraça

Beijo perdido

Dr. Lobato / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Fernanda Maria

O beijo que te não dei
Foi ao acaso e morreu
Na boca que se não quer
Quis dar-lhe vida e sonhei
Que te beijava, e viveu
Nos lábios dessa qualquer

De boca em boca, perdido
Sobre o mar da ilusão 
Deixava marcas de fado
Sonho d'amor não vivido
A chorar recordação 
De nem sequer ter passado

No abandono do mar
Onde as algas são a teia 
Do nada que me tornei
Regressou p'ra te beijar
Vestido de maré cheia 
O beijo que te não te dei

Canção dos ciumes

Domingos Gonçalves da Costa / Adelino dos Santos
Repertório de Manuel Fernandes

Disseste há pouco
Que detestas meu ciúme
Ciúme que se resume
Em te querer mal que te vi
Ciúme louco
Na minha alma nasceu
Ao ver que a terra e o céu
Também gostavam de ti

Se não me queres ciumento 
Porque te cause desgosto
Diz à lua, ao sol e ao vento
Que nem sequer um momento 
Venham beijar o teu rosto

Diz às estrelas também 
Que tirem o brilho, o lume
Que esse teu estranho olhar tem
Se assim o fizeres, meu bem 
Nunca mais terei ciúme

Sofro, é verdade
Se a brisa te vem beijar
E se atrevido, o luar
Te envolve em beijos de luz
Por caridade
Se isto é ciúme, desculpa
Mas não sou eu quem tem culpa
Da minha pesada cruz

A minha loucura

Maria Manuel Cid / Alfredo Duarte *fado mocita dos caracóis*
Repertório de Fernanda Maria

São dum verde acinzentado
Os olhos que ando à procura
Teria o vento levado
Esses pardais de telhado
Causa da minha loucura

Teria o vento do cume 
Dessa montanha d’amor
Num ataque de ciúme 
Tirado a brasa do lume
E mudado a sua cor

Vestido de negro manto 
Levado p'ra outro lado
Coberto de triste pranto 
Roubado todo o encanto
Desse verde acinzentado

Sei esperar

Aníbal Nazaré / José Magalhães
Repertório de Tony de Matos

Ó meu Deus, que mulher bela
Ensinou-me o que é esperar
Nasci p’ra esperar por ela
Só ela não quer chegar

Todos têm o seu bem
A mulher que os acarinha
Lá vem uma, não sei de quem
E só não vem a que è minha

Sei esperar
Sei sofrer a toda a hora
Diz que me quer, que me adora
E sei que a adoro também
Sei esperar
Já lá vem, não, não é ela
Não sei de quem é aquela
Mas a minha, essa não vem

Passo as horas na esperança
De que um dia há-de chegar
Mais pareço uma criança
Sem brinquedo p’ra brincar

Outra vem, é ela, enfim
Não, não è, Deus não o quis
Chegará tarde p’ra mim
A hora de ser feliz

Cantar e pensar em ti

Manuel Tomé / Joaquim Campos *fado rosiita
Repertório de Helena Leonor

Nas minhas noites de fado
Eu canto a pensar em ti
Mesmo sem estares a meu lado
Eu sinto que estás ali

Por onde andas não importa 
Já não te quero lembrar
Quero esta saudade morta 
Que não me deixa ao cantar

Tento mentir ao cantar 
Canto o que a alma sente
É a saudade a lembrar 
Que de mim andas ausente

Sê ao menos meu amigo 
Faz-me crer nessa verdade
Fingirei que ando contigo 
Fica mais leve a saudade

Essência do fado

Silvestre José / Armando Augusto Freire *fado estoril*
Repertório de Edna

O fado que há em mim, percorre as minhas veias
Aquilo que sinto em mim, no tempo de o cantar
É um vinho generoso, servido em taças cheias
De aroma invulgar e que nem sei explicar

Eu gosto de sentir, nas margens do meu canto
Do fado a sua essência, também seu romantismo
Dessa canção eterna, que faz o meu encanto
Bebo alguma tristeza, também o seu lirismo

Bebo cada palavra, das linhas dum poema
Assim posso matar, minha sede gritante
Se sinto o poema em mim, a ligação é suprema
E o meu canto sentido, é momento exultante

Meus sentidos despertos, se deixam embalar
Nos versos descobertos, que canto com rigor
Percorro este caminho, onde me quero encontrar
Com o peso da saudade, também com o do amor

Minha casa é portuguesa

Maria de Lurdes Brás/ Ricardo Borges Sousa *fado da idanha*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Minha casa é sossegada
Sinto-me bem dentro dela
Quando rompe a alvorada
Entra o sol pela janela

Tem janelas pequeninas 
Enfeitadas com vitrais
E no verão as andorinhas 
Fazem ninho nos beirais

Tem no tecto uma candeia 
Está virada para o mar
Em noites de lua cheia 
A luz è a do luar

Fica ainda mais bizarra 
Com o calor da lareira
Tem lá dentro uma guitarra 
Mora lá uma cantadeira

É pequena como um ninho 
Não tem luxo nem grandeza
Há fado, amor e carinho 
É uma casa portuguesa

Quimera ou sonho

Maria de Lurdes Brás / José António Sabrosa *fado velho*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Cansada da solidão
Mandei embora a saudade
Abri o meu coração
Hoje vivo em liberdade

Nesta vida de amargura 
Nada serve viver só
Alimenta-se a loucura 
E o amor é cinza e pó

Noite, mágico luar 
Madrugada, negro fado
Manhã de sol a brilhar 
Dia de sonho adiado

Na amargura dos meus ais 
Feitos p’ra me endoidecer
Eu direi que nunca mais 
Vou lembrar p’ra te esquecer

Nesta magia bizarra
Do meu sonho de menina
Encontrei numa guitarra 
Quimeras da minha sina

Bendito amor

Fernando Farinha / Miguel Ramos *fado margaridas*
Repertório de Fernando Farinha

Se o meu amor sofreu cruel tormento
Vivendo à tua espera, sempre triste
Bendito seja o próprio sofrimento
Porque maior valor deu ao que hoje existe

Se o meu amor nasceu só para ti
E amor igual mais tarde recebeu
Bendita seja a esperança em que vivi
Bendita seja a fé que Deus me deu

Se a minha voz cantou, alto e bom som
Amor que o coração lhe transmitia
Bendita seja a voz que teve o dom
De fazer da tristeza uma alegria

Se o nosso amor nasceu, há-de viver
Por mais que os outros falem do seu fim
Bendito o teu amor que assim me quer
Bendito seja eu, por ser assim

Cada um tem o seu fado

Domingos Gonçalves da Costa / Manuel Fernandes
Repertório de Manuel Fernandes

Amor, ondes estás, aonde moras
O que fizeste das horas
Tão felizes, que vivi
Esperei e desesperei à espera
Embalado na quimera
De viver só para ti

Agora que só em sonhos te vejo
Sinto assaltar-me o desejo
De te cingir nos meus braços
E embora te procure a cada instante
Cada vez estás mais distante
Do caminho dos meus passos

Não sei onde páras, aonde moras
Se ès feliz, se ris ou choras
Se te esqueceste de mim
Portanto, vou cantando esta canção
Esperando, talvez em vão
Que
o meu sonho chegue ao fim

O tempo que tudo faz e destrói
Pôs nesta dor que dói
A luz que me tem guiado
Que importa que alguém ria desta dor
Se na vida ou no amor
Cada um tem o seu fado

Rigorosamente

Maria de Lurdes Brás/ José Marques *fado rigoroso*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Isto que vou cantar é rigoroso
Por isso canto rigorosamente
Não tenho na guitarra o Vimioso
Mas tenho alguém que toca e o fado sente

O fado é deveras tentação
A gente ouve e sente-se atraído
É como se o pobre coração
Tocasse na flecha do cupido

É por isso que eu vivo apaixonada
Por o fado, p’la viola e p’la guitarra
E sonho muitas vezes acordada
Que o fado é uma corda que me amarra

O fado doce, terno e mavioso
Cantá-lo eternamente quem me dera
Tal qual aquele fado rigoroso
Cantado tantas vezes p’la Severa

Ai Alice

Jorge Brandão / Jerónimo Bragança
Repertório de Manuel Fernandes

Ai Alice, quem foi que te disse
Que foi garotice o que eu te pedi
Ai Alice, que grande tolice
Eu sempre te disse que gosto de ti

Desconfias por tudo e por nada
Que grande maçada a tua má fé
Bem podias dar mais confiança
Comigo, descansa, não perdes o pé

Ai Alice vê lá que maldosas
Que intriguistas amigas possuis
Eu estou pronto a jurar
Qe nunca amei outra mulher
Com uns olhos tão bonitos
Como os teus olhos azuis;
Ai Alice não cortes caminho
E não andes com medo de amar
Ai Alice eu fico ceguinho
Se agora me negas a luz desse olhar


Ai Alice, se tu me quisesses
Talvez que dissesses que sou de bom tom
Ai Alice, não sejas prudente
Porque finalmente amar è tão bom

Desconfias dum beijo em segredo
Porquê
tanto medo se um beijo entre dois
È a coisa mais simples do mundo
Respira bem fundo e diz-me depois

Amor velhinho

Letra e música de Fernando Farinha
Repertório do autor

Na minha rua 
Mora um casal de velhinhos
Numa casinha singela
Todos os dias
Os dois, muito agarradinhos
Vão pôr-se junto à janela
Ela a sorrir para ele
E ele a sorrir para ela

Pela tardinha
Lá vão com passo arrastado
Ao jardim que fica ao lado
Da igreja que os casou
E quem os vê
Quem os vê, tal como eu vejo
Diz sempre, em ar de gracejo
Deus os fez, Deus os juntou

Durante a noite
Como não temem ladrões
Deixam a porta encostada
A felicidade é a riqueza dos dois
Por ninguém será roubada;
E melhor que a felicidade
Não há lá dentro mais nada

Quem ali passa
Pergunta sempre aos vizinhos
Se este casal de velhinhos
Teve filhos algum dia
Não têm filhos
Porque Deus viu lá do céu
Que o grande que lhes deu
Chega bem p'ra companhia

Amor negado

João Dias / Sidónio Pereira, Pedro Machado
Repertório de António Mourão

Contigo foi o sol que havia em mim
E me aquecia a alma e todo o corpo
Tão fria era a noite e tão sem fim
Na distãncia de ti, meu sonho morto

As rosas que os teus dedos inventaram
Em cardos transformadas me rasgando
E todos os meus dias se apagaram
Em sombras que a meu lado estão chorando

Alongo os meus braços
Estendo a minha boca
Na ideia louca de vencer espaços
Olho à minha volta 
O tempo parado
E grito a revolta deste amor negado


Romance sem romance, negra história
Do teu nome constante em meus ouvidos
E a doer-me o corpo, esta memória
Do teu corpo agarrado aos meus sentidos

Em cada folha morta p'lo outono
Varrida p'lo rigor da tempestade
Há farrapos de mim ao abandono
Rolando na poeira da saudade

O fado entrou-me na vida

Silvestre José / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de José Guerreiro

O fado entrou-me na vida
P’la porta do sofrimento
Nem tu sonhas minha querida
Tristeza desse momento

Passados mas não esquecidos 
Dias em que abri a ferida
Despertei os meus sentidos 
O fado entrou-me na vida

As horas não tinham fim 
Vivi com meu sentimento
Vi chegar o fado assim 
P’la porta do sofrimento

Saudade que não me largas 
Não esqueci minha partida
Foram lágrimas amargas 
Nem tu sonhas minha querida

Com o coração apertado 
Mostrando meu desalento
Já deixei neste meu fado 
Tristeza desse momento